domingo, 1º de maio de 2022
4 entrevista
cont. da pág. 3
‘Eu vejo críticas de correligionários do PT à chapa com dois Alves’ O senhor fala que é hora de buscar o novo Rio Grande do Norte. Esse novo é representado por sua précandidatura a deputado federal? Eu acho que hoje, todos nós, sobretudo a geração nova, os jovens que estão chegando, e eu até aproveito a oportunidade para pedir ao jovem de 15 a 18 anos se filiar até o dia 4 de maio, porque é muito importante essa energia nova para transformar o RN e o Brasil. Então, a gente sempre busca o melhor e não é a relação priorizar a minha candidatura, até porque você não é candidato de si mesmo. Isso aí a vida me ensinou também. Eu não quero ser deputado porque já fui deputado 11 vezes, mas, sim, por entender o que eu ainda posso oferecer ao nosso estado e ao país. Acho que temos o reconhecimento do eleitor. A minha décima primeira eleição foi a que eu tive mais votos, isso é um dado importante, como é que você chega à décima primeira consecutiva eleição e tem mais voto do que em todas as outras? Eu recebi 189 mil votos. Então, não é por isto, porque eu fui presidente da Câmara, porque eu fui líder do MDB na época com 82 deputados federais, por seis vezes, todos por aclamação, que quero voltar. Não é essa visão egoísta, pequena, que me motiva. Tudo que eu vivi, tudo que a vida me deu, eu só tenho a agradecer. Mas eu quero saber se aquilo que eu ouço, não sei se por generosidade ou por reconhecimento, eu poderia fazer mais. Então, aí eu estou ouvindo as pessoas quando venho a Mossoró, quando vou ao Seridó, quando vou caminhar pelo Oeste. Procuro ouvir o que eu ainda posso ajudar com a minha experiência, com relacionamentos que eu tenho, com tudo o que eu pude aprender da vida pública. Esse projeto não é vontade pessoal, nem egoísmo ou uma ambição qualquer. Quem decidirá são os meus amigos, minhas amigas, o “Bacurau” da bandeirinha verde, que eu não consigo esquecer; tá dentro de mim e nas minhas mãos. Essas pessoas e os novos que eu quero encontrar, amigos novos que eu quero fazer, eles decidirão o que querem mais de Henrique Eduardo Alves. A sua candidatura a deputado federal, provavel-
mente, baterá de frente com a de Garibaldi Filho, que também tentará se eleger à Câmara. Até pouco tempo, seria inimaginável um enfrentamento eleitoral entre o senhor e Garibaldi. Como o senhor vai encarar essa realidade? Não há como ir para o enfrentamento com Garibaldi. O meu respeito por ele é muito grande, o meu carinho por ele continua o mesmo. Ele pode ter se distanciado de mim, mas emocionalmente eu não me distancio dele porque é uma vida e não acaba assim. Então, não haverá uma disputa entre mim e ele. Desejo boa sorte a Garibaldi para que ele possa convencer os seus eleitores, e eu vou tentar convencer os meus. Mas, é impossível não ter uma disputa entre o senhor e Garibaldi na base eleitoral do verde bacurau... Eu herdei a minha formação política e homem público de um homem extraordinário, visionário. Eu lembro quando aos 21 anos meus amigos foram ao Rio de Janeiro para me dizer que a luta de Aluízio Alves não poderia parar. Naquele momento, a violência da ditadura estava a mil. A minha família caçada pela ditadura militar, meu pai, meus tios Garibaldi Alves e Agnelo
Alves. Os amigos querendo que eu continuasse a luta. O meu pai não queria que eu passasse o que ele estava passando, sofrendo com a ditadura muito cruel, muito desumana. Mas, eu vi o olhar dele pra mim em alguns momentos e percebi que ele queria que eu dissesse sim. Aí eu disse, eu vou. Naquele momento, ele me entregou a bandeira dele, me abençoou e disse: meu filho, continue a minha luta. Foi o início de uma longa caminhada e hoje essa esperança que ele semeou eu quero manter viva no Rio Grande do Norte. Sem qualquer ressentimento ou mágoa de quem quer que seja, eu estou pronto para continuar. Eu sei o que eu vivi e o que eu vivi não me diminuiu; engrandeceu-me. Hoje, eu sou mais forte do que ontem, porque é uma força que vem lá de dentro da alma, da sua fé na justiça, do sentimento das pessoas. Então, vou perguntar: vocês acham que eu ainda posso ajudar ao meu estado? Se me disserem sim, eu vou oferecer toda a minha experiência, determinação e trabalho, porque eu devo tudo ao povo do Rio Grande do Norte. Essa é a minha determinação e não passa por qualquer enfrentamento com Garibaldi. O PSB, seu novo partido, apoia a reeleição da go-
vernadora Fátima Bezerra, que terá o seu primo e desafeto político Walter Alves como vice. O senhor terá dificuldades de apoiar a chapa que pode levar Walter ao governo estadual? O meu foco agora é a possível candidatura minha a deputado federal. Volto a dizer, eu vou ouvir meus amigos, as pessoas que eu posso e vou reencontrar, essa juventude que chega vibrante querendo participar, essa se-
'' Eu fico triste porque ninguém no MDB está defendendo a candidatura de Simone Tebet, honrada senadora
rá a nossa missão. Eu quero conversar, mostrar para aos jovens a importância de participar do processo. Vou dizer que eles têm da família, têm trabalho, têm responsabilidades, e na hora que eles não participam das eleições, deixam que outros participem por eles, e isso não é certo. Eu quero dialogar, tentar convencer as pessoas ou ser convencido por elas sobre o momento de decidir o futuro do país. Com relação à chapa majoritária, pra você ter ideia, eu não falo com a governadora Fátima há meses. Com todo respeito que tenho pela governadora, fui seu colega na Câmara, no Congresso Nacional, entendo que ainda não chegou a hora para abrir esse diálogo, até porque eu também não julgo o caminho que ela está definindo. Vamos aguardar o que vai acontecer. Eu sempre fui, e é um dos orgulhos que tenho, homem de partido, que respeita as decisões do partido. Quero até lamentar o que o MDB está fazendo com Simone Tebet, honrada senadora, uma pessoa da melhor qualidade, que colocou seu nome à disposição para disputar a Presidência da República. O partido precisou dela, a convocou e ela aceitou, e hoje eu não vejo ninguém no partido defendendo a sua candidatura. Eu fico estranhando e triste porque ninguém do MDB defende o nome da sua pré-candidata a presidente. Essas coisas enfraquecem os partidos porque os partidos têm que ter coerência, têm que ter projeto, eu não vejo projeto amplo para o Rio Grande do Norte. Eu acho que a discussão de espaço pra mim, espaço pra você, visto hoje, não tem importância e não acrescenta absolutamente nada. Vou insistir: O senhor apoiará a chapa com a presença de Walter Alves, que é visto como o pivô da crise entre o senhor e Garibaldi? Isso causa incômodo? Não me causa incômodo. Eu acho que o importante é procurar no momento certo o melhor para o Rio Grande do Norte, independente de nomes. O que interessa ao futuro governo são propostas, ideias, independente de nome. O que será colocado em debate é o que o novo governo ou governo a continuar fará para melhorar a vida das pessoas. Emprego, renda, empreendedorismo, questão ambiental que é tão importante no Brasil e no Rio Grande do Norte devem ser colocados em debate. Acho que é muito mais importante ideias, projetos, mostrar a cara e aquilo que quer fazer do que se discutir eventuais nomes em chapas de A, B ou C. A governadora Fátima Bezerra caminha para ter dois Alves em sua chapa,
algo inédito na disputa majoritária no Rio Grande do Norte. Como o senhor vê essa possibilidade? Cada vez mais, a verdade faz bem às pessoas. Isso leva a um resultado melhor, então, a chapa deve ser explicada ao eleitor. Eu vejo críticas de correligionários do próprio PT em relação a isso, mas se tiver um bom projeto a apresentar à população, a chapa pode partir para o convencimento, que é necessário. A chapa tem Carlos Eduardo, do PDT, que tem Ciro Gomes candidato a presidente, adversário de Lula que é o candidato da governadora. O MDB, que está na chapa, também tem candidata à presidência da República, que é a senadora Simone Tebet. Essas questões devem ser encaradas porque cada vez mais o eleitor brasileiro vai exigir clareza, transparência, verdade. Os partidos terão que justificar porque isso, porque aquilo, qual é a razão disso, qual é a razão daquilo, pra que depois não se arrependa do que fez. As pessoas têm que ter capacidade de convencer ou de serem convencidas. Acho que esse momento de sobrenomes deve ser tratado com respeito ao cidadão-eleitor. Acho que temos que falar sobre a boa política e não tratar o debate sobre a velha ou a nova política, hoje, a dificuldade que temos. Não quero nominar A nem B, nem C, porque eu não quero particularizar, mas o Brasil hoje vive um clima de intolerância, de radicalismo, de polarização, e isso é muito ruim. O Brasil não é isso, o Brasil não foi isso, o Brasil não quer isso. Como o senhor vê o cenário político e eleitoral do RN? Muito confuso. Talvez seja o estado que tenha mais demorado a definir candidaturas majoritárias. No Ceará, Alagoas, Paraíba, Pernambuco, já tem candidaturas ao governo bem definidas. Aqui, esse cenário demorou muito a se construir. Quanto tempo se esperou, por exemplo, pela candidatura da oposição? Quanto tempo ficou aguardando a candidatura a governador de Ezequiel Ferreira, que teria Walter Alves como vice? Até hoje tem questionamentos. Isso gera um cenário muito confuso. A governadora Fátima está fazendo a sua parte, fazendo o seu trabalho, procurando as suas alianças, é o papel dela, mas eu fico pensando na cabeça do eleitor, do cidadão, dos jovens, sobretudo o que estão pensando nesse momento... Eles estão apoiando o atual governo, estão gostando do governo, estão criticando o governo, acham que é melhor continuar ou mudar? Eu fico imaginando o que passa na cabeça do eleitor, do cidadão, da cidadã. CONTINUA NA PÁG. 5