Edição 901

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entrevista

10 QUARTA-FEIRA, 28 de MAIO de 2014 | www.aquies.com.br

‘Sempre tive gana de Justiça’ Fotos: pedro junior

Após 33 anos na PC, a delegada Ancila Zanol encerra sua carreira relembrando histórias e fatos que marcaram sua vida alissandra mendes cachoeiro de itapemirim

Considerada a ‘Dama de Ferro’ da Polícia Civil, a delegada Ancila Zanol encerrou nessa semana uma trajetória de 33 anos e três meses de trabalhos prestados para a instituição. Aos 67 anos, ela anunciou sua aposentadoria depois de importantes passagens por delegacias do sul do estado, chefia do DPJ e na Delegacia de Defesa da Mulher. Nascida em 19 de janeiro de 1947, na localidade de Paraíso Serrano, em Vargem Alta, e filha dos lavradores Amélio Zanol e Aludina Peterlle Zanol, Ancila é mãe de dois filhos, Lícia e Marcelo, e avó da pequena Lara. Foi casada uma única vez com o pai de seus filhos, com quem ficou por 22 anos. Mesmo separados, a amizade, o respeito e o carinho entre eles continua. A mais velha de nove irmãos entrou para a Polícia Civil do Espírito Santo em 1981 e disse que aprendeu a profissão no dia a dia. Após tantos anos dedicados ao trabalho, ela garante que só tem a agradecer. “Não deixei só a minha equipe de trabalho, deixei também a família que fiz no trabalho e que vai continuar sendo minha família. Só tenho a agradecer a imprensa escrita, falada, televisiva e todos os jornalistas sérios que fizeram parte do meu trabalho. Ao querido Sérgio Neves e Jackson Rangel que sempre respeitaram o meu trabalho. Sou muito grata à sociedade de Cachoeiro. E à minha família. Deixo para meus filhos a honra que atravessou minha carreira. A melhor educação podemos dar aos filhos é o exemplo, e quero que se orgulhem de mim”, disse. Em entrevista ao jornal Aqui Notícias Ancila contou como foi o início de sua trajetória até o anúncio de sua aposentadoria. Início Meu primeiro emprego foi na Secretaria de Educação, era contratada. Ganhava um salário mínimo. Depois de um

tempo, aos 22 anos, voltei ao colégio para fazer o ginásio e comecei o primeiro normal. Não tinha dom nenhum para ser professora e pulei logo para o supletivo. Naquela época em Cachoeiro tinham três faculdades: de Direito, Filosofia e Ciências Contábeis, que eram particulares. Prestei vestibular para Direito e pensei logo em fazer, porque me diziam que Direito tinha um monte de ramo. Quando minha turma de escola estava indo para o primeiro normal, eu já estava indo para o segundo ano de Direito. No terceiro ano me apaixonei por direito penal até que um dia veio uma supervisora de Vitória e me questionou porque não fazia o concurso da Polícia Civil. Era para escrivão e eu nem sabia o que era isso, mas ela me disse que seria muito bom, já que eu gostava do direito penal, então decidi fazer o concurso. Concurso Em 1980 me inscrevi. Eu era casada e já tinha minha primeira filha. Em 1981 fui nomeada. Foi uma surpresa, tanto passar no vestibular de Direito como passar no concurso da Polícia Civil. Logo depois que fiz o

concurso descobri que estava grávida. Meu filho caçula nasceu no dia 09 de fevereiro de 1981 e fui nomeada no dia 12 de fevereiro. Eles me disseram que não podiam guardar a minha vaga. Eu não tinha como fazer academia com meu filho com três dias de nascido e não podia transferir licença de contratado para efetivo. Eu tinha um atestado de um mês do médico e me deixaram ficar esse período em casa, mas ao fim teria que assumir a Delegacia de Cachoeiro. Larguei meu filho com um mês de 15 dias de nascido em casa e fui assumir a antiga cadeia municipal, que ainda pertencia ao município naquela época do fim da ditadura. Fui a primeira mulher e pisar na Delegacia da Mulher. Delegada Quando cheguei à Delegacia, não sabia nada, nem o que era um termo de declaração. Eu pensava o que eu ia fazer naquele lugar. Na força da vontade e da necessidade, eu aprendi. Quando cheguei lá ainda encontrei um delegado daqueles da ditadura que eles colocavam. Ele era um general da ditadura, ruim, maldoso e muito cruel. Nessa época conhecei

o tal do pau de arara. Fiquei horrorizada com aquilo. Falei com dois colegas de trabalho que não ia voltar mais, era muita crueldade. Eu precisava daquele emprego igual se precisa de água no deserto, mas daquele jeito não dava para voltar. Arrumaram uma sala nos fundos da delegacia para eu trabalhar, para não ter que ver tanta crueldade. Em 1985, estava caindo a ditadura e eles fizeram um acesso e ia entrar polícia de carreira. Então os comissários que já eram de curso superior de direito, eles iam automaticamente ser acessados ao cargo de delegado e todo escrivão que tivesse mais de quatro anos de direito e eu fui. No dia que eu soube que ia ser promovida a delegada não acreditava, naquela noite nem dormi mais. Fui para Vitória em 1986 para fazer minha primeira academia. Eu vim embora e Francelino ainda estava aí, não queria sair. Disputa Quando assumi fui mandada para Atílio Vivácqua, minha primeira delegacia, onde fiquei por sete meses. Em minha mente eu tinha que tomar conta daquilo tudo, e aquilo

me forçava a ter um senso de responsabilidade muito grande. Depois vagou Muqui e pedi para ir para lá para ver se melhorava. Lá fiquei três meses e logo vi que era a mesma coisa que Atílio Vivácqua. Aí vagou Itapemirim e entrei numa briga de 10 delegados. Eu era a única mulher. Os delegados e colegas me pediam pelo amor de Deus para eu não ir, o chefe do DPJ me perguntou o que eu queria para não ir para lá, o próprio Francelino disse que eu não ficava lá 10 dias. O pessoal de Cachoeiro falava que quem trabalhasse em Itapemirim e não seguisse um lado, morria. Então eu disse que era pra lá que eu queria ir, porque é lá que ia aprender a trabalhar. O meu desafio mesmo foi Itapemirim. Eu pensava que depois que eu passasse por aquela comarca, eu iria me tornar uma delegada de polícia. Lá eu aprendi a trabalhar. Foram quase quatro anos. Lá pude ampliar meu leque como delegada. DPJ Em 1991 foram criados os Departamentos, e criada a Delegacia da Mulher e então vim para Cachoeiro. Pedi para vim.


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