Jornal De Fato

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A governadora Fátima Bezerra, em entrevista à revista Marie Claire, que está nas bancas, revela que continua sendo vítima de ataques homofóbicos e afirma que a violência maior que tem sofrido é a de gênero. Por que a violência de gênero continua avançando, quando não deveria existir? Porque não é fácil mudar a estrutura da sociedade. A violência de gênero é estrutural, como o racismo também é estrutural, faz parte da nossa origem, da nossa formação enquanto sociedade brasileira. Para mudar isso, leva muito tempo. A gente tem avançado muito pouco. É preciso reconhecer que ainda existe a violência de gênero, como existe a violência também contra os negros, as negras; como existe a violência social contra os pobres. A gente precisa de uma sociedade civilizada, porque esse tipo de violência não combina com o estágio civilizatório. Daí, a importância de se combater essa violência no dia a dia. O episódio que aconteceu comigo na Câmara Municipal, não podemos baixar a cabeça, nem ficar apenas lamentando o sofrimento isolado. Para mudar é preciso, sim, os embates, os combates, para que a gente possa avançar. Apenas três mulheres foram eleitas em 2020 para a Câmara de Mossoró. Houve um recuo de quantidade na representação da mulher no Legislativo. Isso também pode ser reflexo de uma sociedade historicamente machista? Ou pode ser explicado pelo desinteresse da própria mulher pela política? É reflexo da sociedade machista. A gente não é estimulada para entrar para a política, não há estímulo às mulheres participarem da vida pública. Isso acontece porque temos uma sociedade machista, patriarcal. A sociedade entende o lugar da mulher como um espaço privado, infelizmente. O espaço da mulher não pode se restringir ao privado, ela deve estar em todos os espaços da vida pública e a política é um desses espaços. Quando chega uma disputa eleitoral, apesar de a lei já ter avançado um pouco, mas não avançou o suficiente, a mulher não tem os seus espaços respeitados. A gente vê ainda, na formação das chapas proporcionais, os partidos colocando mulheres “laranjas” (candidaturas fictícias para preencher a cota de gênero). Isso é muito grave e, infelizmente, a maioria acha que é coisa banal, mas não é banal, é um crime.

DOMINGO, 17 de outubro de 2021

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‘O prefeito apresentou a face egoísta, autoritária e extremamente narcisista’ Quando se faz isso é porque os partidos tendem a fortalecer as candidaturas masculinas, por isso, é preciso avançar ainda mais para que a participação das mulheres seja efetiva.

anos realizando um serviço importante, independente de qual gestão esteja. Allyson vem tirando essas pessoas desses locais, isso prejudica o desempenho do serviço público. Por quê? Porque quando se trabalha em um setor há dez, quinze, vinte anos, você consegue compreender melhor como funciona e quais são os caminhos para resolver as demandas da população. Hoje, a gente vê muita coisa errada porque as pessoas que faziam o serviço foram retiradas e as que estão entrando não têm conhecimento necessário que lhe permita resolver os problemas.

Mas, por que as mulheres não participam da política, não tomam a iniciativa? Não é porque elas não querem, é porque não há incentivo. Historicamente, as candidaturas são mais dos homens, eles são mais valorizados, têm mais recursos, mais apoio, mais espaços, enquanto as candidaturas de mulheres não recebem o mesmo tratamento. Mas, a gente vai caminhando para modificar essa realidade. O PT de Mossoró saiu fragilizado da disputa pela Prefeitura em 2020, quando a candidata deputada Isolda Dantas foi apenas a terceira colocada com 8.051% dos votos. Esse resultado pode impactar no desempenho eleitoral do partido em 2022? Eu acho que não. O PT está muito forte para as eleições do próximo ano. Eu acho que aquela fase do antipetismo foi muito mais forte em um período anterior. Com relação ao resultado adverso da candidatura de Isolda em 2020, foi muito mais porque a população queria derrotar Rosalba (ex-prefeita Rosalba Ciarlini) e viu em Allyson Bezerra essa possibilidade. Entre Allyson e Isolda, as pessoas perceberam que Allyson tinha mais chance. Acabou prevalecendo o voto útil para derrotar Rosalba. O PT está trabalhando a formação de uma chapa à Assembleia Legislativa que tenha maior número de candidaturas de mulher. É uma forma de valorizar a mulher na política, mas também de aproveitar as novas regras eleitorais, que reservam espaço maior para a candidatura feminina. Nesse contexto, a senhora poderá ser candidata à deputada estadual em 2022? Eu não posso negar que tem pessoas, grupos, que estão me estimulando a participar do pleito do próximo ano. Esse incentivo vem de

dentro do partido, como também de pessoas de outros espaços, não necessariamente da esquerda. Mas, ainda não temos discussão acumulada nesse sentido. Mas, o tempo está ficando curto... É verdade, mas não temos uma decisão nesse sentido. A possibilidade de candidatura da senhora não deve ser descartada, é isso? De forma mais efetiva, em virtude do mandato que estamos exercendo, eu já aprendi que a gente nunca pode dizer nunca, principalmente no campo da política. Então, o que eu posso falar hoje é que não temos nenhum acúmulo de discussão em relação à candidatura.

PT e o MDB do Rio Grande do Norte estão discutindo a possibilidade de uma aliança para as eleições 2022. O expresidente Lula, quando esteve em Natal, defendeu essa aliança abertamente, mas há divergência dentro do partido. Há uma ala que não pretende essa aliança por considerar que é um retrocesso. Qual a posição da senhora em relação a isso? Eu estou aguardando ainda para ver como é que vai se dar essa aliança. Não há nada decidido, eu vejo muita especulação na verdade. Sim. Eu não gosto de me posicionar se não tenho as informações precisas; eu não falo com base em achismo. Por enquanto, eu não vou me posicionar em relação a isso.

Faça uma avaliação dos primeiros dez meses da gestão do prefeito Allyson Bezerra... O prefeito Allyson Bezerra está naquele grupo que trabalha muito com a imagem. É muita coisa na imagem e uma ilusão para sociedade ou, talvez, para ele mesmo, para a equipe dele mesmo, de que as coisas estão funcionando muito bem. É uma ilusão e que aos poucos essa ilusão não sobreviverá diante da realidade. Eu percebo que o prefeito vem cometendo um equívoco, que vamos chamar de amnésia na administração pública. Como assim? É uma desconstrução da memória na administração pública, através da retirada de servidores públicos que estavam há muitos

Cite exemplo... Muito se faz propaganda do Centro de Reabilitação de Mossoró e até hoje, com dez meses de gestão de Allyson, a Prefeitura não conseguiu habilitar essa importante unidade no Ministério da Saúde. Isso significa que o município está deixando de receber 345 mil reais por mês, está deixando de atender a população de Mossoró e de toda a região. Trata-se de um serviço que realmente deveria ser ofertado. Outro exemplo é que o prefeito faz uma propaganda grande com o neuropediatra, que vai atender duas vezes em um mês. É importante o neuropediatra? É, mas o certo não é só isso, ele precisa ser habilitado com toda a equipe multiprofissional. Tem muitas outras coisas, como o cancelamento de contatos para fazer nova licitação e até hoje nós não vemos solução. Isso é muito negativo, acho que há excesso de imagem e cria uma cortina de fumaça. Esse excesso de imagem é o que leva à omissão. Com certeza. Já venho dizendo que o prefeito está muito mais suscetível aos erros e esses erros começam a ser percebidos pela população. A senhora está se referindo à filmagem da cirurgia ginecológica, que causou espanto na cidade e no país? Aquilo foi uma coisa absurda, que mostra uma face do prefeito revelada à sociedade, a face egoísta, autoritária e extremamente narcisista, de olhar pra si, de se achar um exemplo, o melhor e tudo mais.


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