A necessidade da metamorfose chilena no setor cultural Com o novo coronavírus, novas alternativas no ramo das artes e cultura tiveram de surgir para prosseguir seu funcionamento na sociedade Em entrevista ao Contraponto, o grupo “La Llave Maestra”, companhia de teatro hispano-chilena, conta que nesse período marcado pelo distanciamento físico encontraram muitas alternativas graças à internet e às redes sociais. “Durante a pandemia temos oferecido nossos trabalhos em formato online para diversos teatros no Chile e no estrangeiro. Também temos criado arquivos audiovisuais com histórias da quarentena que estão sendo publicadas em páginas da web, como Vimeo, Youtube e outras redes sociais”, relatam. Os membros da companhia ainda acrescentam que têm realizado cursos, workshops e palestras online para alguns teatros e festivais. O grupo já tem planos para quando a pandemia terminar. Eles contam que desejam “poder retomar as atividades e turnês, tanto nacionais quanto internacionais, voltar aos teatros, encontrar com o público e seguir difundindo nossos espetáculos. E gostaríamos de criar novas obras presenciais assim que possível”. As mostras culturais e os eventos anuais estão entre os mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus no Chile. O MAC (“Museu de Arte Contemporânea”, em português), em Santiago, teve de suspender a mostra “Colección/Contingencia” em meados de março devido à crise sanitária. De 15 de agosto até 31 de janeiro de 2021, a exposição ficará disponível na internet. As obras tratam dos “horrores das ditaduras latino-americanas” e de “fenômenos sociais como a imigração, o conflito com o povo Mapuche, entre outros”. O Barrio Arte organiza a “Semana de Las Artes Visuales”, em uma colaboração cultural entre o Centro Gabriela Mistral (GAM), o Museu de Artes Visuais (MAVI), o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), o Museu de Arte Contemporânea (MAC)
e outros museus, galerias e espaços culturais nos setores Lastarria e Parque Forestal. Em uma mescla entre exposições virtuais, workshops online e filmes, o om as atividades que dependem da evento é um projeto financiado pelo Proaglomeração de pessoas para sograma de Fortalecimento das Organizabreviver em suspensão por causa do ções Culturais do Ministério das Culturas, novo coronavírus, o setor cultural, em todo Artes e Património do Chile. o mundo, precisou se reiventar. Exposições Outra ferramenta acessível a todos, em museus, espetáculos de teatro, shows até mesmo no Brasil, é a plataforma digital de música, sessões de cinema, entre ouTEATROAMIL.TV, criada pela Fundación tros, se encontraram em um ponto em Teatro a Mil em 2017. O projeto ganhou comum: pensar como fazer funcionar este grande importância durante o isolamencampo de atuação que, até então, sempre to por ser um serviço de streaming inteinecessitou de público e de contato físico. ramente gratuito, com obras completas, Sem a capacidade operar, não se pode documentários, programas, aulas e encontar com o dinheiro do ingresso, tão trevistas relacionadas ao teatro. De acornecessário para manter respirando uma do com o site da plataforma, a ação surgiu cadeia que tem no artista sua ponta mais da “necessidade de compartilhar com o visível, mas que também inclui dezenas público o inestimável arquivo audiovisude outras profissões e atividades, diretas al que a organização compilou durante e indiretas. Estas vão de profissionais técanos”, para assim colaborar com a memónicos que atuam por trás das câmeras ou ria cultural do país. dos palcos, até uma grande rede de forneEm conversa com o grupo La Llave cedores terceirizados ou autônomos, dos Maestra, os atores contam que também motoristas ao ambulante que vende cerfizeram participação em uma plataforma veja na porta do show. de streaming. O site da iniciativa chamado No Chile, ainda no início da pandemia, Escenix, tem o objetivo de ser um acervo, o Ministério das Culturas, das Artes e do e conta com mais de 120 títulos, número Patrimônio do país reformulou alguns insque ainda irá crescer. O projeto tem um trumentos e programas e criou seu Plano planejamento de 2 a 3 obras novas por de Emergência em Apoio às Culturas, às mês. A plataforma conta com um reperArtes e ao Patrimônio como alternativa de tório de todos os gêneros, entre eles, musobrevivência no atual sistema. Já no sesicais, romances, stand-ups, e também gundo semestre de 2020, o setor cultural espetáculos de dança. A compra de inse encontra com outras possibilidades de gressos é feita pelo site, que custam 4.000 continuar manifestando suas artes. pesos (aproximadamente 28 reais). A Prefeitura de Santiago mostrou que a A reinvenção da cultura no Chile memória cultural não deixa de ser construA resistência artística chilena teve ída mesmo em meio a uma crise sanitária grande destaque diante do contexto como a que vivemos – e foi exatamente essa pandêmico. Museus, exposições e até a ideia do projeto “Relatos en tiempos de mesmo workshops que funcionavam de pandemia”, que une fotografia e micro-relaforma presencial passaram a acontecer tos construídos no contexto do isolamento. virtualmente. Dentre eles, destaca-se Ao serem enviados no e-mail o Museu Violeta Parra, que, do projeto, as imagens e os após ter seu espaço físico despequenos relatos passam a truído por três incêndios, se integrar o arquivo da Biblioteadaptou rapidamente às placa Nicomedes Guzmán, em taformas virtuais. O museu, Santiago, e também podem que leva o nome de uma das ser publicados nas redes soartistas mais potentes e pociais do Subdiretório de Culpulares do país, está localizatura da cidade. do em Santiago, manteve-se Os eventos remotos ativo durante todo o ano nas também serviram de ajuda redes sociais, atraindo novas aos mais afetados pela crise. audiências. Além do VioleA campanha solidária “Vata Parra, o Museo Palacio mos Chilenos”, impulsionada Cousiño, também situado na por Don Francisco, principal capital chilena, passou a disapresentador televisivo do ponibilizar visitas virtuais que Caso Cabaré Privê, elaborado pela Companhia de teatro Pequeno Ato, país, reuniu diversos artispodem, inclusive, ser acessaexplora o ambiente virtual tas e personalidades com o das em terras brasileiras. Por Anna Baisi, Beatriz Loss, Luíza Feniar Migliosi e Sabrina Legramandi
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CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP