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Produções focadas no público infantojuvenil são cada vez menos presentes na tevê aberta. Só por isso, “A Infância de Romeu e Julieta” já teria um mérito. Afinal, a novela do SBT, assim como todas as outras exibidas nos últimos anos na faixa de teledramaturgia da emissora, é uma das poucas opções que crianças e préadolescentes têm de se entreter sem depender da assinatura de algum serviço de streaming ou de canal pago. Mas apostar nesses telespectadores mirins também é um desafio complicado. Afinal, tanto a infância quanto a adolescência são fases que se caracterizam pela mudança muito rápida de comportamento e de interesses em um intervalo muito pequeno de tempo.

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Talvez por isso a autora Iris Abravanel aposte tanto na diversidade não só de pessoas, mas também de temas e de foco ali.

De cara, a grande quantidade de atores pretos no elenco é um ponto que precisa ser valo- rizado. Se crianças negras das últimas décadas tinham dificuldades para se sentirem representadas na televisão, os telespectadores de hoje não têm essa questão na novela do SBT. Há ainda personagens asiáticos, acima do peso, com deficiência, enfim, a pluralidade ali é levada a sério. E não só na questão da presença, mas da própria participação. “A Infância de Romeu e Julieta” tem seus protagonistas, é óbvio. Mas é difícil encontrar figuras que fiquem muito tempo sem aparecer na história. O bom é que, pelo menos por enquanto, não se veem aquelas cansativas barrigas que algumas novelas enfrentam, quando entram em um looping que parece interminável, onde poucas coisas novas acontecem e muitos conflitos batidos se repetem.

A livre inspiração na famosa tragédia de William Shakespeare é protagonizada por Miguel Ângelo, de 12 anos, e Vittoria Seixas, de 14. Ele dá vida a um privilegiado Romeu, garoto preto nascido em família abas- O núcleo adolescente é gran- tada e que vive no lado mais nobre de Castanheiras, o bairro no qual a história é ambientada. Mas é imensamente cobrado para se interessar pelos assuntos ligados à empresa do avô, Leandro, papel de Guilherme Sant’Anna. Já ela interpreta a doce Julieta, adolescente branca e moradora do lado mais humilde da vizinhança, filha da batalhadora Mariana, vivida por Juliana Schalch, uma mulher que chegou a ser presa por um crime que não cometeu e que se empenha em um comércio local para sustentar a família. Sim, em “A Infância de Romeu e Julieta”, há diversos negros bem longe da posição de subserviência normalmente reservada a eles ao longo de muitas décadas na televisão. Uma movimentação que já acontece nas novelas, é verdade. Mas que merece ser valorizada, até mesmo para que não seja deixada de lado em produções futuras. de, mas o grupo de atores ainda na fase da infância não fica atrás. Com isso, dá para imaginar que crianças e jovens de faixas etárias bem distintas possam se interessar por alguns aspectos da trama. As atuações, em grande parte, abusam de uma teatralidade capaz de criar sensações adversas em quem assiste. Lu Grimaldi, por exemplo, a sábia Clara da novela, aproveita esse tom mais lúdico para, nas sequências com crianças, deixar qualquer pessoa com vontade de tê-la como avó. Lucas Salles é outro que se dá bem nessa construção, fazendo do coadjuvante Bassânio um dos personagens mais carismáticos do folhetim. Alguns atores, porém, pecam quando não conseguem dosar esse tom acima e se mostram verdadeiros canastrões ali. Esses talvez precisem entender que encarar uma produção voltada ao público infantojuvenil tende a ser bem mais desafiador e complexo do que possa aparentar.

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