Clube Bilderberg

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aprendido a lição, queria esmagar toda resistência, reger o mundo sem o consentimento deste, pela força das armas ou do pão. 131 A duzentos e quarenta metros sobre o chão, a cidade estava quieta. As janelas me isolavam dos sons da urbe. Nesse momento me senti como se olhasse de dentro para fora. Serviria para algo tudo aquilo? Compreenderíamos que nos enfrentávamos um perigo iminente? Um discreto golpe na pesada porta de madeira interrompeu meus pensamentos. ─ Passe ─ disse, apenas elevando a voz. Minha fonte, que levava luvas de pele, cruzou lentamente a soleira, que separava o nu corredor da decoração art deco da suíte. Moveu-se instintivamente para a janela, contemplando momentaneamente a extraordinária vista da área em que o centro de Toronto se encontra com o lago. ─ Desta vez lhes pararam ─ disse a fonte, sopesando cada sílaba como se uma pequena alteração no registro pudesse mudar o significado. ─ A desagregação do Canadá segue em marcha. Só é questão de tempo. ─ Possivelmente ─ disse ─ ou por hora tudo está bem e assim seguirá até o próximo encontro. Possivelmente, para então uns quantos deles morram de velhos ou por acidentes ou causas fortuitas. ─ Fortuitas? Fortuitas para quem? ─ respondeu a fonte. Da revista que mantinha ferreamente agarrada tirou uma série de notas manuscritas, garranchos que eu depois seria capaz de decifrar sozinho. ─ Acreditei que não se permitia tomar notas ─ disse, sorrindo de orelha a orelha. ─ Tomar notas não se recomenda, amigo ─ Corrigiu-me. Dei uma olhada à página. Poderia decifrá-la. Conhecia muito bem essa letra: os «t» apenas riscados e os «r» retorcidos, tudo diligentemente escrito nos limites de um papel pautado. Refleti um instante sobre o que aquele valente arriscava ao reunir-se comigo e me entregar essa valiosíssima informação. Por que não havia mais pessoas como ele no mundo? Possivelmente haja, só que não sabemos da luta que mantêm silenciosamente a milhares de quilômetros de nós. ─ Devo ir ─ disse-me lentamente a fonte sem levantar o olhar. 132 Estendi mecanicamente minha mão aberta em direção da fonte. Justo quando ia encaixar sua mão na minha, equilibrei-me sobre ele e dei-lhe um abraço de urso. ─ Não lhe farei perder tempo agradecendo-lhe, porque nenhum agradecimento será suficiente para compensar o que tem feito por nós. A fonte levantou o olhar. ─ Devo ir. ─ Iremos como entramos ─ disse ─ Com um intervalo de cinco minutos. Eu irei primeiro. ─ Não se preocupe. deixei meu carro no estacionamento subterrâneo.


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