Jornal de Fato

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2 OPINIÃO

quarta-FEIRA, 6 de outubro de 2021

ESPAÇO JORNALISTA MARTINS DE VASCONCELOS

Organização: clauder arcanjo

USOS E COSTUMES Ilustrativa

Vanda Maria Jacinto

Escritora, autora do livro Rabiscando os caminhos da prosa v.m.j@hotmail.com

Em visita a uma exposição e revenda de plantas naturais, que já faz parte do calendário de eventos da cidade, e diante do grande fluxo de pessoas, inclusive eu, que estava ansiosa por adquirir uma plantinha – diga-se de passagem, uma mais linda que a outra –, me vi pensando no atual problema do consumo e racionamento de água. Racionamento este que, aqui e acolá, tem sido manchete nos principais meios de comunicações do país e que, desde que eu me entendo de gente, sempre fez parte da vida do nordestino, mas que, de uma forma ou de outra, sempre soube driblar a situação criando alternativas para preservar o pouco que tinha (e tem) em termos de recursos hídricos. Assim matutando, não foi difícil voltar no tempo e lembrar que, em meados de 1977, quando pela primeira vez conheci a cidade de Mossoró, fiquei abismada com a forma de armazenamento e racionamento de água por aqui e, principalmente, pela falta de plantas na cidade. Eu não concebia a ideia de não estar em meio ao verde da natureza, bem como uma região tão quente como o Nordeste não arborizar suas cidades para amenizar, um pouco, a temperatura escaldante que castigava (e castiga) mais ainda àqueles que eram obrigados (e são) a saírem de suas casas em horas impróprias, entre as 10 e as 16 horas, para a sua labuta diária. Questionando sobre o fato me foi dito que tudo era uma questão de prioridade, pois a escassez da água na região não permitia desperdícios. Che-

A seca do Nordeste sempre foi vista como algo a parte, tudo muito distante.

guei a duvidar e pensar que pudesse ser uma questão de hábitos. Passei então a observar aquela realidade tão nova para mim. Mas o que vi é que, embora à época já existissem alguns poços artesianos, a vazão de água não era suficiente para a população, e o saneamento ainda não cobria toda a cidade. Assim sendo, as pessoas costumavam guardar a água em cisternas. Água essa coletada no período das chuvas. Aqui denominado de período de inverno. O processo de captação das águas da chuva ia muito além de se colocar um balde na biqueira da casa e se fazia

di­re­ção ge­ral: Cé­sar San­tos diretor de redação: César Santos Ge­ren­te AD­MI­NIS­TRA­TI­VA: Ân­ge­la Ka­ri­na DEP. DE ASSINATURAS: Alvanir Carlos

necessário, no período que antecedia as chuvas, limpar bem as calhas e delas retirar a sujeira acumulada durante a estiagem. A poeira do telhado era lavada naturalmente com as primeiras chuvas. A cisterna, por sua vez, também sofria o processo de higienização e, só então, estava pronto o sistema para poder receber água nova e limpa. Quer dizer, em parte, porque era também preparada toda uma engenhoca com calhas e tubulações que ligavam o telhado à boca da cisterna, onde se colocavam telas e tecidos grossos – de preferência fundos de redes, servindo como filtro para a água da chuva que, na sua pas-

sagem pelo telhado, trazia consigo todas as impurezas que normalmente se acumulam nesses locais. Essa água tida como pura não recebia nenhum tratamento, e era utilizada, principalmente, para beber e no preparo de alguns alimentos. Vale salientar que as águas utilizadas no banho, louça ou na lavagem de roupas eram reaproveitadas para lavar a casa, quintais ou aguar possíveis plantas frutíferas. O curioso disso tudo é que tais hábitos que presenciei aqui, há quarenta e quatro anos atrás, e que muito chamou a minha atenção na época, hoje já não são mais novidade no Sudeste, que vivendo o problema da seca, e, consequentemente, a falta de água no seu dia a dia, tem buscado incessantemente soluções que venham minorar tal sofrimento. Como diz o velho ditado, “cada um sabe onde lhe aperta o sapato”. A seca do Nordeste sempre foi vista como algo a parte, tudo muito distante. Na verdade, apenas mais um problema sem grandes soluções. Hoje, no entanto, devido a outras regiões estarem sofrendo na pele as mesmas situações, percebe-se o foco nacional no fato! Quem sabe agora teremos vez e voz... Voltando ao Nordeste... Hoje, embora ainda existam alguns poços artesianos ativos aqui na nossa cidade, o abastecimento de água provém da maior barragem do Estado que, por sinal, também depende das chuvas e vem sofrendo muito nos últimos anos – devido à longa estiagem em sua região – e, por isso mesmo, o seu nível está muito baixo. Em decorrência disso, o controle em relação ao consumo de água tem sido uma constante, mas ainda não tão alarmante. Embora os tempos sejam outros e o pensamento em relação às plantas também; mesmo que a oferta de água seja bem maior hoje, o uso consciente no consumo desse bem tão precioso se faz necessário, para que seja possível dividir a água nossa de cada dia com elas – as plantas –, e desfrutar de espaços mais bonitos e harmoniosos!

Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

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