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POLÍTICA

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OPINIÃO

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CafeZInHo CoM César santos

andré janones

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‘a minha história de vida é muito comum a do povo brasileiro’

Por César santos - Da ReDação - FoToS: jornal de fato

andré janones ainda era desconhecido no País quando um vídeo seu viralizou nas redes sociais. Foram mais de 2 milhões de acessos em 24 horas. No vídeo, gravado no triângulo mineiro, ele noticiava a greve dos caminhoneiros que paralisou o País em 2018. Daí para se eleger deputado federal foi um pulo, ele obteve quase 180 mil votos, a terceira maior votação em Minas Gerais. Hoje, quatro anos depois, ele se entrega de corpo e alma a um projeto bem mais ousado: disputar a Presidência do Brasil. Filiado ao Avante, um partido pequeno, Janones aposta na força das redes sociais, onde se comunica com mais de 11 milhões de pessoas que o seguem nas contas do Facebook e Instagram. Embora reconheça que é muito difícil superar as grandes estruturas, ele não espera ser o “azarão digital” nas eleições 2022. André Janones tomou o “Cafezinho com César Santos” na manhã de sexta-feira, 1º, na sede do JorNAL DE FATo. Falou sobre o seu projeto ousado de disputar o Poder máximo do País, assumiu ser um político populista, com o slogan “a pauta é o povo”, e de sua origem em família pobre, de ex-cobrador de ônibus e filho de empregada doméstica que venceu na vida. Leia:

o senhor foi filiado ao Pt por quase dez anos, passou pelo PsC, e chegou ao avante. Hoje, o senhor diz que não é “nem de direita nem de esquerda”. Como o senhor contextualiza a sua posição políticaideológica?

Eu tenho uma maneira de fazer política que considero moderna e mais efetiva para enfrentamento dos problemas sociais pelo qual o nosso país passa. Entendo que a gente não tem condições de se dar ao luxo de seguir uma cartilha ideológica, seja da direita ou seja da esquerda. Vamos dar um exemplo prático disso. Independente de posição desse ou daquele candidato ser a favor ou contra a privatização, na prática existem momentos que você tem que votar, defender uma privatização, e tem momentos que você tem que se posicionar contra. Quando você se coloca ideologicamente, se rotula, por exemplo, como um político de esquerda, você vai ter que ser contra a privatização em todos os cenários, mesmo que naquele caso específico a privatização de uma empresa seja a única solução e viceversa. Se você é de direita, você se coloca sempre a favor da privatização, mesmo que naquele caso concreto fique demonstrado que aquela empresa é passível, por exemplo, de uma recuperação. Eu vejo esse modelo como ultrapassado. Já o modelo político que eu adoto é aquele que enfrenta os problemas reais pelos quais o país atravessa, decide de acordo com o momento, sempre buscando os interesses da população. Essa é a maneira que eu entendo de fazer política.

o senhor não tem receio que, sem uma posição ideológica clara, acabe sendo rotulado pela opinião pública?

Não tenho problema com isso. Se você pegar minhas votações, minhas opiniões, eu emito todas elas, eu me posiciono, como fiz aqui o levantamento na minha visão política, se você é de direita ou de esquerda, não tenho problema em relação a isso, mas eu evito fazer esse tipo de definição para que eu não fique preso dentro do ato do rótulo que não me permita agir diferente do que aquela ideologia pregue.

o senhor rompeu a barreira do triângulo Mineiro em 2018, quando deu voz à greve dos caminhoneiros. um vídeo que o senhor gravou teve mais de 2 milhões de visualizações em 24 horas. naquele mesmo ano, o senhor se elegeu deputado federal com 178 mil votos. o salto à Presidência da república, agora, ganha impulso em qual movimento?

Só para fazer um breve apanhado de como ocorreu a minha participação do movimento grevista, porque muitas pessoas têm dúvidas, questionam como eu apareci ali se não sou caminhoneiro. A minha história de vida é muito comum a do povo brasileiro, é uma história de superação, de resiliência. Eu nasci filho de uma empregada doméstica, meu pai era um cadeirante, estudei a vida toda em escola pública, me formei advogado através de uma bolsa de estudos para alunos carentes e trabalhando como cobrador de ônibus. Como advogado, eu comecei a atuar gratuitamente para as pessoas que precisavam de alguma providência pelo SUS (Sistema Único de Saúde), com exames, cirurgias,

Enquanto os meus colegas discutem ideologia de gênero, eu discuto a redução no preço do arroz, do feijão, o aumento do valor do auxílio.

medicamentos. Eu ganhava aquela liminar e ia usar a minha rede social para obrigar o Estado a cumprir aquela decisão. Fiz isso durante dez anos. Quando estoura o movimento grevista, eu já tinha alguma relevância na região do Triângulo Mineiro que envolve Ituiutaba, Uberlândia, Uberaba, aquela região ali. Por conta dessa relevância, um caminhoneiro da minha cidade diz: Jonones, a gente tá fazendo um movimento grevista aqui e a imprensa tá cobrindo, mas é uma cobertura nacional. Não tem ninguém da imprensa local divulgando. Vem aqui fazer um vídeo de apoio a nós. Eu fiz o que teve o alcance que você falou, depois ao final chegou a vinte milhões de visualizações. Por conta dessa repercussão, eu fui convidado para liderar a greve, ser o porta-voz do movimento. Nesse intervalo entre o fim da greve e as eleições de 2018, teve um espaço de quase cinco meses, aonde o meu trabalho de dez anos na área de saúde pública veio à tona, porque estava tudo registrado nas redes socais. Então, um vídeo meu com trinta mil visualizações, da noite pro dia ele ia pra três milhões, porque as pessoas descobriam esse vídeo da greve dos caminhoneiros. Isso foi muito importante.

Certo, mas daí um salto à Presidência do Brasil é bem mais desafiador, o senhor não acha?

Às vezes, as pessoas acham que você dorme deputado federal e acorda précandidato à Presidência, com dois ou três pontos das intenções de voto, como mostrou a Datafolha, fosse algo muito fácil em um país como o nosso. Como eu explico essa pontuação nas pesquisas? Eu não ter cedido ao debate ideológico durante os meus três anos e meio de mandato. Enquanto os meus colegas estavam discutindo ideologia de gênero, porte de arma, escola sem partido, eu estava discutindo redução no preço do arroz, do feijão, fazendo a defesa do auxílio emergencial. Isso propiciou que o meu nome fosse lembrado de uma forma espontânea nas pesquisas e me trouxe até aqui para Presidência da República. É resultado de todo esse histórico de luta em defesa das pessoas.

o avante é um partido pequeno, com apenas oito deputados federais, terá pouquíssimo tempo de tV e um valor baixo do fundo eleitoral. Por outro lado, o senhor tem um alcance considerável nas redes sociais com 11,3 milhões de seguidores. Vai ser possível equilibrar a sua campanha em relações às grandes estruturas dos dois principais concorrentes? o senhor pode ser o “azarão digital” nas eleições?

Eu sou muito realista, não sou nenhum lunático, tenho total consciência do quão é difícil conseguir o que já consegui, como esses dois ou três pontos nas pesquisas, mas ao mesmo tempo tenho, igualmente, a noção da dificuldade que é avançar diante do cenário que você acaba de colocar. Nossa estrutura é limitada, de um partido relativamente pequeno, de pouco tempo de TV, com menos de dez segundos. Então, a gente precisa que algo muito improvável aconteça para a gente vencer as eleições. Improvável não é sinônimo de impossível. É muito difícil, mas já aconteceu algumas vezes e vou citar três exemplos: no Distrito Federal, Rio de Janeiro e o meu estado, Minas Gerais nas últimas eleições, onde a gente tinha candidatos que até dez dias antes das eleições tinham dois por cento das intenções de voto e no final, ali na reta final, as coisas aconteceram e eles foram eleitos. A gente tem que chegar até o eleitor, a gente tem que ir lá pedir para o eleitor ver o nosso conteúdo, ver nossas propostas. Na reta final, na última semana, o eleitor passa a buscar o candidato, ele passa a ver as propostas, e é esse momento que a gente conta para um crescimento exponencial que torna a candidatura competitiva de fato.

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