Jorge Sampaoli: El Zurdo de Casilda Dono de uma personalidade forte, o técnico deixa lembranças inesquecíveis em chilenos e brasileiros
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orge Sampaoli é um dos técnicos mais polêmicos e mais em alta do futebol brasileiro atualmente. O argentino, que agora treina o Atlético Mineiro, possui como uma de suas grandes inspirações – não só para seu modelo de jogo, como também no temperamento – o treinador e ex-zagueiro, também ‘hermano’, Marcelo ‘El Loco’ Bielsa. Assim como seu mentor, Don Sampa, como é chamado Sampaoli, passou e fez sucesso na seleção chilena, em que conquistou o primeiro título importante da história do país: a Copa América de 2015. Jorge Luís Sampaoli Moya nasceu em 13 de março de 1960, na cidade de Casilda, localizada na província de Santa Fé, na Argentina. Desde cedo, sempre teve o futebol presente em sua vida, já que era torcedor fanático do River Plate e tinha como um de seus ídolos o meio-campo e artilheiro Beto Alonso, astro de La Banda e do futebol argentino nas décadas de 70 e 80. Sampaoli tentou a sorte como jogador nas categorias de base do Newell’s Old Boys, mas sofreu uma lesão grave no joelho, o que o impossibilitou de continuar sua carreira. Entre 1992 e 2001, o técnico se revezou no comando de times amadores da Argentina e foi bicampeão da Liga Casildense, de sua cidade natal. A primeira oportunidade em um clube de primeira divisão foi no Peru, em 2002, no Juan Aurich. Posteriormente, passou pelo também peruano Sports Boys e ainda teve duas passagens pelo Coronel Bolognesi, além disso, treinou o Sporting Cristal. Em seguida, em 2008, Sampaoli teve sua primeira experiência no futebol chileno, ao treinar O’Higgins. O técnico levou a equipe até o terceiro lugar no Torneio Apertura daquele ano, e deixou o time em meados de 2009. No ano seguinte, foi contratado pelo Emelec, do Equador, e disputou a Copa Libertadores da América; mas foi eliminado ainda na fase de grupos. Depois, fez uma bela campanha no Campeonato Equatoriano, alcançando o primeiro lugar na classificação geral e levando a equipe para a Libertadores no ano seguinte. O bom desempenho no Emelec fez com que, em junho de 2010, o clube equatoriano fosse considerado o melhor do mundo naquele mês pelo IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol, na sigla em português).
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Ascensão no Chile A passagem de Sampaoli pela Universidad del Chile, clube super tradicional no país, foi suprema. Desde sua chegada ao clube, em 2011, até sua saída, em 2012, o time foi extremamente vitorioso, conquistando uma hegemonia no país com um tricampeonato nacional e o inédito título da Copa Sul-Americana de 2011. Nicolas Alvarez, torcedor da La U, lembra da relevância da conquista da Sul-Americana e da busca incansável do time de Sampaoli. “A La U nunca sequer chegou em uma final de Libertadores. Poder ganhar um título como esse, colocar uma estrela na camisa, é parte fundamental da história da instituição. Sampaoli também ganhou os clássicos, que são muito importantes [...] e um [clássico] de interesse bem grande é o duelo contra o Colo-Colo: com Sampaoli, se fez um 5-0 [neles], e atacando”, vibra o torcedor. Essas conquistas criaram uma imagem de idolatria do treinador na equipe chilena. Alvarez descreveu o técnico argentino como o maior ídolo do clube no século 21. Seu legado incontestável passou a chamar a atenção de outros times ao redor do continente, mas o argentino acabou selando sua permanência em Santiago, no comando da seleção chilena. Em 3 de dezembro de 2012, Jorge Sampaoli começou sua passagem pela La Roja, essa que, no futuro, lhe renderia sua maior glória na carreira: a Copa América de 2015. Todavia, no começo de seu trabalho, Sampaoli passou por uma provação: melhorar o desempenho do Chile nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2014, com a finalidade de conquistar uma vaga no campeonato mundial. Cumprindo sua missão, o técnico conquistou a vaga, levando o Chile para a Copa no Brasil – e foi em terras brasileiras que o chileno provou o seu valor. A Seleção Chilena, mesmo caindo em um grupo muito difícil, com a atual campeã e vice-campeã do torneio Espanha e Holanda, respectivamente, avançou para as oitavas de final, em que, após um árduo jogo, acabou sucumbindo diante da seleção brasileira nas penalidades máximas. No ano seguinte, Sampaoli conquistou a gloriosa Copa América ao derrotar a Argentina na final. Sobre a importância desse título, Alvarez lembra que o técnico foi “extraordinário”. O Chile ainda não tinha ganhado um título internacional, e com Sampaoli se conquistou”, diz. Na vitoriosa campanha, o Chile apresentou um futebol vistoso. Os fatores que levaram essa conquista à Roja, além de
um ótimo trabalho de Sampaoli, passam por uma geração de jogadores excepcionais, segundo Pablo Paván, biógrafo e amigo de Sampaoli. “O Chile não perdeu nenhuma partida nessa Copa, era uma equipe de caráter muito ofensiva, e se deu com uma geração de muitos bons jogadores. Vidal, Alexis Sánchez, Valdivia, Marcelo Díaz, Sarandi, Bravo. Não são jogadores que aparecem o tempo todo no Chile”, relembra. © Arquivo Pessoal
Por Amaury Ferreira, Daniel Seiti Kushioyada, Gabriel Lourenço Schiavoni e Rafaela Reis Serra
Jorge Sampaoli e o biógrafo Pablo Paván
Passagem no Sevilla e na seleção Argentina Em janeiro de 2016, Sampaoli saiu da seleção chilena devido a desgastes no relacionamento com a Federação de Futebol de Chile (FFC). Em junho do mesmo ano, o argentino assinou contrato por duas temporadas com o espanhol Sevilla, clube em que obteve um bom desempenho ao alcançar o 4º lugar no Campeonato Espanhol da temporada 2016/17 e classificá-lo para Liga dos Campeões da Europa de 2017/18. Em sua última partida comandando Los Hispanlenses, confirmou as especulações da imprensa de que estaria assumindo o cargo de técnico da seleção Argentina. Sampaoli assumiu a seleção argentina em junho de 2017 e, logo na estreia, conseguiu sua primeira vitória em um amistoso contra o Brasil, no que foi a primeira derrota de Tite pela seleção brasileira. Todavia, nas eliminatórias para garantir a vaga na Copa do Mundo de 2018, os argentinos estavam em situação delicada, chegando na última rodada com grandes chances de ficar de fora do mundial. No jogo decisivo, apesar do futebol mal jogado, Messi brilhou e a Argentina obteve a vitória contra o Equador fora de casa, assegurando o passaporte para o Mundial de 2018 na Rússia. Mesmo com a vaga garantida para o mundial, a seleção argentina colecionava maus resultados nos amistosos. Na Copa do Mundo, a estreia foi contra a novata
CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP