IMPRESSO
Jornal ABR Ano VI — Número 14
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Julho/Agosto 90
O advogado Dagorberto Lima, assessor jurídico
de nossa entidade, analisa a nova "Lei Antitruste" (Página 5)
^Editorial-
Todos perdem Perde o transportador, perde o recauchutador, perde também o Brasil com a inépcia do fisiológico governo anterior, deixando que as estradas federais chegassem ao lastimável e miserável estado em que se encontram. Para o transportador, o prejuízo é incalculável. Para o país. Inominável. De tal ordem são os desperdícios que chegamos a um verdadeiro impasse. "As trans portadoras demoram um tempo muitas vezes maior para cobrir determinado percurso. Na busca de compensar suas perdas pela Imobilização do veículo, passa a operar com extraordinária sobrecarga. Isto é outro agravante para contribuir com maior deterioração do leito das estradas, que já não oferecem nem leito. Perde outras vezes o Brasil! Perde a estrada que já estava feita, representando um grande Investimento. Perdem-se cargas, principalmente aquelas perecíveis, que chegam ao destino sem condições de uso. Perdem-se veículos na obsolescência forçada de uma vida acelerada por falta de condições de trafegabilldade. Perdem-se pneus aos montes, por estouro, acidentes, deslocamento de ombros, quebra de talão, quebra ou amassamento de rodas, etc... Quando se perdem pneus precocemente, o Pais os repõe Imediatamente a um elevado
custo em dólares — petróleo. Perdemos nós, os recauchutadores. Com o desastroso estado das rodovias, passamos a coletar pneus que são recusados em um elevadíssimo percentual. Imagine-se o custo da coleta à longa distância, demandando Notas Piscais, mão-de-obra de carga e descarga, exame, muitas das vezes raspagem, e ainda devolução desses, sem custos para o frotista. Perdemos mais. Perdemos a oportunidade de realizar essa receita, reduzindo, de forma drástica, a demanda de mercado. Pior ainda, o transportador, desmotivado, prefere muitas vezes recusar fretes, parando seus caminhões, reduzindo ainda mais a oferta de produtos para recauchutagem. Esse amargo coquetel. que tem como ingrediente principal a ação de maus governantes, leva o recauchutador a uma extraordinária miopia: na busca de um pneu que não existe, para suprir seu ponto de equilíbrio, avilta os preços. Esse aviltamento torna-se endémico e traz um comprometimento real de médio e longo prazos: a possibilidade de sobrevivência da Empresa. Primeiro fator visível é a falta de capacidade de renovação dos equipamentos e frota. Segue a má remuneração dos colaboradores e um consequente e inevitável desemprego, desfazendo-se de elementos importantes ã
continuidade do seu negócio. Cria-se todo um clima de Insegurança e desespero. A epidemia de preços baixos se alastra sem controle. É um verdadeiro canibalismo. Pobre Brasil! Como perdeu esse nosso Brasil quando permitiu que um mandante, nem tão legítimo, o prejudicasse tanto Ainda restam esperanças, todavia. Aliás, é uma constante do brasileiro renovar suas esperanças a cada advento catastrófico. Recente decisão do Governo Federal, implementada a partir do Nordeste, prevê a recuperação de todas as estradas federais em plano de emergência. Espera-se, possam os atuais governantes, a partir da credibilidade que lhes é creditada pelas instituições, cumprir religiosamente essa meta em prazo recorde. Somos uma economia sobre pneus —.temos dimensões continentais —, convivemos com sistema integrado economicamente, com verdadeira interdependência, das diversas regiões. O Brasil não pode parar, nem perder mais! Seu movimento depende, decisiva e fundamentalmente, desta ação de governo. Vamos renovar nossas esperanças e conviver com elas, até que possamos conviver com uma economia ajustada às dimensões desse gigante que ainda conseguiu não ser destruído.