Suplemento Comunidade Chinesa

Joaquim Dâmaso

18 de Fevereiro de 2011 Este caderno é a versão alargada do trabalho publicado esta semana na edição em papel do REGIÃO DE LEIRIA. Pode também ser lido em chinês / mandarim.

Retrato da comunidade chinesa na região

Especial // Comunidade Chinesa

Novos verbos Quando o milénio passado ia a meio, Portugal deu os primeiros passos num processo que ainda hoje experimentamos em dias polvilhados de receio e expectativa.

A globalização das caravelas tem agora outras cores e novos rostos. Depois de apresentarmos novos mundos ao mundo, recebemo-los em nossa casa. No tempo em que as fronteiras são mais adjectivas que substantivas, resta-nos conjugar os verbos que temos em comum. É assim a nova gramática global.

Um esperanto de esperança.

Assim se percebe que olhemos com um misto de curiosidade e de respeito, para os nossos novos vizinhos.

Vamos à descoberta do que nos trazem de novo. Espreite connosco.

Carlos S. Almeida

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Região de Leiria — 18 Fevereiro, 2011

China Os admiráveis novos vizinhos Ucrânia, Brasil, Moldávia, Roménia, Reino Unido, Cabo Verde e China. É por esta ordem decrescente que se repartem as comunidades estrangeiras existentes no distrito de Leiria.

Em 2009, de acordo com a estatística do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, residiam no distrito 494 chineses, num total de 16.989 estrangeiros. Uma comunidade ainda bem menos expressiva que a ucraniana (5.286 residentes), dez vezes menor que a brasileira (4.691). Ainda assim, por cá, desde 2006, o número de chineses mais do que duplicou: eram 230 num

universo de pouco mais de 12 mil estrangeiros.

Em suma, a comunidade chinesa tem vindo a ganhar um peso crescente entre nós. No trabalho que o REGIÃO DE LEIRIA agora publica, surgem retratos, testemunhos de como se vive um “casamento” entre culturas. A forma como nós, portugueses, recebemos e integramos esses novos “vizinhos”, provenientes do cada vez mais relevante gigante do Oriente. E sobretudo, o olhar de quem se entrega a uma nova vivência numa comunidade aberta e, genericamente, receptiva. São

histórias de vida, conjugadas em duas línguas e em outras tantas mentalidades.

No terceiro dia de Fevereiro, a comunidade chinesa assinalou um novo ano: o ano do Coelho. Será, de acordo com a tradição, um ano mais tranquilo, calmo, benéfico e que se sucede à instabilidade própria do ano do Tigre que agora se deixa para trás. Um desejo em jeito de previsão que, seguramente, une portugueses e chineses.

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Ficha Técnica

Director Francisco Rebelo dos Santos Directora Executiva Patrícia Duarte Textos Carlos S. Almeida

Fotografia Joaquim Dâmaso

Infografia e ilustração Rita Bernarda

Direcção Comercial Alda Moreira

Paginação Cristina Silva

Publicidade João Agrela Lúcia Alves, Luís Vieira, Márcia Costa e Sandra Nicolau

Versão Chinês / Mandarim Linécole

18 Fevereiro, 2011 — Região de Leiria

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Especial // Comunidade Chinesa

Inédito Curso pioneiro em Leiria une chineses e portugueses

É a primeira licenciatura do género em todo o mundo. Macau abriu portas ao ensino partilhado entre os dois países

É caso único no mundo. O curso de Tradução e Interpretação Português/Chinês, que há cinco anos é leccionado pela ESECS (Escola Superior de Educação e Ciências Sociais) do Instituto Politécnico de Leiria em parceria com o Instituto Politécnico de Macau, não tem paralelo.

“Neste figurino, é o único no mundo”, refere Eduardo Fonseca, coordenador do curso. De resto, trata-se de um modelo de colaboração que as próprias autoridades chinesas estão a estudar para eventualmente poderem replicar no futuro com outros países, explica. A longa relação de Portugal com a China, materializada em Macau, abriu portas a esta experiência singular.

Na prática, com este curso, os alunos portugueses aprendem a língua e cultura chinesas e os alunos chineses adquirem competências similares em relação à língua e cultura portuguesas.

As vantagens são evidentes: o diploma é válido no Oriente e na Europa. Os alunos portugueses obtêm desta forma os conhecimentos

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necessários para acederem ao gigantesco e cada vez mais global mercado chinês e os seus colegas chineses acedem ao mundo lusófono, onde para além de Portugal, ganham crescente peso Angola e Brasil.

Meia centena de alunos chineses estão actualmente a frequentar o curso em Leiria. Eduardo Fonseca refere que esta licenciatura é bastante requisitada tanto em Portugal como na China. “O número inicialmente previsto de estudantes tem sido ultrapassado”, ilustra.

Há alunos chineses que se dispõem a pagar a totalidade das despesas do seu próprio bolso, para acederem a esta formação. A Leiria chegam igualmente alunos provenientes de outros países europeus – Espanha e Polónia, por exemplo – para frequentarem a licenciatura.

Trabalhadores mas tímidos Os anos de funcionamento do curso permitem que Eduardo Fonseca trace um perfil do aluno chinês que se caracteriza por uma ele-

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vada capacidade de trabalho e organização.

Recentemente, durante um congresso sobre o ensino de línguas estrangeiras, a ESECS apresentou uma comunicação sobre a aprendizagem da língua portuguesa dos alunos chineses do segundo ano, quando comparada com uma amostragem aleatória de estudantes do segundo ano de licenciaturas da instituição.

“Quando fomos comparar o nível escrito, não o oral, dos portugueses e dos chineses, os chineses escreviam melhor. As pontuações deles eram superiores às nossas e tinham começado a estudar português há um ano e meio”, explica.

Em contraponto, as dificuldades de integração são igualmente notórias. As diferenças culturais não se esbatem com facilidade, evidenciando-se a dificuldade dos alunos chineses em se adaptarem. A existência de momentos de lazer – feriados, fins-de-semana e momentos de convívio – com os quais não estão totalmente familiarizados, criam algumas dificuldades.

Ainda assim, o coordenador deste curso pioneiro considera que a licenciatura tem “muitas condições para continuar e exemplo disso é a elevada procura registada”.

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Especial // Comunidade Chinesa

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Especial // Comunidade Chinesa

Estudantes Três olhares orientais

Estudam em diferentes graus de ensino mas têm em comum as raízes e a experiência em terras leirienses

“Cá há mais tempo livre e somos mais preguiçosos”, atira entre risos Guo Ji, jovem chinês de 21 anos, estudante em Leiria do curso de Tradução e Interpretação Português/Chinês.

Natural do nordeste chinês, “vizinho” da Coreia, está em Leiria há ano e meio. No próximo ano lectivo ruma a Macau para completar o curso. Prevê um mestrado em Lisboa na área da Economia e sonha com a carreira diplomática ao serviço do Ministério dos Negócios Estrangeiros do seu país.

Quando terminou o ensino secundário, tinha duas opções: aprender coreano ou português. Optou pelo distante país europeu, do qual tinha vagas referências, sobretudo do mundo do futebol.

Em terras leirienses, todos o conhecem por Gonçalo. Gosta

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de Leiria, mas preferia estar em Lisboa. “Faltam infra-estruturas para nos divertirmos, Leiria é uma cidade calma”, explica num português praticamente irrepreensível. Mas a noite de Leiria é, ainda assim, mais animada que a chinesa? “Sim, mas mais divertido seria estar em Lisboa”, responde.

Guo Li parece já ter assimilado as “virtudes” do lazer ocidental. Ele próprio reconhece que a timidez é um traço comum aos chineses e que isso prejudicou a integração numa fase inicial.

Agora, “somos mais abertos e os portugueses respeitam mais a nossa timidez”, diz. O contacto com outros chineses residentes na cidade é reduzido: “A China é tão grande e existem tantos dialectos que não é fácil, não percebemos o que dizem”, explica.

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Tinha 12 anos quando chegou a Portugal. Agora, com 17, Wen Zhu, é aluna do curso de Assistente Comercial na Escola Secundária Afonso Lopes Vieira, em Leiria.

Deixou a cidade de Zhe Jiang, no norte da China e “aterrou” no norte de Portugal, no Porto. Pouco depois, rumou a Leiria. Filha de pais chineses, a gastronomia d a s u a t e r r a n a t a l é p re s e n ç a constante na sua vida. É, afinal, o “ganha-pão” da família. Mas nem por isso se escusa a ter algumas preferências no cardápio de pitéus nacionais: a canja de galinha e o bife estão no topo.

Se a comida lusa não é problema, o mesmo não pode dizer da língua. Mas actualmente dá-se ao luxo de responder com um bem disposto “Olá” sempre que é interpelada por colegas portugueses

que ensaiam o chinês com um temeroso “Ni hao”.

Para já, Wen Zhu aposta na conclusão do curso – que lhe dará equivalência ao 9º ano de escolaridade – e só depois decidirá o que fazer. Luís Pedro Biscaia, director da escola, confirma que os poucos alunos chineses – apesar da escola contar com 11,5 por cento de alunos estrangeiros – têm a sua maior dificuldade na barreira linguística, campo para o qual a escola faculta apoio. “São alunos muito disciplinados, trabalhadores e respeitadores”, refere.

Dividida entre culturas Quando Wen Zhu chegou a Leiria, Isabel Ding era uma adolescente de 14 anos, nascida e criada na cidade do Lis. Esta jovem chinesa de segunda geração, reparte as se-

Especial // Comunidade Chinesa

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Mas aos três anos de idade esteve oito meses na Ilha Formosa, terra natal do seu pai, “para poder aprender a falar chinês”, conta.

Em posição privilegiada para poder avaliar as duas culturas que partilha, revela que o que menos gosta na cultura chinesa “é a falta de liberdade de expressão e a restrição ao resto do mundo”. O que mais gosta é mesmo a gastronomia e a história. Por cá, “o que eu menos gosto é o comodismo das pessoas e o que eu gosto mais é certamente a gastronomia e literatura”, sintetiza.

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Especial // Comunidade Chinesa

Zhang O chinês mais famoso de Leiria

O jovem Zhang é, provavelmente, o chinês mais famoso da região. Joga na posição de avançado na equipa da União de Leiria

Chengdong Zhang antes de ingressar na equipa leiriense já se encontrava a jogar no nosso país na equipa do Mafra. Não foi fácil mergulhar num novo país. Qual foi o problema? A barreira da língua. Actualmente já arrisca algumas palavras em português, mas na altura o inglês era a sua única ferramenta para tornar possível a comunicação. O técnico do Mafra, por sua vez, não se socorria muito do inglês. Resultado? “Não percebia nada”, recorda. O seu compatriota Yu Dabao (ex-Benfica) foi quem o ajudou a experimentar as primeiras palavras e tradições portuguesas. Agora, continua a frequentar aulas de português. Aponta os “érres” e os verbos sempre a mudar como as principais dores de cabeça.

Zhang é uma das principais armas da equipa de Leiria no ataque, agora que Carlão rumou ao Japão. Na

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camisola herdou o número 99, que antes pertencia a Cássio. “No Mafra tinha o 28, mas quando cheguei a Leiria esse número pertencia a outro jogador. O capitão disse-me para ficar com o número 99 que era do Cássio para que eu tivesse sorte e marcasse muitos golos”, conta.

Zhang gosta de Leiria. De quando em vez há mesmo quem o reconheça nas ruas. É também por cá que “gasta” os tempos livres. Conhece alguns estudantes de Macau que vão ver alguns jogos.

Se há palavra portuguesa que Zhang já domina com destreza é “saudade” “Morro de saudades”, confessa.

Fazem-lhe falta a família e os amigos.

E para o novo ano, o ano do Coelho, quais são os desejos? “Saúde, para a minha família e amigos. E que marque muitos golos para ajudar a minha equipa a ter sucesso”.

Região de Leiria — 18 Fevereiro, 2011

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Especial // Comunidade Chinesa

Medicina O saber tradicional que ajuda a curar

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01 Pedro Choy é o rosto das clínicas espalhadas pelo país 02 A massagem terapêutica é um dos métodos utilizados, de acordo com a tradição chinesa

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Há mais de um década em Leiria, a Clínica Pedro Choy é o rosto de uma das mais conhecidas tradições chinesas

Da China vem a certeza de que não há praticamente nenhum problema de saúde que não tenha tratamento à luz da medicina tradicional. Acupunctura, massagem terapêutica e fitoterapia (tratamento à base de “fármacos” de substâncias naturais), são os métodos que recorrem à sabedoria milenar.

Guilherme Figo é o director da clínica Pedro Choy em Leiria. Durante duas décadas foi enfermeiro na medicina ocidental. Largos anos de formação em Portugal e na China, trouxeramno para um ramo da medicina que não é abrangido pelo Serviço Nacional de Saúde mas que Guilherme Figo assegura ter um largo

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campo de abrangência. “A medicina chinesa baseia-se em aspectos energéticos e a ocidental em aspectos anatómicos. A medicina ocidental trata os sintomas e a chinesa incide sobre as causas”, explica. De uma simples gripe a doenças crónicas, a medicina tradicional chinesa tem soluções. Geralmente, passam por um tratamento prolongado que introduz melhorias progressivas. Ainda assim, “há doenças que não conseguimos resolver, carcinomas e as patologias que necessitam de intervenção cirúrgica. Mas mesmo em

alguns carcinomas, podemos impedir a progressão negativa”, explica.

Este é um ramo da medicina que tem conseguido a adesão dos pacientes da região. Guilherme Figo dirige a clínica que leva 11 anos de trabalho em Leiria e refere que actua de forma complementar com a medicina ocidental: “se as pessoas necessitam de observação ou de exames, aconselhamos a recorrer à medicina convencional”.

Curiosamente, são raros os pacientes chineses que recorrem à clínica e a maioria dos utentes des-

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Da experiência com os cuidados de saúde na China, Guilherme Figo assegura que por lá há maior humanização. “Cá, por vezes, as pessoas são quase despejadas no hospital. Na China é difícil ver um doente que não esteja acompanhado de um familiar que lhe dá apoio”, observa.

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Especial // Comunidade Chinesa

Restaurante Um quarto de século a abrir o apetite em chinês Li Ding está há um quarto de século em Leiria. Veio da Ilha Formosa, chegou a Lisboa em 1983 e, três anos mais tarde, escolheu Leiria para ficar e abrir um restaurante

“Vinha procurar um restaurante e encontrei”. Ficou.

O seu primeiro restaurante chinês surgiu na Rua Sacadura Cabral. Desde 1994, o Ming Yuan, em Vale Sepal, é a sua aposta.

Não se pense que foi complicado habituar os leirienses aos sabores do Oriente: “Vinham pessoas que tinham estado em Mo-

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çambique e em Macau e já conheciam a comida chinesa”, explica Li Ding com o português aperfeiçoado em 25 anos de convivência no país de Camões. “A língua foi uma barreira difícil, mas também estudei muito sozinho”, recorda.

Foi em Lisboa que este leiriense de origem chinesa conheceu a mulher com

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quem acabou por se casar.

Ela também é chinesa. Dois filhos, estudantes no ensino superior, são o exemplo do encontro das duas culturas.

Nasceram cá, e a sua mentalidade é “uma mistura entre as culturas portuguesa e chinesa, até porque a educação também pesa”, explica Li Ding. Ainda assim, admite a sorrir que, no essencial, “o pensamento deles é português, mas o físico é chinês”. “Hoje em dia é fácil conhecer outra cultura, e as fronteiras actuais não são como as de antigamente, as novas tecnologias, a internet, por exemplo, tor-

nam fácil conhecer outra cultura”, acrescenta.

Ainda assim, admite, portugueses e chineses são diferentes. Com a revolução cultural na China, “que foi dura”, os chineses interiorizaram a necessidade de lutar para alcançar uma vida melhor. Essa necessidade de “alcançar” concentra os chineses no trabalho, no resultado, por vezes com algum individualismo. “Uma vez tive um acidente e quando acordei tinha vinte pessoas à minha volta preocupadas, e já tinham chamado a ambulância. Se fosse na China, não sei se seria assim”.

Certo é que, lá como cá, o trabalho árduo é compensado, entende. Apesar de ser originário da Ilha Formosa – que não reconhece a autoridade de Pequim – Li Ding não deixa de admitir uma ponta de orgulho pela forma como a China se está a afirmar no mundo. No seu entender, esta nova potência vai pautar a sua actuação pela tomada de posições avessas aos extremos, “um pouco como o exemplo de Confúcio”, refere. Será uma potência mundial que se afirmará mais pelo poder económico que pela violência, adivinha.

Especial // Comunidade Chinesa

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Especial // Comunidade Chinesa

Loja chinesa Xiang, o comerciante pioneiro O comércio tradicional já não é o que era.

Há anos de experiência que fazem a diferença no coração da cidade

Relógios, produtos de electrónica, roupa e inúmeros o u t ro s i t e n s d e f a b r i c o chinês. A loja do senhor Xiang, no centro de Leiria, no rés-do-chão do Centro Comercial Maringá, é igual a tantas outras que têm vindo a marcar a paisagem da região. Ou quase. O senhor Xiang, homem simpático e afável, leva 18 anos de experiência no comércio em Portugal, os últimos onze em Leiria. Foi, portanto, dos primeiros comerciantes chineses a chegar à cidade. “Eu cheguei primeiro, depois começaram a abrir mais lojas”, observa.

Já tem clientes habituais – “muitos”, confessa - e raízes na região. Dois filhos, de 16 e 23 anos, estudam e vivem em Leiria e, conta, já falam português quase perfeito. Ele nem tanto. “O português que aprendi foi no contacto com os clientes”, explica com um sorriso.

Quando as férias de verão o permitem, Xiang e a família rumam à terra natal, perto de Xangai. Ele mata saudades e os filhos aperfeiçoam a língua materna do pai. Com tantos anos de Leiria, gosta? “Conheço pouco, a minha vida é sobretudo passada entre o trabalho e a casa”, refere.

Passear é um luxo raro. E os produtos, porque são tão baratos? “Baratos! Os clientes não costumam dizer que são baratos”, contrapõe. A frase deixa escapar uma certeza: ele aprende português com os clientes, estes já aprenderam que regatear é uma estratégia a experimentar quando se compra na loja do senhor Xiang. “Qual é o preço?”.

A pergunta já não é do jornalista. Há um cliente para atender. O senhor Xiang deixa a conversa e retoma a arte que o trouxe a Leiria.

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Região de Leiria — 18 Fevereiro, 2011

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