A Impunidade de atos racistas no futebol Tal esporte, que deveria ser um espetáculo, passa por um processo de injúria racial em seus estádios, principalmente, no futebol sul-americano
Antônio Bandeira de Melo Carvalho Valle, Gustavo Henrique de Castilho Manfio, Lucca Cavalheiro Ranzani, Thiago Frasca Scorvo Filho e Vinicius Pereira Vilas Boas
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© Reprodução: Portal GCMAIS
a história do futebol, a população negra sempre lutou por respeito dentro e fora de campo, contra uma sociedade onde o preconceito é majoritário. Apesar das décadas de ativismo em oposição às atitudes racistas, as pessoas afrodescendentes ainda sofrem com o preconceito racial nos estádios. Em 2022, os casos de racismo presentes no futebol obtiveram um aumento relativo, principalmente na mais importante competição internacional da América do Sul: a Libertadores da América. Torcedores do Corinthians, Fortaleza, Fluminense, Flamengo, Palmeiras e Red Bull Bragantino receberam inúmeros gestos racistas das torcidas adversárias – entre elas: argentinos, chilenos e equatorianos – durante os jogos disputados. Embora o racismo seja considerado um crime, as autoridades e a instituição que organiza a competição, CONMEBOL (do espanhol, Confederación Sudamericana de Fútbol), pouco punem os atuantes. Essa situação fica clara, pois os clubes sofrem poucas sanções pelos atos de suas torcidas, sendo punidos apenas com uma multa financeira.
Manifestação contra o racismo da torcida do Fortaleza, no jogo contra o River Plate
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Os casos de racismo na Libertadores em 2022 Na Copa Libertadores da América deste ano, o racismo no futebol voltou a ser pautado logo no início, na pré-Libertadores, quando o Fluminense enfrentou o Millonarios, na Colômbia. Nesta partida, após o apito final, começaram a aparecer vídeos em páginas colombianas, cujos torcedores ofendiam os brasileiros. Durante a fase de grupos, os times brasileiros voltaram a sofrer com o preconceito. No jogo entre River Plate e Fortaleza, a torcida brasileira foi vítima, na Argentina, de atos racistas, com um torcedor arremessando uma banana pela arquibancada. Além da punição de 30 mil dólares ao clube, o River suspendeu o indivíduo por seis meses em seu estádio e o obrigou a fazer um curso de conscientização. Em uma derrota por 2 a 0 fora de casa, a torcida do Red Bull Bragantino relatou outro episódio de injúria racial vindo da torcida do Estudiantes – os argentinos foram filmados gritando a palavra “mono”, que significa macaco em espanhol, para se referir aos torcedores do Brasil. No Brasil, o Corinthians jogou contra o Boca Juniors na Neo Química Arena e, durante a partida, um grupo de torcedores fizeram gestos e imitações racistas. Consequentemente, um torcedor argentino foi preso, mas liberado depois de pagar sua fiança. Na Argentina, o mesmo torcedor foi impedido pela justiça local de entrar em estádios de futebol nos próximos dois anos, mas o clube de Buenos Aires não escapou da punição financeira de 30 mil dólares. Pelo Chile houve mais um episódio de racismo – com violência – na partida entre Universidad Católica e Flamengo, no qual chilenos reproduziram inúmeros gestos de discriminação aos torcedores fl amenguistas e atiraram pedras, garrafas e sinalizadores, ferindo uma criança presente na arquibancada. Em uma partida ocorrida no Allianz Parque, um caso envolvendo os torcedores equatorianos do clube Emelec, com vídeos da torcida gritando “macacos” aos palmeirenses, viralizaram nas redes sociais. O Observatório Racial do Futebol, a pedido da CNN, fez um levantamento que demonstrou um recorde de registros de injúrias raciais nas copas sul-americanas. Foram, ao total, dez casos (a pesquisa
CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP