Jornal Ecologista dos Açores nº 03

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O Jornal-Eco nº 03 – Novembro2020

O Jornal-Eco Jornal Ecologista dos Açores

Cagarro: Ave Regional dos Açores / Campanha SOS A campanha envolve muitos açorianos, cada vez mais, que fazem todo o possível para salvar o maior número destas aves. O esforço, empenho e dedicação de tantas pessoas para o salvamento desta espécie bem merecem que o cagarro obtenha a declaração de Ave Regional dos Açores. JPM

Como todos os anos, neste mês de outubro começou uma nova Campanha SOS Cagarro, destinada a salvar as aves que caem a terra devido à poluição luminosa criada pelas actividades humanas. No passado ano 2019 foram salvos 8.717 juvenis. Mas muitos outros foram encontrados feridos ou mortos.

No entanto, a Campanha SOS Cagarro incide sobre as consequências, não sobre as causas da queda das aves. Assim, enquanto a poluição luminosa não for reduzida ou eliminada, o número das aves resgatadas mas também das mortas não vai diminuir. Infelizmente, os meios e medidas aportados pelo Governo e pelas autarquias para a Campanha ou para reduzir a poluição luminosa ficam muito aquém das expectativas da maioria das pessoas.

OPINIÃO Menos e “melhores” luzes para proteger as aves marinhas na Macaronésia Tânia Pipa

PAG. 11-13 Herbicidas nos espaços públicos  Envenenamento  Entrevista: Amigos dos Açores / Quercus  Árvores de PDL 


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ESPÉCIES DOS AÇORES

Morcego-dos-Açores (Nyctalus azoreum) Espécie endémica do arquipélago das Açores, presente em todas as ilhas com excepção de Flores e Corvo. É uma das poucas espécies de morcegos que é capaz de caçar insectos também durante o dia, provavelmente devido à ausência de predadores. Encontra refúgio em árvores, edifícios e cavernas. Espécie considerada vulnerável (IUCN). A sua população, em declínio, conta com cerca de 5 -11 mil indivíduos. Esta espécie, exclusiva das nossas ilhas, está ameaçada pela perseguição humana e destruição dos seus dormitórios, a perda e degradação do habitat, o uso de pesticidas e a disseminação de espécies de plantas exóticas. (Foto: J. Pedro Medeiros)

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PETIÇÃO ENTREGUE NA ASSEMBLEIA REGIONAL

Atribuição ao cagarro (Calonectris borealis) do estatuto simbólico de Ave Regional dos Açores O cagarro ou pardela-de-bico-amarelo-atlântica (Calonectris borealis) é uma das aves mais emblemáticas dos Açores, presente em todas as ilhas do arquipélago. É a ave marinha mais abundante nas nossas ilhas, sendo o nosso arquipélago o principal e mais importante baluarte de nidificação desta espécie. Nas nossas ilhas concentra-se cerca do 75% do total da sua população mundial, estando localizadas as restantes colónias no arquipélago da Madeira, nas ilhas Canárias e no litoral continental de Portugal. O cagarro é uma ave que desde sempre se encontra fortemente ligada ao imaginário cultural dos açorianos. Ela simboliza melhor do que qualquer outra ave a simbiose entre o meio marinho e o meio terrestre que caracteriza os Açores e as suas gentes. Durante todo o período de nidificação das aves, que vai de abril a novembro, o canto singelo e misterioso dos cagarros enche as noites da primavera e do verão por todo o litoral dos Açores. Para os pescadores, que seguem no mar ao longo do ano os seus voos e as suas pescarias, os

cagarros servem de ajuda para localizar os cardumes e aumentar o rendimento das suas pescas. Os cagarros são também os protagonistas da campanha de conservação da natureza com mais sucesso e que mais pessoas mobiliza em todos os Açores. Desde o ano de 1995 realiza-se por toda a região a Campanha SOS Cagarro, destinada ao salvamento dos cagarros juvenis que no seu primeiro voo caem em terra, desorientados por causa das luzes artificiais. Assim, todos os anos, nos meses de outubro e novembro, a Campanha SOS Cagarro mobiliza o interesse e o entusiasmo de milhares de açorianos. Desde os seus inícios há cada vez mais pessoas a participar. Nos últimos anos foi registada a participação de até 4.600 voluntários e de cerca de 315 entidades em toda a região. O seu empenho e esforço servem para resgatar anualmente um elevado número de aves, por vezes superior a 6.000 exemplares. Tem vindo a crescer, ao mesmo tempo, uma grande sensibilidade e preocupação, por parte de diferentes entidades sociais, pela conservação e futuro desta ave. Desta forma, no ano de 2014, diver-


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sas associações ambientalistas e ecologistas assinaram um “Manifesto em defesa do cagarro” no qual era já reivindicada “a declaração do cagarro como Ave Regional, de especial interesse e protecção na Região Autónoma dos Açores”. No referido manifesto era argumentado que “ainda que nos Açores existam outras aves que seriam candidatas a este título, esta espécie é a mais abundante em todas as ilhas, a mais próxima das populações e aquela cuja protecção melhor serviria para a protecção do conjunto dos ecossistemas litorais de todo o arquipélago e de outras aves marinhas ameaçadas”. Na altura do lançamento do manifesto, as entidades governamentais mostraram simpatia pelo proposto. Com efeito, em carta da Direção Regional dos Assuntos do Mar aos promotores do manifesto, foi-lhes comunicado que “a proposta de criação da figura de “ave de interesse regional” encontra-se sob apreciação das Direções Regionais dos Assuntos do Mar e do Ambiente e da Universidade dos Açores”. Apesar disto, não foram conhecidos, até agora, mais desenvolvimentos. Cada vez é mais evidente, aquém e alémfronteiras, que a harmonia e convivência entre o homem e a natureza é o único caminho para nos garantir um futuro próspero e sustentável, nomeadamente num meio insular tão pequeno como o açoriano, onde essa relação entre homem e natureza é tão estreita. Mas é também evidente que a conservação da natureza passa, antes de mais, por inculcar na consciência colectiva da população o respeito pelo meio natural e por valorizar socialmente todos elementos que constituem a fauna e a flora nativas. Sendo o cagarro, como foi dito, um elemento emblemático da natureza na nossa região, a sua valorização social será também a valorização do conjunto da natureza açoriana. A sua protecção será também a protecção do conjunto dos ecossistemas marinhos das nossas ilhas. E o respeito por esta espécie será também, em parte, o respeito pela geografia, pela história e pelo modo de vida do povo açoriano. Assim, a elevação do cagarro a ícone oficial dos Açores, ao mesmo nível de outros símbolos da região, será a melhor forma de elevar e materializar os valores antes citados a um novo e mais avançado patamar, ficando para sempre ligados, de forma espontânea, a um sentimento de orgulho entre todos os açorianos.

Mas se os ícones nos servem para dar uma nova dimensão à imagem que temos de nós próprios e do nosso modo de vida, eles servem-nos igualmente para projectar uma determinada imagem da nossa terra no exterior e entre as pessoas que nos visitam. Assim, com a associação dum símbolo natural como o cagarro aos elementos de identidade próprios do povo açoriano, o nosso arquipélago ganharia sem dúvida em estima, simpatia e prestígio entre todos os povos desenvolvidos onde a natureza é igualmente cada vez mais valorizada. A atribuição ao cagarro do título simbólico de Ave Regional dos Açores, podendo trazer tantas vantagens, não comportaria na realidade nenhuma mudança legal no seu actual estatuto de protecção, nem afectaria à importância que é dada a outras aves igualmente emblemáticas da região, nem obrigaria à realização de quaisquer acções especiais por parte das entidades governamentais, para além daquelas que já são feitas. Com esta declaração trata-se simplesmente de outorgar uma nova dignidade a esta ave e, com ela, a todo o conjunto da natureza e do povo açoriano. Por todo o anteriormente exposto, solicita-se que a região institua o cagarro ou pardela-de-bicoamarelo-atlântica (Calonectris borealis) como Ave Regional dos Açores.

A presente petição foi recentemente entregue na Assembleia Regional e infelizmente desestimada. No entanto, podem ser acrescentados ainda novos apoios em peticaopublica.com: https://peticaopublica.com/?pi=PT87499


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RELATÓRIO DA COMISSÃO PARLAMENTAR

Reacções à petição para a atribuição ao cagarro do estatuto de Ave Regional dos Açores A petição para a atribuição ao cagarro do estatuto de Ave Regional dos Açores foi entregue na Assembleia Regional no mês de dezembro de 2018 contando na altura com mais de 250 assinaturas.

representando 3/4 da população mundial e que tem uma grande importância como indicador pesqueiro, sobretudo para a pesca de atuns por saltoe-vara.”

No entanto, meses depois, a petição foi desestimada em comissão e a sua apreciação em reunião plenária rejeitada por ter também um baixo número de assinantes.

“Tem também um enorme valor sentimental associada às suas inconfundíveis vocalizações noturnas, aliado ao facto de formarem grandes grupos em repouso à superfície do mar junto às costas das ilhas.”

No relatório, elaborado pela Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho, foram recolhidos, no entanto, os diferentes comentários e posições sobre a petição. Valor ecológico, sentimental, histórico e de importância para as pescas

“O facto de ter sido alvo de grandes “massacres” durante os períodos históricos da colonização do arquipélago, tal como aconteceu com outras espécies de aves marinhas, contribui para reconhecer a sua importância histórica.” A posição favorável das associações ecologistas

No parecer entregue pelo Centro Okeanos, da Universidade dos Açores, pode ler-se o seguinte: “É inegável que o cagarro seja a ave marinha mais abundante nos Açores, na altura do ano em que estão por cá para se alimentarem e reproduzirem,

 Em representação dos peticionários, José Pedro Medeiros, da Associação Amigos do Calhau, manifestou na audiência da Comissão que a par dos símbolos regionais já existentes, como o hino e a bandeira, e sendo os Açores uma Região que se

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pretende afirmar como um destino ambientalmente sustentável, o cagarro merece o estatuto simbólico de Ave Regional. Afirmou que seria uma mais valia para a Região ter como símbolo uma ave que liga o mar e a terra, conhecida por todos, e cujo canto, durante todo o período de nidificação das aves, que vai de abril a novembro, enche as noites de primavera e de verão por todo o litoral dos Açores. Disse ainda que a Campanha SOS Cagarro move muitas pessoas e entidades, despertando interesse e paixão por esta ave e pelo seu simbolismo. JPM Em representação da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Azucena de la Cruz manifestou a posição favorável a esta petição, destacando a abrangência do cagarro em termos de simbolismo. 

Afirmou que a atribuição ao cagarro do estatuto de Ave Regional dos Açores faz sentido por chamar a atenção para a biodiversidade dos Açores. Também como medida de educação e divulgação ambiental, do ponto de vista da sensibilização do público para os valores naturais da biodiversidade dos Açores e para um maior conhecimento desta espécie. Afirmou também que, simbolicamente, a espécie é relevante para os Açores tal como os Açores são relevantes para a espécie. Também pela SPEA, Rui Botelho referiu considerar importante a existência de um símbolo e que o cagarro seria a espécie mais representativa, alcançando todos os açorianos de todas as ilhas.

 “Não nos parece que o reconhecimento afectivo da população seja um critério único que justifique a atribuição de um estatuto especial a uma espécie de ave.”  “Não existe enquadramento normativo para designar uma espécie como Ave Regional.”

São precisos mais esforços A Comissão Parlamentar acabou por desestimar a passagem da petição à reunião plenária da Assembleia Regional adoptando como próprios os argumentos do Governo Regional, para além de chamar a atenção sobre o baixo número de assinantes, que considerou insuficiente.

 Em representação da Associação Amigos dos Açores, Diogo Caetano, manifestou-se igualmente favorável à petição, salientando a grande identificação que as pessoas têm com esta ave e o reforço que por esta via pode ser dado à sua valorização, contribuindo para a sua conservação.

É de salientar que, contrariamente ao defendido pelo Governo Regional, a designação de um símbolo nacional ou regional depende essencialmente do valor afectivo da população em relação à espécie. E há poucas dúvidas de que o cagarro é uma espécie que representa, melhor que qualquer outra, os nossos ecossistemas naturais e a cultura dos açorianos de todas as ilhas. Isto sem desmerecer o valor que, sem dúvida, têm outras espécies igualmente importantes.

Acrescentou que o cagarro é das aves que mais contacto tem com a população, representando a ligação entre o mar e a terra, assim como o facto de estar presente em todas as ilhas, ao contrário de outras espécies.

Também não parece razoável a desculpa da falta de enquadramento normativo, quando por exemplo o sobreiro foi instituído como Árvore Nacional de Portugal com uma simples resolução da Assembleia da República.

A posição contrária do Governo dos Açores

Sem dúvida são precisos mais esforços e apoios para conseguir que o cagarro, a natureza e a cultura açoriana tenham finalmente o reconhecimento que achamos ser vontade das pessoas.

No parecer entregue pelo Governo Regional podem ler-se, no entanto, duas críticas à petição:


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AMIGOS DO CALHAU

Campanha SOS Cagarro: Balanço de 2019 Terminada a Campanha SOS Cagarro deste ano 2019, na associação Amigos do Calhau consideramos que é tempo de fazermos um pequeno balanço sobre a mesma. É com grande satisfação que notamos que a divulgação da campanha foi bastante eficaz em chegar ao público através dos meios de comunicação, levando a uma adesão cada vez maior da sociedade no seu conjunto. Para além disso, a colaboração de entidades como a PSP, por exemplo, tem sido fundamental para o bom funcionamento da mesma mediante a receção das aves. O desenvolvimento do Projeto LuMinAves (Poluição luminosa e conservação nos arquipélagos da Macaronésia) também tem dado um contributo positivo para aumentar a consciência sobre o impacto da poluição luminosa na queda das aves, sendo este tipo de poluição, na realidade, a que motiva a necessidade de realizar cada ano esta campanha. Mas infelizmente nem todos os aspetos da Campanha têm sido positivos. Este ano houve um maior número de quedas de aves, em parte devido a factores naturais como um maior sucesso reprodutor das aves e as fortes inclemências climatéricas sofridas pelo arquipélago, mas a principal causa das quedas continua a ser o impacto do fator humano. E a tudo isto devemos acrescentar que houve algumas falhas que consideramos importantes no desenvolvimento da Campanha. Sendo a Campanha SOS Cagarro promovida pelo Governo Regional dos Açores, através da Direção Regional dos Assuntos do Mar e com o apoio da Direção Regional do Ambiente, notamos a existên-

cia de uma importante descoordenação entre as várias entidades governamentais e graves carências nalguns aspetos:  A redução da poluição luminosa, responsável da queda das aves e necessidade da realização da Campanha, continua a ser uma questão por resolver, com a excepção de alguns poucos casos pontuais. A isto se acrescenta um evidente agravamento da situação em algumas zonas, com o aumento descontrolado da poluição luminosa motivado pela abertura de novos caminhos perto do litoral e a sua iluminação com lâmpadas LED de grande potência, em aberta contradição com o Projeto LuMinAves.  Ainda que a linha telefónica de apoio à Campanha (a linha SOS Ambiente) funcione com atendimento de 24 horas, esta não tem qualquer utilidade se depois não há resposta adequada no terreno, nas diferentes ilhas, por parte dos serviços do ambiente. É de salientar que, na prática, esta linha deixa de ter qualquer efeito a partir da meia-noite, pelo facto de não haver vigilantes da natureza no terreno a partir de essa hora. Ainda, em diversas ocasiões as pessoas, depois de contactar com a linha de apoio, ficaram várias horas à espera de que alguém viesse recolher a ave, acabando por contactar com a nossa associação telefonicamente à procura de uma solução.  Na ilha de São Miguel foi notória a falta de Vigilantes da Natureza durante a Campanha. Esta carência foi particularmente grave durante o pico da Campanha, período durante o qual consideramos que deveria haver um importante reforço dos


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efectivos. Nos fins-de-semana chegou a haver somente uma brigada de Vigilantes por turno para toda a ilha.  A carência de Vigilantes da Natureza levou também a uma falta de recolha das aves depositadas durante a noite nas esquadras da PSP. Isto levou em muitos casos a que fossem os próprios agentes da PSP a libertar as aves de manhã, uma tarefa que não lhes compete nem faz parte das suas funções. Esta situação anómala exigiu portanto um dispêndio extraordinário, nomeadamente em tempo e combustível, às esquadras da PSP. Para além disso, pela nossa própria experiência, consideramos que a libertação das aves deveria ser feita só por pessoal especializado.  Houve também uma carência de elementos tão fundamentais para a Campanha como as caixas para a recolha das aves. O número destas caixas foi insuficiente e as existentes não foram distribuídas adequadamente. Até chegamos a ver situações nas quais os Vigilantes da Natureza tiveram de pedir caixas às ONGs presentes no terreno.

 Em São Miguel continua sem haver um Centro de Recuperação de Fauna com as mínimas condições e que possa servir de apoio à Campanha, nomeadamente no tratamento das aves que são encontradas feridas. É incompreensível que nem sequer uma das principais ilhas dos Açores tenha este serviço de apoio à biodiversidade, que seria ainda de fundamental importância no contexto da Campanha SOS Cagarro.

A bem do interesse dos cagarros, uma espécie que desde sempre, e cada vez mais, tanto diz aos açorianos, gostaríamos que todos estes pontos fossem corrigidos ou melhorados na Campanha do próximo ano. Tudo isto com o intuito de nos aproximarmos ao verdadeiro objectivo da Campanha SOS Cagarro, que não é recolher um maior número de aves, mas sim reduzir ao máximo as causas da queda dos juvenis, isto é, a poluição luminosa, nomeadamente durante o período no qual eles saem dos ninhos. E também, para aqueles que mesmo assim caem por terra, reduzir ao máximo a sua mortalidade.


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SPEA / AÇORES

SOS Cagarro 2019: do Corvo, a Vila Franca do Campo às Terras do Priolo A Campanha SOS Cagarro é a mais emblemática Campanha de sensibilização ambiental e conservação que é coordenada pela Direção Regional dos Assuntos do Mar, na qual a SPEA tem colaborado desde 2009 até ao presente. A nossa área de atuação começa pela mais pequena ilha dos Açores, o Corvo, (um santuário para as aves marinhas e onde tudo começou em 1991), Vila Franca do Campo (com o Anel da Princesa, o ilhéu, uma importante colónia para esta ave marinha), e termina nas Terras do Priolo (Povoação, Faial da Terra e Nordeste, neste período o cagarro ganha protagonismo nas Terras onde o Priolo é Rei). No total no Corvo foram salvos 633 cagarros juvenis Calonectris borealis (630 anilhados e medidas biométricas registadas) encandeados pelas luzes artificiais em 2019, em colaboração com o Parque Natural de ilha e a ajuda essencial da população corvina, em particular a mais jovem que como habitual é fundamental para o sucesso da Campanha. De ressalvar ainda o apoio fundamental da Guarda Nacional Republicana na libertação dos juvenis de cagarro. E claro está agradecer à Câmara Municipal do Corvo pela minimização do impacto da poluição luminosa ao proceder ao apagão geral da iluminação pública das 01h00-05h00

e o apagão geral no dia 1 de novembro das 21h0005h00 no âmbito do Projeto LuMinAves. Ainda no âmbito deste, obteve-se uma taxa de recaptura de 25 % de juvenis anilhados nos ninhos monitorizados por nós na ilha e que foram encandeados pelas luzes da Vila do Corvo. Apesar das medidas de mitigação infelizmente o número de mortos foi alto para o esforço de 24h realizado pela equipa SPEA/PNI e voluntários, com 19 mortos, comparativamente com anos anteriores, com 37% destes a corresponderem a cagarros encandeados com a forte iluminação do porto, situação só revertida após o apagão destas luzes pela Portos dos Açores, a pedido da Câmara Municipal do Corvo. Do Corvo seguimos para Vila Franca do Campo onde no total foram salvos 735 cagarros que foram anilhados e as biometrias registadas, tendo ainda sido recapturados 14 juvenis anilhados no Ilhéu de Vila Franca do Campo, com uma taxa de recaptura de 7% de juvenis do ilhéu encandeados pelas luzes da marina de Vila Franca do Campo. Infelizmente também aqui à semelhança do Corvo as luzes da Porto e marina não são adequadas e contribuíram para um maior encandeamento.

Cagarros salvos na Povoação. Foto: Ana Mendonça.


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E de Vila Franca do Campo continuamos a salvar cagarros e a fazer amigos nas Terras do Priolo, na Povoação onde foram salvos 130 juvenis de cagarro com a colaboração fundamental da PSP e voluntários, em especial 4 que foram presença constante nas brigadas. Passando pelo Nordeste, com 23 juvenis salvos com a colaboração da PSP. Terminando no Faial da Terra, com 81 salvamentos durante toda a Campanha SOS Cagarro. Em 2019 e como esperado dado o período da lua nova e condições climatéricas o número de quedas foi largamente superior aos anos anteriores (2017, 2018), onde o pico de quedas ocorreu em lua cheia e por esta razão o encandeamento é menor. No entanto, de ressalvar que os novos LEDs Brancos superiores a 3000K colocados nos portos e que provocam maior encandeamento, podem ter contribuído para um maior número destas quedas e da mortalidade, como aconteceu na ilha do Corvo, onde nos dois últimos anos as luzes do porto estavam desligadas, não ocorrendo encandeados e mortos na área. Há claramente que repensar as estratégias e ter em conta o impacto da poluição luminosa na biodiversidade e em particular nas aves marinhas, antes de implementar nova iluminação. É neste âmbito que o projeto LuMinAves tem como principal resultado uma Estratégia para a Poluição Lumino-

sa na Macaronésia e que estamos a colaborar ativamente com a EDA, DRAM, FRCT e Okeanos para que sejam tomadas as melhores medidas, que tenham em conta, não só a eficiência energética mas também o impacto desta ameaça na biodiversidade, nomeadamente, as aves marinhas, dada a importância da região para estas espécies e o valor incalculável que estas espécies dão à região. Para terminar, fica um Muito Obrigada a todas as entidades com as quais colaboramos, desde os Parques Naturais de ilha (Corvo e São miguel), Câmara Municipal do Corvo, GNR, PSP e a todos os voluntários que contribuíram para o salvamento de 1602 juvenis de cagarro. Agora resta-nos esperar 6-7 anos para o seu regresso e até à próxima Campanha. Em 2020 cá estaremos para mais um ano a Salvar Cagarros e a Fazer Amigos, na esperança de que ao menos possamos ter minimizado o impacto desta ameaça nas zonas críticas identificadas.

Tânia Pipa http://speaacores.blogspot.com/2019/11/soscagarro-2019-do-corvo-vila-franca.html

Cagarro ferido após colisão com as luzes LEDs Brancas muito fortes em Vila Franca do Campo. Foto: Ana Mendonça.


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SPEA / CORVO

Menos e “melhores” luzes para proteger as aves marinhas na Macaronésia

Gaooha-gaooha-gaooha-waah… este é um dos sons mais característicos da Macaronésia e dos Açores em particular, não fossem estas 9 ilhas a maior “colónia” mundial desta ave, esta que é a mais emblemática e abundante ave marinha dos Açores, o cagarro Calonectris borealis. Esta ave nascida e criada nas ilhas de Bruma dá cor e som a este arquipélago… e nós temos uma responsabilidade acrescida em garantir que o cagarro e os seus primos (estapagado Puffinus puffinus, o frulho Puffinus lherminieri, a alma-negra Bulweria bulwerii, o painho-da-madeira Hydrobates castro e o endémico painho-de-monteiro Hydrobates monteiroi) continuam a manter um pouco da essência que remonta à descoberta dos Açores, onde os registos históricos revelam milhares de aves marinhas que hoje em dia se remetem na sua maioria a ilhéus e falésias inacessíveis. São várias as ameaças a que estas espécies estão sujeitas, não fossem o grupo de aves mais ameaçado do mundo e na Macaronésia os predadores introduzidos, como cães, gatos e ratos, a destruição de habitat, o lixo marinho e a poluição luminosa foram identificadas como prioritárias, durante a avaliação do Bom Estado Ambiental no âmbito da Diretiva Quadro Estratégia Marinha. E é esta última, a poluição luminosa que será o alvo deste artigo, esta que foi identificada no início

dos anos 90, na mais pequena ilha do arquipélago, o Corvo, quando o falecido investigador Luís Monteiro incentivou os corvinos a realizarem a primeira ação de minimização, ao desligarem a iluminação pública a partir das 00h30 para que os juvenis de cagarro ao abandonarem o ninho não se desorientassem com as luzes, dando assim início à mais antiga e carismática campanha de conservação e educação ambiental do país, a Campanha SOS Cagarro que em 1995 é oficialmente iniciada, sendo coordenada pela Direção Regional dos Assuntos do Mar e que até hoje é um sucesso, em muito graças às centenas de voluntários e entidades que todos os anos de 15 de outubro a 15 de novembro despendem o seu tempo para salvar uma das espécies que mais caracteriza os Açores. O conhecimento da população, a elevada participação nos salvamentos e o facto de esta ameaça ser talvez a mais fácil de minimizar foram o mote para o projeto LuMinAves, que desde 2017 une esforços na Macaronésia, uma vez que como referido anteriormente esta ameaça e espécies são comuns à região biogeográfica, tendo a nível europeu, Portugal e Espanha igual responsabilidade na preservação desta espécie, baseando a conservação em medidas uniformes e coerentes nos três arquipélagos (Açores, Madeira e Canárias, que à exceção do arquipélago das Berlengas albergam na sua totalidade a população nidificante a nível mundial).


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Não esquecendo ainda que além do cagarro estas medidas podem beneficiar aves marinhas (primos do cagarro) mais vulneráveis na região, como por exemplo, o endémico painho-de-monteiro, o frulho e inclusive o estapagado, onde no Corvo desde 2009 é também realizada a Campanha SOS Estapagado (meados de agosto a início de setembro) tendo até ao momento tido sido salvos 94 juvenis desorientados pelas iluminação pública da Vila do Corvo e tendo a informação recolhida servido para identificação de uma nova subespécie desta ave, o estapagado das Canárias Puffinus puffinus canariensis ssp. nov. (Rodríguez et al., 2020). Ainda que em menor número também estas são afetadas pela poluição luminosa, por vezes menos conhecidas, mas não menos impactadas. O LuMinAves pretende aumentar o conhecimento sobre esta ameaça e populações de aves marinhas, melhorar e uniformizar as campanhas de resgate entre arquipélagos e minimizar a ameaça em si, tendo como principal resultado uma Guia de Boas Práticas para a poluição luminosa e a Estratégia para a mitigação da poluição luminosa na Macaronésia em elaboração. Durante o projeto foram identificadas as áreas críticas, ou seja, onde houve mais quedas de cagarro através da georreferenciação (se retirou as coordenadas de onde salvou o cagarro, saiba que contribuiu para a identificação destas áreas), de modo, a implementar medidas de minimização nestes, tendo sido realizadas ações de mitigação como o desligar das luzes artificiais por algumas entidades, com particular relevância na ilha do Corvo.

Mais uma vez foi a mais pequena ilha do arquipélago a dar o exemplo, além de desligar as luzes nas áreas críticas, realizar um apagão geral em 2019, deu um passo maior ainda este ano, onde de 26 a 30 de outubro (21h00-04h00), a ilha preta desligou toda a sua iluminação pública, tendo apenas registado 9 quedas de cagarro neste período. Continuando a realizar o apagão geral de 31 outubro a 7 de novembro (01h00-05h00), esta que foi uma iniciativa do Município do Corvo em colaboração com a SPEA, impulsionada pelo inquérito realizado à população onde mais de 200 corvinos se fizeram ouvir e mostraram mais uma vez o porquê da ilha do Corvo ser apelidada de Santuário para as aves marinhas. O Corvo deu o exemplo na minimização com ações concretas que serviram também para impulsionar outros a segui-lo, como foi o caso do Município de Vila Franca do Campo, que desligou parte da iluminação costeira, assim como, outras entidades que tomaram a iniciativa. Iniciativas estas que representam os padrões de conservação e sustentabilidade que reforçam o estatuto dos Açores como região na vanguarda na proteção das aves marinhas, mas são uma responsabilidade para aliar os compromissos de eficiência energética e conservação, onde a substituição da iluminação pública em vigor deve seguir as diretrizes da Guia de Boas Práticas para a poluição luminosa. E onde mais uma vez o Município do Corvo deu o exemplo, uma vez que acordou substituir a sua iluminação pública em conjunto com a EDA, baseando-se na guia em questão, para salvaguardar não só a eficiência energética, mas tam-

Estapagado (Puffinus puffinus) durante a Campanha SOS Estapagado realizada no Corvo. Na página seguinte: cagarros (Calonectris borealis) resgatados no Corvo. Fotos: Tânia Pipa.


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bém a minimização da poluição luminosa sobre as aves marinhas que dão alma a esta pequena, grande ilha que teve a coragem de dar o primeiro passo. Para isso, o Corvo terá toda a iluminação pública direcionada para baixo não havendo dispersão da luz para o céu, não terá vidro nas luminárias para diminuir a dispersão, as lâmpadas serão de cor neutra (<3000K) e não fria que aumentam a desorientação das aves marinhas, haverá redução da intensidade nos períodos críticos e inclusive manter os apagões. É essencial que mais municípios e entidades competentes (ex: Portos dos Açores) sigam este exemplo e que aquando da substituição da iluminação pública tenham em conta o impacto dos LEDs de cores frias (>3000K) nas aves marinhas e não só a eficiência energética, é importante aliar a direção de luminárias, com a intensidade e a cor das lâmpadas (em áreas protegidas é crucial escolher LEDs de cor amarela ou âmbar, <2700K ou <2200k), a comunicação e uniformização entre as partes interessadas permitirá minimizar os efeitos da poluição luminosa e garantir que o esforço de uma época de nidificação não sejam em vão, com aves bem alimentadas a não chegarem ao mar no seu primeiro voo, em consequência das nossas ações que com um pequeno desligar do interruptor ou uma iluminação adequada poderia ser evitado.

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Os primeiros passos estão a ser dados, mas este é ainda um longo caminho até que todos implementem medidas efetivas de mitigação da ameaça e não só os habituais salvamentos que continuarão a existir em virtude de serem os primeiros voos destas aves e por isso menos habilidade, de a sua visão não ser tão desenvolvida (Atchoi et al., 2020) em comparação com os adultos e para garantir a monitorização das medidas de mitigação, afinal para sabermos se funciona…há que medir. É desta forma que novamente a ilha do Corvo está na linha da frente para salvar aves marinhas, através do projeto EElabs que agora se inicia será criado um laboratório de medição do brilho do céu e efeito da poluição luminosa nas noites naturais e nas aves marinhas, através de aparelhos autónomos, os fotómetros, continuar-se-á a sensibilizar, pois só protegemos o que conhecemos e trabalhar -se-á para que a aquela que agora é apenas uma recomendação passe a normativa, e a poluição luminosa seja assim como, outras ameaças alvo de legislação com base no vasto conhecimento científico existente e garanta a preservação das noites naturais e das aves marinhas, uma vez que nós enquanto privilegiados por viver nesta região pristina temos a responsabilidade de garantir a sua sustentabilidade, entre a qual os gaoohagaooha-gaooha-waah… são um pouco da alma do que representa ser açoriano. Tânia Pipa (SPEA)


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RETROSPECTIVA

REIVINDICAÇÕES PARA A CAMPANHA “SOS CAGARRO”

Manifesto em defesa do cagarro (2014) Considerando as deficiências com as quais ano após ano se confrontam os voluntários da Campanha “SOS Cagarro” e que levam a uma maior queda e ferimentos das aves e a umas condições às vezes pouco dignas para o seu resgate, as associações e os cidadãos abaixo assinantes reivindicam por parte do governo regional: 1) Um compromisso para a redução efetiva da iluminação pública durante as duas semanas principais que dura a Campanha SOS Cagarro. Mais da metade das aves que caem em terra tem por causa a exagerada iluminação pública de infraestruturas como portos de pesca, campos de futebol e estradas situadas junto ao litoral. Nesta situação a Campanha SOS Cagarro e todo o labor dos voluntários muitas vezes não passa de um logro, limitando-se na realidade a recolher as aves que previamente são “obrigadas” a cair em terra devido à excessiva iluminação. Como consequência das quedas muitas das aves, perto de um milhar no passado ano, ficam feridas ou morrem.

É necessário seguir exemplos como o das ilhas Canárias, onde as autoridades regionais promovem ativamente a campanha “Apagón por la pardela”, através da qual municípios e entidades privadas reduzem significativamente as luzes durante a campanha de recolha de cagarros. Nos Açores, pouco ou nada disto é feito apesar de existirem ilhas declaradas Reservas da Biosfera que deveriam primar por estarem na vanguarda no respeito e defesa do ambiente. 2) A declaração do cagarro (Calonectris diomedea borealis) como Ave Regional, de especial interesse e proteção na Região Autónoma dos Açores. Ainda que nos Açores existam outras aves que seriam candidatas a este título, esta espécie é a mais abundante em todas as ilhas, a mais próxima das populações e aquela cuja proteção melhor serviria para a proteção do conjunto dos ecossistemas litorais de todo o arquipélago e de outras aves marinhas ameaçadas.


RETROSPECTIVA

3) A criação do “Telefone do Cagarro”, telefone único e gratuito para todas as ilhas a funcionar durante as 24 horas durante as semanas da Campanha SOS Cagarro. O “Telefone do Cagarro” evitaria a actual multiplicidade de telefones disponíveis, todos eles pagos, e facilitaria a comunicação de quedas de aves, reencaminhando a informação para a entidade mais adequada em cada caso. 4) O inicio da construção de um Centro de Recuperação de Fauna (CRF) nas principais ilhas, com capacidade para acolher e tratar todos os cagarros feridos. Durante a Campanha são bastantes as aves encontradas feridas e que precisam de assistência veterinária, situação até agora não tratada de forma adequada nem digna, faltando infraestruturas próprias. Os CRF poderão servir também de lugar de depósito noturno de todas as aves recolhidas durante a Campanha, que até agora são depositadas em lugares às vezes muito inapropriados até a sua libertação no dia seguinte. Os CRF são ainda uma necessidade, durante todo o ano, para o tratamento de outras espécies de aves dos Açores e como depósito de animais apreendidos em situação ilegal, necessidade para a

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qual a própria GNR tem vindo a alertar repetidamente. Actualmente acontecem situações caricatas como o transporte dum milhafre ferido da Terceira até o Corvo, ilha onde nem sequer existem milhafres, por existirem ali umas pequenas instalações para a recuperação de aves. 5) A divulgação pública e a análise dos resultados da Campanha SOS Cagarro, permitindo detetar em todas as ilhas os pontos negros onde é registada em cada ano uma maior quantidade de quedas de aves e uma maior mortalidade. Esta análise, juntamente com a informação sobre os lugares de nidificação e do sucesso reprodutivo da espécie, permitiria definir melhores estratégias e ações para as Campanhas a realizar nos anos seguintes.

Amigos dos Açores - Associação Ecológica Amigos do Calhau - Associação Ecológica CAES - Coletivo Açoriano de Ecologia Social

CONTACTOS PARA A CAMPANHA 2020 LINHA SOS AMBIENTE: 800 292 800 (Linha gratuita disponível 24 horas) SÃO MIGUEL: PSP Lagoa: 296 960 410; Maia: 296 442 444; Povoação: 296 550 000; Ribeira Grande: 296 472 120; Rabo de Peixe: 296 491 163; Vila Franca do Campo: 296 539 310. EUROSCUT (aves caídas na via rápida): 911 016 267; 296 120 014; 296 929 304. Amigos do Calhau (18h-23h): 919 978 026. Amigos dos Açores: 296 498 004.


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ASSOCIAÇÕES

Amigos dos Açores O efeito da poluição luminosa sobre os cagarros na ilha de São Miguel Num artigo científico de 2011 da autoria de Pedro Rodrigues e de Artur Gil (Universidade dos Açores) (1), que contou com a colaboração e com dados aportados pelos Amigos dos Açores, chegou-se à conclusão que 16.7% dos jovens cagarros que nascem nas colónias de cria da ilha de São Miguel acabam por ser atraídos pelas luzes e cair em terra ao empreender o seu primeiro voo. No entanto, esta percentagem seguramente poderá ser maior devido a que muitas aves caídas morrem e nunca chegam a ser encontradas. Ou também porque algumas aves são resgatadas por pessoas que não notificam o seu salvamento. Comprovou-se que na ilha de São Miguel a exposição das colónias de cria à iluminação artificial é geralmente baixa. Mas quatro das colónias, com maior exposição, estavam na origem de 87% das ocorrências. Das aves encontradas em terra durante os anos 2008 e 2009, 85% foram resgatadas com vida e libertadas com sucesso no dia seguinte. As aves da família dos cagarros e pardelas (Procellariidae) são aves muito sensíveis à iluminação artificial, devido a que acedem às colónias durante o período nocturno. E estas luzes podem atrair ou desnortear as aves, mas muito particularmente os juvenis que realizam o seu primeiro voo.

Muitos destes juvenis acabam por cair em terra sofrendo graves ferimentos, são mortos por predadores ou simplesmente morrem à fome. Há duas explicações possíveis para este comportamento. A primeira é que durante o seu primeiro voo os juvenis utilizam para orientar-se a luz da lua e das estrelas, pelo que as luzes artificiais levam as aves a enganar-se na orientação. A segunda é que estas aves sentem atracção pela luminescência que emitem determinados cefalópodes que formam parte da sua alimentação, sendo que os juvenis, sem nenhuma experiência, tentam procurar comida voando erradamente em direcção às luzes artificiais. Outro efeito negativo que tem a iluminação nocturna sobre as colónias de cria é que pode favorecer a acção de predadores sobre os juvenis muito antes de iniciarem o seu primeiro voo. É preciso, portanto, tomar medidas para reduzir o impacto que as luzes artificiais têm nas aves: a utilização de protectores adequados para reduzir a poluição luminosa dos pontos de luz, particularmente em lugares que atraem mais aves; a redução da iluminação artificial perto das colónias e também a restrição do seu uso durante o pico das saídas; e o reforço e implementação das campanhas de resgate de aves caídas.

Iluminação artificial e quedas de cagarros durante 2008 e 2009 na ilha de São Miguel.

(1) Remote sensing to map influence of light pollution on Cory’s shearwater in São Miguel Island, Azores Archipelago. Pedro Rodrigues, Christoph Aubrecht, Artur Gil, Travis Longcore & Chris Elvidge. Eur J Wildl Res. DOI 10.1007/s10344-011-0555-5


ASSOCIAÇÕES

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Avifauna dos Açores Poluição luminosa e cagarros: fazer cair para depois salvar? A poluição luminosa emitida por determinados edifícios e espaços públicos constitui uma autêntica armadilha para os cagarros (Calonectris borealis). Todos os anos acabam por cair dezenas ou centenas de juvenis nos mesmos pontos. E infelizmente uma parte deles fica ferida ou morre. Esta situação acontece com muita frequência nos portos, campos de futebol, rotundas... espaços públicos excessivamente iluminados mesmo durante a época crítica de saída dos cagarros. Triste exemplo desta situação é, por exemplo, o porto de Vila Franca do Campo (São Miguel). Mas também acontecem situações semelhantes noutros lugares como a vila das Velas (São Jorge), onde à volta do Auditório encontramos uma poluição luminosa absurda e excessiva. Nesta zona podemos encontrar holofotes dirigidos para paredes brancas, dirigidos para o céu, dirigidos para o mar... É inevitável ver os jovens cagarros, atraídos por estas luzes, bater contra elas e cair em terra.

Muitas aves são recolhidas durante a noite, mas muitas outras são encontradas ainda na manhã seguinte à volta do Auditório. Algumas delas feridas e com restos de sangue. Com algumas das maiores colónias de nidificação de cagarros do arquipélago, a ilha de São Jorge tem por isso, necessariamente, uma grande responsabilidade na conservação desta espécie. Olhando para estas questionáveis situações, bem poderíamos dizer que em muitos pontos dos Açores parece haver uma campanha paralela, a Campanha CAI Cagarro, cuja finalidade é proporcionar as aves necessárias para recolher durante a Campanha SOS Cagarro. Custará tanto desligar as luzes durante as duas ou três semanas que dura o primeiro voo dos nossos cagarros?

Auditório das Velas (São Jorge). Fotos de 2015.


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ASSOCIAÇÕES

Colectivo Açoriano de Ecologia Social

Nos 25 anos da Campanha SOS - Cagarro Em novembro de 1993, coordenada pelos Amigos dos Açores, teve início a campanha "A Escola e o Cagarro", no âmbito da qual foi aplicado um inquérito, sobre a espécie, destinado a alunos das escolas, nomeadamente do 1º e 2º ciclos do ensino básico, e distribuídos 10 mil folhetos. Foi esta iniciativa, que teve como principal mentor o Eng. Luís Monteiro, do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, que deu origem à atual campanha “SOSCagarro”. Esta, iniciada em 1995, tem como objetivo principal salvar o maior número possível de cagarros, a ave marinha mais abundante dos Açores, cujo número se encontra em regressão a nível mundial. Não sendo o cagarro propriedade de ninguém, das entidades oficiais espera-se, apenas, a disponibilização de informação e meios ao cada vez maior número de voluntários que todas as noites, nos meses de outubro e de novembro, se disponibilizam para participar nas brigadas que se têm constituído para a recolha de cagarros e sua posterior devolução ao mar. Para além dos voluntários já referidos, é de louvar o papel de algumas associações ou grupos informais, como os Amigos dos Açores e os Amigos do Calhau, de São Miguel, e o CADEP, de Santa Maria, no Grupo Oriental dos Açores. Em 2014, os amigos dos Açores, os Amigos do Calhau e o CAES - Coletivo Açoriano de Ecologia Social, num “Manifesto em Defesa do Cagarro” propuseram que o cagarro fosse declarado como Ave Regional, de especial interesse e proteção na Região Autónoma dos Açores. A propósito daquela proposta, no referido manifesto pode-se ler o seguinte: “Ainda que nos Açores existam outras aves que seriam candidatas a este

título, esta espécie é a mais abundante em todas as ilhas, a mais próxima das populações e aquela cuja proteção melhor serviria para a proteção do conjunto dos ecossistemas litorais de todo o arquipélago e de outras aves marinhas ameaçadas”. Em 2018, a Associação Amigos do Calhau lançou online uma petição que teve como objetivo principal atribuir ao cagarro o estatuto símbolo de Ave Regional dos Açores. Infelizmente e por razões que se desconhece o número de subscritores não foi significativo, o que está em contradição com o número de participantes nas campanhas ao longo dos anos. Ao comemorar-se 25 anos de campanha SOSCagarro, é altura de se fazer um balanço a uma iniciativa que já salvou mais de 100 mil cagarros e introduzir alterações que incentivem uma ainda maior participação das populações.

J. Soares (CAES)


ASSOCIAÇÕES

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Não ao uso de herbicidas nos espaços públicos 2009/128/CE), aponta para que só haja aplicação de herbicidas quando não existam outras alternativas viáveis, nomeadamente meios de combate mecânicos e biológicos.

EBI dos Ginetes, novembro 2018 Em 2014, a QUERCUS e a Plataforma Transgénicos Fora (PTF) iniciaram uma campanha alertando para os riscos ambientais e de saúde da aplicação de herbicidas em espaços urbanos. Em 2015, um grupo de açorianos, através de uma petição, apelou à Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores, aos Presidentes das Assembleias Municipais dos Açores, aos Presidentes das Câmaras Municipais dos Açores, aos Presidentes das Assembleias de Freguesia dos Açores e aos Presidentes das Juntas de Freguesias dos Açores para que evitassem o uso de herbicidas e recusassem a utilização de glifosato, contribuindo assim para a melhoria da qualidade de vida de todos os que residem ou visitem os Açores. Na ocasião os promotores da petição, apresentaram como principais argumentos os seguintes: 1- Os riscos de vários herbicidas e em particular daqueles cuja substância ativa é o glifosato que atua nos animais como desregulador hormonal e cancerígeno, mesmo em doses muito baixas; 2- A existência de outros meios para o controlo das ervas espontâneas, como os mecânicos e térmicos; 3- A nova legislação sobre o uso de pesticidas (Lei n.º 26/2013, de 11 de abril, que transpõe a Diretiva

De então para cá, embora já haja algumas autarquias a usar a monda térmica e meios mecânicos ainda estamos muito longe de abandonar a prática retrógrada, inimiga do ambiente e da saúde que é o uso de herbicidas nas nossas estradas, caminhos e espaços verdes. Que argumentos apresentam para continuarem com as más práticas? Por parte das Juntas de Freguesia, o facto de nos protocolos celebrados com as Câmaras Municipais para a manutenção dos espaços públicos não haver nenhuma cláusula que proíba o uso de herbicidas; Por parte de todos os responsáveis pelos referidos espaços, a falta de pessoal associada a razões orçamentais; O facto de os herbicidas serem inofensivos, apesar da existência de diversos estudos que evidenciam um conjunto de problemas de saúde por eles provocados, como cancros e a doença de Parkinson e de serem responsáveis pela diminuição de algumas espécies de aves e de anfíbios.

Até quando vamos ter à frente das várias instituições pessoas que só se preocupam com as aparências e não com as questões de fundo? Até quando vamos ter como dirigentes pessoas que colocam em segundo lugar (ou em último) a saúde e a qualidade de vida das pessoas?

J. Braga (CAES)


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ASSOCIAÇÕES

Quercus - ANCN CAUSAS DE AMEAÇA À BIODIVERSIDADE

Envenenamento Em Portugal são envenenadas anualmente centenas de animais domésticos e selvagens protegidos por lei. A Quercus tem trabalhado com caçadores criadores de gado, população em geral, grupos escolares e autoridades no sentido de tentar acabar com esta prática ilegal. Os grupos de fauna mais afectados que deram entrada no CERAS foram as aves de rapina diurnas, na sua maioria abutres, águias e alguns mamíferos. O envenenamento é uma das principais causas de mortalidade não natural de espécies em perigo de extinção como o abutre-preto, a águia-imperialibérica ou o lobo-ibérico e de centenas de animais domésticos nomeadamente cães e gatos. Porque se usam os venenos? A principal motivação para o uso de venenos é a eliminação de animais considerados nocivos. Os predadores das espécies cinegéticas e pecuárias são as espécies alvo e neste grupo incluem-se a Raposa, o Saca-rabos, o Lobo-ibérico, várias espécies de aves de presa, assim como cães e gatos assilvestrados, que quando abandonados nos campos atacam o gado doméstico e espécies cinegéticas. Também são frequentes os casos em que o uso de venenos é provocado por conflitos e desentendimentos entre pessoas. O uso de venenos como forma de extermínio está completamente proibido pelas leis nacionais e europeias e é uma prática irresponsável que pode ter consequências graves para a Saúde Pública e Biodiversidade. Quais as suas consequências? Em Portugal, o uso de venenos está referido como uma causa das principais de diminuição acentuada e extinção de várias espécies protegidas. Este facto deve-se principalmente aos seguintes aspectos: 1. É um método não selectivo de eliminação de animais, por isso podem ser afectadas muitas espécies para alem daquele às quais os iscos envenenados se destinam.

2. O veneno aplicado em iscos é ingerido por um animal que acaba por morrer. Estes animais são por sua vez consumidos por outros, que acabam também por ser vítimas. Estas situações de envenenamento secundário sucessivo podem tomar proporções incontroláveis e imprevisíveis, sendo afectadas diversas espécies, principalmente aquelas que ocupam o topo da cadeia alimentar. 3. As espécies mais vulneráveis são as que têm hábitos alimentares necrófagos, ou seja, as que ingerem animais mortos ou pedaços de carne. Entre estas destacam-se o Lobo-ibérico, as três espécies de abutres que ocorrem no território Português – O Grifo, o Abutre-negro e o Abutre- doEgipto, e várias espécies de aves de presa como o Milhafre real, a Águia Imperial e a Águia Real.

O que podemos fazer? Sempre que possua informações sobre o uso, posse e venda de venenos ou sobre casos de envenenamento contacte o Programa Antídoto. Visite o site: http:// antidoto-portugal.org PARTICIPE, DENUNCIE! A sua colaboração é fundamental.

Quercus, 07/09/2020


NOTAS BREVES

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ENTREVISTA: AMIGOS DOS AÇORES E QUERCUS

Ambiente necessita de regulação e de fiscalização “credíveis” JORNAL AÇORES 9 04/10/2020 Os Açores carecem na área do Ambiente de sistemas de regulação e de fiscalização “credíveis”, apesar de terem evoluído “muito significativamente” em matéria legislativa, dizem associações ambientalistas. Amigos dos Açores “Nas últimas décadas, tem-se evoluído muito significativamente em matéria legislativa na área do ambiente”, mas, “no entanto, carece-se de sistemas de regulação e de fiscalização credíveis“, defendeu o presidente da associação ecológica Amigos dos Açores, Diogo Caetano, em declarações à agência Lusa. O ambientalista falava a propósito da próxima legislatura, que vai emanar das eleições legislativas de 25 de outubro. Para Diogo Caetano, é importante “valorizar um sistema de gestão territorial e ambiental que esteja assente numa visão política a médio longo prazo e não assente em legislaturas de quatro anos, com uma governança adequada ao contexto”. “Numa região que se orgulha de rótulos ambientais e turísticos reconhecidos internacionalmente, necessitamos de uma governança mais efetiva, com uma política ambiental mais integrada, envolvendo a participação dos cidadãos, e não medidas

muitas vezes avulsas ou discricionárias que podem ser facilmente confundidas como propaganda. Mais que nunca, nesta era da sociedade de informação globalizada, já não basta parecer”, declara Diogo Caetano. O ambientalista aponta que “um dos aspetos mais negativos “da ação do atual executivo regional, socialista, “tem sido o apoio do Governo Regional à construção de uma incineradora na ilha de São Miguel, que já se percebeu ser, para além das questões significativas ambientais, desajustada à escala populacional e ao arrepio da vanguarda das políticas de gestão de resíduos europeias, que se deveria primar por integrar”. Di ogo Ca et ano id ent if i ca ai nda co mo aspetos negativos a “falta de investimento na criação de meios para a dispersão dos turistas ao longo do território das ilhas” e a “tentativa de melhorar miradouros, muitas das vezes com propostas desajustadas ao contexto local, como aconteceu recentemente na Lagoa do Fogo”. Para o responsável dos Amigos dos Açores, “têm sido tomadas boas decisões, como a elaboração dos planos de gestão das áreas protegidas, que estavam legalmente previstos há mais de 10 anos e, por isso, peca por ser de decisão tardia, bem como na evolução na gestão das áreas marinhas protegidas ou a criação do sistema de cadastro, que poderá potenciar uma melhor gestão territorial”.


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NOTAS BREVES

Questionado sobre o que espera da próxima legislatura nos Açores em termos ambientais, Diogo Caetano afirma que “não há mais tempo para colocar o foco em galardões sem que os mesmos resultem de mudanças significativas ao nível de políticas ambientais que se efetivem ao nível do cidadão”. Para o ecologista, os açorianos “para se capacitarem, necessitam de maiores e melhores meios de participação pública”, sendo “urgente que os políticos percam o medo e reinventem a participação pública para prestações efetivas e eficazes por parte dos cidadãos, do mesmo modo que se reinventam na procura da confiança pelo voto a cada ciclo eleitoral”. Quercus - Açores Também em declarações à Lusa, Rui Coutinho, da direção do Núcleo de São Miguel da Associação Nacional de Conservação da Natureza Quercus, refere que, “nos últimos vinte anos, assistiu-se à elaboração de um conjunto de instrumentos de gestão territorial, abrangendo áreas tão diversas como o ordenamento do território – plano regional do ordenamento do território, planos municipais de ordenamento do território, plano de recursos hídricos, plano regional do turismo, planos de gestão de parques naturais, etc”.

“Alguns destes instrumentos já foram alvo de revisões e respetivas atualizações. Não obstante, uma das ferramentas mais importantes para a avaliação destes planos, e que tem sido descurada, consiste na sua monitorização. Embora esta medida emane da própria legislação e seja desenvolvida pelas entidades competentes, penso que deveria merecer maior atenção, ser dotada dos meios humanos adequados à sua consecução e acompanhada por entidades independentes, no decurso da sua realização”, afirma o dirigente. Apesar de considerar que “há muito trabalho meritório desenvolvido na área do ambiente”, Rui Coutinho afirma que não pode “deixar passar em claro a continuada e conveniente atitude do ‘nim‘ no que se refere à vetusta, triste e sempre presente estória da incineradora que se pretende construir na ilha de São Miguel”. Na próxima legislatura, o responsável da Quercus refere que, “como cidadãos, deve-se exigir o cumprimento das políticas conducentes ao verdadeiro desenvolvimento sustentável dos Açores” e não “esquecer a obrigação de escrutinar exaustivamente o desempenho de quem governa”.


NOTAS BREVES

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PONTA DELGADA (SÃO MIGUEL)

Salvemos as árvores Salvemos as árvores da Rua de Santana ameaçadas pela construção dum parque de estacionamento. Há uma semana alguns cidadãos aperceberam-se que, devido à forma acelerada como estava a decorrer a movimentação de camiões e máquinas escavadoras num terreno na Rua de Santana com o objetivo de construir um parque de estacionamento, as árvores aí existentes, em que se destaca um notável Ulmeiro, corriam sérios riscos de sobrevivência saudável.

Gerou-se um amplo movimento cívico visando a defesa daquelas árvores e muitos cidadãos enviaram mails à Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada alertando para a importância de salvaguardar o património arbóreo, o que é perfeitamente compatível com a construção do parque, embora com menos alguns lugares de estacionamento. Neste momento, como é possível verificar nos registos fotográficos realizados no fim de semana, parece estar salvaguardada a vida de seis árvores de espécies e origens diferentes: Ulmeiro (Ulmus minor) – Europa Central e do Sul;  Jacarandá (Jacaranda mimosifolia) – Argentina e Bolívia;  Dragoeiro (Dracaena draco subsp. draco) – Madeira, Canárias, Açores, Cabo Verde (Macaronésia);  Salgueiro-chorão (Salix babylonica) – China, Norte e Centro;  Ligustro ou Alfinheiro (Ligustrum lucidum) – China, Coreia e Japão;  Árvore-do-fogo (Brachychiton acerifolius) – Austrália. 

As perspetivas são positivas, mas até ao fim das obras é importante estarmos atentos. As copas deverão ser criteriosamente tratadas e a compactação do solo não poderá afetar a saúde das raízes. Se este processo de preservação das árvores da Rua de Santana for exemplar, o património natural e cultural de Ponta Delgada será o único vencedor!

https://www.facebook.com/ arvoresdosacores

Ulmeiro (Ulmus minor)


O Jornal-Eco Jornal Ecologista dos Açores

Número 01: https://drive.google.com/file/d/1ZRNw8FqkZ-w7H-thQxJckK4CRMY4vVWN/view https://issuu.com/jornal.eco.acores/docs/jornaleco_n01

Número 02: https://drive.google.com/file/d/1EKGegdp4B3zt6da-buqzrv3W06k31Yxm/view https://issuu.com/jornal.eco.acores/docs/jornaleco_n02

ORGANIZAÇÕES PARTICIPANTES Amigos dos Açores - Associação Ecológica Amigos do Calhau - Associação Ecológica Associação Botânica dos Açores Avifauna dos Açores Colectivo Açoriano de Ecologia Social Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores Quercus - Núcleo Regional de São Miguel Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves - Açores

CONTACTO O Jornal-Eco jornal.eco.acores@gmail.com


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