JornalCana — Edição 262: Novembro

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LIA MONTANINI

Ribeirão Preto/SP

Novembro/2015

Série 2

Nº 262

R$ 20,00

ELDORADO A EXPANSÃO É REALIDADE Odebrecht Agroindustrial avança contra a crise e expande usina em Rio Brilhante, MS, sempre focada em pessoas e sustentabilidade

Eurico Alves, superintendente e Pedro Augusto da Costa, gerente de pessoas e administração: mais que retrofit, revamp




4

ÍNDICE DE ANUNCIANTES

Novembro 2015

Í N D I C E ACESSÓRIOS INDUSTRIAIS FRANPAR

16 21334385

COLETORES DE DADOS 10

MARKANTI

16 39413367

ANTARES

54 32186800

34

COMBATE A INCÊNDIO EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS

VEDACERT

16 39474732

66

ARGUS

ACOPLAMENTOS

FRANPAR

16 21334385

INFORMA FNP

17

CONSULTORIA CONTÁBIL E TRIBUTÁRIA

AGRICULTURA DE PRECISÃO TRIMBLE

19 31137000

DIRETRIZ

ANTI-INCRUSTANTES ALCOLINA

16 39515080

37

GASIL

81 34718543

12

ÁREAS DE VIVÊNCIA ALFA TEK

17 35311075

3

ANTIBIÓTICOS - CONTROLADORES DE INFECÇÕES BACTERIANAS ALCOLINA

16 39515080

37

ASSESSORIA INDUSTRIAL FURCO ASSESSORIA

16 31022866

11 26826633

16 35124310

BMA BRASIL 9

16 35124310

44

19

46

53

47

16 39698080

BMA BRASIL

11 30979328

64

19 37953900

SÃO FRANCISCO

APS COMPONENTES

11 56450800

42

AUTHOMATHIKA

16 35134000

43

IRRIGA ENGENHARIA

ENGEVAP

MSBIO

29

16 39461800

35

62 30883881

4

42

16 35124310

55

34 33199500

PROLINK

19 34234000

13

VIBROMAQ

DECANTADORES

11 30432125

2

11 51889000

49

DMB

16 39452825

66

16 39461800

35

PROSUGAR

81 32674760

15

DESINFECÇÃO INDUSTRIAL

VEICULAR

61

ELETROCALHAS

16 35138800

42

16 35110100

45

11

CENTRÍFUGAS

7

PINTURA 18 36315000

62

SUPRIMENTOS DE SOLDA 6

18 36212182

21

DMB

16 39461800

35

TESTON

44 33513500

39

TROCADORES DE CALOR 16 39462130

66

ESPECIALIDADES QUÍMICAS

CPFL BRASIL

19 37953900

31

ALCOLINA

EVAPORADORES

BMA BRASIL

11 30979328

47

CPFL SERVIÇOS

19 37562755

48

VIBROMAQ

16 39452825

66

SANARDI

17 32282555

8

BMA BRASIL

37

11 30979328

47

10

41 36261531

36

16 21052600

43

TURBINAS

32

TGM

16 21052600

VÁLVULAS INDUSTRIAIS 43

63

INA

FOXWALL

11 46128202

FRANPAR

16 21334385

16 10

TECNOVAL

16 39449900

33

VARIEDADES DE CANA

ROLAMENTOS

16 39515080

16 21334385

PETROFISA 54

REFRATÁRIOS

ENERGIA ELÉTRICA - ENGENHARIA E SERVIÇOS

FRANPAR

11 29731010

TGM 31

TUBOS E CONEXÕES

16 30413888

REFRATÁRIOS RIBEIRÃO 16 36265540

CARROCERIAS E REBOQUES 16 35132600

19 37953900

16 35137200

WEBTRAC 58

ENERGIA ELÉTRICA COMERCIALIZAÇÃO CPFL BRASIL

22

MAGÍSTER

SEG

REDUTORES INDUSTRIAIS

HPB ENERGIA

66

16 35135230

PRODUTOS QUÍMICOS

CABINAS

ENGEVAP

16 39462130

COMASO

SOLINFTEC

RASTREAMENTO E CONTROLE

CALDEIRAS

AGAPITO

AGAPITO

DOW

11 42313778

59

5

PLANTADORAS DE CANA 12

BASF

OXIMAG

16 35124310

TRANSBORDOS PENEIRAS ROTATIVAS

47

48

57

VOESTALPINE BOHLER 11 56948377

38

16 35124310

SOTEICA

IRBI MÁQUINAS

16 35138800

16 21056400

MC DESINFECÇÃO

16 35124310

SUPERFÍCIES - TRATAMENTO E

NUTRIENTES AGRÍCOLAS UBYFOL

11 30979328

66

SOCIUS

SOLDAS INDUSTRIAIS

ELLO CORRENTES

81 34718543

47

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO 31

BMA BRASIL

SERGOMEL

16 21014151

LEVEDURAS

DEFENSIVOS AGRÍCOLAS

19 37562755

12

MONTAGENS INDUSTRIAIS 47

11 30979328

SOFTWARES

81 34718543

48

51

43

CPFL SERVIÇOS

20

IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS DMB

BMA BRASIL

SEGURANÇA EMPRESARIAL

IRRIGAÇÃO

16 35134000

BALANCEAMENTOS INDUSTRIAIS

GASIL

ELÉTRICOS

CONSULTORIA/ENGENHARIA INDUSTRIAL CPFL BRASIL

36

GASES INDUSTRIAIS GRÁFICA

19 37562755

SECADORES 41 36261531

METALÚRGICA VIANNA 22 27221122

EQUIPAMENTOS E MATERIAIS

CPFL SERVIÇOS

AUTHOMATHIKA

16 39452825

11 30979328

PETROFISA

FUNDIÇÃO

CONSULTORIA INDUSTRIAL

GASIL

AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL

VIBROMAQ

FIBRA DE VIDRO 42

EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO DISTRINOX

CONSULTORIA FINANCEIRA E INVESTIMENTOS FINBIO

16 35138800

CORRENTES INDUSTRIAIS

AUTOMAÇÃO DE ABASTECIMENTO DWYLER

11 45041411

ENGEVAP

ENGENHARIA INDUSTRIAL

19 38266670

10

A N U N C I A N T E S

ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO CIVIL 68

CONSULTORIA AGRÍCOLA

AÇOS

D E

15 33352432

65

19 34298199

18

VEDAÇÕES E ADESIVOS

SAÚDE - CONVÊNIOS E SEGUROS SÃO FRANCISCO SAÚDE 16 08007779070

CTC

67

VEDACERT

16 39474732

66


CARTA AO LEITOR

Novembro 2015

carta ao leitor

índice

Josias Messias

Agenda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6 Cana Livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 e 8 Giro do Setor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10 Produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 a 14

Setor deve valorizar mais o colaborador

Usar corretamente o que se tem é a melhor alternativa

Mercado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16

Mercado lembra um acidente de trem em câmera lenta

Tecnologia Agrícola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18 a 22

Máquinas possibilitam redução do custo operacional da colheita

Treinamento e novas soluções aprimoram o corte de cana crua

Setor em Destaque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24 a 28

Cobertura do Prêmio MasterCana Brasil

Administração & Legislação . . . . . . . . . . . . . . . .30 a 38

Controladoria tem papel importante na correção de rotas

Ferramentas possibilitam avaliações gerenciais e estratégicas

TI precisa estar alinhada aos negócios da empresa

Usina do Mês . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .40 a 50

Unidade Eldorado, do grupo Odebrecht Agroindustrial

Tecnologia Industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52 a 58

Mudanças no preparo e extração amenizam efeitos da crise

Separação da palha e desfibrador otimizam produção

Política Setorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .60 a 61

De volta para o futuro! (entrevista com Shigeaki Ueji)

Logística & Transportes . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62 a 66

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Quem se importa? (Especial sobre portos)

NOVA FORMA DE PENSAR “(...) não sede conformados a este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”. (Apóstolo Paulo no verso dois do capítulo doze da carta aos Romanos)

josiasmessias@procana.com

Que fique como provocação! A Eldorado, instalada em Rio Brilhante, MS, não é usina. É polo industrial. Ali, ninguém usa a expressão chefe ou subalterno, mas líder e liderado. E ninguém conhece onde fica a área de Recursos Humanos mas sim a de Pessoas & Organização. Os integrantes não sugerem nada a ninguém, mas fazem provocações, afinal a primeira palavra traz um tom de superioridade enquanto a segunda desafia paradigmas e encaminha à reflexão. Não há críticas, mas contribuições. Também não há concordância, mas alinhamento de ideias. Tampouco há integração, mas sinergia. E, o que é melhor, seus contratados não são chamados de funcionários ou colaboradores, mas de integrantes. Os termos acima – e há muitos outros – não são palavras inertes que fazem parte de um glossário de neologismos para impressionar visitantes ou serem apregoados em palestras externas de grupos de recursos humanos. São o DNA do Polo Eldorado e de todas as outras unidades que fazem parte da Odebrecht Agroindustrial e de todo o conhecido grupo. Esta edição do JornalCana traz reportagem especial sobre o Polo Eldorado e todas as suas conquistas. O pretexto da matéria é a finalização do projeto de expansão da unidade, depois de apenas 17 meses, com alto investimento e em um momento de retração, onde a maioria está com o pé no breque. Capitaneada por Eurico Alves e Pedro Augusto da Costa (os jovens da capa) e supervisionada por Genésio Lemos Couto, entre outras feras, o Polo demarca espaço no cerrado do Mato Grosso do Sul e amplia a dimensão de todas as 9 unidades (veja matéria das páginas 42 a 50). Nem tanto pela ousadia do investimento mas porque realmente investe de fato e prioritariamente em pessoas. Ali cada integrante é um gestor, não apenas se sente como dono do negócio, mas age como tal e recebe dividendos em dinheiro como tal, seja em prêmios por metas cumpridas ou na participação dos resultados. Mas, embora os resultados alcançados pelo Polo Eldorado sejam de encher os olhos dos integrantes, nem assim tiram os óculos protetores, um dos muitos cuidados em segurança que toda a empresa tem com os seus. Nós do JornalCana publicamos esta reportagem com esperança renovada. E, a exemplo dos entrevistados, fazemos uma provocação, não uma sugestão: o que o restante do setor poderia fazer, por seu turno, para aproveitar desta cultura? Alinhar propósitos? Contribuir em sinergia? Tornar seus quadros de pessoal verdadeiros integrantes e donos do negócio? Enganou-se quem apostou contra. Pelo menos a Odebrecht Agroindustrial está mudando e ajudando a mudar conceitos. Que esta provocação leve à reflexão e mudanças, sempre positivas.

NOSSOS PRODUTOS DIRETORIA

O MAIS LIDO! ISSN 1807-0264 Fone 16 3512.4300 Fax 3512 4309 Av. Costábile Romano, 1.544 - Ribeirânia 14096-030 — Ribeirão Preto — SP procana@procana.com.br

NOSSA MISSÃO Prover o setor sucroenergético de informações relevantes sobre fatos e atividades relacionadas à cultura da cana-de-açúcar e seus derivados, e organizar eventos empresariais visando: Apoiar o desenvolvimento sustentável do setor (humano, socioeconômico, ambiental e tecnológico); Democratizar o conhecimento, promovendo o

intercâmbio e a união entre os integrantes; Manter uma relação custo/benefício que propicie

parcerias rentáveis aos clientes e demais envolvidos.

Josias Messias josiasmessias@procana.com.br Controladoria Mateus Messias presidente@procana.com.br Eventos Rose Messias rose@procana.com.br Marketing Digital Lucas Messias lucas.messias@procana.com.br

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REDAÇÃO

ADMINISTRAÇÃO

Editor Luiz Montanini - editor@procana.com.br Editor de Arte - Diagramação José Murad Badur Arte Gustavo Santoro - arte@procana.com.br Revisão Regina Célia Ushicawa Jornalismo Digital Alessandro Reis - editoria@procana.com.br

Gerente Administrativo Luis Paulo G. de Almeida luispaulo@procana.com.br Financeiro contasareceber@procana.com.br contasapagar@procana.com.br

PÓS-VENDAS Thaís Rodrigues thais@procana.com.br

Comercial Leila Luchesi 16 99144-0810 leila@procana.com.br Matheus Giaculi 16 99935-4830 matheus@procana.com.br

ASSINATURAS E EXEMPLARES (16) 3512-4300 www.loja.jornalcana.com.br atendimento@procana.com.br

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JornalCana - O MAIS LIDO! Anuário da Cana Brazilian Sugar and Ethanol Guide A Bíblia do Setor! JornalCana Online www.jornalcana.com.br BIO & Sugar International Magazine Mapa Brasil de Unidades Produtoras de Açúcar e Álcool

Prêmio MasterCana Tradição de Credibilidade e Sucesso Prêmio BestBIO Brasil Um Prêmio à Sustentabilidade Fórum ProCana USINAS DE ALTA PERFORMANCE SINATUB Tecnologia Liderança em Aprimoramento Técnico e Atualização Tecnológica

Artigos assinados (inclusive os das seções Negócios & Oportunidades e Vitrine) refletem o ponto de vista dos autores (ou das empresas citadas). JornalCana. Direitos autorais e comerciais reservados. É proibida a reprodução, total ou parcial, distribuição ou disponibilização pública, por qualquer meio ou processo, sem autorização expressa. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal) com pena de prisão e multa; conjuntamente com busca e apreensão e indenização diversas (artigos 122, 123, 124, 126, da Lei 5.988, de 14/12/1973).


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AGENDA

Novembro 2015

A C O N T E C E U

A C O N T E C E

7ª FORIND NORDESTE Nos dias 20 a 23 de outubro o grupo Ceise BR promoveu a Forind-NE — Feira de Fornecedores Industriais do Nordeste, no Centro de Exposições de Pernambuco, em Olinda, PE. Com área de 25 mil m², cerca de 200 expositores apresentaram tecnologias e produtos nas áreas de energia metalmecânica, elétrica e eletrônica, refrigeração, marcenaria e móveis, entre outros. Mais de 11 mil pessoas compareceram ao evento.

MASTERCANA NORTE/NORDESTE Os principais destaques do setor sucroenergético em 2015 no Norte/Nordeste serão homenageados pelo Prêmio MasterCana no dia 19 de novembro, no Spettus Recife, PE. Entre as autoridades presentes está o Secretário da Agricultura e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco, Nilton Mota e o deputado Guilherme Uchoa, Presidente da Assembléia Legislativa também de Pernambuco. O evento tem como objetivo premiar pessoas e organizações que se destacaram, durante o ano, na busca pelo aprimoramento tecnológico, humano e socioeconômico do setor, assim como no fornecimento de bens e serviços para esta importante atividade econômica. Mais informações: (16) 3512-4300 ou rose@procana.com. Palestra de Antonio Carlos Viesser no evento

A USINA DA RECUPERAÇÃO Nos dias 28 e 29 de outubro aconteceu em Ribeirão Preto (SP) o evento Usinas de Recuperação. Os temas foram voltados para soluções na busca de resultados, retrofit de caldeira e concentração de vinhaça. Também foram apresentados produtos, equipamentos e experiências que possam ser aplicados nessa busca. Usinas consagradas demonstrarão exemplos dessas soluções. O JornalCana vai publicar a cobertura completa do evento na próxima edição.

CURSO DE VASOS DE PRESSÃO Separado em cinco módulos, o Curso de Vasos de Pressão da Sinatub tecnologia abordará projeto na área de acordo com o ASME Code, Section VIII, Division 1 e Legislação e Inspeção de acordo com a NR13. Acontecerá nos dias 10 a 13 de novembro. No dia 26 de novembro a Sinatub também promoverá o curso Simpósio de Recepção, Preparo e Extração “Cases e Inovações para o Aproveitamento Máximo da Matéria-Prima e Eficiência da Moenda/Difusor” e o Curso Simpósio de Destilação, Desidratação e Concentração de Vinhaça “Cases e Inovações para a Máxima Produção de Etanol e Aproveitamento da Vinhaça”. Maiores informações em: sinatub@procana.com.br ou (16) 3911-1384


CANA LIVRE

Novembro 2015

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Alexandre Figliolino deixará Itaú-BBA Jacyr Costa Filho: "Temos muito orgulho em contribuir”

Guarani doa energia elétrica ao Hospital de Câncer de Barretos A Guarani, empresa do Grupo Tereos, firmou convênio com o Hospital de Câncer de Barretos para a doação de mil MWh de energia cogerada em suas unidades industriais a partir da queima do bagaço da cana-de-açúcar. A assinatura foi no dia 2 de outubro no gabinete do diretor Geral do Hospital, Henrique Prata. Esteve presente na cerimônia o Sr. Arnaldo Jardim, Secretário de Estado de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, que tem estimulado a cogeração de energia elétrica a partir do bagaço e é um incentivador do Hospital de Câncer de Barretos. A doação será feita durante dez meses. Contemplou os períodos de setembro até este novembro de 2015 e será retomada de maio a novembro de 2016, meses em que a unidade está moendo. A energia elétrica abastecerá o pavilhão Sandy & Junior, destinado à

internação pediátrica. "A Guarani é uma empresa parceira do Hospital de Câncer desde 2008. A sua doação se tornou exemplo para que outras usinas também contribuam com esta causa. O pioneirismo na doação de energia nos enche de orgulho e esperamos que mais parceiros sigam este modelo", declarou Henrique Prata, diretor geral do Hospital. Jacyr Costa Filho, diretor da Divisão Brasil do Grupo Tereos, salienta a importância do Hospital de Câncer para Barretos e região e para o Brasil: "Temos muito orgulho em contribuir para o Hospital de Câncer de Barretos, que é uma referência mundial no combate ao câncer com uma gestão profissional e eficiente voltada ao atendimento dos mais necessitados, trazendo esperança àqueles atingidos por esta doença".

O diretor de Agronegócios do Itaú BBA, Alexandre Figliolino, deixará seu cargo em janeiro de 2016, após 23 anos de atuação no grupo. Há cerca de dois anos sua atuação passou a ser menos ligada ao dia a dia das atividades executivas e mais focada em consultoria para a área de crédito do banco. Um dos mais antigos especialistas de banco no setor de agronegócios, Figliolino esteve, durante a maior parte de sua carreira, envolvido em operações do segmento sucroalcooleiro. Com bom trânsito entre os empresários do ramo, o engenheiro agrônomo

formado pela Esalq/USP é considerado um dos diferenciais que garantiram ao Itaú BBA a liderança na concessão de crédito ao segmento – que entrou em curva de crescimento em 2006, frustrada há alguns anos pelo controle de preços dos combustíveis no país. A saída de Figliolino do banco está relacionada a uma reestruturação que inclui enxugamento de estrutura e desligamento de outros diretores. Aos 56 anos, ele se dedicará a negócios da família (pecuária) e atuará como consultor e conselheiro de companhias, ocupação que hoje não pode exercer.

Setor lamenta a morte de Benedito Silveira Coutinho O empresário Benedito Silveira Coutinho faleceu, aos 57 anos, na cidade de Campo Grande, vítima de câncer. Natural de Recife, PE, foi diretor da maior geradora de empregos do município de Nova Andradina, MS, a Usina Energética Santa Helena e proprietário da Usina Eldorado, hoje incorporado ao Grupo Odebrech Agroindustrial (O JornalCana publica matéria especial sobre a Eldorado nesta edição, das páginas 42 a 52). Silveira Coutinho arrendou a Santa Fé em Nova

Alvorada do Sul e herdou também a usina alagoana Cansanção de Sinimbu, onde atuou como produtor de cana. Ajudou a manter a fundação “Anjo da Guarda” criada pelo seu pai José Silveira Coutinho. O projeto apoia direitos de centenas de crianças na região onde está instalada a Usina Santa Helena. Em Deodápolis, fundou a associação Broto de Gente, hoje continuada e mantida pela Odebrecht Agroindustrial. Era muito bemquisto por todos nas usinas.


8

CANA LIVRE

Novembro 2015

Editor do JornalCana recebe o prêmio Especialistas O editor do JornalCana, Luiz Montanini, recebeu em 27 de outubro último o prêmio Especialistas, na categoria Biocombustíveis e Energia Renováveis, promovido pela Revista Negócios da Comunicação em parceria com o Cecom — Centro de Estudos da Comunicação, realizado no auditório do CIEE — Centro de Integração EmpresaEscola, em São Paulo, capital. O prêmio contemplou jornalistas que atuam em áreas segmentadas e foram eleitos através de pesquisa efetuada com jornalistas de todo o Brasil. Cerca de 60 mil links de pesquisa foram enviados para os profissionais da área de comunicação indicarem quais os principais especialistas em suas respectivas áreas. “Há anos o jornalismo vem se segmentando e hoje temos uma terceira e quarta gerações de segmentações. O setor sucroenergético, por exemplo, é a segmentação do setor agrícola geral que, por sua vez, foi destacado e ampliado das antigas

Luiz Montanini: laureado na categoria Biocombustíveis e Energia Alternativa

páginas únicas sobre agricultura dos grandes jornais. E atualmente, o próprio setor foi segmentado em áreas, como: etanol, açúcar,

Biosev adquire um milhão de mudas pré-brotadas Com o objetivo de melhorar a produtividade, o Açúcar Total Recuperável (ATR) e o rendimento de mudas nos seus canaviais, a Biosev, segunda maior processadora global de cana-de-açúcar, adquiriu um milhão de mudas pré-brotadas (MPB), que serão plantadas em seus polos agroindustriais localizados em Ribeirão Preto, Mato Grosso do Sul, Leme e Lagoa da Prata. O primeiro plantio, de 180 mil mudas, aconteceu na unidade Continental (SP) e os demais serão realizados até o final da safra 2015/16. A adoção dessa tecnologia permite a produção de cana a partir de mudas devidamente selecionadas e de alta qualidade, livres de doenças e pragas, o que garante uma taxa de multiplicação maior quando comparada com o sistema de plantio

tradicional, devido ao alto vigor dos materiais. “Acreditamos que com o uso de MPB, além de incorporarmos de maneira acelerada novas variedades com grande potencial genético, teremos maior qualidade de nossos viveiros base, garantindo mais produção”, comenta o diretor Agrícola da Biosev, Ricardo Lopes. A introdução de MPBs na Biosev foi realizada por sua equipe de Desenvolvimento Agronômico em 2013, através de campos experimentais na unidade Vale do Rosário (SP). Os testes de campo permitiram avaliar diferentes variáveis técnicas como espaçamento entre plantas, perfilhamento, número de gemas por colmo e produtividade. Com os resultados obtidos e por acreditar nessa tecnologia agrícola, a empresa optou pelo investimento na aquisição das mudas.

bioeletricidade, etc. Cada uma delas exige trabalho de jornalistas especializados, que se aprofundem em temas que são apenas

tocados de passagem pela mídia geral. O jornalista especializado é como o médico especialista, que vai além do clínico geral. Ambos têm importância, mas o especialista vai às origens e às raízes”, disse Montanini. O jornalista Luiz Montanini é editor desde 2002 do JornalCana — publicação impressa, que é o principal veículo de comunicação do setor sucroenergético. É, também, autor do livro Volte e Conte, que retrata a necessidade de evangelização cristã e de ações sociais sustentáveis no sertão nordestino brasileiro. — Quanto ao prêmio, o reconhecimento é sempre bom, mas todo jornalista sabe que, no final, nada mais é do que um operário das letras, como costuma dizer o querido amigo e repórter do JornalCana Renato Anselmi que, aliás, hoje é especializado em tecnologias agrícolas e industriais no setor sucroenergético — finalizou Luiz Montanini. Ele repartiu a honra da premiação com toda a equipe de jornalistas e colaboradores do JornalCana.

CerradinhoBio tem novo executivo A Cerradinho Bioenergia S.A (CerradinhoBio), com sede em Chapadão do Céu (GO), oficializou seu novo executivo em Assembleia Geral Extraordinária. Tratase de João Bosco Silva, engenheiro metalurgista, morador na capital paulista. João Bosco é oriundo do grupo Votorantim, entre outros. A CerradinhoBio é presidida por Luciano Sanches Fernandes, também presidente da Cerradinho Bioenergia. A mesma assembleia extraordinária deliberou pela eleição do novo membro do Conselho de Administração da companhia sucroenergética: Luciano Sanches

João Bosco Silva

Fernandes; Andréa Sanches Fernandes; Silmara Sanches Fernandes; João Pinheiro Nogueira Batista e Roberto Rodrigues. O mandato do atual Conselho vai até 2016.



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GIRO DO SETOR

Novembro 2015

Brasil transfere tecnologia ao Sudão A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Agência Brasileira de Cooperação, do Ministério das Relações Exteriores (ABC) desenvolverão um projeto de transferência de conhecimento no setor sucroenergético com técnicos da Sudanese Sugar Company (SSC), estatal do Sudão que atua no setor. Entre 14 e 18 de setembro, uma delegação brasileira visitou o país árabe e se reuniu com autoridades locais para desenvolver o projeto, que deverá ser implantado nos primeiros meses de 2016. De acordo com o professor associado do Departamento de Tecnologia Agroindustrial da UFSCar, Octavio Valsechi, o Sudão tem potencial para

desenvolver o setor. “Eles têm água do Nilo, uma terra muito boa, que não é ácida. Têm muitas vantagens”, afirmou. Se esse potencial for explorado, a Sudanese Sugar Company poderá, em 12 anos, ser produtora e exportadora dos derivados da cana-de-açúcar. Outra grande produtora de cana-deaçúcar e derivados no Sudão é a Kenana Sugar Company. Embora o governo sudanês seja o maior acionista da empresa, os governos do Kuwait, da Arábia Saudita e fundos de investimento são sócios da companhia. A Agência ABC pertence ao Itamaraty e tem como objetivo oferecer cooperação técnica do Brasil para países em desenvolvimento em diversos setores.

Octavio Valsechi: o Sudão tem potencial para desenvolver o setor

México construirá nova produtora de etanol em Veracruz Falta de açúcar tailandês beneficia refinarias indianas Refinarias indianas de açúcar estão se beneficiando da pouca oferta de açúcar tailandês e do tempo maior de transporte a partir do Brasil para mercados essenciais, disseram operadores europeus no último dia 14 de outubro. A disponibilidade de açúcar branco tailandês de alta qualidade (classificação Icumsa 45) é escassa, minada por grandes compras feitas pela China recentemente, antes da nova colheita de cana na Tailândia chegar ao mercado por volta de janeiro. Operadores falaram sobre interesse de compra no açúcar tailandês Icumsa 45 em contêineres para embarque em

novembro com um prêmio de cerca de 45 dólares por tonelada sobre o contrato futuro para dezembro, enquanto o açúcar refinado da Índia estava com ofertas de prêmio de 20 e 30 dólares em dezembro. O frete do Brasil para os mercados do Extremo Oriente gira em torno de US$ 25,00 a US$ 30,00 por tonelada. Algumas refinarias portuárias da Índia importam açúcar bruto do Brasil para refiná-lo e exportá-lo novamente. As exportações de açúcar branco de refinarias indianas têm o potencial de competir em mercados no Mar Vermelho, leste da África e Oceano Índico, disseram operadores.

Uma nova unidade produtora de etanol será construída no México, no estado de Veracruz, nos próximos meses. O anúncio foi feito pelo governo do estado mexicano. Além de produzir etanol, a planta também deverá cogerar energia elétrica. A destilaria será instalada na cidade de Tierra Blanca, cuja prefeitura doou a área onde será construída, de 47 hectares. A cana será fornecida pelos cerca de 15 mil produtores que já plantam no estado de Veracruz, embora não haja nenhuma indústria sucroenergética no estado, até então. Nos últimos anos diversas empresas ensaiaram instalar suas usinas na região, mas nenhum projeto vingou. Segundo fontes da indústria, o investimento ficará em torno de 1,5 milhão de pesos. As obras deverão começar dentro de 40 dias e a expectativa é que em 16 meses a planta esteja funcionando com sua total capacidade. Durante a obra serão criados 1.000 empregos diretos. Segundo o representante da Etanol-Plus, que capitaneia o projeto, a empresa pretende mecanizar 100% de sua colheita, e dobrar o rendimento, passando de 60/70 toneladas por hectare para 140 tc/h.



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MERCADO

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Mercado lembra um acidente de trem em câmera lenta Vagões são os diversos fatores que agravaram a situação: produção de açúcar recuará 1% em todo o mundo I SAC ALTENHOFEN, DE SÃO PAULO

O déficit mundial de açúcar em 2016 está avaliado em 6,5 milhões de toneladas, e isto em padrões climáticos normais. Com o fenômeno El Niño, o déficit provavelmente será ainda maior, mas ainda é cedo para uma avaliação mais aproximada da realidade. Esta é a opinião de José Orive, diretor executivo da International Sugar Organization de Londres (ISO), ao abordar os fatores de influência na oferta e demanda do açúcar mundial na Conferência Internacional Datagro deste ano. Orive ilustrou a situação do mercado mundial de commodities como um acidente de trem em câmera lenta, onde os vagões são os diversos fatores que agravaram a situação. No caso do açúcar, de acordo com ele, desde 2012 as taxas de desvalorização do real e os aumentos do dólar são responsáveis pelo déficit econômico do produto. “O açúcar definitivamente tem sido um desafio de sobrevivência nestes anos recentes. Mas estamos sozinhos?”, questionou. A resposta,

José Orive, diretor executivo da International Sugar Organization de Londres (ISO)

dele própria e retumbante, foi não. “Não estamos sozinhos”. E explicou que as pressões nas commodities são fortes, a ponto da poderosa China ter diminuído não estar comprando como antes. E que políticas monetárias contrastantes definiram recordes negativos. “Enfim, todas as commodities têm caído de preço desde 2011. Mas o açúcar ainda é uma ilha em um mar de pontos vermelhos”. O mundo tem estoque hoje para encher 400 bilhões de copos de açúcar. Equivale à capacidade para abastecer o planeta por cinco temporadas seguidas. Entretanto, José Orive explica que a superprodução sacrifica os preços, impondo restrições a importações, introduzindo cotas e licenciamentos para compras e oferecendo subsídios. “Os recentes declínios foram um fardo”, emendou. “A dívida do setor seria de R$ 90 bilhões. Na Índia, os preços baixos no mercado doméstico criaram dívida, o que resulta em ciclo insustentável no curto prazo”. “O crescimento da população mundial avança, o que exige produção 2,4% maior anualmente. Na Índia, sem previsão clara, devido à grande dívida, a produção 15/16 deve ficar inalterada, principalmente para os pequenos produtores, sem grandes alternativas. Na China, o quarto maior produtor do mundo, a produção terá 20% de queda no preço. E na Austrália, produção não deve cair. A soma de todos esses fatores citados é o motivo do déficit de açúcar em todo o mundo” concluiu o CEO da ISO.


PRODUÇÃO

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Setor deve valorizar colaborador e reduzir investimentos em tecnologias I SAC ALTENHOFEN, DE SÃO PAULO

As empresas canavieiras devem melhorar as técnicas operacionais para buscar melhores ganhos e pensar em soluções para problemas de custo. Por isso não é hora de investir muito. Esta é a opinião do especialista Luiz Francisco Silva. Ao abordar medidas de eficiência operacional e agrícola para o setor afirmou que não basta olhar apenas os rendimentos industriais e agrícolas por cima, mas deve-se observar todas as áreas da usina e verificar o que precisa melhorar. Luiz Francisco lembrou que a última safra teve uma produtividade maior que a dos últimos anos. “Produzimos mais açúcar por hectare, mas tivemos que ter maior empenho da indústria para retirar o açúcar da cana”. Essa aparente melhoria é devida ao aumento da colheita mecanizada. O problema, segundo ele, é que se investe em muita tecnologia, mas pouco em equipes produtoras, pouco em qualificação. “Quanto melhor preparado o colaborador, mais cana chegará na indústria”, garante. Esse aumento de tecnologia agrícola com quase proporcional redução de colaborador qualificado é também sentido na diminuição de renovação dos canaviais. “Além disso, o envelhecimento do canavial pode trazer prejuízos maiores”, salienta. Na área industrial o rendimento na

Luiz Francisco Silva: quanto melhor preparado o colaborador, mais cana chegará à indústria

destilaria também diminuiu. De acordo com Luiz Francisco, a cana tem vindo mais contaminada. “Há perda excessiva de

fermento e isso se dá ao fato de o canavial ficar muito tempo parado em decorrência das chuvas que se estenderam devido ao

fenômeno do El Niño” (sobre sucesso na fermentação veja matéria nas páginas 56 a 58 desta edição).


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PRODUÇÃO

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Jalles Machado obtém maior receita com cogeração por meio da palha “Fala-se mais de sobrevivência do que em resolver a crise”. A frase é de Otávio Lage, presidente da Jalles Machado. Ele lembra que desde 2013 há propostas de ampliação da cogeração e que o setor deve valorizar mais a palha que produz. “O dinheiro que entra da cogeração realmente tem ajudado muito a empresa nesse momento de dificuldade. Desde 2013 temos conseguido cerca de 40 mil toneladas de palha por ano. Com o pé no chão, achamos melhor iniciar com esses 40 mil, mesmo tendo capacidade para 70 mil;

sabemos que a rapadura é doce, mas não é mole. O processo é realmente complexo, por isso fazemos de uma forma que tenha uma operação boa”. Otávio Lage enfatiza que o potencial da cogeração por meio de palha merece atenção. A capacidade de palha por tonelada dá uma média de 0,93 MWh. Com isso, tem-se em média 40 mil toneladas na Jalles Machado. Conseguem cogerar mais de 37 mil MWh de energia na planta da empresa sem qualquer outro investimento, apenas utilizando as caldeiras que já possuíam. (IA)

Otávio Lage: cogeração por meio da palha realmente tem ajudado muito a empresa nesse momento de dificuldade



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PRODUÇÃO

Novembro 2015

Usar corretamente o que se tem é a melhor alternativa Desde 2009 o setor vem investindo grandemente na mecanização, o que tornou possível um crescimento, mesmo no momento delicado. Novos desafios dessa expansão estão sendo conhecidos somente agora. “Crescer no setor é bom, mas tem um preço”, afirma Paulo Zancaner Castilho, diretor da Datagro. Ele revela que a mecanização dos últimos cinco anos gerou o dobro de custos na produtividade. Havia pressão de todos os lados para o setor crescer desde o final da primeira década dos anos 2000. Empresas arrendaram e alugaram máquinas e estão endividadas até hoje. Devido às mudanças radicais de tecnologia, nesse período de 2009/2014, o plantio mecanizado mudou de 30% para 70%, gerando um novo patamar na produção. Paulo acredita que a colheita mecanizada foi uma atitude forçada. “Claro que não sou favorável às queimadas, mas antes o custo de colheita era menor”, lembra. “A impureza mineral que vinha não passava de 0,7% e agora chega a 1,2%. Isso é muita terra levada para a usina. Se somar apenas a colheita do Centro-Sul, as usinas levam em média de 3 milhões de toneladas de terra para a área industrial. Outro fator é o excesso de palha na cana, que acaba reduzindo o açúcar”. Paulo Zancaner observa que desde a década de 70 o setor vinha num crescente de produtividade forte e de repente em 2009, aquilo desabou. “Perdemos a mão da produção agrícola. Problemas de clima, doenças dos colaboradores e a própria crise são evidentes. Mas a principal consequência destes fatores é a perda de 10 toneladas de cana colhida por hectare: caímos de 90 t/ha para 80t/ha, ou seja, cerca de US$ 5 bi perdidos nos últimos cinco anos. Zancaner justifica a perda de receita pela diminuição de operações insuficientemente conduzidas. “O desafio é reduzir as perdas com impurezas, com palha não aproveitada. Precisamos recuperar nossa produtividade. Precisamos

Usinas levam média de 3 milhões de toneladas de terra para a área industrial apenas em uma safra no Centro-Sul

Paulo Zancaner Castilho: Não tem custo fazer direito, tem que só fazer direito

de ações de curto prazo. E isso se reflete a usar o que nós já temos, e de forma correta”. Usar indevidamente uma máquina de talhonamento, por exemplo, que prejudica o canavial, gera gastos desnecessários. Não pode haver descaso com plantadoras de mudas, como é comumente visto nas usinas; isso reflete na qualidade do canavial. “Deveria ser a melhor máquina e não a pior”, lembra Zancaner. É comum também usinas investirem em construção de máquinas caras, mas que não suprem a demanda. “Muitas dessas máquinas destroem a cana mais do que colhe com eficácia”, afirma Zancaner. E conclui: “O desafio nosso é de gestão. Não tem custo algum fazer direito, apenas benefícios. O que só temos que fazer, portanto, é direito”. (IA)



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TECNOLOGIA AGRÍCOLA

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ENTREVISTA – Carlos Sérgio Tiritan, professor da Unoeste, em Presidente Prudente, SP

DOUTORES DA CANA! Os cases de quem partiu na frente na corrida pelas altas produtividades

macros e micronutrientes. Aplicando as quantidades corretas, na época adequada e na forma adequada. Dentro do pacote tecnológico disponível para a cultura da cana-de-açúcar, qual a relevância da nutrição complementar via folha? É uma excelente ferramenta para aplicar os micronutrientes, principalmente o molibdênio, cobre, manganês, zinco e o boro. Mas também pode ser utilizada para fornecer doses complementares dos macronutrientes, como o nitrogênio, enxofre, magnésio e o potássio.

As técnicas envolvendo o manejo nutricional, aliadas aos tratos culturais adequados, são duas das principais ações que resultam em altas produtividades do canavial. A chave das unidades para a sustentabilidade do negócio está em superar as 100 toneladas por hectare por meio da adoção ou incremento de modernas tecnologias agrícolas. Leia a entrevista de Carlos Sérgio Tiritan, coordenador do curso de graduação e vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da Unoeste, de Presidente Prudente, SP JornalCana — Como o senhor quantifica a importância da produtividade agrícola no processo sucroenergético? Professor Carlos Sérgio Tiritan - A produtividade é base da sustentabilidade do negócio. As empresas do setor necessitam urgentemente aumentar a produtividade, almejando superar as 100 toneladas por hectare. O aumento da produtividade aliado a uma gestão coerente nos custos de produção é a chave para viabilizar economicamente o setor sucroenergético.

Quais decisões devem ser tomadas para manter as altas produtividades dos canaviais, mesmo aqueles localizados em ambientes de adversidades climáticas? As principais decisões que refletem na manutenção das altas produtividades dos canaviais são: a definição e alocação correta

dos cultivares, em função dos diferentes ambientes de produção; os tratos culturais envolvendo, plantio, condução das lavouras e a logística de colheita; e as técnicas envolvendo o manejo nutricional das lavouras. Começando com a calagem, gessagem, fosfatagem, adubação com os

Como o setor pode sair desta crise com maior rapidez, na sua opinião? Precisa se organizar, acreditar, investir, inovar e enfrentar com qualidade e brilhantismo os desafios impostos pelo negócio. O setor tem uma importância fundamental no cenário do agronegócio nacional, gerando empregos e uma movimentação financeira muito grande, tendo um papel expressivo no desenvolvimento e crescimento de diversas regiões do país. Além disso, contribui de forma significativa na produção de alimento e energia limpa e renovável. Vencerá esta crise com coragem e competência, assim como venceu as anteriores.


TECNOLOGIA AGRÍCOLA

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José Rodolfo Penatti, da Afocap: bons resultados, novamente, na região de Piracicaba

Retomada da produtividade deixa estragos da mecanização para trás Usinas e fornecedores “reaprendem” a produzir cana e driblam perdas provocadas pela invasão das colhedoras R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP

Experiências bem-sucedidas em diversas áreas de cana-de-açúcar estão demonstrando que os estragos proporcionados pela mecanização da colheita já estão ficando para trás. Usinas e fornecedores que tiveram grandes prejuízos com o pisoteio e perdas de matéria-prima estão retomando à produtividade média histórica obtida no período anterior à invasão das máquinas nos canaviais. A Usina Jacarezinho (Grupo Maringá), localizada no município paranaense de mesmo nome, na divisa com São Paulo, deverá fechar a safra 2015/16 com uma produtividade média de 90 toneladas por hectare (TCH), calcula o gerente agrícola da unidade, Valter Sticanella. Na região de Piracicaba, SP, os produtores de cana estão obtendo novamente bons resultados, com um rendimento que ficará próximo de 80 TCH na safra 2015/16, informa José Rodolfo Penatti, gerente do

Departamento Técnico da Afocapi – Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba. O setor teve, na verdade, que “reaprender” a produzir cana. “Mecanização não é simplesmente comprar um conjunto de máquinas para fazer a colheita. É muito mais do que isto”, diz Valter Sticanella. De início, o corte mecanizado começou a ser realizado em áreas que não estavam preparadas para essa operação, o que prejudicou o rendimento agrícola – lembra o gerente da Afocapi. A queda de produtividade em diversas unidades sucroenergéticas ficou entre 20% e 30% por causa da mecanização – afirma Valter Sticanella. “Em casos mais extremos, talhões com solo argiloso e elevada umidade tiveram redução em até 50%”, diz. Usinas passaram a conviver também com o aumento das impurezas minerais e vegetais. A cana, com grande quantidade de palha, acabou gerando redução de eficiência na extração. Além disso, outras perdas provenientes do corte mecanizado – como: tocos, canas inteiras, pedaços de cana que ficam no campo – aumentaram os desafios a serem superados. A readequação das áreas, a realização de treinamentos, o uso de novos espaçamentos e tecnologias, a evolução das colhedoras criaram, no entanto, condições para a retomada da produtividade agrícola em diversas unidades.

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TECNOLOGIA AGRÍCOLA

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Máquinas possibilitam redução do custo operacional da colheita Corte mecanizado também supre carência de mão de obra e gera benefícios ambientais com a eliminação da queima A partir do momento que conseguem superar e driblar as dificuldades provenientes da mecanização, unidades sucroenergéticas e plantadores de cana estão passando a usufruir dos benefícios do corte mecanizado. E um deles faz bem para o “caixa” das usinas e dos produtores, pois a colheita mecanizada de cana crua tem um custo menor em relação ao corte manual. A colheita manual com queima da palha tem um custo 40% superior ao corte mecanizado, avalia Valter Sticanella, gerente agrícola da Jacarezinho. O custo da colheita manual de cana crua chega a dobrar em comparação ao valor do corte mecanizado – compara. A Jacarezinho utiliza esse sistema em alguns pontos de áreas de cana da usina no estado de São Paulo, onde não há possibilidade de uso da mecanização. Isto ocorre em poucos lugares, pois seria inviável a utilização dessa operação em grandes áreas – esclarece. A redução do custo é o principal aspecto da mecanização – ressalta. “Seria impossível, com os atuais preços dos produtos do setor, voltar a cortar cana manualmente”, compara. Outro fator positivo da mecanização da colheita foi suprir a carência de mão de obra para esta atividade – destaca Valter Sticanella. No corte manual é preciso ainda se responsabilizar por acomodação, transporte, alimentação dos rurícolas e outras obrigações previstas na legislação trabalhista, o que aumenta os custos – observa José Penatti, da Afocapi. No período com clima mais quente – diz –, há também uma queda de rendimento da colheita. É preciso considerar ainda os benefícios ambientais gerados pelo fim da queima da

Valter Sticanella, da Jacarezinho: custo da colheita manual chega a dobrar diante do corte mecanizado

palha da cana, o que se tornou possível com o corte mecanizado. “Para cumprimento da legislação referente à eliminação do fogo, o setor tem que usar a colheita mecânica. Não há outra forma”, ressalta Valter Sticanella. A mecanização criou também uma “nova” matéria-prima para a indústria canavieira: a palha. Considerada inicialmente mais uma trabalhosa variável na complexa equação que tem se tornado a

produção de cana, essa biomassa já tem sido cobiçada tanto no campo onde protege o solo, como na unidade industrial onde é matériaprima para geração de energia, além de ter possibilidade de uso para a produção de etanol de segunda geração.

MUDANÇAS POSITIVAS Algumas mudanças pontuais em colhedoras também estão contribuindo para

melhorar a colheita mecanizada. Sensores de nivelamento que aperfeiçoam o corte de base, sistema de limpeza por ventilação mais eficiente, que reduz a quantidade de impurezas minerais e vegetais (folha e palha seca) estão entre as modificações positivas, segundo Valter Sticanella. É preciso aprimorar o funcionamento do despontador para reduzir a quantidade de toletes de palmito na indústria – diz. (RA)



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TECNOLOGIA AGRÍCOLA

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Treinamento e novas soluções aprimoram o corte de cana crua Sistematização para o corte mecanizado, espaçamento combinado, piloto automático ajudam a recuperar a produtividade A vida no campo e na indústria não tem sido fácil com a colheita mecanizada de cana crua, apesar dos benefícios proporcionados por essa prática. A Jacarezinho, como outras usinas, tem se empenhado ao longo dos anos para buscar soluções para problemas que foram criados pela mecanização. A queda de produtividade, em decorrência do pisoteio, aconteceu mais fortemente no período em que as usinas precisaram mecanizar a colheita, do dia para a noite, afirma Valter Sticanella, gerente agrícola da Jacarezinho. “Os canaviais eram plantados para o corte manual, não havia paralelismo. As variedades não eram adaptadas para a colheita mecânica. Essa fase já está passando. Temos avançado com a tecnologia de piloto automático, com sulcação planejada com GPS”, observa. Esse recurso começou a ser testado nesta safra pela Jacarezinho. No próximo ano vai ser empregado em uma área de quatro a cinco mil hectares. Para 2017, a meta é utilizar essa tecnologia para toda área de cana própria da usina que é de doze mil hectares. Além disso, essa unidade paranaense conta também com a matéria-prima de fornecedores que cultivam cana-de-açúcar em uma área de quinze mil hectares. Alguns deles já estão começando a utilizar piloto automático. A Jacarezinho tem adotado o espaçamento combinado (0,90 m x 1,50 m) – conhecido também como duplo alternado –, que tem contribuído para reduzir o pisoteio, avalia o gerente agrícola. Novos mil hectares – 75% do total da área de cana própria – já foram reformados com esse espaçamento.

Fornecedores obtêm bons resultados com o espaçamento convencional

Simulador de colheita: sensação plena de estar fazendo o corte de cana

Treinamento da equipe, novas tecnologias e soluções têm ajudado a Usina Jacarezinho a recuperar a sua produtividade agrícola, que deverá ter no fechamento da safra 2015/16, uma média de 90 toneladas por hectare (cana própria e de fornecedores) – calcula. “Hoje estaríamos mantendo essa média, mesmo se

o corte fosse manual”, comenta. A colheita mecanizada é adotada em 80% da área de cana da usina e deverá ser ampliada para 90% no próximo ano. Os treinamentos em simuladores de colhedoras são aprofundados e o equipamento oferece ao aluno a sensação de estar 100% na colheita. (RA)

Na região de Piracicaba, de 80% a 85% dos fornecedores de cana têm adotado a colheita mecanizada. Está sendo feito todo um esforço para sistematizar e preparar a área adequadamente – afirma José Rodolfo Penatti, gerente do Departamento Técnico da Afocapi. Com isto, está ocorrendo a recuperação da produtividade que deverá se aproximar de 80 TCH na safra 2015/16, após uma queda para 67 a 70 TCH nos últimos anos, por causa da mecanização e outros motivos, como seca, infestação por pragas, qualidade de mudas, falhas no plantio mecanizado. Apesar de ter dado grande contribuição para a redução da produtividade, a mecanização da colheita não pode ser culpada totalmente por essa queda – comenta. O fornecedor de cana da região de Piracicaba tem adotado o espaçamento convencional, de 1,50 m – informa José Penatti. Para minimizar o pisoteio, mesmo com esse espaçamento, tem sido feito treinamento na entressafra, aumento do tamanho dos talhões para a obtenção de maior rendimento das máquinas, uso de piloto automático em alguns casos, entre outras medidas. Uma equipe da associação tem trabalhado a questão das perdas no corte mecanizado, fornecendo orientações para os produtores de cana. “A meta é ter um índice abaixo de 2,5%. Estamos conseguindo 2%”, diz. Segundo ele, essa perda ficava, na fase inicial da colheita mecanizada, entre 5% a 7%. (RA)



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SETOR EM DESTAQUE

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Arnaldo Jardim: Por mais que inove ninguém no setor dá conta de resolver os problemas por si

MasterCana Brasil destaca os mais influentes do setor Festa em São Paulo homenageou personalidades e iniciativas de destaque ao longo do ano Mais de 200 empresários ligados ao setor sucroenergético estiveram reunidas no dia 24 de outubro, em noite de gala na capital paulista. Importantes nomes do setor sucroenergético foram homenageados na entrega do prêmio MasterCana Brasil, contemplação reconhecida por todo o segmento. Personalidades como o Secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo Arnaldo Jardim, que tem uma forte relação com o setor, estiveram presentes. — O setor precisa fazer a lição de casa sim, mas há questões gerais que são determinantes e nestas, ele precisa de ajuda do Estado. Por mais que inove, por mais que

se aprofunde, ninguém no setor dá conta de resolver os problemas por si —, disse Arnaldo Jardim. E perguntou: “E o que o setor pede?”. Ele mesmo respondeu: “Regras claras!”. O Secretário citou como exemplo a questão da bioeletricidade: “Questiona-se de que forma que a bioeletricidade será contemplada na matriz energética. O mesmo etanol, que o Brasil não tem sabido como valorizar internamente, é o que ele vai usar como cartão de visita na COP 21, no final deste ano em Paris, para tentar se inserir no mundo como protagonista da nova economia de baixo carbono” reclamou Arnaldo Jardim. No evento, alguns dos premiados falaram a respeito da importância de receber o Prêmio MasterCana: — É importante esse reconhecimento, pois precisamos desenvolver cada vez a melhoria da imagem do setor para o Brasil, principalmente no momento delicado que atravessamos — disse Genésio Lemos Couto, Vice-presidente da área de pessoas,

sustentabilidade e comunicação da Odebrecht Agroindustrial, laureado como um dos mais influentes do setor. Daniela Petribu Oriá, também uma das mais influentes, disse que quando entrou no setor sucroenergético sofreu preconceito por ser mulher. “No início, as pessoas olhavam pra mim com desdém e diziam: “Será que essa mocinha aí saberá o que fazer?” Ganhar esse prêmio é uma honra e uma sensação de dever cumprido” revelou a diretora presidente da Usina Petribu. — Fico muito feliz em saber que nosso trabalho está sendo valorizado. Mesmo o setor não tendo o respeito político que deveria ter, vamos continuar perseverando. Não pedimos esmolas, pedimos regras claras para saber de que lado podemos ir para nos defender e planejar o que a usina pode fazer no futuro. O setor precisa ser mais bem visto, senão corremos o risco de ter um tipo de apagão de combustível (como é comum no elétrico), pois até agora não tivemos uma

política clara de energia por biomassa — observou Luiz Carlos Corrêa de Carvalho, o Caio, presidente da Abag — Associação Brasileira do Agronegócio e diretor da Usina Alto Alegre. Organizado pela ProCana Brasil, a premiação reconheceu as ações e iniciativas em prol do aprimoramento tecnológico, humano e socioeconômico do setor sucroenergético, assim como no fornecimento de bens e serviços para esta importante atividade econômica. Participaram do MasterCana Brasil alguns dos grupos, usinas, instituições e empresas mais importantes do setor no País, como Usina Açucareira Guaira, Grupo São Martinho, Usina Petribu, Usina Seresta, Usina Alto Alegre, SCA Etanol do Brasil, Bioagência, Sindaçúcar PE, Siamig, Odebrecht Agroindustrial, Bevap Bioenergética, CPFL Brasil, Solinftec, SDLG, Diretriz Tributária, Sócius, MC Desinfecção, MSBIO, Soteica do Brasil, Unica, entre outros.


SETOR EM DESTAQUE

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OS MAIS INFLUENTES DO SETOR OS MAIS INFLUENTES DO SETOR

Elias Brandão Vilela Neto, diretor superintendente da Usina Seresta; Eduardo Junqueira da

Genésio Lemos Couto, Vice-Presidente de pessoas, sustentabilidade e comunicação da

Motta Luiz, sócio diretor da Usina Açucareira Guaíra e Daniela Petribu Oriá, diretora

Odebrecht Agroindustrial; Lodovico Trevizan Filho, diretor presidente da Bioenergética

presidente da Usina Petribu

Vale Do Paracatu e Ricardo Junqueira, presidente do Conselho de Administração da Usina Diana

Francisco Vital Alves Souza, diretor comercial da Usina Coruripe; Helder Gosling, diretor

Rogério Carlos Perdoná, responsável pelas áreas elétrica, automação e geração de energia

comercial e de logística do Grupo São Martinho; Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da

da Odebrecht Agroindustrial; Luiz Eduardo S. Cintra, diretor de projetos da BP

Abag e diretor da Usina Alto Alegre; Martinho Seitii Ono, presidente da SCA Etanol do

Biocombustíveis; Gilmar Galon, gerente industrial da Usina Pitangueiras e coordenador do

Brasil; Plínio Mário Nastari, presidente Datagro e Tarcilo Rodrigues, diretor-executivo da

Gegis e Antonio Carlos Viesser, gerente industrial do Grupo Tonon Bioenergia, Unidade

Bioagência

Santa Cândida

Roberto Hollanda Filho, presidente da Biosul; Renato Augusto Pontes Cunha, presidente do

Manoel Carlos de Azevedo Ortolan, presidente da Canaoeste e da Orplana - Organização

Sindaçúcar-Pernambuco; Mário Campos Filho, presidente do Sindicato da Indústria de

dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul; Bruno Rangel Geraldo Martins, diretor-

Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais; Jorge dos Santos, diretor executivo do

presidente da Socicana - Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba e Antonio

Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Estado de Mato Grosso e Elizabeth Farina,

Eduardo TonieloFilho, presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor

diretora presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar

Sucroenergético e Biocombustíveis


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SETOR EM DESTAQUE

USINAS COM DESEMPENHO PREMIADO NO MASTERCANA BRASIL

Novembro 2015

MASTERCANA BRASIL DESEMPENHO – RESPONSABILIDADE AMBIENTAL Usina Açucareira Guaira, representada por Anderson Faria Malerba, engenheiro ambiental

MASTERCANA BRASIL DESEMPENHO – RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL

MASTERCANA BRASIL DESEMPENHO – SAÚDE OCUPACIONAL

Grupo São Martinho, representado por Marcia Cubas, diretora de gestão de pessoas e

Usina Açucareira Guaira, representada por Paula Junqueira Luiz Selegatto e Sofia Junqueira

sustentabilidade

da Mota Luiz, assessoras de diretoria

MASTERCANA BRASIL DESEMPENHO – GESTÃO DE PESSOAS

MASTERCANA BRASIL DESEMPENHO – TECNOLOGIA AGRÍCOLA

Odebrecht Agroindustrial - representada por Genésio Lemos Couto, diretor executivo e

Usina Açucareira Guaira - representada por Gustavo Villa Gomes, diretor agrícola

Bruna Fonseca, responsável por desenvolvimento de pessoas

MASTERCANA BRASIL DESEMPENHO – EFICIÊNCIA INDUSTRIAL

MASTERCANA BRASIL DESEMPENHO – TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÕES

Bevap - Bioenergética Vale Do Paracatu, representada por Fernando Cesar Calsoni, gerente

Usinas Itamarati - representada por Reginaldo Rodrigues, gerente de tecnologia da

da divisão industrial

informação


SETOR EM DESTAQUE

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EMPRESAS PREMIADAS EM GESTÃO

MasterCana Brasil Desempenho - Comercialização & Finanças: CPFL Brasil, representada

MasterCana Brasil Desempenho - Agrícola/CCT – Serviços: Solinftec, representada por

por Pablo Becker, gerente de compra e venda no mercado atacadista

André Nadjarian, CEO

MasterCana Brasil Desempenho - Logística & Transportes – Máquinas e Equipamentos:

MasterCana Brasil Desempenho - Administrativa – Serviços: Diretriz Tributária, representada

SDLG, representada por Enrique Ramirez, business director

por José Henrique Sant Anna, Sócio

MasterCana Brasil Desempenho - Administrativa – Serviços: Sócius, representada por Celso

MasterCana Brasil Desempenho - Industrial - Produtos e Insumos / Industrial – Serviços: MC

Bonfante, diretor de operações

Desinfecção, representada por Mário Cesar de Souza e Silva, diretor técnico

MasterCana Brasil Desempenho - Industrial - Produtos e Insumos / Industrial – Serviços:

MasterCana Brasil Desempenho - Industrial – Serviços: Soteica do Brasil, representada por

MSBIO, representada por Teresa Cristina Vieira Viana, diretora técnica

Nelson Nakamura, diretor


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SETOR EM DESTAQUE

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FLASHES FLASHES FLASHES FLASHES FLASHES



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ADMINISTRAÇÃO & LEGISLAÇÃO

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Controladoria tem papel importante na correção de rotas Essa área fornece informações que subsidiam desde a microgestão da empresa até decisões estratégicas, em momentos de crise ou de calmaria R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP

“No momento de crise fica mais evidente o papel da controladoria, que é requerida para auxiliar nas correções de rota das decisões que estão sendo adotadas”, afirma Jean Carlo Correa Sobral, gerente corporativo de controladoria da Guarani. Segundo ele, a controladoria é importante para qualquer empresa, independentemente da crise, pois aglutina e fornece as informações, que subsidiam desde a microgestão até as grandes decisões estratégicas adotadas pela alta administração. A base de dados e as análises geradas por essa área, avaliam a “saúde” das empresas e os reflexos de diferentes decisões. Esse trabalho é considerado fundamental para quem quiser um processo eficiente de gestão e uma maior lucratividade.

Jean Carlo Correa Sobral, gerente corporativo de controladoria da Guarani

Mas, tudo tem que ser feito no tempo certo. Não adianta ter uma informação correta, mas que leva um tempo muito grande para ser levantada e utilizada, observa Jean Sobral. A tomada de decisão também precisa ser ágil. A controladoria tem ainda o papel de atribuir pesos diferentes às informações para

a empresa focar naquilo que é mais relevante para que não se gaste energia em algo que não vai trazer resultado – explica. O mercado tem enfrentado, nestes dois últimos anos, um processo de grande volatilidade – constata. “As questões macro são muito fortes. Cenários que eram extremamente promissores de repente

ficaram bastante complicados”, comenta o gerente da Guarani, que possui sete unidades, todas no estado de São Paulo. A controladoria auxilia a gestão. Se a empresa já tomou alguma decisão de investimento, pode haver a necessidade de avaliar e ajustar a rota em decorrência das atuais instabilidades econômicas. “Existe também a questão da gestão do fluxo de caixa, do endividamento, da taxa de juros versus as rentabilidades. É necessário elaborar orçamentos plurianuais, porque não adianta ter uma visão de curto prazo. É preciso desenhar cenários para os próximos anos”, diz. Essa área subsidia também as decisões do dia a dia, possibilitando que o gerente de cada unidade acompanhe, por exemplo, custos, desempenho, gastos, orçamento – detalha Jean Carlo Sobral. “Com a necessidade de informações cada vez mais rápidas e eficientes, a controladoria tem desempenhado um papel importante no que tange o desenvolvimento de sistemas que possibilitem a gestão na tomada de decisão, realizando a comunicação confiável entre as áreas agrícola, industrial, comercial, administrativa e financeira, traduzindo informações operacionais em informações financeiras”, explica Tiago Oliveira, gerente de controladoria da Usina Santa Isabel, com unidades em Novo Horizonte e Mendonça, ambas em São Paulo.

Momento exige entendimento aprofundado de todos os custos Análise detalhada requer avaliação da eficiência dos processos e remuneração dos produtos que integram o portfólio “Não adianta ter o melhor produto do mundo se o custo dele não é remunerado pelo mercado. Qual é o ponto de equilíbrio entre qualidade e custo para a empresa otimizar o parque industrial naquilo que é mais relevante?” – indaga Jean Carlo Sobral. De acordo com ele, é preciso verificar quais são os produtos deficitários e os que apresentam boa margem,“Quem tem todas estas informações, de uma forma organizada, até mesmo com padrões contábeis, é a controladoria”, enfatiza. Com esses dados, é possível inclusive fazer benchmarking com empresas do setor. Neste momento de crise, as unidades e grupos sucroenergéticos – afirma – precisam ter um entendimento mais aprofundado e detalhado de todos os seus custos, desde os componentes dos custos agrícolas até o seu portfólio de produtos para verificar quais apresentam melhor remuneração. Nem sempre os itens que têm margens mais elevadas – os chamados produtos de alto valor agregado – são os que apresentam maior lucratividade.

“É preciso considerar qual é a melhor margem líquida. Existem alguns produtos que têm uma margem boa. Mas, só que o volume de vendas destes itens é muito pequeno”, constata. A Guarani está inclusive revendo o portfólio de produtos, levando em consideração nesta avaliação quais são os mais rentáveis e os que têm maior escala. “Existem algumas questões em andamento em relação à redução do mix de produtos”, diz. Outra ação da empresa tem sido a

otimização de processos. “Temos alguns projetos relacionados à ampliação da idade média do canavial. A mecanização deu eficiência à colheita, mas reduziu a idade média do canavial” – comenta. “Existe um desafio que é o ganho de eficiência, como fazer mais com menos, como ter mais produtividade. Às vezes requer um investimento, que pode gerar uma eficiência maior”, ressalta. “Algo que aprimoramos continuamente na Santa Isabel é não confundir diminuição

de custos com redução de despesas, pois existem diferenças gritantes nestes dois conceitos”, enfatiza Tiago Oliveira. Segundo ele, informações precisas em tempo real nas mãos de gestores que têm conhecimento da operação e administração, propiciam, entre outras vantagens, correção de falhas e adoção de medidas alternativas. “Essas ações não prejudicam a operação, reduzem custos e maximizam retornos nas estratégias de vendas do produto final”, afirma. (RA)



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Ferramentas possibilitam avaliações gerenciais e estratégicas Controladoria tem base para desenvolver fluxo de caixa projetado de forma confiável e identificar real necessidade de captação de recursos Em decorrência do atual cenário econômico, a controladoria tem desempenhado papel importante na estruturação de ferramentas que possibilitam análises gerenciais e estratégicas de forma precisa e cada vez mais rápidas, afirma Tiago Oliveira, gerente de controladoria da Usina Santa Isabel. “Com supervisão do custo, do retorno nas vendas e no desenvolvimento de orçamento, somado às informações de mercado e do ambiente externo – como preço, dólar e taxa de juros –, a controladoria tem base para desenvolver um fluxo de caixa projetado de forma confiável”, diz Essa área pode identificar também a real necessidade de captação de recursos no mercado e elaborar um planejamento estratégico de curto e longo prazo para que a empresa tenha um endividamento – caso haja necessidade – sob controle. “Neste momento, é importante para o setor sucroenergético o conhecimento de sua

Tiago Oliveira, gerente de controladoria da Usina Santa Isabel

estrutura de custos fixos e variáveis, bem como a análise dessa estrutura, para que possam ser feitas interferências na gestão de riscos operacionais, de maneira eficaz, buscando melhores resultados”, ressalta. A Usina Santa Isabel desenvolveu ferramentas que são atualizadas periodicamente, utilizando informações contábeis, operacionais (agrícola e industrial) e de mercado, que possibilitam

realizar diversas análises e cenários – informa. “É essencial que sejam conhecidos os custos ocorridos e suas origens, bem como sua estrutura e impactos no resultado, riscos financeiros e riscos operacionais” – diz.

CONTROLES INTERNOS “Um aspecto extremamente importante da controladoria é que ela cria normas e

procedimentos para todas as áreas da empresa, reforçando os controles internos”, esclarece Jean Sobral, da Guarani. Segundo ele, a atuação dessa área não ocorre somente do ponto de vista da tabulação de dados, histórico e organização dos serviços. ”Define também controles internos para garantir que informações de todas as áreas fluam adequadamente para que sejam inclusive evitados desvios”, observa. (RA)



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Atividade verifica impactos legais de investimentos de usinas

Paulo Alves Pinto, diretor da Diretriz Consultores, de Ribeirão Preto, SP

Consultoria possibilita gestão eficiente na área tributária Os tributos são itens relevantes na estrutura de custos e despesas da empresa e estão inseridos em uma legislação bastante ampla e complexa que não tem, em diversos casos, uma definição muito clara, observa Paulo Pinto, da Diretriz, que atua no segmento de consultoria contábil e tributária. “O nosso trabalho e experiência criam condições para uma gestão eficiente das questões tributárias e contábeis”, afirma. Com dezesseis anos de atuação, a Diretriz faz o diagnóstico das práticas adotadas

pelas empresas e indica os melhores caminhos que devem ser trilhados. Esse trabalho de consultoria fornece inclusive subsídios relevantes para a área de controladoria de usinas e destilarias. “É imprescindível que as empresas sejam bem assessoradas para apurar e administrar os encargos tributários visando minimizá-los dentro das possibilidades previstas na legislação”, afirma o diretor da Diretriz, que faz parte do Pró-Usinas, portfólio de soluções voltadas ao incremento da eficiência e da

rentabilidade de unidades e grupos sucroenergéticos. No caso do crédito tributário do PIS e da Cofins – exemplifica –, há indefinições na lei e na jurisprudência de quais insumos dão direito a crédito. Em algumas situações a lei claramente veta – comenta. “A Diretriz faz uma reavaliação: às vezes, há usinas que estão tomando esses créditos e não poderia fazer isto; em outros casos, poderiam se apropriar de créditos, mas não estão usufruindo desse benefício”, constata. (RA)

Na realização de um investimento ou nova operação, há uma discussão com a controladoria que analisa os impactos tributários e os aspectos legais da decisão. Existem regras, leis e obrigações impostas pelo governo, além exigências pelos agentes de mercado. É preciso verificar quais são os tributos envolvidos, se o tipo de investimento possibilita uma tomada de crédito, ou não, entre outras questões, exemplifica Jean Carlo Sobral, da Guarani. Outra atividade da controladoria é auxiliar a empresa no cumprimento das diversas obrigações acessórias que o governo está impondo, de forma eletrônica, como escriturações tributárias, contábeis e demandas geradas pelo eSocial. “Antes bastava pagar os impostos de forma adequada, hoje o governo exige um grande volume de informações adicionais que a empresa é obrigada a fornecer”, diz. O atendimento das demandas governamentais nas esferas municipal, estadual e federal apresenta agora, além de um volume gigantesco, um elevado nível de complexidade. Existem profissionais de TI – Tecnologia da Informação, na Guarani, dedicados exclusivamente a customizar ferramentas para atender essas exigências de forma adequada, com a finalidade de evitar problemas nessa área, como autuações. A legislação tributária, sujeita a mudanças constantes e interpretações diferentes, requer atenção detalhada. “A empresa pode inclusive estar fazendo algo indevido, o que gera multa e outras penalidades. Ou pode estar deixando de obter algum benefício dado pela lei que a usina não está observando”, alerta Paulo Alves Pinto, diretor da Diretriz Consultores, de Ribeirão Preto, SP. (RA)


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ARTIGO

Diagnóstico tributário como instrumento de geração de caixa *PAULO ALVES PINTO

Em decorrência da complexidade e das constantes alterações na legislação tributária, é de suma importância que as empresas brasileiras realizem periodicamente um diagnóstico tributário, visando conhecer as contingências assumidas ou as oportunidades perdidas com os procedimentos adotados na apuração e recolhimento dos tributos devidos e também no cumprimento das obrigações acessórias. Nossa percepção é de que, diante da atual crise enfrentada pelas empresas, o diagnóstico tributário apresenta-se como um instrumento de geração de caixa, seja pela recuperação de créditos ou pela economia no pagamento de encargos tributários. Em diversas oportunidades nos deparamos com cenários onde as empresas deixam de apropriar créditos ou tributam suas operações em valores superiores aos exigidos pelas normas legais, por desconhecimento da legislação, carência de pessoal capacitado para formalizar os créditos tributários, visto que os profissionais da empresa estão sempre envolvidos com as operações cotidianas, ou ainda por assumirem uma conduta conservadora em relação às interpretações legais com receio das autuações que possam penalizar a empresa. As constantes modificações introduzidas

na legislação contábil a partir da Lei 11.638/07 - visando a adoção de regras harmônicas com os princípios internacionais de contabilidade – têm gerado controvérsias entre contadores, auditores e consultores sobre os corretos procedimentos a serem adotados e os impactos dessas alterações na apuração dos impostos e contribuições. Conectando a complexidade das legislações contábil e tributária com os burocráticos procedimentos administrativos para a recuperação de créditos tributários, muitas vezes os contribuintes deixam de apropriar créditos que poderiam ser utilizados para compensar outros impostos e

contribuições ou ainda optam por recolher tributos indevidos com o receio de sofrer autuações por parte das autoridades fiscais. Outras vezes os empresários são surpreendidos com a imposição de pesadas multas por parte das autoridades fiscais de diferentes esferas (municipal, estadual, federal e previdenciária), decorrentes de procedimentos que os gestores das empresas acreditavam estarem adequados à legislação vigente. A partir do ano-calendário de 2014, os contribuintes que já estavam obrigados a entregar a EFD – ICMS IPI – Escrituração Fiscal Digital, EFD Contribuições –

Escrituração Fiscal Digital do PIS, COFINS e INSS sobre a receita e a ECD – Escrituração Contábil Digital, passaram a entregar também a ECF – Escrituração Contábil Fiscal, o que possibilitou às autoridades fiscais terem acesso irrestrito ao registro contábil e fiscal de todas as operações realizadas pelas pessoas jurídicas, independente de notificação aos contribuintes. Assim, os pesados investimentos realizados pela Fazenda Pública em sistemas eletrônicos de fiscalização já vêm apresentando resultados e as autuações fiscais estão cada vez mais presentes no cotidiano das empresas. Neste cenário, sugerimos que as empresas façam periodicamente um diagnóstico tributário, analisando a legalidade dos procedimentos adotados na apuração e recolhimento de seus débitos tributários, assim como os adotados no cumprimento das obrigações acessórias e na apropriação de créditos tributários. Este procedimento possibilitará a mitigação de riscos de autuações fiscais e dará suporte às decisões dos gestores das empresas, inclusive como um instrumento de geração de caixa. *Paulo Alves Pinto e sócio-diretor da Diretriz Consultores e Auditores, empresa integrante do portfólio do Pró-Usinas


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TI precisa estar alinhada aos negócios da empresa Além da boa formação técnica, profissional deve perceber e oferecer soluções para o processo de gestão

R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP

A importância da Tecnologia da Informação para a otimização de processos e a redução de custos é indiscutível. Nos períodos de crise, aumenta ainda mais a necessidade dessa área disponibilizar informações, com maior detalhamento e em menor tempo possível, para subsidiar a tomada de decisões por parte de gestores e integrantes da alta administração. Mas, para isto, a área de TI precisa estar cada vez mais alinhada aos negócios da empresa. O profissional de Tecnologia da Informação de usina, além da boa formação técnica, deve conhecer e entender o processo de gestão das unidades sucroenergéticas, porque as duas coisas andam juntas, afirma Rommel Agra, gerente corporativo de Tecnologia da Informação do Grupo Santo Antonio, que possui a Central Açucareira Santo Antonio (matriz) e a Usina Camaragibe, ambas em Alagoas. “Não adianta ter só a visão técnica se não tiver a percepção do que acontece no dia a dia. Uma coisa está ligada à outra”, enfatiza. É preciso sentir as necessidades da empresa e adotar iniciativas para concretizá-las – ressalta. Segundo ele, a área de TI da Santo Antonio está sintonizada com a gestão, porque as medidas e as estratégias adotadas têm reflexos, por exemplo, nos investimentos realizados em Tecnologia da Informação.

Controle de cogeração na Santo Antonio: área de TI sintonizada com a gestão administrativa e industrial

Mais do que isto, o processo de gestão das empresas interfere diretamente nas soluções desenvolvidas pela área da Tecnologia da Informação. O setor de TI pode ter várias prioridades de implantação de sistemas. Mas, caso perceba que um BI – Business Intelligence pode se tornar um termômetro importante para ajudar na comercialização de açúcar, atendendo uma necessidade específica de uma usina, a área de Tecnologia da Informação deve se dedicar à elaboração e implantação desta solução, exemplifica.

“Se o gestor de TI não tiver esta visão, acaba direcionando os desenvolvimentos para situações que não interessam à gestão da empresa, inclusive para a administração da crise”, alerta. Segundo ele, deve ser criada uma via de mão dupla, ou seja, tanto o profissional de TI tem que estar ligado às necessidades da empresa, como a direção deve ter o entendimento que pode buscar esses dados por meio do trabalho desenvolvido pela área de Tecnologia da Informação.


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Ferramentas customizadas podem ser desenvolvidas internamente Área de TI da Santo Antonio elabora soluções para “automatizar” e sistematizar dados e controles registrados em planilhas As soluções da área de Tecnologia da Informação podem ser desenvolvidas internamente ou prospectadas no mercado. Em algumas situações, ferramentas que precisam ser customizadas podem demorar bastante para serem elaboradas caso seja contratada uma empresa que atua nessa área – observa Rommel Agra, gerente corporativo de Tecnologia da Informação do Grupo Santo Antonio, AL. Com o básico do sistema terceirizado, torna-se mais produtivo, em diversas situações, a própria equipe de TI da usina desenvolver soluções que atendam demandas específicas da empresa – opina. De acordo com ele, a área de Tecnologia da Informação da Santo Antonio tem se preocupado em atender as demandas da direção da empresa. Existe atualmente – informa – um esforço para “automatizar” e sistematizar dados e controles registrados em planilhas. Rommel Agra observa que há ainda muita coisa feita em planilha na maioria das empresas.

A ideia é depender menos de pessoas que preencham as planilhas. É necessário ter precisão e agilidade nas informações – enfatiza. Na Santo Antonio está ocorrendo a sistematização dos dados relacionados principalmente às áreas financeira e contábil, incluindo contas a pagar, contas a receber, tesouraria, faturamento. “A parte contábil precisa estar bem afinada, pois as empresas dependem de financiamento bancário. As instituições financeiras pedem, a toda hora, balanços, posições. Se a usina não tiver esses dados, não consegue nada. Por isso, procuramos melhorar muito essa área”, afirma.

PRODUTOS EFICIENTES E CONSOLIDADOS A alternativa “caseira” não descarta, no entanto, a aquisição de produtos consolidados e eficientes disponibilizados pelo mercado. A Santo Antonio, por exemplo, está buscando um sistema agrícola – revela o gerente de Tecnologia da Informação, Rommel Agra. A usina tem uma ferramenta elaborada internamente, que não está atendendo atualmente todas as demandas da área agrícola. “Queremos uma solução mais completa, que esteja mais desenvolvida”, planeja. (RA)

Rommel Agra, gerente corporativo de Tecnologia da Informação do grupo alagoano Santo Antonio


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Gestor da área deve ter credibilidade e ser agente agregador Profissional precisa ter também noções de economia, administração, de gestão e motivação de equipes O gestor de Tecnologia da Informação, que atua em unidades e grupos sucroenergéticos, precisa usar toda a sua competência, sob o aspecto técnico, para entender e saber dimensionar o potencial de auxílio que os produtos de TI podem dar ao negócio da empresa. Essa opinião é do coordenador do Gatua - Grupo das Áreas de Tecnologia das Usinas de Açúcar, Etanol e Energia, Carlos Alberto Rodrigues de Barros (Bill). Ele observa que a finalidade das unidades sucroenergéticas não é fazer sistemas. “A usina produz açúcar, etanol e cogera energia. Esse é o ‘core business’ da empresa onde o gestor de TI atua”, diz. Segundo ele, o setor de Tecnologia da Informação deve potencializar áreas, como agrícola e industrial, voltadas para o negócio das unidades produtoras, que contam com um universo de sistemas. “A TI de uma empresa nunca é uma área-fim. É uma área-meio que presta serviços para os demais setores da empresa. Se tem uma área das usinas, que não tem um sistema específico voltado para ela, é a de Tecnologia da Informação”, constata. Para realizar o seu trabalho com eficiência, o gestor de TI de unidades e grupos sucroenergéticos deve conhecer – destaca Carlos Barros – o segmento onde atua, ter noções de gestão e motivação de equipes e também de economia e administração. “É que ele trabalha com orçamento, gestão financeira da área dele e com o impacto do trabalho de TI na gestão financeira da empresa como um todo”, afirma.

A maior exigência de expertise do gestor de TI é a de facilidade no relacionamento – destaca. “Tem que ser uma pessoa que promova o consenso entre as diversas áreas envolvidas. O profissional de Tecnologia da Informação deve ser um agente agregador, alguém que tenha trânsito em todas as áreas e que seja uma pessoa aceita e com credibilidade. Caso contrário, nem sobrevive na empresa”, diz. De acordo com ele, existem hoje muitos técnicos excelentes que estão procurando emprego. Há também diversos profissionais de TI, que não têm grande domínio da parte técnica – compara –, que acabam sobrevivendo no mercado sucroenergético, porque são excelentes gestores. “É que eles sabem lidar com gente, sabem administrar uma situação política em um ambiente organizacional onde há muita disputa por espaço e poder”, comenta. Possuem também habilidade para gerir conflitos que são resolvidos, na maioria dos casos, de uma maneira positiva para todos os envolvidos. “Diversas pessoas que exercem função de gestão de TI em usinas têm formação em administração e outras vivências, que não são da área de Tecnologia da Informação, o que abre bastante a visão do profissional”, avalia. Existem os casos de profissionais que eram programadores, foram promovidos a analistas, supervisores e depois alcançaram a gerência de TI, que tiveram sempre a bagagem técnica em seu histórico. “É comum que estas pessoas olhem primeiramente as questões técnicas”, diz. De maneira geral, o profissional de Tecnologia da Informação de usina está percebendo a necessidade de ter uma visão alinhada à gestão da empresa. “Isto nem sempre ocorre por constatação própria. Mas, por consequência das exigências do momento”, afirma. (RA)

Carlos Alberto Rodrigues de Barros, o Bill, coordenador do Gatua



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ELDORADO RESPONDE À CRISE COM OUSADIA FOTOS: LIA MONTANINI

Unidade do Grupo Odebrecht Agroindustrial investe pesado para elevar em até 66% sua capacidade de moagem LUIZ MONTANINI, DE R IO B RILHANTE, MS

Exceto, talvez, pelos donos do caminhão e do mandiocal, seguramente nenhum homem ou mulher morador de Deodápolis, Rio Brilhante e cidades circunvizinhas que hoje integra a equipe da Unidade Agroindustrial Eldorado, do Grupo Odebrecht Agroindustrial lembra com saudade aquele tempo, não tão distante. O caminhão passava, de madrugada, sem parar, mas devagar — veja que coisa boa — na rua principal destas cidades sulmatogrossenses e era um deus-nos-acuda subir na carroçaria do bruto. Quem conseguia, passava o dia arrancando mandioca, a única fonte de trabalho agrícola local. A outra era cuidar de bois, mas boi quase não precisa de trato, basta por sal no coxo e manter as vacinas em dia, quase não precisa de gente cuidando. A chegada das usinas na região mudou aquele estado de coisas e hoje quem trabalha na Unidade Eldorado, por exemplo, vai de ônibus novo e com ar-condicionado para o local de trabalho e é deixado na frente do talião, se for na área agrícola. Ali mesmo ele passa o dedo na máquina de marcação de

pontos digital (ou bate o cartão, para os antigos), assegura-se de completa parafernalha de segurança, a fim de manter os números baixos de acidentes de trabalho da unidade e de todo o grupo e se torna um empresário do setor sucroenergético. Ele foi ensinado e incorporou o lema de que é mesmo empreendedor e que seu trabalho é sua empresa. Depende apenas dele obter

Eurico Costa, superintendente: “Mais que retrofit, revamp”

produtividade que resulte em lucro e este lucro volte para ele em forma de salários ou participações. Por receber esta autoridade delegada, age com iniciativa e responsabilidade. Muitos habitantes da região estão certos de que encontraram o Eldorado, ou melhor, foram encontrados por ele. Eldorado, de acordo com a antiga lenda indígena da época

da colonização das Américas, era uma cidade toda feita de ouro maciço e puro. Tamanha era a riqueza da cidadela que o imperador local tinha o hábito de se espojar no ouro em pó, para ficar com a pele dourada. A Eldorado de Rio Brilhante não oferece tanto assim aos habitantes, mas certamente tem enriquecido a qualidade de vida de toda aquela região.

Pedro Augusto Costa, gerente de pessoas e administração: prioridade é gente

Cultura de investir e valorizar pessoas é maior do que a do lucro na Eldorado A Eldorado, de Rio Brilhante, acaba de terminar sua “revamp”. Para quem não está familiarizado com o termo, significa que a unidade foi além do “retrofit”, que é uma reforma avançada do que já existia. A “revamp” — palavra emprestada do inglês que significa remodelar, modernizar —

alcançou toda a fábrica, o administrativo e a área agrícola, explica o superintendente Eurico Alves. E foi mesmo completa porque foi somada à cultura de valorizar e investir em pessoas iniciada pelo fundador do grupo, Norberto Odebrecht há 70 anos, lembra Pedro Augusto Costa, gerente de pessoas e

administração. “Entre nós, esta cultura é maior do que a da busca do lucro”, embora este também seja importante. A expansão da Eldorado custou em torno de R$ 600 milhões. Com isto, a empresa elevou em 66% a capacidade de moagem da unidade, passando a 3,5 milhões

de toneladas de cana-de-açúcar por safra. Ao final desta, terá moído perto de 3 milhões de toneladas. Além do aumento na capacidade de produção, a Eldorado passa a contar com uma desidratadora, possibilitando a produção de etanol anidro. (LM)



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Destilaria, com nova desidratadora e área industrial: meta de produzir nesta safra mais de 100 mil litros de hidratado e 65 mil litros de anidro

Em sete anos Eldorado quer moer perto de 6 milhões de toneladas Quando foi adquirida pela Odebrecht Agroindustrial, em 2008, a unidade Eldorado tinha capacidade para moer 2,1 milhões de toneladas de cana e produzia apenas açúcar e etanol hidratado. Hoje, pode moer até 3,5 milhões de toneladas — deve encerrar o ciclo próximo dos 3 milhões — e trabalha por ampliar a capacidade para até 6 milhões nos próximos anos, informa o superintendente Eurico Alves. Em miúdos, a Eldorado está com a meta de produzir nesta safra mais de 100 mil litros

de etanol hidratado, 65 mil de anidro e 150 mil toneladas de açúcar, além da exportação de 270 GWh de energia elétrica. Na safra 2015/2016 a Odebrecht Agroindustrial espera moer 28 milhões de toneladas de cana-de-açúcar em suas nove unidades localizadas nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Com este número, apresentará crescimento de 16% em relação ao registrado no período anterior. A empresa ainda quer produzir 2 bilhões de litros de etanol – sendo

1,35 bilhão de litros de anidro e 650 mil litros de hidratado – e fabricar 620 mil toneladas de açúcar no período. A Odebrecht Eldorado ampliou sua eficiência industrial nesta safra ao instalar a maior caldeira de leito fluidizado do setor sucroenergético do Brasil (400 t/ha) e que opera na pressão de 105 bar a 545°C, com ciclo regenerativo (veja matéria na página 52). Colocou em operação também nesta safra a maior moenda do mundo de 104”. Está operando somente com moegões, que

eliminam as mesas para descarga de cana e reduz custos de manutenção. Também implantou moderno sistema de limpeza de cana a seco, separando a palha, peneirando e triturando-a. São ações que trouxeram maior eficiência ao processo, redução dos custos de manutenção e um dos melhores balanços energéticos entre usinas, com 150 kwh/tc de excedente para exportação de energia. Todas estas tecnologias que fizeram a Odebrecht Eldorado uma das usinas mais eficientes do mundo. (LM)



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Fernanda Brunelli: definitivamente, o batom subiu ao trator

Edson de Jesus, um dos mais experientes na colheita

Os brutos também amam ser pilotados por mulheres O possante trator chega suave com a carreta carregada de cana na cuidadosa área de transbordo de uma das frentes da Eldorado. Nos comandos do bruto está a jovem senhora Fernanda Brunelli. É seu primeiro ano na frente de cana e como tratorista, mas ela está tranquila porque não está sozinha. Diversas mulheres fazem este tipo de trabalho na Eldorado e algumas já pilotam até mesmo colhedoras de

duas linhas, como as pilotadas por Edson de Jesus, um dos mais experientes na colheita. É, definitivamente, o batom subiu ao trator. E os tratores, esses brutos, parece que gostam muito dessa companhia. O assoalho do veículo é impecavelmente limpo. Os pilotos homens também mantêm o carro limpo, mas as cabines das mulheres sempre estão brilhando. Na Eldorado todos são treinados e

ensinados a cuidar bem de tudo e trabalhar com esmero. A diferença com as mulheres, por isso, não é tão gritante, mas ainda assim elas aparecem. É o primeiro ano de Fernanda na frente de colheita, pilotando um trator. Mas ela já trabalha no campo há vários deles e na usina há 8 anos. Começou no laboratório de entomologia, passou para o controle de perdas, fez o curso de tratorista e subiu na

carreira. Já recebeu algumas recompensas do PPM, o Programa de Produtividade Mensal que resultam em dinheiro a mais no bolso a cada meta atingida. Esses prêmios, não raro, chegam a resultar em aumento de 30% ou mais nos salários mensais. Seu marido, Julio César, também trabalha na unidade agroindustrial. É mecânico de máquinas. Se ele alivia o lado para Fernanda? “Que nada, ele é até mais exigente”, diz ela. (LM)



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Patrícia acompanha as operações agrícolas em tempo real Todo o trabalho agrícola é monitorado on line. A exemplo dos COI – Os já conhecidos centros de operações da indústria, a Eldorado implantou o COA, um centro de operação da área agrícola. A partir dele, embora à distância, a jovem Patrícia Santos acompanha todas as operações agrícolas de todas as frentes em tempo real. — Aqui cada líder é um gestor — esclarece Dorivan Rios Figueiredo, supervisor agronômico, repetindo, sem saber o que muitos outros entrevistados, da alta cúpula ao mais simples, haviam dito. Ele conta que a empresa permite a cada integrante trabalhar com liberdade e incentiva iniciativas. “Eu mesmo converso regularmente com a equipe sobre formas de eliminar pisoteio no solo e de alcançar produtividade maior. Explico a eles que o rendimento da cana é proporcional ao pisoteio e outros cuidados e que, como donos do negócio, nosso dever é tomar todos os cuidados. Afinal, a empresa também é nossa”. O resultado desses programas tem sido comemorado em toda a unidade. Hoje, a Eldorado consegue obter o recorde de 170 toneladas de cana por hectare no primeiro corte e média de 95 toneladas por hectare na média dos 8 cortes de longevidade da cana. Dorivan tem experiência com usinas e é respeitado na Eldorado. Foi um dos escolhidos a viajar quando o grupo precisou de pessoas para ir a Angola para praticamente iniciar um trabalho em nova unidade. Ali ficou por dois anos e só voltou depois que as coisas estavam encaminhadas. (LM)

Cuidados de encher os olhos... desde que bem protegidos Os cuidados com a segurança e a saúde dos integrantes na Eldorado — assim como em todo o grupo — são de encher os olhos (desde que bem protegidos) de qualquer especialista da área. Em alguns momentos chegam a irritar. Quando se toma conhecimento dos números mínimos de ocorrências de acidentes na unidade, entretanto, não há como não se render às normas. Recentemente, por exemplo, a equipe de Desenvolvimento Agronômico da unidade comemorou em café da manhã os 2 mil dias sem acidentes com afastamento do trabalho. Ao auxiliar na manutenção regular de sua colhedora, o integrante Edmar da Silva Souza, por exemplo, precisa estar totalmente equipado. Trabalha quase como um cavaleiro medieval, com os braços totalmente envoltos por malhas tecidas com fios de aço. (LM)

Patrícia Santos, do COA

Edmar da Silva Souza trabalha Dorivan Rios Figueiredo: “Aqui cada líder é um gestor”

protegido como um cavaleiro medieval


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Pais trabalham com os filhos e casais de mãos dadas chegam para almoçar Não é incomum encontrar casais de mãos dadas chegando ao restaurante para almoçar conversando a respeito do rendimento do filho na escola, na unidade Eldorado. Depois do almoço, continuam a conversa na convidativa área de vivência ao lado, um grande quiosque dotado de mesas de bilhar ou pebolim ou saem para outro quiosque menor, de piso em porcelanato. Este esmero nos detalhes visto na unidade não é reserva de mercado dos integrantes da Eldorado ou dos outros das nove unidades do grupo. Esta é uma cultura de 70 anos, herdada do fundador, Norberto Odebrecht, observa o gerente de pessoas e administração Pedro Augusto da Costa. Seguindo o exemplo da empresa-mãe, a Eldorado quebrou paradigmas antigos. Um deles é a besteira que algumas empresas insistiam em manter de não contratar parentes. Na Eldorado há muitos deles. A empresa toma apenas o cuidado de não colocá-los lado a lado, em funções correlatas ou na mesma área. Afinal, ter parente é bom, mas não tão por perto.... João Alves Pinheiro, por exemplo, supervisor de manutenção mecânica, oito anos de empresa, trabalha com os filhos Josimar Soares Pinheiro, 26 anos, técnico em manutenção e Junior Soares Pinheiro, 30 anos, operador folguista. Como a maioria dos integrantes, o trio trabalha tranquilamente e com sorriso estampado no rosto. “Aqui é uma empresa muito boa. Temos bastante amizade com as pessoas e são todos bons: a coordenação, todos os supervisores de área, são muito bons mesmo”, elogia o seo João. Seo João é oriundo da época em que a usina pertencia a Benedito Silveira Coutinho, morto precocemente aos 57 anos, em 12 de outubro último (veja nota na seção Cana Livre desta edição) . Aproveita a entrevista para fazer uma homenagem a Coutinho: “Era um homem muito bom”, diz, no seu jeito

Josimar, João Alves e Junior Pinheiro: filhos seguem as pisadas do pai

suave e de poucas palavras. João Alves Pinheiro achou o ambiente da Unidade Eldorado tão bom que trouxe os filhos. É o primeiro emprego de Josimar, 8 anos de empresa. “É onde estou tendo meu crescimento tanto profissional como pessoal”, diz. “Aqui já cresci muito e vou crescer mais: Uma semana após eu completar 18 anos tinha uma vaga aberta para o laboratório como colheitador de amostra e consegui entrar. Depois de um certo tempo me especializei como técnico em manutenção mecânica e fui transferido para a lubrificação. Agora estou trabalhando no PCM (Planejamento e Controle de Manutenções) e ali desenvolvo todas as atividades da manutenção tanto de entressafra e safra. Josimar não vai parar nisto. “Estou me formando agora

em 2018 em engenharia civil e pretendo tentar uma carreira no Odebrecht Engenharia Civil e de repente, quem sabe, até trabalhar fora do país”. Junior Soares Pinheiro começou como na área de hidrojato, “bem lá embaixo”, depois passou a operador de tratamento de caldo. Em seguida, foi promovido a operador de evaporação, cozinhador e hoje é folguista de área do pessoal da fabricação de açúcar. “Exerço todas as funções de lá e tiro a folga de todos na unidade diariamente. Cada dia estou num lugar e isto me faz conhecer todo o processo”. Também não quer parar: “Pretendo fazer uma carreira de engenharia mecânica pra ver se consigo seguir o passo que meu pai seguiu. A vida toda ele foi mecânico. Eu pretendo dar continuidade na minha geração”. (LM)


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USINA DO MÊS

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Brotos de gente são os meninos dos olhos de Gisele Em geral uma pessoa sensível tem sempre uma menina dos olhos. Gisele adotou duzentas delas. Todos eles, entre 6 e 15 anos, aparecem quase que diariamente na Associação Broto de Gente, que funciona em Deodápolis, bem próximo à Eldorado. Estes brotos de gente estão plantados ali em turnos e contraturnos, e muitos garotos já se tornaram árvores fortes e meninas se tornaram belas flores. A Eldorado investe neste trabalho exatos R$ 456 mil por ano, informa Daniela Coelho Porfírio Fontes, da área de Pessoas e Organização da empresa, chamada no mercado de RH. A associação incorpora o estilo de gestão do Grupo Odebrecht e o resultado é a excelência. No prédio cedido pela Prefeitura e bem cuidado, professores, monitores e cozinheiros oferecem não apenas os costumeiros lanches dos dois períodos e as tradicionais diversões esportivas ou de cinema, mas ensinos diários de trato com pessoas, respeito e ajuda mútua. Gisele Souza Severino, coordenadora da associação desde 2013, conta com o apoio de oito educadores sociais do total de 12 da equipe. Ali, oferecem oficinas de inglês, de matemática e de artes e ensinam sobre sustentabilidade, através de trabalhos artesanais e reciclagens. O trabalho de reciclagem, aliás, é perfeito: pufs revestidos e confortáveis são feitos com base de pneus usados e doados e vários outros objetos de uso cotidiano são produzidos a partir de material

Gisele Souza Severino e algumas de suas crianças no Cine Broto

Luana, Erick e Caio garantem: ano que vem vão estudar ali

que seria descartado, como garrafas pets. A associação atende meninos e meninas de 6 a 15 anos. Oferece escolinha de

futebol, de futsal e de vôlei e promove campeonatos com equipes até de cidades região, além de entretenimento saudável

para as crianças e seus pais. — Temos ainda o Cine Energia Social, mais conhecido como Cine Broto. Em data reservada por cupons gratuitos e retirados antecipadamente, projetamos filmes educativos ou desenhos animados infantis. O dia se torna uma festa. Mas o que mais nos interessa é educar essas crianças e isto temos conseguido, comemora Gisele. Num dos últimos filmes, o sucesso Frozen, as meninas fizeram seus próprios diademas e apareceram para os pais vestidas de princesas, lembrando as personagens Elsa e Ana. Os meninos preferiram mais os churros, pipocas e refrigerantes. O modelo de trabalho do Broto de Gente tem despertado o interesse não apenas dos pais em matricular seus filhos, mas das próprias crianças. A fila de espera não é pequena. As crianças que ainda não estão matriculadas ali têm esperança. “Ano que vem vou estudar aí”, diz, no portão, a menina Luana, de 11 anos. O mesmo dizem seus amigos, Erick e Caio, 8 e 9 anos respectivamente. Daniela Coelho Porfirio Fontes observa que o cuidado com pessoas inclui não apenas as crianças matriculadas no projeto, mas toda a comunidade, além dos cerca de 1.300 integrantes da usina. — No programa Acreditar Junior, por exemplo, que temos em parceria com Senai, ensinamos 32 alunos por estágio em cursos profissionalizantes. A maioria tem vaga futura garantida. (LM)



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USINA DO MÊS

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Maior caldeira de leito fluidizado está em operação na Eldorado Instalação de equipamento marcou a conclusão da primeira fase do projeto de expansão da UTE Eldorado A instalação na Unidade Eldorado, de Rio Brilhante, MS, da maior caldeira de leito fluidizado em operação no setor no Brasil em t/ha de produção de vapor demonstra a importância que a Odebrecht Agroindustrial e a Odebrecht Energia Renovável atribuem ao negócio de geração e exportação de bioeletricidade. Essa caldeira é a única de leito fluidizado que opera na pressão de 105 bar a 545°C, informa Evandro Pizeta. A tecnologia de leito fluidizado borbulhante, que é a principal característica desta caldeira, traz maior eficiência na queima e maior flexibilidade, uma vez que mantém a estabilidade operacional em uma faixa maior de umidade do combustível – comenta. A entrada em operação desta caldeira no mês de maio marcou a conclusão da primeira fase do projeto de expansão da UTE Eldorado, que atingiu a capacidade instalada de 141,019 MW, dos quais 25,019

MW correspondem à planta existente e 116 MW do projeto de expansão – detalha Evandro Pizeta. Segundo ele, a nova caldeira de leito fluidizado e os novos turbogeradores de contrapressão e condensação, instalados na UTE Eldorado, operam em paralelo às

instalações já existentes. “Em termos de mudanças na central termelétrica, basicamente foram executadas as adequações nas esteiras de alimentação de bagaço e no sistema de automação e controle da planta”, diz. “A expansão da Eldorado ratifica o

compromisso a longo prazo que a Organização Odebrecht e a Odebrecht Agroindustrial têm com o setor. Viemos para ficar e transformar a realidade do setor. Para a Eldorado, produtividade com segurança é um valor do qual não abrimos mão”, finaliza o superintendente Eurico Alves. (LM) ACERVO ODEBRECHT

Grupo exporta cerca de 70% da energia gerada

Capacidade de produção instalada é de 854 MW No total, as Unidades Agroindustriais do Grupo Odebrecht possuem uma capacidade instalada de produção de energia de 854 MW, sendo conduzidas por meio de um Consórcio entre Odebrecht Agroindustrial e Odebrecht Energia

Renovável. Nesse modelo de negócio, a Odebrecht Agroindustrial entrega biomassa, resultante do processamento da cana-deaçúcar, e recebe energia elétrica e vapor necessários para a produção de açúcar e etanol. (LM)

De acordo com Evandro Pizeta, responsável por Regulação e Comercialização da Odebrecht Energia Renovável, cerca de 30% da energia gerada é consumida nas plantas da Odebrecht Agroindustrial, enquanto que o restante é exportado ao sistema elétrico e comercializado pela Odebrecht Energia Renovável, tanto no ambiente regulado (por meio de leilões), quanto no mercado livre. “Em 2014, a geração total foi de aproximadamente 2.150 GWh e a exportação representou cerca de 70% da energia gerada”, revela. (LM)

Evandro Pizeta: exportação em 2014 de cerca de 70% da energia gerada



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TECNOLOGIA INDUSTRIAL

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ARTIGO

Análise de causa e efeito de falha (um caso prático) *MARCOS B RANDÃO

Eficiência de combustão e baixas emissões são diferenciais Caldeira de leito fluidizado borbulhante aceita combustível com alto teor de umidade A alta eficiência de combustão das caldeiras de leito fluidizado borbulhante garante teor de não queimados próximo de zero, destaca Marco Aurélio Zanato, engenheiro de vendas da HPB Energia, de Sertãozinho, SP. Além de produzir baixas emissões de NOx e CO, esse equipamento aceita combustível com alto teor de umidade – afirma. A HPB foi a responsável pelo fornecimento da caldeira de leito fluidizado borbulhante de 400 t/ha de vapor a 105 bar de pressão e 545 ºC para a Odebrecht Agroindustrial – Unidade Eldorado, que está em funcionamento desde maio. “Os principais diferenciais concebidos para este projeto estão relacionados à maior eficiência para a conversão de energia química contida no bagaço de cana em energias térmica e elétrica, às contribuições na redução das emissões ambientais, bem como às características superiores de automação integral deste porte de caldeira”, ressalta o engenheiro de vendas da HPB. Essa empresa de Sertãozinho já forneceu ao Grupo

QUEBRA DE DENTE ENGRENAGEM TG – 300 RC 002 RD 001 = 20 graus relação b1/do1 = 0,25 z= 29 z2-110 SAE = 4340 58 HRC – 10.000 h. motor de 15 cv 1140 rpm TORQUE NO PINHÃO MT = (30 x 11000) / ( PI x 1140) = 92,14 Nm = 92140 Nmm. RELAÇÃO DE TRANSMISSÃO I = 110/29 = 3,79 i=1: 3,79 PRESSÃO ADMISSÍVEL – FATOR DURABILIDADE – W W= (60 X 1140 X 104 )/ 106 W= 684 58 HRC – 6000 HB – 6000 N/mm². CÁLCULO DA PRESSÃO Padm= (0,487 x 60000) / 2,97 = 9,84 x 102 Nmm f ator Agma tabela = 1 Volume mínimo b1 do²t = 5,72 x 105 x (92140/9,84 x 10²)² x (3,79 + 1)/ (3,79+0,14) = b1 do²t = 6,6643 x 104mm³

Marco Aurélio Zanato e a nova caldeira: maior eficiência na conversão de energia química contida no bagaço

Odebrecht onze caldeiras, as quais perfazem aproximadamente a produção de 3.000 t/ha de vapor superaquecido em sete diferentes unidades operacionais – informa Marco Zanato.

Escolha de equipamento deve considerar qualidade da biomassa O modelo de caldeira mais interessante, disponível atualmente no mercado, em termos de eficiência, é a de leito fluidizado, enfatiza o engenheiro eletricista Humberto Vaz Russi, diretor da Aliança Engenheiros Associados, de Jaboticabal, SP. O sistema de queima é o diferencial desta caldeira – destaca. Alguns critérios devem ser levados em conta, no entanto, na hora de adquirir uma caldeira, observa Humberto Russi. O equipamento deve estar de acordo com a quantidade e a

A manutenção com sua evolução perfilam hoje como uma ciência, onde hoje existem várias bibliografias sobre o assunto. A agroindústria apesar de ser apontada como uma indústria arcaica, velha e sem tecnologias para alguns leigos que não conhecem o setor, foi um dos setores que mais cresceu seu parque industrial, com atualizações tecnológicas principalmente nos controles eletrônicos de processo e equipamentos. Um dos itens da evolução é o FMEA, que já era praticada no setor com outros nomes, porém sua ação era realizada e implementada na entressafra com análise de falhas ocorridas durante safra passada e implementada na safra seguinte, aumentando a confiabilidade dos equipamentos. Abaixo, mostrarei uma análise de quebra de engrenagem de um redutor em uma usina assistida por mim durante minha passagem na manutenção:

qualidade da biomassa disponibilizada pela usina. É preciso considerar – exemplifica – a umidade do bagaço. “Não se deve escolher um equipamento generalista”, diz. De acordo com ele, as caldeiras com pressão na faixa de 60 bar são mais viáveis. Para equipamentos na faixa de 100 bar, é preciso fazer um estudo de custo-benefício. “O investimento para uma caldeira deste tipo é muito mais elevado, por isso tem que gerar muito mais energia para se tornar viável”, afirma. (RA)

MÓDULO DE ENGRENAMENTO B1do²= 66343 mm³ – b1/do1 = 0,25 — b1 = 0,25 do1 0,25do1 x do² = 66343 – do = 64,3 mm M= do1/Z = 64,3/29 = 2,21 mm Din 780 ferramenta próxima Mn= 2,25 mm RECÁLCULO DO DIÂMETRO PRIMITIVO Dor = Mn x z1 = 2,25 x 29 = dor = 65,25 mm. LARGURA DO PINHÃO b1do² = 66343 — b1= 66343/65,25² = 15,58 == 16,0 mm CÁLCULO DA RESISTÊNCIA – FLEXÃO PÉ DO DENTE FORÇA TANGENCIAL – Ft = 2 x 92140 Nmm / 65,25 mm = Ft= 2829 N Fator de forma – tab – q=3,0835 Fator de serviço Agma – 10 h e =1 (eixo-eixo) Módulo Normalizado Mn= 2,25 DIN 780 Largura do pinhão = 16 mm CÁLCULO DA TENSÃO MÁXIMA NO PÉ DO DENTE Max = (Ft xq x ) / (b x Mn) material Max = (2825 x 3,0835 x 1) / (16 x 2,25) = 242 Nmm². mat 4340= 170 Nmm² 242 Nmm² > 170 Nmm².

CONCLUSÃO: Como a quebra do dente deve-se a problema de dimensionamento do pinhão, iremos recalcular novos valores para correção da quebra do mesmo. *Marcos Brandão assina blog no portal jornalcana.com.br


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Mudanças no preparo e extração amenizam efeitos da crise Ganhos na Bevap devem atingir sete milhões de reais na próxima safra devido ao aumento na venda de bioeletricidade R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP

As unidades e grupos sucroenergéticos não têm condições de equacionar no dia a dia a crise setorial e a conjuntural que estão gerando prejuízos financeiros significativos para o setor. Diversas usinas e destilarias têm conseguido, no entanto, amenizar as perdas por meio de mudanças no processo de produção. Exemplo disso são as modificações realizadas por algumas unidades no sistema de recepção e preparo da matéria-prima, incluindo o aproveitamento da palha e bagaço para a geração de bioeletricidade, além de mudanças na extração do caldo. Modificações realizadas na Bevap Bioenergia, de João Pinheiro, MG, – consolidadas no segundo semestre – já vão proporcionar uma economia de dois milhões de reais na safra 2015/16 e de sete milhões de reais no próximo ciclo, informa Dirceu Moral Monsó, coordenador de extração. “O resultado tem sido fenomenal”, enfatiza.

Área industrial da Bevap: redução do custo de manutenção ajudou a ampliar os ganhos

Boa parte desses ganhos é proveniente da elevação da eficiência da caldeira devido ao melhor aproveitamento da biomassa, o que está permitindo um aumento da venda de bioeletricidade. A usina produz 80 megawatts/hora, exporta 58 MWh e consome 22 MWh na indústria e na irrigação da cana, observa o coordenador de extração. Além disso, a Bevap reduziu o consumo de energia e o custo de manutenção com a desativação de dois picadores no sistema de preparo. A implantação da camisa de alta drenagem – conhecida como camisa perfurada

– e as modificações no processo de recepção e preparo da matéria-prima criaram condições para redução significativa do índice de umidade do bagaço, que está atualmente em 49,8%. Antes das mudanças, a umidade do bagaço, chegava a 54% ou 55%. A instalação de camisa (superior) perfurada, de 43 por 90 polegadas, foi feita no terno de secagem. Segundo Dirceu Monsó, somente essa tecnologia possibilitou a redução de dois pontos percentuais na umidade do bagaço, além de proporcionar ganhos na eficiência da extração do caldo que está em 96,5%. A configuração da extração da Bevap

inclui moenda e difusor. O sistema conta com um terno desaguador e outro de secagem – com boa performance de extração –, além de difusor para o processamento de 12.500 toneladas de cana por dia. A produção hoje é de 14.200 toneladas, performance acima da capacidade do equipamento, o que se tornou possível devido ao arranjo feito no sistema de extração – afirma. “A tendência é melhorar ainda mais esse resultado. Atualmente estamos processando 2,540 milhões de toneladas de cana. O objetivo é chegar a 3,1 milhões de toneladas por ano”, prevê.


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Separação da palha e desfibrador otimizam produção Biomassa, que era processada junto com a cana, provocava perda de extração O sistema de separação da palha e o processo de preparação da cana para extração e da biomassa utilizada para queima na cadeira têm sido fundamentais para a Bevap elevar a sua eficiência industrial e ampliar seus ganhos. Essa usina de João Pinheiro faz inclusive o recolhimento de parte da palha juntamente com a colheita da cana. No transporte de matéria-prima para a indústria, há a inclusão de 12% a 15% de palha em relação ao volume de cana-de-açúcar, calcula Dirceu Moral Monsó, coordenador de extração. A biomassa é separada por um sistema de limpeza a seco, que conta com um terno de secagem que faz também a trituração da palha. A eficiência da tecnologia é de 60% a 70% em relação à separação desse material, revela o coordenador de extração. Mas, ainda não apresenta boa performance para a redução de impurezas minerais. A ideia é aprimorar o sistema futuramente para essa finalidade – planeja. Antes da implantação do sistema, a palha – trazida do campo – era processada junto com a cana-de-açúcar e provocava perda de extração, observa.

Vista noturna da Bevap e Dirceu Moral Monsó, coordenador de extração

O processo de preparo de matéria-prima para extração da Bevap utiliza desfibrador extrapesado e não inclui picador, pois toda a cana da usina é colhida mecanicamente – ou seja, já é picada durante o corte. “Os resultados têm sido muito bons. Fizemos algumas melhorias na placa de desfibrador, que tem um índice de preparo entre 91% e 92%. No sistema convencional, o desempenho fica entre 88% e 89%”, compara. A usina possuía dois picadores, com quatro motores de 300 cv, que tinham maior consumo de energia e exigiam bastante

manutenção – relata Dirceu Monsó.

AJUSTES E RETOQUES A camisa perfurada já foi usada em usinas brasileiras na década de 80, mas apresentava alguns problemas e “desconfortos” no sistema de extração. Com alguns ajustes e retoques, passou a ter melhor desempenho e está sendo utilizada novamente. “Antes, tinha entupimento. Agora, drena melhor e fica tudo limpinho”, compara o gerente industrial da Usina São José da Estiva, Otaviano Girotto. (RA)


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Camisas perfuradas melhoram performance de ternos Recurso tecnológico, utilizado na São José da Estiva, reduz umidade do bagaço e aumenta eficiência da extração A Usina São José da Estiva também realiza um trabalho diferenciado em seus sistemas de recepção e extração. Essa unidade de Novo Horizonte, SP, começou a utilizar a camisa perfurada na safra 2015/16, no primeiro e sexto terno (último). Apesar do pouco tempo de uso, o gerente industrial da usina, Otaviano Girotto, afirma que já percebeu as vantagens proporcionadas pela utilização desse recurso tecnológico, como a diminuição da umidade do bagaço proveniente do último terno, que teve uma queda de 1.5% em relação à safra passada. Essa redução torna-se ainda mais relevante se for considerado que a performance da Estiva nesse quesito já não era ruim. Segundo Otaviano Girotto, enquanto outras unidades apresentam 52% a 53% de umidade, a Estiva registrava um teor de umidade do bagaço entre 50% a 51%. Com a camisa perfurada, esse índice caiu para 48,5% a 49,5%. “Nunca passa de 50%”, diz. Um quilo de bagaço mais seco na caldeira gera muito mais vapor, possibilitando um melhor aproveitamento do uso de biomassa na produção de bioeletricidade – destaca o gerente industrial. Além disso, essa tecnologia tem contribuído, juntamente com outros fatores, para a elevação da eficiência da moagem, extraindo inclusive maior volume de caldo do primeiro terno. Essa performance na “porta de entrada” da extração acaba aliviando os outros ternos – observa. A Usina Estiva vai instalar, em 2016, camisas superiores perfuradas nos outros ternos de moenda – revela.

Amostragem de cana na Usina São José da Estiva

Outra vantagem é a melhor soldabilidade – pega mais chapisco e gasta menos eletrodo –, que tem contribuído também para o aprimoramento do sistema de extração, pois o caldo não fica em cima das camisas, explica. Essa unidade sucroenergética já chegou a ter eficiência de extração entre 96,5% e 97%. Mas, da mesma forma que outras usinas brasileiras, teve queda por causa da presença da palha no processo em decorrência da colheita mecanizada de cana crua. “Apresenta hoje um índice que oscila de 96,32% a 96,33%”, diz. A Estiva conta também com sistema de limpeza, chamado de “úmido”, de cana-de-açúcar, porque lava toda a

palha – esclarece Otaviano Girotto. É o processo a seco, com o acréscimo de um terno de moenda, de menor porte, que mói a palha lavada com água proveniente de um sistema de circuito fechado – detalha. Há ainda a separação de terra e areia. “Com isto, há redução do envio de impurezas minerais para o decantador, ocorrendo também a diminuição do desgaste de bombas, tubulação, caldeira”, constata. Desenvolvido na própria usina, esse processo de limpeza começou a ser utilizado na safra 2015/16. Antes da implantação, quando chovia, o decantador parava de três a cinco vezes durante a safra – exemplifica. (RA)


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Lições valiosas para aumentar a eficiência da fermentação e processos FOTOS: GUILHERME GALDINO

Experiências e estratégias valiosas foram compartilhadas em evento da Sinatub, em Ribeirão Preto JOSIAS M ESSIAS

Em seu discurso de encerramento do Curso de Processos e Fermentação realizado pela Sinatub no dia 22 de outubro último, em Ribeirão Preto, SP, Jaime Finguerut destacou que os participantes estavam saindo dali com conhecimentos, experiências e estratégias valiosas para a obtenção de melhorias significativas na fermentação e na área de processos de suas unidades produtoras. Abrindo o evento, Henrique Amorim apresentou um panorama bem amplo e detalhado do que é a fermentação no Brasil, mostrando as principais diferenças em relação a de outros países e quais são as inovações disponíveis e em desenvolvimento na área. Já a Itapecuru Bioenergia mostrou como conseguiu, dando uma atenção especial às leveduras e com medidas básicas de desinfecção, obter um rendimento médio de 92% ao longo de toda a safra, mesmo enfrentando severas restrições de matériaprima e altas temperaturas nas dornas de fermentação. Em seguida, o gerente industrial da Nardini, Oscar Ramiro Carrasque, mostrou como implantar e operar um sistema de controle automatizado de fermentação em batelada, cujos resultados finais são a estabilidade do processo e o aumento no rendimento fermentativo. A São Martinho apresentou case com descrição detalhada do sistema de medida online sobre parâmetros na fermentação, um projeto que vem sendo desenvolvido já há um bom tempo pelo Grupo. Já a Tonon apresentou case na filtragem de lodo com eficiência acima de 99,50% na

safra, detalhando quais são os parâmetros que devem ser monitorados e controlados visando alcançar este resultado. O CTC apresentou as últimas pesquisas na engenharia das leveduras e em novos processos fermentativos, sequer parecidos com os atuais, que visam resolver o “desperdício” da conversão pelas leveduras de cerca de 48% do açúcar em gás carbônico. Em seguida, Teresa Cristina Vieira Viana, da MSBIO, mostrou a realidade

enfrentada por diversas usinas que, devido às altas temperaturas no processo e nas dornas de fermentação, têm seu rendimento fermentativo reduzido em até 4% por conta do estressamento das leveduras presentes no processo que se transformam em rugosas. Teresa demonstrou através de cases e números de diversas usinas, a realidade da renovação das leveduras rugosas em lisas, recuperando o rendimento fermentativo e reduzindo custos com dispersantes e antiespumantes.

O gerente industrial da Usina Pitangueiras, Gilmar Galon, destacou as funcionalidades e resultados que a usina vem obtendo com a implementação do Sistema de Simulação e Otimização em Tempo Real da Cogeração e Planta Industrial (S-PAA), cujos ganhos são estimados em R$ 1,4 milhão na safra. Galon e Douglas Mariani, da Soteica, transmitiram ao vivo a utilização do sistema pela Usina Pitangueiras. Daniel Atala, da BP Biocombustiveis, apresentou as inovações tecnológicas no monitoramento e controle industrial, especialmente com a utilização da tecnologia NIR. No final, o público pôde conhecer a “Visão dos Executivos e Gestores de Usinas sobre Processos e Fermentação” no Painel de encerramento com a participação de representantes de usinas de cana e grupos produtores. O evento foi gravado em vídeo e será disponibilizado como Curso à Distância, para que os profissionais das usinas que não puderam estar presentes tenham acesso ao valioso conteúdo das palestras/aulas. Maiores informações com Josias Messias: 16 3512.4300 e josiasmessias@procana.com.br


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Itapecuru mostra como obter rendimento fermentativo médio contínuo de 92%

FOTOS: GUILHERME GALDINO

Em palestra no Curso de Processos e Fermentação da Sinatub, a Itapecuru Bioenergia localizada na cidade de Aldeias Altas (MA), mostrou como conseguiu obter um rendimento médio de 92% ao longo de toda a safra, mesmo enfrentando severas restrições de matéria-prima e altas temperaturas nas dornas de fermentação.

Mesmo enfrentando severas restrições de matéria-prima e altas temperaturas nas dornas, a destilaria conseguiu manter alto rendimento na fermentação Com a consultoria da MSBIO, a Itapecuru adotou medidas consideradas simples e que não requerem investimentos em equipamentos ou produtos, como iniciar a safra com levedura de alta produtividade, transformar a melhor levedura do processo de rugosa em lisa e reinjetá-la periodicamente no processo, além da adoção de treinamento e integração das equipes e procedimentos de desinfecção implementados em todo o

Teresa Cristina Vieira Viana, diretora técnica da MSBIO

processo de produção, incluindo combate a bactérias e leveduras selvagens na moenda. Representando Nelson Ferreira, gerente industrial da Itapecuru, a diretora técnica da MSBIO, Teresa Cristina Vieira Viana, destacou que a destilaria enfrenta a mesma realidade da maioria das usinas que, devido às altas temperaturas no processo e nas dornas de fermentação, têm seu rendimento fermentativo reduzido em até 4% por conta do estressamento das leveduras presentes no processo que se transformam em rugosas. Superar este desafio foi principal fator de ganho na Itapecuru: “manter na

fermentação leveduras predominantemente lisas e produtivas por toda a safra proporcionou maior produção de etanol com a mesma quantidade de matéria-prima e redução nos custos com dispersantes e antiespumantes”, apresentou Teresa. “O aumento médio de 2,61% no Rendimento Fermentativo em relação à safra passada permitiu uma produção extra de 2.498.000 litros de etanol, o que representou uma receita adicional de cerca de R$ 3,5 milhões nesta safra. E este resultado com uma moagem de apenas 442.000 toneladas de cana!”, finalizou. (JM)

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Leveduras lisas X rugosas: quebrando paradigmas Com experiência de 27 anos em microbiologia em usinas das regiões nordeste e centro/sul, e utilizando dados de pesquisa com 45 usinas, Teresa Cristina apresentou palestra explicando as diferenças morfológicas entre a colônia de pseudomicélio (rugosa) e a colônia de levedura unicelular, comprovando que se tratam de leveduras com o mesmo DNA. Como solução, Teresa demonstrou através de cases e números de diversas usinas, a realidade da renovação das leveduras rugosas em lisas, recuperando o rendimento fermentativo e reduzindo custos com dispersantes e antiespumantes. A empresa desenvolveu metodologia exclusiva que transforma leveduras rugosas presentes no processo da própria usina em lisas, para a partir daí iniciar o processo de seleção das leveduras mais resistentes, predominantes e produtivas, as quais são periodicamente reinjetadas no processo. Este procedimento cria a principal condição para a manutenção de um alto rendimento fermentativo durante toda a safra.


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Pitangueiras é a primeira usina a implantar gerenciamento industrial em tempo real Com o foco em melhorias na operação e gestão, o gerente industrial da Usina Pitangueiras, Gilmar Galon, apresentou as funcionalidades e resultados que a usina vem obtendo com a implementação do Sistema de Simulação e Otimização em Tempo Real da Cogeração e Planta Industrial (S-PAA), cujos ganhos são estimados em R$ 1,4 milhão para a empresa na safra. Galon e Douglas Mariani, da Soteica, acessaram ao vivo o sistema em uso pela Pitangueiras, durante o Curso de Processos e Fermentação da Sinatub. Galon destacou a eficiência que o SPAA proporciona para a produção da Pitangueiras, a primeira unidade independente a implantar o sistema, já que o setor sucroenergético apresenta um cenário de desafios econômicos, proporcionando uma demanda por soluções muitas vezes não convencionais, mas que já demonstraram sua eficácia no incremento da eficiência e da rentabilidade de usinas. Há seis anos, a Soteica desenvolveu uma solução completa para gerenciamento e otimização em tempo real da cogeração e de toda a planta de açúcar e etanol. A suíte

Em curso da Sinatub, Galon e Douglas Mariani acessaram ao vivo sistema de simulação e otimização em tempo real em uso pela Pitangueiras

denominada S-PAA possui três módulos principais: de gerenciamento e otimização de energia; de gerenciamento e otimização

do processo produtivo; e o módulo de Laço Fechado. Implantado em 7 unidades do Grupo Usaçúcar, do Paraná, e agora na

Equipe da Pitangueiras comemora implantação de software de última geração Na primeira semana de outubro, a Pitangueiras completou o processo de implantação do software de simulação e otimização em tempo real da cogeração e da planta industrial – S-PAA, considerado o “estado da arte” em gerenciamento industrial já aplicado a usinas e destilarias. Para comemorar o êxito do projeto, realizado em tempo recorde nesta safra, a equipe industrial, liderada pelo gerente Gilmar Galon, realizou um churrasco no último dia 9 de outubro na chácara do “Cidão”, supervisor de manutenção da Pitangueiras.

Bevap adquire sistema “estado da arte” em gerenciamento industrial Com o foco em melhorias na operação e gestão industrial, a Bevap - Bioenergética Vale do Paracatu, localizada no município de João Pinheiro (MG), contratou a implantação do software de simulação e otimização em tempo real da cogeração e da planta industrial da Soteica – S-PAA, considerado o “estado da arte” em gerenciamento industrial já aplicado a usinas. O período da entressafra será utilizado para a modelagem da “planta virtual da Bevap”, para que a Usina comece a safra já utilizando todas as funcionalidades do sistema, que envolve os módulos de Energia, Processos e de Laço Fechado. O gerente da Divisão Industrial da Bevap, Fernando Calsoni, explica que a empresa tem como meta produzir e comercializar de forma sustentável os derivados da cana-deaçúcar. Para isto, a usina conta com uma equipe técnica profissional comprometida com resultados e incorpora inovações tecnológicas que apresentam ganhos operacionais e financeiros comprovados, como o SPAA. (JM)

Processo de modelagem e implantação ocorreu em tempo recorde e contribui para a Usina Pitangueiras continuar obtendo altos índices de eficiência industrial Além da equipe da Pitangueiras, o evento contou com a presença de Douglas Castilho Mariani, Consultor de Negócios, e do engenheiro químico Bruno Moraes de Oliveira, da Soteica; e Josias Messias, presidente do Pró-Usinas. No evento, Messias fez questão de agradecer a confiança da diretoria e da gerência, que apostaram na viabilidade do S-PAA, e parabenizou toda a equipe industrial da Pitangueiras que efetivamente fez o projeto tornar-se uma realidade. (JM)

Pitangueiras, o sistema tem proporcionado ganhos que retornam o investimento no prazo médio de 90 dias. (JM)

Comemoração aconteceu na Chácara do ´Cidão´



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POLÍTICA SETORIAL

Novembro 2015

DE VOLTA PARA O FUTURO! Shigeaki Ueki, ex-ministro das Minas e Energia do Proálcool, aplicaria hoje soluções que deram certo no passado I SAC ALTENHOFEN

Em uma das famosas cenas da trilogia De Volta para o Futuro — agora com novo filme estourando nas bilheterias — o cientista louco e carismático Dr. Emmett Brown volta do futuro de repente a bordo do seu famoso Delorean e, antes de retornar ao dia 21 de outubro de 2015, de onde viera, enche o tanque do carro com lixo orgânico e inorgânico, os combustíveis do futuro. Ele não podia estar mais certo. Hoje, o etanol, por exemplo, pode ser retirado de descartes fermentados e aterros sanitários recebem melhorias e tubos para dali retirarem gases que serão reaproveitados. Embora Emmett tenha previsto o uso ambientalmente correto de energias sustentáveis e alternativas já para este início de milênio, o fato é que falta ainda vontade política de mudança de paradigmas aos governos mundiais. No caso do brasileiro, há o agravante de que, seja premido ou não pela força monetária dos xeiques ou texanos da

Shigeaki Ueki: informações importantes não chegam ao conhecimento das autoridades federais

indústria do petróleo, o etanol, o maior programa de energia alternativa que, comprovadamente, funcionou em larga escala, permanece relegado a segundo plano na agenda de investimentos do governo federal e da maioria dos estaduais. O ministro que foi o maior responsável pela implantação do Proálcool brasileiro, o Proálcool, em meados da década de 1970,

acredita, entretanto, que a inércia energética brasileira pode mudar, caso os governos e o setor mantenham os pés no chão, com política realista, e passem a investir em cogeração de energia e em tecnologias para a fabricação de novas gerações de etanol. Para abordar temas como esses e correlatos, Shigeaki Ueki, ex-ministro das Minas e Energia na época do governo de Ernesto

Geisel (março de 1974 a março de 1979) tem participado de vários encontros, sobretudo nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Neles, contribui com questões e apresenta soluções que acredita serem viáveis para enriquecer a matriz energética brasileira. Ueki conta que em seu tempo de ministro enfrentou grandes dificuldades, em razão do momento pelo qual o país atravessava. Revela que muitos técnicos da Petrobras não tinham opiniões favoráveis a respeito do álcool carburante. “Consegui convencê-los de que o plano para aproveitar mais a cana aumentaria a produção de açúcar para exportação e que ao produzir álcool carburante diminuiríamos a importação de petróleo e, assim, economizaríamos divisas. Na época da implantação do Proálcool a produção nacional anual de cana-de-açúcar era de 50 milhões de toneladas e, sem o plano de apoio ao etanol, seria hoje de, no máximo, 100 milhões de toneladas e não de quase 700 milhões de toneladas”, observa. Na visão de Ueki, o Brasil precisa, urgentemente, recuperar a credibilidade da Petrobras e da Eletrobras junto aos investidores, rever o orçamento plurianual das duas estatais citadas e deixar de ser menos Venezuela e Argentina, que elevaram taxas tributárias do setor energético. “Precisamos ser mais Noruega, que tem visão de futuro”, reivindicou, sonhando com o Primeiro Mundo.


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“Brasil já poderia ser o primeiro do mundo em energias renováveis” Fazendo uma rápida viagem no tempo, Shigeaki Ueki que também já foi o primeiro presidente civil da Petrobras, declarou que o cenário atual do Governo Federal – no que diz respeito à relação com o setor sucroenergético – é similar ao da década de 80, na época que era ministro. Ele relata algumas medidas que foram tomadas com os apoios dos governos de Geisel e Figueiredo. Relembra que em relação à Petrobras, o mercado financeiro estava desfavorável. A solução foi revistar as prioridades e cancelar vários projetos para montar o lucro e o caixa em níveis saudáveis. Vários projetos de produção de petróleo e gás no Brasil foram cancelados e os investimentos nessa área foram retirados. “Investimos prioritariamente em exploração e produção, conseguindo triplicar a produção de petróleo. Deixamos de patrocinar vários eventos, cortamos gastos de publicidade, diminuímos os custos administrativos e reduzimos o quadro de pessoal.” relata. E voltando para o futuro, Ueki afirma que com a situação da Petrobras exige as mesmas providências. Shigeaki Ueki também ressaltou a importância de restabelecer os recursos da Cide ou de outros encargos para os derivados de petróleo e de etanol, e que devem ter alíquotas diferenciadas para os produzidos no país e os importados. “Com a Cide racionalmente aplicada podemos restabelecer o lucro para as refinarias e para as usinas de etanol”, acredita.

“Brasil seria também o maior exportador de álcool anidro e não o segundo”, garante Shigeaki Ueki

Ueki revela a decepção ao ver o desarranjo do setor elétrico. “O patrimônio líquido da Eletrobras faz parte da poupança nacional e estamos consumindo-o em vez de aumentá-lo.” Ele acredita que a decisão corajosa das autoridades do setor de energia de adotar uma política realista é uma luz no fim do túnel. “Depois da desastrosa política bolivariana, o Brasil parece evoluir para o realismo econômico do comunismo chinês.

Qualquer gasto com novas publicidades, representando desperdício, irá aumentar ainda mais o descrédito”. E conclui: “Somente o lucro pode salvar as empresas do setor. Todo o resto é poesia, sem querem ofender os poetas”, mas já ofendendo. Se pudesse voltar no tempo, Ueki revela que faria tudo de novo e investiria nos incentivos fiscais em favor da energia renovável. E lamenta que muitos governos não deram sequência nos investimentos em

energia renovável e cogeração de energia elétrica “Se o fizessem, o Brasil já poderia ser o primeiro do mundo em energias renováveis”, diz. “Certamente, a capacidade de cogeracão de vapor e energia elétrica com bagaço de cana seria bem maior do que a capacidade instalada de hoje e a economia de divisas seria substancialmente maior”, garante. Afirma, ainda que o Brasil seria também o maior exportador de álcool anidro e não o segundo”, conclui. (IA)


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LOGÍSTICA & TRANSPORTES

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QUEM SE IMPORTA? Governo brasileiro não consegue romper burocracia e a lentidão centenária de nossos portos I SAC ALTENHOFEN

Imagine a seguinte situação: você está no supermercado fazendo as compras. Quando termina, olha para o relógio e vê como o tempo passou rápido. Dirige-se ao caixa e nota que há uma longa fila de carrinhos e condutores impacientes na sua frente. A operadora de caixa errou ao passar um produto duas vezes e chama um fiscal para estornar o valor. A senhorinha idosa esquece três vezes a senha do cartão e tem que devolver toda a compra. Finalmente chega sua vez. O problema disso tudo é um: a pressa. Nos portos a situação é semelhante, e muito mais ampliada. Ampliada em milhões de toneladas, frise-se. Todos têm pressa. A diferença é que na fila do caixa do supermercado ninguém perde dinheiro por esperar. Nas redes portuárias, tempo é literalmente dinheiro; muito dinheiro. E a solução dos gargalos é mais complexa que pedir ao gerente para estornar um valor de produto. Um dos principais problemas das filas nos portos brasileiros é a pequena quantidade de berços de atracação – em 2014, o Porto de Santos realizou cerca de 9.300 atracações. Poderia ter realizado mais se tivesse melhor estrutura. As filas são ocasionadas pelo grande número de embarcações que chegam em curto período de tempo e pelo número restrito de berços e terminais responsáveis por carregar e despachar esses navios. Esse gargalo é potencializado devido à sazonalidade dos embarques que resultam em picos de demanda por navios nos períodos de maior escoamento de grãos e açúcar, por exemplo.

Porto de Santos: o maior exportador de açúcar do Brasil

Todos saem prejudicados com os atrasos nos portos. Os tempos de espera dos navios são superiores aos verificados nos principais portos estrangeiros como Rotterdam, Cingapura, Hong Kong, informa Helder Gosling, diretor comercial e de logística do Grupo São Martinho. Investimentos recentes na China resultaram em alta performance e agilidade nos portos de Xangai e Guangzhou. No Brasil a situação é devagar, quase parando. De acordo com dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), no Porto de Santos, o tempo médio de espera – definido como o tempo desde a chegada dos navios nos portos até a atracação para a movimentação de carga – é de 16 horas, e o tempo total de estadia no porto (tempo de espera e tempo no cais) foi de 35 horas. A falta de modernidade dos portos se torna a senhorinha do supermercado: sem

agilidade, demorados. No caso da velha senhora, ela está arqueada pelo tempo, mas no caso dos transportes brasileiros, especialmente portos, estão parando pela burocracia. Vivem na inércia. Dutos hidroviários, regulamentação de documentos burocráticos, são projetos que custam a sair do papel, quando saem. Quanto mais navios e mercadorias demandarem um porto, maior importância ele assume. O modo como os navios são operados e assistidos e de que forma as mercadorias são tratadas, são as características notadas de uma eficaz logística portuária. Por isso é necessário que a administração conheça todos os detalhes das operações – fluxos, circulações, espaços, tempos, custos, etc. Assim, ela saberá de que forma pode melhorar sua atuação e performances, discorre Helder Gosling.

Gosling explica que uma administração correta abrange um sistema de entrega e recebimento capaz de agilizar principalmente as gestões de custo e tempo. Quanto mais rápido são os processos logísticos, menores serão as multas de prazos de entrega e diversos custos que podem surgir. Concessões de terminais garantem que o apoio aos clientes esteja em boas condições. A colaboração deve ser absoluta. Movimentação dos navios nos cais, o andamento de mercadorias entre navios e a zona portuária e dos veículos rodoviários – ou dutos – e o fluxo entre as portarias dos terminais, devem estar em constante harmonia. Cabe à administração do porto, por meio das concessionárias, identificar as possíveis falhas destes fluxos e principalmente dinamizar todos os processos envolvidos.


LOGÍSTICA & TRANSPORTES

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Setor sucroenergético tem exportações prejudicadas

Burocracia atrapalha a agilidade dos portos

O setor sucroenergético sofre nestes gargalos portuários. Promessas de melhores rodovias, novas ferrovias e dutos não saem do papel pelos mais diversos motivos. Enquanto o setor mais forte do país perde espaço, toda a economia brasileira é prejudicada. O Porto de Santos é o maior exportador de açúcar, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Na safra de 2014/2015 foram movimentadas 17,9 milhões de toneladas, ou seja, 74,1% do total exportado. A estimativa para este ano é de 21,5 milhões de toneladas. (IA)

Um dos principais atrasos do Brasil não está no investimento de tecnologia de ponta nos portos, mas no tratamento dos processos burocráticos. De acordo com dados do Banco Mundial, um container leva treze dias para ser exportado, nos quais seis dias são perdidos para resolver a papelada no porto – enquanto o contêiner ainda está parado. Para comparar: o processo no Porto de Cingapura leva um dia e nos EUA dois. I Esse atraso acontece no Brasil porque os despachantes são obrigados a fornecer inúmeras informações mais de uma vez. Ou seja, eles apresentam a mesma informação de carga para a Polícia Federal, a Anvisa, a Marinha e para a Receita Federal, etc. São cerca de 200 informações. Os órgãos competentes que seriam responsáveis por agilizar essas informações sempre estão com

Helder Gosling: planejamento integrado será o nome do futuro

PEQUENAS MEDIDAS, GRANDES BENEFÍCIOS Helder Gosling, diretor comercial e de logística do Grupo São Martinho, sugere algumas medidas que podem proporcionar melhor desempenho dos embarques nos Portos brasileiros: Acréscimo do número de terminais e berços de atracação; Aumento da eficiência da operação de carregamento dos navios nos terminais (“shiploaders” com maior capacidade). Pois quanto maior a produtividade, menor o número de terminais e berços necessários; Aprofundamento do calado do Porto, proporcionando carregamento de navios com maior capacidade de carga; Otimização das operações de manobra das embarcações no canal; Agilidade das operações exigidas para despacho dos navios; Adequação da infraestrutura viária para acesso aos portos e para transporte interno aos terminais nas cidades portuárias.

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algum problema de comunicação. Tais deficiências geram custos. Exportar um container no Brasil, por exemplo, custa mais que US$ 2.000,00. Em 2010 foi criado o programa “Porto Sem Papel” pelo Governo Federal. Abrangeu mais de 30 portos em todo o país. Era baseado em um sistema eletrônico no qual as empresas fornecem todas as informações necessárias. Infelizmente a Receita Federal não aderiu ao programa e a papelada foi engavetada. Outra tentativa de solução do governo foi o Porto 24 horas, que mantém a jornada de trabalho durante o período noturno. Assim, diminuiriam as filas dos caminhões nas rodovias de acesso ao porto. Entretanto, como os órgãos “competentes” não trabalham à noite, o contêiner deveria esperar até a manhã do próximo dia útil. (IA)

Um contêiner leva treze dias para ser exportado, nos quais seis dias são perdidos para resolver a papelada no porto


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Governo engessou o setor portuário e demitiu o ortopedista Só não há mais investimento no setor portuário por parte da iniciativa privada porque o governo ainda é reticente nas parcerias. Engessou o setor portuário e demitiu o ortopedista. Teima em impedir as Companhias Docas de utilizar mais recursos como qualquer empresa, esclarece Mauro Lourenço Dias, vice-presidente da Fiorde Logística Internacional: “O que os portos precisam é de uma administração eficiente, o que se dá apenas com a participação do capital privado. Portanto, a saída seria a adoção de parcerias público-privadas (PPPs) para as Companhias Docas”. E salienta: “Com isso, elas deixariam de constituir moeda de troca no jogo político em que as estatais são divididas por zonas de influência e sujeitas aos interesses dos caciques que mandam nos partidos. Esse é um modelo típico atrasado que só envergonha o Brasil no concerto das nações”. Frederico Bussinger que atua como consultor em planejamento e gestão portuária e hidroviária e ex-presidente do Porto São Sebastião, acredita que os desafios de logística são maiores do que os de transporte e infraestrutura: “Portos são uma ‘PPP implícita’, ou seja, há e sempre haverá a atuação de múltiplos atores privados e públicos nos investimentos”. Já houve melhorias na estrutura de embarque, aponta Helder Gosling, diretor comercial e de logística do Grupo São Martinho. A iniciativa privada vem tentando eliminar alguns gargalos com aumento de produtividade no porto. Os portos do Norte do Brasil são um exemplo. “No longo prazo, se as estruturas de acesso ocorrerem, o Brasil terá mais canais de escoamento”, prevê Helder. Porém, a iniciativa privada deve aumentar os ganhos de produtividade na cadeia como um todo para acompanhar os concorrentes e evitar o mais importante: a perda de competitividade. “Planejamento integrado será o nome do futuro”, destaca Gosling. O setor privado vem realizando investimentos para mitigar gargalos e demonstra interesse em novas aquisições, através da renovação de contratos de

Frederico Bussinger: desafios de logística são maiores do que os de transporte e infraestrutura

concessão ou construção de novos terminais de uso privativo. A nova Lei dos Portos foi uma tentativa do Governo Federal para trazer maior dinâmica ao setor portuário brasileiro. Essa estratégia busca criar melhor segurança jurídica e atrair o interesse dos investimentos

privados. Neste sentido surgiu o PIL — Plano de Investimento em Logística, anunciado recentemente (veja na matéria da próxima página). O papel do governo é prover infraestrutura básica a fim de minimizar os

gargalos portuários. Deve proporcionar transparência e segurança jurídica para viabilizar os investimentos privados nos terminais. “Este será o desafio para o plano acima sair do papel” conclui Helder Gosling. (IA)



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Governo Federal e estivadores se enfrentam Este ano o Governo Federal lançou o Programa de Investimentos em Logística, o PIL 2015-2018, que prevê investimentos no setor de R$ 198,4 bilhões. Destes, 35% serão aplicados no período de 2015/2018, e 65% a partir de 2019. Nas rodovias serão repassados R$ 66,1 bi; nas ferrovias R$ 86,4 bi; nos aeroportos R$ 8,5 bi e nos portos R$ 37,4 bi. Entres as metas do PIL, inclui em suma o escoamento eficiente da produção agrícola (crescente). O que ampliará as exportações e o aumento da competitividade dos produtos brasileiros. Algumas concessões rodoviárias e ferroviárias, bem como as autorizações para instalações de Terminais de Uso Privado (TUPs), são essenciais para o setor do agronegócio, principalmente para as regiões consideradas novas fronteiras agrícolas. No setor portuário, a meta é modernizar e aumentar a capacidade dos terminais portuários, reduzindo os custos de movimentação de cargas. “Esgotada a capacidade governamental de investir, é necessário criar um ambiente atrativo para o setor privado. Isso envolve segurança jurídica e agilidade no processo de autorização de novas instalações portuárias privadas (TUPs). Desde a primeira etapa do PIL já foram construídos oito TUPs e autorizados 28”, explica Elisangela Pereira Lopes, assessora técnica da comissão de logística e infraestrutura da CNA – Confederação Nacional da Agricultura. Elisangela afirma que não são apenas os gargalos portuários que merecem atenção e investimento por parte do Governo Federal. Em junho deste ano, estivadores que trabalham no Porto de Santos realizaram paralisação para reivindicar aumento real

Elisangela Pereira Lopes: Protestos, dependendo do

no salário de 25%, pagamento da participação dos lucros e resultados, carteira assinada e reposição das perdas inflacionárias. Esse movimento de advertência por parte dos estivadores durou cerca de 6 horas. “Esses acontecimentos, dependendo do tempo de duração, resultam em atrasos na operação, e consequentemente, em aumento dos custos portuários.” observa. A estrutura de mão de obra de um porto público difere de um Terminal de Uso Privado (TUP). Este último torna-se cada vez mais competitivo, com o aumento do volume de carga no terminal. Elisangela aponta que nos portos públicos, onde atuam os OGMOs – Órgãos de Gestão de Mão de Obra, levando em consideração a movimentação de 350 mil contêineres, o custo (R$ 60 por contêiner) de mão de obra poderá ser quatro vezes maior que no TUP (R$ 14).

tempo de duração, resultam em atrasos na operação, e consequentemente, em aumento dos custos portuários

GARGALOS PORTUÁRIOS A estrutura de mão de obra gerida pelo OGMO do porto público resulta em maior custo. Isso se dá em razão de: Impossibilidade de multifuncionalidade: trabalhador exercer outra função; Impossibilidade de aproveitamento do terno (equipe de trabalho no porão): não transfere uma equipe de um navio para trabalhar em outro); Elevado número de acidentes; Turnos de seis horas, com quatro trocas em 24 horas (paralisação na operação); Trabalhadores altamente sindicalizados paralisam operações por qualquer motivo.




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