Noticias do Jardim São Remo junho 2024

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Notícias do Jardim

São Remo São Remo

p.11

Falta de manutenção no campo de futebol atrapalha práticas esportivas

VERBA PARADA

Campo de futebol aguarda reformas

Quais são as prioridades do HU? debate p.2

Por um hospital mais humanizado entrevista p.3

Pré-candidato à prefeitura, Guilherme Boulos visita a São Remo em campanha eleitoral comunidade p.6

Escola de Música e Cidadania oferece aulas de violino a crianças e adolescentes da São Remo são remano p.8

As festas juninas estão chegando... SÃO REMINHO Que comecem as brincadeiras!

As capoeiristas são-remanas Amora e Joaninha se destacam em competições mulheres p.10

Projetos buscam deixar a São Remo arborizada comunidade p.4

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Junho de 2024 ANO XXXI nº 1
DAVI ALVES THEO SCHWAN
DAVI ALVES

“Mesmo em casos de emergência, o serviço não é eficiente”

OPINIÃO

HU em crise

A gestão do Hospital Universitário da USP é desastrosa, desigual e antidemocrática há muito tempo. Seu sucateamento gera a crise de um órgão público de saúde que, por dever, é de responsabilidade da Reitoria e, por direito, da população que deve ter acesso a um atendimento de qualidade, ágil e eficaz. Nesses 30 anos do Notícias do Jardim São Remo, as queixas em relação ao HU são recorrentes e persistentes. Em 2004, reclamações referentes a demora para marcação de consultas e a má qualidade do atendimento estamparam a capa do jornal; o mesmo ocorreu em 2018, quando houve protestos em frente ao hospital contra o redirecionamento de casos “não urgentes” e seu desmonte geral por falta de verba e funcionários.

Tal situação se agravou a partir da gestão de Marco Antonio Zago, reitor que instituiu o Programa de Incentivo à Demissão Voluntária. Segundo os Anuários Estatísticos da USP, entre 2013 e 2022 o HU reduziu em 424 o quadro de servidores. No mesmo período, deixou de realizar 17 mil atendimentos/mês para apenas 5 mil, conforme a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Além disso, em 2023 os problemas se intensificaram: quedas de energia elétrica, falta de água, deterioração do maquinário e superlotação.

Sem investimentos adequados, sucatear para privatizar parece ser o caminho mais fácil. Seu efeito direto são pacientes sofrendo com longas esperas e outros que retornam para casa sem o atendimento necessário. Poucos têm a sorte de saírem satisfeitos. Em agosto deste ano, o HU completará 43 anos. Mesmo com tantas insatisfações e problemas estruturais, o hospital é referência no ensino da saúde e unidade fundamental à comunidade USP e à São Remo. No entanto, é preciso uma mobilização em defesa do HU – que não é só um hospital, mas também uma unidade de ensino que precisa ser defendida por toda a comunidade. A participação social é um princípio fundamental do SUS que deve ser utilizado para cobrar uma gestão eficiente da Reitoria e um orçamento prioritário, focado na melhoria da qualidade dos serviços prestados aos pacientes, sem distinção.

Atendimentos no HU geram divergências na comunidade

O Hospital Universitário (HU) da USP, localizado no campus Butantã, é de grande importância para a comunidade da universidade e para os moradores da zona oeste da capital. Segundo o Anuário Estatístico da USP, em 2022 o HU registrou mais de oito milhões de atendimentos. Deles, apenas 2,15% foram aos servidores, enquanto 97,85% dos pacientes não necessariamente possuiam vínculos com a universidade.

No pronto socorro do hospital, o alto número de pacientes que aguardam atendimento leva a longas esperas em casos menos graves. Para evitar a superlotação, os pacientes que passam por triagem médica e precisam de cuidados menos complexos são encaminhados para outras unidades de saúde.

O redirecionamento para outros postos de saúde expandiu a crise de atendimento para outras unidades. De acordo com a Associação de Docentes da USP, isso decorre de uma falta de profissionais e da queda de 40% dos leitos ativos. O Anuário reforça afirmando que, entre 2013 e 2022, o HU reduziu o número de servidores de 1.802 para 1.378, um recuo de 23,5%.

Poucos saem satisfeitos

As opiniões dos usuários sobre a qualidade do atendimento no HU não são unânimes e variam conforme as experiências

individuais. Mesmo cientes da priorização casos urgentes, moradores da comunidade S. Remo relatam que parece não haver um padrão de seleção de quem irá ser atendido. Joana Tenório, 17, conta que foi ao Hospital em decorrência de uma dor abdominal muito forte. Apesar de não ter sido avaliada pela triagem, foi rapidamente encaminhada para o setor ginecológico para a consulta. A adolescente diz que a receitaram um anticoncepcional regular e não teve mais dores. Juliana, 32, relata que sua filha teve uma grave crise de asma, mas não recebeu apoio. “Eu tentei passar pelo HU, mas eles não me atenderam porque não era motivo de internação. Fizeram um encaminhamento e me orientaram a procurar um posto ou pronto socorro próximo”. O processo, além de frustrante, foi ríspido: “eles sequer nos deixaram entrar no hospital”.

A carência de equipamentos resulta na perda de vidas

Adriana Barbosa, 33, afirma que, mesmo em casos de emergência, o serviço não é eficiente. “Minha avó morreu há 10 dias, e morreu lá. Ela passou o dia inteiro em uma cadeira de rodas, com dor, porque não tinha leito. Isso foi num sábado. No domingo, às duas e meia da manhã, ela não aguentou e faleceu”.

A entrevistada ressalta que, no começo do ano, sua avó realizou um exame de tomografia no HU e obteve bons resultados, aparentando estar bem de saúde. “O falecimento foi uma surpresa, a ficha ainda não caiu”.

São Remo

Publicação do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Reitor: Carlos Gilberto Carlotti Junior. Diretora: Brasilina Passarelli. Chefe de departamento: Luciano Guimarães. Professores responsáveis: Dennis de Oliveira e Luciano Guimarães. Monitores: Edilaine Felix, Gabriel Carvalho, Tatiana Couto. Edição, planejamento e diagramação: alunos do primeiro ano de jornalismo. Secretária de Redação: Fernanda Franco Xavier. Secretária Adjunta: Maria Luiza Negrão. Secretário Gráfico: Lorenzo Souza. Editor de Imagens: Samuel Amaral. Editores: Alex Teruel, Clara Zamboni, Daniela Gonçalves, João Victor Vilasbôas, Maria Eduarda Lameza e Theo Schwan. Suplemento infantil: Alex Teruel, Gabriel Alegreti, Lucca Pedrosa e Tamires Aguiar. Repórteres: Aline Fiori, Aline Noronha, Amanda Nascimento, Ana Alice Coelho, Beatriz Hadler, Catarina Bacci, Clara Hanek, Clara Viterbo Nery, Davi Alves, Emerson May, Gabriela Nangino, Jean Matheus, Júlia Sardinha, Leticia Yamakami, Louisa C. Harryman, Maria Oliveira, Mariana Ricci, Rafael Dourador, Thaís Santana, Vito Santos e Yasmin Constante. Correspondência: Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443-Bloco A. Cidade Universitária CEP 05508-990. Fone: 3091-1324. E-mail: saoremo@gmail.com. Edição Mensal: 1500 exemplares.

2 Notícias do Jardim São Remo Junho de 2024.. debate
O que é prioridade?
centralperiferica.eca.usp.br
Notícias do Jardim
LORENZO SOUZA

“Às vezes, as pessoas não sabem que por trás de um direito tem um dever”

Dificuldade no acesso ao atendimento

Especialista comenta sobre serviço público de saúde e aponta caminho para melhorias

Merllin de Souza é doutoranda e mestra em Ciências pelo Programa Ciências da Reabilitação pela Faculdade de Medicina da USP e pesquisa o impacto de determinantes sociais no acesso à saúde de populações marginalizadas. De 2021 a 2023, ela coordenou a primeira Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 3ª Região. Ela concedeu uma entrevista ao jornal NJSR sobre os problemas no Hospital Universitário (HU).

NJSR: Como funciona o processo de triagem dentro de um hospital?

Merllin de Souza: O que é preciso saber é que existem níveis de prioridade de acordo com o grau de complexidade de cada caso. Em todo hospital do porte do HU, esses níveis servem tanto para acesso ao hospital quanto nas escolhas, nas tomadas de decisão (para internação, por exemplo). Então, entender o que precisa ser otimizado e porque existem as demarcações, as pulseirinhas, e tudo mais, é fundamental.

Quem é responsável por manter o funcionamento desse processo?

MS: A exemplo do nosso Hospital Universitário, a USP não é 100% responsável. Tem toda uma equipe por trás, tem articulações, conexões e compromissos com o município, com o estado. Tudo isso precisa estar bem alinhado para que a engrenagem funcione e que o paciente consiga acessar o atendimento. É como se fosse uma teia de responsabilização social para que o serviço funcione.

O que explica a piora do atendimento ao longo dos anos?

MS: Houve um sucateamento do HU, assim como de outros hospitais universitários do nosso estado. Essa política faz com que quem mais precise tenha mais dificuldade de acesso. E aí vem a justificativa da terceirização de serviços públicos, que é algo que deveria ser analisado com muito mais res-

ponsabilidade do que o que vem sendo feito nos últimos anos. Algumas pessoas e gestores defendem que a privatização melhora e facilita o acesso, mas os estudos já comprovam que não. Na prática, se identifica isso pela reclamação da comunidade que utiliza os serviços de saúde.

Qual o papel da UBS São Remo em relação ao HU?

MS: Hoje, para acessar o sistema público de saúde em qualquer lugar do Brasil, a porta de entrada é a UBS (a Unidade Básica de Saúde), onde tem os tratamentos específicos de baixa e média complexidade. Porém, muitas vezes, não é possível sequer tratar esses níveis dentro dela. Nesse caso, é preciso entender como está a comunicação entre UBS e hospital. Não adianta ter o melhor prontuário eletrônico, porta ou rampa, se as pessoas não estão conseguindo nem passar da catraca e receber atendimento.

Como o atendimento pode se adequar às demandas da comunidade?

Geralmente, os sistemas para o atendimento são otimizados, mas a humanização durante o acesso é esquecida. Então, a gente tem que falar de equidade no SUS, que é justamente fornecer serviços de acordo com as necessidades daquelas pes-

soas. E isso passa pelos investimentos, contratação de profissionais, abertura de leitos, quantidade de UTIs e atendimento. Como estamos treinando os recepcionistas? Quem serão os profissionais que vão trabalhar? Quem serão os gerentes desses serviços? O que é possível fazer para que a pessoa que vem de uma comunidade periférica tenha chance de retornar? Se tem muitos pacientes e poucos profissionais da saúde, como humanizar o tratamento? A culpa do mau atendimento cai sobre o profissional – que está cansado, desgastado e sobrecarregado – sendo que os dirigentes também são responsáveis.

Quais as formas de garantir esse atendimento humanizado?

MS: Eu acredito que é através da educação básica. Os profissionais de saúde um dia foram estudantes, tiveram que aprender as técnicas para se tornarem especialistas e fazer todos os tratamentos plurais que existem. E, muitas vezes, na base da educação a abordagem humanizada e a importância do SUS não é tão fortemente debatida, discutida e apresentada de forma justa e honesta.

O que pode ser feito?

MS: Para garantir um serviço ágil e com uma abordagem adequada é

preciso cumprir com critérios de um padrão de qualidade recomendados pelas Organizações Sociais de Saúde (OSS). Se a comunidade diz que não está funcionando, existe um canal específico em todos os sistemas de saúde: a Ouvidoria. É preciso relatar e informar o que está acontecendo e que esses canais sejam ativos, porque é nossa obrigação enquanto sociedade zelar e cuidar para que esse serviço funcione, atendendo as necessidades e demandas.

E qual é a importância dessa participação social?

MS: Ela é a força motriz do SUS, que chamamos de “controle social”. A gente pode participar de reuniões, falar com os Agentes Comunitários de Saúde (os ACS) e até com dirigentes do HU – eles não são cargos inalcançáveis. Se a comunidade ficar mais mobilizada para conseguir cobrar os responsáveis e lutar por esses espaços garantidos por lei, as barreiras vão ser sanadas. Só que é preciso estar em coletivo. Estar sozinho não resolve muita coisa. Às vezes, as pessoas não sabem que por trás de um direito tem um dever – como pessoa, profissional de saúde, dirigente de hospital e por aí vai. Todo mundo é responsável por zelar por isso, porque é nosso papel social fazer com que os serviços funcionem de forma correta e justa. A parte boa da São Remo é que ela cresceu ao redor da Universidade. É uma comunidade que sabe mais dos seus direitos e de onde precisa ir. Eu acredito que somente unidos vamos fazer com que o SUS, ou qualquer outro sistema público de saúde, funcione de forma equânime, integral, universal e com qualidade.

informa

O PS do HU é destinado a casos graves e registra espera de mais de seis horas aos casos não graves. Pacientes que não se enquadram como URGÊNCIA ou EMERGÊNCIA serão encaminhados para outros postos de atendimento.

Notícias do Jardim São Remo
3 Junho de 2024
entrevista
REPRODUÇÃO: ANAPÊ FOTOGRAFIA / @anapefotografia NO INSTAGRAM
Merllin de Souza, pesquisadora antirracista e fisioterapeuta HU

“Fazemos o cultivo não só por um aspecto estético, mas também para ter um ambiente mais agradável e saudável”

São Remo: aqui se planta, aqui se respira

Projeto organizado pela Arquitetura USP e Alavanca busca uma vida mais verde para os moradores

O Jardim São Remo tem se aproximado cada vez mais de ser, de fato, um jardim. Andar pelas ruas da comunidade é, hoje, uma experiência mais verde, na qual é possível encontrar vasos de flores, tonéis com plantas e uma floricultura. Apesar disso, os espaços públicos e arborizados da São Remo – como a Praça da Amizade e o Jardim do Éden – ainda precisam ser revitalizados para que os moradores possam aproveitar momentos de lazer ao ar livre.

O escritório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), em conjunto com o Projeto Alavanca, busca resoluções para essas áreas de convívio. “Uma das principais reclamações dos moradores é a falta de sombras nas praças”, afirmam Laís Borsari e Christopher Velasco, estudantes do quinto ano da graduação de arquitetura e estagiários do escritório na São Remo. Ambos, em parceria com os são-remanos, elaboram projetos de restauração dos ambientes verdes de forma a conciliar acessibilidade e melhora na qualidade de vida, como a adequação das moradias e do saneamento básico.

Ações Verdes

A proposta de Laís e Christopher ainda está no estágio inicial, com a captação de opiniões e ideias dos moradores sobre as áreas públicas da São Remo. Nesse processo, os dois destacam ser fundamental a colaboração dos saberes populares da comunidade. Morador do Jardim São Remo e floriculturista, André Lima diz ser um serviço gratificante poder contribuir com o esverdeamento das casas e do cotidiano dos demais moradores através da jardinagem e dos ensinamentos sobre manutenção e cuidados com as plantas.

“Nós fazemos os cultivos não só por um aspecto estético, mas também para ter um ambiente mais agradável e saudável”, pontua André. O projeto de abrir uma floricultura partiu do seu contato diário com flores e plantas no Cea-

gesp, onde trabalha. Passados três anos da inauguração da loja, o floriculturista acredita que a preocupação com a necessidade por regiões mais verdes – não somente na São Remo, mas no estado de São Paulo – seja o mínimo a ser feito em meio à escassez de locais arborizados na cidade.

André vê no ato de plantar a importância da promoção de espaços mais arejados para a São Remo e seus moradores, que são participantes ativos da proposta, não deixarem o sonho por uma respiração mais verde ruir. Entre crianças, adultos e idosos, ele relata existir uma preferência por árvores frutíferas para serem plantadas nas praças, uma vez que não somente os são-remanos poderão ver as plantas crescerem e se desenvolverem, mas também poderão aproveitar os frutos colhidos.

Horta comunitária

Para aproveitar os alimentos produzidos pela natureza, a comunidade são-remana não precisa esperar pela reforma dos seus espaços públicos ou pelo crescimento das plantas e árvores. Vizinho de muro do Hospital Uni-

versitário (HU) da USP, o Jardim São Remo é convidado pela coordenadora do Serviço de Humanização da instituição, Tatiane Teixeira, a participar e se apropriar da horta comunitária – com apenas um ano de existência – do próprio HU. “Nós estamos nessa etapa de aproximação dos moradores para respeitar o conhecimento deles. Então, não é apenas levar o que achamos ser bom para eles, é trazer o diálogo para construirmos isso em conjunto.”

As três propostas visam integrar o espaço urbano, a sociedade e o meio ambiente. Mas ainda, de acordo com André, faltam para a SR, incentivos governamentais. Laís e Christopher declaram que o projeto da FAU também não está incluído nas políticas públicas do estado. No HU, a situação é outra: a horta comunitária recebeu, recentemente, o selo “Sampa mais Rural”, iniciativa que promove a integração de unidades agrícolas da cidade de São Paulo.

Mutirão de conscientização movimenta a comunidade

Hanek e Mariana Ricci

Moradores e lideranças da comunidade organizaram um mutirão para pintar os muros e paredes e colar cartazes na esquina entre as ruas Aquianés e Baltazar Rabelo. O grupo pediu aos motoristas que evitassem estacionar seus veículos no local às terças-feiras, dia da coleta do lixo produzi-

do pelos moradores da comunidade. Quando estão estacionados, os automóveis impedem que o “Cata-Bagulho”, como o caminhão é popularmente conhecido, chegue até o ponto de descarte na Aquianés. A ação conscientizadora surgiu após semanas de acúmulo de lixo orgânico e reciclável devido à impossibilidade do serviço público de chegar até a área.

4 Notícias do Jardim São Remo Junho de 2024..
comunidade
DAVI ALVES
Plantas criam espaços que proporcionam qualidade de vida e saúde aos moradores do Jardim São Remo

“Quando chove, ca muito perigoso, o vento fez os galhos quase acertarem as casas”

30 anos do jornal NJSR: o que mudou?

Con ra os efeitos que o tempo deixou no Jardim São Remo compartilhados pelos moradores

Catarina Bacci

Em 2024, o jornal Notícias do Jardim São Remo comemora 30 anos de circulação. Durante esse tempo, a comunidade viu tanto mudanças quanto permanências, positivas e negativas, desde a inauguração de novas organizações à negligência e precariedade dos espaços públicos.

Para conhecer mais sobre a situação atual e as condições passadas da São Remo, o Notícias do Jardim São Remo entrevistou algumas residentes. As são-remanas de longa data, Lenice Marceline, Amara Silveste e Maria da Luz Ribeiro vivem na comunidade desde a década de 1980 e relatam suas experiências sobre o que viram se transformar e continuar ao seu redor. Os depoimentos trouxeram à tona recordações de experiências individuais e coletivas.

Mudanças

Um dos principais pontos destacados pelas moradoras foi a criação do Circo Escola, serviço da prefeitura de São Paulo que oferecia cursos de várias modalidades de forma gratuita para crianças e adolescentes, mas que se encontra fechado. Outro evento importante foi a organização do Centro de Desenvolvimento Social e Produtivo (CEDESP), que, hoje, atende jovens e adultos no espaço do Circo Escola. Para Amara, o projeto foi um diferencial na educação e no desenvolvimento de seus filhos, agora adultos, e para os jovens da comunidade.

A entrevistada também comentou sobre as Organizações Não-Governamentais (ONGs) criadas nos últimos anos. O Espaço Girassol, de 1994, e o projeto Alavanca, de 2004, oferecem atividades educativas e culturais para crian-

ças da região. Amara também já participou de projetos disponíveis na comunidade e teve aulas especiais para adultos sobre assuntos que não aprendeu na escola. Mesmo não frequentando mais, lembra com carinho do curso. Eventos culturais, festas e campeonatos esportivos também foram outras iniciativas positivas que se estabeleceram nos últimos 30 anos. O sarau realizado na Praça da Amizade atrai perfis diversos de dentro e de fora da São Remo. As moradoras entrevistadas relatam ser um momento interessante que aproxima pessoas. Quando perguntadas sobre os jogos de futebol, elas dizem não acompanharem as competições de perto, mas afirmam que o campo tem suas vantagens: “esses dias, as luzes em volta estavam acesas durante a noite. Ajuda a iluminar as ruas que ficam perto delas”.

Permanências

Reformas no campo de futebol fazem falta para os residentes, conforme relatado pelas moradoras. O descaso com demandas e necessidades do Jardim São Remo foi denunciado logo no início da entrevista e algumas das cobranças para o serviço público da cidade permanecem pendentes.

Em frente à casa de uma delas, há um poste de energia com pedaços de madeira apodrecidos e uma árvore grande, ameaçando danificar os fios. “Quando chove, fica muito perigoso. Em uma das últimas chuvas que tivemos, o vento fez os galhos quase acertarem as casas”, contou Lenice preocupada. Também disse que há risco de incêndios e que agentes públicos tinham visitado a comunidade nos últimos dias para reparos, mas não atenderam ao chamado urgente de conserto dos postes.

Tudo sobre o novo programa ‘Pé de Meia’

Conheça os critérios para receber o auxílio destinado aos alunos de escolas públicas

O Pé de Meia é uma iniciativa do Governo Federal que, junto à Caixa Econômica, oferece incentivos financeiros para estudantes matriculados na rede pública de ensino. Instituído pela Lei nº 14.818 de 2024, o benefício busca atenuar as taxas de evasão escolar e reduzir as desigualdades de acesso universal à educação no Brasil.

Os estudantes contemplados pelo programa devem estar matriculados em escolas públicas,

ter entre 14 e 24 anos, cursar o ensino médio ou a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e ter a família inscrita no Cadastro Único. Além da inscrição no CadÚnico, é obrigatório que o estudante tenha Cadastro de Pessoa Física (CPF), para que seja possível abrir uma conta poupança na Caixa Econômica Federal. O Ministério da Educação (MEC) antecipa o incentivo a esses alunos através de dados enviados pelas unidades de ensino e dispensa necessidade de inscrição.no programa.

O pagamento do benefício ocorrerá em três etapas: o incentivo de matrícula, no valor de R$200,00, feito após a inscrição no ano escolar; o auxílio anual de R$1.800,00 para os alunos que tenham pelo menos 80% de frequência; o recebimento de R$1.000,00, para os que foram aprovados no ano letivo. Para os alunos do 3º ano do Ensino Médio, o incentivo ENEM, de R$200,00, conta com a presença obrigatória do estudante nos dois dias do exame nacional do Ensino Médio.

Aqueles que não estiverem mais dentro dos critérios de elegibilidade, reprovarem de ano duas vezes consecutivas, abandonarem seus estudos e/ou cometerem qualquer tipo de fraude serão retirados do programa Pé de Meia.

Para saber se você está elegível para receber o incentivo, acesse o aplicativo Jornada do Estudante, pelo código QR.

. Notícias do Jardim São Remo 5 comunidade ..Junho de 2024
Lenice e Amara, da esquerda para a direita, contam suas vivências Estrutura elétrica precária coloca moradores em risco Amanda Nascimento FOTOS: JÚLIA SARDINHA

“São essas inovações que a gente viu lá fora e quer trazer para cá” GUILHERME BOULOS, PRÉ-CANDIDATO A PREFEITO

Pré-candidato à prefeitura visita a região

Boulos fala sobre projetos

Davi Alves e Emerson May

O pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos [PSOL], esteve na São Remo no dia 21 de maio em visita a uma produtora musical. A vereadora Luna Zarattini [PT] , pré-candidata à reeleição, também estava presente. Na sua chegada, Boulos cumprimentou apoiadores e falou ao NJSR de experiências feitas em viagens internacionais que o ajudaram a construir parte de seu programa de governo. Em seguida, entrou na produtora musical REComunidade para conhecer o projeto, localizado próximo ao Circo Escola.

de urbanização para as comunidades da cidade de São Paulo

Quando questionado sobre políticas de planejamento urbano, o pré-candidato diz que, se eleito, trará melhorias na urbanização para as comunidades como a São Remo. Obras de saneamento básico, reformas habitacionais, investimentos em regiões periféricas e também a aproximação dos trabalhadores às regiões centrais e a prefeitura fazem parte das promessas de Boulos.

Boulos disse que São Paulo está “parada no tempo” em referência às adaptações para mudanças climáticas. “Estão desenvolvendo tecnologias no mundo como asfaltos permeáveis que absorvem parte da água da chuva. Assim, você

Marmitas

Clara Viterbo Nery

A Capela Nossa Senhora de Fátima, igreja católica da São Remo, vem realizando semanalmente a entrega de marmitas para moradores em situação de rua. Maria dos Remédios, moradora da São Remo e participante da igreja, explica que a ação que come-

diminui as enchentes nesses eventos climáticos extremos. São essas inovações que a gente viu lá fora e quer trazer para cá”, afirma.

Luna Zarattini criticou a situação do campo de futebol*. Ela classifica que, entre os motivos da reforma não ter sido iniciada, estão as burocracias e a “falta de vontade política”, mas afirma estar confiante no início das obras graças à parceria da USP com a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer firmada em novembro de 2023.

A vereadora cita que muitas emendas enviadas à prefeitura não estão sendo executadas: “Depois dessa confusão, ainda tem a dificuldade para colocar uma

emenda em prática”. O deputado federal Carlos Zarattini [PT], tio de Luna, é autor da emenda destinada à revitalização do campo.

Luna denuncia a falta de remédios nos postos, a baixa qualidade de recapeamento, as obras inacabadas e a indisponibilidade de unidades de saúde, cultura e educação.”Essa é a prefeitura de Ricardo Nunes, de descaso, de jogar o povo à própria sorte. E se ele não quiser ser prefeito, é só deixar a prefeitura para quem quer trabalhar”, critica a vereadora.

*A situação atualizada do campo de futebol está na página de esportes desta edição do jornal Notícias do Jardim São Remo.

para pessoas em

çou durante a pandemia, no ano de 2020, ocorre todas as quintas-feiras à noite, com a distribuição das refeições nas regiões próximas ao bairro do Rio Pequeno. Embora não entreguem a comida dentro da própria comunidade, a atividade procura ajudar o maior número de pessoas possível e, nos últimos anos, vem aumentando a quan-

situação de rua

tidade de refeições preparadas. Com 35 marmitas por semana, atualmente, a atividade depende do apoio de voluntários e de doações de alimentos que compõem as marmitas — como arroz, feijão, macarrão e proteínas para mistura — para se manter na ativa. Qualquer contribuição pode ser recebida pela igreja todos os dias.

Para doar alimentos

Capela Nossa Senhora de Fátima, Rua Pires Brandão, 112.

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do Jardim São Remo Junho de 2024..
comunidade
Notícias
Boulos e Luna cumprimentaram moradores da São Remo ao conhecerem produtora que busca amplificar a potência musical da quebrada
ALEX TERUEL
FOTOS:

“É preciso ter um espaço acolhedor e com variedade de livros para que a criança encontre o que faz sentido”

Planos para biblioteca da S. Remo avançam

Livros doados para o projeto Alavanca se transformam em primeiro espaço de leitura

No dia 24 de maio, o projeto Alavanca, localizado na Rua Aquianes, 35, realizou a primeira ação de catalogação e limpeza de livros que irão compor a nova biblioteca da iniciativa social. Com a ajuda de alguns alunos da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), foram separadas diversas obras voltadas às crianças e aos adolescentes do Jardim São Remo.

A literatura infantojuvenil cumpre um papel essencial no desenvolvimento cognitivo, emocional, da linguagem oral, da imaginação e do pensamento crítico das crianças. A ação é um incentivo ao hábito da leitura, não só na escola, como também em casa.

Apresentar a literatura aos pequenos não é uma tarefa simples. No ambiente escolar, tendem a encará-la como um dever e, por vezes, não se sentem representadas pela literatura infantil tradicional. Por isso, cada vez mais, surgem representações periféricas nesse segmento, o que é essencial para mantê-las interessadas.

“A leitura pode ser potente para todo mundo, mas é preciso ter um

espaço acolhedor e com variedade de livros para que a criança possa encontrar o que faz sentido para ela”, afirma Lorrana Guimarães, estudante de ciências sociais da USP e funcionária do Alavanca. Segundo ela, jovens das periferias precisam se sentir incluídos no que leem. Autores periféricos têm se dedicado à elaboração de livros infantis que instiguem e conversem com as crianças das comunidades.

Alguns exemplos são as obras “Meio sei lá o que” e “Amoras”, de Aline Rodrigues e Emicida, respectivamente. Ambos nasceram em regiões periféricas paulistanas e utilizam a literatura infantil como forma de expandir os universos e vivências de seu público. O livro do rapper ainda expõe uma reflexão sobre a relação entre a infância e o racismo, pauta amplamente discutida dentro e fora da periferia.

“A biblioteca precisa ser um espaço de acesso livre. O importante dela é esse contato mais fluido, que muitas crianças não tem”, pontua Lorrana. A ideia de criar a primeira biblioteca da São Remo já existia no Alavanca. Inspirados por ela, alunos de jorna -

lismo da USP organizaram a ação que se estenderá para as semanas seguintes. Uma vez limpas e catalogadas, as obras poderão ser lidas e emprestadas para as crianças, para que elas possam levar os títulos para casa. A iniciativa tem como intuito principal ampliar o acesso à literatura na comunidade e garantir que crianças da São Remo

desenvolvam uma familiaridade com a leitura e passem a vê-la como parte de um momento de diversão e entretenimento. O projeto tem um longo caminho a percorrer até sua inauguração oficial e, apesar das ações do Alavanca serem voltadas ao público infantil, a biblioteca será um espaço capaz de atender a todos os públicos da São Remo.

Circo Escola oferece cursos de formação

Mesmo fechado, o espaço continua sendo utilizado para a especialização de moradores

Com mais de 30 anos de história, o Circo Escola é um marco da São Remo, tendo contribuído por décadas na formação complementar de crianças e adolescentes da região. Com aulas no contraturno, os alunos, além de terem um local para ficar, tinham a oportunidade de cursar dança, teatro e música, por exemplo. No entanto, a escola continua fechada.

Com suas atividades encerradas no ano de 2020, por falta de recursos, as aulas foram suspensas e, devido à inatividade, a estrutura do local foi deteriorada, com o

surgimento de rachaduras e desgaste da lona de circo. Em 2021, a comunidade tentou reaver o espaço. “Nesse período a mobilização foi muito forte. Teve a votação no orçamento participativo e esse foi o mais votado dos projetos. Chegávamos a ir várias vezes na subprefeitura para fazer essas reinvindicações” afirma Lucas Motta, participante do Coletivo Viração. Contudo, as pautas levadas à subprefeitura sempre eram encaminhadas para a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) mas, pela grande burocracia, nunca foram resolvidas.

Quatro anos após o fechamento, o Circo Escola segue inativo e sem sinais de reabertura. A ação social Bom Jesus, que toma conta do espaço, continua sem previsões de reformas ou de receber o orçamento do SMADS, o que atrasa o processo de reinauguração que vem sendo prometido desde 2021. Apesar da dificuldade de reabrir a escola e promover atividades para as crianças, o espaço vem sendo utilizado, aproveitando uma parte das salas do prédio que se mantiveram em condições de uso, para trazer novas oportunidades para os moradores da São Remo. Promovido pela Bom Je-

sus, o Centro de Desenvolvimento Social e Produtivo (Cedesp) traz cursos profissionalizantes para a população de 15 a 59 anos, com turmas vespertinas e noturnas. Atualmente, estão disponíveis vagas para aulas de confeitaria, formação de cuidadores de idosos e manicures, com 150 vagas por turno (50 para cada curso).

As aulas do segundo semestre iniciarão no dia 15 de julho e a previsão para início das inscrições é 10 de junho. As matrículas devem ser feitas na escola mediante apresentação do RG, do comprovante de residência e do Número de Identificação Social (NIS).

. Notícias do Jardim São Remo comunidade ..Junho de 2024 7
Projeto Alavanca impulsiona o contato entre as crianças e a literatura MARIANA RICCI

são remano

“O ganho para as crianças não é só aprender um instrumento, é perceber uma nova possibilidade de ser no mundo”

FRaNciSmaR, pROFeSSOR de viOliNO

musicalização incentiva educação plural

Aos sábados de manhã, aulas de violino são oferecidas às crianças e jovens da São Remo

Gabriela Nangino e Yasmin Constante

O Espaço Girassol é um ambiente fundado pela Associação Agente para ampliar a educação das crianças e jovens da São Remo. O local abriga diversas atividades ao longo da semana e, aos sábados, por meio de uma parceria com a Agência do Bem, recebe o projeto Escola de Música e Cidadania (EMC).

Das 9h às 12h20, jovens de 7 a 17 anos desfrutam de muita música e aprendizado. A EMC, como seu nome explica, se divide em dois

momentos: aulas teóricas e práticas de violino e oficina criativa, momento de debater sobre temas relevantes definidos semestralmente pela Agência do Bem. Francismar dá aulas de violino para as crianças há dois anos, e conta que mantém com elas uma relação muito próxima. “Acabamos criando um laço bem afetivo aqui. O que é muito bom, porque conseguimos não só a presença das crianças, mas também o empenho delas durante a aula.”

O professor crê que o maior ganho para os alunos é perceber uma

Sabores da São Remo

Gabriela Nangrino e Yasmin Constante

A culinária de uma localidade está ligada não só ao que as pessoas comem, mas também às histórias, crenças e vivências da região. Não é por acaso que desde 2003 a gastronomia é considerada pela Unesco um patrimônio cultural imaterial, ou seja, bens culturais que dizem respeito a práticas do dia a dia da sociedade. Valorizar comidas regionais é uma prática fundamental. Optar por restaurantes próximos faz o consumidor criar uma conexão maior com aquele espaço, além de contribuir com comerciantes e a economia locais. A população pode criar vínculos culturais e afe-

tivos com a comida que consome e o espaço em que a compram. Na São Remo não é diferente. Quando os repórteres do Notícias do Jardim São Remo perguntaram aos moradores indicações de lugares, recomendaram a Padaria São Remo, a feijoada do Bar do Baixinho e a confeitaria Lane Doces. Vanessa, funcionária da Padaria São Remo há 20 anos, relata que o estabelecimento existe há 23. Foi a primeira padaria criada no bairro e é a mais conhecida, o que explica o carinho dos moradores pelo estabelecimento. Segundo ela, o local é um ponto de referência na comunidade. Vanessa diz que não há segredo para o sucesso, que é apenas o retorno do investimento que foi depositado ali.

nova possibilidade de ser no mundo. “A gente conversa muito sobre a dicotomia de estar ao lado da USP. Muitos não sabiam o que é a USP. A gente sempre reforça que ali é uma universidade, que eles podem ocupar quando crescerem”. Além de uma possível profissionalização no instrumento, esse debate amplia perspectivas. Francismar conta que, em 2023, as crianças fizeram um Flash Mob pelo bairro, parando em locais como na quitanda, no mercado e na farmácia para tocar um instrumento. “Isso fez com que a comunidade soubesse da nossa existência e a apoiasse muito. As pessoas incentivaram os filhos para vir e as matrículas aumentaram.”

Josafá, responsável pela oficina desde o início de 2024, trabalha em organizações sociais desde os 15 anos. O professor conta que é uma experiência significativa em sua vida, pois é uma forma de dar sequência a um ciclo. “Me espelho nas crianças, porque eu também comecei a estudar em ONGs, e ao trabalhar com elas eu me vejo criando novas oportunidades.”

Nesse semestre, a pauta é “Pluralidade Cultural no Brasil e na

América Latina”. Josafá explica que a primeira aula foi sobre identidade, chance das crianças entenderem quem são e de onde vêm, e aprenderem mais sobre as diferentes regiões. A temática é importante para discutir tópicos como a xenofobia. “Para falar sobre pluralidade, precisamos falar sobre a história do Brasil, os povos indígenas e africanos, e esse olhar crítico para elas é muito importante. Na escola, o ensino é defasado, e o projeto social é capaz de ajudar”. No dia 17 de julho, haverá um recital. Francismar está preparando músicas de raiz indígena para que a parte prática da musicalização se relacione com a oficina criativa. “As crianças estão participando desse processo e trazendo algo do repertório pessoal delas para ser incorporado”. A aluna Gabriele, de 10 anos, diz: “Eu gosto do que o professor escreve sobre o Brasil e as suas regiões, as diferentes culturas e preconceitos”. Ao conversar com as crianças, elas demonstram interesse pela música, mas também por outras áreas, como o esporte, um reflexo dos resultados positivos alcançados pelo projeto.

Morador compra pães na Padaria São Remo, aberta há 23 anos

Lane, moradora do bairro e proprietária da confeitaria Lane Doces, aberta em 2018, conta que sempre amou a gastronomia e acredita que o sucesso de seus produtos aconteça pelo valor afetivo que coloca em seu trabalho. “É totalmente caseiro como se fosse feito na cozinha da casa do cliente. Ficou uma coisa tradicional”, afirmou.

Além desses estabelecimentos, é possível encontrar vários restaurantes, com as mais diversas opções gastronômicas em seus cardápios. Há desde frango assado na garagem até um restaurante japonês, o que evidencia a grande diversidade da gastronomia presente da comunidade do São Remo, com sabores que refletem a diversidade da cultura local.

8 Notícias do Jardim São Remo Junho de 2024.
YASMIN CONSTANTE
Alunos do Espaço Girassol praticam violino durante aula
YASMIN CONSTANTE
Culinária reflete a cultura da comunidade

“A gente está ativo há trinta anos, com muito amor, suor e luta pelo hip hop”

o rapper é professor e o hip hop é escola

Black Nandão fala do poder didático da cultura hip hop na comunidade da São Remo

Vito Santos

Iniciada por jovens afro e latino americanos da periferia de Nova Iorque e trazido até o alto dos morros de São Paulo, o movimento, desde o início, serve de refúgio para adolescentes e crianças que crescem à margem do sistema e que encontram na arte a forma mais justa de lutar pelo seu lugar no mundo.

Black Nandão, do grupo Ideologia

Fatal, é contemporâneo à chegada do hip hop no Brasil e viu o movimento ganhar forma e se tornar fenômeno nacional. Na virada da década de 1980, Nandão conta que através do Yo MTV Rap, programa de TV focado em clipes e informações sobre hip hop brasileiro, seu interesse pela filosofia de vida vindo do Bronx despertou. “Ficávamos até de madrugada vendo clipes e de repente fiquei vidrado, logo já queria andar naquele estilo e ser daquele jeito”.

Naquela época, a periferia se encontrava carente de cultura e de lazer, como informa o membro do grupo: “comecei a colar nas festas de hip hop porque era algo novo e naquele tempo não tinha muita alternativa para curtir”. O movimento vem de encontro às necessidades das comunidades de São Paulo nos anos 1990 de acessar a cultura e o lazer, garantias constitucionais.

Black Nandão, quando começou a trabalhar com o som, foi convidado por Mano Lye e DJ Rick para parti-

cipar dos shows da dupla. Juntos, eles formaram um grupo de rap. “A gente está ativo há trinta anos, com muito amor pelo hip hop”, diz Nandão. O grupo também é responsável por conduzir o Sarau Composição Urbana. Criada em 2012, a iniciativa se inspirou na figura de Dona Eva, da comunidade São Remo: “ela implementou um sarau aqui na São Remo. Primeiro fomos para participar, logo depois tivemos a ideia de criar um também”.

Com o sarau, o grupo leva cultura hip hop para as crianças e adolescentes do bairro e arredores. “Começamos a ganhar força fazendo saraus itinerantes, íamos em escolas fazer oficinas levando nossa mensagem e a nossa cultura”, conta o rapper. Com o auxílio de programas, como o Valorização de Iniciativas Culturais (VAI) e o Fomento à Cultura da Periferia, os membros conseguiram construir o Somando na Quebrada, projeto que promove discussões, apresentações culturais, debates e oficinas com jovens, que fornece ajuda de custo para os participantes.

Para Nandão, a cultura hip hop ensina a todos que a constroem que é importante passar os conhecimentos para frente. “As crianças são nosso legado,

quando fazemos oficinas e explicamos o que é a cultura todos têm interesse nos quatro elementos.” Os quatro elementos, segundo Nandão, são pilares de sustentação do movimento e foram enumerados pelo DJ Afrika Bambaataa no início do hip hop no Bronx: o rap, o grafite, o DJ e o breakdance. Entretanto, o DJ adicionou mais um elemento a esse rol de manifestações: o conhecimento.

O quinto elemento é aquele que concentra todos os outros e garante que o rap seja compromisso e não viagem, como afirma Sabotage, um dos MC ‘s mais importantes para o hip hop nacional e que já dividiu palco com o Ideologia

Fatal. Essa manifestação também nomeia um importante prêmio do hip hop nacional, cujo vencedor da categoria Ação Social da 5ª edição, de 2023, foi Black Nandão. Com o Somando na Quebrada e o Sarau Composição Urbana, Nandão, DJ Rick e Mano Lye desenvolvem nos jovens o interesse pela história do Hip Hop e, assim, dão continuidade à cultura. “Procuramos explicar da melhor forma e ensinar os elementos do Hip Hop através de vídeos, livros e palestras e as crianças, quando acabam as oficinas já perguntam ‘que dia que vai ter de novo?’”, conta Nandão. É o hip hop a colher frutos e a plantar sementes.

Festa Junina resgata tradições populares

A comunidade São Remo se prepara para a esperada Festa Junina, organizada pelo Centro Cultural Riacho Doce. Este ano, o evento acontecerá nos dias 26 e 27 de Julho (sexta-feira e sábado) e promete trazer alegria e tradições para os moradores com quadrilhas e comidas tradicionais como canjica, bolo de milho e arroz doce.

A Festa Junina do Riacho Doce, que está em sua terceira edição, é uma iniciativa que visa resgatar e valorizar a

cultura popular brasileira, conforme explica DuMangue, artislíder do Centro Cultural. “Procuramos sempre resgatar todo tipo de cultura popular brasileira. Fazemos festa junina, bloco de carnaval e outros eventos para resgatar tradições importantes que estão se perdendo.”

O tema deste ano é inspirado no cangaço, celebrando a rica cultura nordestina e haverá um concurso para definir o casal que será o rei e a rainha caipira durante o evento. A ideia da

festa surgiu de duas alunas de capoeira do projeto, que, após viagem ao Nordeste, retornaram à São Remo com desejo de reforçar as atividades culturais do espaço. Na festa, os participantes poderão desfrutar de programação diversificada. Haverá duas quadrilhas ensaiadas e outra aberta ao público, além de forró. O evento será realizado na Rua Pires Brandão, perto do N° 8, com início na parte próxima à escada até perto da Corifeu, onde será montada toda a estrutura necessária.

“A festa é sem fins lucrativos e o valor arrecadado é para manter o projeto. Não temos patrocínios mas queremos que toda a comunidade participe”, diz DuMangue.

Quadrilha, o ponto alto da festa

. Notícias do Jardim São Remo 9 são remano ..Junho de 2024
Jean Silva Black Nandão, importante voz na defesa da cultura hip hop
VITO SANTOS
ACERVO DO CENTRO CULTURAL

mulheres

“Você se sente melhor, esquece os problemas. É um conforto depois de um dia cansativo”

NASCIMENTO DA SILVA, CAPOEIRISTA DA SÃO REMO

Capoeirista Amora conquista vitórias

Com 16 anos, Helmara Tatiele Candeira se destaca e mostra o poder das mulheres no esporte

A jovem Helmara Tatiele Candeira, mais conhecida por seu apelido Amora, tem ganhado visibilidade na capoeira com três vitórias, duas delas sendo do campeonato do Grupo Etnias. Na competição deste ano, a atleta conta que machucou o tornozelo e, mesmo mancando, conseguiu ser campeã!

A atleta, que intercala seus estudos com treinos no Centro Cultural Riacho Doce, conta que começou ainda criança no esporte. Antes de morar na São Remo já havia entrado em contato com a capoeira, mas parou por um tempo depois de se lesionar durante o treino.

Aos 11 anos, quando já morava na comunidade, seu padrinho e seu professor Carlos Dumangue a incentivaram a voltar a treinar.

Juliana Nascimento da Silva, apelidada de Joaninha, tem 19 anos e treina junto com Helmara também desde mais nova, e coleciona um pódio na capoeira.

As duas atletas contam que os benefícios da capoeira vão além do condicionamento físico e do exercício, mas que é um “hobby”, um passatempo e uma terapia. “Você se sente melhor, esquece os problemas. É um conforto depois de um dia cansativo”, afirmam as atletas em entrevista ao NotíciasdoJardimSãoRemo

No cenário da comunidade, Amora e Joaninha compartilham que a capoeira foi uma grande aliada para o amadurecimento emocional. “Evitou que entrássemos em caminhos errados, o professor está sempre incentivando a fazer cursos e continuar estudando.”

O professor Dumangue que é conhecido por seus alunos serem, em maioria, mulheres. O treinador as envolvem em eventos e trabalhos do Centro Cultural e afirma que as aulas de capoeira existem como uma aliança do esporte e do projeto social que tem o objetivo de desenvolver a humanidade, educação, caráter e valores dos jovens de acordo com a fase que estão.

Dumangue afirma que procura sempre explorar o potêncial de suas alunas pelo amadurecimento e personalidade “Tem diversas fases do adolescente, a filosofia é igual para todos, mas se adapta a personalidade e idade de cada um”, relata o mestre de capoeira. O treinamento e desenvolvimento dos movimentos e cultura da capoeira se dividem entre aulas de canto, musicalidade, dança, condicionamento físico e outros aspectos da capoeira. Assim, as capoeiristas vão se preparando casualmente e para os campeonatos como os Jogos Institucionais que acontecerão em Taboão da Serra no dia 15 de junho.

Tatiane e o sucesso da mãe empreendedora

A designer de sobrancelhas conta sua história no ramo e como ser mãe lhe deu forças para persistir

Tatiane da Silva Lima, de 34 anos, é empreendedora do ramo de estética de sobrancelhas há 9 anos. Começou a trabalhar na área logo após o nascimento da sua filha, visando uma forma mais flexível de ganhar dinheiro sem deixar de acompanhar o crescimento da filha. “Hoje em dia o meu horário é totalmente voltado para ela. Eu atendo após às 13h30 justamente porque eu quero participar da vida dela”, relata.

A designer de sobrancelhas preza pelo bom atendimento de seus clientes, já que acredita que os moradores da São Remo merecem. “Eu já pensei em ter algo aqui dentro com a mesma qualidade das empresas que têm fora da comunidade”, acrescenta.

Com o nascimento da sua filha, Tatiane via o empreendedorismo não só como forma de reafirmação de sua independência, mas também como meio de ensinar à filha os valores que acredita. “Eu trabalho muito isso com a minha filha hoje em dia. Eu sempre falo pra ela que ela pode tudo, que ela é corajosa, que ela é esforçada, que ela é inteligente. Eu sempre procuro ensiná-la sobre isso”. A empreendedora também faz parte de um projeto chamado “PMU A Favela Venceu”, iniciativa com objetivo de instruir empreendedores do mundo da beleza. Foi a partir desse projeto que Tatiane surgiu com a ideia de criar um grupo de empreendedoras voltadas à trazer luz para empreendimentos não reconhecidos na área da comunidade São Remo.

“A gente está tentando de alguma forma ajudar essas mulheres a se destacarem e não se sentirem inferiores por atenderem em comunidade”, completa Tatiane. Segundo Tatiana, muitas pessoas bloqueiam o próprio caminho para o sucesso por medo do fracasso. Para a designer de sobrancelhas, toda mulher com o esforço e apoio necessário conseguem se firmar no empreendedorismo. Ela acredita que as mulheres, principalmente as que são mães, têm em si a força necessária para se sustentar e criar suas famílias de forma consistente. “Eu fiquei 10 anos para começar a dar o curso agora porque eu não tinha segurança. Então eu quero passar isso para as pessoas. É onde está seu medo e a sua insegurança que é onde você vai dar certo”, diz Tatiane.

Tatiane é exemplo de persistência
DIONE COSTA DA SILVA RECOMUNIDADE
Movimentos habilidosos marcam roda de capoeira em competição
10 Notícias do Jardim São Remo Junho de 2024. MONICA PAIVA
SAMARA CANDEIRA
Helmara e seu mestre comemoram

“Quando se quer resolver os problemas, as soluções vêm. E acho que isso não está acontecendo na São Remo”

Campo segue sem previsão de melhoria

Verba destinada para a revitalização do espaço esportivo permanece parada na prefeitura

A falta de manutenção no campo era um dos problemas que os moradores esperavam que seria resolvido depois da assinatura do termo de permissão de uso de bem público entre a prefeitura da USP e a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de São Paulo (SEME), em novembro de 2023.

Sem o gramado sintético e com muitas expectativas frustradas sobre as condições do campo, a emenda individual impositiva enviada pelo deputado federal Carlos Zarattini ao município de São Paulo, em março do ano passado, ainda não foi utilizada pela prefeitura, que passou por uma troca de secretários de Esportes e Lazer. Felipe Becari tomou posse em 22 de dezembro de 2023 no lugar de Cacá Vianna, que foi o representante municipal na cerimônia do acordo daquele ano.

Em nota, a Secretaria informou que o campo não pertence à prefeitura e “como a área não possui um

equipamento constituído da SEME (CDC – Clube da Comunidade), houve necessidade de consulta jurídica para verificar a responsabilidade das intervenções no campo.”

A pasta ainda declara interesse em uma futura constituição de CDC, desde que “obedecendo a rigor o Decreto Municipal 57260/2016”.

A subprefeitura do Butantã alega que o termo assinado entre as duas prefeituras não tem validade legal, uma vez que a USP deveria ter enviado um ofício para o subprefeito notificar a Coordenadoria de Gestão de Patrimônio (CGPATRI) da Secretaria Municipal de Gestão (SEGE) e receber a devida autorização do órgão.

Quando questionada, a prefeita do Campus USP da Capital, Raquel Rolnik, responsável pela assinatura do documento de permissão de uso, afirmou que não foi informada sobre a necessidade de tal ofício. “A Secretaria do Esporte já está em mãos com os documentos necessários para poder fazer aquilo que foi combinado”, relata a prefeita.

Ação dos times garantiu construção de muros e instalação da iluminação

Acordo com Prefeitura Municipal Conforme o documento assinado em cerimônia realizada no auditório do Instituto de Estudos Avançados (IEA) no prédio da Administração Central, no campus de São Paulo, a Secretaria Municipal se obriga a utilizar do termo “única e exclusivamente para o desenvolvimento das atividades esportivas e de lazer, de forma pública, gratuita e irrestrita para a população”.

Na edição de dezembro, o NJSR noticiou a cerimônia, que contou com a presença de Carlos Vianna, então secretário municipal de esportes e lazer, Raquel Rolnik, Carlos Zarattini e os represen -

tantes das associações esportivas da comunidade, Daniel Luiz e Faustino Oliveira.

O documento foi um caminho encontrado pelas partes envolvidas para facilitar o avanço da revitalização do campo e a comunicação entre a comunidade e os órgãos competentes. Após mais de 6 meses da assinatura, nada mudou no terreno.

“Quando se quer resolver os problemas, as soluções vêm. E acho que isso não tá acontecendo na São Remo. A São Remo está sendo negligenciada”, disse Luna Zarattini, vereadora do PT, em entrevista ao NJSR

Dezesseis anos do grande 30 a 0 do Vila Nova

Em 31 de maio de 2008, o Vila Nova conquistava uma das maiores goleadas da sua história. Foram trinta gols contra o time da Associação Acadêmica Ana Rosa Kucinski.

A equipe é uma das mais antigas do futebol amador na São Remo. Fundado no dia 28 de março de 1979 por Zé Maria, o clube foi criado a partir do fim de outro, o Ameriquinha.

Neco, técnico e responsável pelo Vila Nova desde 1984, assumiu o

comando da equipe no lugar de Zé Maria. Ele destaca os 94 jogos de invencibilidade entre 1994 e 1996 apesar das difíceis condições do time no seu início: “Não tinha esse campo aqui, nós só jogávamos fora. Íamos para as quebradas de busão, não tinha carro na época.”

Chitão, além de centroavante pelo time principal na juventude, foi técnico da equipe B do Vila entre 2009 e 2018. Ele conta que buscava não só a prática esportiva, mas também ensinamentos morais para os jogadores: “Eu queria ficar com os moleques e mostrar o futebol, tirar eles da bagunça e de todas as coisas ruins que tinham e têm até hoje”.

O Pão de Queijo é o maior rival do Vila Nova. Segundo Chitão, muitos torcedores se reuniam quando os times se enfrentavam no passado. “Todo jogo era a final. O pau comia, não tinha boi,

era igual Palmeiras e Corinthians, ou até pior”, conta.

Apesar dessa rivalidade, a relação entre os times fora dos gramados era de companheirismo em prol do futebol na comunidade. “Eu era técnico do Pão de Queijo e fazia parte do esporte em geral, então eu não tinha rivalidade com os caras. E por correr com o Neco para trazer melhorias para o campo, eu acabava não vendo ele como rival”, explica Faustino de Oliveira, representante do esporte na São Remo.

Ao NJSR , Samuel da Silva, craque histórico do Vila, manda um recado ao elenco atual do clube. “Para elevar o nome do Vila Nova nós tivemos muitos desafios, mas conseguimos nos sobrepor a todas eles. Então, que honrem esse manto porque tiveram muitos guerreiros antes que batalharam pelo time”.

. Notícias do Jardim São Remo ..Junho de 2024 esportes 11
A equipe do Vila Nova conquistou a taça nos Jogos da Cidade em 2008
DAVI ALVES
Davi Alves Rafael Dourador
ARQUIVO PESSOAL/ PAULO NOGUEIRA

esportes

“Ele era aquela pessoa que todo mundo queria ser amigo” BRUNA MOURA, AMIGA DE PAULO

Conheça o legado de Paulo Santos no Ski

Apesar da morte prematura, o jovem deixa uma marca imortalizada no esporte da São Remo

Paulo Santos, conhecido como Paulinho, foi um atleta que com seu jeito amigável e um sorriso no rosto levou o Ski do Brasil, praticado na São Remo, para muitas partes do mundo.

Desde criança esteve envolvido nas atividades físicas, sua primeira prática foi o futebol de rua com seus amigos e depois a corrida. Paulo conheceu o esporte que iria se profissionalizar através do projeto Ski na Rua, fundado por Alexandre Oliveira e Leandro Ribela em 2012, ele e mais três alunos acreditaram na ideia e começaram a esquiar.

“Eles foram os maiores embaixadores do projeto, chamando a galera, falando que era legal e mostrando onde estavam as oportunidades. O Paulo sempre participou disso ativamente, principalmente nesse início”, relata Leandro e completa dizendo que ele foi um membro que agregava no grupo de atletas e sempre os estimulava através do seu otimismo de ver a vida.

O Ski na Rua é um projeto social que apresenta o Ski Cross Country às crianças e jovens da SR através do Rollerski. A iniciativa revelou atletas que competem internacionalmente como o irmão de Paulo, Victor Santos, que participou dos Jogos Olímpicos de Inverno em 2018 na Coreia do Sul.

Os irmãos vivenciaram o cotidiano dessa modalidade juntos por anos. “Nós competimos na rua e bastante tempo na neve também, foi aí que participamos de várias etapas dos campeonatos europeus na modalidade Ski Cross Country que é só o ski e depois ele migrou para o Biathlon que é com tiro também”, declara Victor.

“A forma alegre e positiva de Paulo fica de exemplo”, afirma Leandro

Carreira no Ski

Após um ano treinando, os primeiros convites para competições fora do Brasil chegaram, o que causou muita empolgação, mas também insegurança sobre o que esperar desses eventos. Os mesmos sentimentos chegaram a Flora, mãe de Paulo e Victor, que declarou: “Quando eles iam no começo eu chorava muito, porque tinha medo, ficava meio insegura, mas depois que eles começaram a ir direto, eu já ficava tranquila”, contou.

Após participar do campeonato brasileiro e do sul-americano, começou a receber apoio financeiro da Confederação Brasileira de Desportos na Neve e a participar da equipe júnior da seleção brasileira. Mas o auxílio recebido não era o suficiente para que Paulo conseguisse se dedicar apenas ao Ski com o passar dos anos.

Victor ressalta a breve carreira profissional do irmão no esporte e complementa alegando que como o Paulo “já não era mais júnior, os critérios passaram a ser mais exigentes, já estava em outro momento também e decidiu fazer essa troca”.

Impacto Social

No início de sua carreira, Paulo formou grande amizade com Bruna Moura, que foi sua companheira de competição. “Ele era aquela pessoa que todo mundo queria ser amigo, porque você sabia que iria se divertir, ao mesmo tempo sabia que tinha alguém para contar e conversar”.

A primeira competição internacional em que participou foi em Ushuaia, na Argentina, em 2013 aos 19 anos. Porém, foi no ano de 2017, na cidade de Bogotá, na Colômbia, que conquistou de forma inédita e marcante para a comunidade o primeiro lugar nas categorias de 2,5km e na 10km do Rollerski masculino.

O comprometimento que ele teve no Ski é alvo de elogios não apenas de Bruna, como também de Leandro. “Uma pessoa sempre dedicada e com o compromisso sobre o que a gente planejava, sempre disposto e alegre, sempre para cima”, diz ele sobre o atleta.

Após o primeiro trimestre de 2020, as contribuições dele nessa modalidade começaram a parar e ele começou a trabalhar como salva-vidas. O jovem atleta, apesar da menor frequência, continuava praticando Ski, não visando mais os campeonatos, mas sim sua saúde e sociabilidade.

As várias competições divididas entre Argentina, Brasil, Suíça, Áustria e Colômbia proporcionaram lembranças de carinho aos amigos. Durante a entrevista, Bruna conta que “em uma via-

gem, precisei escolher um dos meninos para dividir o quarto. O Paulo era a pessoa da equipe em quem mais confiava, com quem mais me sentia confortável. Perguntei se tudo bem o escolher, e com certeza ele queria ficar na bagunça dos meninos, mas era tão gente boa que falou tudo bem”.

Para além das pistas, abriram-se portas para um mundo de possibilidades muito além do esporte, mas também na vida de quem vive na São Remo. De acordo com Leandro, o atleta acreditou em uma ideia que ainda não existia, comprou a proposta do Ski na Rua e foi um impulsionador do projeto. “Ele mostrou que era possível chegar onde a gente vislumbrava chegar, se entregou de corpo e de alma para passar por esse processo”. Vindo da periferia, Paulinho viu no esporte uma chance antes mesmo que outros acreditassem nela. Assim, se dedicou e conquistou feitos incríveis durante sua jornada. Infelizmente, no mês de abril de 2024, ele se juntou a baixa porcentagem de pessoas no mundo que falecem de apendicite.

Para quem o encontrou durante o caminho, ficam as boas lembranças de um jovem de personalidade tranquila, que acreditava na força de encarar a vida com positividade e alegria. “Ele se foi sendo autêntico”, afirma Bruna.

Projeto social Ski na Rua

Aulas Gratuitas na USP

Facebook – Projeto Social SKI NA RUA 12 Notícias

Segundas e quartas-feira

Das 19h15 às 20h30

Sábados

Das 9h45 às 12h00

Mais informações nas redes sociais

Instagram – @skinarua

ACERVO PESSOAL/ VICTOR SANTOS
São Remo Junho de 2024..
do Jardim

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