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Um motivo para recomeçar

Os desafios das mulheres que engravidam enquanto cursam a universidade e não querem parar de construir seu futuro

Reportagem: Gustavo Ferraz, Laura Borro, Luana Perdoncini e Paula Araújo

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Quando descobriu que estava grávida, aos 18 anos, Lediane se surpreendeu. A jovem estudante do segundo ano do curso de Direito não estava preparada para uma gravidez tão cedo. Mesmo contando com o apoio da família e do companheiro, ela se viu em um momento decisivo da sua vida: continuar ou não com os estudos?

Com todas as adversidades que a gestação trouxe para a sua vida, a jovem não desistiu da sua graduação, estudando até o último mês da gravidez. Sua filha, Isabella, nasceu em um lar feliz e cheio de amor.

Mulheres carregam uma série de expectativas e responsabilidades ao longo das suas vidas. Um exemplo é a maternidade. O “dever” de ser mãe persegue a trajetória feminina que, nos dias atuais, envolve, além da formação de uma família, estudo e trabalho.

Muita vezes, ninguém escolhe o caminho que a vida vai tomar, e as coisas simplesmente acontecem. É o caso de centenas de jovens que entram na universidade e esbarram com barreiras físicas, emocionais e psicológicas para manterem-se dentro do ambiente universitário.

Hoje, as estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) são con-

Arquivo pessoal templadas por um auxílio-creche, que pode ser destinado ao pai da criança, também. No ano de 2017, faziam uso desse benefício 16 estudantes.

A psicóloga do Serviço de Informação e Apoio ao Estudante da Universidade Positivo, Amanda Vasconcellos, diz que o projeto de acolher mães e seus filhos nasceu em 2018. “Esse projeto surgiu a partir de discussões em sala de aula sobre a relação mãe-bebê, as mudanças e angústias durante o processo de gestação e pós-parto”. Depois disso, a equipe formada começou a divulgar o projeto de grupos de escuta de gestantes/puérperas e atendimentos individuais. “Desde então, fizemos parcerias com órgãos públicos dentro dos quais vamos até o local atender as gestantes e também atendemos a comunidade local, incluindo alunas da UP”, completa a psicóloga.

Hoje o Siae atende às universitárias e a comunidade local. A procura das estudantes pelo serviço pode ser feita pessoalmente ou via telefone.

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) conta com o Serviço de Apoio Psicopedagógico que faz a promoção de encontros e oficinas, como rodas de conversas, para debater assuntos como suicídio, depressão, ansiedade e todos os problemas psicológicos que afetam a vida universitária. Serviço: Saiba como entrar em contato com esses serviços:

O Serviço de Apoio Psicopedagógico da PUCPR conta com profissionais psicopedagogos, psicólogos e professores. A forma de contato é pelos telefones: (41) 3271-2177 e (41) 99137-1014 e também pelo e-mail seap@pucpr.br.

O Serviço de Informação e Apoio ao Estudante desenvolve projetos de apoio aos estudantes. O departamento conta com professores, pedagogos, psicólogos e intérpretes da Língua Brasileira de Sinais. O contato é pelos telefones: (41) 3317-3442 e (41) 992524596 e também pelo e-mail siae@up.edu.br.

A estudante da Universidade Positivo Maria Stefani Silva Aguiar descobriu que estava grávida no sétimo período da faculdade. Um ano de muita responsabilidade para ela, que iria começar o seu trabalho de conclusão de curso. Desde que descobriu a gravidez, recebeu apoio do seu pai. Sua mãe, por outro lado, teve receio no início, mas depois apoiou e cuidou da filha durante a gestação. “Minha mãe me disse que o importante era eu não desistir dos estudos”, conta Stefani.

De acordo com dados coletados pelo Censo 2000, realizado pelo IBGE, 8,81% das mulheres cursando o ensino superior, com idade entre 19 e 29 anos, têm filhos na faixa etária de 0 a 4 anos.

A família de Giulia Monterrumo também ficou com medo da estudante parar os estudos quando descobriram sobre a gravidez da então estudante de Medicina Veterinária da PUCPR. O apoio, por outro lado, serviu de incentivo para a jovem continuar indo às aulas. “Já levei meu filho em uma aula e foi super tranquilo”, conta Giulia. “Por ser final de período, todo mundo reagiu super bem e inclusive me ajudaram a distrai-lo”, completa. Hoje, Giulia trocou de curso e faz Relações Públicas. Cuida do Enzo com todo o amor que uma mãe pode ter for um filho, conciliando a faculdade e a família com mais tranquilidade.

A professora de ensino superior Márcia Regina Cubas tenta amenizar a rotina de suas estudantes que são mães com atitudes e gestos de inclusão delas e seus filhos. “É gratificante verificar que podemos minimizar o stress, seja pela situação de não ter onde deixar a criança durante as aulas de sábado ou pela impossibilidade de cuidar dele quando elas têm algum impedimento de deixá-lo na escola ou aos cuidados de outro familiar”, ela conta.

Segundo um estudo desenvolvido em 2013 pelo Ministério da Educação (MEC), a Organização dos Estados Ibero Americanos (OEI) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências (Flacso), 18,1% das meninas com idades entre 15 a 29 anos deixaram de estudar devido a uma gravidez inesperada. Para os homens, esse motivo equivale a apenas 1,3% dos entrevistados.

A psicóloga Gislaine Branco Frizzo atende jovens gestantes e explica alguns aspectos importantes para a convivência da futura mãe em meio ao ambiente acadêmico e familiar. Ela diz que é importante criar uma rede de apoio com a família da gestante, para que ela possa receber apoio durante o período em que está frequentando a faculdade, mas que a jovem deve estar ciente de que a responsabilidade é dela, a família só vai ajudar.

“Minha mãe me disse que o importante era eu não desistir dos estudos.”

Maria Stefani, estudante.

O que diz a lei? Existem legisla çōes que asseguram mães universitárias

No Brasil, mães universitárias são guardadas pela Lei 6.202, criada ainda na Ditadura Militar e que beneficia mães que engravidam ainda na universidade. De acordo com essa lei, as mães têm o direito, a partir do oitavo mês de gestação, receber apoio pedagógico em casa.

Caso a mãe tenha um atestado médico, justificando uma gravidez de risco, também pode obter este benefício a qualquer momento. Outra legislação que defende o direito da educação para mulheres gestantes é a Lei 13536/17 que garante prorrogação por 120 dias de bolsas de estudos em caso de maternidade.

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, aprovou o Projeto de Lei nº 512/2011, do Senado, que institui a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, a ser realizada, anualmente, na semana do dia 1º de fevereiro.

Quando perguntada sobre a preparação das universidades para receber estudantes gestantes, Gislaine explica que não acredita que as instituições estejam totalmente preparadas, mas que devem focar em programas de orientação e prevenção da gravidez com palestras e eventos.

O OUTRO LADO DA HISTÓRIA

Uma situação que se encaixa como abandono parental é a do filhinho da Milena Barbaresco. Ainda com 15 anos, a jovem estudante de Letras descobriu a gravidez e a reação do pai da criança foi de completo apoio: “Ele falou que ia dar tudo certo e que íamos cuidar do bebê, mas depois que meu filho nasceu, ele não quis mais ter contato”, conta Milena. “Ele não é pai, sabe?”, diz a estudante, ao tentar explicar por que não tem contato com ex-companheiro. Mesmo com a falta de apoio do pai da criança, a família de Milena apoia e cuida do seu filho enquanto ela continua seus estudos na universidade.

Histórias diferentes dessa são as contadas a seguir, sobre homens que arcaram com as suas responsabilidades de pai enquanto ainda estavam na universidade, ficando do lado de suas companheiras e ajudando na criação dos filhos.

Luiz Felipe Wagner Maciel foi pai aos 21 anos e conta que, quando descobriu a gravidez de sua parceira, Andressa, ficou muito assustado. Apesar do susto inicial, apoiou a gravidez da companheira. “Eu a acalmei ela e disse que daria tudo certo. Eu a acompanhei a todas as ecografias e a levava ao médico”, conta.

O pai de Isabella, Fernando Taborda descobriu sobre a gravidez de sua companheira, Lediane, aos 25 anos. “Foi uma surpresa! Eu não esperava, não estava nos meus planos. Pensei até que pudesse ser um alarme falso, mas logo em seguida já me senti nervoso e pensando como seria me tornar pai!”. Mesmo com a surpresa, ele acompanhou sua companheira a todos os exames e consultas feitos durante a gravidez.

O engenheiro agrônomo João Vitor Amaro foi pai aos 22 anos e, ao receber a notícia da gestação, sentiu-se ansioso e desesperado. “Em um primeiro momento, foi uma reação de desespero, porque não foi uma gravidez planejada. Nós dois no meio da faculdade, sem saber o que fazer.”. O pai do Enzo conta que recebeu todo o apoio da família, dele e da sua companheira, Giulia. “Nossas famílias nos ajudaram bastante”, conta João Vitor.

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Giulia e Enzo

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