A Parada n. 1

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A Parada

Nº 1 Belo Horizonte, 09/2004

Pensa aí!

A Menina Amarela

O cefetiano Alisson H. Teixeira disserta sobre Universidades públicas e a realidade nacional (p. 3)

Nesta edição, Priscila, a menina amarela, fala sobre espinhas, alimentação e seus pais - pouco convencionais. (p. 6)

Toca Raul! Jogo de Reis

Mariana e Douglas Two explicam: Qual a diferença entre Punk Rock e Hard Core? (p. 5)

Flávio Gonçalves e Igor Ribeiro ensinam, nesta edição, notação para o registro e análise das partidas. (p. 4)

Memórias cefetianas Carlos Marques introduz sua coluna e relembra os tempos em que estudava no CEFET. (p. 5 e 6)

Zapeando Vanderley Freitas comenta fatos lamentáveis da atual TV brasileira e critica a manipulação indiscriminada. (p. 6)

Crônicas de Açougue Matheus Cabral - O Açougueiro - prevê uma inusitada revolução na primeira parte de A Invasão Boliviana. (p. 7)

Deu pau! Internet, informática, jogos e todo o tipo de lixo que você recebe por e-mail. Tudo isso sob a visão distorcida e hilária de Anderson Nunes - O Ganso. (p. 4)

Crie um verso Poesia de Fernanda Cosso ilustrada por Daniel Bilac (p.8)

- Marco Anhapoci Cronista revive os tempos da infância nos anos 90. (p.7)

Sina (capa), brilhante crônica de Lívia Ribeiro. (p. 3) Bilac

Repasse essa parada


EQUIPE

NOTA DA REDAÇÃO

Alisson Teixeira O homem da teoria sóciopolítica Matheus Cabral ‘Açougueiro’ Vanderley Freitas Um carinha de óculos Anderson Nunes ‘Ganso’ Marco Anhapoci Saudoso cronista Bilac Idealizador, editor e ilustrador Thiago Silva Tião, ilustrador Fernanda Co-editora e poetisa Flávio Gonçalves Poeta e enxadrista Igor Ribeiro Enxadrista convicto

Olá, leitor.

Priscila A menina amarela

Faz-se necessário um breve esclarecimento sobre o singular título desta singela publicação. Para isso, começo por aquele que nos inspirou a assim batizar o nosso trabalho, Gustavo (figura acima) - loiro, alto, violão, sorriso aberto: esse Gustavo, mesmo. Ao ser questionado sobre pormenores que tocam a organização de um periódico, esclareceu da forma que só o próprio faria: “Traz as paradas para cá, que a gente bota nA Parada ali. Quando tiver muitA Parada, a gente junta as paradas e publica A Parada aí.”. Na falta de um nome de peso, surge Lívia e sugere o óbvio: “A Parada” - (óbvio, após a citada contribuição hilária). Talvez ainda a levemos a sério demais... De qualquer forma, isso atende e preenche questões nascidas no início do planejamento: ‘Isso é um jornal?’, ‘Isso é uma revista?’. Agora ‘isso’ é A Parada e pronto. Pega A Parada aí, lê A Parada e vê se gosta. Até o próximo número, Bilac.

Igor Rafael Modesto grande músico Lívia Ribeiro Escritora diabólica Geison ‘Jazão’ Douglas Two Aglomerado capilar Mariana Machado ‘Punkeka’, Punk Pati Carlos Marques Escritor secreto Sílvio Romero Totoro, Diagramador

AGRADECIMENTO ESPECIAL:

Bilac

Jacqueline de Cássia, Gustavo Amaral, Irene Bertachini, Profª Valdi Cecília, Amauri de Paula


Sina Lívia Ribeiro

Bilac

Nada mais o emocionava. E ele não se emocionou quando constatou isso. Tentou remediar, mudar a situação, mas nada funcionava... Nem o batidão de vodka com água da torneira que tanto o encantava na adolescência, nem um gol aos 47 do segundo tempo, nem uma bela garota, nem um bom combate... Simplesmente parecia que nada mais faria a diferença, nada mas importava. Só essa sensação de que nada mais o emocionaria é que incomodava. Então veio o desespero. Pensou em assaltar um banco, pensou que isso pudesse fazer a diferença. Tentou se lembrar de como era ter adrenalina correndo nas veias e tentou se convencer de que se isso acontecesse, ele se emocionaria. Mas, o que ele faria com todo o dinheiro? Hum... dinheiro é papel, então... então... então depois ele cortaria tudo com a tesoura. E como assaltaria o banco? Continuava a questionar-se... COM UMA PEDRA!!! Isso aí, é o velho jogo: pedra, papel e tesoura. Ele já conseguia ver as manchetes, já conseguia escutar os boatos que antes diziam que guardar no banco era guardar a sete chaves, no sétimo céu, e agora diriam que lamentam informar, mas o banco foi roubado. E veio a execução. A pedra. O vidro do banco. Os estilhaços. A gritaria. E os passos calmos dele até o cofre. ( O que aconteceu com a adrenalina? Não era para ela estar aqui agora?) E veio o cofre. E a descoberta de que pe-

dras perdem para papel e para metais. E a segurança. (E agora?) E a polícia e a prisão. E a emoção passou ao lado, como se nem existisse. E veio o julgamento. E a contratação de um bom advogado, afinal todos sabem que a qualidade do advogado é diretamente proporcional ao grau de culpa do réu. E mesmo enquanto estava sendo julgado, tendo sua liberdade em jogo, enquanto ele quase falia toda a banca, não bancando o inocente, ele continuou lá, impassível. Nada disso o emocionou. Ele foi inocentado. Agora, além de não se emocionar mais, ele também não confiava mais na justiça (algum dia tinha confiado?). E é complicado dizer isso, pois, para falar a verdade, ele não acreditava em nada. Foi para casa e subiu para o telhado. Ficou lá sentado olhando o pôr-do-sol a uns quatro metros do chão sem emoção o suficiente para se suicidar e sem acreditar em vida depois da morte. Sentado lá, olhando para o horizonte, ficou pensando até já ser noite alta, até a Lua Cheia já estar distante do horizonte. E pensando, ele decidiu conhecer todas as pessoas do mundo. Com isso, ele, sinceramente , esperava que voltasse a ter emoções. Desceu do telhado, pegou o casaco e uma bolsa que ele encheu de comida e foi andando e andando e andando ainda durante a noite, sem encontrar ninguém pelo caminho. Já era alta madrugada quando as coisas começaram a mudar. O tênis o incomodou e ele os retirou e colocou, bonitinhos, dentro da bolsa esperando dar para o primeiro necessitado que encontrasse. Enquanto caminhava, cabisbaixo e sem tênis, ele observou que nasciam flores do asfalto e colheu todas que viu, planejando dar para a primeira mulher que encontrasse. E quando o dia já estava amanhecendo, ele encontrou uma mangueira e de lá retirou muitas mangas, tal como fazia na infância, e quis dar para a primeira criança que encontrasse. E foi então que ele viu. Havia uma pessoa do outro lado da rua, no ponto de ônibus. Ele não sabia dizer ao certo se era homem ou mulher, mas, pela estatura poderia até ser uma criança. E para ele também não importava quem era, ele via, na pessoa, a grande chance de salvação. Andou até ela com as mãos cheias de muitas flores que havia colhido do asfalto, a mochila lotada de mangas roubadas de um quintal desconhecido e os pés ainda descalços. Antes de chegar ao outro lado, seu corpo chocou-se violentamente com um caminhão ( ou foi um caminhão que se chocou violentamente com seu corpo?) e ele pousou a alguns metros de distância, as flores se espalharam pelo asfalto como se, por alguns segundos, chovesse, e as manA PARADA - número1 - página 03

gas e o tênis se perderam em um matagal próximo. Ele não demorou muito a morrer, mas, antes disso, uma coisa realmente aconteceu: ELE NÃO SE EMOCIONOU.

PENSA AÍ! Tião

UNIVERSIDADES PÚBLICAS E A REALIDADE NACIONAL Alisson H. Teixeira

Do período militar até os dias atuais, tivemos universidades pouco voltadas para as necessidades e vocações nacionais. Seja do ponto de vista social, estratégico ou mesmo ambiental, os governos passados não fizeram das universidades uma ferramenta de desenvolvimento ativa. As últimas décadas foram marcadas por universidades funcionais, de resultados e objetivos imediatos que, em pouco, ou nada, alteravam a realidade nacional. Nos últimos anos, experimentamos um ensino superior extremamente mercadológico e, portanto, limitado aos interesses comerciais e, em alguns


casos, lamentavelmente, subordinado ao setor privado. O Brasil precisa de uma universidade pública interdisciplinar, que tenha vocação para ajudar a combater as desigualdades e injustiças, mas de um jeito diferente do estado, com programas e estudos que efetivamente mudem os rumos da sociedade, com uma visão além das prerrogativas comuns da mídia e da política partidária. As atividades de ensino e pesquisa das universidades devem ser direcionadas para a elaboração de modelos de crescimento sustentáveis, que explorem os recursos ambientais de forma responsável e planejada, não deixando que os interesses de grupos políticos e econômicos deixem suas marcas de agressão no futuro deste país. Basta pensarmos nas riquezas minerais, biodiversidade e abundância de luz solar para vermos que há muito trabalho e possibilidades nessa combinação de políticas e perspectivas públicas que contem com a colaboração do valioso recurso humano das universidades. A comunidade científica, os intelectuais e os estudantes nacionais precisam direcionar o ensino para um futuro difícil no Brasil e no mundo. A postura acomodada desses segmentos pode significar incapacidade de superar obstáculos futuros com o crescimento populacional, do número de excluídos e escassez de recursos. O preparo é fundamental para que essas dificuldades não se transformem em perigosas desestabilizações políticas. Essa é a hora de passarmos, junto ao governo federal, a mensagem: educação para a transformação de nossa realidade a fim de retribuirmos o financiamento da universidade pública pelas classes que menos usufruem da mesma. O governo deve fazer das universidades ferramentas para um projeto de desenvolvimento sustentável, progressista e igualitário reduzindo a influência privada nas iniciativas de pesquisa por objetivarem apenas o lucro.

Deu Pau! Icq – FOOOOOOM!!!

Putz! Essa foi uma fonte de inspiração para o nome da coluna. Mas, apesar dos inconvenientes bugs, o ICQ é um poderoso meio de “comunicação na net” (leia-se “spam”). “Oi!”, “coleh!”, “Fala fi” e “baum doidin?” são exemplos de boas mensagens, mas, pelamordedeus!, vamos combinar de parar de mandar aqueles textos pedindo 1 centavo para Bilac

Jogo de Reis Flávio Gonçalves & Igor Ribeiro

a menina africana com câncer! E, não! Eu não acredito que a praga das mil vacas mancas vá cair sobre mim, acarretando impotência eterna, caso eu não repasse a mensagem para mais 1024 pessoas! Lembro-me vagamente da época do ICQ98. A Internet (por dial-up, e só) era muito menos popular e alguns vacilões até pediam ajuda para instalar: “Duh... Que que é esse treco de IP aqui?”. Pelo menos, o programa era muito mais leve e travava menos, embora já usasse os clássicos e enjoados barulhinhos “Ô-ou!” e aquele apito de trem enquanto carrega o programa. Meu Deus, para quê aquilo? Meu UIN é desses tempos, tem 8 dígitos apenas: 42-395436. A história do ICQ (do inglês: “I Seek You”) é de tirar lágrimas de qualquer coração endurecido. Divulgado em 1996 pela empresa israelense Mirabilis, constituída por três jovens, e que foi comparada pela monopolizadora AOL, a nova solução para comunicação P2P na net bateu vários recordes ainda em 1997, como o de 850 000 registros. Sintam-se à vontade para me enviar mensagens, irei me sentir do mesmo modo para ignorá-los :p. Anderson Nunes Alves Peixoto GANSO Críticas, sugestões ou qualquer coisa: andnap@terra.com.br Sites relacionados à matéria: www.icq.com company.icq.com/info/icqstory.html

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Caro leitor, É com muita alegria que nós, Flávio Gonçalves e Igor Ribeiro, iniciamos a nossa coluna de xadrez em A Parada. A partir dessa edição, traremos para vocês diversas informações acerca desse magnífico jogo de raciocínio e lógica. Tentaremos ser bem objetivos, sem, contudo, deixar que nossas matérias percam o sabor e o interesse. Por fim, pretendemos, com esta coluna, entreter, informar e auxiliar aqueles que já praticam o jogo em nossa escola e, talvez, despertar naqueles que não jogam, o gosto pelo xadrez. Como primeira matéria, faremos uma “introdução” ao jogo, tratando de alguns aspectos básicos, a começar pela notação. A notação, em xadrez, decorreu da simples divisão do tabuleiro em linhas e colunas. A partir de então, tornou-se possível registrar partidas de mestres, tal como suas análises, com a conseqüente evolução do jogo, que passaria a herdar experiências passadas. Um bom exemplo de como isso foi importante, está no fato de que, só através da notação, pôde-se desenvolver recentemente programas de computadores capazes de desafiar o raciocínio do homem no “jogo dos reis”. A cada lance, corresponde uma notação, assim definida: - Primeiro deve ser colocada a letra inicial da peça a ser movida, em maiúsculo. No caso de peões, a letra deve ser omitida. - Depois, coloca-se a casa de destino da peça, orientada em uma linha e coluna específicas.

Obs: *A captura de peças deve ser representada por um ‘x’. *Se duas peças iguais puderem se mover para a casa desejada, a casa de origem deve ser especificada. Como exemplo, traremos a notação de uma partida simples, jogada por um de nossos autores. Serão definidas também algumas idéias norteadoras do jogo.


1. e4, e5; estabelecendo o domínio do centro, indispensável por permitir a mobilidade das peças 2. Cf3, Cc6; as brancas desenvolvem uma peça e ameaçam o centro inimigo, que é bem defendido por Cc6 3. Bc4, Bc5; colocando os bispos com seu campo de ação direcionados para os reis inimigos; traz o intuito de pressionar e criar instabilidade no jogo adversário 4. c3, Cf6; as brancas, com c3, ameaçam irromper, no centro, com o peão da dama (d), no próximo lance 5. d4, exd4; 6. cxd4, Bb4+; ‘+’, indica xeque 7. Cc3, 0-0; as pretas declinam de capturar o peão de e, possível, pois o cavalo branco em c3 está impossibilitado de mover-se devido ao bispo preto em b4 – diz-se que o cavalo está “cravado”. Com 0-0 (roque), optam por proteger o rei. 8. e5, Ce4; 9. 0-0, Cxc3; se 9...Bxc3; 10. bxc3, Cxc3; 11. Dc2 e o cavalo está perdido. 10. bxc3, Bxc3; 11. Cg5! ‘!’, indica bom lance. Desafio Fica como desafio a interpretação do lance 11. Cg5!, das brancas. Na próxima edição, mostraremos como a partida foi decidida, após as pretas terem aceitado o sacrifício da torre em a1, com 11... Bxa1. Qualquer sugestão, dúvida sobre a coluna ou sobre o jogo, ou assunto que queira ver discutido numa próxima edição, tratar diretamente com Flávio Gonçalves ou Igor Ribeiro.

Toca Raul!

o volume dos instrumentos e a velocidade. Rolavam também letras politizadas. O ápice do punk foi atingido no final da década com as bandas (muito fodas) Ramones, nos EUA e Sex Pistols, na Inglaterra. Apesar de um pouco diferentes nas músicas, principalmente nas letras, essas duas bandas simplesmente revolucionaram a música e a atitude jovem da época. Com a “primeira queda” do punk, no início da década de 80, ele (assim como energia para) se transformou em vários novos estilos: o póspunk, que traz uma nova cara para a música, mas sem frescura. Mas também trouxe o new wave, que direcionou mais para o pop, voltando ao “glam” do começo dos anos 70. Mas daí, aquele povo que ainda via esperança no punk pensou: o punk não morreu! Vamos fazer algo ainda mais barulhento, rápido e politizado. Daí vem o hard core californiano com bandas tocando duas vezes mais rápido, tipo Dead Kennedys. No final da década de 80 e no início da década de 90, surgem bandas como: NOFX, Rancid e Bad Religion, fazendo injustiça com mais um monte de gente que nem dá para citar. Há quem arrisque dizer que a diferença básica seja mesmo a velocidade. Ainda há quem diga que o que importa mesmo é a atitude. Pois bem, fica a seu critério, meu caro leitor, acatar o que melhor lhe couber (ou não). O que importa mesmo é que Hard Core é uma das melhores coisas dessa vida. O que eu não entendo ainda é a graça de gritar “toca Raul” em todo show do Matriz…

(Do You Remember?) Rock’n’roll Radio

Hard core. | hAd’kó | (lê-se had’có). S. (Ing.) balastro; (fig.) alma; núcleo irredutível de resistência/ a. pesado; sem disfarce. O Hard Core, como estilo musical, surgiu em meados da década de 80, um pouquinho depois do auge do movimento punk. Daí vem a pergunta: qual a diferença (se é que tem diferença) entre Punk Rock e Hard Core?! Tem gente que diz que não tem diferença, que não tem cabimento algum comparar os dois, já que existe o “punkcore”. Tem gente que fala que é bem relativo, que um é mais rápido que o outro, que é mais politizado, e por aí vai. A melhor definição, dada pelo Varginha (baterista da banda “Colega Nestor”), foi: hard core é tipo Dead Fish e Punk Rock é tipo Ramones. Para quem não conhece muito bem, e não entendeu direito, a gente explica. O punk rock foi um movimento musical e social que surgiu na Inglaterra e nos Estados Unidos em meados do anos 70. Era um tipo de música que retomava as bases do rock: três acordes apenas e melodias bem simples. A diferença era apenas

Mariana Machado (ou Punkeka), pati com carinha de emo, fã de NOFX, freqüentadora assídua do matriz, e agora colunista (quem vê, até pensa…). Douglas (ou Two), cabeludo orwelliano, fã de positive punk, política, literatura e que adora dançar o bom e velho pogo em tardes ensolaradas de sábado.

Memórias Cefetianas Carlos Marques

Leituras essenciais - Parte 1 Um dia desses eu me peguei recordando sobre meu primeiro dia no CEFET. Lembro-me razoavelmente bem da aula inaugural no Auditório, das palavras do então diretor Carlos Alexandrino sobre o filho dele que queria muito fazer CEFET, mas não passou, lembro que alguém ligado ao Grêmio tocou aquela música A PARADA - número1 - página 05

sobre saber e fazer a hora, não esperar acontecer, lembro muito bem da turba de veteranos esperando do outro lado da porta de vidro, ansiosa e sedenta por dar trotes nos acanhados calouros. Eu me lembro de um calouro que bateu a cabeça na porta de vidro, mas não sei dizer se foi dessa vez ou em outra ocasião no Auditório. Dada a natureza intrínseca dos calouros, eu acho que mais de um bateu a cabeça na porta de vidro, pode ter acontecido naquele dia. Mas, havia no auditório um ex-aluno, não me lembro do nome ou da fisionomia do sujeito, que fez um breve discurso sobre como foi agradável e produtiva a vida dele no CEFET, como foram bons os amigos que ele fez, as meninas, as coisas que estudou e os livros que leu. Ele disse que sempre se lembrava dos livros que leu quando voltava ao CEFET. Eu não duvido dele, os livros que você lê nessa idade acabam marcando-o muito. Agora que eu sou também um ex-aluno, devo admitir que, entre outras mil coisas, entre pessoas das quais eu vou me lembrar para sempre e outras com as quais eu não quero nunca perder contato, no final das contas, eu acabo me lembrando mais dos livros que li. Como disse Jorge Luis Borges, o escritor argentino, “eu tenho muito orgulho dos livros que li.” É muito bacana ver esse monte de gente que adquiriu o hábito de leitura, tão pregado pelos professores, mas quando a grande maioria das pessoas que eu vejo por aí com um calhamaço debaixo do braço, só lê o que é moda, Harry Potter e Tolkien, não dá para não ficar levemente desapontado. Isso porque a alta literatura tem assuntos tão divertidos quanto esses autores, mas muito mais profundos e abrangentes. Alguns autores não parecem inventar histórias ou cenas, parecem inventar o que é o ser humano. O objetivo desse texto é então apontar dez leituras essenciais que vão além dos livros que estão entre os mais vendidos, leituras que fazem a cabeça de um adolescente incendiarse com todas as possibilidades da vida, com todas faces do ser humano. Dos livros que escolhi a grande maioria eu li enquanto estava no CEFET, e sempre me lembro deles quando visito a escola. Na minha mente quase posso ver Raskolnikov de Crime e Castigo andando pelos corredores com um olhar perdido e paranóico; Stephen Dedalus, de Retrato do Artista Quando Jovem, dividindo um cigarro com Holden Caulfield de Apanhador No Campo de Centeio no hall, o Major Policarpo Quaresma, de Triste Fim de Policarpo Quaresma, trabalhando em algum escritório da administração e os problemas de todos alunos em crise existencial sanados pelo emplasto Brás


Cubas do livro de Machado de Assis. Aqueles que gostam de ler não vão discordar das minhas dez recomendações. Dez livros que podem torná-lo outra pessoa, livros cuja melhor hora para ler é agora. E o melhor, todos eles se encontram na biblioteca do CEFET. E como eu quero que, com esse texto, pessoas que achem que ler é coisa de gente chata pensem em encostar em algum livro e desenvolver algum gosto por literatura eu começarei minha lista com algo bem fácil, leve e agradável. A minha primeira recomendação é Apanhador no Campo de Centeio de J. D. Sallinger sobre a qual vou falar na próxima edição de A Parada. Nas próximas A Parada eu vou falar de... * O Apanhador no Campo de Centeio - J.D. Sallinger * Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley * Caninos Brancos - Jack London * O Lobo da Estepe - Herman Hesse * Retrato do Artista Quando Jovem - James Joyce * Hamlet - Willian Shakespeare * Grandes Esperanças - Charles Dickens * Crime e Castigo - Fiodor Dostoievski * Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis * Triste Fim de Policarpo Quaresma - Lima Barreto

A Menina Amarela Priscila, a menina amarela

Estou com babosa espalhada pelo cabelo e uma máscara de argila no rosto. Fitoterapia e Geoterapia, respectivamente. Onde é que nós nos enfiamos para satisfazer a vaidade!? Mas é mais por cuidado [que por vaidade]. A terra nos oferece tanto e logo ali, ao alcance de nossas mãos! Falta agradecimento e respeito. As facilidades oferecidas são imensas, mas a boa vontade para mudar é pequena. Uma vez pedi aos meus pais, que trabalham como voluntários em um posto

holístico em Santa Luzia - MG, uma pomada ou, talvez, uma tintura que acabasse com as odiosas espinhas. Amorosamente, virei piadinha: “Ah! Mas o que você quer é uma poção mágica” pais com senso de humor, quem agüenta? Estive pensando e devo admitir que isso é a mais pura verdade! Como posso desejar que as espinhas e cravos acabem se eu não me modifico? Os hábitos alimentares continuam os mesmos, a forma de ver a vida também e os hormônios ainda estão naquela fase de loucura e inconstância... Deve haver um meio. Meu pai já tratou de uma garota no posto holístico que também estava saturada de espinhas. Além da medicação receitada (como era de se esperar) teve que mudar a alimentação errônea com que estava acostumada. Os produtos de origem animal estavam cortados da dieta dela por, pelo menos, 3 meses. Junto com a mudança de alimentação, os medicamentos receitados ajudaram a expurgar as impurezas do sangue e amenizaram o dano causado pelas erupções. No final desses três meses, a pele dela estava, segundo meu pai, “como um pêssego”. Interessante, mas muito difícil! Se eu, como vegetariana, sofro bastante nas lanchonetes, nos restaurantes e até nas festinhas de família devido à falta de opção, imagine a dificuldade dessa garota! Toda a alimentação do brasileiro é baseada na carne, no leite e nos ovos.. Ela terá que manter essa alimentação se quiser continuar com essa pele, pois, se voltar à outra forma de alimentação (carnívora, artificial e carente de nutrientes), tudo voltará a seu estado anterior. O homem modifica intensamente o ambiente e também os seus hábitos alimentares. A sua adaptação é defeituosa e, devido a esta, surgem vários problemas de saúde. Usam-se inescrupulosamente produtos químicos para conservar os alimentos, intensificar o sabor, modificar a cor... Não pensaram nos prejuízos causados à saúde humana com tais modificações, agora pagam o ‘pato’. Para melhorar a saúde, é preciso cortar ou, ao menos ,diminuir a ingestão de certos alimentos como carne vermelha, em especial carne de porco, bebidas alcoólicas, temperos fortes, café, chá preto, chá mate, chocolate (aí já complicou!), sorvetes, refrigerantes à base de guaraná ou cola, artigos de padaria, balas, fumo e frituras. Noh! Que facada na barriga! É bem difícil deixar de consumir tanta coisa, porém simplesmente diminuir a quantidade já ajuda o organismo a permanecer saudável. Para uma saúde perfeita, o sacrifício é válido.

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Zapeando Vanderley Freitas

Já faz um tempo que a TV apresenta mais desvantagens do que vantagens. A TV, como todos sabem, implica tendências, comportamentos... mas o enfoque desta coluna é “informar” sobre o que anda ocorrendo, de certa forma, por trás das câmeras, ou até mesmo na frente e que, muitas vezes, somos obrigados a fingir que não vemos. Pois bem, iniciemos com um assunto que, ao que parece, já foi esquecido ou melhor “esquecidado”: o caso ‘Tio Gugu e os traficantesseqüestradores’. Para quem não se lembra ou nem estava sabendo, o Gugu colocou no seu programa dominical, o ‘Domingo Legal’, o que seriam dois supostos integrantes do PCC ameaçando o padre Marcelo Rossi, o viceprefeito de São Paulo Hélio Bicudo e os apresentadores José Luís Datena, Marcelo Resende e Oscar Roberto de Godoy. Tudo, para variar, com uma overdose de sensacionalismo que, também para variar, deu um baita IBOPE. Pois bem, depois descobriu-se que tudo era uma grande farsa. O programa chegou a ficar fora do ar por um período, a notícia era manchete em todo o país e a IMAGEM de Gugu estava para lá de embaçada. O mais legal é que o programa já voltou ao ar, mas antes Gugu contratou uma espécie de ‘técnico em imagem’. Resultado: quem ainda tem a coragem de ligar a TV, aos domingos, tem visto o Gugu indo de encontro ao “povão”, abraçando populares na rua, exibição vt’s de pessoas da massa falando coisas do tipo “nossa o Gugu é muito legal, ele ajuda as pessoas, é um homem muito bom...” isso sempre seguido de BEIJOS dados pelo apresentador nessas pessoas! Se você foi capaz de perceber isso e mudou de canal, pode ter dado de cara com uma cena recente da TV brasileira, uma espécie de ‘estação de tratamento’ na TV bandeirantes, no programa ‘Jogo da Vida’, pois só ali você poderia encontrar tanta m* junta!!! Um encontro histórico de JOÃO KLEBER E MÁRCIA GOLDSCHMIDT !!! Fizeram mais sensacionalismo, falaram mal de alguns artistas, enfim, o de sempre... provando que eram realmente merecedores de prêmios como o Troféu Santa Clara entre outros que os premiaram como os PIORES apresentadores da TV brasileira!!!... sem comentários... Não é à toa que programas, como ‘Pânico na TV’, tem registrado índices crescentes de


audiência, pois o programa tem como objetivo satirizar a mídia brasileira, e mostrar que há pessoas que conseguem ver toda a podridão em que ela se tornou... Essa coluna não quer extinguir o público televisivo, apenas apresentar uma “visão” da situação... Nada o impede de assistir o Jornal Nacional, MAS não se esqueça de dar uma olhada no ‘Jornal da Cultura’ que começa logo em seguida pela Rede Minas, que, diga-se de passagem, é uma das únicas emissoras de TV aberta a que ainda se consegue assistir e não ter a sensação que está sendo lesado diretamente de sua sala...

Crônicas de Açougue Matheus Cabral Timóteo

O plano é simples: iniciar a ofensiva às 21:00 horas, aprisionar todos os principais líderes brasileiros e tombar Belo Horizonte, sob o nome de “Nueva la Paz”, como capital políticoadministrativa do Estado Brasil-Bolívia, que será conhecido como o grande e onipotente “Império Boliviano”. E agora? Será que Morales conseguirá concretizar seu plano? Será que um grupo de heróis mascarados brasileiros, liderados pelo Saci Cibernético, salvará o Brasil deste pavoroso futuro? Será que finalmente terei uma chance de praticar meu espanhol? Veja a resposta dessas e de muitas outras perguntas (as quais nem foram feitas) no próximo: Crônicas de Açougue.

Marco Anhapoci da infância até ontem à tarde

A Invasão Boliviana (Parte I) Alguém já pensou em como seria se o Brasil fosse invadido por algum país na intenção deste aumentar seus domínios? Acredito que sim, e que imaginou os EUA como país invasor, estou certo? Porém, imaginemos agora algo um pouco mais improvável: a Bolívia invadindo e dominando o Brasil em apenas 10 horas. Tudo surge de Evo Morales, um boliviano que ficou em segundo lugar na última eleição à presidência de seu país. Mesmo perdendo a eleição, Morales continua sendo muito influente e, devido à crise do atual governo, seu poder aumenta, e com isto, aumentam também seus seguidores. Não tarda a acontecer o inevitável, Evo Morales toma o poder através de um golpe de estado. Passam-se alguns dias e torna-se evidente o crescimento da Bolívia. Com o governo prosperando, Morales passa a ser amado pelos cidadãos de seu país. A Bolívia passa a ser pouco para os bolivianos. Mas pudera, um país tão rico, com um governo tão forte, limitado por fronteiras que o impedem de crescer, é algo muito injusto. Eis que surge um bordão que expressa todo o sentimento expansionista deste povo, “América para os bolivianos”. Aparecem então alguns boatos sobre uma possível invasão da Bolívia ao Brasil, contudo é algo tão insano, que as únicas reações que essa notícia gera nos brasileiros são risadas; que espiões bolivianos, devidamente infiltrados no Brasil, querem ouvir. Eles enviam a mensagem a Morales que inicia seu perverso plano de dominação.

Bilac

O diabo fez manha. Por fim, levantou da cama, bocejou e tentou negociar. Não teve outra saída: teve que me deixar nascer Marco Anhapoci

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A banda Quando era moleque, a meninada resolveu ter uma banda. Na verdade, isso é mentira. Eu nunca fui moleque, só cheguei a ser menino. Mas o que importa era a banda. E a meninada era eu mesmo e a meninada da casa ao lado. Tudo começou com um filme, daqueles que passavam à tarde e empolgavam a gente à tarde inteira. Esse não empolgou a gente porque eu não vi: empolgou só o Batata. O Batata era o mais velho da turma, o que, na época, não era ter mais do que sete ou oito anos. Naquela tarde, ele tinha visto o filme que reunia toda a nossa variada e infantil cultura dos anos noventa: príncipes, surfistas, ninjas na América combatendo o mal. A música tema era Barbara Ann que, traduzida para o nosso inglês fluente, se tornou algo que pode ser escrito como Papo Uen. E era eu, o Batata e o Nico, irmão mais novo, cantando: Pa-pa-pa, pa-papo uen em tudo o que era canto. Isso tudo foi na época em que conseguimos aquelas guitarras de plástico, que têm cordas e tudo. Ficávamos nos degraus da porta da cozinha durante a noite, cantando da forma mais desafinada. Com as novas tendências de se agregar as meninas à brincadeira, vieram também as primas, que enrolavam papel e diziam tocar flauta, e a irmã, que tratava da percussão usando latas de achocolatado. Música mesmo, cada um ouvia a que queria ouvir, que era uma barulheira infernal, mas era uma festa. Ainda me lembro de que o repertório não se restringiu ao Papo Uen. Cantávamos trechos de Cássia Eller e a inesquecível “Águas de março”. Inesquecível porque passamos dias discutindo se as águas eram de março mesmo ou de Marte, o planeta vermelho. Entre serenatas para as mães e ensaios em quartos abafados, já nos sentíamos especialistas. Regulávamos as cordas das violinhas, arrumávamos a ‘bateria’ e havia até a maneira correta de se enrolar o papel para fingir que era flauta, que só a mais velha das primas conhecia e não contava para ninguém, para não perder lugar na nossa banda. Talvez por querer ir além, por pensar que levava jeito ou por gostar mesmo de música, o Batata comprou um violão e começou a ter aula. Foi aí que acabou: não somente pelo fato de que o violão abafava o som das nossas modestas guitarrinhas, mas não tinha graça participar de uma banda onde alguém tinha noções de música. Não aos sete anos. Era hora de arranjar uma brincadeira nova...


Bilac

Crie um verso: O espaço “Crie um verso”, inaugurado por Fernanda Cosso, está aberto a qualquer poeta que aqui queira se expressar, até mesmo os que ainda não sabem que o são. Sendo assim, ponha-se diante de uma folha de papel, empunhe um lápis e crie um verso!

A Parada começa com um grupo de alunos do CEFET - MG que, reunidos, resolveram levar adiante essa idéia. Ajude a fazer o mesmo e repasse essA Parada a um amigo. Se você tem críticas, sugestões ou quer colaborar conosco esporadicamente ou até que a morte nos separe, procure-nos no Campus I do CEFET - MG ou escreva para a_parada2004@yahoo.com.br.

DESAFIO A Ilha da verdade

CRIE UM VERSO Minas Gerais - Fernanda Cosso Minas bela de belos horizontes Com tuas montanhas e montes Com amor vou te cantar Lembrar tuas histórias De derrotas e vitórias De causos para contar Com tua gente interiorana De Ouro Preto, Mariana Comadres, vizinhas Teus quintais cheiram café Pé-de-moleque, pão de queijo Cheiro de quero mais O que me dá Minas Gerais Me dá toda essa gente Que trabalha e é contente E busca ideais Mineiro é cantador É festeiro e tocador Toca a gaita, toca viola Toca o carro de boi Toca a boiada Leva a vida assim tocada Lá no clube da esquina A molecada joga bola Brinca de boneca a menina Mineiro tem fé, Mineiro é orador, Tem igreja para todo santo, Tem santo para toda dor...

Em uma ilha há dois tipos de pessoas: cavaleiros, que sempre dizem a verdade, e trapaceiros, que sempre mentem. Um certo dia, os 2003 habitantes da ilha se reúnem em uma assembléia. Eles se sentam aleatoriamente em torno de uma enorme mesa redonda e cada um deles declara: “Meus dois vizinhos de mesa são trapaceiros.”. No dia seguinte, a assembléia se reúne novamente, mas um dos membros está doente e não comparece. Novamente, eles se sentam aleatoriamente ao redor da mesa, e cada um declara: “Meus dois vizinhos de mesa pertencem a uma categoria que não é a minha.”. O sujeito que ficou doente é trapaceiro ou cavaleiro?

Repasse essa parada e ajude a divulgar essa idéia!!! Converse conosco - podemos publicar suas obras e servir de canal para que você expresse sua arte ou opinião, além disso, somos muito carentes e queremos atenção.

Punkeka

Tião

A PARADA - número1 - página 08


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