941 Edição 23.02.2018

Page 1

Braganรงa Paulista

Sexta

23 Fevereiro 2018

Nยบ 941 - ano XVI jornal@jornaldomeio.com.br 11 4032-3919


2

Jornal do Meio 941 Sexta 23 • Fevereiro • 2018

Expediente

Valsas brasileiras Livro com as 24 ‘Valsas Brasileiras’ de Mignone ganha edição de luxo

por TSIDNEY MOLINA/FOLHAPRESS

O poeta Manuel Bandeira (1886-1968) chamava o compositor Francisco Mignone (1897-1986) de “rei da valsa”. De fato, em entrevista concedida à Folha, a pianista Maria Josephina Mignone, viúva do músico, afirma que “foram catalogadas 124 valsas em sua obra”. Dentre as escritas para piano solo, algumas foram concebidas em ciclos, como as 12 “Valsas de Esquina” (1938-1943), as 12 “Valsas-Choro” (1946-1955, dedicadas a Bandeira) e as 24 “Valsas Brasileiras” (1963-1984), que acabam de ser publicadas pela Tipografia Musical em edição “urtext” (o mais próximo possível da escrita original do autor). A edição contou com a supervisão técnica da própria Maria Josephina, e é um respiro bem-vindo em um mercado editorial que sofreu imensamente com a proliferação das cópias piratas, conjuntura agravada pela disseminação de transcrições amadoras (em geral repletas de erros) pela internet. Partituras de grandes clássicos da música brasileira foram sumindo do mercado na mesma medida em que as edições antigas se esgotavam, o que afetou inclusive o acesso a nomes consagrados,

como Villa-Lobos (1887-1959), Lorenzo Fernandez (1987-1948) e o próprio Mignone. As “Valsas Brasileiras” surgem agora com projeto editorial digno das melhores edições internacionais, com índice temático, notas bilíngues e cuidado extremo com a visualização do texto musical. São evidentes as sutilezas de expressão, a sinalização para passagens das mãos entre as claves e, quando necessário para maior clareza, até mesmo a escrita em três pentagramas. Tudo é feito para facilitar a leitura, o manuseio do músico no instrumento. Mignone tem sido também resgatado por importantes ações, como a programação de diferentes composições pela Osesp e a previsão de lançamento de um CD totalmente devotado à sua obra pelo selo virtual da orquestra. Mais próxima da seresta e da modinha, com traços também diretamente inspirados nas linhas de baixo improvisadas ao violão pelos chorões, a valsa brasileira é, em geral, mais lenta e melancólica do que a original europeia. Essa característica, presente nas “Valsas Brasileiras”, é também saliente em outros ciclos de Mignone, mas, segundo Maria Josephina, não pode ser generalizada, já que

“A Valsa Elegante”, por exemplo, que integra o repertório internacional do pianista brasileiro Nelson Freire, “não tem nada de brasileiro, tem uma característica forte de valsa francesa”. A experiência de escutar as 24 valsas com partitura (há gravação da própria Maria Josephina) surpreende pela variedade com que Mignone aborda o gênero; seja na lenta nº 7, nas notas repetidas da nº 15 ou na truncada nº 21, o compositor desfila recursos técnicos ilimitados e uma intimidade total com o piano. A preferida de Josephina -que, aos 94 anos, segue ativa tocando e divulgando a obra de Mignoneé a nº 24. “Foi a última obra que ele escreveu. É muito dramática, sofrida, tem um grito de dor, a emoção que reflete o final de sua vida”. Em 2016 ela lançou também “Cartas de Amor”, livro que transcreve as cartas trocadas pelo casal entre 1964 e 1982. É um belo retrato da época, do meio musical frequentado pelo compositor e da conexão amorosa entre eles. Ao se casar com Mignone, Maria Josephina imprimiu novo rumo à sua carreira: “Deixei o repertório tradicional de piano de lado para me dedicar exclusivamente à

música de meu marido”, afirma. Dez anos mais jovem do que Villa-Lobos e dez mais velho do que Camargo Guarnieri (19071993), Mignone nasceu em São Paulo, no mesmo ano do carioca Pixinguinha (1897-1973). Tocou flauta com músicos populares antes de completar os estudos em Milão. Em 1922 sua “Congada” foi regida por Richard Strauss (1864-1949) em São Paulo. “Ele fez várias versões da Congada”, afirma Josephina, “e, por ter temperamento alegre, reclamava quando interpretavam suas obras muito lentamente... principalmente das cantoras.” Apesar do caráter improvisatório das “Valsas Brasileiras”, a pianista recorda que “ele escrevia direto na pauta, e só ia ao piano quando já estava tudo pronto. Eu o vi escrever duas óperas inteiras sem nunca ir ao piano. Ele dizia que o compositor é como alguém que, conhecendo a gramática, escreve uma carta e coloca no papel tudo o que tem na cabeça. Para ele, era simples.” * VALSAS BRASILEIRAS (ótimo) AUTOR Francisco Mignone EDITORA Tipografia Musical QUANTO R$ 65

Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.

Foto: Folhapress

O músico Francisco Mignone, que teve 124 valsas catalogadas em sua obra.


Jornal do Meio 941 Sexta 23 • Fevereiro • 2018

PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br Treinar feras para números de circo

por pedro marcelo galasso

Península do Sudeste da Ucrânia Aldeia indígena Alargamento do prazo de pagamento Encargo; incumbência

Filósofo autor de "Elogio da Loucura"

Pioneiro da indústria automobilística Uma das cores do Fluminense (fut.) "(?) Save The Queen", hino inglês Nome da letra "R" Iniciar um canto

Hiato de "seara" Acionar; manobrar

Golpe de capoeira Nove, em inglês

Stock (?), competição de carros

Tancredo Neves, político mineiro

(?)-shirt, tipo de camiseta unissex Acrobacia da Esquadrilha da Fumaça

Avenida (abrev.) O tempo passado

"(?) dos Apóstolos", livro da Bíblia

Que vai a Afecção muitas na articulação reuniões (Med.) sociais BANCO

55

Solução O P E R A R A M I M A R

A R L A T I E E I A R A A G S ER M E N O N A T O I L A D T R O

A T O S F O R D E C T

T R O N C O D E A R V O R E

Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com

Relativo a determinado assunto Nova droga mais agressiva que o crack

M E X I C O E C A N A D A

menos cultura e educação de qualidade o que, é claro, permite que os responsáveis pelo tráfico ou os milicianos tomem o espaço que deveria ser ocupado por ações e práticas públicas. Com a omissão do Estado, os grupos criminosos oferecem, com violência, ameaças e mortes, os serviços que caberiam ao poder público. Fácil é, mas incorreto, culpar as pessoas carentes que se submetem a tais ações. No entanto, a necessidade força a maioria a se calar já que é impossível contar com o Estado e o poder público. Isso sem contar o estigma de classe perigosas que as camadas menos favorecidas carregam e que fazem as pessoas menos informadas ou sensíveis a enxergarem todas as comunidades como criminosas e vendo como único horizonte de solução o uso da violência contra quem é tido como perigoso. Os exemplos que ilustram tal raciocínio são oferecidos pelo próprio corpo político e institucional carioca. Um ex-governador que tinha regalias e privilégios mesmo preso; agentes públicos acusados de associação com o tráfico ou com os milicianos; um prefeito incapaz que foi eleito por sua orientação religiosa; um governador que não tem condições de gerir um Estado; o mesmo prefeito viajando para a Europa com a desculpa estapafúrdia de buscar soluções para a segurança pública do Estado; o governador viajando para o interior no momento de crise; um Estado que não paga seu funcionalismo a meses, mas que mantém seu calendário de festas; as enchentes; os assaltos; ou seja, um Estado incompetente por ser gerido por incompetentes, traço comum dos homens públicos e políticos profissionais brasileiros, que são, nada menos, que os piores, mais caros e corruptos políticos do mundo. E neste contexto, o governo federal lança um plano de ação, nomeia um interventor, mas não sabe ao certo o que fará. O que podemos esperar? Por ora, só o esperar.

Material da piroga Sigla dos Correios

3/god. 4/ford — nine. 6/erasmo — tapona. 7/crimeia. 9/badalador. 13/foto romântica.

Na última semana, o governo federal decidiu utilizar um mecanismo constitucional para gerir a segurança pública no Rio de Janeiro, mais precisamente na capital do Estado, que é uma das cidades mais importantes do país, desde o Brasil colonial, sendo, inclusive, capital do Brasil durante um longo período. A medida do governo federal é importante, para alguns; populistas, para outros, mas é importante pensar como uma cidade tão importante chegou a tal situação. Como o Rio de Janeiro viu a escalada explícita de grupos criminosos, inclusive na estrutura do próprio Estado, e não foi capaz de deter tal escalada? Como foi possível que o Rio de Janeiro chegasse a tal situação caótica, criminosa e irresponsável, que, além disso tudo, prejudica, sempre e invariavelmente, as camadas menos favorecidas da população, pois como temos visto enquanto os atos criminosos se restringiam a ações esporádicas ou contidas nos morros cariocas eram vistas como problemas isolados? No entanto, ao tocar o asfalto as ações durante o Carnaval, festa símbolo da cidade e um dos maiores atrativos turísticos, o que era tido como ocasional se tornou insuportável. É justo e legítimo dizer que enquanto somente as camadas menos favorecidas eram oprimidas, cerceadas e caladas pela criminalidade, tudo parecia correto e lógico, escondendo a violência e a inaceitabilidade de tal raciocínio injusto e falso, mas ao tocar outras camadas e turistas a gravidade da situação mudou. Os dados oficiais e extraoficiais mostram que as comunidades cariocas têm poucas pessoas associadas, direta e indiretamente, as práticas criminosas, sejam elas dos traficantes de drogas ou dos milicianos, ou seja, a imensa maioria das comunidades é formada por pessoas que trabalham de forma justa e honesta, seja com trabalho formal ou informal, mas que tiram seu sustento de atividades não criminosas. Normalmente, esquecemos que o Estado não cumpre suas funções básicas nestas regiões, não oferece segurança pública, saneamento básico, ruas, saúde e muito

© Revistas COQUETEL

"Post" comum no Instagram (?) Babá, no Dia dos Namorados herói de Dois países da Acariciar; conto América do Norte afagar árabe Decifrar a escrita Construção da aranha

F D O T O C R O M A E N T N I C B A

Rio de Janeiro

3


4

Jornal do Meio 941 Sexta 23 • Fevereiro • 2018

por ANNA RANGEL/FOLHAPRESS

Aos 83 anos, a aposentada Linete de Lima Machado cuida da casa sozinha. Há dois meses, virou também cuidadora do marido, de 85 anos, que levou um tombo. “Sinto-me cansada, mas ainda bem. Meu maior medo é ficar dependente, numa cama.” Linete não está sozinha. A maioria dos brasileiros não teme a morte ou a velhice, mas tem pavor de se tornar dependente física, mental ou financeiramente, mostra pesquisa inédita do Instituto Datafolha. Foram ouvidos 2.732 brasileiros com 16 anos ou mais sobre assuntos como saúde, sociedade, família e finanças. O levantamento, realizado em todas as regiões do país, tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Dos entrevistados, 84% têm medo de depender fisicamente de alguém, 83% temem a dependência mental e 78%, a financeira. Mulheres são mais medrosas que homens: 87% a 81%, 86% a 79% e 81% a 75%, respectivamente. O temor faz sentido. Um estudo da USP, que corrobora pesquisas internacionais, demonstrou que os paulistanos estão vivendo mais, porém em piores condições. Em dez anos, a taxa de incapacidade por doenças em São Paulo cresceu 78,5% entre os homens e 39,2% entre as mulheres acima de 60 anos. Entre 2000 e 2010, essa população ganhou, em média, dois anos a mais de expectativa de vida, mas perdeu até três de vida saudável. O estudo usou dados do Sabe, um projeto da Faculdade de Saúde Pública da USP que acompanha diferentes gerações de idosos na capital paulista desde 2000. “Há uma perda de capacidades em todas as faixas etárias, especialmente entre as mulheres. Elas desenvolvem mais doenças articulares, motivadas, muitas vezes, pela obesidade”, diz Yeda Duarte, professora associada da USP e coordenadora do Sabe. Uma outra pesquisa da Escola de Saúde Pública de Harvard, que comparou as condições de saúde em 187 países no mesmo período, observou tendência semelhante. A expectativa de vida cresceu, em média, cinco anos, mas pelo menos um ano foi de vida com incapacidade. O geriatra Alessandro Campolina, autor do estudo brasileiro, fez também projeções sobre o impacto das doenças que mais afetam os idosos. “Se a hipertensão e o diabetes fossem controlados, os homens ganhariam até seis anos de expectativa de vida livre de incapacidade”, diz. Doenças mentais, articulares e as quedas são outros fatores importantes de incapacidade. Juntas elas respondem por quase 70% da carga de enfermidades dos idosos. Segundo Yeda Duarte, em geral, primeiro ocorrem as perdas instrumentais Ða pessoa perde a capacidade de lidar com dinheiro ou de manter a casa limpa, por exemplo. Depois, vêm as básicas, como tomar banho ou comer sozinho. “Antes, os idosos ficavam com essas limitações mais tarde. Agora, devido ao sedentarismo e à obesidade, isso tem acontecido mais cedo, às vezes, na faixa dos 60 anos.” O problema, diz Yeda, é que o país não tem políticas voltadas para a prevenção dessas incapacidade. “Nem no setor público nem no privado”, observa a geriatra Maisa Kairalla, presidente da regional paulista da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Ela lembra, porém, que as pessoas também têm que assumir a responsabilidade pela sua própria saúde. “A gente não muda a genética, mas podemos mudar hábitos de vida e entender os ônus e os bônus das nossas escolhas.” VELHICE No total, 71% dos brasileiros não temem a velhice e 74% não têm medo da morte. Os homens são os mais destemidos em ambos os temas: 76% contra 67% delas e 79% contra 69%, respectivamente. Na média, os brasileiros querem viver até os 89 anos de idade, resposta que se mantém constante em todas as faixas etárias. A faixa dos que têm mais de 60 anos é a que menos tem medo da velhice e da morte (80% nos dois casos). E aqui de novo os homens são mais destemidos (83% contra 78% para velhice, 84% contra 74% para a morte). O ápice dos que têm muito medo da velhice acontece dos 35 aos 44 anos: 11% deles dão essa resposta. Já em relação ao medo de morrer, ele decresce com a idade,

de 67% de destemidos entre os mais novos até 80% entre os mais idosos. “É natural que as pessoas tenham medo menor de algo que elas já têm certeza [a morte] e temam mais aquilo que está incerto. Sei que vou morrer, mas não sei se ficarei inválido, pobre, dependendo de outras pessoas”, diz o geriatra Douglas Crispim, médico assistente do Hospital das Clínicas de São Paulo. Os brasileiros com curso superior são os mais apavorados: 13% dizem ter muito medo da velhice. Os mais ricos são ainda mais medrosos: 19% dos que ganham acima de 10 salários mínimos (no total da população) têm muito medo de envelhecer, contra 9% entre os que ganham menos de 5 salários mínimos. Os brasileiros mais ricos têm também menos medo de morrer: 17%, contra 26% dos mais pobres. FINANCEIRA Das três dependências, a financeira é a que apresenta maior queda quando se olham os mais velhos: 69% dos idosos temem depender de alguém financeiramente, contra 78% dos mais jovens. O pico é aos 35-44 anos, no qual 82% assumem o temor. O medo, entre os idosos, de ficar dependente física ou mentalmente chega a 83% entre mulheres. “O sistema público de saúde caótico e os planos cada vez mais caros fazem com que muita gente que vive do seu trabalho corra o risco de ficar sem um meio de sobrevivência se perder o emprego ou se tornar inválido”, diz Crispim. * Cuidados com a saúde podem prevenir um terço das demências Ainda não há cura ou formas de reverter demências como o alzheimer, porém, cada vez mais a ciência aponta que é possível prevenir ao menos um terço delas. A redução dos riscos dessas doenças que geram deficit cognitivo grave, perda da memória, da linguagem e de outras funções começa já na infância, com a alfabetização. Uma mente estimulada pode não impedir o surgimento da doença, mas o fato de retardar os sintomas já é considerado um ótimo sinal. O controle da hipertensão, do diabetes e da depressão, e a adoção de hábitos saudáveis, como não fumar e fazer exercícios físicos, também são fatores de proteção. Vários estudos têm chegado a essa conclusão e, no ano passado, a revista médica “The Lancet” publicou um amplo relatório com uma revisão sistemática de toda a pesquisa sobre o tema. São estudos de coorte em diferentes populações. Neles, os participantes são avaliados em relação a diferentes fatores de risco e acompanhados por vários anos para detectar o aparecimento dos sintomas de demência. Depois disso, são investigados quais desses fatores estão associados a um risco maior da doença. Segundo o relatório, cerca de 47 milhões de pessoas têm demências no mundo e são gastos US$ 818 bilhões anualmente com essas doenças. O problema só tende a aumentar, principalmente nos países mais pobres. Estima-se que em 2030 haverá 75 milhões de pessoas com demência no mundo, ao custo de mais de US$ 2 trilhões. “Há um grande foco no desenvolvimento de medicamentos para evitar demências como o alzheimer mas não podemos perder de vista os verdadeiros avanços que já alcançamos nas abordagens preventivas”, disse à reportagem Lon Schneider, professor de psiquiatria e ciências comportamentais da Universidade da Carolina do Sul e um dos autores do relatório. Autora do best-seller “100 Dicas Simples para Prevenir o Alzheimer - E a Perda de Memória”, Jean Carper afirma que o alzheimer e outras demências são influenciadas pelos genes, mas que o estilo de vida e fatores ambientais podem minimizar os efeitos. “Pessoas com genes relacionados ao alzheimer têm mais predisposição, mas não estão necessariamente predestinadas a desenvolver a doença. É importante realizar atividades e ter hábitos que mantenham o cérebro o mais ativo e saudável possível”, diz ela, que carrega um gene que aumenta a chance de desenvolver a doença.

FATORES DE RISCO A comissão de 24 especialistas que elaborou o documento publicado no “The Lancet” identificou nove fatores de risco, em várias fases da vida, que aumentam a probabilidade de ter a doença. Por exemplo: ao investir em educação na juventude e cuidar da perda de audição, da hipertensão e da obesidade na vida adulta, a incidência de demência poderia ser reduzida pelo menos 20%. Na velhice, ao manter o diabetes sob controle, aumentar a atividade física e ter contato social o risco da doença poderia cair em mais 15%. Para Schneider, “mitigar os fatores de risco nos fornece um caminho poderoso para reduzir a demência em nível global”, diz ele. Na opinião da geriatra Maisa Kairalla, presidente da regional paulista da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, essas informações deveriam moldar novas políticas públicas voltadas à prevenção. “O brasileiro ainda não faz a associação de que o cigarro, a bebida, os quilos a mais, a falta de exercício e de controle de doenças, como a hipertensão ou diabetes, terão impacto no desenvolvimento de doenças no futuro, incluindo a demência”, afirma. Passíveis de prevenção, esses fatores de risco estão especialmente relacionados à demência vascular, o segundo tipo mais prevalente no Brasil, atrás apenas do alzheimer, a mais frequente. ESTUDO Um estudo feito pela USP a partir da autópsia de 1.092 cérebros de pacientes com mais de 50 anos mortos na capital descobriu que 480 deles tinham sintomas e diagnóstico de demência. Desses, 35% eram do tipo vascular. Segundo Claudia Suemoto, professora de geriatria da USP e uma das autoras do estudo, publicado no periódico “Plos Medicine”, o diagnóstico é feito por meio de lesões vasculares no cérebro. “Uma explicação provável é que fatores de risco cardiovascular não controlados, como hipertensão, diabetes, colesterol alto, tabagismo e inatividade física, estejam causando essas lesões cerebrovasculares”, explica. Para ela, além de ser informada sobre esses fatores que aumentam o risco de demências, a população precisa ter acesso aos serviços de saúde para avaliação, tratamento e controle deles. O relatório publicado no “The Lancet” também examinou o efeito de intervenções não farmacológicas para pessoas com demência e concluiu que elas têm um importante papel no tratamento, especialmente no controle da agitação e da agressão. “Drogas antipsicóticas são normalmente usadas para esse fim, mas há preocupação considerável com elas porque aumentam o risco de morte e de eventos cardiovasculares adversos “, afirma Schneider. As evidências indicaram que intervenções psicológicas, sociais e ambientais, como a promoção do contato social, tiveram um resultado melhor que os remédios antipsicóticos para tratar os sintomas de agitação e agressão associados à demência. SINAL DE ALERTA O sinal de alerta da família da aposentada Clarice, 85, acendeu quando ela saiu para fazer compras, deixou o carro estacionado em uma via pública, voltou para casa a pé e, dias depois, achou que tivesse sido roubada ao notar a falta do veículo na garagem. Antes, a apatia e os esquecimentos de compromissos e dos horários dos remédios já chamavam a atenção das filhas, mas os sintomas eram associados à depressão da mãe após a morte do pai. O diagnóstico da doença de Alzheimer foi dado pela geriatra após testes clínicos. “Foi um golpe duro para nós. Minha mãe sempre teve uma memória invejável, dirigia, tomava conta de tudo e de todos”, diz a filha Patrícia, 37. A doença não tem cura. Hoje, sete anos após o diagnóstico, Clarice segue medicada com remédios que ajudam a preservar o que restou da função cerebral, além dos sintomas secundários como insônia e depressão. Ela ainda mantém uma certa independência e mora sozinha por opção. As duas filhas vivem perto e se revezam nos cuidados e

na supervisão. “A médica considera um caso de sucesso, mas o esquecimento está piorando. Ela pergunta 15 vezes a mesma coisa. Dias desses, foi à missa sozinha e se perdeu, só voltou para casa duas horas e meia depois”, conta a filha. Em estágios avançados, os problemas de memória podem vir seguidos de dificuldade de andar e de se comunicar, além de incontinência. Patrícia afirma que a doença a assombra. Além da mãe, uma avó, uma tia e um tio já morreram de alzheimer. “A geriatra diz que não há o que fazer para prevenir caso eu carregue o gene, mas uma nutróloga me disse que é possível, sim, adotando uma alimentação funcional.” Não há evidência de que isso tenha efeitos protetores. Ano passado, o resultado de uma ressonância magnética deixou a aposentada Linete de Lima Machado, 83, preocupada: foram detectadas placas de proteína no seu cérebro que podem levar ao desenvolvimento do alzheimer. Como tratamento da doença que causa perda progressiva da memória, confusão e problemas de comportamento, ela usa um medicamento (bromidrato de galantamina). Há mais de uma década Linete é acompanhada pela equipe de geriatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Ali, recebeu tratamento da depressão, também tido como medida protetora da demência. “Faço psicoterapia e exercícios, que me ajudam muito.” Há dois meses, porém, ela diz que a vida “descontrolou” após o marido José, 85, sofrer uma queda dentro de um ônibus no centro de São Paulo. “Eu que ajudo ele em tudo, até a tomar banho.” Por conta disso, ela diz que está “descuidando” da sua saúde. Deixou de tomar remédios e parou com atividades físicas. “Sei que está errado.”


Jornal do Meio 941 Sexta 23 • Fevereiro • 2018

5

Por escrito Listar por escrito as tarefas do dia ajuda a cumprir prazos

por FERNANDA REIS/FOLHAPRESS

Uma boa gestão do tempo no

dotos para eles.”

trabalho é crucial para acomodar

Procrastinar um pouco não chega a ser

todas as tarefas diárias nas oito

um problema caso você não atrase. “Tem

horas do expediente sem fazer hora extra,

processos mentais que se estimulam com

deixar a vida pessoal de lado ou atrasar

a pressão, ficam mais criativos. A gente

entregas -hábito que pode ter consequ-

tem que respeitar”, diz Adriana Fellipelli,

ências sérias na carreira.

da consultoria que leva seu sobrenome.

Mesmo que seja ocasional e não renda

Vira um problema quando você passa a

nem uma bronca do chefe, o atraso é

derrapar nos prazos, atrapalhando toda

perigoso. “Uma hora você vai se dar mal.

a equipe.

Vai acontecer algo que vai trazer um grave

Não é para ser um processo difícil. Se

problema para a empresa e você pode

ser pontual é um sofrimento, é hora de

ser demitido”, afirma Felipe Carvalho,

mudar sua forma de organização. “Tem

especialista em gestão de carreiras da

pessoas que conseguem entregar, mas o

Thomas Case & Associados.

fazem sangrando. Isso é muito perigoso,

Várias características podem levar à luta

porque uma hora você não aguenta”,

contra o relógio: incapacidade de delegar

diz Melo.

tarefas, falta de comunicação com o chefe

Caso mesmo com planejamento e disci-

ao combinar datas, perfeccionismo que

plina seja difícil entregar na hora certa,

atrasa o início da atividade, procrastinação

é hora de apontar as dificuldades ao

e, a principal, desorganização.

seu chefe e renegociar os prazos. “Se

O primeiro passo é traçar um cronograma

você conversou, a não entrega não vai

de tudo o que precisa ser feito no dia.

acarretar num problema grave, porque

“Só planejando e sabendo controlar esse

as pessoas estão cientes”, afirma Felipe

plano é que se consegue fazer o uso ade-

Carvalho. “O principal problema é a falta

quado do tempo”, diz Almir Ferreira de

de comunicação.”

Sousa, coordenador do curso de gestão

Ramon Olsen, 29, coordenador de ma-

do tempo e eficiência da FIA (Fundação

rketing da consultoria Fellipelli, também

Instituto de Administração).

utiliza a escrita para se organizar. “Uso

Elencar as tarefas no papel, no celular ou

planilhas, faço ‘to do lists’ (listas de tare-

no computador é essencial. “Não existe

fas), coloco post-its na mesa com aquilo

planejamento sem escrever. Quem geren-

que tenho que fazer no dia e vou jogando

cia o tempo na cabeça está errado”, diz o

fora conforme vou fazendo”, conta.

especialista em produtividade Christian

A desorganização no passado já fez com

Barbosa.

que ele atrasasse entregas, por não levar

Esse hábito foi adotado por Kiko Hwang,

em consideração possíveis imprevistos na

51, dono da rede de restaurantes Yaki-

hora de se programar. “Quem é planejado

soba Factory, depois de trabalhar com

planeja o contratempo.”

um coach. Sua dica, que hoje repassa

O tempo de preparação muitas vezes

aos seus franqueados, é listar todas as

deve ser maior do que o de realização da

atividades do dia de meia em meia hora,

tarefa, afirma Sócrates Melo, gerente da

do momento em que acorda até a hora

consultoria de RH Randstad Professio-

de dormir, assinalando prioridades.

nals. “Quando você planeja, consegue

“Aí você tem uma dimensão de onde está

visualizar a execução. Fica mais fácil

perdendo tempo. A maior parte das pes-

antecipar problemas e encontrar antí-

soas acaba fazendo trabalhos irrelevantes

dotos para eles.”

ou delegáveis”, diz ele. Para Hwang, não

Procrastinar um pouco não chega a ser

se deve relaxar e parar de anotar a rotina

um problema caso você não atrase. “Tem

uma vez que as coisas começarem a fluir.

processos mentais que se estimulam com a

“Temos uma tendência a voltar para a

pressão, ficam mais criativos. A gente tem

zona de conforto.”

que respeitar”, diz Adriana Fellipelli, da

Ramon Olsen, 29, coordenador de ma-

consultoria que leva seu sobrenome. Vira

rketing da consultoria Fellipelli, também

um problema quando você passa a derrapar

utiliza a escrita para se organizar. “Uso

nos prazos, atrapalhando toda a equipe.

planilhas, faço ‘to do lists’ (listas de tare-

Não é para ser um processo difícil. Se

fas), coloco post-its na mesa com aquilo

ser pontual é um sofrimento, é hora de

que tenho que fazer no dia e vou jogando

mudar sua forma de organização. “Tem

fora conforme vou fazendo”, conta.

pessoas que conseguem entregar, mas o

A desorganização no passado já fez com

fazem sangrando. Isso é muito perigoso,

que ele atrasasse entregas, por não levar

porque uma hora você não aguenta”,

em consideração possíveis imprevistos na

diz Melo.

hora de se programar. “Quem é planejado

Caso mesmo com planejamento e disci-

planeja o contratempo.”

plina seja difícil entregar na hora certa,

O tempo de preparação muitas vezes

é hora de apontar as dificuldades ao

deve ser maior do que o de realização da

seu chefe e renegociar os prazos. “Se

tarefa, afirma Sócrates Melo, gerente da

você conversou, a não entrega não vai

consultoria de RH Randstad Professio-

acarretar num problema grave, porque

nals. “Quando você planeja, consegue

as pessoas estão cientes”, afirma Felipe

visualizar a execução. Fica mais fácil

Carvalho. “O principal problema é a falta

antecipar problemas e encontrar antí-

de comunicação.”

Foto: Ze Carlos Barretta/Folhapress

A consultora Adriana Fellipelli no seu escritório, em SP. Foto: Rafael Roncato/Folhapress

O empresário Kiko Hwang, 51, dono da rede de restaurantes Yakisoba Factory, em sua casa, em São Paulo. Foto: Zé Carlos Barretta/Folhapress

Ramon Olsen, coordernador de marketing, organiza sua rotina com post-its na mesa, em SP.


6

Jornal do Meio 941 Sexta 23 • Fevereiro • 2018

Preservando o patrimônio Milionários buscam gestores para não ter dilapidado o patrimônio

por DANIELLE BRANT/FOLHAPRESS

O playboy Jorginho Guinle (19162004) achou que ia morrer aos 80 anos. Decidiu, então, aproveitar ao máximo a vida e torrou sua fortuna. Ele, porém, viveu até os 88, sem dinheiro e morando de favor no Copacabana Palace, hotel fundado por sua família -e seus herdeiros ficaram de mãos vazias. A ruína de Jorginho não só abriu os olhos de muitas famílias -que viram a necessidade de ter uma gestão profissional para preservar seu patrimônio. Bancos, consultorias e butiques de investimento também notaram que havia um mercado e passaram a disputar esses milhões. Afinal, são valores que estão longe de ser irrisórios: as casas especializadas costumam cobrar uma comissão ou taxa pelo trabalho que pode variar entre 0,25% e 1,5% do total sob gestão. Outra alternativa adotada pelos muitos ricos é nomear alguém da família ou um executivo para administrar o “family office”, a estrutura criada para gerir o patrimônio. Montar uma empresa dessas requer (além de dinheiro) autorizações de reguladores. “Um terço dessas famílias opta por montar o ‘family office’, mas dois terços delegam. Isso vai depender do perfil da família”, afirma Leonardo Bortoloto, sócio da Aditus, consultoria que tem R$ 30 bilhões sob gestão. “Se tiver feito a fortuna no mercado financeiro, poderá puxar para si a decisão. Mas, se vier da indústria, por exemplo, poderá preferir transferir a gestão.” Na prática, a decisão também pode ampliar ou limitar o espectro de produtos a investir. Se escolherem uma gestora, a oferta de aplicações vai ser a que estiver no portfólio dessa empresa. Uma gestão independente, por outro lado, consegue enxergar o mercado de uma maneira mais abrangente, avaliando melhores opções em casas distintas, de acordo com o planejador financeiro Rodrigo Assumpção, da associação Planejar. ALTO NÍVEL Como funcionam os escritórios que deixam os ricos mais ricos 1 - O QUE SÃO Empresas que ajudam famílias a manter ou ampliar seu patrimônio; às vezes a própria família cria uma estrutura para fazer essa gestão 2- PÚBLICO-ALVO Famílias milionárias -ou bilionárias 3- COMO FUNCIONAM Um administrador ou membro da família fica encarregado de tomar decisões envolvendo o patrimônio da família, seja no caso de um family office ou na escolha dos serviços de outra empresa ou de um banco 4- COMO COBRAM Costuma ser um percentual dos ativos sob gestão 5- QUAIS SERVIÇOS OFERECEM Além de assessoria financeira e de inves-

timentos, podem gerenciar as contas, pagar impostos e empregados, fazer planejamento sucessorial, tributário e jurídico 6- INVESTIMENTOS Têm acesso a produtos mais sofisticados (fundos exclusivos e com estratégias mais arriscadas); muitas famílias aplicam parte do dinheiro no exterior ALÉM DA FORTUNA A fortuna dessas famílias é uma porta de entrada para fundos que investem em ativos mais arriscados e que podem dar retorno maior que os conservadores, engordando ainda mais o montante -ou reduzindo-o, a depender, claro, do sucesso da aposta. E uma decisão que muitas tomam -se não, todas- é colocar parte do dinheiro no exterior, para diminuir a exposição ao risco-Brasil. Além de cuidar dos investimentos, essas consultorias têm como tarefa auxiliar as famílias em outros aspectos. Costumam cuidar do pagamento de empregados, gerenciar os imóveis, ajudar no planejamento tributário e até evitar brigas de herdeiros, segundo Bortoloto, da Aditus. No caso da gestora independente de patrimônio Wright Capital, a intenção é convencer cada vez mais famílias a destinar uma parte do dinheiro a investimentos com impacto social. Isso é feito por meio de um fundo que, por sua vez, aplica em fundos que captam recursos para projetos que buscam melhorar a educação infantil, levar saneamento a áreas pobres ou construir moradia para quem não tem onde morar. BAIXANDO A RÉGUA Algumas dessas casas já começam a olhar para quem não tem tanto dinheiro, mas se vê com uma soma vultosa nas mãos, decorrente, por exemplo, da venda de um apartamento. É o caso da Fiduc, que trouxe um modelo de atuação que prioriza quem tem pelo menos R$ 100 mil disponível para investir. “Aqui, esse planejamento financeiro é restrito para milionários, e o impacto é muito pequeno, porque são poucas pessoas. A ideia é popularizar, como já acontece nos Estados Unidos, no Canadá, no Reino Unido e na Austrália”, diz Pedro Guimarães, presidente da Fiduc. Os consultores cobram um percentual de 1,5% dos ativos sob gestão pelo trabalho. “Temos objetivos alinhados com os do cliente. Quanto mais ele ganha, mais nós ganhamos. Nosso interesse não é vender produtos, como o de bancos. É ingenuidade pensar que o modelo de negócios dele não vai imperar”, afirma Guimarães. Em outras consultorias ou mesmo nos bancos, o atendimento para esse público muda. “Ter um cliente com R$ 300 mil para investir não compensa financeiramente no nosso caso”, diz Bortoloto, da Aditus. “Esse perfil vale a pena para quem quer escala. Mas a estrutura oferecida é diferente.”

É a mesma avaliação do planejador Rodrigo Assumpção. “É um trabalho menos complexo, não envolve esse atendimento jurídico, tributário e sucessorial”, diz. GRANDES BANCOS Na última década, os principais bancos do país passaram a entrar com força no segmento dos mais ricos. Como parte da estratégia, lapidaram a área private, destinada aos mais endinheirados, e destacaram equipes para oferecer serviços parecidos com os dos “family offices” e atender com mais cuidado esse público. Bradesco, Itaú e Santander enveredaram por esse caminho, aprimorando o atendimento personalizado que já ofereciam ao público private. No Bradesco, esse foco teve início em 2009 e é direcionado para clientes com pelo menos R$ 300 milhões em recursos para investir. O banco tem cerca de 70 “family offices”, únicos ou múltiplos -várias famílias debaixo de uma mesma estrutura de gestão. “Quando cuidamos bem do ‘family office’, ele atrai outros clientes”, diz João Albino Winkelmann, diretor da instituição. Como parte desse relacionamento, a vantagem para o banco está em criar vínculos com os donos dessas fortunas e oferecer financiamentos, empréstimos, seguros de vida ou automóveis, emitir fianças ou criar produtos de investimento exclusivos. O trabalho dos bancos com esses clientes passa pelo planejamento de investimento, sucessório e até fiscal, mas serviços complementares que “family office” realiza (pagamento de contas, por exemplo) ficam de fora do pacote. Nos investimentos, os “family offices” têm perfil de conservador a moderado, afirma Winkelmann. “O dinheiro do banco é a poupança para a próxima geração. Ele não quer correr muito risco, porque já enfrenta isso no próprio negócio”, diz. O diretor do Bradesco diz que essas

famílias buscam alocar entre 40% e 60% do patrimônio no exterior, para diluir o risco-Brasil, que já está contemplado no negócio. No Santander, a área é mais recente: cerca de três anos. A ideia é assessorar famílias com ao menos R$ 100 milhões de patrimônio. “Temos uma equipe que entende da parte macroeconômica, de crédito, usamos a assessoria patrimonial para desenhar a melhor estrutura de produtos para os clientes”, diz Gustavo Schwartzmann, superintendente-executivo de private banking. Segundo ele, a avaliação é feita com isenção. “A gente olha para o patrimônio do cliente de forma agregada, vamos ver o que cada um dos bancos oferece de melhor e manter o relacionamento com cada uma das casas com as quais ele já se relaciona.” Para o planejador Rodrigo Assumpção, da associação Planejar, a independência é justamente a questão. “A questão é saber se os bancos vão conseguir trabalhar de forma isenta, se vão conseguir sugerir produtos de outros bancos. Os clientes buscam essa independência.”


Jornal do Meio 941 Sexta 23 • Fevereiro • 2018

7

Epilepsia

Paciente com epilepsia só pode dirigir se ficar um ano sem crise, médicos dizem que pessoa com a doença pode ter vida normal, mas tem que tomar algumas precauções por EMERSON VICENTE /FOLHAPRESS

No dia 19 deste mês, um homem de 41 anos atropelou 19 pessoas, causando a morte de um bebê de 8 meses, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. No depoimento à polícia, ele alegou que teve uma crise de epilepsia, e que por isso perdeu o controle do veículo. A epilepsia é um distúrbio que provoca convulsões. O cérebro emite sinais incorretos, que causam essas convulsões. O fato de uma pessoa epiléptica dirigir gera discussão na medicina. “A maioria das pessoas consegue controlar a doença e viver uma vida normal. Mas tem que ter alguns cuidados. Se a pessoa estiver há um ano sem crise, tomando remédios, pode dirigir”, diz Fabio Porto, neurologista do Hospital das Clínicas. Segundo o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), pacientes com epilepsia podem tirar ou renovas a carteira de habilitação se estiverem sendo medicados e não tiverem tido crise por um ano. O neurocirurgião Luiz Daniel Cetl, integrante da Sonesp (Associação dos Neurocirurgiões do Estado de São Paulo), diz que o assunto é muito delicado. “A discussão é grande no mundo inteiro. Alguns países proíbem o paciente com epilepsia de dirigir”, diz o médico. “Nada impede que o paciente tenha um escape. Vale a pena correr esse risco?” Existem ao menos cinco tipos de crises, que vão desde a imperceptível até a mais grave. “Dados mostram que 70% dos pacientes com epilepsia controlam com remédio. Outros 30% passam por tratamento que pode até chegar a cirurgia, pois é preciso encontrar o foco no cérebro onde se originam as crises”, diz o neurocirurgião. As causas da epilepsia, na maioria das vezes, são desconhecidas. Pode ser genética ou causada por alguma lesão no cérebro. * Não se deve puxar língua em ataque O socorro à pessoa com crise epiléptica também cria alguns mitos. É comum ouvir falar que, quando uma pessoa tem uma crise, a primeira coisa a fazer é segurar a sua língua. Isso é errado. sua língua. Isso é errado. “Isso não deve ser feito. Corre o risco de perder dedo com a força da mordida. O que tem que ser feito é colocar a pessoa de lado para não engasgar e esperar um pouco até a crise passar”, afirma Fabio Porto.

Foto: Divulgação


8

Jornal do Meio 941 Sexta 23 • Fevereiro • 2018


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.