Feio, gole, F1, fluxo, um baita, gudazin, brota... Você já deve ter ouvido essas expressões pelas ruas do bairro. Confira algumas das gírias utilizadas no Zinga. PÁGINA 27
MATÉRIA ESPECIAL BAIRRO INGLESES ESPAÇO EM TRANSFORMAÇÃO
O bairro Ingleses é hoje um dos mais populosos e populares da capital Florianópolis. De vilarejo de pescadores praticamente isolado entre o canto sul da Praia dos Ingleses e a Praia do Santinho, o bairro por muitos chamado de Zinga recebe grande parcela dos novos moradores que chegam de toda parte, atraídos pela disponibilidade e pelo preço dos imóveis, além, é claro, da posibilidade de morar perto da praia. Confira nessa matéria um pequeno histórico da ocupação das diferentes regiões do bairro, informações sobre o Plano diretor da cidade e depoimentos de moradores que fizeram parte das transformações pelas quais o bairro tem passado. PÁGINAS 7, 8 e 9
CAMINHO DIFÍCIL
A maioria das calçadas do Zinga são inadequadas de modos diversos: além de estreitas, muitas são cheias de obstáculos, buracos e postes no meio da passagem. Isso quando não são simplesmente suprimidas pelos terrenos privados. O Jornal do Zinga conversou com um morador que readequou a calçada de seu imóvel e traz dicas para você fazer o mesmo. PÁGINAS 11 e 12
- crítico, literário, noticioso e recreativo do bairro Ingleses
Florianópolis, Santa Catarina, Brasil - 2019/2020
EDIÇÃO EXPERIMENTAL
O JORNAL DO ZINGA CHEGOU NA SUA PRAIA
Separa um lugar na areia, porque nesse verão nós queremos pegar um bom bronzeado com você. Saiba mais sobre a proposta do Jornal do Zinga no Editorial da PÁGINA 3. A imagem acima é a reprodução de um cartão-postal da Praia dos Ingleses com o Morro das Feiticeiras ao fundo.
UM BAIRRO IRREGULAR
Das construções irregulares à discriminação sociorracial na Servidão
Vicentina Custódia dos Santos.
PÁGINAS 10 e 11
PÁGINA 5 OS INGLESES ANTES DOS DOS INGLESES
COMÉRCIO LOCAL
PÁGINAS 20 e 21
O QUE VOCÊ PUBLICARIA EM UM OUTDOOR?
PÁGINA 30
PÁGINA 29
O FUTURO DO PARQUE LINEAR
Contratamos uma vidente para ler no tarô o futuro do parque que está sendo construído e que é demanda antiga no Zinga. PÁGINA 13
MASCOTES
E MAIS...
PÔSTER, DICAS, POESIA, HORÁRIOS DE ÔNIBUS E INFORMAÇÕES ÚTEIS.
Mascote é a denominação dada às personagens escolhidas para representarem uma marca, uma empresa ou um evento. Inúmeras dessas personagens alegremente povoam o bairro Ingleses. PÁGINAS 22 e 23
EXPEDIENTE
Jornal do Zinga Volume 1 - 2019
Editores: João Reginatto (@joao.regina), Juliano Ventura (@rolezinga) e Nara Milioli. Colaboradores desta edição: Antonio Dante Acosta (@riosmentais), Adriane Nopes (adrpes@hotmail.com), Diego Passos (@dyiegopassos), Ian Alcântara Garcia Damiani e Cruz, Gabriel Villas (@gabriel.villas), Geni Núñez (@genipapos), ISAS - Instituto SócioAmbiental do Santinho, Jorge Linhares de Araújo Ponte Filho (@jurjelicious), Laura Roman da Luz (@spiritsurvivex), Marcos Mendonça, Marina Moreira Cardoso (@pombasuja), professora Rosângela Sabini e as turmas 302 e 303 do ensino médio da Escola Estadual Intendente José Fernandes. Diagramação e edição de imagens: Juliano Ventura.
Tiragem: 2.500 exemplares.
Observatório-móvel grupo de pesquisa CEART-UDESC-CNPq www.observatoriomovel.com / observatoriomovel@gmail.com
NESTA EDIÇÃO:
2 e 3
Expediente/Editorial 4
- Praia dos Ingleses: memórias em tempos modernos Adriane Nopes
- Outras ilhas
5
- Os Ingleses antes dos ingleses
6
- Zinga em construção Gabriel Villas 7, 8 e 9
- Bairro Ingleses: espaço em transformação 10 e 11
- Um bairro irregular Desenho de Antonio Dante Acosta 11 e 12
- Caminho difícil
- Crônica de um atropelamento João Reginatto 13
- O futuro do Parque Linear 14
- Fontes e pias
- Árvores extraordinárias 15
- Em um terreno baldio a gente pode...
- Coruja-buraqueira Desenho de Ian Alcântara Garcia Damiani e Cruz 16 e 17
- Pôster: Zinga Beach 18
- Saneamento básico é o mínimo
- Caramujo africano Desenho de Ian Alcântara Garcia Damiani e Cruz
19
- Parque da Lagoa do Jacaré das Dunas do Santinho Instituto Sócio-Ambiental do Santinho
- Canteiro Sagaz 20 e 21
- Comércio local 22 e 23
- Mascotes do Zinga
- Aqui tem comida barata 24 e 25
- Zinga outfitters
Com a colaboração de Jorge Ponte e Marina Cardoso
- Cabelinho na régua 26
- Casa geminada Laura Roman da Luz
- Altar da Dona Rosa
- Coluna da Geni Geni Núñez
- Jennifer tem voz! 27
- E aí, feio?!
- Disputa por território
- Vidas negras importam 28
- Iemanjá
Com a colaboração de Diego Passos
- A invenção do banho de mar - Poesia
M.M.
- Peixe-espada
Desenho de Ian Alcântara Garcia Damiani e Cruz 29
- Zinga nights
- Rap de Segunda 30
- Jogo de palavras
- Balneabilidade
- O que você publicaria em um outdoor?
Acompanhe no Instagram Na aba de busca do aplicativo, clique no ícone e posicione a câmera sobre a tag de nome acima. Ou procure @jornaldozinga
O Jornal do Zinga foi diagramado com as fontes Arial, Arial Black e Times New Roman Impresso pela gráfica Araucária na cidade de Lages-SC, em novembro de 2019.
- Gata desaparecida
Com a colaboração de Diego Passos 31
- Horários de ônibus
- Administração Distrital Ingleses 32
- Manchetes
O que não está creditado foi produzido pelo Observatório-móvel.
EDITORIAL
Zinga é o apelido popular do bairro e provém da fala ligeira do florianopolitano que irreverentemente abrevia “Ingleses”. Ingleses, nome que não se sabe ao certo de onde vem, uma vez que há mais de uma versão para a sua origem. O bairro, que não é dos ingleses – já foi dos indígenas carijós e já foi vila de pescadores – , é de famílias “nativas” (nascidos na ilha, ainda que seus antepasados tenham também vindo de muito longe), dos turistas e das casas de veraneio, de gaúchos, paranaenses, catarinenses do interior do estado, paraenses, baianos, sergipanos, paulistas, argentinos, uruguaios. Vêm pessoas de vários lugares morar aqui. Os moradores mais recentes vêm atraídos principalmente pela possibilidade de viver perto da praia, e alguns ainda com a ilusão de morar num lugar tranquilo. A possibilidade de comprar ou alugar um imóvel por preços mais baixos do que o praticado em outras partes da Ilha também é um fator que pesa na escolha do lugar. Nos Ingleses as construções pipocam de norte a sul e uma grande parcela desses imóveis são irregulares, ocupam até mesmo áreas de preservação. Longe de ser aquela praia tão sonhada, o dia-a-dia no Zinga é acompanhado de muitos perrengues, afinal, sua população aumentou muito nos últimos anos, mas sua infraestrutura não acompanhou as mudanças: suas calçadas são precárias e estreitas, os congestionamentos são diários e o mar já tem sinais poluição.
No dicionário Aulete, zinga é “(zin.ga) sf. 1. Bras. Mar. Vara comprida que se utiliza para mover embarcações leves em águas rasas; varejão: “Depois o balseiro desprendeu a corrente, deu um arranco de zinga, e a balsa....”
(Guimarães Rosa, “O duelo”, in Sagarana.) 2. Remo que se articula com a popa da embarcação e a impulsiona por meio de movimentos de um para outro bordo”.
uma cidade. O certo é que encontramos um universo de assuntos que mereceriam ser abordados. Caminhar pelas diferentes localidades e conversar com os moradores com quem cruzávamos pelo caminho foi um método importante para a pesquisa – alguns logo paravam para bater papo, outros, desconfiados, não nos davam atenção. Andamos pelas servidões sem calçadas, pelos atalhos em terrenos baldios, pelas movimentadas rodovias e também demos aquelas passadinhas na praia –onde sempre tem gente, mesmo em dia de semana e em horário comercial. Visitamos uma infinidade de comércios, de costureira que trabalha em casa a supermercado atacadista, e acabou se tornando um hábito experimentar os quitutes nas padarias e lanchonetes do bairro – existem muitas delas e em cada uma você encontra receitas diferentes, com certeza trazidas pelos migrantes. Nessas tantas andanças fomos percebendo as peculiaridades do bairro e foram ficando mais evidentes seus problemas. Em meio ao movimento de construções, novos moradores e comércios que não param de abrir, o bairro parece carecer de discussões sobre os efeitos do intenso processo de transformação pelo qual vem passando. Frente a essa situação, o Jornal do Zinga pretende contribuir. Uma das intenções do projeto é veicular pesquisas sobre o bairro Ingleses que são realizadas em universidades da cidade, como na UFSC e na UDESC, e que muitas vezes acabam restritas ao público acadêmico.
Essas e outras tantas impressões serão encontradas pelo leitor nas páginas deste jornal. Importante lembrar que nós, os editores – João, Juliano e Nara –, não somos jornalistas. Somos, na verdade, artistas que trabalham com a produção de publicações, como cartazes, livretos, revistas e jornais. Interessamo-nos pelas possibilidades dessas mídias de trazer a público informações e fazêlas circular em diferentes contextos. Por isso, o que suscitou a vontade de fazer um jornal é que ele, diferente de uma publicação de artistas (que geralmente circula nos eventos frequentados por quem está habituado ao consumo desse tipo de produção) é uma mídia amplamente conhecida – todo mundo sabe o que é um jornal, já folheou um.
Já a escolha pelos Ingleses para produzir o nosso segundo jornal de bairro (o primeiro foi no Itacorubi1, em 2018) se deu por vários motivos. O principal é que Juliano mora no bairro há quatro anos e sempre chegava nas reuniões do grupo Observatório-Móvel2 contando alguma novidade. Nara já morou em um condomínio nas Gaivotas no início dos 2000 e João costuma frequentar o bairro – onde, inclusive, já foi até atropelado em razão das calçadas irregulares. Curiosos, lá fomos nós caminhar e circular pelo Zinga.
A diversidade com que se apresenta o bairro em seus vários aspectos também influenciou a nossa escolha. O Zinga é balneário turístico e bairro periférico – enquanto alguns desejam vir pra cá passar suas sonhadas férias de verão, outros querem se mudar para mais perto do Centro da cidade. Aqui tem resort e condomínios de luxo mas também tem quem mora em quitinete apertada e quem mal tem um teto para morar. Muitos dizem que o Zinga já é
1 Observatório-móvel é um grupo de pesquisa vinculado aos cursos de graduação e pós-graduação em Artes Visuais do Centro de Artes da UDESC. Desde 2015, o grupo pesquisa os usos dos espaços públicos e as possibilidades de ação e intervenção na cidade por meio da prática artística.
2 O Jornal do Itacorubi está disponível na plataforma ISSU e no endereço www.observatoriomovel.com/jornal-do-itacorubi
Para esta edição entramos em contato com pesquisadores que se dedicaram a estudar o Zinga, como a socióloga Adriane Nopes, que investigou a transformação do bairro e registrou memórias de antigos moradores, e o arquiteto e urbanista David Sadowsky, que estudou a ocupação e a forma urbana dos Ingleses. Além disso, há vários outros textos que serviram de referência às matérias apresentadas e que passamos a compartilhar com as pessoas que aqui vivem. Mas além de dialogar com os especialistas, ouvir e trazer a público o que pensam os moradores locais também é algo muito importante.
Nos meses de agosto e outubro realizamos oficinas de produção gráfica com duas turmas do ensino médio da Escola Intendente José Fernandes, durante as aulas de artes. Foram momentos divertidos e produtivos, quando pudemos conversar com os adolescentes sobre suas vivências no bairro: os rolês, os estilos, as gírias. E juntos produzimos os volumes 1 e 2 de “Rolê no Zinga”, duas pequenas publicações em xerox (um modo de impressão fácil porque rápido e barato e portanto acessível a estudantes que queiram se aventurar na produção gráfica, mesmo com todas as possibilidades de se comunicar virtualmente). Aproveitamos para agradecer à professora Rosângela Sabini pela receptividade e também para registrar nossa admiração pela disposição dela de ensinar arte nas escolas públicas do bairro – em um país onde educação não é prioridade, menos ainda é a arte.
Nas páginas que seguem o leitor encontrará reportagens sobre atualidades intercaladas com dados históricos, além de curiosidades sobre o bairro – as quais você provavelmente não encontraria em outro jornal –, colunas, dicas e informações úteis. Assim como são distribuídos normalmente os jornais de bairro, o Jornal do Zinga é oferecido ao leitor de forma gratuita (a verba para impressão da publicação é proveniente de recursos do Programa de Apoio à Extensão da UDESC), disponibilizado em pontos do comércio local e outros estabelecimentos.
Com certeza muitos assuntos do bairro não foram aqui abordados e isso nos despertou o desejo de produzir uma nova edição em 2020 – a cartomante Eliana/Rosana (reportagem na página 13) disse que os caminhos para este projeto estão abertos… Por enquanto, desejamos uma boa leitura, torcendo para que você também queira outras edições do Jornal do Zinga.
Sugestões e comentários são muito bem-vindos, envie pra gente pelo e-mail observatoriomovel@gmail.com ou por mensagem no nosso Instagram @jornaldozinga!
PARA LER OUVINDO
Oficina de produção gráfica na escola.
Conversas com moradores
Rolê no Zinga vol.1.
Muito bate perna pelo bairro.
Conversas com moradores.
Apanhar frutas na vizinhança.
Aquela passadinha na praia.
Praia dos Ingleses - Memórias em tempos modernos
Adriane Nopes
Um relato – quando comecei escrever, me perguntei: escrever o quê? Um relato acadêmico, como pesquisadora ao escrever o livro “Memórias da Tradição: Praia dos Ingleses Ilha de Santa Catarina?” Um relato existencial sobre as experiências do aprendizado que as memórias dos entrevistados nos remetem? Ou sobre minha vida como moradora da Praia dos Ingleses há mais de 30 anos?
Assim, diante da minha própria complexidade com a Praia dos Ingleses, resolvi conectar tudo, neste breve relato.
Quando escolhi para viver, em meados de 1980, o pequeno cantinho no extremo norte da Ilha de Santa Catarina – Brasil, foi paixão à primeira vista! Um recanto que comunicava com minha alma! Ingleses tinha uma paisagem paradisíaca, verdes para todos os lados, morros e o mar parecia refletir um sol de dentro si, pela transparência e águas quentes. Habitado por pessoas que falavam um dialeto que apenas lembrava o português e que, mesmo reservadas em seus afazeres diários da casa, da pesca, da renda, da rede de pesca e da oração, me acolheram em gestos como: oferecer um peixe fresco recém saído do mar na rede de arrasto, me ofertar um peixe preparado em casa ou, ainda, nas relações amigáveis nas festividades da igreja e festas dançantes. Entretanto, em pouco tempo tudo começou a ter novos contornos espaciais, humanos, de linguagens e de costumes. O processo de urbanização da Ilha de Santa Catarina, como escrevo no livro, mesmo que contínuo, apresenta saltos nos anos de 1960 com a instalação da Universidade, da Eletrosul e outros setores públicos e em 1980 com a exploração turística. Fui morar na Praia dos Ingleses nos anos 1980 e em meados dos anos 1990 comecei estudar Ciências Sociais na UFSC. Aliando identidade pelo lugar praticado e o olhar acadêmico, percebi que estávamos inseridos no “turbilhão da vida moderna”, do “eterno” vir a ser, na fugacidade das relações – a dita modernização. Insurge a pesquisa: como os antigos moradores da Praia dos Ingleses experienciam o rápido processo de mudança do lugar com a dita modernização?
A modernização é movimento social e humano que tudo transforma! Desde as relações humanas mais íntimas até as inter-relações globais!
Os indicadores da modernização na Praia dos Ingleses começam a aparecer com a urbanização, o acelerado movimento migratório promove o aumento da população dos diversos sotaques, da construção de estabelecimentos comerciais e de serviços, bem como de casas para os novos moradores, coisas que transformam fulcralmente o espaço praticado e a “organização da vida cotidiana” no bairro que, segundo o IBGE, até 1960 contava com apenas 2.499. Assim, com o turismo e a exploração ambientais e naturais como novas atividades econômicas, “as práticas do lugar mudaram, pessoas que viviam somente da pesca e da agricultura local tornam-se assalariados, vão trabalhar em hotéis, bares e restaurantes”. “O rancho de pesca” foi reconstruído e organizado para o “turista ver”. Com a modernização, o tempo ganha outra significação, a energia elétrica muda as relações com a natureza, com o tempo do cantar do galo, o tempo do sol e da lua. Passa-se ao tempo do relógio – um tempo moderno do ônibus, do trabalho, das festas. A organização social ganha novas relações com o tempo e o espaço. O dinheiro se insere como relação de troca e valor! O sagrado ganha um templo: a igreja! À medida que a modernização vai se inserindo no cotidiano, as formas de vida tradicional vão se dissolvendo, cedendo espaço às novas formas de vida moderna. Ademais, as relações e organizações dos seres humanos, as relações políticas, sociais, morais, econômicas e culturais do passado ficam na memória dos que lá viveram e experienciaram outras formas de vida. Cada história (pessoal ou coletiva) contada, cada relato, cada confissão, cada silêncio, cada imagem, cada descrição de lugares, também as experiências e as vivências guardadas no fundo das memórias de cada entrevistada e entrevistado, todos esses elementos ganham vida com a narrativa orais que se apresentam na narrativa memorialista. Verifiquei no processo da pesquisa, que o “modus vivendi” dos e das nativas dos Ingleses, sob a perspectiva da cultura “tradicional”, se mistura no processo da modernização e como diz Marshall Berman: “Eles também querem um lugar sob a luz”. Na relação antes e depois – no movimento constante construção, desconstrução e reconstrução da sociedade moderna que cria outros modos de vida, com atrativos “modernos”, os quais, sob o olhar das e dos nativos dos Ingleses, aparecem nas palavras de Dona Helena, entrevistada em 2006 da seguinte forma: “Hoje tá tudo à vontade da gente. Hoje tá muito melhor. A gente passou sacrifício (...) Agora tem tudo, agora o super é uma cidade tem de tudo que você quer.”
A modernização é inexorável, penso o passado como memórias em tempos modernos.
OUTRAS ILHAS
Ilhas avistáveis das praias dos Ingleses ou do Santinho, exceto a Ilha Deserta que fica escondida atrás da Ilha do Arvoredo.
Ilha Mata-fome
Seu mar é tão cristalino que permite uma bela visão a poucos metros da superfície e, por isso, é muito requisitada para a prática do mergulho, principalmente em um dos pontos que é conhecido como aquário, tantas são as espécies ali existentes. No lado oeste da ilha as águas são mais calmas. Seu nome se explica pelo fato de ser um excelente local para pescar. Não possui praia, somente costões de rocha. Localiza-se de frente para a Praia dos Ingleses.
Ilha do Badejo Foi assim nomeada em função da grande quantidade de peixes dessa espécie que existe naquelas águas. Localizada ao norte da Praia dos Ingleses, é possível avistá-la da Praia do Santinho. É muito frequentada por pescadores, sobretudo na temporada de pesca da anchova. De relevo acidentado, possui altitude máxima de 35 metros.
Ilha Moleques do Norte É de difícil acesso, por não possuir praia para desembarque. Seus arredores são muito apreciados pelos pescadores por oferecer diferentes espécies de peixes durante todo o ano. A anchova é facilmente encontrada entre os meses de junho a setembro; já o robalo, de novembro a março; e a garoupa, de março a junho.
Ilha do Arvoredo Grande e alta, possui uma área de duzentos e setenta metros quadrados, parte dela coberta por Mata Atlântica. Integra a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, uma unidade de conservação federal criada em 1990, que tem como objetivo proteger um pequeno espaço da costa brasileira que apresenta grande importância biológica. Está posicionada em uma área de fronteira entre as regiões Tropical e Subtropical, sendo que nas suas redondezas podem conviver espécies de águas quentes e frias, peixes tropicais com pinguins e baleias. Sua fauna marítima é composta por camarões, lulas, vieiras, lagostas, polvos, garoupas e várias outras espécies, algumas em extinção. Lá também vivem aves marinhas como a fragata, o atobá e a andorinha-do-mar, além de ser local de descanso para aves migratórias. Na Ilha está instalado um farol que, em noites de boa visibilidade, pode ser avistado da Praia dos Ingleses, e que é ponto de referência para navegação nos mares do sul. Além disso, suas baías servem de abrigo dos ventos fortes para os navegadores.
Ilha Deserta
Localiza-se a três quilômetros da Ilha do Arvoredo e é o ponto mais externo de toda costa catarinense. É composta por formações rochosas, algumas cobertas por vegetação rasteira e não possui praias. Contudo, é possível acessá-la pelo lado oeste quando o mar está calmo. Recebe visitas de pássaros de espécies raras que a procuram como refúgio e local de procriação. Por integrar a reserva biológica marinha do Arvoredo, a pesca na região é proibida.
Ilha das Aranhas
Trata-se, na verdade, de duas ilhas, a Aranha Grande e a Pequena, avistadas da Praia do Santinho. Diz-se que é reduto de aracnídeos, o que desestimula a visitação, além do fato de não possuir praia e não haver lugar para desembarque. Em 2010 um incêndio de causa desconhecida atingiu o local. O incêndio foi controlado por dois bombeiros levados até lá por um helicóptero da corporação. Conforme noticiado à época, cerca de um terço da vegetação foi comprometida.
Adriane Nopes é autora do livro “Memórias da Tradição: Praia dos Ingleses. Ilha de Santa Catarina” (PalavraCom Editora, 2015) - as citações não creditadas são dessa obra. Atualmente pós doutoranda em Sociologia Política na UFSC, membro do Núcleo de Pesquisa “Projetos globais e o estranho. Situações locais e o diverso”.
OS INGLESES ANTES DOS INGLESES
A versão mais recorrente sobre o nome do bairro tem a ver com piratas ingleses cuja embarcação naufragou com uma lestada nas proximidades da praia. Mas muito antes da chegada dos europeus já tinha gente vivendo na Ilha.
Há algumas versões para o topônimo “Praia dos Ingleses”. Conforme a mais provável, segundo o historiador Nereu do Vale Pereira, o “Ingleses” do nome
refere-se aos tripulantes de uma embarcação pirata inglesa que teria naufragado entre o fim do século XVII e o começo do XVIII nas proximidades da praia. Os tripulantes ingleses conseguiram chegar a salvo entre a ilha Mata-fome e uma ponta da praia, a qual passou a ser chamada de Ponta do Inglês, nome que se estendeu à praia, sendo que, posteriormente, ambos tiveram aos poucos sua grafia alterada para o plural “Ingleses”.
Toponímia é a área de estudo da linguística dedicada aos nomes dos lugares, bem como as possíveis origens e a evolução desses nomes ao longo da história. Florianópolis, entre outros nomes que já teve e já quis ter, foi Desterro e também Meiembipe.
Essa história é relatada por Virgílio Várzea - escritor, jornalista e deputado nascido em 1863 no norte da Ilha, na então freguesia de São Francisco de Paula de Canasvieiras - em seu livro “Santa Catarina: A Ilha” publicado em 1900: “A denominação de Ingleses provém de uma barca dessa nacionalidade que aí varou, com uma lestada, em fins do século passado. Essa embarcação, segundo dizem, viera tocada e com água aberta do mar alto e encalhara na praia em frente à ilhota Mata-Fome, salvando-se toda a companha, da qual alguns homens se deixaram ficar no lugar, constituindo família e entregandose à pesca e aos serviços rurais”.
Tal hipótese ganha mais veracidade a partir da descoberta, no início dos anos 2000, de um sítio arqueológico subaquático nas proximidades da Praia dos Ingleses, onde pesquisadores do Projeto de Arqueologia Subaquática identificaram peças de um barco naufragado com características comuns a embarcações da época e foram também encontrados objetos do século XVII.
Outra versão é que o primeiro morador ocupante da praia tenha sido um homem de nacionalidade inglesa. Há ainda a versão que conta que os piratas ingleses que assassinaram Francisco Dias Velho – bandeirante paulista que fundou o povoado de Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis – haviam utilizado a praia como apoio logístico para o ataque à sede do povoado na região central da Ilha de Santa Catarina em 1689.
Apesar do nome “Ingleses” e da história de que seus “primeiros ocupantes” foram os ingleses naufragados. Dizse comumente que a ocupação do que na atualidade é o distrito Ingleses do Rio Vermelho foi iniciada por famílias de imigrantes açorianos que, já em Santa Catarina, se deslocaram para cá vindo de pontos continentais do litoral, como Ganchos e Biguaçu.
A chegada desses novos moradores corresponde ao processo de colonização de toda a Ilha de Santa Catarina a partir de 1748, quando milhares de portugueses ilhéus dos Açores passaram a chegar e a se estabelecer no litoral de Santa Catarina.
Na Ilha, a colonização iniciou-se nas proximidades da então Vila de Nossa Senhora do Desterro, povoado formado por Dias Velho ainda no século XVII, e, em
seguida, espalhouse pela Ilha com a formação das freguesias Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, Nossa Senhora das Necessidades de Santo Antônio de Lisboa, Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão, Santíssima Trindade Detrás do Morro, São Francisco de Paula de Canasvieiras e a
freguesia de São João do Rio Vermelho da qual o território do bairro Ingleses fazia parte e da qual foi finalmente desmembrado apenas em 1962.
Embora a história do naufrágio seja um mistério mesmo entre os moradores mais antigos, diz-se que na chegada dos açorianos ainda havia descendentes desses náufragos. Em fins do século XVIII, os açorianos se estabeleceram e formaram o núcleo inicial do bairro na região próxima ao canto sul da hoje chamada Praia dos Ingleses, onde foi edificada a primeira igreja e instalado o cemitério. Virgílio Várzea, então referindo-se ao “arraial dos Ingleses”, escreveu que o povoado estava agrupado em torno da capela à beira-mar, esta que foi construída por “um abastado lavrador do lugar em 1881”. Aqui se dedicaram à agricultura e, sobretudo, à atividade pesqueira. Também construíram engenhos de açúcar e de farinha de mandioca.
Contudo, muito antes dos ingleses e dos açorianos, quem aqui chegou e se estabeleceu foram grupos indígenas denominados Carijó ou Cario, pertencentes à família Tupi-Guarani que, na época, ocupava grande parte do litoral brasileiro e algumas regiões do interior. Esses indígenas teriam se deslocado da região do Rio da Prata em direção ao Atlântico e conquistado tais territórios na disputa com outros grupos. Na Praia dos Ingleses, como em toda a Ilha, ocupavam terrenos arenosos e com dunas. Eram sedentários - ou seja, possuíam residência fixa – e viviam da pesca e da agricultura. Cultivavam mandioca, milho, inhame, algodão, amendoim e pimenta.
Quando os primeiros europeus chegaram à ilha, eles decidiram nomeá-la segundo a sua própria língua, impondo assim à região um nome relacionado aos seus costumes e crenças, sem respeitar o fato de que aqui já existiam residentes com língua, costumes e crenças próprios. Em 1515 um navegador espanhol nomeou a ilha de Baia de Los Perdidos, devido ao naufrágio de um barco de sua expedição. Ilha de Santa Catarina apareceu depois, em 1529. Mas os Carijó que aqui habitavam já tinham um nome: Meiembipe. Não há uma tradução definitiva para esse termo, mas muitos autores aceitam que em tupi-guarani Meiembipe significa elevação do monte ao longo do rio. O rio, ou canal, chamado de “yjurere-mirim”, pode ser traduzido como pequena boca d’água, isto é, o canal estreito entre as elevações da ilha e do continente.
o progressivo contato com os europeus e o decorrente processo de colonização vieram a desestruturar e a suprimir esse grupo. Conforme dados levantados pela pesquisadora Tânia Machri Ferreira, “acredita-se que por volta de 1600 não existiam mais tribos vivendo na Ilha de Santa Catarina, pois em 1635 os padres Inácio Sequeira e Francisco Morais, em uma viagem missionária, declararam-na deserta. Talvez a chegada cada vez mais frequente de viajantes europeus à Ilha tenha incentivado esta evasão dos Carijó após 300 anos de ocupação”.
A historiadora Karine Simoni salienta a violência envolvida no processo de aproximação e de dominação dos navegantes europeus e dos bandeirantes sobre os Carijós. Como relata, os europeus que por aqui aportavam buscaram em um primeiro momento conquistar a simpatia dos Carijó, que amistosamente recebiam e ofereciam ajuda aos navegadores. Logo estabeleceu-se o comércio de escambo: os indígenas ofereciam aos forasteiros mantimentos como mel e carne de veados, galinhas e peixes, e em troca recebiam anzóis, machados de ferro e outros objetos de metal. Entretanto, desde os primeiros contatos muitos indivíduos indígenas foram contaminados por doenças até então por eles desconhecidas e para as quais não possuíam resistência, como a gripe, o sarampo, a varíola, a pneumonia e a tuberculose. Além disso, a escravização de indígenas foi uma estratégia largamente utilizada pelos colonizadores, bem como o ataque às aldeias e o assassinato de insurgentes que aumentou de forma progressiva com o avanço dos bandeirantes paulistas sobre os territórios ocupados pelos Carijós. Karine atenta ainda à lacuna de nossa historiografia sobre os grupos indígenas, o que contribuiu para a formação de um estereótipo de passividade e subserviência atribuído aos Carijós, que não são vistos como sujeitos históricos. A pesquisadora esclarece que esses grupos ajudaram, mas também se rebelaram contra o colonizador: “Muitos declararam guerra atacando o inimigo europeu, outros fugiam para os antigos locais onde haviam vivido, tentando resgatar a liberdade e o espaço que havia sido tirado no momento da conquista. Desejando fugir da perseguição, acabaram por abandonarem suas terras e se dispersarem, adentrando as matas, mesclando-se com outros grupos do interior.”
O “do Rio Vermelho” que completa o nome do bairro está relacionado ao fato da Praia dos Ingleses ter pertencido à Freguesia de São João Baptista do Rio Vermelho. O referido rio no nome do bairro vizinho é um curso d’água que nasce nas proximidades das dunas e corre em direção à Lagoa da Conceição, em certos trechos, à época da colonização, adquiria uma coloração avermelhada, por isso recebeu esse nome.
Em seu trabalho “Entre a Cruz e a Espada: Ensaio sobre o extermínio Carijó na Ilha de Santa Catarina”, a historiadora Karine Simoni apresenta alguns aspectos da cultura do grupo indígena Carijó: “desenvolveram uma tecnologia adequada para o ambiente litorâneo, produzindo formas artesanais bastante diversificadas, como potes e vasos de cerâmica, que serviam como instrumentos e utensílios domésticos. A cerâmica era utilizada para armazenar, cozinhar e transportar alimentos. Além do fim utilitário, servia como decoração, expressando um apurado senso artístico. Há indícios também da utilização de urnas funerárias. Das matas tiravam a madeira, provavelmente utilizada para a construção de suas moradias e canoas. Supõe-se que, da transformação das fibras vegetais, fabricavam cestos, esteiras e redes. Vestiam-se com peles, fibras vegetais e plumas de aves, com as quais também faziam os mais variados enfeites”. Em Meiembipe e nas outras terras em que viviam,
Esse texto conta com informações obtidas nos livros “Memórias da Tradição: Praia dos Ingleses, Ilha de Santa Catarina” (Editora PalavraCom, 2015) da socióloga Adriane Nopes, “Descortinando as 100 Belas Praias de Florianópolis” do historiador Nereu Vale Pereira (Editora Insular, 2004) e “Santa Catarina: a Ilha” (IOESC, 1984) de Virgílio Varzea. Serviram também como fontes a dissertação de Mestrado em Geografia de Tânia Machri Ferreira intitulada “Distrito de Ingleses do Rio Vermelho: um espaço costeiro sob ação antrópica” (UFSC, 1999) e o texto de Karine Simoni “Entre a Cruz e a Espada: Ensaio sobre o extermínio Carijó na Ilha de Santa Catarina” (ÁGORA - Revista da Associação de Amigos do Arquivo Público do Estado de Santa Catarina, 1999).
Zinga em construção
Ao caminhar pelas ruas dos Ingleses podemos encontrar estabelecimentos e residências existindo nos mais variados tipos de espaço. Tem terreno de estacionamento com trailer de cachorro quente, tem farmácia com residência nos fundos, tem padaria cujo andar de cima abriga um cabeleireiro. É claro que, além desses estabelecimentos, sempre haverá outros – inclusive os que ainda não existem. Os estabelecimentos em questão ainda estão em construção. Não é necessária muita imaginação ou curiosidade para adivinhar como será o novo empreendimento, já que quase sempre há uma imagem do edifício estampando a fachada da construção, nos informando qual a promessa para aquele lugar. É uma
promessa porque o edifício só existe daquela maneira digitalmente. Provavelmente, alguém modelou ele em 3D em um programa de computador e produziu uma imagem foto-realista, um render Muitas vezes estas imagens se parecem com uma fotografia que veio do futuro.
Se trata de um futuro que foi idealizado e produzido por alguém. Nesse futuro todo mundo tem um carro na garagem, o céu é azul celeste e o jardim está sempre bem cuidado. A impressão da imagem é de boa qualidade (já vem impressa do futuro) e com alguma dificuldade se insere aqui no presente. A imagem está presa com alguns rebites num tapume metálico, num pedaço de madeira ou colada por dentro de uma porta corrediça. Um pouco de umidade do mar e as bordas da imagem já começam a ficar abauladas, a poeira da rua começa a impregnar no papel, um pouco de tinta respinga e talvez ela rasgue com o tempo.
Nem sempre as coisas acontecem como idealizamos e nem sempre o que é ideal para um é ideal para o outro. Do lado de fora da imagem, alguém que não tem carro corre para não perder o busão, uma bicicleta está presa em um poste, um matinho cresce entre o tapume e a calçada, um pedreiro se encosta no muro para tomar um refri e talvez hoje o céu do Zinga não esteja tão azul assim No presente, os tempos se sobrepõem, tem prédio recente com casa antiga e arvore centenária com muda nova, tudo coexistindo no mesmo espaço. Não é fácil reconhecer o bairro do Zinga nessas imagens renderizadas, difícil imaginar como será o Zinga em tempos futuros. Como imaginamos o bairro daqui 30 anos? Como gostaríamos que ele fosse?
Gabriel Villas
Gabriel Villas é Arquiteto e Urbanista e se interessa pelas possibilidades de ação na cidade atraves do corpo, é também pelo corpo que se aproxima do Zinga.
BAIRRO INGLESES
ESPAÇO EM TRANSFORMAÇÃO
Descoberta nos anos 1960 como balneário turístico, a então isolada Praia dos Ingleses passou por intensas transformações até chegar a ser na atualidade um dos maiores bairros de Florianópolis.
De vilarejo de pescadores praticamente isolado entre o canto sul da Praia dos Ingleses e a Praia do Santinho – anteriormente chamada de Praia das Aranhas –, Ingleses é hoje um dos mais populosos e populares bairros da capital Florianópolis. O bairro recebe muitos dos novos moradores que chegam na cidade e procuram um lugar para se estabelecer. Aqui tem gente vinda do interior de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e de diversos outros lugares como Paraná, São Paulo, Bahia, Maranhão e Pará. Apesar da distância do Centro, os motivos para escolher o Zinga são vários: a grande disponibilidade de imóveis para compra e aluguel, os preços mais acessíveis do que em outros bairros da cidade, a oferta local de comércios e serviços, e, claro, a possibilidade de morar em um balneário com duas das praias mais conhecidas da Ilha.
O bairro é, especialmente desde os anos 1970, objeto de diversas transformações que impõem ao seu território novas dinâmicas e formas de ocupação. Com a colonização açoriana, os meios de sobrevivência no lugar continuavam a ser o da agricultura e da pesca, não tão diferente como na época dos Carijós, antigos habitantes da Ilha de Santa Catarina. Conforme dados levantados pela pesquisadora Adriane Nopes – gaúcha que desde meados dos anos 1980 vive no bairro e que, como historiadora o tomou como objeto de pesquisa –, desde a chegada dos primeiros açorianos no século XVI até a metade do século passado a população dos Ingleses mantevese reduzida, havendo apenas 284 habitantes em 1954. Já em 1960, a população saltou para 2.994. Segundo Adriane, esse “elevado índice de aumento populacional estaria relacionado ao grande fluxo migratório provocado pela farta pesca, bem como representaria o período em que começam a se instalar as primeiras casas de veranistas”. Foi a partir dessa época, já na segunda metade do século passado, que a Praia dos Ingleses é descoberta como balneário pela economia do turismo. Em 1985, o território do bairro é definido no Plano Diretor de Florianópolis como Área Especial de Interesse Turístico, o que favoreceu a expansão dos empreendimentos do setor que progridem no bairro até hoje.
Daí decorrente, o rápido incremento demográfico e a expansão da ocupação territorial aceleraram as transformações do antigo povoado de pescadores e agricultores.
“O crescimento do setor turístico provocou um aumento populacional tanto de pessoas atraídas pelo lazer e o sossego, quanto de pessoas à procura de oportunidades de emprego e melhores condições de vida”, pontua Adriane.
De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, somadas as 5 subdivisões do bairro, o total de habitantes dos Ingleses era de 28.632. O próximo Censo, a ser realizado em 2020, deverá registrar o grande aumento populacional do bairro nesta última década. Esse crescimento é notório e pode ser percebido no aumento das construções, na ocupação de novas áreas, na abertura de diversos estabelecimentos comerciais, nos congestionamentos que complicam o trânsito nas vias etc. Tendência corroborada pela alta taxa de crescimento demográfico de Florianópolis: entre 2000 e 2010 a população da cidade aumentou em mais de 23%.
Núcleo original do bairro próximo ao canto sul da Praia dos Ingleses e, ao fundo, a Praia do Santinho. Esta fotografia do acervo da Casa da Memória foi tomada provavelmente entre o fim dos anos 1960 e meados da década de 1970, uma vez que já existia a estrada que leva até o Santinho.
Quem viu as mudanças de perto
Quem aqui chegou há quinze ou vinte anos fez parte da grande transformação do bairro e acompanhou tudo de perto. Ana Vasconcelos, gaúcha de Alegrete, chegou nos Ingleses no início dos anos 2000 e lembra de quando a realidade da hoje movimentada Rodovia João Gualberto Soares, onde reside atualmente, era bem diferente: “Pra cá para os lados da João Gualberto a gente mal vinha, porque aqui não tinha nada. Era tudo sítios, as pessoas criavam cavalo, vaca. A ocupação foi muito rápida. Em 10 anos aumentou, triplicou a população, explodiu”, diz Ana. Mais tarde Ana foi morar justamente nessa Rodovia, quando ainda não tinha nem calçada –situação que ainda persiste em outras vias do bairro: “era uma estrada de chão. Quando chovia não dava para andar entre o barro e os buracos. Era horrível”. A obra de readequação da via foi realizada pela prefeitura entre 2011 e 2012, depois de muita passeata e bate panela, como lembra Ana: “o pessoal que morava e que tinha loja aqui começou a se mobilizar”. Ana considera que, apesar das carências de infraestrutura, a transformação do bairro é muito rápida e relata: “Olha a quantidade de prédios e apartamentos que saem aqui por ano. E todos habitados. Constroem
do dia pra noite, quando tu vê já está lá. Essa semana eu tava saindo aqui do condomínio, olhei pro outro lado da rua e quando vi tem um edifício saindo ali”. A perpceção de Ana pode ser confirmada por qualquer um que transite pelo bairro. Construções comerciais, residenciais e mistas estão espalhadas por todos os cantos – mal concluem uma e já surge outra. A pesquisadora Adriane Nopes afirma que o “processo de modernização nos Ingleses foi tardio, porém muito rápido. Nos últimos 30 anos apareceram escolas e postos de saúde, ruas foram abertas e pavimentadas, hotéis, pousadas e casas de veraneio foram construídos, as redes de instalação elétricas foram ampliadas, vários estabelecimentos comerciais e de serviço foram abertos”. Ela diz ainda que, ao longo desse processo, o bairro deixou de ser apenas um balneário voltado ao turismo, e que hoje “tudo funciona o ano inteiro, atendendo não mais somente o turista na temporada, mas a elevada população fixa”. Outra moradora que acompanhou a transformação do bairro é Eliana Albeche no mesmo período que Ana Vasconcelos. Também gaúcha, veio de Santa Maria para a Praia dos Ingleses assim que se aposentou como professora da rede estadual. Mesmo sem
conhecer muito bem o litoral catarinense, veio com sua filha para Florianópolis já com a intenção de ficar morando, pois tinha o desejo de viver perto do mar. Veio morar no bairro porque foi aqui onde encontrou um único apartamento com aluguel dentro de seu orçamento de professora aposentada, como a própria Eliana ressaltou. Outra facilidade foi o processo de locação, que não envolvia imobiliária, pois era direto com o proprietário.
Eliana reconhece que o bairro mudou muito desde que aqui chegou. Lembra que a primeira servidão onde morou alagava e ficava intransitável quando chovia, problema que mais tarde foi resolvido com a drenagem e pavimentação da via. Hoje, com um pouco mais de infraestrutura se comparado àquela época e com maior disponibilidade de comércios e serviços no bairro, ela diz que a vida cotidiana se tornou mais prática para os moradores: “É melhor, nesse aspecto. Hoje tu encontra tudo aqui, não tem que ir no centro para buscar”. A moradora considera que com o aumento populacional o bairro se tornou mais perigoso. “Antigamente a gente saía mais tranquila de casa. Era mais seguro, bem mais tranquilo, realmente. Hoje é muito movimento. As ruas, apesar de não serem calçadas como são hoje, eram tranquilas, tu podia sair de noite, tarde da noite, e não tinha problema. Hoje não, hoje têm assaltos a qualquer hora.” Ela relata até que o pátio de sua casa – que não possui grades altas – já foi invadido por um estranho, e que sua sorte foi que o vizinho viu e espantou o indivíduo. A sua neta mora na mesma rua e às vezes passa as tardes com a avó. Mesmo morando a apenas duas casas de distância, Eliana não a deixa voltar sozinha à noite.
Entre os Ingleses do início dos anos 2000 e aquele que avança para a década de 2020, Ana parece preferir a tranquilidade de antigamente às facilidades de hoje, como não ter que se deslocar até o centro ou a outros bairros para buscar os serviços que não havia aqui e que hoje há. “Veio o comércio, veio o progresso, veio tudo pra cá. Hoje eu passo nas ruas e vejo que não tem nada a ver com o que era quando eu cheguei aqui.” E a praia local, ela diz não frequentar mais por conta do temor da poluição, e prefere ir a outras, como a da Barra e a de Ponta das Canas (saiba mais sobre a balneabilidade das praias do bairro na página 30). Diferente da visão de Ana, Eliana não vê as mudanças como uma coisa ruim, pois as encara como desenvolvimento. Pondera que tudo tem dois lados, e que se o crescimento do bairro trouxe problemas, também trouxe vantagens, e que essas ainda são mais relevantes. Ela considera que nos últimos anos o bairro tem tido um pouco mais atenção do poder público, embora reconheça suas carências e, com certa resignação, afirme que “nada se faz em um passe de mágica”. Para ela, ainda vale a pena morar no bairro, de onde não pretende sair, até porque adora a casa e a servidão onde vive. Se foi o desejo de viver perto do mar que a fez vir parar no Zinga, até hoje aponta como vantagem de morar aqui a proximidade da praia que “está logo ali” e que tem uma água de temperatura agradável e uma “uma areia gostosa de caminhar”.
Antigas casas do bairro e seus grandes pátios estão hoje na mira das construtoras para os novos e apertados residenciais multifamiliares. A casa da foto, localizada na Servidão Fermino Severino Sagaz, estava em processo de demolição em agosto. O vizinho da casa em frente contou que a senhora que morava ali morreu e a família vendeu a propriedade.
Modos de ocupação das regiões do bairro
A valorização monetária das terras do bairro só surgiu com a chegada dos primeiros veranistas e turistas, pois, antes disso, a divisão do solo era realizada de acordo com a necessidade das famílias, “cada um escolhia e demarcava seu pedaço de terra”. Com o início do interesse turístico pelo local, as terras que até então eram destinadas à agricultura passaram a ser mercadoria A pesquisadora Adriane Nopes conta que, entre as décadas de 1960 e 1970, quando propriamente surgiu o mercado imobiliário no bairro, “o baixo valor das propriedades atraiu empreendedores privados e veranistas do centro de Florianópolis. O produto farto na comunidade tornou-se rentável para os ‘nativos’ dos Ingleses, que até então, pouco contato tinham com o mundo moderno capitalista, mais propriamente dito, com o dinheiro”. Na sequência começou a chegar gente de outros lugares, como os gaúchos.
Os antigos e muitas vezes extensos terrenos do bairro passaram a ser sucessivamente divididos para serem comercializados. Como esclarece David Sadowski, que estudou a forma urbana e a ocupação do bairro em seu mestrado em Arquitetura e Urbanismo na UFSC, “Esses novos assentamentos aproveitam o traçado dos antigos caminhos e, em virtude da geometria estreita porém profunda das
glebas, desenvolvem ocupações conhecidas na ilha como ‘espinhas de peixe’”. Esse modelo de ocupação resultou na estruturação viária do bairro por meio de “estradas gerais” de onde partem ruas e servidões muitas vezes desarticuladas. Como pontua Adriane, o grande problema decorrente de processos tão intensos e acelerados de modernização como o ocorrido nos Ingleses é que em sua maioria não são acompanhados de planejamento urbano, o que acarreta usos inadequados e desordenados dos espaços. O bairro cresceu por “aglomeração natural”, sem o devido controle e gestão pelo poder público. Nos Ingleses, “a forma de ocupação do espaço geográfico deu-se ‘aleatoriamente’, ou seja, sem um projeto urbanístico
estreitas e algumas não dão em lugar algum, compondo uma malha viária truncada e disfuncional. David observa que o poder público por muito tempo ignorou o processo de ocupação dessa área, supondo que não seria o foco de uma futura expansão do bairro, e inclusive classificando-a erroneamente no Plano Diretor da cidade como zona de expansão rural. Esse descaso foi determinante para a existência de muitos dos problemas enfrentados atualmente no local, uma vez que não foram tomadas medidas para que a ocupação do solo fosse feita com um mínimo de planejamento. Como aponta David, “no período compreendido entre os anos de 1985 e 2002, o distrito não passa por qualquer alteração de zoneamento, tampouco é alvo de projetos específicos com o intuito de criar novas vias. Desse modo, tudo nos leva a crer que o conjunto das novas vias, excluídas aquelas situadas no interior dos poucos condomínios e loteamentos aprovados, surge de maneira clandestina. Quaisquer tentativas de prover um ambiente local equilibrado, organizado, com as contrapartidas públicas mínimas e que propiciassem uma boa qualidade de vida para os habitantes da porção mais pobre do distrito parecem não existir. Mesmo em 2002, quando as áreas rurais passam para
Florianópolis.
ou regulamentação prévia. As propriedades apresentam diversas dimensões e formatos, as calçadas ou passeios são irregulares; ruas e servidões são abertas pelos próprios moradores (com posterior aprovação na Prefeitura)”. O arquiteto e urbanista David aponta o “sobre parcelamento” do solo como causador de muitos dos problemas do bairro: “Os efeitos de sucessivos parcelamentos espontâneos resultam em um emaranhado de vias que não se articulam, na ausência de calçadas confortáveis e seguras, na escassez de praças e áreas comunitárias, uma vez que as exigências legais por essas áreas não são atendidas, no descontrole quanto aos impactos ambientais”.
Capivari
Localizada no sul do bairro, ora denominada unicamente como Capivari (como por exemplo na divisão de regiões do IBGE, ora subdividida em Capivari e outras duas partes, Sítio de Cima e Sítio de Baixo – como são popularmente conhecidas no bairro e inclusive assim chamadas pelas linhas de ônibus, essa região é uma das de maior concentração demográfica e construção de moradias nos Ingleses. Apesar disso, é uma das áreas que mais carecem de planejamento e infraestrutura urbana. Várias servidões são muito
áreas residenciais exclusivas, a simples mudança de zoneamento não resolve, na prática, os problemas já instalados.”
Questionado sobre quais tipos de intervenção a prefeitura poderia propor para melhorar a infraestrutura dos espaços públicos dessa região do bairro, David responde que uma solução para vias que às vezes possuem mais de um quilomêtro de extensão sem conexões intermediárias poderia consistir na realização de “Pequenas desapropriações estratégicas [que] permitiriam essas ligações, além de fornecer espaço para novas áreas verdes e comunitárias.”
Ainda sobre a truncada malha viária do bairro, o arquiteto e urbanista sugere que poderiam ser criados corredores urbanos nas margens do Rio Capivari e nos limites das regiões de dunas que incentivassem a ocupação sustentável desses locais: “Por que não implantar bulevares periféricos, os quais serviriam como conexões locais, ao mesmo tempo em que estabeleceriam limites claros à ocupação?”, pergunta David. Ele propõe: “Espaços sensíveis bastante frequentados e utilizados de maneira sustentável, acredito, promoveriam o sentido de pertença por parte da população e, consequentemente, a vontade de protegê-los”.
Detalhe do mapa viário do bairro, documento que integra o Plano Diretor de
Santinho
Na Praia do Santinho, como identifica David, “O sobreparcelamento das propriedades rurais vira regra em ambos os lados da Estrada Vereador Onildo Lemos, seja na encosta dos morros, em direção às dunas de Ingleses ou na suave descida em direção ao mar”. Seguindo o modelo de “espinha de peixe” em boa parte de sua extensão, a ocupação dessa região do bairro se dá entre a praia e dunas do lado da costa e a vegetação de restinga das dunas dos Ingleses de outro. Ao longo da estrada geral estão instalados estabelecimentos comerciais e de serviços e dela partem servidões em sua maioria sem saída e sem conexões intermediárias. Na extremidade sul da Praia do Santinho, junto ao Morro das Aranhas, foi construído o maior resort da Ilha.
Gaivotas
Denominada Gaivotas, a porção norte de Ingleses teve um processo de ocupação bastante diverso do restante do bairro. A partir da década de 1970, os extensos lotes arenosos – e de pouca serventia à agricultura – que compunham esse território foram comprados de pescadores locais por empresários da cidade. Foi o primeiro passo para o surgimento do Projeto Costa Norte, empreendimento imobiliário que abrange um total de 24% da área do bairro. Dado o potencial turístico identificado, a proposta era construir um balneário elitizado nos moldes de Jurerê Internacional e Praia Brava, o que foi facilitado a partir de 1981 com a declaração do local como área de interesse turístico. Como esclarece David: “Caracterizado por um projeto de conjunto, o empreendimento teve suas infraestruturas instaladas de maneira gradual, iniciando pelo calçamento e redes de tensão. Em seguida, à medida em que surgiam novas edificações, instalava-se a rede de esgoto e de abastecimento de água, sempre providas pela concessionária local [Casan]”.
Nessa região prevalecem os condomínios residenciais e os hotéis. Os comércios se concentram ao longo da Rua das Gaivotas, principal via da região. Apesar dos tantos condomínios, nas Gaivotas ainda tem bastante terreno baldio, onde vivem quero-queros e corujas-buraqueiras. Alguns estão à venda, mas a maioria dos terrenos já possui dono e está apenas esperando o momento oportuno para render mais dinheiro.
Centrinho
O núcleo original do povoado que deu origem ao bairro está localizado na região próxima ao canto sul da Praia dos Ingleses, onde foi edificada a primeira igreja e instalado o cemitério. Contudo, a centralidade do movimento do bairro se deslocou aos poucos para a região que hoje é conhecida como Centrinho dos Ingleses. Em seu estudo, David diz que “Após a construção da Rodovia SC-403, na década de 1970, o centrinho passa a ser fim de linha da principal ligação de Ingleses ao restante do município e, portanto, passagem obrigatória de boa parte dos frequentadores do Distrito. Até meados dos anos 2000, a via mais próxima ao mar ainda apresentava trânsito de veículos em sentido duplo e ainda que fosse possível acessar a Estrada Dom João Becker através da Rua Intendente João Nunes Vieira, a volta passava, obrigatoriamente, pela via local. Em pouco tempo, a urbanização toma conta do centro do bairro, tornando raros e disputados os espaços ainda existentes. Na prática, a busca por exposição [das lojas] é tamanha que as edificações locais dificilmente resguardam os afastamentos frontais e laterais estipulados por lei, numa prática onde a massa construída delimita o espaço das ruas. Nessa ânsia por espaço em localidade tão estratégica, nem a praça local, situada entre a praia e a via, escapou: resistente até os anos 2000, a praça é finalmente ocupada por novas edificações.”
Ana Vasconcelos, uma das gaúchas que acompanhou as transformações do bairro, lembra que no início dos anos 2000 o acesso principal à praia do Centrinho era diferente e que “não tinha aquele tanto de comércio”. Sobre a questão da privatização da orla
da Praia dos Ingleses e da consequente falta de acessos a ela, David esclarece: “A atração criada pelas águas mais calmas e quentes da orla norte do município provocou um conjunto de dinâmicas cuja predileção apontou para franjas mais próximas ao mar, na lógica do “quem pode, escolhe” a localização. Tudo isso, somado a ausência de regramentos que exigissem o resguardo de acessos à orla (o primeiro Plano Diretor é de 1984) configurou uma verdadeira barreira em direção à praia”. Assim, o Centrinho não dispõe de avenida à beiramar, quem passeia pela região não pode desfrutar da paisagem litorânea nem da brisa fresca do mar em sua plenitude, pode, na verdade, contemplar as edificações residenciais para veraneio e sentir o cheiro de fritura
dos bares e restaurantes. Isso pois as casas e estabelecimentos comerciais são construídos diretamente em frente à praia, sem nenhuma rua ou calçada a separálos. Essas construções instituem uma barreira, como aponta o arquiteto e urbanista, que separa a praia dos outros usuários do bairro. Desse modo, para quem passeia no Centrinho, a praia aparece aos passantes de tempos em tempos, visível por recortes em caminhos estreitos entre as casas e prédios. Esse tipo de construção que forma barreiras entre a praia e o bairro é frequente em Florianópolis, várias das praias locais não possuem uma divisão entre a orla e as construções, mas, particularmente nos Ingleses o problema é bastante explícito e são muitas as casas construídas diretamente na areia.
Plano Diretor
Ana conta que nos anos 2000 o Centrinho de Ingleses quando fora da temporada parecia uma cidade fantasma: “Tudo fechado, não funcionava nada, não funcionava restaurante, não tinha uma loja aberta”. Embora a sazonalidade ainda seja sentida nessa parte do bairro – no verão tem muito mais gente –, hoje a realidade é diferente, há lojas e restaurantes abertos e algum movimento mesmo no inverno. Atualmente o Centrinho dos Ingleses se prepara para receber um novo shopping que está em construção e que certamente contribuirá para o aumento das filas em um ponto onde o trânsito já é bastante problemático na temporada.
Plano Diretor de Urbanismo de Florianópolis foi instituído em 2014 por meio da Lei complementar número 482 e dispõe sobre as políticas, diretrizes e instrumentos de desenvolvimento urbano e territorial do município. De acordo com o texto, a “ocupação do território e o desenvolvimento urbano devem atender ao interesse geral da sociedade, sendo princípio elementar que o uso do espaço geográfico tem por finalidade maior promover a qualidade de vida, a integração social e o bem-estar dos cidadãos”. Na prática, o Plano Diretor divide o território dos distritos, subdivisões do município, em diferentes áreas de acordo com suas características naturais e/ou sociais e com o direcionamento que se pretende dar à sua ocupação. As áreas podem ser de “usos não urbanos”, destinadas a abrigar e desenvolver a biodiversidade como as Áreas de Preservação Permanente (APP), as Unidades de Conservação (UC) e as Áreas de Elementos Hídricos (AEH). Também podem ser áreas de “transição” como as Áreas de Preservação com Uso Limitado (APL) ou, ainda, de “usos urbanos”, essas destinadas prioritariamente às funções da cidade. Dentro do conjunto de áreas de usos urbanos é estabelecido pelo Plano Diretor um zoneamento detalhado que diz se é permitido e o que é permitido construir em cada zona, bem como o tamanho, as características e as funções dos imóveis.
Mapa de zoneamento do Distrito de Ingleses do Rio Vermelho segundo o Plano Diretor
Uso limitado - Encostas e planícies com uso e ocupação dos terrenos restritos devido à declividade, vegetação ou vulnerabilidade.
Comunitária institucional - Destinadas a equipamentos comunitários ou públicos, como clubes, escolas, postos de saúde, associações
Preservação permanente - Proíbe ocupação para proteger rios, paisagem e solo, como dunas, praias, costões, restingas e mangues. Área verde de lazer - Espaços de uso público para lazer, recreação e preservação de vegetação, como parques abertos.
Predomínio residencial - A zona exclusiva foi extinta. Agora há uso preferencial de moradias e serviços menores como escritórios, ateliês e mercearias.
Residencial mista - Predominam moradias, com presença de atividades como escritórios, lojas, mercados e serviços.
Mista de serviço - Prioriza serviços pesados, como depósitos, oficinas e postos de combustíveis. Moradias também são permitidas.
Mista central - Ocupação concentrada de moradias, serviços como bancos, escritórios e comércios maiores (lojas e supermercados).
Turística residencial - Áreas que mesclam moradias com atividades e serviços, principalmente de hospedagem (hotéis, pousadas e resorts).
Além das entrevistas com as moradoras Ana Vasconcellos e Eliana Albeche, esse texto conta com informações obtidas em entrevista com o arquiteto David Sadowsky e na sua dissertação “Ingleses do Rio Vermelho: forma urbana, espaços públicos e natureza” (UFSC, 2018). São apresentadas também informações do livro “Memórias da Tradição: Praia dos Ingleses, Ilha de Santa Catarina” (Editora PalavraCom, 2015) da socióloga Adriane Nopes. O mapa viário do bairro é disponibilizado pelo Instituto de Planejamento Urbano da Prefeitura de Florianópolis - IPUF. O mapa de zoneamento foi elaborado a partir do infográfico que integra uma matéria da série “Florianópolis do Futuro” publicada pelo Diário Catarinense sobre o Plano Diretor de Florianópolis aprovado em 2014.
UM BAIRRO IRREGULAR
Em uma quarta-feira à noite, no dia cinco de junho, moradores da Servidão Vicentina Custódia dos Santos fizeram um protesto com fogo em barricada para bloquear a Rua Graciliano Manoel Gomes. O motivo do protesto foi o corte, após decisão judicial, do fornecimento de água feito pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) para imóveis do trecho final da Servidão, esses considerados irregulares pela Prefeitura. Conforme noticiado à época, a polícia esteve no local e atirou contra os manifestantes e também jogou uma bomba de efeito moral na direção deles sem que houvesse qualquer negociação.
Na tarde do dia 24 de julho de 2019, a equipe do Jornal do Zinga esteve na Servidão Vicentina Custódia dos Santos para conversar sobre o corte do fornecimento de água e luz para casas do trecho final dessa servidão, executado em razão da irregularidade das construções. Em junho, no mês anterior à visita, moradores protestaram contra o corte ateando fogo à uma barricada erguida para impedir o trânsito na Rua Graciliano Manoel Gomes, perpendicular à servidão e importante via para circulação nos Ingleses.
A servidão Vicentina Custódia dos Santos, que se estende por 759 metros em direção aos morros do limite sudoeste do bairro, tem sido chamada como Rua dos Baianos. Pode parecer ser alusão ao provável grande número de moradores vindos da Bahia, porém no local também moram maranhenses, paraenses, gaúchos, paranaenses, entre outros. O apelido denota certo preconceito contra os migrantes do norte e nordeste, generalizados como “baianos”.
“Coisa de baiano” é uma expressão comum no CentroSul do Brasil. Xenófoba e, portanto, racista, é usada para desmerecer baianos. É uma gíria pejorativa, empregada no intuito de qualificar coisas realizadas no improviso, de qualquer jeito. Segundo essa expressão, “coisas de baiano” são coisas mal feitas.
O Estado da Bahia é muito diverso, com manifestações artístico-culturais que repercutem no Brasil e no mundo, mas em um dicionário informal online também encontramos “baiano” como sinônimo de “pessoa brega”, que “gosta de chamar atenção de uma forma estranha, ridícula”.
Uma das moradoras da servidão Vicentina Custódia dos Santos que sofreu o corte de água e de luz e preferiu não se identificar, contou-nos sentir muito orgulho de ser baiana, de ter nascido e crescido no interior da Bahia, mas que não gosta do apelido da servidão onde vive com a sua família: “é esquisito, né?! Não tem só baiano morando aqui”, comenta.
Coisas realizadas de qualquer jeito, no improviso e mal
feitas são, na verdade, bastante comuns em Florianópolis e muito presentes nos Ingleses, bairro que conta com inúmeras edificações irregulares. A todo o tempo surgem novos imóveis, construídos às pressas e vendidos sem escritura, erguidos sobre áreas públicas e inclusive em áreas destinadas à preservação ambiental. Apartamentos e quitinetes construídos sem preocupação com acessibilidade ou conforto aos futuros compradores ou inquilinos, edificados apenas com vistas ao lucro imediato, ainda que fora da lei. Com quartos úmidos e escadas estreitas de degraus altíssimos, entre outros possíveis problemas, esses apartamentos e quitinetes irregulares
tornam-se a moradia de muitas pessoas que não dispõem de condições para pagar por outro espaço.
Mas nos Ingleses também existe várias construções luxuosas que são irregulares, residenciais e comerciais. Mansões a invadir espaços da praia ou de outras áreas tidas como nobres.
Entre tantas construções irregulares espalhadas pelas regiões do bairro, a “Rua dos Baianos” foi dessa vez a escolhida pelo poder público para sofrer as consequências: ter a sua água e, posteriormente, a luz cortadas.
faziam ligações. Muitos moradores, à janela, sentados nos pátios das casas ou nas calçadas, observavam o trabalho. A via conta ainda com mercadinhos e bares, pontos de encontro locais que estavam cheios de gente comentando os últimos acontecimentos. O movimento de pedestres, motos, bicicletas, carros e caminhões era intenso. Um vendedor ambulante passou de carro anunciando sonhos fritos e recheados. Crianças brincavam de escondeesconde e rabiscavam com cascalhos e giz escolar a fachada de uma casa, indiferentes àquilo tudo.
A maioria das pessoas que abordamos não quis se identificar, estavam receosos. Um dos abordados não
Funcionários da Celesc trabalhando na Servidão
Quando visitamos a servidão, na tarde do dia 24 de julho, diversos profissionais da Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina) já trabalhavam para religar a energia elétrica para cerca de duzentas famílias que vivem no trecho final da servidão. Erguiam postes, passavam fios e
tinha medo, mas não quis nos contar sobre os cortes de luz e água porque acha que esse tipo de iniciativa (nosso Jornal) apenas aponta os problemas, não resolve nada. Mas muitos dos moradores com quem conversamos disseram considerar irresponsável o corte de energia elétrica, o qual, segundo eles, foi realizado sem aviso prévio. Entre os residentes da parte afetada da servidão, havia um bebê de um ano que precisa fazer nebulização várias vezes ao longo do dia e também uma mulher que respira com o auxílio de aparelhos. Felizmente, na tarde de nossa visita, eles estavam bem.
A Celesc havia cortado o fornecimento de energia e retirado postes com ligações apontadas como irregulares na manhã do dia 17 de julho, sob cobertura de policiais
Vicentina Custódia dos Santos na tarde de 24 de julho.
militares da cavalaria. A ação cumpriu decisão judicial deferindo pedido do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), que identificou no local uma série de irregularidades em imóveis construídos. O fornecimento de água já havia sido suspenso pela Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) em razão de decisão que foi revogada dias depois. Ainda na tarde do dia 17 de julho a ordem judicial que determinou o corte de luz foi revista.
No zoneamento definido pelo Plano diretor da cidade, os 480 metros iniciais da servidão são classificados como área residencial predominante, onde podem ser construídos imóveis com até dois pavimentos – contudo, nesse trecho encontram-se prédios de três andares. Embora a servidão seja destinada a fins urbanísticos, vários trechos têm restrição ambiental para edificações por conta da presença de afluentes do Rio Capivari. A parte final da via é considerada área de preservação de uso limitado de planície, onde é proibido o parcelamento de solo para fins urbanísticos. De acordo com dados do MPSC, 67 construções foram erguidas sobre áreas de preservação permanente entre 2015 e 2019 e na via já existem um total de 98 edificações sem alvará de construção ou Habite-se.
Na ação judicial, o MPSC responsabiliza as pessoas que lotearam e construíram ilegalmente e os compradores que adquiriram os imóveis por danos urbanísticos e ambientais, pois se supõe que deveriam estar cientes das irregularidades. Contudo, mais que um caso isolado, trata-se de uma situação recorrente no bairro Ingleses, que demonstra um modo de operar de certos empreendedores e investidores locais.
Nessa forma de ação, inicialmente são identificadas áreas para parcelamento e construção e também são mobilizados investidores para viabilizar a ocupação, muitas vezes ilícitas. Em seguida dá-se a construção dos imóveis, geralmente com mão-de-obra informal, que se faz de maneira muito rápida, às vezes em apenas quatro meses. Segundo o MPSC, o esquema conta com a omissão ou ineficiência da fiscalização por parte da Prefeitura Municipal, que muitas vezes legaliza as vias abertas informalmente, e até mesmo registra os imóveis ilegais para fins tributários, ou seja, para cobrança de IPTU. A incidência de impostos vem, de alguma forma, a legitimar os imóveis, pois, se o morador paga até IPTU, como pode se dizer que vive em um imóvel clandestino? Finalizadas as obras, esses imóveis recebem fornecimento de água e luz, algumas vezes por meio dos chamados “gatos”, e são comercializados por preços menores que imóveis regulares, tanto para venda como para aluguel, por intermédio de corretores que, segundo o Ministério Público, também aproveitam a omissão do município. Dado o alto preço que se paga pela moradia em relação ao poder de compra de grande parte da população, o preço mais baixo é a alternativa de muita gente para ter onde morar. Gente que acaba sendo o ponto final de um negócio com o qual não lucra. Em setembro deste ano, outra decisão judicial determinou que as moradias já construídas, mesmo que em área de preservação, recebam ligações de água e luz, reconhecendo o direito à moradia até que se estabeleça uma conclusão definitiva sobre a regularização dos imóveis. A decisão vetou, contudo, todas as ampliações de imóveis, construções novas e em andamento, novas ligações de água e de luz, comercialização de apartamentos, casas e terrenos. No mesmo mês a Casan realizou mutirão para regularizar as ligações de água do local e seus registros junto à Companhia.
Acusada pelo Ministério Público de omissão e ineficiência, a Prefeitura emitiu nota afirmando que desenvolve constantemente ações de fiscalização em obras e construções irregulares em todas as regiões de Florianópolis. Informa também que está elaborando um novo código de obras com foco no efetivo exercício de poder de polícia de fiscalização urbanística para o município e implantando um novo sistema de monitoramento por imagens de satélite e drones.
CAMINHO DIFÍCIL
Muito estreitas, com buracos e obstáculos, às vezes sem pavimento ou mesmo inexistentes, as calçadas que estão no caminho dos pedestres do Zinga estão longe do que é considerado seguro e acessível.
Uma das estreitíssimas calçadas que complicam a vida dos pedestres no bairro.
As calçadas do bairro Ingleses são um grande problema para quem transita a pé por aqui. Calçadas estreitas, tão estreitas, que algumas vezes uma pessoa, mesmo sozinha, precisa se equilibrar para permanecer nelas. Em cidades pequenas ou em bairros pouco urbanizados é comum que, na ausência de calçadas, pedestres andem nas ruas, dividindo-as com os automóveis. O Zinga não é mais um bairro pequeno, está longe disso: muitas de suas ruas têm trânsito intenso de carros, ônibus, motos e ciclistas. Por isso, o melhor a fazer é se equilibrar na calçada estreita e não descer pra rua, por risco de atropelamento. Além de serem estreitas, muitas são permeadas por obstáculos como postes no meio da passagem e buracos de variados tamanhos. Enfim, as calçadas daqui são inadequadas de modos diversos e algumas vezes são simplesmente inexistentes, porque foram suprimidas pelos terrenos privados. Não é difícil encontrar imóveis com grandes pátios frontais e calçadas minúsculas.
No Código de Trânsito Brasileiro, a calçada é definida como “parte da via, normalmente segregada e em nível diferente, não destinada à circulação
de veículos, reservada ao trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins”. De acordo com definição do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF), “As calçadas devem ter largura suficiente para permitir a circulação de todas as pessoas com fluidez e a instalação de mobiliário urbano, de forma a qualificar o ambiente e estimular a sua utilização. O dimensionamento das calçadas é definido pelo Plano Diretor, Lei Complementar nº482/2014”. A situação das calçadas no bairro Ingleses está longe do que foi definido pelo IPUF. Em alguns pontos do bairro, algumas mudanças e adaptações começaram a ser realizadas, como a delimitação de áreas para ciclistas e o piso tátil para pessoas com deficiência visual. Mas algumas mudanças não vieram para resolver os problemas da mobilidade e, sim, criaram outros problemas. Ana Vasconcelos, uma moradora local, conta que, apesar da vinda da ciclovia, tem gente que continua andando de
bicicleta em cima das calçadas. Caminhar nos Ingleses é difícil. “Se tu não tá atento, tu é atropelado. Ou por uma bicicleta, ou por um carro”, complementa Ana. Já na SC-403, são os pedestres que frequentemente invadem a ciclovia.
Sobre o piso tátil Ana diz que, do jeito que ele é utilizado no bairro, “tem certeza que aquilo não é para facilitar a vida da pessoa com deficiência visual”. Coisa pra inglês ver. Obra feita só para ser vista e maquiar o problema do capacitismo das calçadas. Capacitismo é supor que todas as pessoas possuem capacidades iguais, é desconsiderar especificidades das pessoas, ação que resulta em obstáculos para quem não dispõe
Calçadas para carros na Rua Fernando Bauther da Silva e caminho estreito e com obstáculos na Dario Manoel Cardoso.
das capacidades presumidas como gerais. “Se eu sou um deficiente visual, eu vou me grudar num poste, numa árvore, num banco – se tiver [banco] (porque não tem, né?)”, considera Ana. Em um ponto de bastante movimento de pedestres em frente a uma agência bancária, ela diz ter visto um poste metálico exatamente no fim da calçada para deficientes visuais. A pessoa anda e dá de cara com um poste. Há lugares – como a rua Fernando Bauther da Silva – em que o modelo de calçadas construídas no local é para atender aos carros: em vez de ser uma faixa que acompanha o desenho da rua nas suas duas margens – o espaço das vias reservado aos pedestres –, são caminhos para os carros entre a rua e as garagens de casas. Uma rua cujo planejamento previu apenas passantes que são os próprios moradores das casas, que transitam de carro e ninguém mais. Mas essa rua é uma travessia importante e bastante gente além dos moradores passa por ali – até porque em algumas das casas funcionam estabelecimentos comerciais.
Chegou a hora de ampliar a calçada
Um lugar de bastante movimento onde é crítica a situação das calçadas irregulares é o início da Estrada Dario Manoel Cardoso, onde os muros de algumas casas e comércios avançam sobre o espaço que seria destinado aos pedestres. Nas estreitas calçadas que existem nesse trecho da estrada, ainda há alguns postes que bloqueiam a passagem. Resta aos pedestres andar na beira da rua, o que, além de ser perigoso, se torna quase impossível quando chove e formam-se poças d’água.
Kauan Silveira, jovem de 22 anos que mora no local, se incomodava com o problema e decidiu ampliar a calçada na frente da sua casa. Nativo do bairro, ele mora nas redondezas desde que nasceu e há um ano nessa casa. Sempre interessado por obras, foi o próprio Kauan quem realizou a ampliação da calçada com ajuda do seu tio, que mora na casa ao lado.
O antigo muro foi posto abaixo e o novo começou
Kauan mostra a diferença das dimensões da calçada após recuar o muro: antes tinha 70cm como a calçada do imóvel vizinho e agora possui 1,20m.
Calçada certa
Órgão da Prefeitura responsável pelo planejamento urbano de Florianópolis, o IPUF disponibiliza em seu site (www.pmf. sc.gov.br/entidades/ipuf) o Manual Calçada Certa, que apresenta diversas informações sobre o padrão de calçadas da cidade. O manual ilustra as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que estabelecem critérios e parâmetros técnicos a serem observados na construção de calçadas, a fim de elas que sejam espaços funcionais e acessíveis. Se você vai construir um imóvel ou ficou com vontade de readequar a calçada da sua casa, é bom dar uma olhada nesse material. Nele, você fica sabendo, por exemplo, como instalar pisos táteis e como dimensionar rampas de acesso.
com um recuo de 50cm a mais que o anterior. Assim, a calçada que era 70 centímetros ficou com 1,2 metros. Embora o passeio volte a se estreitar logo na casa vizinha, à frente do terreno de Kauan, hoje é possível passar empurrando um carrinho de bebê onde antes era difícil caminhar sozinho. “Me arrependi de não ter colocado dois metros. Mas ficou uma calçada boa, dá para passar duas pessoas uma do lado da outra”, comenta Kauan. O jovem nos contou que quer fazer apartamentos para aluguel no terreno. Ele, que já estudou alguns semestres de engenharia civil, pretende também construir imóveis para vender no bairro, em terrenos que herdou. E faz questão de salientar: “apartamento com Habite-se e deixando três metros das extremas, não como o pessoal faz aí”.
Depois que Kauan fez a obra, um vizinho aderiu à iniciativa de ampliar a calçada. Pode ser que tenha se inspirado nele. Animado, o simpático jovem conta que o tio que o ajudou na obra quer recuar o muro da casa dele também. Pouco a pouco, esses moradores ajudam a deixar o lugar onde vivem mais seguro e confortável para todos.
Calçadas acessíveis devem estar livres de obstáculos. 90cm é a largura mínima.
1,20m a 1,50m
Crônica de um atropelamento
João Regina
Um idiota me atropelou na Dario Manoel Cardoso entre 14 e 17 de setembro de 2015. Procure pelo último dia de sol para saber com precisão. Durante os dois meses de repouso em Florianópolis, só chuva.
A colisão com o carro rompeu o meu maléolo medial. Tenho hoje dois pinos no tornozelo esquerdo e um pouco de cicatriz que ainda não desapareceu. Também desenvolvi a capacidade premonitória de mudanças climáticas que muitas pessoas idosas ou operadas relatam possuir – se eu sinto algo no tornozelo, é porque vai virar o clima.
Certamente as chuvas incessantes a atrapalharem qualquer rolê na cidade amenizaram a sensação de estar perdendo algo e a tristeza por não poder satisfazer a vontade de passear. Mas a vontade de passear era grande. Com a perna recuperada, não sofri de medo pós-traumático de sair à rua nem dos carros, acho que devido ao longo tempo em que fiquei em casa passando essa vontade: foram dois meses de completo repouso, com a perna esticada – alguns dias com o primeiro gesso, pesado, aplicado na emergência, muito mais gesso e muito mais peso do que deveria ser (depois eu soube) e então o período pós-operatório, com um gesso mais leve – e mais um mês com movimentos restritos pela bota ortopédica e me adaptando a andar de muletas.
Também não sofri de medo de sair à rua porque costumo circular a pé por outros bairros, com calçadas mais largas e espaço mais adequado aos pedestres. Quando volto ao Zinga não sinto exatamente medo, mas ando com mais atenção do que em outros lugares da cidade. E cuido para não me entregar novamente aos muitos estímulos que este bairro oferece: vendedores ambulantes; anúncios pintados em muros; banners e letreiros luminosos nas fachadas de inúmeros comércios; quintais amplos ocupados de variados modos; casas e quitinetes nos mais diversos estilos arquitetônicos; jardins coloridos e árvores exuberantes. Num dos muros pintados eu li em letras vermelhas o anúncio de uma cartomante – com a pancada a minha bolsa voou longe e espalhou pela rua o seu conteúdo (o meu celular, a minha carteira e os meus outros pertences), me veio a dor, que logo foi aumentando conforme passava o susto.
Pela desatenção e pelo deslumbramento, o idiota dessa história poderia ser eu na verdade. Mas em outros bairros da cidade eu posso caminhar contemplando o entorno sem correr risco de vida. Andar por algumas das ruas dos Ingleses, com suas calçadas irregulares ou mesmo inexistentes, demanda tanta atenção que às vezes é, para mim, uma atividade tensa. Sinto-me em um videogame. Um jogo que consiste na travessia de um circuito permeado por perigos e obstáculos. Entre as personagens disponíveis para jogar, pode-se jogar sendo uma pessoa gorda na fase das calçadinhas estreitas, uma pessoa cadeirante ou alguém a levar um carrinho de nenê sobre as calçadas esburacadas, uma pessoa cega, surda ou com outras deficiências físicas contra inúmeras barreiras urbanas. Com uma só vida e ossos que quebram.
Escolhi chamar de idiota o rapaz que me atropelou porque, além de irresponsavelmente dirigir em alta velocidade numa região com trânsito intenso de pedestres, ele foi grosseiro e sequer esperou que chegasse a ambulância. Ele tinha pressa. Eu também, mas precisei esperar três meses para fazer as minhas coisas. Se não fossem as pessoas que me acompanhavam naquele dia, acho até que eu teria apanhado. Após conversar brevemente com quem me acompanhava, ele deixou um cartão para auxiliar com eventuais necessidades. Entrei em contato. Depois de pagas a cirurgia e todos os medicamentos, os táxis – àquela época nem lembro se já tínhamos uber ou quaisquer outras opções na cidade –, as refeições que eu não pude mais preparar por algum tempo, entrei em contato para saber dos seus dados e assim reunir mais informações sobre o ocorrido para conseguir o dinheiro do seguro DPVAT. Ele novamente foi grosseiro e disse que também precisava do dinheiro do seguro, dinheiro para pagar a reforma da frente do seu carro, que, segundo ele, amassou com a batida.
O FUTURO DO PARQUE LINEAR
Contratamos uma vidente para ler em cartas de tarô o futuro do parque que está sendo estruturado no bairro.
Na Rodovia Armando Calil Bulos, a SC-403, em uma área de 2.751 metros quadrados ao lado do sacolão, próxima ao Centrinho, está em processo de construção o chamado Parque Linear dos Ingleses. O projeto do parque inclui área para recreação infantil, academia ao ar livre, quadras de esportes, bicicletário e espaço para cães.
O Parque Linear foi projetado pela arquiteta voluntária de Florianópolis Cintia de Queiroz Loureiro, que é também a primeira-dama da cidade. A empresa Pavicon Construções venceu a licitação e assumiu a responsabilidade pelas obras, com prazo de seis meses para finalizar o serviço e com custo de R$ 1,4 milhão pagos pelo município.
O jornal Diário Catarinense anunciou em fins de maio deste ano – na semana em que a Prefeitura de Florianópolis assinou a ordem de serviço para iniciar as obras – que a entrega da estrutura estava prevista até a próxima temporada de verão. Terraplanagem do terreno; instalação de equipamentos de lazer, de bancos de concreto, de pergolados; montagem dos pisos; serviços de paisagismo e iluminação... a obra conta com várias etapas para a estruturação do parque: este jornal terminou de ser editado em novembro e o parque ainda parecia estar longe de ser concluído.
A promessa de que o bairro Ingleses finalmente terá um espaço público de lazer e convívio com estrutura adequada para diversas idades é muito importante para que seja apenas um projeto – e é desanimador pensar que essa estruturação demore tanto: para uma criança, cada sábado sem ter onde brincar soa como uma eternidade.
No anseio de saber qual o futuro do Parque Linear, com toda a sua promessa de estrutura adequada para prática de exercícios físicos, recreação e tudo o que um parque pode oferecer, decidimos recorrer à vidência. Isso porque no Zinga encontram-se muitas cartomantes locais, com espaço próprio para atendimento ou consultas em domicílio e até mesmo via redes sociais online. Alguns prestadores do serviço de vidência – que também pode ser realizado mediante o jogo de búzios, leitura de mãos e outras práticas místicas – anunciam o seu trabalho com cartazes colados pelo bairro (confira a disputa por território na página 27).
Na loja de artigos religiosos Aruanda Floripa, situada na rua Intendente João Nunes Vieira e próxima ao Bazar Atacadista, também é possível obter algumas dicas mais direcionadas sobre o tipo de consulta desejada e quem poderia realizá-las. Entretanto, com tanta gente sabendo ler tarôs, muitas cartomantes recusaram a proposta por medo
de confusão, preferiram não se envolver com “encrenca” e com assuntos relacionados a política. A cartomante Eliana Albeche, professora gaúcha aposentada que mora no Zinga há quase vinte anos, aceitou participar e acha esse receio sem fundamento. Porque seu jogo de tarô para ler o futuro se trata mesmo de uma leitura, uma interpretação do que dizem as cartas. O tarô apresenta possibilidades e não fatos exatos e imutáveis. O futuro previsto pelo tarô não é lei: inúmeras coisas podem acontecer pelo caminho e existe o livre arbítrio dos envolvidos. Eliana usou em nossa leitura o Baralho Cigano,
tarô composto por 36 cartas.
Seu espaço para consultas fica em sua própria casa, em um quarto aconchegante com telas pintadas por sua filha (que estudou artes plásticas em Santa Maria e atualmente reside em Portugal) e uma série de imagens de entidades de diferentes dimensões, as quais são dispostas em prateleiras fixadas à parede. Tem orixás, tem encantados, tem santos, tem divindades asiáticas. Tem preto velho, tem Iansã, tem Buda, tem Iemanjás negras e Iemanjá branca e tem Nossa Senhora Aparecida. Tem também ciganos. Entre duas taças no altar, uma figura baixinha com colares representa a cigana Rosana, que foi quem jogou o tarô pra gente. A cigana gosta de fumar. Rosana, através do corpo de Eliana, acendeu um cigarro para ler as cartas.
Pois bem, disse Eliana/Rosana, a Prefeitura quer fazer o parque, mas tem uma mulher que está “trancando” esse projeto. Ela comentou também de alguma burocracia que está impedindo o andamento da obra e que está ocasionando um desgaste muito grande entre os envolvidos, mas que, na verdade, as dificuldades são mínimas, não há motivo para se preocupar. Afinal tratase de uma coisa que o próprio plano espiritual já está cuidando de resolver: a natureza precisa daquilo, daquele espaço do parque.
A cigana diz que “a natureza precisa de um parque
para que haja vida, movimento”. E ressalta que “a natureza necessita pois o parque trará alegria, vai ser uma coisa boa para as crianças, para a comunidade inteira”.
Complementou: “Virão benefícios para todo mundo, só que há algum entrave burocrático e por isso o parque ainda não saiu”. Leu também que está faltando dinheiro para a construção, não está sendo liberada a verba. Por isso que ainda não foi concluído.
Em outras de suas leituras, falou: “Provavelmente havia sido feito um plano, mas a prática mostrou ser a estruturação do parque muito mais cara do que a verba inicialmente prevista ou a verba foi desviada para outro canto. Mas aí só a prefeitura pode confirmar.
Contudo, as intenções dos envolvidos são boas, todos querem que o parque saia e o parque vai sair da promessa, será concluído e usufruído pela população.
Quanto ao tempo para a entrega da obra pronta, se vai demorar ou não, estourando, daqui quase um ano o parque estará aí. E olhe lá, nem isso. Só não saiu ainda porque tem uma mulher que está bloqueando o andamento do projeto” – e apontou para uma carta a representar uma mulher.
Essa pequenininha é a cigana Rosana.
Questionamos se era uma mulher mesmo ou se falava da mulher como metáfora sexista para alguma outra coisa. Rosana confirmou ser uma mulher mesmo, quem sabe alguma possível ex-dona do terreno ou pessoa que, antes de ser posse da prefeitura, herdou essa terra de alguém. Lembramos-lhe que o projeto do Parque Linear é de uma mulher, a arquiteta primeira-dama. Talvez seja ela quem está bloqueando em razão de alguma coisa que não esteja sendo feita de acordo ao que ela queria, “pode ser que ela esteja muito exigente para que o Parque Linear saia conforme o planejado”, sugeriu a cigana.
Mas Rosana garantiu que o parque vai ficar pronto e ser inaugurado, sim. Rosana apontou que o jogo também exibe muito amor. “Em dado momento as burocracias estúpidas serão cortadas, abrindo caminho para que o parque desfrute de muita felicidade e sucesso... que o parque aparecerá de acordo com o que foi planejado... O parque vai sair, sim, e não vai demorar muito”.
Eliana/Rosana usa o Baralho Cigano para ler o futuro do Parque Linear.
Maquete virtual do Projeto do Parque Linear divulgada pela Prefeitura de Florianópolis.
Fontes e pias
Fontana Di Trevi, construída no século XVIII em Roma, na Itália.
Muitas cidades europeias possuem fontes que serviam para o abastecimento de água das cidades e que hoje são monumentos às grandes obras de infraestrutura do passado.
Erguer belas fontes ao final de um aqueduto que conduzia a água para a cidade é um costume europeu desde os tempos da Roma Antiga. Hoje essas fontes são pontos turísticos que figuram em guias de viagem e em selfies de visitantes. Um célebre exemplo é a luxuosa Fontana Di Trevi, em Roma, com construção datada em 1762, que já apareceu em inúmeros filmes. A maior e a mais ambiciosa das fontes barrocas da Itália, Fontana Di Trevi está encostada na fachada do Palazzo Poli e em suas águas recebe moedas para a realização de pedidos. Além da beleza, tais fontes são úteis para a lavagem de partes do corpo e algumas têm ainda hoje água potável para saciar a sede.
No Zinga, além das nascentes do Rio Capivari, não há nenhuma fonte pública. Ao menos nenhuma construída pela Prefeitura. Chafariz deve até ter em alguns condomínios. Mas no Zinga tem uma pia que, embora seja privada, funciona como fonte de uso público. Em um peculiar centro comercial localizado na Travessa Manoel Ramos de Souza – onde tem tabacaria, chaveiro, loja de produtos de beleza, churrasquinho e comidas típicas de Goiás – há uma pia disposta quase na calçada, que fica disponível aos passantes mesmos quando os estabelecimentos já estão fechados.
Algumas partes do colorido centro comercial são construídas em madeira e outras em alvenaria e também há um espaço coberto, com mesas e cadeiras para desfrute dos lanches servidos. Quando passar por lá, aproveite para lavar suas mãos!
Árvores extraordinárias
Seringueira falsa na Rodovia João Gualberto Soares, número 420. Segundo Lelis Pinheiro, primo do dono da casa, trata-se de uma espécie da Amazônia que, na cidade, torna-se uma praga, pois suas raízes se estendem por um raio de 200 metros e afetam as estruturas das construções. Ele contou que uma casa que havia na parte da frente do terreno teve que ser demolida e uma nova construída mais para o fundo, um pouco mais distante da árvore. Não podem cortar a árvore. Embora presente em diversas cidades brasileiras, outras fontes indicam ser essa espécie nativa da Ásia tropical. Amazônica e originalmente brasileira é a seringueira (a verdadeira), árvore cuja secreção esbranquiçada é usada para fabricar borracha. A secreção derramada pela seringueira falsa também pode ser usada na fabricação de borracha, mas de qualidade inferior à da seringueira verdadeira.
NOTA
Pouco antes do fechamento desta edição, a pia foi removida. Seu Torquatto, que tem uma tacabaria no local, contou que decidiram tirar porque “o pessoal tava avacalhando muito de noite”. Disse que mais de uma vez deixaram a torneira aberta, e que quando chegou para trabalhar se deparou com seu estabelecimento alagado.
Acidade do Rio de Janeiro inclui, entre os seus bens protegidos como prédios e casarões históricos, diversas árvores como patrimônio urbano. O tombamento de árvores como patrimônio está previsto em Lei Federal do Código Florestal e é uma forma de conscientizar a população acerca da importância do meio ambiente. A legislação ambiental institui, além da proteção a conjuntos arbóreos, a imunização contra o corte também a árvores isoladas, tal como a figueira situada na rua Faro, número 51, no Jardim Botânico, tombada em 1980 quando estava prestes a ser derrubada.
Algumas das árvores tombadas e imunes ao corte são muito antigas, algumas são raras, nativas ou exóticas, de importância afetiva, a fazer sombra em determinados espaços, são árvores notáveis. Algumas dessas são tão notáveis que integram o chamado “Conjunto Extraordinário”, o qual abarca espécies nativas da Mata Atlântica e também originárias de outros lugares do país e do mundo, tais como a Assacu (espécie da Floresta Amazônica que pode atingir 30 metros de altura) e as palmeiras imperiais, espécie natural das Antilhas e trazida ao Brasil por Dom João XVI, quando a capital fluminense era também a capital do país.
O bairro Ingleses possui as suas próprias e inúmeras árvores que podem ser consideradas extraordinárias, de diversos tamanhos e formatos de copa, de espécies naturais da ilha – como a aroeira-vermelha, o ipê-da-praia e a guabiroba – ou trazidas de outros lugares, como a amendoeira-da-praia. Já que a maioria dessas árvores estão em propriedades particulares (muitas ruas do bairro sequer têm calçadas, quem dirá árvores) e nem todas foram ou podem ser tombadas, elas correm o risco
Goiabeira (Psidium guajava) no pátio de uma residência na Servidão Fruta Verde chama a atenção por sua altura. A goiabeira é uma árvore frutífera tropical, nativa da América Central e da América do Sul. A planta deve ser cultivada em locais com maior acesso ao sol, com solos bem férteis e com boa capacidade de drenagem.
de corte devido ao crescimento desenfreado do mercado imobiliário. Algumas espécies arbóreas podem impedir certos usos do terreno, como a seringueira falsa, que aos poucos destrói o que é construído ao seu redor. Entretanto, a maioria das árvores podem conviver e contribuir com um bairro urbanizado, desde que essa urbanização seja realizada com planejamento adequado. Se a intenção de quem detém a propriedade de terreno com árvore é desmanchar a casinha para ali erguer um pequeno edifício com quitinetes, por que não manter a árvore no quintal para fazer sombra aos inquilinos e seus automóveis?! No site www.arvoresdefloripa.com. br, da FLORAM (Fundação Municipal de Meio Ambiente de Florianópolis), há um guia com 50 espécies de árvores nativas de Florianópolis com potencial para arborização urbana que podem auxiliar quem quiser ver o bairro crescer sem perder a qualidade do ar, sem perder a sombra, sem perder os pássaros e as abelhas. Já pensou os quintais dos Ingleses sem árvores, só com azulejo e pedra brita?!
RAPIDINHA COM BRUTO PIMPÃO
EM UM TERRENO BALDIO A GENTE PODE...
Terreno na Rodovia João Gualberto Soares é atalho, pasto e local de lazer.
Écomum, principalmente depois dos anos 2000 se deparar com muitas construções no bairro e, em consequência disso, grandes áreas que já serviram para pasto de gado e também como um local que a criançada jogava bola ou inventava brincadeiras se transformarem em loteamentos. Já os terrenos menores são ocupados por edificações.
Os que ainda resistem, em sua maioria, são cercados com muros e avisos de entrada proibida e, também existem aqueles que se encontram abertos e servindo de espaço comum à comunidade, pelo menos até que uma das tantas construtoras permita.
Um dos terrenos que chamou a atenção da equipe deste Jornal está situado bem ao lado da Escola Estadual Intendente José Fernandes, nas margens da Rodovia João Gualberto Soares que liga a Servidão Laurindo Elias de Oliveira.
Em uma conversa com a diretora da escola, a Sra. Valquíria, tomamos conhecimento que é de propriedade da família de José Fernandes, um antigo intendente do bairro que doou a área onde foi construída a escola. Segundo ela, já houve intenção do Estado de comprar o terreno, mas não se chegou a um entendimento com os proprietários.
O local, onde havia uma casa abandonada que foi demolida há cerca de quatro anos, já é utilizado pelos moradores da região como passagem. O que facilita muito a vida, tornando o caminho mais curto – sem o atalho, os moradores da Servidão Laurindo Elias de Oliveira teriam que dar uma volta grande para chegar à escola e à Rodovia João Gualberto.
Mas além de importante passagem, o terreno tem outros usos. É local de pastagem para animais como cavalos, bois e vacas. Isso é algo que se vê com certa frequência no bairro – se antes o gado pastava nos sítios, hoje pastam nestes campos remanescentes.
O terreno poderia ser utilizado também para plantio. Ficamos imaginando uma horta urbana ou um jardim de ervas aromáticas ali.
É fato que ainda não existe, mas por que não começar? Semeando as sementes das frutas consumidas ou mesmo plantando uma mudinha que já não cabe mais no seu terreno.
Ele é também área de lazer, muitos alunos e vizinhos já o utilizam como espaço público uma vez que na região sul do bairro – que abrange Capivari, Sítio de Baixo e Sítio de Cima – a carência de lugares de convívio é notória. Mesmo sem infraestrutura alguma e com lixo espalhado em algumas áreas, lá dá para jogar taco e
futebol, dá para andar de bicicleta e até soltar pipa. Aos amantes dos esportes no bairro, vocês já imaginaram um campeonato de esportes praticados em terrenos baldios? Certamente no Zinga há muitos possíveis participantes.
E não para por aí: na calçada, bem em frente ao terreno é comum a presença de vendedores de rua. Quem mais se vê por ali é uma senhora que vende meias, mas de vez em quando aparece um vendedor de tapetes e panos de prato que expõe seus produtos no muro. Ali foi também ponto de carrinho de churros.
E vai saber quais outros usos esse terreno não tem na calada da noite...?
Em uma enquete sobre a ocupação daquela área com a construção de um parque público, solicitamos a alguns alunos do ensino médio da escola vizinha, que selecionassem algumas opções apontadas ou sugerissem outras. O resultado você confere abaixo.
árvores frutíferaspista de skatelago artificialcampo de futebolmirante para observar o marwi-fi livrebalanço, gangorra e escorregadorpista para caminhar em círculoscasa na árvoremuseu de arte contemporâneapalmeiras imperiaisaparelhos de musculaçãopista de gelo para patinação artísticapalco para showspiscina públicajardim de plantas carnívorashorta comunitáriaum portal mágico -
Pesquisa realizada com 40 alunos das turmas
Intendente José Fernandes
25 votos
com a professora de artes Rosângela entre em agosto e em outubro de 2019. Cada participante podia escolher quantas opções quisesse e ainda sugerir outras.
Coruja buraqueira (Athene cunicularia)
É uma ave tímida, por isso, vive em lugares sossegados.
Seu ninho é feito com estrume de gado cujo cheiro atrai o besouro-rola-bosta para se alimentar, ali acaba colocando os seus ovos, alimento preferido das corujas. O maior inimigo desta espécie é o homem da limpeza de terrenos, pois ao passarem por cima com suas máquinas que costumam destruir tudo que vem pela frente, soterram o ninho matando mãe e filhotes asfixiados.
Vista do terreno pelo satélite do Google. No Google Maps, o atalho já é reconhecido como via.
Na falta de espaços públicos para prática de esportes no bairro, crianças jogam taco no terreno baldio.
Fotografia aérea das praias dos Ingleses e do Santinho em quadro exposto na Padaria Princesa da Ilha.
SANEAMENTO BÁSICO É O MÍNIMO
Obra de instalação de rede coletora de esgoto no bairro dura mais de ano e incomoda, mas é fundamental para o controle de problemas ambientais locais.
Afalta de saneamento básico é causadora dos mais graves problemas ambientais do bairro. Apesar de ser direito assegurado constitucionalmente, segundo dados Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Regional do Governo Federal, 48% da população brasileira não tem coleta de esgoto. No Zinga, são muitas as pessoas que fazem parte dessa estatística. Sem coleta adequada, uma parte do esgoto acaba sendo despejada nas águas do Rio Capivari, que corta o bairro e desemboca no mar. Por isso, a água poluída chega à Praia dos Ingleses e compromete a qualidade da água do mar onde as pessoas se banham.
A poluição do rio costuma ser mais percebida no verão, quando os moradores e turistas são obrigados a conviver com as águas escuras e o mau cheiro na praia. Mas além da balneabilidade, o problema da falta de tratamento de esgoto afeta até as reservas subterrâneas de água do bairro. Não é um problema apenas do verão, o problema simplesmente volta à cena no verão e depois é novamente esquecido.
A Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), responsável pelo saneamento básico na cidade em gestão compartilhada com a Prefeitura Municipal, reconhece que o Rio Capivari hoje recebe um grande volume de esgoto não-tratado e o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) várias vezes já detectou poluição na água do rio que chega ao mar. O problema persiste. Atualmente está sendo realizada no bairro
uma grande obra de saneamento, a ampliação do Sistema de Esgotamento Sanitário InglesesSantinho, com instalação de rede coletora e
aos moradores, a fim de que tenham tempo hábil para promover as mudanças nas instalações de esgoto em suas residências.
Conjuntamente à ligação do esgoto doméstico à rede, será necessário também isolar as fossas – tanques enterrados que recebem os esgotos – hoje utilizadas no bairro. A eliminação das fossas é justamente um dos grandes objetivos da obra, informa a Casan. O fim da utilização delas, especialmente na região do Santinho, é condição fundamental para garantir a preservação da qualidade do Aquífero dos Ingleses, maior manancial de água subterrânea de Florianópolis.
Escavações deixam o trânsito em meia-pista na Rua das Gaivotas. Em outras vias, como na Estrada Dario Manoel Cardoso, há trechos com bloqueio total em alguns horários, o que tem provocado filas em pontos do bairro.
construção de estações elevatórias e de uma estação de tratamento de esgoto. Conforme dados fornecidos pela própria Casan, até outubro já haviam sido instalados 50km de rede coletora, o que corresponde a 76,9% do total previsto no projeto. Trata-se de uma obra incomum, seja porque é diferente de outros lugares da cidade que também sofrem desse problema, seja porque pouco se vê desse tipo de iniciativa.
A área de abrangência do projeto compreende 100% do Santinho, a totalidade da área de Ingleses Norte (Gaivotas), áreas próximas à praia e Sítio de Baixo. Com isso, aproximadamente 70% do bairro estará atendido pelo sistema de coleta e tratamento de esgoto. A previsão é que a obra seja finalizada até o fim de 2020.
Mas mesmo após concluída, há ainda outra etapa que é fundamental para a sua eficácia e que depende de conscientização coletiva: trata-se da ligação das residências à rede coletora instalada. Para isso, a Casan diz que, paralelamente aos serviços de instalação do sistema de coleta e tratamento de esgoto, está promovendo ações informativas junto à comunidade do bairro com o objetivo de conscientizar as pessoas acerca da importância do projeto e repassar informações relacionadas a prazos e andamento da obra. Segundo a Companhia, está previsto também que cerca de dois meses antes da sua conclusão seja feita a comunicação
Caramujo africano (Achatina fulica)
Aquífero dos Ingleses
Toda a água consumida no bairro é captada junto ao Aquífero dos Ingleses através de poços subterrâneos abertos mediante licença ambiental. Além disso, o aquífero é responsável pelo abastecimento de 100% dos moradores do Norte da Ilha. A água nele captada é levada para a Estação de Tratamento de Água dos Ingleses, onde, segundo a Casan, recebe tratamento e verificação permanente de qualidade antes de ser distribuída à população.
O Aquífero dos Ingleses é um depósito de água subterrâneo que se estende sob as dunas que atravessam o bairro. De lá são retirados pela Casan 450 litros de água por segundo. Pela areia das dunas se infiltra a água da chuva que recarrega diretamente o manancial. Contudo, o excesso de exploração, a poluição ambiental e demais efeitos da ocupação desordenada e das interferências nas áreas de dunas podem comprometer o aquífero. Localizado abaixo do nível do mar, caso seu nível diminua muito, o reservatório natural sofre o risco de salinização pela entrada da água do mar, o que seria irreversível.
Foi introduzido ilegalmente no Brasil na década de 1980. Praga exótica que entrou no país para ser uma opção mais rentável de substituir o escargot. Como não deu certo, foram soltos na natureza e proliferaram, causando um problema de saúde pública. É recomendado que os caramujos sejam recolhidos e dentro de uma lata sejam incinerados. Seus restos devem ser enterrados.
ÁGUA SABORIZADA
Para disfarçar o gosto que às vezes tem na água da Casan que recebemos pela torneira, sugerimos a água saborizada. Em uma jarra ou garrafa, coloque uma laranja e um limão cortados em rodelas e folhas de hortelã. Complete com água e deixe curtir na geladeira até a hora de servir. Bem refrescante!
1. Curso d’água que corta a servidão Vicentina Custódia dos Santos; 2. A espuma denuncia a poluição às margens da SC-403; 3. Na rua Caminho do Sol é visível o esgoto doméstico que chega ao ribeirão por meio de ligações irregulares na drenagem pluvial; 4. Na rua Dante de Patta, o rio corre entre dois condomínios; 5. Na foz do Rio Capivari ainda dá para encontrar pássaros e peixinhos, mas a areia esverdeada é sinal da poluição que chega à praia.
COLUNA DO ISAS
Ações entre as praias do Santinho e Ingleses visam preservar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos
Há mais de duas décadas moradores das praias do Santinho e Ingleses vem alertando que o crescimento desenfreado do bairro poderia ter consequências ambientais desastrosas para a manutenção da qualidade de vida da população do norte da Ilha. Desde o abastecimento de água – através da recarga do Aquífero Ingleses – até a perpetuação do que restou da fauna e flora local, os moradores, a exemplo do Movimento Ilha Ativa e Eu Sou Jacaré Poiô, vêm agindo para preservar alguns locais onde ainda se encontram paisagens naturais. Como resultado, em 2016 foi aprovada a Lei n° 9948 que criou o Parque Natural Municipal Lagoa do Jacaré das Dunas do Santinho (PMLJDS).
O PMLJDS é uma Unidade de Conservação de proteção integral e seus objetivos são a preservação e restauração de remanescentes de Mata Atlântica, além da conservação do patrimônio histórico em compatibilização com as atividades tradicionais. Sua área é de 221,07 hectares e compreende seis sistemas ambientais: Floresta ombrófila (52% da área); Restinga (25%); Duna (14%); Costão rochoso (5,5%); e Banhado (2,25%).
Logo após a criação do parque, alguns moradores se organizaram voluntariamente para trabalhar na sua implementação e criaram o Instituto Socioambiental da Praia do Santinho (ISAS), uma entidade sem fins lucrativos e sem vinculação político-partidária.
O ISAS, junto com a FLORAM e outros parceiros, conseguiu a criação do Conselho Consultivo do Parque e vem realizando uma série de ações, como eventos de sensibilização e a revitalização do campo de dunas e restinga que leva ao canto sul da Praia dos Ingleses – que visa melhorar o caminho percorrido pelos pescadores e controlar a circulação de veículos que acabam danificando os ecossistemas.
Para que as ações sejam mais efetivas, o próximo passo na implantação do parque é a elaboração do Plano de Manejo, o que deve iniciar nos próximos meses.
É essencial que a comunidade esteja sensibilizada e participe, despertando para a conservação da área natural e de seus elementos ecológicos, políticos e culturais. Na prática isso pode acontecer com a integração em iniciativas do coletivo local e a mudança de hábitos em prol do bem comum. Saiba mais no Facebook do ISAS e do Movimento Eu Sou Jacaré Poiô.
CANTEIRO SAGAZ
Experimento de resselvagização no bairro Ingleses.
O Canteiro Sagaz está localizado ao lado da creche NEI Ingleses, no fim da servidão Fermino Severino Sagaz, no Sítio de Baixo, região sul dos Ingleses. Ocupa uma área residual que se originou da construção de prédios e do prolongamento informal de uma rua sobre um terreno.
Foi nomeado Sagaz pelo modo como esse canteiro ocupou um espaço ocioso, em uma lateral de uma servidão estreita, a qual serve de passagem para pedestres e automóveis. Sagaz também porque é o nome da servidão. Entre prédios construídos irregularmente, parte dessa via se formou a partir de sucessivas e desencontradas divisões de terrenos, que ainda ocasionaram um acesso informal à outra servidão, a Aníbal Pedro de Oliveira.
Nossa ideia, ao ocupar essa pequena área, era fazer um canteiro que, ao contrário do alegado por uma moradora de que atrapalharia o trânsito, despertar interesse na prática da jardinagem, principalmente em pessoas que muitas vezes deixam de plantar porque alegam falta de espaço.
O canteiro iniciou em 2016, quando delimitamos uma área com tela de galinheiro, estacas de madeira e uma placa. Para a sua construção deslocamos pedras, terra, folhas secas, resíduos orgânicos domésticos, mudas e sementes diversas. De começo de tamanho diminuto, foi aumentando aos poucos, inclusive com a ajuda dos vizinhos Anaísa e Raphael.
A placa onde se lê “pesquisa da universidade” visa legitimar o canteiro e garantir o tempo necessário para o crescimento das plantas.
Apesar da falta de cuidado e até da antipatia de alguns vizinhos – alguns de vez em quando lá despejam entulhos, outros se incomodam com a “sujeira” das folhas que caem ou porque lá poderiam estacionar os seus carros – o canteiro teima em crescer, sagazmente.
PELE LIMPA
Depois de andar pelas ruas empoeiradas do bairro, bom é fazer uma limpeza de pele. Além do leite de rosas ou da loção de sua preferência, dá para utilizar o algodão orgânico do Canteiro Sagaz. Aliás, ter um pé de algodão no pátio de casa é uma ótima pedida!
Joice, uma colaboradora do Canteiro Sagaz
Joice mora há quase um ano no Residencial Nathalia, em frente ao Canteiro Sagaz. Desde que chegou, colabora com os cuidados que um canteiro necessita. Diariamente leva o que sobra das frutas e vegetais que consome. Comentou que esse tipo de atitude, além de ser uma fonte de energia para o canteiro, é também um modo de fazer uso adequado do lixo orgânico.
Da diversidade de plantas comestíveis que existem no canteiro, a ora-pro-nóbis é a preferida de Joice, principalmente pelo fato de ter sido destaque em um programa matinal da Rede Globo, chamado Encontro e apresentado por Fátima Bernardes. Na matéria televisiva, falava-se sobre plantas alimentícias não-convencionais e a ora-pro-nóbis que foi muito pelo seu alto teor de ferro e pelo fato de ser alta fonte de proteínas e vitaminas. A planta é uma cactácea trepadeira folhosa muito utilizada em cercas-vivas.
Joice fez questão de ressaltar seu uso em vários pratos, como em sopas, carnes, misturada a legumes, no feijão ou de outras maneiras, conforme sua criatividade permitir. Afirmou também que, além de se alimentar dessa poderosa planta, regularmente bebe o chá de suas folhas pelo fato de ser um poderoso remédio para a anemia. Assim como para Joice, o canteiro é aberto a quem desejar dele usufruir. Lá você encontrará, além da orapro-nóbis, melissa, manjericão, pitanga, banana, mamão, amora e, futuramente abacate – que logo, logo estará produzindo.
QUEBRA-PEDRA
A Phyllanthus niruri, popularmente designada Quebra-pedra, é uma planta de rua que cresce em quase todo Brasil. Facilmente encontrada em fendas de calçadas e terrenos baldios, possui muitas propriedades que ajudam a tratar problemas urinários e distúrbios da próstata. Faça uma infusão com flores, raízes e sementes da planta: 10 a 30 gramas por litro de água fervente. Tomar 1 a 2 xícaras por dia da bebida morna, de preferência sem açúcar.
Vista aérea do Parque Natural Municipal Lagoa do Jacaré das Dunas do Santinho.
Placa informativa sobre o Parque e sua fauna instalada no canto sul da Praia dos Ingleses.
COMÉRCIO LOCAL
Se por muito tempo os Ingleses foi uma comunidade isolada, praticamente sem comércio, hoje possui uma atividade comercial movimentadíssima. E tem espaço para todo mundo, de vendedores ambulantes à lojas de grandes redes.
Frente do antigo Caravelas Praia Shopping, cujo edifício está em ruínas e aparentemente abandonado. Ali formou-se uma praça de alimentação composta estabelecimentos instalados em trailers e pequenas construção de madeira ou lata, que, além de dispor de mesas e cadeiras de plástico para receber seus clientes, também fazem entregas. Funcionam em horários alternados, o que faz com que quase sempre ao menos um deles esteja aberto de dia, à noite e aos finais de semana. No fim de semana ainda tem espaço para estacionar pelo menos um carro ou algumas motos, já que o motorista freteiro que faz ponto no lugar não está. Ao lado, em um pedaço de terreno que fica entre o Caravelas Praia Shopping e o Angeloni, ocupando uma parte de cada um desses terrenos, há uma casinha de madeira onde funciona uma lotérica, dessas que estão espalhadas pelo bairro. Quando do fechamento desta matéria, estavam sendo finalizadas mais duas lojinhas de madeira, provavelmente na expectativa do movimento da temporada que se aproxima – uma abrigará uma pequena sorveteria e na outra, que conta com ar condicionado, já funciona uma loja de acessórios para celular.
Se até meados dos anos 1970, quando foram concluídas as rodovias SC-401 e SC-403 que permitiram o acesso ao centro da cidade, os Ingleses era uma comunidade isolada, praticamente sem comércio, salvo as trocas de produtos agrícolas e de pescados, hoje possui uma atividade comercial pujante. No Zinga tem desde mercadinho até hipermercado. O que você precisar comprar, com certeza vai encontrar – suas padarias estão recheadas de diferentes bolos e quitutes, cursos de idiomas já existem por aqui, oficinas mecânicas são muitas, lojas de artigos de surf, de informática e de acessórios para celulares vêm se multiplicando. Hoje o comércio não se sustenta apenas pelo fluxo de turistas que chegam durante a temporada de verão, como na época em que a economia do bairro era restrita ao turismo quando foi descoberto como balneário. O grande número de moradores fixos e pessoas de bairros próximos que vêm fazer compras no Zinga garante movimento o ano inteiro.
Diunei, 28 anos, é proprietário da WF Multimarcas, loja que abriu em junho de 2019 em uma galeria da Rodovia João Gualberto Soares. Ele é morador de Canasvieiras, onde tinha a sua loja, mas decidiu transferi-la para o Zinga para depender menos do movimento do turismo que, segundo ele, anda fraco por lá. Nos Ingleses tem mais movimento por conta do grande número de moradores fixos, considera, e isso é o que faz economia girar aqui o ano inteiro, mesmo fora da temporada.
Apesar de o comércio local tornar o bairro hoje independente nesse aspecto do centro da cidade, alguns dos moradores com quem a equipe deste jornal conversou relataram que preferem comprar certos itens nas lojas do centro da cidade. Segundo eles, no centro tem mais
novidades e variedade, além de preços mais baixos, mas também ponderam que isso depende do que se querem comprar. Um diz que no Zinga é bom para comprar itens de supermercado e outro reclama que aqui “só tem coisa pra comer”.
Mesmo sem um shopping do tamanho e nos padrões dos que existem em outras partes da cidade, com lojas de grandes redes e cinema, no bairro já existem ou já existiram empreendimentos que assim se denominam: desde o hoje em ruínas Caravelas Praia Shopping, na SC-403, ao recente Ingleses Open Shopping na esquina da João Gualberto com a Rua Intendente João Nunes Vieira que, apesar do nome que remete ao empreendimento de Jurerê, não se diferencia muito de outros centros comerciais que já existem no bairro. Ademais, pode-se dizer que as vias principais do bairro já são um grande shopping a céu aberto. Contudo, está em construção desde 2017 no centrinho do Zinga um empreendimento que promete oferecer ao público um espaço digno do nome shopping
Assim anunciava um outdoor que foi instalado no local quando do
início das obras: “Finalmente, um shopping para o bairro Ingleses”. De acordo com material de divulgação do empreendimento, o local terá área construída de 24.684m² com previsão de 83 salas comerciais e uma mega loja. Haverá também a praça de alimentação com vista para o mar, ambiente direcionado ao público infantil e três salas de cinema.
Vendedor ambulante de sonhos fritos e recheados. Esse tipo de comércio que circula automóveis é muito comum nos Ingleses. Além de doces, vendem ovos, material de limpeza, picolés e oferecem serviços como a afiação de facas.
Como a fetichista propaganda do empreendimento, que acaba por sugerir que o que o bairro precisava era um shopping, o desejo por esse tipo de estabelecimento parece corresponder ao desejo por um símbolo de urbanidade e modernidade. Como se a presença do shopping agregasse ao bairro algo que o aproximaria do centro da cidade ou da BeiraMar Norte. Também pelo fato de que se supõe que no shopping estão à venda produtos mais badalados do que nas lojinhas do bairro, de mais qualidade e mais caros. Tal como denuncia o slogan de uma extinta loja de roupas e acessórios, a Styllera, que ficava na Rua Intendente João Nunes Vieira, perto do Supermercado Sagaz: “Loja de bairro, qualidade de shopping”.
Mercadinhos
Outrora vila de pescadores, muitos dos homens das famílias no bairro Ingleses passavam períodos de meses fora de casa, a pescar no litoral do Rio do Grande do Sul. Assim, as mulheres que permaneciam em casa cuidando da família podiam comprar fiado nas mercearias locais e pagar somente quando eles retornavam com o dinheiro obtido na viagem a trabalho. Mesmo com os homens em casa e as mulheres trabalhando fora, permaneceu o hábito de “pendurar” as compras, ou seja, adquirir mercadorias e pagá-las depois de algum tempo, no fim ou no começo do mês ou conforme outra negociação com os proprietários do estabelecimento, porque era grande o número de pequenos comércios no bairro Ingleses. Os mini-mercadinhos são pontos de referência locais, onde se pode comprar balas e doces na saída da escola, o pão depois do serviço, entre outros itens. Comprar fiado então é possível porque nesses espaços as pessoas se conhecem: são poucos funcionários –muitas vezes da própria família – e também não são tantos os clientes. Os funcionários sabem onde mora ou trabalha a pessoa que está devendo.
O crescimento do bairro, contudo, foi acompanhado por uma tendência que vem também crescendo no país: a construção de grandes redes de supermercado e de lojas atacadistas – que compram direto das fábricas e, com a venda de grandes quantidades, reduzem o preço das mercadorias. Isso enfraquece as vendas nos minimercados que, por comprarem em menores quantidades, não conseguem diminuir os preços como fazem os concorrentes maiores. Tal vantagem dos preços reduzidos só é possível para compras grandes, os chamados “ranchos”. Para comprar um item esquecido da grande compra ou mesmo aquela balinha e chiclete depois da aula, os preços não são menores… Comprar fiado em grandes redes também não é possível: no máximo pagar em cartão de crédito e correr o risco de se endividar caso passe por algum mês economicamente difícil. As grandes redes não oferecem concorrência apenas aos mercadinhos, mas também a açougues, padarias, pet shops, lojas de brinquedos, cosméticos, artigos para carros e muito mais. Em um mês de aperto financeiro, é preciso escolher bem o que será comprado.
Ainda é possível comprar fiado em alguns dos muitos mercadinhos que resistem no bairro, quebrando o galho das pequenas compras e algumas vezes servindo como ponto de encontro – é comum pessoas se reunindo para beber e conversar em frente aos mercadinhos. Mas só clientes antigos conseguem ter o nome na caderneta, já que o bairro cresceu bastante e é arriscado ao proprietário vender fiado para quem não conhece, porque a pessoa pode simplesmente não aparecer mais.
Comércios em pequenos espaços
Economia informal
Conforme pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, aumentou no país o número de pessoas com empregos informais. Esse contingente é composto por pessoas empregadas no setor privado sem carteira, trabalhadores domésticos sem carteira, trabalhadores por conta própria sem CNPJ e empregadores sem CNPJ, além de pessoas que ajudam parentes. Segundo a pesquisa, trabalhadores informais costumam receber menos do que os formalmente empregados. Um emprego informal também não assegura uma série de garantias sociais, tais como o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), 13º salário, férias e direito ao Seguro Desemprego.
No Zinga, em qualquer ponto das vias principais, especialmente da SC 403 ou da João Gualberto Soares, existe um bom lugar para abrir um comércio, mesmo que seja em um espacinho na frente de outro comércio. Assim, o que pode ser chamado de pequenos centros comerciais vão se formando espontaneamente. Na frente de várias lojas, ocupando porções dos estacionamentos, são instalados comércios muitas vezes em espaços diminutos, feitos para caberem nos lugares que têm disponíveis. Esse é o caso da loja de assistência técnica e acessórios para celulares de Houseman, 41 anos, que funciona há um ano em uma salinha comercial de madeira e vidro construída em frente a outro imóvel comercial, onde até pouco tempo funcionava uma imobiliária. Além do aluguel pago ao dono do terreno que é mais em conta do que o imóvel de trás, o proprietário Houseman aponta como principal vantagem da salinha que ocupa a proximidade com o fluxo de pedestres. Seu estabelecimento está na “boca da rua”, são dois passos e o cliente já está na loja. Ele conta que consegue trabalhar no espaço que tem disponível hoje, mas que gostaria de ter uma loja maior. Tinha o plano de ampliar a loja ali mesmo, mas o dono não permitiu pois a ampliação iria esconder o ponto comercial principal do terreno alguns metros atrás. Quando esse ficou disponível para locação, o proprietário ofereceu a ele para que montasse uma loja “gigante”. Mas o empresário considera que se os clientes tivessem que descer a escada para acessar a loja maior não iriam. Entre um espaço maior e a proximidade com o fluxo de um dos pontos mais movimentados da SC-403, ele prefere garantir este último.
Mural de anúncios
Os vidros das janelas da fachada do Supermercado Sagaz eram disponibilizados ao público do bairro como mural para anúncios de aluguel e venda de imóveis, vagas de trabalho e outros serviços. Para que seu anúncio fosse fixado no mural bastava doar 1kg de alimento – que poderia ser comprado no próprio supermercado. Geralmente manuscritos em um pequeno pedaço de papel, grande parte dos anúncios se referiam a imóveis para aluguel no próprio Zinga ou nos bairros vizinhos – casas geminadas e as sozinhas no pátio, quitinetes “livres de água e luz” (quando
os proprietários que possivelmente moram no mesmo terreno se responsabilizam pelo pagamento dessas taxas, já inclusas no aluguel, é claro) e os apartamentos de um, dois ou três quartos. Imóveis quase sempre negociados em transações direto com o proprietário, um modo mais simples e menos burocrático do que o praticado pelas imobiliárias e que não requer o comprovante de renda que muita gente não tem em razão dos seus empregos informais. Talvez por conta da concorrência com o Brasil Atacadista que abriu nas proximidades, o Supermercado Sagaz fechou. Quem sabe como tributo ao extinto estabelecimento, no novo e grande mercado foi instalado um mural de recados que hoje recebe os mais diversos anúncios.
Comércio 24 horas
Florianópolis não é uma cidade que funciona 24 horas por dia o ano todo. Pegar ônibus para alguns bairros depois da meia-noite pode ser bem complicado. As coisas mudam um pouco no verão, quando o movimento de turistas faz com que alguns estabelecimentos funcionem até mais tarde. No Zinga tem supermercado que entre dezembro e fevereiro funciona até de madrugada. Mas ao contrário desse, tem um mercadinho que nunca fecha, mesmo no inverno. Você pode ir lá de manhã, de tarde, de noite e de madrugada – sempre vai estar aberto. Localizado na Rodovia Armando Calil Bulos, ele talvez seja o único mercado 24 horas da cidade – nós, os editores, não conhecemos outro. Coincidentemente, em frente ao mercado 24h do Zinga, tem uma loja de materiais de construção que anuncia funcionar também 24 horas. A proprietária explica que a loja abre em horário comercial, mas há uma campainha que pode ser usada quando a loja está fechada – os proprietários moram em cima e podem acordar para atender o cliente se for preciso.
Gaivota (Larus dominicanus)
Vivem à beira-mar.
Onívoras, comem comida viva ou roubam alimento conforme surja a oportunidade. Nos Ingleses, além de denominar uma parte do bairro e uma de suas principais vias, “gaivotas” é nome também de condomínio, hotel, supermercado e linha de ônibus.
MASCOTES DO ZINGA
Inúmeras personagens povoam este bairro.
Nos Ingleses é comum que estabelecimentos comerciais possuam mascotes, mais comum do que em lojas de shopping em outros bairros da cidade ou do que, por exemplo, no comércio da Madre Benvenuta (avenida que passa pelos bairros Trindade, Santa Mônica e Itacorubi). Nos Ingleses tem mais mascote até do que no Centro, em comparação à quantia de comércios nesses dois lugares.
Mascote é a denominação dada às personagens escolhidas para representarem uma marca, uma empresa ou um evento. Mascotes podem ser figuras humanas ou inumanas. Estas últimas podem ser animais ou objetos antropomorfizados, isto é, com formas e atributos humanos, tal como um novo uso conferido a membros preexistentes – um guepardo a andar sobre duas patas e com luvas nas “mãos” – ou pelo acréscimo de um rosto, membros e personalidade – um botijão de gás com sapatos de cadarço, olhos brilhantes e boca sorridente.
O felino ligeiro Chester Cheetah é a mascote dos salgadinhos Cheetos, da Elma Chips; o Zé Gotinha é a mascote de campanhas nacionais de vacinação infantil; o tatu-bola Fuleco foi a mascote que representou a Copa do Mundo da FIFA de 2014 no Brasil; o nordestino Brasilino é a mascote das Casas Bahia; de catarinense, temos o Kerito, mascote das lojas Koerich, empresa com diversos estabelecimentos pelas cidades do Estado – na capital são quinze lojas Koerich, duas só aqui no Zinga. Em todas essas lojas está o Kerito para receber os clientes, com o seu cabelinho bem penteado e o característico macacão vermelho.
Mascotes são empregadas como “porta-vozes” das marcas, um meio de aproximar e cativar o público que data de longo tempo, desde a Revolução Industrial, segundo nos conta João Calligaris, designer e professor de Design da UDESC que colaborou com a nossa pesquisa. “Aportadas na frente das lojas, geralmente em
tamanhos que se aproximavam à escala humana, ou maiores; serviam como um abre-alas de lojas e marcas, proporcionando um gentil e amistoso acolhimento aos consumidores”, descreve Calligaris.
A elaboração de mascotes integra o ramo do Design Gráfico de criação e desenvolvimento de uma marca. Várias marcas são reconhecidas pelo desenho de seu símbolo ou pelo uso de alguma cor peculiar, afinal consumimos a imagem da marca além dos produtos ou serviços prestados. Um novo símbolo usado sem justificativa ou uma troca repentina de cor nas embalagens podem estranhar e afastar o público, portanto, cada passo de uma marca é estrategicamente elaborado segundo a identidade construída por profissionais.
Atividade que não se restringe ao desenho de um símbolo e à escolha de uma cor, que já não são tarefas simples. Criar uma marca é um processo complexo que envolve uma série de planejamentos, como a definição de um público-alvo, de um tom de voz e de um estilo na comunicação com o público, a qual pode se dar através de páginas em redes sociais online, como o Facebook e o Instagram. Se for conveniente à identidade construída para a marca, na rede social podem ser publicadas informações e atualidades como forma de propaganda. Uma marca apoiar uma causa é interessante quando o seu público é diretamente afetado por tal causa e mudanças abruptas de posicionamento na abordagem dos conteúdos podem afastar parcelas de público.
Caso o profissional responsável por elaborar uma marca decida ser proveitoso o uso de mascotes, devem ser estudadas suas possíveis características, físicas e de personalidade, observando-se quais seriam mais pertinentes à proposta e aos valores da marca. Por isso, conforme as necessidades e intenções de cada marca, além de carismática, uma mascote pode ser atrapalhada, rabugenta, trapaceira, dorminhoca etc.
As personagens na representação e promoção de uma marca podem ser distintamente classificadas. Como personagens-signo, quando estão diretamente vinculados à forma visual, à assinatura da marca, como o senhor Quaker, das caixas de aveia, ou a jovem a carregar baldes de leite da linha de produtos Moça, da Nestlé. Personagens-signo não alteram as suas cores, formatos ou expressão facial e corporal, são estáticos. Quando adquirem certa autonomia, capazes de articular emoções e a própria imagem em distintas possibilidades, são chamadas de “mascotes”. Mascotes podem representar produtos variados de uma marca, como o faz o frango da Sadia, ou apenas uma linha de produtos, como o Bocão, mascote das gelatinas da Royal. Existem ainda os produtos que são personagens consumíveis, como as bolachas recheadas Trakinas. As marcas também podem licenciar personagens já existentes e famosos: o Jotalhão, elefante verde da Turma da Mônica, foi “contratado” para vender extrato de tomate da Knorr.
Nos Ingleses, além das mascotes, personagens que existem autônomos ao símbolo das empresas, muitas das personagens encontradas podem ser classificadas como personagens-signo, porque são a própria assinatura visual da marca e têm uma forma mais estática, sem tanta possibilidade de ser alterada para atender a outros usos – como se mostrar empolgado com um desconto temporário oferecido pela empresa. Para visualizar mais fácil essa diferença, uma amostra é a marca da rede de lanchonetes McDonalds. A letra “M” em amarelo simboliza a marca, é a sua assinatura, já o palhaço Ronald McDonald e a sua turma, são as mascotes.
Contudo, mesmo considerando a classificação de personagens-signo, nos Ingleses tem mais personagens do que no Centro ou em shoppings. Nesses lugares são mais comuns marcas com assinaturas visuais que se utilizam da tipografia – o desenho das letras –, com
composições abstratas e recursos gráficos mínimos. Quando utilizam aspectos figurativos, é mais fácil que tenham um desenho indicando o próprio produto ou serviço: uma padaria que tem como assinatura o desenho de um pão ou de um ramo de trigo ou uma barbearia com uma navalha como símbolo. Nos Ingleses é diferente: um salão de beleza ou barbearia não tem simplesmente uma tipografia requintada ou desenho dos utensílios empregados no serviço em suas placas e fachadas, mas, sim, dispõem de personagens com belas madeixas ou barba bemfeita. Geralmente são silhuetas humanas sem muita possibilidade de figurar em outros suportes, como o mascote dos Cheetos, que apareceu em jogos de videogame, ou o mascote da Koerich, que obteve bonecos e livros com a sua imagem. As moças de belas madeixas no Zinga não estão à frente do salão de beleza e só. No ponto que vende frango assado, vemos um frango contente; no bazar de variedades, uma girafa enternecida, sem qualquer aparente relação com as mercadorias ofertadas. Inúmeras personagens alegremente povoam este bairro. Em outros lugares, para algumas marcas, o uso de mascotes e personagens próprias já não é mais tão recorrente. O cachorrinho estilizado Digby, que foi mascote da marca de vestuário Colcci, há alguns anos já não é mais tão visto. O palhaço do McDonald também não é mais tão popular e para os brindes dos lanches infantis a empresa tem optado por personagens licenciadas, como a Frozen ou os carrinhos da HotWheels.
O designer e professor Calligaris ressalta que, na verdade, as mascotes se adaptaram a formatos mais contemporâneos em detrimento dos formatos tradicionais, que não se trata de um desuso, portanto. Assim temos Magalu, a elegante personagem do Magazine Luiza, uma mulher branca de cabelo curto com corte arrojado que exibe covinhas ao sorrir. Magalu aparece em comerciais televisivos, mas, principalmente, opera no canal interativo da loja online, respondendo a eventuais dúvidas dos clientes. De aparência bastante sofisticada, assemelha-se a uma pessoa de carne e osso, com voz, trejeitos e estilo próprios. Magalu infelizmente já sofreu até assédio sexual pelo público. “Este BrandPersona é um exemplo bem-acabado, onde vemos uma personagem avatarizada em 3D que interage de novas maneiras, sendo uma forma atualizada do que fora outrora o emprego de mascotes para grandes marcas de varejo”, conclui Calligaris. Uma coisa é certa. Para cumprir a sua função de cativar o público e ser uma boa mascote, a personagem deve ser marcante, ter traços fortes e, desse modo, ser facilmente reconhecida e lembrada. Quem não reconhece o tigre laranja, robusto e animado dos flocos de milho açucarados da Kellogg’s, o tigre Tony dos Sucrilhos?! Durante o levantamento das mascotes nos Ingleses encontramos uma figura que tinha de tudo para ser uma boa mascote: simpático, singular e com traços fáceis de memorizar. Ainda assim, quando perguntamos ao atendente da loja se havia outro lugar em que pudéssemos fotografar a boa mascote, já que a sua presença na placa externa da fachada estava muito alta, dificultando o nosso registro, ele sequer lembrou que a loja possuía uma mascote e demorou para entender do que falávamos.
Afora a placa externa, que apresentava o nome do varejo desenhado em letras e cores completamente diferentes do bordado no uniforme do atendente, a mascote não aparecia em mais nada por lá – nenhum ímã de geladeira ou folheto impresso com preços promocionais trazia aquela simpática personagem. Também não tinha nome aquela mascote. Ou, se tinha, o atendente não soube nos dizer qual seria. De toda forma, aquele comércio estava com uma boa clientela para uma terça-feira à tarde...
Mascote de mercado no bairro. A mascote pisca à noite, quando a faixa de led que circunda a figura é acesa.
Contagem das mascotes
O bairro Ingleses é imenso e por aqui a toda hora abre um comércio novo, portanto seria muito difícil uma contagem completa. No entanto, em nossas andanças pudemos contar um total de 54 mascotes. Dessas, 34 são humanas; 15 são inumanas - animais ou objetos com características humanas –; 5 são personagens licenciados –talvez usados sem licença –, Taz-Mania, PapaLéguas, personagens do jogo League of Legends, Homer Simpson em dois estabelecimentos, em um desses, junto de seu filho Bart.
Das 34 humanas, 29 são do gênero masculino, dos quais 27 são brancos, um é negro – em loja de artigos religiosos – e um é asiático. Vale ressaltar a presença de gaúchos entre as mascotes: são cinco, presentes em quatro estabelecimentos (em um deles temos um casal composto por um peão e uma prenda).
AQUI TEM COMIDA BARATA
Alguns dizem que o cachorro-quente surgiu na Alemanha, mas foi nos EUA onde ele foi de fato nomeado “hot dog” e onde ficou popular – o pão com salsicha e mostarda se tornou um símbolo do país. O prato agradou brasileiros também: temos diferentes receitas, com variados complementos, como purê de batata, bacon e queijo ralado. Aqui no Zinga você encontra cachorro-quente duplo (com duas salsichas) por apenas 5 reais.
NDas cinco mascotes do gênero feminino, quatro são brancas e uma é negra.
Além das 54 mascotes, encontramos personagens-signo em mais 76 estabelecimentos comerciais do bairro, que apresentam uma, duas ou mais personagens em cada um deles. Não as caracterizamos como mascotes porque estão diretamente relacionadas ao signo visual das marcas. Nessas encontramos personagens negras do gênero feminino – só uma loja de artigos religiosos possuía três mulheres negras a tocar tambor –; um asiático sushiman; mais dois gaúchos; além de figuras humanas sem cor definida em razão da estilização do desenho para compor uma marca. Entre as personagens – signo nos Ingleses também é recorrente a presença de silhuetas (desenho formado pela sombra): dezoito estabelecimentos se utilizam desse recurso e assim vemos silhuetas de mulheres – como a do brechó da fotografia ao lado –, casais heterossexuais dançantes, rostos humanos, cachorrinhos e cavalos.
Silhueta na fachada de brechó.
Além da entrevista com o professor João Calligaris, foram referências para a matéria os trabalhos “A utilização de personagens e mascotes nas embalagens e sua representação simbólica no ponto-de-venda” de Luiz Claudio Gonçalves Gomes e Alexsandro de Souza Azevedo (Intercom, 2005) e a monografia de graduação em Design Gráfico de Ana Paula Goés intitulada “O design gráfico no desenvolvimento de mascotes: estudo de caso - master agropecuária” (UDESC, 2008).
os Ingleses ninguém passa fome se a grana tá curta! Aqui é muito fácil encontrar opções por preços baixos – por preços justos, na verdade! – e até o mais muquirana dos tacanhos extremos pode se permitir fazer um lanchinho fora de casa às vezes. No Zinga você não precisa escolher se sacia a fome ou a sede: aqui você come, bebe e ainda pode pedir a sobremesa. Por cinco reais ou nem isso. Algumas das opções de comida barata são tão bem preparadas e bem servidas, que podem ser consumidas por gosto e não simplesmente por avareza. Já que na maioria dos bairros da cidade os lanches têm preço mais elevado, conversamos com Rosimere, proprietária da Assados VIP, para saber qual o segredo para manter preços tão baixos. Segundo ela, que vende salgadinhos a partir de 95 centavos (desde que pagos em dinheiro vivo), o segredo está em lucrar na quantidade. Diminui-se a margem de lucro e assim não se ganha na unidade, mas na soma das vendas - até porque, pagando tão pouco, ninguém consegue comer um só. Você pede um pastel e logo quer dois, três… Come quatro e paga o que pagaria por um pastel em outros lugares. A lanchonete Assados VIP funciona há quase oito* meses, antes o estabelecimento vendia apenas frango assado, mas Rosimere, que é natural dos Ingleses, garante que o preço baixo não é mera promoção de lançamento e promete não aumentá-lo com o passar do tempo. Aos fins de semana não tem lanchonete, só carnes assadas porque a equipe da Assados VIP ainda é pequena – além de Rosimere, tem a mãe dela, a Fátima, e o esposo, o Márcio (ambos vindos do Rio Grande do Sul) – e todos trabalham bastante para oferecer comida a preços acessíveis. Lá tem também pastel frito por R$1,25, salgados assados por R$4,75, caldo de cana, bolos doces, pudins e musses. Não é tão barato o pão de queijo, mas também não é caro...
No Zinga tem rodízio de pizza com 25 sabores por R$19,99.
Às segundas, quartas e quintas. Nas sextas, nos sábados, domingos e feriados o preço aumenta três reais, mas também aumentam para 35 as opções de sabores. Duvidamos que tenha rodízio mais barato na cidade!
Mas melhor não comer só lanche. Aproveite os sacolões e feiras do bairro para comprar legumes e frutas por bons preços. A berinjela, por exemplo, ajuda a manter a pele saudável. Já o pêssego tem poucas calorias e combate a constipação.
ZINGA OUTFITTERS
A moda de rua nas lojas do bairro Ingleses.
Outfit, equipamento em tradução literal do inglês, significa na verdade a vestimenta de uma pessoa, incluindo roupa, calçados e acessórios, além de corte ou penteado de cabelo e ainda outros elementos. Outfit é o seu visual, o seu look. E outfitters são geralmente chamados aqueles que se interessam por tendências e marcas famosas.
O termo outfit ficou mais conhecido no ano passado, quando viralizou na internet um vídeo intitulado “Quanto custa o outfit?”, no qual jovens de São Paulo mostram as suas roupas e acessórios dizendo a marca o valor de cada peça. Valores um tanto fora da realidade de grande parcela da população, como um tênis a mais de 6 mil reais. Mas se engana quem pensa que pra ser outfitter precisa gastar grande quantias para acessar as tendências ou que elas estão restritas às grandes cidades. Hoje em dia as novidades se disseminam muito rápido pela internet, quem acompanha fica sabendo de tudo e dispõe de diferentes meios para ir atrás do que está em alta. Pode encontrar na própria internet, em sites brasileiros que comercializam importados da China ou diretamente nos sites chineses. Ou mesmo nas lojas do bairro, que já oferecem às suas clientelas as roupas e acessórios que estão bombando nas redes sociais. Com Marina e Jorge, trendsetters do Norte da Ilha (trendsetter é quem aponta tendências), fomos a algumas lojas de roupas do Zinga saber mais sobre o que está em alta no bairro.
O último grito
Alessandra, que abriu a Alvitre - Moda masculina e feminina em julho de 2019, é uma entusiasta do mundo fashionista. Com foco na moda jovem, sua intenção é trazer tudo que está bombando lá fora para o Zinga. Ela considera que a moda hoje está muito democrática e tem o desejo de ter sua própria marca. No momento o que está vendendo mais são as camisetas masculinas long line, que tem modelagem mais alongada do que a tradicional, mas o “último grito” é a jaqueta holográfica. Como recém abriu seu negócio, ainda tem muitos planos:
quer deixar a loja com cara de rave e já fez parceria com um grafitteiro do bairro que vai fazer um trabalho em uma parede da loja. Para divulgar o negócio, fechou parceria com uma dj da cidade que, segundo Alessandra, está começando a bombar e que vai usar roupas da loja em suas apresentações.
Loja Adrenalina
Chama a atenção a sua fachada pelo paredão de manequins acorrentados que exibem roupas das diferentes marcas vendidas pela loja – Gucci, Supreme, Adidas, Nike, Quicksilver, Oakley e Osklen, entre outras. Também dispõe de grande variedades de camisetas de time, especialmente dos europeus. Só de um clube, o Barcelona, havia diferentes modelos.
Real Madrid e Barcelona
O público da WF Multimarcas, loja que funciona desde junho de 2019 em uma galeria da Rodovia João Gualberto Soares, é em maioria mais jovem, a gurizada a partir de 15 anos, embora também tenha peças infantis e abranja de modo geral todos que curtem roupas esportivas. Diunei, dono do estabelecimento, conta que trabalha com grifes e roupas de marca, que traz de tempos em tempos da cidade de Brusque. O que mais vende são as camisetas de time de futebol, especialmente dos clubes europeus
Real Madrid e Barcelona, que custam entre 100 e 150 reais. Dos clubes nacionais, as mais pedidas são do
Flamengo e do Grêmio.
Apostando no streetwear, manequins de loja local exibem outfits atualmente muito populares no bairro Ingleses. O streetwear é um estilo de roupas que surgiu em meio às culturas do surf, do skate e do hip-hop, e que sofre influência da moda esportiva, da cultura pop e das tribos urbanas.
Loja traz tendências internacionais para as ruas do bairro. Roupas e acessórios holográficos como a jaqueta da manequim à esquerda estão com tudo!
Sem Crise
Com roupas e acessórios masculinos que vão do sport ao casual, o foco da loja são “pessoas estilosas” que curtem a “moda da quebrada”, como define o sócio-proprietário Kelvin. A loja, que antes trabalhava apenas com comércio online, abriu sua unidade física há menos de um ano, depois de muitos pedidos dos clientes locais. Faz parcerias com MCs locais que vestem e divulgam os produtos da loja em suas redes sociais e no rolê, é claro. Um deles é o Mc Kaue, “O Menino Que Não Namora”, que está sendo sempre “braboo” com os kits da Sem Crise. As marcas preferidas de seus clientes são a francesa Lacoste e a estadunidense Tommy Hilfiger, embora disponha de várias outras, inclusive Nike e Oakley, clássicas do Zinga, além da desejada Gucci. Kelvin comenta que no último verão saiu muito dos shorts mauricinho, aqueles mais curtos, e que agora o que mais tem vendido são camisetas básicas e bonés – a partir de R$ 29,90. Ele ainda antecipou para o Jornal do Zinga: Sem Crise vai virar marca!
Elegance - Para todos dos momentos e Belíssima - Moda íntima, fitness e acessórios
“Aqui é estilo piriguete”, diz Ivonete, proprietária das duas lojas no início da Rodovia João Gualberto Soares. Ela conta que seu público principal é das mulheres que curtem balada e que compram nas suas lojas muitas saias e blusinhas cropped Ivonete afirma que não depende do movimento da temporada pois seu público é o pessoal do bairro mesmo.
Novos e brechó
NOTA
A Sem Crise Store foi roubada na madrugada de 13 de novembro. Ladrões quebraram o vidro da fachada da loja e fizeram uma limpa. Levaram tudo.
Funcionando há 7 anos, a Fina Flor, localizada na Rua Intendente João Nunes Vieira, vende roupas masculina e femininas, acessórios e outros itens diversos – peças novas e também usadas. Patrícia, atendente e filha da proprietária, diz que o maior público da loja é de mulheres entre 20 e 50 anos, porque “homem é uma desgraça pra comprar roupa”. Ela comenta que também vende muito para homossexuais, trans e travestis e que esse é o público que mais gosta, pois se diverte muito com a histórias que contam. Lembra especialmente de um homem que entrou na loja e que ela achou que fosse comprar roupa de motoqueiro pois era “um armário” e que acabou levando um vestido de festa.
Moda evangélica
Localizada na Rua Intendente João Nunes Vieira, nas proximidades da sinaleira, a Mary Modas - Moda evangélica é voltada “para o pessoal da igreja”, como afirma Marta, proprietária do estabelecimento. Ela, que é evangélica, define a moda evangélica como uma moda mais comportada. Trabalhando no ramo há 7 anos, Marta mostra que a moda evangélica é uma realidade no Brasil, onde já existem diversas marcas focadas exclusivamente nesse público. O que mais vende na Mary Modas são saias, blusas e vestidos femininos, mas também dispõe de itens masculinos. Na visita à loja nos deparamos com um look masculino com uma charmosa camisa social cor-de-rosa – para ir ao culto com um toque de ousadia.
CABELINHO NA RÉGUA
O corte de cabelo que é tendência nas barbearias do bairro e do país.
Barbearia exibe em sua fachada fotos de variações do corte degradê, com opções de grafismos. Entre os modelos, o craque Cristiano Ronaldo. Jogadores de futebol famosos mudam bastante de visual, e lançam tendências que inspiram muita gente.
Ocabelo é uma forma de expressão pessoal e parte importante do outfit
No Zinga tem gente com cabelos de todos os tipos. Tem cabelo comprido, curto, raspado. Tem cabelo alisado, escovado, desgrenhado e também ondulado, cacheado, crespo. Tem black power, cabelo com dreads, com trança, com grafismos. Tem cabelo longo evangélico, daqueles que não pode cortar. Também tem cabelo loiro comprido de boy surfista e tem boy que descolore e faz luzes. Tem gente que pinta o cabelo por estilo e tem quem pinta para tapar os grisalhos. Tem quem assume os grisalhos. Ainda tem os turistas argentinos e uruguaios que no verão exibem pelo bairro alguns cortes pouco comuns por aqui. Sem esquecer de quem tem pouco ou cabelo nenhum.
Entre os estilos capilares do Zinga, um dos que está mais em voga é o chamado “cabelinho na régua”, tipo de corte que é atualmente um dos mais usados não só aqui, como em todo o Brasil. E para fazer ou manter o cabelinho na régua, expressão que ficou famosa por conta da música “Vamos pra gaiola” do funkeiro MC Kevin O Chris, é preciso ir com frequência às barbearias, estabelecimentos que têm se multiplicado pelo bairro.
Em uma dessas barbearias encontramos Uallace Santos e seu pai Luiz Carlos, que compartilham o ofício e o espaço de trabalho, que funciona há pouco mais de seis meses na Rodovia João Gualberto Soares. Uallace, que trabalha na área há cerca de três anos, conta um pouco sobre o cabelinho na régua: “O corte tendência no momento é o degradê. Alguns chamam o corte de degradê, uns chamam de disfarçado, de fade. É o mesmo corte, só que muda o nome em cada região. Em Floripa é mais degradê”. O corte é caracterizado pelo trabalho com máquina nas laterais e na nuca, começa mais baixo na parte inferior e vai ficando mais alto na medida em que sobe, o que dá o efeito visual de degradê. Fazer o corte dá certo trabalho, pois é preciso usar diferentes pentes na máquina – começa com o pente zero embaixo, na sequência o 1, o 2 etc.
Quanto mais pentes forem usados, mais preciso fica o degradê.
O corte exige manutenção semanal, pois, logo quando começa a crescer, o efeito visual vai se perdendo. “Tem clientes que toda sexta-feira estão aqui”, afirma Uallace. E também para fazer a barba ou o “bigodinho fininho”, outro item importante do outfit: “Se a pessoa quiser usar a barba alinhada e bem feitinha, tem que ir na barbearia uma vez por semana”. Ele diz que os homens estão mais vaidosos hoje em dia: “Os homens já chegaram no nível de vaidade das mulheres. Tem mulher que não está toda semana no salão de beleza, mas muito homem sim, e fazendo sobrancelha, fazendo barba, cortando cabelo”.
A fachada da barbearia de Uallace e Luiz Carlos exibe fotos com alguns modelos de cortes que os clientes podem pedir. Entre eles, além de uma foto do jogador Cristiano Ronaldo, cortes com desenhos e grafismos. Uallace diz que “Desenho sai bastante. Isso começou com as redes sociais, ficou famoso no Facebook e Instagram. O pessoal gosta, acompanha e pede para fazer igual.”
Nas várias horas que passam por dia na barbearia, Uallace e Luiz Carlos lidam diretamente com o público do bairro, com quem conversam sobre uma infinidade de assuntos: sobre o noticiário, futebol, viagens e também sobre o próprio Zinga. Com um de seus clientes, por exemplo, Uallace fica sabendo sobre curiosidades da vida em Nova Iorque. Lá, como relatou o cliente viajante, ele cortava o cabelo com os chineses porque o preço era mais acessível. Luiz Carlos conta que gosta de bater papo com uns rapazes africanos estudantes da UFSC que frequentam a barbearia e falam “um português diferente”. Assim, entre um corte e outro, enquanto cuidam do visual da rapaziada do bairro, conhecem muita gente, fazem amigos e dá tempo até de se divertir com as figuras que aparecem por lá: Uallace diz que de vez em quando aparece até artista, que de repente começa a cantar ou a mandar rima na cadeira do barbeiro.
As fotografias da matéria Zinga Outfitters são de Jorge Ponte.
Casas geminadas como a acima são comuns no bairro. Trata-se de um tipo construção de duas ou mais casas coladas umas às outras e que dividem o lote. São simétricas e compartilham a alvenaria e o telhado, com o mesmo arranjo interno invertido uma à outra.
PLANTAS AMIGAS
Artemísia (Artemisia vulgaris) - Alivia as ondas de calor, estimula a menstruação, melhora o nervosismo, é depurativa e estimulante do fígado.
Cavalinha (Equisetum arvense) - Protege os ossos, é diurética, tônica e revitalizante.
Sálvia (Salvia officinalis) - Estimula o funcionamento dos ovários, regula menstruações, alivia ondas de calor, é digestiva, antidepressiva, anti esgotamento e ajuda a proteger a vagina.
Para devotos de Nossa Senhora Aparecida ou simplesmente para quem aprecia jardins e paisagismo, o altar no início da Servidão Idalino Damásio Fernandes é parada obrigatória. Uma profusão de cores e texturas no jardim composto por variadas espécies: plantas que nascem, crescem e se reproduzem e plantas de plástico – artificiais e naturais igualmente plantadas na grama ou em pedra brita ou, ainda, a dividir espaço em vasos. Flores e folhagens para ornar o cantinho de Nossa Senhora Aparecida. Vale também bater palmas para conhecer a senhora responsável pelo altar, que cuida sozinha de todo esse cultivo, a dona Rosa, a flor mais graciosa do jardim.
EM NOME DE DEUS?
Eu fui crente de uma igreja evangélica por 20 anos de minha vida (tenho 28 hoje). Nesse tempo todo, eu aprendi que “família de verdade” era aquela composta por um homem e uma mulher, que ser LGBT era pecado, perversão, algo nojento. Aprendi que Deus abominava, que a pior coisa que poderia acontecer com um pai, com uma mãe, era ter um filho LGBT. Aprendi que o jeito afeminado de falar, de se vestir, de agir era feio, era motivo de chacota. Considerando que quase 90% do nosso país se entende cristão, não é difícil imaginar que boa parte da população brasileira acaba aprendendo que, pela Bíblia, ser LGBT é algo ruim e errado. Ouvi também que o único sexo justo era o da reprodução e também que era por isso que gays e lésbicas seriam uma espécie de aberração, contra a natureza, pois supostamente não poderiam ter filhos. Apesar de ter aprendido todas essas coisas, o tempo foi passando e fui achando estranho essas pregações. Fiquei pensando que quase todos os casais heterossexuais que conheço, eu sei que não fazem sexo exclusivamente para terem filhos. O que costuma motivar é o desejo, o prazer da relação sexual. Então se é por prazer e não pra “reproduzir” porque tantas dessas pessoas julgam outras que, como elas, também fazem sexo por motivos de desejo e prazer? Por que é algo tão horrível, pra tanta gente, que existam pessoas LGBT? No meu caso, ao longo de toda minha vida, eu aprendi a ter esse desprezo porque me fizeram achar que isso era um pecado. A Bíblia nos diz que existe apenas um Deus, que todos os outros são falsos ou inferiores, que amar outros deuses é ofensa ao Senhor, é traí-lo. Sei que há muitos cristãos que hoje não pensam dessa forma, mas se não for o seu caso, peço que pense comigo: sei que pode ser difícil, mas a Bíblia é apenas um dos livros sagrados. Jesus é o deus de uma religião, o cristianismo. Existem muitas outras, existe quem inclusive não acredita em Deus nenhum e tudo bem. Se você conseguir reconhecer que há muitas formas de crença e não apenas uma, você já pode, como aconteceu comigo, compreender que querer impor sua visão do que é certo ou errado, pecado ou não etc. a outras pessoas é uma violência, mesmo que você ache que está fazendo o bem. É uma violência achar que ser LGBT é algo novo. A própria Bíblia, que tem mais de dois mil anos, já nos menciona. Então não somos uma moda de agora, existimos desde
sempre e vamos existir para sempre, enquanto houver humanos neste planeta. Resta, diante disso, perguntar-se: quero ser uma pessoa que usa da fé, do que aprendi na infância etc. para justificar meu preconceito? Quero continuar fazendo parte das pessoas que todos os dias humilham, expulsam, agridem (psicológica ou fisicamente) pessoas LGBT? Ou quero mudar minhas ações, me abrir ao aprendizado e buscar uma convivência respeitosa com as pessoas da minha família, do meu bairro, do meu país? Conheço poucas pessoas que dizem: sim, eu sou homofóbico. A maior parte da nossa população diz que não é racista, nem homofóbico e nem machista. Muitos acham que esses assuntos são exagero. Ao mesmo tempo, nosso país é o que mais mata pessoas LGBT do mundo (especialmente pessoas trans). Além disso, essa população vive uma série de outras violências físicas e psicológicas cotidianamente. Se você não se vê como uma pessoa homofóbica, racista, mas vê homofobia, machismo, racismo nos grupos do Zap e não diz nada, se aquele tio faz comentários no almoço contra pessoas LGBT e você fica em silêncio ou (finge que) acha graça... Se você não contrata pessoas trans, se seu círculo de amizade e familiar não é um espaço em que pessoas LGBT se sintam confortáveis para estar, então você também faz parte do cenário de violência. O ódio e o preconceito fazem a gente ver quem odiamos como menos humanos, como menos filhos de Deus, como se fosse uma “criatura”. Só assim é possível praticar violências psicológicas e físicas sem remorso, achando que estamos fazendo o certo. Essa desumanização faz com que muitas pessoas não só não lamentem, mas comemorem o extermínio de pessoas trans e travestis. Repense quem você acha que é humano e o que você se diz pra se convencer de que é ok humilhar, expor, agredir mulheres, pessoas LGBT, pessoas negras, indígenas. (Dica: nada justifica!). Pra você, LGBT, que me lê, quero te lembrar que somos uma multidão. Que existimos desde sempre e para sempre existiremos. Que não há Deus, não há família, não há ciência nem nenhum tipo de discurso que irá conseguir nos apagar. Não tem nada de errado em ser o que somos, não há do que sentir culpa ou vergonha. Apoie sua comunidade, fortaleça os seus e levante a cabeça que senão a coroa cai.
Geni Núñez é ativista nos movimentos indígena, feminista e LGBT. Mestre em Psicologia Social e Doutoranda pela UFSC. Reside há dezessete anos no bairro Ingleses, onde também atua como secretária da empresa de transportes de sua família, a Mudanças Longhini - responsável por trazer para Florianópolis a mobília de muitas famílias vindas de outras regiões do país. Os caminhoneiros da empresa são seu pai, Val Longhini, e sua irmã, Looren Danna, dois apaixonados pela estrada e pelo que fazem. Seja para carregar um simples sofá, ou seja para levar uma cristaleira e um piano de calda do século XIX, eles garantem o máximo cuidado e responsabilidade para o transporte de bens de quem os contrata.
“TRANSFOBIA
É CRIME JENNIFER TEM VOZ!”
Essa frase que foi pichada na calçada em frente às ruínas do Caravelas Praia Shopping, na SC-403. A ação fazia parte do protesto realizado em março de 2017, dois dias após a transexual Jennifer do Santinho ter sido encontrada morta em uma construção na Servidão Paraíso dos Ingleses. O assassino, que se encontra preso desde 2017, foi condenado em novembro de 2018 a uma pena de 12 anos de prisão em regime fechado. O desfecho do caso do assassinato de Jennifer é uma exceção, pois a maioria desse tipo de crime não é devidamente investigada e os culpados não são julgados e punidos.
LEI ANTITRANSFOBIA
O Supremo Tribunal Federal decidiu no último mês de junho pela criminalização da homofobia e da transfobia, enquadrando esse tipo de prática na Lei 7.716/2018, que prevê a punição dos “crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Em caso de homicídio doloso, a homofobia e transfobia constituem circunstâncias que qualificam o crime, por configurar motivo torpe. A maioria dos ministros tomou a decisão que é aplicada na ausência de matéria legislativa sobre o tema e a justificou a partir da demora do Congresso Nacional para incriminar atos atentatórios a direitos fundamentais de pessoas LGBT.
Coluna da Geni
Altar da Dona Rosa
E aí, feio?!
Conheça as gírias utilzadas no bairro Ingleses.
Écomum que compilações de gírias e expressões usadas em Florianópolis apresentem as tradicionais expressões “manés”, com forte influência açoriana. Mas as que são usadas no bairro hoje vão além dessas primeiras – até porque muita gente vem de fora para morar aqui e traz junto seu modo de falar. “Feio”, por exemplo, é uma gíria que se ouve com frequência por aqui, muitas vezes na versão abreviada “fei”. “Feio” ou “fei” equivale a “cara”, “mano”, “amigo” e a tantas outras expressões utilizadas para se dirigir a alguém. Já as meninas são chamadas de “feia”. Para reunir algumas gírias faladas atualmente no Zinga e seus significados, pedimos ajuda aos alunos do terceiro ano do ensino médio da Escola Intendente José Fernandes.
“És um monxxtro” = Arrasou
“Dale” = Boa!
“Tão feio” = E aí, amigo
“Dá um 10” = Espera um pouco, se acalma
“Me apoia um gudanzin” = Me dá um cigarro
“Qual foi guerreiro?” = O que foi?
“Um baita” = Muito legal
“Tu dix?” = É sério?
“Te liga jow” = Fica esperto
“Cola no rolê” = Aparece na festa
“Bora tomar um bira” = Vamos tomar cerveja
“Brota feio” = Vem pra cá
“Chaato” = Estiloso
“Taix um baita!” = Tá bonita, bonito
“Dá um 2” = Me dá dois tragos
“Taix tolo?” = Tá maluco?
“Gole” = Bebida
“Massinha” = Ervinha
“Noix” = Nós
“Novax” = Que novidade!
DISPUTA POR TERRITÓRIO
Uma solução tática para quem não tem grana para contratar uma agência de publicidade ou grandes suportes para propaganda (como um outdoor em rodovias movimentadas, um anúncio na televisão ou um espaço em jornal de alta tiragem) é a colagem massiva de cartazes pelas ruas, em postes, pontos de ônibus e alguns muros ou tapumes. Quanto mais cartazes colados, maior o público a visualizar o anúncio do produto ou do serviço oferecido. São conhecidos em grandes cidades cartazes a anunciar serviços de vidência, jogos para consultas espirituais e feitiços por encomenda. Quem nunca viu um cartaz prometendo trazer de volta a pessoa amada – inclusive em poucos dias? No Zinga viase, impressos em vermelho, cartazes de cartomantes que também jogava búzios e realizava outros tipos de trabalhos mágicos para fins diversos. Até que começaram a ser colados, por cima dos vermelhos, cartazes bastante parecidos, mas impressos em tinta azul. Os azuis anunciavam praticamente o mesmo serviço em letras com desenho e diagramação similar. Pensamos que quem os colou fosse a mesma pessoa dos vermelhos, que talvez tenha trocado o número de telefone e precisou atualizar. Mas os azuis a cobrir os vermelhos foram rasgados e riscados quando a cola não permitiu que fossem arrancados, então entendemos se tratar de uma disputa por espaço e pela clientela.
“Tenx brasa negão?” = Tem isqueiro?
“Tenx gudanzin?” = Tem cigarro?
“Bote” = Pedir para alguém pagar algo: “bote um gole pra noix”
“Baia” = Casa
“Social” = Festinha com amigos e amigos dos amigos
“Resenha” = Reunião de amigos na casa de alguém, esquenta
“Fluxo” = Festinha na rua, rolê em algum espaço público. Também é usado para dizer que algo está muito bom, legal: “esse jornal tá o fluxo”
“But” = Tênis
“F1” = Fumar um
“Vou de jega” = Vou dormir (por extensão, pode significar “vou ficar em casa”, quando se recusa o convite pro rolê)
“Peita” = Camiseta
“Tu visse?” = Tu viu?
“Arreganho” = Brincadeira
“Mazanza” = Abobado, tolo
“Boca mole” = Pessoa muito trouxa
VIDAS NEGRAS IMPORTAM
Na tarde de 18 de abril deste ano, dois policiais militares encapuzados com balaclavas (toucas utlizadas para ocultar a identidade de seus portadores) assassinaram à queima roupa o jovem Vitor Henrique Xavier Silva Santos, 19 anos, na Servidão Netuno. Vitor brincava no pátio de casa com uma arma de airsoft atirando em latinhas. A arma de brinquedo possuía uma ponta laranja que a diferenciava de uma arma de fogo, o que deveria ser facilmente percebido por profissionais treinados. Os policiais dispararam cinco tiros, os quais, além de atingir o jovem, ficaram marcados no muro e no portão da casa onde ele vivia com sua família, de origem baiana. Os policiais alegaram que a abordagem foi anunciada e que Vitor teria apontado a arma para eles, o que foi desmentido por testemunhas. Em agosto, os policiais Guilherme Palhano e Hérbert Rezende viraram réus acusados de homicídio doloso, isto é, quando há a intenção de matar. Os assassinos respondem em liberdade e não há data marcada para o julgamento. A violência contra a população negra é uma dura realidade no Brasil. Segundo dados do último Atlas da Violência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em 2017, negros foram 75,5% das mais de 65 mil pessoas assassinadas no país. Ano passado, Rodrigo Alexandre da Silva Serrano foi assasinado no Rio de Janeiro porque policiais confundiram o guarda-chuva que ele carregava com um fuzil.
IEMANJÁ PRETA
Orixá – divindade africana – conhecida como a rainha do mar. Cultuada na Umbanda, no Candomblé e em outros cultos afro-brasileiros. Na Praia dos Ingleses há mais de uma imagem de Iemanjá, onde devotos acendem velas e fazem oferendas. Em ambas as imagens da praia, Iemanjá aparece com a pele branca, entretanto, existem diversas outras representações dessa orixá, como esta garimpada da internet
POESIA MATA
O alto do Monte Atlântico é triste
É masmorra na qual me guardo
Minha casa é construída no casco de meus antepassados
Sempre escura durante as noites
Nos dias de verão muito quente e abafada
As nuvens brancas do céu nublado cegam os sensíveis e despreparados
O meu quarto me agarra em seus braços, mas eu corro para minha liberdade
Ele que queria meu coração, já não mais o terá
O Monte Alto suga meu sangue, chupa meu ar
O sol, quem diria, não era indiferente, mas gritava no céu
Meu berro é recíproco
O amor está em todo lugar
Nessa tarde suicida de esportes radicais
Asas-delta furadas
Standup paddles em lamaçais
Eu pulei da janela do meu quarto em direção às pedras do Monte Elefante
Usei shorts
Me tornei paquiderme
Sou da natureza distante
Que mané tristeza
Que mané agonia
Sou uma baleia visitante da Ilha da Magia
Eu me esbaldo de água salgada
Eu subo o Monte Baleia
Eu sou uma piranha safada
Eu sou um animal da areia
Eu olho para o monte abaixo
Nós temos duzentos metros de queda sólida e muito seca
Para cima uns trezentos metros rarefeitos
E no meio o budismo ao qual não dou a buceta
Eu subo como os anjos querubins
Até a altura em que eu possa me atirar como um demônio caído
Eu sou uma estrela cadente
Sou um meteoro chinfrim
Olhando do alto, eu percebo a presença de todos aqueles turistas
Uruguaios, argentinos, paraguaios e maravilhosos surfistas
Esperando para segurar meus peitinhos e beijar minha boca solitária
Estou cheio de vontade de cumprir minha humanidade
Já não sou mais prisioneiro da montanha
Já não sou mais uma baleia pária
Quem é aquele lindo miçangueiro de barba fedida vendendo sua arte?
Minha companhia praiana?
O fornecedor do meu sushi?
O maior mamífero dos mares?
Quem me dera lamber sebo cetáceo!
Como a areia está quente nesse verão
Queima meus pés como uma bruxa
Lambe meu sovaco e me faz rir.
Quantos argentinos cuspirão na minha boca hoje à noite?
Quantos uruguaios me fornecerão maconha e eu recusarei?
Um rapaz de nacionalidade duvidosa se aproxima e diz:
– Machucou?
– Por quê?
– Te vi caindo do céu.
Me causou uma ereção
Ri sem graça do rapaz com cabelo de menina
Eu sabia que ele me queria
A INVENÇÃO DO BANHO DE MAR
Depois de longos períodos de chuva na ilha, quando de um dia ensolarado tem gente que não pensa duas vezes: prefere ir à praia a aproveitar a chegada do sol para lavar roupa. E muitos turistas aguardam ansiosamente pelos meses de verão para, enfim, visitarem a praia e se refrescarem nas águas do mar. Mas nem sempre foi assim.
Em “Castelos de Areia”, pesquisa da historiadora Suzana Bitencourt sobre o turismo de litoral em Florianópolis, um antigo morador da praia de Canasvieiras, em entrevista concedida no começo dos anos 2000 conta que “o mar era só pra pescar, não tinha um pé de pessoa”. Então, nos dias quentes, não se via toda a gente que hoje vemos nas praias, mas era o que gado que ia para água, por causa dos bichos, para espantar mosca.
O banho de mar, antes da exploração econômica do potencial turístico do litoral, não era uma prática massiva, entendida como natural e recreativa das pessoas.
Em Florianópolis, o banho de mar já foi até mesmo proibido segundo o Código de Posturas Municipal. Tanto, que o tal Esteves Junior que posteriormente recebeu nome de rua na cidade, foi preso quando jovem por desafiar essa lei e mergulhar nas águas da atual avenida Beira-Mar – mais ou menos na altura onde desemboca a rua que hoje tem o seu nome. O rapaz havia morado no Rio de Janeiro, quando a capital fluminense era também capital do país, e lá o banho de mar já estava sendo praticado sem maiores problemas.
Embora desde o século XVIII o banho de mar tenha sido estimulado por médicos europeus para propósitos terapêuticos, como recreação a prática, como só começou a ser difundida pelo Brasil em meados do século XX. Por isso as casas coloniais à beira do mar eram construídas com os fundos para a praia, visto que luxo não era ter a vista
Mas e se fosse só pantomima?
Ele me perguntou de onde eu era
Eu respondi:sou de Goiás
Eu estava apaixonado
Ele perguntou se eu não aceitaria acompanhálo aquela noite
Meu coração acelerou
Eu disse que sim e falei que o que mais queria era terminar aquela noite transando
Nos sentamos na areia para ver o pôr-do-sol enquanto nos beijávamos
Dentro de sua cueca, eu coloquei a mão
Ele segurou meu braço e disse:
“Estou muito pentelhudo”
Eu argumentei:
– Por favor, me engula com seus pentelhos, meu argentino
– Eu não sou argentino. – ele retrucou
– Me engula com seus pentelhos, meu uruguaio
– Eu não sou uruguaio. – ele prosseguiu
– Me engula com seus pentelhos, meu paraguaio
– Eu não sou...
Eu o interrompi colocando meus dedos dentro de sua boca
“Apenas me engula”, eu disse
Seus pelos começaram a crescer como uma anêmona do mar
Se tornaram tão amplos e densos como a Mata Atlântica
Foi naquele momento que eu percebi que ele só podia ser um mané
Um grandioso, único, gigantesco e estupendo mané
M.M. é timidérrimo, já esteve em Floripa algumas vezes e seu maior sonho é ir embora de onde quer que seja.
para o mar – afinal, nem havia os olhares direcionados a contemplar a paisagem – luxo era poder jogar o esgoto direto na água. Assim, estão poluídas as águas que passam pelo “estreito” entre a ilha e o continente e banham o centro da cidade, uma área ocupada desde tempos remotos. Tal poluição diz respeito ao fato de que não foi uma preocupação dos primeiros habitantes preservar a balneabilidade do mar, já que não se tomava banho lá.
Com o tempo a coleta de esgoto foi se modernizando. Primeiro simplesmente alteraram o horário do despejo de esgoto na água: só a noite é que as pessoas escravizadas deveriam levar, carregados em um barril que levavam sobre a cabeça, os dejetos dos ricos para serem jogados no mar. Com a modernização e o consequente certo enriquecimento da cidade, os comerciantes do centro da cidade decidiram adquirir casas de campo para veraneio. As primeiras foram na região da Agronômica, quando o banho de mar começou a ser mais praticado e a lei começou a ser afrouxada.
Quando o banho do mar entrou realmente no gosto do povo mesmo, a lei não tinha mais condições de impedi-lo. Os acessos ao Norte e Sul da ilha ainda eram difícil – se hoje já é um problema chegar até a praia em um dia de sol, imagina quando sequer havia estrada. Então o governo, com a capital do Estado depois de anos apenas situada na ilha, se mostrou preocupado em “aumentar as terras” da cidade de Florianópolis e decidiu anexar à capital insular uma porção continental, onde foram construídas casas de veraneio para quem tinha dinheiro. Nas praias do bairro continental Coqueiros, atualmente impróprias para banho, ainda existem alguns resquícios dessa época, visíveis em ruínas de estrutura construída para aproveitar essa prática, escorregadores e trampolins dentro do mar.
FIM DA UMIDADE NOS ARMÁRIOS Coloque cânfora nas prateleiras e gavetas e verá logo que seu armário se conservará sequinho da silva. As roupas não irão mais embolorar. Agora, se você tem um armário que nunca pega sol, o bom é colocar no seu interior um pires com um pouco de cal viva, que absorverá toda a umidade.
Peixe-espada (Trichiurus lepturus)
De corpo alongado, cor prateada com reflexos metálicos e dentes afiados, o peixe-espada vive no fundo do mar.
Apresenta em média 1 metro de comprimento e 900 gramas de peso. Sua carne é saborosa e muito apreciada, principalmente se consumida em filés. Oferece aos seus consumidores vitamina B1 ou tiamina, que aumenta a disposição. É comum apresentar alto nível de mercúrio, por isso é necessário conhecer sua origem para prevenir contaminações.
M.M.
ZINGA NIGHTS
Barzinho, luau na praia, fluxo ou resenha lá em casa. Confira algumas dicas para curtir a noite no bairro Ingleses.
Muita gente fala que não tem nada para fazer nos Ingleses. Um adolescente com quem conversamos disse que a melhor coisa para fazer no bairro é pegar um ônibus e ir para o Centro. Mesmo sem os bares jovens da Trindade, Santa Mônica ou Centro, sem as badaladas baladas de Jurerê e com pouquíssimos espaços públicos de convivência, tem rolê no Zinga, sim! E as opções vão além dos bares e restaurantes com música ao vivo do Centrinho. No Zinga tem balada LGBT, boliche, pub temático, baile de idosos. Bailão gaúcho, sertanejo, pagode, forró, funk, rock, rap, reggae e gospel.
Jovens moradores do bairro, com sua típica vontade de dar rolê e conhecer pessoas, se queixam da carência de opções de lazer no Zinga: tem gente que não quer ou não tem dinheiro para ir a bares, pubs e clubes. Esse público movimenta os fluxos do bairro, que vão de luaus na praia à bailinho funk no estacionamento na frente de lojas da SC403 – durante à noite, com o comércio já fechado. Recentemente um desses comércios, incomodado com o barulho, com o lixo que supostamente se acumulava e com o nome da loja sendo relacionado ao rolê de adolescentes, decidiu fechar o seu estacionamento com grades, impedindo o acesso noturno ao espaço.
Esses rolês no bairro são chamados de “fluxos”. Uma de suas características é a mobilidade. Se em um lugar não tá legal ou se são proibidos de permanecerem no local, os “fluxos” se deslocam para outro lugar.
Mantimentos noturnos são garantidos pelas tantas distribuidoras de bebidas do bairro que funcionam até tarde nos fins de semana – às vezes as imediações das próprias distribuidoras viram lugar de encontro, embora muitas coloquem avisos que proíbem o consumo das bebidas no local. O som vem dos autofalantes do carro de alguém ou das caixinhas bluetooth.
Estacionamento de loja, deck na praia, rótulas… Até abrigo de parada de ônibus serve como lugar para uma social. Os vários rolezeiros entre os alunos do terceiro ano do ensino médio da Escola Intendente José Fernandes deram dicas do que fazer à noite no bairro, que o Jornal do Zinga apresenta para você:
Rap de segunda
Segunda-feira é dia de batalha de rap no Santinho. Pode “colar” que as rimas aqui são de primeira
T
oda segunda-feira à noite rola a Batalha da Lomba do Santinho. Para as sessões de versos improvisados se reúnem rimadores não só daqui, mas que vêm de outros lugares da Ilha e da Grande Florianópolis. A equipe do Jornal do Zinga acompanhou o encontro de 8 de julho. Mesmo naquela noite de inverno à beira do mar, a galera foi chegando aos poucos, com seus típicos bonés, toucas, moletons com capuz e calças largas para se proteger do frio e fazer estilo também.
O evento foi idealizado por Limão, Leon e Biel, que começaram a organizar o movimento. Mas a organização é aberta e coletiva, se em certa semana alguém não pode por determinado compromisso, outra pessoa disposta pode assumir para que a Batalha aconteça. Como os organizadores definem, a “Batalha é um movimento que tem o objetivo de expandir a cultura urbana e a interação saudável entre pessoas de diversas idades e gêneros”. Tinha até um rapper de “quase dez anos” – como ele mesmo disse ao corrigir a sua idade –, o Vento (nome usado nas apresentações), que já estava lá pontualmente no horário esperando o
Na primeira entrada da Rua das Gaivotas para a Praia dos Ingleses tem um altar com uma imagem de Iemanjá. Ao lado, fica o Restaurante Mar de Iemanjá, uma espécie de quiosque de praia só funciona durante a temporada de verão. Na parte da frente do estabelecimento, há um telhado, que funciona de abrigo e ponto de encontro. Sempre tem alguém por lá. Pode ser que você encontre um fluxo.
Por extensão do movimento na Iemanjá, às vezes junta uma galerinha na rótula das ruas das Gaivotas e Dante de Patta.
Estrutura de madeira com alguns bancos instalada na última entrada para a praia na Rua das Gaivotas. Para curtir em um lugar mais afastado. Local de cruising
Rolê em posto tem em muitos lugares. No Zinga, às vezes rola fluxo na frente do posto Shell do Centrinho.
Distribuidoras de bebidas são lugares de passagem obrigatória para se abastecer para o fluxo, garantir o gudazin e o kit (geralmente o combo de vodka ou uísque e energético). São muitas e estão espalhadas por todo o bairro – algumas funcionam até tarde. Apesar de, na maioria dos casos, não permitirem o consumo de bebidas alcoólicas no local, como têm muito movimento, não é difícil encontrar um burburinho na frente desses estabelecimentos.
pessoal chegar. Vento mora nas redondezas e disse “não ir muito pro Zinga”. Apesar de Santinho integrar o bairro Ingleses, para o menino, “do portal pra lá é Zinga, aqui é Santinho”, como se fossem bairros distintos.
A programação do evento é dividida entre duas batalhas, a de Sangue e a de Conhecimento, além de eventuais declamações com temática livre. A Batalha de Sangue é um duelo, uma briga sem dó com foco no ataque ao outro competidor. É para entrar com sangue nos olhos mesmo, mas certamente ofensas preconceituosas não garantem um prêmio. Já na Batalha de Conhecimento os participantes têm que improvisar as rimas sobre algum tema sorteado.
Naquela noite, entre os temas teve: intolerância religiosa; manipulação da informação; aristocracia (os participantes ficaram em dúvida quanto a esse tema, por isso Biel apresentou ao microfone uma breve definição encontrada na internet); inclusão; “artes visual” (talvez um deboche à equipe do Jornal, relacionada ao departamento de Artes Visuais da UDESC); sistema; o que te motiva; 2ª Guerra Mundial; respeito; bituca é lixo (Vento que, no meio da noite alterou seu codinome para “Panda” pois usava um gorro com cabeça de urso panda, queixou-se: “sempre esse tema, eles não aprendem”); cocaína no avião da FAB (no final de junho deste ano um militar foi preso
Resenha lá em casa
Clássico das noites de verão, mas rola o ano inteiro, tanto na Praia dos Ingleses como na Praia do Santinho. É só acender a fogueira que a galera aparece – é preciso ter cuidado para apagar o fogo e as brasas com água antes ir embora, não basta apenas tapar com areia. Se quiser, pode levar o violão ou mesmo a caixinha bluetooth. Uma larica sempre cai bem e, no inverno, é bom lembrar de ir bem agasalhado, por causa do vento frio na praia.
No Deckk’s Pub você pode tomar um chope e curtir shows de pagode, rap, funk ou sertanejo. Fica na Rua Intendente João Nunes Vieira, na altura da Dario Manoel Cardoso.
BrewPub na Rodovia Armando Calil Bulos com produção própria de cerveja e apresentações musicais.
Na falta de praças e espaços públicos adequados para a convivência da comunidade, muitos jovens ocupam nos rolês noturnos os estacionamentos de lojas, quando essas estão fechadas, especialmente na Rodovia Armando Calil Bulos. O bazar China Brasil era um desses lugares e um dos de maior movimento, mas, recentemente, mandaram fechar o estacionamento com grades para impedir o acesso à noite.
Econômica.
com o ou a crush
Lancheria com torre de chope e música ao vivo no Centrinho. Tem gente que precisa ficar em casa e dormir, pois acorda cedo no outro dia para trabalhar.
No Centrinho está concentrada a maioria dos restaurantes e bares do bairro, mas alguns funcionam só no verão. Na entrada principal da praia geralmente tem algum movimento.
Uma opção barata.
na Espanha com 39kg de cocaína em sua bagagem pessoal que levava no avião da Força
Aérea Brasileira em viagem oficial da Presidência da República); e o sinestésico “qual o tom da cor do som?”. Os temas a serem sorteados em cada duelo são previamente definidos, escolhidos entre os participantes – os que participam competindo e os que participam da plateia, entoando rimas coletivas na torcida, tais como: “Na Batalha do Santinho vai rolar um argumento/o que é que vocês querem? / Conhecimento! / Ensina ele / Ensina ele / Ensina ele”. Naquela noite fria no Santinho participa-
A folha onde são registrados os resultados da batalha com letras estilizadas vira o troféu do vencedor.
ram rappers locais como CRC, Lipe, Obayeni e Lie, esta a única “mina” a se apresentar –dessa vez elas estavam mais na torcida (no Centro da cidade, às sextas, rola a Batalha das Mina). Os duelos são realizados em fases eliminatórias até chegar na semifinal e na final. Ademais, são acompanhados por desenhistas que vão registrando no papel o resultado, em letras estilizadas. Ao final, esse registro serve como uma espécie de troféu que é entregue ao vencedor. Além disso, quem ganha também recebe um prêmio que os organizadores às vezes descolam com um apoiador. Quando visitamos, o prêmio foi o livreto de poesias “Brisas em Versos - vidas rimadas”, da Alice Lie. A Batalha acontece no deck da entrada principal da Praia do Santinho –quando chove o evento é transferido para outro local, informado nas redes sociais. Para chegar lá, dá para pegar o ônibus da linha 264 - Ingleses, desembarcar no ponto final e descer a lomba em direção ao mar. A Batalha é uma divertida programação para segundas à noite, mas os apresentadores mandam a letra: “batalha não é rolê!”, para lembrar que o objetivo principal não é beber e curtir com a galera, mas apreciar o rap dos artistas que vão se apresentar no evento. Para saber mais sobre a Batalha do Santinho é só seguir o Instagram @batalhadosantinho.
Só vai.
Bar com sinuca no início da Rua do Marisco, em frente à Caixa
De repente rola até um banho de mar noturno. Quando tem lua cheia é uma delícia!
Pode ser uma opção segura e econômica. Melhor se estiver com a galera ou
PARA LER OUVINDO
1. Nome do rio que deságua na Praia dos Ingleses e que se encontra poluído.
2. Peixe facilmente encontrado entre os meses de junho a setembro na região das Ilhas Moleques do Norte.
3. Árvore muito comum na Ilha. Seu fruto é apreciado para fazer doces.
4. Tipo de comércio comum nas ruas das grandes cidades e muito presente nos Ingleses, principalmente na temporada.
5. Nome do corte de cabelo mais popular no Zinga.
6. Vegetação de praia que desempenha um importante papel de fixar a areia e dunas e, assim, impedir a erosão das praias.
7. Maior ilha avistada da Praia dos Ingleses. Possui uma importante fauna marinha.
8. Conhecida praia do norte da Ilha, principalmente pela presença de um enorme resort de luxo construído no costão direito.
BALNEABILIDADE
Balneabilidade é a capacidade que um local tem de possibilitar o banho e atividades esportivas em suas águas, ou seja, está relacionada à qualidade das águas. Quem frequenta as praias dos Ingleses e do Santinho conta com o monitoramento da qualidade da água do mar para o banho. O serviço é realizado desde 1976, inicialmente pela extinta Fundação do Meio Ambiente (FATMA) e hoje pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA).
O monitoramento é feito por meio de pesquisa que analisa as águas de cada balneário e verifica se estão próprias ou impróprias para banho. Ou seja, se estão ou não contaminadas por esgotos domésticos, o que é determinado por meio da contagem de uma bactéria presente nas fezes humanas e que pode colocar em risco a saúde de quem entra em contato com ela. Na Praia dos Ingleses são analisadas amostras de sete pontos. Na verificação de 18 de novembro, a última antes do fechamento desta matéria, dois deles eram considerados impróprios para banho, o que fica em frente à Rua Dante de Patta e o localizado na foz do Rio Capivari – enquanto o primeiro estava próprio para banho desde fevereiro, o segundo é recorrentemente apontado como impróprio, tendo permanecido assim numa sequência de 14 análises entre o início de 2019 e o mês de abril. Os outros pontos foram todos considerados
próprios nas últimas cinco coletas, exceto o que fica em frente à rua do Siri, que, agora balneável, foi considerado impróprio em outras três coletas recentes – em agosto, outubro e novembro. Na Praia do Santinho a coleta é feita em apenas um ponto, a 200 metros à esquerda do costão sul, que foi considerado próprio em todas as últimas amostragens. A pesquisa de balneabilidade tem como principais finalidades informar a população sobre a situação das praias, visando a prevenção e a saúde pública, além de identificar os pontos críticos para a tomada de soluções por parte das administrações municipais, que são responsáveis pela questão do saneamento. Os dados do monitoramento são disponibilizados pelo IMA na internet no endereço: balneabilidade.ima.sc.gov.br
DESAPARECIDA
A gatinha Arya desapareceu dia 8 de julho, no Sítio de Baixo, na Servidão Abelardo Manoel do Santos. Sua dona Jenipher, que à época do sumiço espalhou cartazes de busca pela vizinhança, conta que Arya tinha quase 4 meses e estava em período de vacinação, por isso ainda não tinha sido castrada. “No dia em que sumiu, estava sem identificação. Ela era mui-
to dócil e mansinha, mas meio desconfiada. Era medrosa, mas depois que confiava, era muito tranquila pra receber carinho e mimos. Apesar de ser filhotinha, não era muito agitada e de ficar arranhando e mordendo como geralmente os filhotinhos são. Ela era bem tontinha também, meio desastrada, por isso acho que ela tenha se perdido na inocência. Não sei se foi o primeiro
cio ou algo assim. O veterinário havia garantido que dava tempo de fazer as vacinas antes de castrar. Acredito que, se alguém a encontrou, possa ter adotado. Ela era muito pequena também e branquinha, rolava na areia do terreno vizinho e vivia com aspecto de gato de rua, mas era só porque eu não dava conta de dar tanto banho nela”, lembra Jenipher.
O que você publicaria em um outdoor no Zinga ou na SC-401?
Outdoor é um painel de divulgação publicitária de grandes dimensões disposto em locais de alta visibilidade, como à beira de rodovias ou nas empenas de edifícios. Proibidos na cidade de São Paulo pela “Lei Cidade Limpa”, eles são bastante presentes em Florianópolis – no Norte da Ilha são muitos nas rodovias SC-401 (a mais movimentada de Santa Catarina) e SC-403. Como se não bastasse tanta publicidade nas ruas, aqui nos Ingleses a quantidade de outdoors está aumentando. Mas e você, o que publicaria em um painel desses se pudesse? O espaço acima está aberto para você se expressar.
Você irá encontrar ao longo do jornal as informações para resolver o jogo abaixo.
- Sai da praia do Santinho e vai até a praia do Forte em Jurerê passando pela Cachoeira do Bom Jesus, Canasvieiras, Canajurê, Jurerê Tradicional e Jurerê Internacional. Essa linha é bastante utilizada por quem mora nos Ingleses e trabalha em Jurerê. Dias úteis
296 - Circular Santinho Ingleses - Como é uma linha escolar, só funciona em dia de semana. Sai do Santinho, passa pelas escolas Maria Tomázia Coelho e Gentil Mathias da Silva, e segue pela Rua Intendente João Nunes Vieira até a Estrada Dario Manoel Cardoso. Depois entra na Rodovia João Gualberto Soares, passa pela Escola Intendente José Fernandes e segue até o ponto final na Rua Três Marias, em frente à Escola Herondina Medeiros Zeferino.
Ônibus da linha 1121 - Ingleses/Santinho. Tem aqueles dias em que você se dá ao luxo de pegar um amarelhinho (ônibus do transporte seletivo), e ir até seu destino sem ter que parar no TICAN para fazer baldeação – o que sempre toma um tempo. Mas doi no bolso, porque a passagem do transporte coletivo de longa distância custa R$ 9,45, ou seja, é mais cara que o valor da soma de ida e volta no transporte coletivo convencional.
200 - Madrugadão Norte
Dias úteis
Saída Santinho
03:40E
Saída TICEN - Plataforma C
00:50 01:35E
Sábados
Saída Santinho
03:40E
Saída TICEN - Plataforma C
01:35E
Domingos e feriados
Saída Santinho
03:40E
Saída TICEN - Plataforma C
00:45E 01:34E
- Para ir à Lagoa tem duas opções, o 840 e o 850.
Demora e no verão os ônibus estão quase sempre lotados, mas as paisagens fazem valer a pena.
Os Ingleses, tal como outros bairros da cidade, possui uma Administração Distrital, um braço da Prefeitura Municipal vinculado à Secretaria de Infraestrutura que funciona como uma espécie de zeladoria do bairro – além de bairro, Ingleses é também um dos doze distritos de Florianópolis. A Administração Distrital cuida de limpeza, desobstrução de encanamento pluvial, fechamento de buracos e outros pequenos reparos no bairro. Shylton Mattos, servidor do órgão que conversou com o Jornal do Zinga, diz que o nome formal é “Administração Distrital de Ingleses”, mas que a grande maioria da população chama de “Intendência dos Ingleses”, “um nome que vem de muito antigamente” – tanto que há no bairro uma escola e uma das principais vias batizadas com nomes de
Na falta de abrigo e assento nesse ponto de ônibus na Estrada
Cardoso, algum morador fez um banco com uma astuciosa estrutura com troncos e braçadeiras de metal. Também fez uma lixeira de madeira.
Otransporte de ônibus é rotina para quem mora no bairro e trabalha, estuda ou por outros motivos precisa se deslocar diariamente ou com frequência a outras partes da cidade. E como o Zinga está no extremo norte da ilha, a mais de 30 km do centro, esses deslocamentos tomam um tempo considerável – uma viagem dos bairro ao TICEN não dura menos de uma hora, e, dependendo do ponto de partida no bairro, do tempo de baldeação no TICAN e das condições do trânsito, pode-se levar tranquilamente uma hora e meia. Essa situação piora em períodos do dia e épocas do ano de mais movimento, quando fica difícil escapar das filas. Mesmo dentro do bairro o trânsito nos horários de pico é complicado, e como corredores exclusivos para ônibus estão longe da realidade das vias apertadas do Zinga – nem na Avenida Beira-mar com suas 5 pistas não há –, chegar até ao TICAN já é uma jornada que pode durar mais de meia hora. Além dos atrasos por conta do trânsito lento e da distância entre o bairro e a área central da cidade, muitos sofrem também com a distância até o ponto de ônibus. Aos fins de semana, com os horários reduzidíssimos de algumas linhas como 281 - Costa do Moçambique,
261 - Capivari e 268 - Sítio de Baixo (que não opera aos domingos), quem mora nas proximidades da Estrada Dario Manoel Cardoso ou da Rua Graciliano Manoel Gomes tem que descer na Rodovia João Gualberto Soares e bater muita perna para chegar em casa. Isso ou esperar às vezes mais de hora no TICAN ou na parada mais próxima – ou menos distante – de sua casa. Os engenheiros de tráfego que definem os horários das linhas não devem dar conta disso, ou não dão a importância como deveriam. Um novo modelo de abrigos de ônibus, agora todo azul com banco em madeira e espaço para cadeirante, foi adotado pela gestão atual da Prefeitura Municipal. Alguns foram instalados no bairro, mas aqui ainda tem muito ponto de ônibus sem abrigo. E ainda tem ponto sem sequer uma placa de sinalização. Quem não mora nas redondezas ou simplesmente não sabe e precisa pegar ônibus tem que adivinhar onde é o ponto.
VOCÊ SABIA?
Todo passageiro tem direito a desembarcar fora do ponto, desde que não seja em local proibido ou inseguro, entre as 22 e as 6 horas. Se precisar, é só avisar o motorista com antecedência.
NA PRÓXIMA EDIÇÃO
MODA PRAIA PARA O INVERNO, TRUQUES DE DECORAÇÃO PARA QUITINETES MOBILIADAS, ZINGA PRÉ-HISTÓRICO, SUVENIRES DAS PRAIAS DO BAIRRO, ENTREVISTAS COM TURISTAS, COLUNA DA GENI, DICAS E MUITO MAIS!!
antigos intendentes, o Intendente José Fernandes e o Intendente João Nunes Vieira, respectivamente. Os moradores podem entrar em contato com a Administração Distrital a respeito de qualquer problema relacionado à infraestrutura do bairro. Se o problema não puder ser resolvido pela Intendência, o órgão faz o encaminhamento da demanda junto ao setor responsável da prefeitura ou passa o contato do setor ao qual o cidadão deve recorrer. Shylton salienta que, embora não saiba quantificar exatamente, o bairro Ingleses é o mais populoso da cidade e que, apesar disso, a Intendência do distrito possui apenas quatro funcionários, um número muito pequeno em relação ao número de habitantes, o que limita a ação do órgão. Em parceria com a Comcap (Autarquia de Melhoramentos da Capital), a Intendência disponibiliza em sua sede um ponto de coleta
de lixo volumoso. Fazem parte dos resíduos volumosos eletrodomésticos, restos de construção (precisam estar em pequenas quantidades e ensacados), latas, pneus, madeiras (separadas de outros materiais), podas de árvore (cortadas e amarradas) e móveis. Com essa iniciativa, pretende-se reduzir o descarte irregular de lixo e de entulhos no bairro, o que se vê com bastante frequência.
A Intendência de Ingleses está localizada na Rua Três Marias, número 1090, ao lado da Escola Herondina e funciona de segunda à sexta-feira, das 7 às 11h e das 13h às 17h. O responsável pela intendência é indicado pelo prefeito para exercer cargo comissionado. Atualmente a função está atribuída a Adriano Analdino Flor, mais conhecido como Adrianinho. O contato da Administração Distrital de Ingleses é pelo telefone (48) 3269-1125.