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Grande Entrevista: Doutor Hélder Mota Filipe
by O Pilão
Doutor Hélder Mota Filipe
FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
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1984-1990: Licenciatura em Ciências Farmacêuticas e Doutoramento em Farmacologia; 1998-1999: Pós-Doutoramento em Farmacologia da Inflamação em Queen Mary, U. of London, The William Harvey Research Institute; 2005-2015: Vice-Presidente do INFARMED; 2007: Professor Associado da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, cargo que ainda desempenha; 2013-2016: Membro do Conselho de Administração da Agência Europeia do Medicamento; 2015-2016: Presidente do INFARMED; 2016: Membro do Conselho Diretivo do INFARMED; 2016-2022: Presidente do Conselho Nacional para a Cooperação; 2017-2020: Membro da Coordenação Nacional para a Estratégia do Medicamento e Produtos de Saúde; 2017-2022: Membro da Comissão de Ética para Investigação Clínica (CEIC); 2019: Presidente da Associação dos Farmacêuticos dos Países de Língua Portuguesa; 2020-2022: Presidente da Comissão Nacional da Residência Farmacêutica; 2021: Nomeação para a Comissão Executiva da Comissão de Ética para a Investigação Clínica; 2022: Eleito Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos.
Nesta 31ª edição d’O Pilão, o grande entrevistado é o Doutor Hélder Mota Filipe. Licenciado em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, é atualmente o estimado Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos. Ao longo da sua vida tem assumido cargos fortemente ligados à componente Farmacêutica e Associativa.
Por Ana Raquel Fernandes e Luana Rocha

O Pilão: Licenciou-se em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa e, mais tarde, doutorou-se em Farmacologia. O que o motivou a enveredar por esta área? Quando terminou o curso, quais eram as perspetivas que tinha para o futuro?
Hélder Mota Filipe: Durante o curso de Ciências Farmacêuticas tive a oportunidade de confirmar que a área que mais me motivava era a da ciência aplicada à saúde e as disciplinas de farmacologia eram as que mais me interessavam. Tive a oportunidade de começar a trabalhar em farmacologia pela mão da Professora Doutora Beatriz Silva Lima que me convidou para monitor, ainda no quinto ano da faculdade, ao mesmo tempo que iniciava a investigação, com uma bolsa atribuída pelo então INIC (Instituto Nacional de Investigação Científica). Este trabalho resultou em Doutoramento, com a orientação do Professor Toscano Rico. Portanto, quando terminei o curso, as perspetivas que tinha era ser investigador na área da Farmacologia o que, felizmente, consegui concretizar.
OP: Ao longo da sua vida tem tido uma participação Associativa muito marcada. Em que medida considera o Associativismo importante? 12 12
HMF: É verdade. Sempre achei que uma forma de ser útil à sociedade é o envolvimento em estruturas associativas que promovam o desenvolvimento pessoal e profissional através do serviço aos colegas, à profissão e à sociedade. Foram estes princípios que me fizeram agora concorrer a Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos. Em democracia, o Associativismo é crucial para o desenvolvimento das instituições e das sociedades. Na nossa profissão, o Associativismo é também fundamental para o seu desenvolvimento e afirmação. Para além da participação na Ordem dos Farmacêuticos, os nossos colegas devem participar noutras estruturas associativas da profissão, seja o sindicato, as associações setoriais ou as sociedades científicas, por exemplo.
OP: Esteve 12 anos no INFARMED, tendo sido Vice-Presidente e, posteriormente, Presidente desta Entidade. Como foi assumir estes cargos de grande relevância e quais foram os maiores desafios que enfrentou?
HMF: Foi uma experiência muito interessante e enriquecedora, tanto a nível pessoal como profissional. Nos 12 anos como dirigente num organismo tão importante e complexo como o INFARMED tive oportunidade de fazer parte de muitas das mudanças regulamentares na área do medicamento e dos dispositivos médicos. Os maiores desafios foram os relacionados com tomadas de decisão, com impacto em muitas pessoas ou estruturas nacionais e europeias. No início é assustador, mas depois vamos aprendendo a gerir com a ajuda de muitas pessoas muito bem preparadas que, felizmente, trabalham no INFARMED. A maioria delas são Farmacêuticas.
OP: Desde 2019, é Presidente da Associação de Farmacêuticos dos Países de Língua Oficial Portuguesa (AFPLP). Em que consiste esta Associação e qual a sua missão?
HMF: A AFPLP reúne todos os Farmacêuticos e instituições relevantes da Área Farmacêutica dos países de língua oficial portuguesa e tem como grande objetivo promover as Ciências Farmacêuticas e defender os interesses da Profissão Farmacêutica em todos os países de língua portuguesa. A Profissão Farmacêutica tem graus de desenvolvimento e reconhecimento diferentes nos diversos países da AFPLP, sendo que a associação desempenha um papel fundamental no apoio à profissão nos diversos países. Conseguimos algumas vitórias importantes nos últimos anos, apesar da pandemia. A AFPLP foi reconhecida como Observador Consultivo da Comunidade do Países de Língua Portuguesa (CPLP) e foi estabelecido um protocolo com a Federação Internacional Farmacêutica (FIP) que permite acesso a documentos relevantes também
em língua portuguesa e a formações conjuntas em temas identificados como importantes para todos os países da AFPLP. Estou a terminar o meu mandato como presidente da AFPLP, mas continuarei sempre disponível para continuar a colaborar com a Associação. A AFPLP é uma das experiências mais interessantes da minha vida associativa.
OP: Qual o seu papel enquanto Perito da Agência Europeia do Medicamento (EMA)?
HMF: Sou perito da Agência Europeia do Medicamento há mais de 20 anos, na área dos estudos pré-clínicos. Comecei por participar no grupo de trabalho da segurança pré-clínica (Safety Working Party da EMA) e mantive esta condição, uma vez que, frequentemente, estou envolvido na avaliação de processos europeus de medicamentos.
OP: No presente ano foi eleito Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos. O que motivou a sua candidatura? Quais as metas que pretende atingir ao longo do seu mandato?
HMF: A minha candidatura a Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos resultou da perceção que tenho que os profissionais se foram afastando da Ordem, provavelmente por acharem que não era suficientemente útil e próxima. Por essa razão, o lema da candidatura foi transformar a Ordem numa instituição mais próxima e útil para os Farmacêuticos, para além de garantir a transparência e a independência. Uma das metas é um maior envolvimento dos jovens Farmacêuticos na vida da OF, outra será a proposta de novos Serviços Farmacêuticos associados ao desenvolvimento e reconhecimento de novas competências. São apenas alguns exemplos de medidas que fazem parte do programa ambicioso, mas exequível, que foi sufragado pelo voto.
OP: Numa entrevista ao NETFARMA, mencionou que o Farmacêutico Comunitário deve ser remunerado pelos

serviços que presta ao utente, algo que não acontece atualmente. Como se poderá alterar esta realidade?
HMF: Se, mesmo antes da pandemia, o Sistema Nacional de Saúde (SNS) tinha dificuldade em dar resposta às solicitações, a pandemia e, mais recentemente, a guerra, vieram aumentar a pressão. O Farmacêutico Comunitário poderá vir a prestar um conjunto de serviços que poderão, nomeadamente, aliviar essa pressão no SNS. Para que esses serviços possam ser desenvolvidos, é necessário criar as condições adequadas. Duas fundamentais são o acesso a dados de saúde dos utentes e a possibilidade de partilhar informação entre instituições e profissionais. Se assim for, o Farmacêutico pode aumentar a sua intervenção, gerando valor em saúde. É esse valor que deve ser partilhado entre o sistema (o SNS) e o prestador (o Farmacêutico). Para que tudo isto aconteça falta, essencialmente, vontade política.
OP: Quais são os desafios que a Profissão Farmacêutica enfrenta atualmente?
HMF: Na minha opinião, um dos principais desafios está relacionado com a necessidade de acompanhar a enorme vaga de inovação terapêutica que vivemos e iremos viver nos anos mais próximos, o que exigirá dos Farmacêuticos um significativo esforço de atualização constante. É também importante que os Farmacêuticos se envolvam cada vez mais nos mecanismos de decisão que permitam uma escolha custo-efetiva das diversas opções terapêuticas mais adequadas a cada doente, contribuindo para a sustentabilidade dos sistemas de saúde. Outro desafio importante é continuar a desenvolver a profissão de forma a cumprir, em cada momento, as expectativas da sociedade e dos nossos utentes. São apenas alguns exemplos dos muitos importantes desafios para os quais temos que estar preparados. Tenho a certeza de que os Farmacêuticos, e, em particular as gerações mais jovens, estarão mais do que preparados para abraçar esses desafios.
OP: Para concluir, qual o conselho que gostaria de deixar aos nossos leitores, na sua maioria Estudantes da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e futuros Profissionais de Saúde?
HMF: Um conselho apenas: nunca esqueçam que a missão principal e mais nobre da profissão que escolheram, ser Farmacêutico, é servir o interesse do doente acima do vosso próprio interesse profissional. Podem sempre contar com a Ordem. A Ordem dos Farmacêuticos conta convosco.