JornalCana — Edição 267 / Abril 2016

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AÇÃO SOCIAL & MEIO AMBIENTE

Abril 2016

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GOVERNO AUTORIZA A CAÇA AO JAVAPORCO Ibama tenta reduzir superpopulação e ataques; produtores ainda sofrem prejuízos LUIZA BARSSI, DE VALINHOS, SP

Algumas áreas rurais brasileiras — especialmente nos estados de São Paulo e Santa Catarina — continuam a sofrer com os ataques dos javaporcos. Resultado do cruzamento do javali selvagem e do porco doméstico, esses híbridos possuem hábitos noturnos e costumam alimentar-se de vegetais, como: raízes, frutos, bolotas, castanhas e sementes. Não raro, invadem canaviais e causam grandes estragos. Os animais se multiplicaram. Estima-se que existam hoje pelo menos 40 mil destes animais apenas em Santa Catarina. Em São Paulo não existe levantamento oficial da quantidade destes

Javalis abatidos por caçadores autorizados pelo Ibama

animais que estão soltos. Os javaporcos atacam as lavouras durante a noite, e em alguns casos chegam a

causar até 20% de prejuízo ao produtor, além de trazer apreensão e perigo aos moradores da zona rural que não sabem

lidar com esse tipo de situação. O agravamento do problema levou o Ibama — Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, a aprovar, em 2013, o manejo desses invasores. Trocando em miúdos, o órgão abriu uma exceção da lei ambiental e permitiu a caça controlada destes animais. Esta multiplicação indiscriminada de javaporcos preocupa o governo, a ponto de já considerá-la praga. Por ser muito agressivo, estes animais têm provocado acidentes fatais a pessoas que se arriscam a enfrentá-los sem qualquer preparo. Além disso, provocam prejuízos à agricultura e causam problemas de saúde pública, uma vez que são portadores de doenças, explica Vitor Hugo Cantarelli, coordenador de Gestão do Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas do Ibama. Ele informa que a questão exige ação conjunta do Ibama com outros ministérios (Saúde, Agricultura, Ministério das Relações Exteriores) e de órgãos governamentais de meio ambiente estaduais e municipais para se debelar da praga.

O animal exótico se transformou em problema regional Na década de 90, javalis foram importados da Europa para criação em cativeiro no Uruguai, com o principal objetivo de produzir uma carne exótica. Porém, vários animais fugiram, entrando nas matas e cruzando com porcos domésticos de sítios e fazendas da região. Os ataques começaram no Rio Grande do Sul e avançaram para outros estados. Hoje, Santa Catarina e São Paulo são os mais afetados. Os agricultores do interior paulista têm recorrido a cercas elétricas para evitar ataques de javaporcos. Estes animais atuam sempre em bando. Preferem plantação de milho e soja, mas não raro atacam os canaviais. Nas regiões de Araçatuba, São José do Rio Preto e Bauru, pelo menos 70 plantações foram atacadas nos últimos doze meses. (LB)

O CAÇADOR DE JAVAPORCOS! A liberação para a caça controlada de javalis e javaporcos pode ajudar qualquer um que ainda queira realizar sonhos de grandes caçadas, desde que sejam apenas destes animais. O Ibama informa que não há e nem haverá liberação para abate de qualquer outro animal, uma vez que, só foi permitido matar javalis e javaporcos por serem animais invasores. Ou seja, nativos de outros países e causadores de prejuízos no território brasileiro. A liberação do Ibama despertou vários interessados na caça esportiva. O advogado Aparecido Edivaldo Pizzinato, de Jaú, SP, que já possuía autorização para porte de armas, não teve grandes dificuldades para obter liberação de caça do instituto. O processo foi feito online e demorou em média 40 minutos. Quem não possui o porte de armas precisa enfrentar o processo burocrático no Exército Brasileiro, que pode demorar até nove meses para liberação total. O acesso aos locais de caçada é dado pelo responsável do local onde acontecerá o manejo (eufemismo que o Ibama

usa para se referir aos abates). Edvaldo está autorizado a caçar animais em 23 propriedades. Ele também é chamado pelos donos dos sítios ou usinas quando aparecem sinais de ataques dos animais às plantações. Edivaldo faz parte do grupo CAEI — Controle de Animais Exóticos Invasores, que possui 11 integrantes e cães de caça. Ele conta um pouco de sua experiência nas perseguições. Como sempre teve espírito aventureiro, já estava acostumado a entrar em florestas e lugares perigosos. A perseguição é sempre feita durante o dia, e na maioria das vezes, em lugares sujos e perigosos. Esses primos dos porcos mantêm o hábito de gostar da sujeira. Edivaldo conta ainda que a equipe banca todos os custos e não recebe nenhuma ajuda financeira. Na realidade, este é o esporte e o lazer mais apreciado pelos onze caçadores. Ele garante: “É emocionante, tem sempre muita adrenalina no momento da perseguição”. Até hoje ninguém se machucou. (LB)


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