2 OPINIÃO
sexta-FEIRA, 3 de junho de 2022
ESPAÇO JORNALISTA MARTINS DE VASCONCELOS
Organização: clauder arcanjo
ESTÁ TUDO NOS TRINQUES? Roger Ballen: mistura de realidade e ficção em situações grotescas se tornou a sua marca| Foto: Roger Ballen/Reprodução Flávia Arruda
Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência. flaviarruda71@gmail.com
Essa foi a pergunta que um amigo de trabalho me fez no instante em que adentrou a sala que trabalho. Meu riso ficou frouxo e já me deu dores na barriga de tanto rir com o termo que há tempo não ouvia. É o novo! Passado o primeiro momento de risos, fiquei com a frase perambulando em meu juízo: – Está tudo nos trinques? Cada vez que eu me fazia a pergunta uma só resposta emanava das minhas confusões mentais: Não, não está tudo nos trinques. A vida anda meio louca, muitos papéis invertidos, valores distorcidos, lavagens cerebrais feitas na nossa cara, um descaramento patriótico caótico. Não, não está tudo nos trinques. Nestes tempos em que se conclama a libertação feminina, em que se fortalece o movimento feminista na luta antipatriarcal, antirracista e anticapitalista, com seus espaços bem definidos, em tempos de aclamação e propagação da sororidade, ainda tem mulheres disputando homens, numa ação arcaica, totalmente ridícula e desnecessária, quando na verdade precisamos fortalecer a emancipação humana e a liberdade real das mulheres. Infelizmente, algumas de nós têm o “prazer” de sabotar a si mesma. Não, não está tudo nos
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Não, não está tudo nos trinques. O mundo enfrenta várias guerras, estamos nos campos de batalhas arriscando a própria pele, travando lutas invisíveis, injustas e atos desleais. Não é fácil ser mulher.
trinques. Não enquanto houver corporativismo masculino, tapando o machismo e o preconceito com a peneira, burlando os direitos, negando espaços. Ora, precisamos desnormalizar o machismo estrutural, acabar com as conveniências do corporativismo impregnadas em nossa sociedade patriarcal. Não, não está tudo nos trinques. O mundo enfrenta várias guerras, estamos nos campos de batalhas arriscando a própria pele, travando
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lutas invisíveis, injustas e atos desleais. Não é fácil ser mulher. E, como se não bastassem nossas próprias lutas e dores, ainda vem nos assolar a pandemia do século, levando gente querida, deixando rastros de destruição humana, marcas, sequelas e muito sofrimento. Não, não está tudo nos trinques. As tragédias estão por toda parte, sejam causadas pelos temporais devastando famílias inteiras no Recife ou Petrópolis, se-
jam pela invasão da Ucrânia pela Rússia, numa guerra insana e cruel, destruindo vidas, sonhos, esperanças. Não, não está tudo nos trinques. Não enquanto as pessoas não se humanizarem, se solidarizarem, se importarem colocando-se no lugar do outro, exercitando a tolerância e o respeito. Quero crer que uma hora vamos dizer em alto e bom som que: – Sim, está tudo nos trinques!
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