JornalCana 260 (Setembro/2015)

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TECNOLOGIA INDUSTRIAL

Setembro 2015

Rendimento fermentativo estável acima de 92%, é possível? Com o reaquecimento do consumo de hidratado, a elevação da eficiência da fermentação é considerada estratégica para “turbinar” o faturamento das usinas DA R EDAÇÃO

Com a demanda aquecida pelo etanol hidratado, os gestores das usinas voltam não apenas a chave do mix, mas a atenção para a fermentação, principal ponto de recuperação do ART em etanol e que, portanto, tem grande impacto econômico para as empresas. A obtenção de Rendimento Fermentativo estável acima de 92% depende da adoção de diversos procedimentos, que começam com cuidados no campo visando a produção de uma matéria-prima de qualidade. Tendo em vista que esta etapa é de responsabilidade da área agrícola, quais procedimentos podem ser adotados exclusivamente pela área industrial? Segundo Teresa Cristina Vieira Possas, diretora da MSBIO, que faz parte do programa Fermentação de Alto Desempenho do Pró-Usinas, é necessário que a usina utilize a melhor das melhores leveduras presentes em seu processo de fermentação.

Teresa Cristina Vieira Possas

Para ela, o primeiro passo é estabelecer um processo contínuo de seleção e introdução de leveduras mais resistentes, predominantes e produtivas, obtidas a partir do cruzamento das melhores leveduras presentes no seu processo de fermentação e de “super cepas” disponíveis no mercado. “A melhor e mais recente levedura deve ser injetada no processo sempre que o Rendimento Fermentativo ficar abaixo do esperado”, esclarece. Teresa mostra o caso da Itapecuru Bioenergia, de Aldeias Altas, MA, que em meados de agosto estava injetando um

fermento do próprio processo, o melhor préselecionado no mês de julho. “No relatório gerencial percebe-se um aumento de teor alcoólico com o mesmo ART do mosto, o que se refletiu num aumento do rendimento fermentativo de 92% para 93%”, afirma. O segundo procedimento, conforme a longa experiência de Teresa, é seguir à risca o controle microbiológico, onde a razão de acidez deve ser no máximo 2,0 (acidez formada na fermentação em detrimento da formação de etanol) e a razão de infecção menor que 5% ou, utilizando a nomenclatura mais comum no setor, uma infecção na fermentação em torno de 106 (dez a sexta). Já para o biomédico Mário César Souza e Silva, Rendimento Fermentativo acima de 92% passa a ser padrão quando as usinas e destilarias adotam um programa de desinfecção industrial limpa e ecologicamente correta. Para o programa ser efetivo é fundamental adotar uma metodologia de diagnóstico da contaminação bacteriana que seja correta e disponibilize um valor confiável – enfatiza. Segundo ele, no entanto, este procedimento não é prática na maioria das usinas. O setor sucroenergético brasileiro ainda usa, em diversos casos, a microscopia por bastonete que é considerada ultrapassada – revela. “Essa metodologia não acusa pelo microscópio o nível verdadeiro da microbiota contaminante”, esclarece. Em relação à técnica do lactímetro –

também empregada para avaliar a contaminação bacteriana –, ele observa que esse procedimento não mede ácido lático total, que é produzido por no máximo 64% das bactérias contaminantes da fermentação. “O lactímetro não é um bom quantificador da microbiota bacteriana contaminante do processo”, afirma. Na opinião dele, é obrigatória, no controle microbiológico, a utilização de uma ferramenta quantificadora confiável do nível de contaminação bacteriana. “A mais precisa é o plaqueamento”, ressalta. Mas, a prática gerou um equívoco na maneira de aplicar essa metodologia no setor – alerta. “As bactérias do processo de fermentação são exigentes. No ambiente em que elas vivem há aspectos nutricionais e físico-químicos, como temperatura e o pH. As usinas que fazem plaqueamento, em sua grande maioria, não utilizam os meios de cultura corrigidos. Usam água esterilizada e, às vezes, utilizam água peptonada, mas não corrigem o pH e outros aspectos nutricionais”, comenta. Esses procedimentos são contrários ao conceito básico da técnica de plaqueamento. “Para se expressar nas placas de petrifilm, qualquer ser vivo precisa de alimento e de condições normais de vida”, ressalta. Se não houver a correção das condições nutricionais e ambientais para a aplicação correta do plaqueamento, há chances da bactéria não crescer e, em consequência disso, gerar um diagnóstico falso.


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