Patrimônio brasileiro, Museu do Ipiranga reabrirá no Bicentenário da Independência O edifício, fechado há nove anos, contará com novas tecnologias, diretrizes de segurança e acessibilidade Por Carlos Gonçalves e Rafaela Reis Serra
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A criação se deu logo após a Independência de 1822, quando começou a se organizar os primeiros fundos para pensar um monumento que homenageasse o acontecimento. “Há quem diga que José Bonifácio começou a fazer um fundo. A princípio, não se tinha a ideia da construção de um museu, mas um monumento. Havia poucos grandes monumentos espalhados pelo país e, no Rio de Janeiro, era onde havia mais”, explica Marcelo Rainho, jornalista, designer e pesquisador de arquitetura e urbanismo. A câmara Municipal de São Paulo, em 1869, começou a se organizar e fez uma comissão, junto à corte de Dom Pedro II, para pensar em um projeto em homenagem à data. Foram promovidos concursos para escolher o melhor projeto e quem seria o responsável pela construção. © H+F Arquitetos
Museu Paulista da Universidade de São Paulo, também conhecido como Museu do Ipiranga, foi inaugurado oficialmente em 7 de setembro de 1895, sendo o museu público mais antigo da cidade de São Paulo. O complexo histórico é constituído pelo edifício-monumento e o Parque da Independência. Vinculado à USP desde 1963, como uma instituição científica, atua como espaço para a pesquisa educacional, cultural e histórica. O edifício, tombado pelo patrimônio histórico municipal, estadual e federal é detentor de um acervo que abrange objetos e obras de artes, cujas narrativas englobam períodos antes e após a independência da nação. O museu ergue a conjuntura da origem brasileira, preservando em seu espaço a memória que não deve ser esquecida.
Projeção em 3D do Novo Museu do Ipiranga
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“Coincide com a imigração estrangeira no Brasil, principalmente em São Paulo. Uma das pessoas que despontam no projeto é o engenheiro italiano, Tommaso Gaudenzio Bezzi, uma das figuras mais importantes para o museu, porque ele não só contribui para o projeto, como para o estilo dele, mas também para o quê deveria ser o espaço de celebração da Independência”, comenta Rainho.
Construção e acervo Utilizando da técnica de alvenaria com tijolos cerâmicos em sua composição, o arquiteto e engenheiro italiano foi contratado, em 1882, para realizar o projeto do edifício no local onde aconteceu o grito de independência do Brasil. A construção começou em 1885, medindo 123 metros de comprimento e 16 metros de profundidade e contou com o trabalho de mais de 300 pessoas. Para a execução do planejamento de Bezzi, foi escolhido o italiano Luigi Pucci, cuja importância é enorme para a arquitetura da capital paulista, e o fez em tempo recorde: quatro anos. O estilo arquitetônico eclético do museu foi inspirado nos palácios renascentistas, com predominância no neoclássico europeu. As obras foram encerradas em 15 de novembro de 1890, primeiro aniversário de comemoração da República. Na década de 20, o projeto do paisagista alemão, Reynaldo Dierberger, foi escolhido para os jardins ao redor do edifício, cujo desenho se mantém, em sua maior parte, até os dias atuais. O Museu do Ipiranga contém em seu acervo mais de 450 mil artigos, entre esculturas, quadros, jóias e documentos, alguns datados do século XVI até meados do século XX, que servem como base para compreender a sociedade brasileira. Os acervos são formados em três linhas de pesquisa: Cotidiano e Sociedade, o Trabalho e a História do Imaginário. Restauração Em 2013, o Museu precisou ser fechado após a constatação de problemas em sua estrutura, apresentando rachaduras e infiltrações nos forros de suas paredes internas, acarretando no desmanche da argamassa e o apodrecimento dos troncos que a sustentam. Após seis anos de espera, as obras foram retomadas no edifício, com a licitação para a construtora Concrejato. Com etapas que envolviam a proteção dos bens artísticos integrados à constru-
CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP