Jornal Aldeia de Caboclos edição 53

Page 12

página 12

Ano 6 número 53

Falando de Umbanda Escrito por: Pai Ronaldo Linares

Ter ou Ser?

Ou talvez: como ter e como ser! Este século deixará sua marca não apenas pelo avanço tecnológico, mas também e, principalmente, pelas mudanças drásticas nos conceitos de relações humanas, alterando, consequentemente, o conceito de amor. Aliado a isso, a facilitação da aquisição de bens de consumo, particularmente os que carregam o conceito de status aos que os possuem, acelera uma transformação social da qual ainda não estamos nos dando conta. Em primeiro lugar vem a necessidade de “ter”. A correria diária não possibilita a percepção de que já temos o suficiente. A necessidade da compra é inversamente proporcional à necessidade do que é comprado. São armários repletos de roupas, calçados, perfumes, etc., que nunca serão usados. A troca de aparelhos eletrônicos é infinita, ou seja, assim que é lançado um novo modelo, o antigo não nos serve mais, e assim vai... A cozinha é cheia de eletrodomésticos inúteis para o dia-a-dia, os armários cheios de louças, panelas, talheres de diferentes formas e usos que nunca são utilizados.

Por outro lado, ocorre uma transformação imensa nos relacionamentos afetivos decorrente da forma que vivemos atualmente. O antigo conceito de que o casamento era a garantia feminina de segurança financeira, além de ficar para a mulher os afazeres domésticos e a criação dos filhos enquanto o homem trazia para casa o sustento da família, fazia com que ela não tivesse muitas opções fora do casamento e acabava por se sujeitar a tudo o que lhe desagradava. Além disso, ambos achavam que encontrariam no parceiro o seu complemento. Era como se a felicidade de um dependesse do outro, do tipo e quantidade de amor e atenção que recebesse. Para alguém ser feliz era preciso mudar para que o outro o aceitasse, e o outro deveria fazer o mesmo. As pessoas deixavam de fazer algo que gostavam muito se o parceiro não gostasse. Isso mudou radicalmente porque as pessoas aprenderam a valorizar a si mesmas. A emancipação feminina possibilita que ela própria se sustente, não dependendo do companheiro para tal. O casamento está mais próximo da palavra parceria do que da palavra romantismo. Amar não é suficiente se o outro não aceitar a pessoa como ela é.; se não a respeitar, bem como as seus valores.

A adaptação tem que ser feita, mas ninguém se anula, apenas se completam. São duas pessoas completas somando o que gostam e o que pensam. Fazendo juntos o que gostam e respeitando as vontades do outro. São dois universos criando um terceiro quando têm filhos e iniciam um novo ciclo em suas vidas. Só ficam juntos enquanto houver amor e respeito. Caso contrário a união não será conveniente.

O grande dilema atual, na minha opinião é como conciliar esses dois fenômenos? Ao mesmo tempo que a sociedade muda um conceito social tão significativo em como “ser”, continuam, por outro lado, numa busca desenfreada pelo “ter”.

Não é difícil pessoas perderem oportunidades de serem amigos, amantes ou amados, porque estão preocupados com o “que precisam ter” para serem felizes. Muitos só se dão conta do que tinham de valor inestimável quando o perdem. Bem poucas vezes o objeto de prazer intenso ou de enorme felicidade pode ser comprado.

Felizmente enquanto conhecemos uma quantidade enorme de pessoas que agem dessa forma, também conhecemos aquelas que conseguem perceber que a harmonia e a paz de espírito vem de dentro de cada um. Essas são as pessoas realmente plenas, que têm casamentos felizes e duradouros; que educam filhos com bons valores morais e éticos; que consomem menos e vivem mais alegres; que se ocupam menos com objetos e mais com pessoas, e finalmente, que são capazes de entender que a paz da alma não está na prateleira de uma loja chique, mas nas relações intensas que temos ao longo das nossas vidas. Portanto, para SERMOS não precisamos TER, e Ter, e ter... precisamos amar a nós mesmos!

Pai Ronaldo Antônio Linares, presidente da Federação Umbandista do Grande ABC é responsável pelo Santuário Nacional da Umbanda. www.santuariodaumbanda.com.br federacaoabc@terra.com.br www.facebook.com/ santuariodaumbanda.fugabc


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.