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Jornal do Meio 652 Sexta 10 • Agosto • 2012

colaboração SHEL ALMEIDA

De acordo com a psicologia o desejo que aconteceu aqui mesmo. “Eles iam com a de se ter um filho não parte apenas gente no abrigo para visita-la. No dia em tocou do ato da concepção. Vem da vontade o telefone e avisaram que poderíamos busca-la, intrínseca do ser, é preciso se dispor interna e eu não precisei dizer nada. Eles só me olharam pessoalmente para, de fato, se tornar pai ou e gritaram: é a Taís? Vamos buscar a Taís!”, mãe. Para alguns autores da área, a filiação só conta. “André não estava em casa. Quando existe efetivamente se o filho for “adotado”, ou liguei contando ele ficou eufórico e começou a seja, se houver a disponibilidade interna de se chorar. Eu e as crianças fomos vê-la no mesmo desenvolver a condição dia, mas só poderíamos paterna/materna, se os trazê-la pra casa no dia Nós escolhemos ser pai e mãe, seguinte porque precipais realmente adotarem a ideia de se ter um filho. não foi por acidente. Meus filhos sava ainda da assinatura Desse modo, a função foram desejados, batalhados do juiz e porque André do pai e da mãe iniciaprecisava estar comigo. -se antes mesmo do Eles avisaram que às filho nascer. Começa, 9h poderíamos ir até Cláudia Gimenes portanto, quando há o ao abrigo. Às 8h30 já desejo por se ter um filho estávamos estacionados e espera-se por esse filho. A palavra “adotar” na porta”, ri. A família já tem outro pedido de ganha, assim, sentido mais amplo, conforme adoção encaminhado. Taís agora tem cinco anos sugere a psicologia. Não basta conceber um e já fala que terá uma irmã chamada Letícia. filho, é preciso “adotá-lo”, fazer uma escolha, Não vê a hora dela chegar. “Minha mãe sempre querer ser pai ou mãe. “Nossos três filhos fo- disse: tudo o que vem do berço não choca. Não é ram adotados, não nasceram de nós. Mas eu a adoção que revolta, é a mentira”, fala Cláudia. e André engravidamos juntos, todas as vezes. A espera pela adoção é uma gravidez, só que Filhos desejados sem hora para terminar. Não é uma gravidez “Em cada nascimento André chorou”, conta. física. Pra mim, gravidez é estado de espírito”, “Taís chegou no dia do aniversário dele, ele fala Cláudia Gimenes, esposa de André Gime- ficou todo bobo”, fala. “Nós escolhemos ser pai nes e mãe de Tamiris, Tales e Taís. Desde que e mãe, não foi por acidente. Meus filhos foram decidiram que formariam uma família, Cláudia desejados, batalhados”, afirma. “A adoção não e André determinaram que teriam quatro fi- é fácil, gera expectativa, ansiedade, frustação”. lhos. No início o desejo era por dois biológicos “Muitas mulheres se sentem sozinha porque e dois adotivos. Como, depois de três anos de os maridos não se envolvem. Os homens não casamento, a gravidez física não aconteceu, eles falam, não se manifestam, não dizem o que não pensaram duas vezes: partiram logo para a sentem. Viram pais só quando a criança chega”, gravidez emocional. Não que a gravidez física diz. “Eu até entendo que a figura da mulher seja não seja, também, emocional. É que, no caso mais forte no caso da adoção, porque na relação deles, a barriga de Cláudia não cresceria junto social, na grande maioria dos casos, não existe o com o bebê. O filho que eles tanto desejaram, pai biológico, não há esse envolvimento” analisa. esperaram e batalharam para ter chegaria “Nas reuniões do Aconchego André participa, pronto até eles. A gestação de Cláudia e André, fala dos filhos, de ser pai. Acaba sendo um incomo de tantos outros pais e mães, aconteceu centivo para outros pais se envolverem mais”. dentro do coração. “Passamos juntos pela gravidez de cada um de nossos filhos, ele engravidou junto comigo, foi Expectativa uma espera dos dois”, fala. “É preciso preparação “A adoção foi processo natural. Eu já tenho uma emocional, uma pré-disposição dos dois, porirmã adotiva. Pra gente, não importava a barriga. que é trabalhoso. Ter filhos é prazeroso, mas Queríamos filhos”, fala Cláudia. Tamiris e Tales é trabalhoso”, fala. “Pra ele não existe antes, é nasceram no Paraná e vieram para a casa dos muito simples, não tem complicação. São filhos pais com dias de vida. Já durante a gestação das dele e pronto”, fala. “Nós sempre fomos muito crianças a documentação necessária já estava bem resolvidos no que queríamos, nunca fomos toda pronta. Assim que Tamiris nasceu, os pais presos a padrões”, afirma. foram avisados e só precisaram ir até a cidade Cláudia, Tamiris e Tales quiseram deixar para buscá-la. “Nós dois tínhamos sonhado com algumas palavras para André pelo Dia dos uma menina, mas achávamos que era só u m Pais. Taís fez um lindo desenho de toda a desejo. Quando a freira nos ligou avisando que família chamado “Dança do Sorriso”. Eis as ela tinha nascido, André só falava: meu Deus, mensagens: “Pai, neste dia especial desejo que é uma menina!”, lembra. “Com Tales foi um Deus te abençoe muito. Obrigada por ser esse pouco diferente. Estávamos esperando uma paizão. Feliz Dia dos Pais, ao melhor pai. Te criança que nasceria depois. Mas quando ele amo muito. Tamiris”. nasceu a freira perguntou se queríamos ficar “Pai, parabéns pelo seu dia, e que possa ser com ele, pois só nós, entre vários casais, está- especial. Que Deus possa sempre estar com vamos com toda a documentação em ordem”, você onde quer que você vá. Te amo muito. conta. “André ficou todo feliz: agora vamos ter Tales”. um menino! E nós já tínhamos sonhado com “André, agradeço a Deus todos os dias pela menino também” fala. Toda a espera pelas família que Ele me proporcionou. crianças está documentada em imagens. Cada A mim só foi possível ter esta linda família um deles tem um álbum com fotos da viagem porque você aceitou a adoção para nossas vidas, dos pais até Curitiba, na maternidade, no colo sempre me apoiou e incentivou. Me considero das assistentes sociais, das freiras. “Quando abençoada porque você ‘engravidava’ comigo, Tamiris nasceu não tínhamos carro, então até a curtia cada detalhe da espera e se derretia de passagem do ônibus está guardada no álbum. Na amor a cada filho que chegava. Você sempre vez do Tales fomos de carro. Ela foi junto com a foi parceiro de verdade nesta caminhada. Hoje gente buscar o irmão. Temos fotos voltando de peço a Deus que te abençoe ricamente, agradeço Curitiba em que eles estão no banco de trás, ela por você ser este pai amoroso e participativo e na cadeirinha e ele no bebê conforto” fala, com que nossa última bênção ou que nosso último saudade. Taís chegou sete anos depois, com 32 tesouro chegue em breve para completar a dias de vida. A família já morava em Bragança família e a nossa felicidade. Feliz Dia e os irmãos participaram de todo o processo, dos Pais! Com amor, mamãe Cláudia”.

Foto: arquivo pessoal

André e os filhos. “Pra ele não existe antes, é muito simples, não tem complicação. São filhos dele e pronto”

André, Tales, Taís, Cláudia e Tamiris. Família formada pelo amor. “Ele chorou em cada nascimento, engravidou junto comigo”

André e Tamiris, ainda bebê. “Nós dois sonhamos que seria uma menina”.


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