Jornal de Fato

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2 OPINIÃO

sexta-FEIRA, 18 de fevereiro de 2022

ESPAÇO JORNALISTA MARTINS DE VASCONCELOS

Organização: clauder arcanjo

Roupagem

nova

Vanda Maria Jacinto

Escritora, autora do livro Rabiscando os caminhos da prosa v.m.j@hotmail.com

Se você não é nordestino e nem mora aqui no Nordeste, com urgência precisamos tomar um bom cafezinho juntos, enquanto esclareço alguns pontos importantes. A começar pelas estações climáticas do planeta. Aqui, pouco se fala nelas, pois quase não são observadas, a não ser o verão. Essa época é muito importante por aqui, sabe por quê? Devido às chuvas! É exatamente no verão que o calor é abrasador; mas, em compensação, as precipitações pluviométricas são mais intensas. Talvez pelo calor escaldante que tem o seu ápice no mês de dezembro, quando chega janeiro, as primeiras chuvas acontecem, o clima torna-se ameno – por isso se denominar por aqui, de “inverno”, esse período. Temos primeiro a “chuva do caju”, no mês de setembro, uma alegria total! Depois, se o “inverno” promete, caem as primeiras chuvas em dezembro. Mas é em janeiro que realmente começam as boas chuvas. Daí, novos questionamentos: qual a razão de tanta alegria por causa das chuvas? Ah, meu amigo, são

tantos os motivos, mas farei o possível para enumerálos. Sabe quando falta água em suas torneiras e você vai adequando a rotina e acumulando coisas a serem feitas – roupas e louças sujas, limpeza mais aprimorada da casa, do quintal, o banho de canequinha, deixa de aguar suas plantas? Pois é, aqui também é assim, mas é a falta de chuvas que nos deixa de mãos atadas – se estende à produção e ao trabalho, uma vez que não há como plantar. Os açudes têm o seu nível rebaixado, não sendo possível manter o abastecimento, reduzindo a distribuição e, automaticamente, temos que economizar o nosso tão pre-

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A alegria desses dias manterá a fé e a vida durante os outros meses do ano em que o cenário vai mudar.

cioso líquido. A natureza toda sofre com a escassez de água, aqui, especificamente falando das chuvas! Mas o momento é de festa. Temos tido nesse ano chuvas boas. Alguns açudes menores já estão sangrando, e os maiores vêm pegando água. É impressionante, bastam algumas poucas chuvas e já se percebem as mudanças – pela manhã, o clima é refrescante, nos convidando a caminhar. Tenho usuf ruído deste e de outros presentes que a cada dia recebo. Meus caminhos se revestiram de um verde exuberante! As árvores mais copadas abrigam uma variação de pássaros que quase me ensurdecem logo cedo. Os bem-te-vis, parecem, como eu, adoram mangas! Os canarinhos da terra, os sabiás e os rouxinóis também dão as caras, com seus cantos maravilhosos!

di­re­ção ge­ral: Cé­sar San­tos diretor de redação: César Santos Ge­ren­te AD­MI­NIS­TRA­TI­VA: Ân­ge­la Ka­ri­na DEP. DE ASSINATURAS: Alvanir Carlos

O perfume adocicado das mangas maduras e das cajaranas, presentes nos quintais, são os motivos de atração para os pássaros e, por que não dizer, meu também, que muitas vezes dou uma trégua nos passos e fico de olhos fechados, sentindo o perfume e ouvindo a algazarra dos pequeninos emplumados… Sem contar a infinidade de plantinhas rasteiras que, como lindos tapetes, enfeitam os meus c aminhos. Amarelinhas, lilases, brancas e, uma que eu adoro, é “amor agarradinho”. Sua delicadeza e os seus vários tons de rosa me fascinam! Entretanto, é no campo que nosso inverno é mais festejado. O trabalhador rural passa o ano inteiro fazendo seus experimentos e suas previsões. Define o plantio, seleciona as sementes e, assim que caem as primeiras chuvas, risca a terra, revolvendo-a e abrindo os sulcos

para a recepção das sementes. Os que persistiram, e aguardaram com esperança o “inverno”, sorriem e agradecem, mas ainda aguardam o dia 19 de março, dia de São José, para a confirmação do bom inverno. Aqueles que, durante o ano, tiveram que se virar com outra ocupação para ganhar o pão, largam tudo e voltam ao sertão, pegando a enxada, indo à plantação, com o coração repleto de esperanças. O rosto do sertanejo, voltado para o céu em oração e em busca dos sinais de precipitação, agora fica molhado num misto de chuva e de lágrimas de gratidão. A alegria desses dias manterá a fé e a vida durante os outros meses do ano em que o cenário vai mudar. A chuva, no sertão, tem o condão – traz essa nova roupagem – de sons, cheiros, cores, alegrias e esperança.

Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

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