Jornaleco 486 fevereiro 2017

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Baile de branco

por Cláudio Gomes CASOS E CAUSOS QUE O POVO CONTA

S

JORNALECO ARARANGUÁ, FEVEREIRO DE 2017 • ANO 23 • Nº 486

Texto atualizado de Alexandre Rocha P. 2 e 3

Aqueles dias de verão na casa da vó

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – CORTESIA DOS ANUNCIANTES

Zé Patrola, entre Tonico e Tinoco, e Nego Miro, numa apresentação da célebre dupla sertaneja em Orleans No fandango tudo ia bem, até que, à certa altura, Miro, alertado por seu companheiro do pandeiro Zé Patrola, olhou e falou para o parceiro de cantoria: — Eu já vi, Zé. Aquela moça do vestido verde. — Pois é, Miro — complementou o Zé Patrola. — Eu acho que ela tá te namorando. O baile continuava, agora, mais animado, com o Miro fazendo firulas na gaita, louco para descer e dançar. Mas, naquele fim de mundo, quem continuaria tocando para que o baile não fosse interrompido? Além de não haver sanfoneiro, tinha de ser branco. Logo, Miro, que era discriminado por causa de sua cor, estava obrigado

A P O I O C U LT U R A L

JORNALECO

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PANFLETO CULTURAL

a continuar tocando sua gaita. A moça do vestido verde não dava tréguas, continuava o namoro. Lá pelas tantas, como ele mesmo conta... — Apareceu um abençoado que pegou a gaita e me substituiu. Saí faceiro e fui dançar com a moça. Não sei por que, mas não fui importunado, a não ser por um conhecido meu que, por sinal, era preto, e que ao me ver passar dançando pela porta que dava acesso ao salão, me chamou e pediu para que o colocasse para dentro. Eu tive que aproveitar aquela oportunidade e, em tom de brincadeira, dizer a ele: Tu não tá vendo que aqui é baile de branco?! Texto de estreia do Claúdio no JORNALECO (nº 388, 15/01/2012) H FUNDADO EM 18 DE MAIO DE 1994 H

ANO 23 • Nº 486 • FEVEREIRO DE 2017 Periodicidade mensal - Tiragem: 1.000 exemplares E-MAIL:

A casa, além de duas áreas, tinha sete peças, sendo quatro quartos. De frente para o mar, no lado sul, ficava o quarto do vô Pedro e da vó Creme; no lado norte, era o quarto das tias Céia, Shirley, Neusa e Fata, onde também dormia a prima Adriana, muito simpática e querida por todos. Mais ao meio, vinha o quarto dos mais novos: tio Zôlo e os netos Gordo, Daniel e Polaco, este de vez em quando. Na sala havia, como atração, uma televisão de 24 polegadas, a maior da época, marca Admiral. Para o lado sul da rua do Paulista, era o quarto dos mais velhos: tio Paçoca e Naganto, que tinha cama cativa, e meu irmão Drinho que, posteriormente, deixaria a vaga para mim, quando já estava mudando de penuja para pena. Aos sábados, bem cedo, acordávamos com o ruído das rodas do carro de boi do seu Jovem, caseiro do seu Pedro, trazendo melancia, melão, milho, batata e aipim. O Naganto abria a janela, puto da cara por ter sido despertado

QUEM É QUEM: Tio Zôlo/Eduardo, Tio Paçoca/Pedroca,

Naganto/Sander Hahn, Drinho/Pedro Ernesto.

jornaleco.ara@gmail.com

© Ricardo Francisco Gomes Grechi (reg. nº 99866, prot.4315/RJ de 17/07/1995)

Av. XV de Novembro, 1807 - Centro - Araranguá Tel. (48) 3524-5916 graficacasadocarimbo@gmail.com

Detalhe da casa de Pedro Gomes, no Arroio do início dos anos 70

tão cedo, e saudava com um “Bom dia, seu Jovem, o homem que não envelhece”. Após o almoço, o vô ia até a área e, batendo com o dedo nas cascas das frutas, escolhia três entre as melhores melancias. Então partia, tirava o miolo e distribuía as fatias, que pareciam ser todas do mesmo tamanho! As melancias eram todas amarelas. Quando aparecia uma vermelha, era uma festa, sendo que hoje é raro se encontrar uma melancia com a polpa amarela. Minha vó passava o verão inteiro na cozinha, e o vô Pedro sempre saía cedo, voltando por volta das 10 horas, com uma penca de peixes e com alguns “aperitivos” na cabeça. Enquanto a vó preparava o almoço, ele ficava com os braços e as mãos entrelaçadas para traz, em volta do fogão, reclamando das despesas que tinha no armazém e açougue dizendo que naquela casa se comia um boi por semana. A vó Creme, com sua paciência e sabedoria, não dava muita bola, deixando o vô desabafar um pouco. Logo ele se acalmava e ficava tudo bem. Todo dia 4 de maio comemora-se a padroeira Nossa Senhora Mãe dos Homens e eu lembro a minha querida avó, pois ela recebeu do Drinho o título de “Nossa Senhora Mãe dos Gomes”, por sua dedicação incansável à família.

Fechamento desta edição: 21/02/2017 15h30

EDIÇÃO, DIAGRAMAÇÃO E REVISÃO Ricardo Grechi CONTATOS Rossana Grechi ASSISTÊNCIA Guaraciara Rezende, Gibran Rezende Grechi, Nilson Nunes Filho IMPRESSO NA GRÁFICA CASA DO CARIMBO DE Rosa e Aristides César Machado PRODUÇÃO Nicolas Nazari Machado PREPARAÇÃO DO FOTOLITO David Machado Fernandes CORTE Toninho Abel IMPRESSÃO Valdo Martins

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PEDRO GOMES, no auge da sua maturidade, veraneava no Arroio do Silva. Sua casa era no centro da praia, onde, aos domingos, abrigava quase toda a sua enorme descendência: doze filhos e “trocentos” netos. O almoço ia até às quatro horas da tarde. Além dos parentes, vinham os vizinhos mais chegados, principalmente os filhos do Neco Pereira: o Dando, o Poda e o Dilo. Para seu Pedro, isso era uma alegria, ver a casa cheia. Com sua tarrafa de 24 braças nas costas, ele convidava dois ou três netos para ir de junteiros, e saía na madrugada, adentrando o mar com a água à altura do peito. Lançava sua tarrafa com tanta destreza, que só se ouvia o som afinado da chumbada caindo sobre a água. Depois ia puxando e chuleando bem devagar. Cinco ou seis tarrafadas já eram o suficiente para encher os balaios de peixes e siri. O resto da ceia, minha vó completava com sua saborosa culinária caseira, tudo feito no fogão à lenha, tendo como destaque o feijão moído. Antes de começar a temporada, era feita a limpeza no interior da casa, que em volta se formavam grandes dunas e a areia invadia através das frestas do forro do assoalho. Da área, tirava-se a areia de pá. Depois de limpa, as dunas ainda permaneciam quase à altura das janelas. Me lembro quando estava tomando café ou almoçando na cozinha e a gente avistava animais rente à casa. Havia muitos animais andando soltos na praia, como bois e cavalos. Às vezes eles metiam a cabeça pela janela, dando a impressão que o bicho ia entrar sem pedir licença.

por Marco Aurélio Gomes Grechi

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e hoje há discriminação racial, é sabido que houve tempos em que ela já foi bem mais perversa. O preconceito separava pessoas amigas, simplesmente, porque tinham cor da pele diferente. ALMIRO JOSÉ NUNES, um cidadão simples, sexagenário, é morador do bairro Urussanguinha, na nossa Araranguá. Sendo apresentado com este perfil, poucas pessoas o identificariam. Entretanto, ao acrescentar que Almiro gosta de uma boa festa, é gaiteiro, trovador, fazendo dupla com ZÉ PATROLA, o araranguaense da gema e dos antigos o identificará como NEGO MIRO. Nego Miro, é um afro-descendente moderno que não se preocupa em ser nominado pelo seu codinome. É um bom acordeonista desde a infância, destacando-se na música gaúcha e sertaneja, seja através da Rádio Araranguá, local, seja pelas andanças na região. Das suas festas de bailes, aniversários e viagens pelo interior, Nego Miro conta muitas histórias, quase todas verídicas, como ele mesmo diz, mostrando com orgulho uma foto sua com o Zé Patrola acompanhados da dupla sertaneja brasileira Tonico e Tinoco (foto). Em certa ocasião, os araranguaenses foram tocar num baile na localidade de Curralinhos, onde Nego Miro só entrou por que não tinha gaiteiro branco.

Quem foi o primeiro prefeito de Araranguá?

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