Cor, forma, identidade e Kobra
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Um olhar sobre a vida e obra de um dos mais renomados muralistas da atualidade
Por Fernando F. Maia, Kiara Elias e Laís Bonfim
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duardo Kobra, artista brasileiro que coloriu os cinco continentes, nasceu em 1975, no Jardim Martinica, bairro pobre da capital paulista, onde começou a pintar muros desde cedo, com 12 anos de idade. “Passei por todos os processos da rua, pixação, da ilegalidade, da discriminação, do preconceito e toda a dificuldade”, conta o muralista em entrevista para o jornal Contraponto. Em sua trajetória, trabalhou em um parque de diversões fazendo cartazes, pintando cenários de brinquedos e criando imagens decorativas para eventos em 1990, sendo reconhecido pelos muros na mídia somente em 2007, através do “Muro das Memórias”. Eduardo diz que, “são 30 anos batendo na mesma tecla e eu sou um cara muito persistente. Embora eu tenha estudado até o terceiro colegial, eu sou autodidata, nunca fiz nenhum tipo de curso relacionado a arte, eu aprendi tudo na rua. Mas, isso não significa que eu não tenha me dedicado muito, a maior parte do tempo estou pesquisando, buscando informação para evoluir no crescimento artístico da minha obra e dessas perspectivas, porque há toda uma dificuldade em todos esses convites e realizar trabalhos nos cinco continentes.” Para Kobra, um momento crucial na sua carreira foi quando começou a acreditar mais em sua obra e pintar com seu próprio pincel, sem copiar o estilo de outros artistas. Essa evolução, de acordo com
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ele, o possibilitou traçar seu próprio caminho e crescer nele. Inspirado pela natureza, arquitetura moderna e contemporânea, por ativistas sociais e grandes artistas, como Burle Marx, Oscar Niemeyer, Cândido Portinari, Diego Riviera, Gustav Klimt, Jackson Pollock e Banksy, o muralista brasileiro, também, se instiga em pequenos artistas. “Eu me conecto com muitos artistas, criei um projeto chamado “Envolva-se”, porque recebemos e-mails de vários lugares do mundo e quando eu estou nesses países, damos a oportunidade para esses autores pintarem junto e a gente fazer essa troca.” e complementa: “Se você vir no meu Instagram, eu faço menção ao João Pedro que é deficiente auditivo e se inspira na minha obra; a gente troca informações. Tem um outro artista na África que temos trocado conhecimento recentemente; e artistas de muitos lugares que a gente vai se conectando e vai se ajudando e dando força um pro outro, porque essas histórias também me inspiram.” Além desse projeto que ajuda artistas em ascensão, Kobra fundou o “Instituto Kobra: a Arte como Instrumento de Transformação Social” em 2021, para impactar a vida de meninos e meninas das comunidades. Segundo ele: “O instituto ainda é um embrião, está no comecinho, só agora a gente conseguiu a documentação oficial. Nós temos feito muitas ações online, participado de leilões, ações com outros institutos e ONGs (organizações não governamentais). Mas o intuito mesmo desse instituto – assim que tivermos um espaço físico, que já está sendo negociado – é trazer uma transformação de vida através
da arte, não só da pintura/grafite, mas de todas as manifestações artísticas – como cinema, teatro, música – inspirado na minha trajetória da periferia, da comunidade, pensando no que eu passei e na dificuldade que foi. (...) Eu quero através do instituto formar parceiros e pessoas que possam incentivar pra gente conseguir ampliar isso e ajudar esses talentos a seguirem com esse dom que Deus deu pra eles.” O processo de criação, segundo Kobra, é algo bem complexo, passa por diversas etapas: o convite para realizar o trabalho, sua aprovação, autorizações para utilizar equipamentos, a viagem em si, organizar os objetos de proteção necessários e pensar nos materiais – que às vezes são diferentes em outros países. Ele, que possui diversos murais espalhados pelo mundo, diz que um dos mais desafiadores foi a obra produzida para a empresa alimentícia “Cacau Show”, o qual ganhou espaço no Guin ness World Records (o livro dos recordes) como o maior grafite do mundo – Kobra já havia conquistado tal recorde com o mural Etnias, mas decidiu superar a si próprio. “Posso citar uns painéis difíceis, o mural que entrou para o Guinness Book que tem seis mil metros quadrados. Foi muito complexo pra ser feito, levou meses, na verdade. Teve um prédio com mais de 100 metros de altura; são trabalhos que exigem muito, tem todos esses processos envolvidos, a pintura é só o resultado final de um processo longo.”, diz o artista. Eduardo conta que o importante é o significado e o motivo pelo qual a mensagem foi colocada em seus murais, pode ser um trabalho valendo muito dinheiro
CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP