Jorge Adolfo M. Marques, Vila Chã de Sá

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Jorge Adolfo M. Marques

Vila ChĂŁ de SĂĄ A nossa terra e as nossas gentes


Jorge Adolfo M. Marques

Vila ChĂŁ de SĂĄ A nossa terra e as nossas gentes

2008


Título

Agradecimentos

Vila Chã de Sá: a nossa terra e as nossas gentes Aos senhores Prof. José Ernesto Pereira da Silva (Presidente da Junta de

Autor Jorge Adolfo de Meneses Marques

Freguesia de Vila Chã de Sá), Dr. José António S. Fernandes (Secretário da Junta de Freguesia de Vila Chã de Sá), Sr. António José Ferreira (Tesoureiro

Colaboração

da Junta de Freguesia de Vila Chã de Sá), Monsenhor José Fernandes Vieira

Prof. José Ernesto Pereira da Silva

(Jornal da Beira), Padre Daniel Lopes dos Santos (Paróquia de Vila Chã de Sá),

Arquivo Distrital de Viseu

Doutora Maria de Fátima Eusébio (Departamento dos Bens Culturais da Diocese

Edição

de Viseu), Doutora Sara Manuela Augusto (Universidade Católica Portuguesa,

Junta de Freguesia de Vila Chã de Sá

Viseu), Dr. João Nunes (Escola Superior de Educação de Viseu), Drª Maria das Dores Almeida Henriques (Arquivo Distrital de Viseu), Drª Vera Lúcia Magalhães

Financiamento

(Museu da Misericórdia de Viseu), família do Padre António Barbosa, família da Profª. Zulmira, família do Sr. António Pereira Marques Novo (soldado do Corpo Expedicionário Português), Engº. Gonçalo Calheiros e família Lemos e Sousa, Sr. Inocêncio Fernandes Dias, Sr. Joaquim Conceição Pereira, Dr. José Figueiredo, Junta de Freguesia

Irmandade de S. Sebastião de Vila Chã de Sá, Grupo de Cantares de Músicas de Tradição Popular Portuguesa “Cantorias” e antigos dirigentes do GJATC e GITAV, o nosso bem-haja pela colaboração dada durante a realização deste trabalho.


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A2

Viseu

A25

Vila Chã de Sá: vista panorâmica

Vila Chã de Sá

Vila Chã de Sá: vista aérea IP3

Concelho de Viseu

Área: 8,9 km2 População: 1565 (censos 2001) Paróquia: S. João Baptista Armas - Escudo de prata, cacho de uvas de púrpura, folhados de verde, entre dois ramos de pinheiro de verde, frutados do mesmo; em chefe, cruzeiro de negro, realçado de prata; em ponta, quatro burelas ondadas de azul e prata. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro, em maiúsculas:“VILA CHÃ DE SÁ”.


Publicar a história da nossa freguesia era um projecto que tínhamos em mente há muito tempo. Hoje concretizámos essa ambição. A Junta de Freguesia de Vila Chã de Sá ao editar o livro Vila Chã de Sá: a nossa terra e as nossas gentes tinha como objectivos principais procurar dar a conhecer a sua história e património, valorizando-os dessa forma, e fortalecer o gosto de todos os vilachanenses pela sua terra. Pensamos que ao folhear este livro encontrar-se-ão motivos para nos sentirmos ainda mais ligados à freguesia onde viveram os nossos pais, os nossos avós e bisavós, freguesia que nos viu nascer e crescer, onde brincámos e aprendemos a ler e escrever, onde temos a nossa família e amigos. Procurou-se nos vestígios arqueológicos e arquitectónicos, nos documentos escritos, nos jornais e fotografias antigas, recuperar a memória das gentes de antanho, não com um propósito saudosista mas olhando para o futuro, para a importância que tal memória pode ter na educação, no ensino, das nossas crianças e jovens. Não podemos esquecer que um povo sem memória é um povo sem futuro. Este é, como muitas vezes nos referiu o seu autor, um trabalho inacabado. Trata-se de Vila Chã de Sá: poldras na ribeira de Sasse

uma primeira pedra de um edifício que será construído com a colaboração de outros e, se possível, de todos. Nos próximos anos novos trabalhos de investigação sobre a nossa freguesia revelarão e aprofundarão outros aspectos da nossa história colectiva. Haja vontade e engenho e aportaremos novamente a bom porto. À frente da Junta de Freguesia de Vila Chã de Sá há vários anos, não poderei deixar de expressar, nesta ocasião, uma palavra de profundo e sentido agradecimento à minha família, que muito contribuiu com o seu conselho para me ajudar a resolver problemas da freguesia e a todos aqueles que comigo partilharam as responsabilidades autárquicas, tendo sempre como meta o desenvolvimento da nossa terra. Aos membros da Assembleia de Freguesia também o meu bem-haja pelo trabalho em prol do engrandecimento de Vila Chã de Sá. Para finalizar, gostaria também de deixar uma palavra de muito apreço ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Viseu, dr. Fernando C. Ruas, pela sua dedicação e trabalho em prol do bem comum. José Ernesto Pereira da Silva Presidente da Junta de Freguesia de Vila Chã de Sá


Índice

13 Naquele tempo... Vila Chã de Sá das origens ao século XVI 41 A paróquia de S. João Baptista de Vila Chã de Sá 97 Património Etnológico 123 Vila Chã de Sá do Liberalismo à Democracia

Fotografia de Srª D. Margarida Lemos e Sousa na Pedra d’Águia, tendo em pano de fundo uma vista panorâmica de Vila Chã de Sá na década de 30. Em primeiro plano vê-se a casa do sr. Gonçalo Pereira da Silva “Beleza”. Ao longe distingue-se, no meio do casario, a torre da igreja paroquial.


Naquele tempo... Vila Chã de Sá das origens ao século XVI Em quase todas as povoações do nosso país há histórias

em que Santana era competente dado que era dentista;

que nos relatam acontecimentos protagonizados por

precisava da ajuda de alguém para desvendar o mistério.

figuras

passado

Encontrou um sócio para a aventura em Cambetas,

mais ou menos longínquo. Também no imaginário dos

célebres

da

figurão de Vila Chã de Sá, tido como desordeiro

vilachanenses encontramos uma dessas narrativas que, à

militante. Quando havia confusão, lá estava o Cambetas.

parte o recambulesco desenrolar dos acontecimentos, nos

Não se sabe exatamente quando os dois se decidiram a

reporta para a necessidade constante que o homem tem de

encontrar a melhor forma de aceder ao ouro do “Penedo

tentar descobrir a verdade por detrás das lendas…

da Fechadura”. Parece que a dupla Santana & Cambetas

Conta-se em Vila Chã de Sá que lá para os lados da Ponte

organizou uma espécie de procissão ao lugar, segundo

do Entrudo havia um grande penedo que guardava no

consta a ler o Livro de S. Cipriano, talvez para ver se a

seu interior um chorudo pote de libras. O obeso calhau,

monumental rocha se abria como uma casca de noz ao

baptizado popularmente como “Penedo da Fechadura”,

som das poderosas ladaínhas e do seu miolo granítico

era, segundo consta, o rei daquela paisagem desde que

saltavam as moedinhas douradas. Apesar da crença que

Deus criara o Mundo. Ora, vai daí, um tal de Santana,

ambos tinham na lenda geológica e no poder da oração,

regressado do Brasil onde havia estado emigrado durante

não aconteceu nada. Mais, durante a ida até ao penedo,

alguns anos, sendo conhecedor da lenda, começou a

Cambetas foi atingido por uma pinha na cabeça tendo

magicar como havia de abrir a fechadura daquela arca do

concluído do fenómeno natural que se tratava de um

tesouro. Não bastava dar uma injecção no calhau, arte

mau presságio para a empresa. Seria trato do Demónio?

Castelo dos Mouros: casa 12

terra,

ocorridos

num

(pág. anterior)

13


Castelo dos Mouros: muralha

Castelo dos Mouros: localização

Castelo dos Mouros: casas

Para grandes males, grandes remédios. Não abre com

de catástrofes bíblicas, etc. Penso que este é também o

Sudeste-Sul, remonta à Pré-história, mais concretamente

(Vouzela), e uma casa de planta rectangular, também

rezas, abre à bruta. E assim, os dois amigos, pelo menos

caso da lenda do “Penedo da Fechadura”.

ao Bronze Final, período compreendido entre 1200 e

semelhante a casas da Cárcoda. Estas habitações foram

750 a.C. Com duas linhas de muralhas, uma delas muito

construídas na Idade do Ferro. Na Casa II foi encontrada

de ocasião, partiram o penedo à marretada e a guilho e encontraram um monte de … calos, nas mãos.

A história do território que constitui a freguesia de Vila Chã

bem preservada, o Castelo dos Mouros, como muitos dos

uma pequena estrutura de combustão de planta circular,

A lenda do pote de libras dentro do penedo não passava de

de Sá começa há cerca de 3 mil anos, quando as primeiras

povoados fortificados seus congéneres do Noroeste de

tipo fogueira, delimitada por pequenas pedras. Sob o

uma história fantasiosa. Não sabemos com que cara terão

populações se fixaram no povoado fortificado do Castelo

Portugal, foi fundado no final da Idade do Bronze mas

pavimento da Casa I identificaram-se vestígios de um

ficado os dois, depois de tamanha peripécia. Porém, se

dos Mouros. Talvez já anteriormente, desde o Neolítico

terá tido o seu apogeu no período seguinte, a Idade do

pavimento, possivelmente de uma cabana da fase inicial

estes exploradores ainda se encontrassem entre nós, dir-

Final, pequenos grupos populacionais semi-nómadas pré-

Ferro. Esta segunda fase prolongou-se até aos primeiros

de ocupação do castro, a que se sobrepôs a casa da

lhes-ia que nas lendas há sempre algo que pode ser muito

históricos, que viviam da caça, pesca, recolecção e agro-

dois a três séculos da nossa Era, quando o território já se

Idade do Ferro. Esta sobreposição tem-se detectado

útil para o investigador local. Este procurará separar o trigo

pecuária, deambulassem por estas terras uma vez que

encontrava sob domínio romano.

noutros povoados coevos, como no já citado Cabeço do

do joio, como se costuma dizer, isto é, o exclusivamente

são conhecidos na região vários monumentos megalíticos

lendário da história, da verdade por detrás da lenda. E,

dessa época.

neste caso, temos de referir que a lenda do “Penedo da

Couço. Associado aos vestígios da cabana, recolheram-se Entre 1992 e 1996 este castro foi objecto de escavações

fragmentos de uma taça carenada e fragmentos cerâmicos

arqueológicas (COELHO, 1941: 391-392; PEDRO, 1995;

brunidos com decorações incisas pré e pós-cozedura, tipo Baiões-Stª Luzia.

Fechadura” encerra, de facto, algo de verdadeiro no seu

O Castelo dos Mouros é onde se encontram os vestígios

PEDRO, 1996: 177-203; PEDRO, 2000: 155-156) que

âmago, porque nas proximidades onde existiu, situa-se um

mais antigos da presença humana no território que

permitiram colocar a descoberto duas casas de planta

povoado castrejo que, neste tipo de histórias populares,

constitui a freguesia de Vila Chã de Sá. O estabelecimento

circular (Casa I e II), em pedra, iguais a outras já conhecidas

A cerâmica da Idade do Ferro, mais abundante do que a do

está quase sempre associado a lendas de mouras

de populações nesse local, situado entre o rio Pavia, que

em diversos povoados da região de Viseu, como são os

período anterior, apresenta motivos decorativos de que se

encantadas, de tesouros escondidos, de bezerros de ouro,

corre a Noroeste-Oeste, e a ribeira de Sasse, que corre a

casos da Cárcoda (S. Pedro do Sul) e do Cabeço do Couço

destacam os estampilhados.

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Castelo dos Mouros: lareira

Castelo dos Mouros: decoração das cerâmicas (A partir de Pedro, 1995: Est. LVIII)

No

recipientes,

Algumas mós de rebolo recolhidas no Castelo dos Mouros

encontraram-se fragmentos de taças, de potes de pequena,

que

diz

respeito

à

tipologia

dos

testemunham-nos a prática da moagem, que poderia ser

média e grande dimensão, de púcaros e de um coador,

de cereais cultivados nos terrenos envolventes do povoado.

eventualmente para fazer queijo.

No castro da Srª da Guia (S. Pedro do Sul) recolheram-se

Ainda no domínio da cerâmica, foram recolhidos nove

em contexto arqueológico alguns grãos de trigo e cevada

cossoiros que comprovam a prática da fiação. Estes verticilli,

bem como favas e ervilhas, testemunhando o seu consumo

como lhes chamavam os romanos, eram aplicados à ponta

nestes povoados. As mós eram também utilizadas para

inferior do fuso para que este mantivesse a rotação que

farinar bolotas. Estas, depois de secas ou torradas, eram

O mesmo tipo de objectos em bronze, têm sido recolhidos

O gado vacum, para além de fonte alimentar, era também

a fiandeira lhe imprimia. Fiava-se não só lã, intimamente

moídas para fazer um tipo de pão que ainda era consumido

ocasionalmente em trabalhos arqueológicas realizados em

utilizado como animal da tracção, quer em trabalhos

associada à criação de gado ovi-caprino, mas também

na Idade Média, sobretudo em tempos de crise alimentar.

diversas estações arqueológicas da região de Viseu, pelo

agrícolas, quer de carroças.

Castelo dos Mouros: cossoiros

Machados e foices em bronze

(A partir de Pedro, 1995:Est.XLI)

Colecção Arqueológica da Universidade Católica Portuguesa – Viseu

que não constituirá surpresa se no futuro o mesmo se

O consumo de carne não se restringia à proveniente dos

Do conjunto de objectos recolhidos no Castelo dos Mouros,

Na ceifa eram utilizadas foicinhas de alvado, em bronze,

verificar no Castelo dos Mouros.

animais domésticos. Como se tem concluído em alguns

datados do Bronze Final, fazem também parte um conjunto

iguais às encontradas em Stª Luzia (Viseu), no Cabeço

A criação de gado doméstico era comum nestes povoados.

estudos de arqueofauna (CARDOSO, 1996: 160-170),

de objectos em bronze, de que destacamos parte de uma

do Couço e na Srª da Guia. Entre as dezenas de objectos

Já referimos o gado ovi-caprino relacionado com a produção

também era consumida carne de espécies caçadas,

fíbula de enrolamento no arco.

em bronze recuperados neste último castro, incluem-se

de lã (tecelagem). A sua importância era também grande

sobretudo de veado, javali, coelho e de algumas aves. Para

também machados de talão, de um e dois anéis, utilizados

como fonte de alimento, nomeadamente de leite e de

além da caça, também a pesca seria praticada nos cursos

A economia destas populações estava alicerçada na

nas actividades agrícolas, fíbulas, três carrinhos votivos,

carne. O fragmento de coador encontrado no Castelo dos

de água vizinhos do Castelo dos Mouros (ribeira de Sasse,

produção agrícola, na criação de gado, na caça, na pesca

uma fúrcula e um espeto para cerimónias rituais, pulseiras

Mouros parece testemunhar indirectamente a existência de

rio Pavia e rio Asnes).

e na recolecção.

de adorno, etc.

gado produtor de leite.

linho (ALARCÃO, 2005: 67-73).

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Castelo dos Mouros: moeda romana

Três Rios: inscrição rupestre latina

Antoniniano de Cláudio II (268-270) Anverso: busto de Cláudio II à direita, radiado e couraçado. Legenda: […CLA] VDIVS AVG Reverso: soldado de pé, à esquerda, segurando uma lança e um ramo. Aos pés um escudo. Legenda: VIR[VS] AVG

Três Rios: penedo com inscrição rupestre latina

A conquista da Península Ibérica pelos romanos, iniciada

importantes ruínas arqueológicas da época romana,

consideração a reduzida área que foi objecto de escavações

Norte da Península. A partir de então foi encetada uma

em 218 a.C., no âmbito das Guerras Púnicas, não

no Castro dos Três Rios, nome pelo qual é conhecido

arqueológicas. Aí foi recolhido um Antoniniano de Cláudio

profunda reforma político-administrativa que incluiu a

provocou o abandono generalizado dos castros. Embora

o lugar na bibliografia da especialidade. Nesta estação

II

numismático

criação da província da Lusitânia, a fundação de muitas

alguns tenham entrado em decadência, acabando por

arqueológica, para além de vestígios de habitações, há

singular que o castro permaneceu ocupado até ao último

cidades, entre as quais Emerita Augusta, a cidade

ser efectivamente abandonados, muitos outros, talvez

também duas inscrições rupestres latinas de carácter

quartel do século III, como sucedeu em muitos outros

capital, e a delimitação dos territórios das civitates,

a maioria, viveu a sua fase mais importante nos inícios

religioso. Numa delas pode ler-se que Lúcio Mânlio

povoados congéneres? Ou significará que, em virtude da

onde habitavam os vários povos que constituíam os

da nossa Era, já sob domínio romano. O caso mais bem

cumpriu um voto (promessa) ao deus Peinticis. Onde

instabilidade política e militar que o Império vivia nesses

Lusitanos.

conhecido na região de Viseu, que pode ilustrar esse

viveria este romano? Por perto, no território vizinho? Não

tempos, e que levou, entre outras medidas, à construção

Viseu foi uma das cidades fundadas pelo primeiro

processo de romanização, é o do castro da Cárcoda, onde,

sabemos, em boa verdade. O que sabemos é que nos Três

da muralha defensiva da cidade romana de Viseu, o castro

imperador romano, num local onde também existia

para além de abundantes materiais cerâmicos, vítreos e

Rios havia um santuário onde se praticava um culto a

foi reocupado por populações que ali procuraram refúgio

um castro, como se comprovou com as escavações

numismáticos ali encontrados, também a arquitectura

uma divindade indígena, talvez relacionada com as águas

temporário, depois de um período de abandono? Estas,

arqueológicas que se têm realizado nos últimos anos

das casas e a organização do espaço intra-muralhas,

tendo em conta as características do local. Esse culto terá

e certamente muitas outras questões, ficarão por agora

na cidade, sobretudo no Centro Histórico. Estas têm-se

com evidentes marcas proto-urbanas, revelam profundas

perdurado, provavelmente, até ao século IV, pois diversas

sem resposta, enquanto os trabalhos de investigação

revelado fundamentais para o conhecimento histórico

influências da civilização romana.

moedas romanas cunhadas por imperadores tardios

arqueológica não prosseguirem no Castelo dos Mouros.

da cidade e de toda a região que se encontrava sob sua

(268-270).

Significará

este

achado

foram ali encontradas (MARQUES, 2003).

administração. Até agora foram identificadas estruturas Em 25 a.C., decorridos quase dois séculos sobre a

habitacionais da Idade do Ferro na área ocupada pelo

Chã Sá. No entanto, talvez seja interessante referir que

Os vestígios materiais romanos até agora recolhidos no

chegada dos romanos à Península Ibérica, Augusto

Museu de Grão Vasco, na rua do Gonçalinho e na Praça

nos limites da freguesia com a de Parada de Gonta há

Castelo dos Mouros são muito escassos, mesmo tendo em

conseguiu dominar os últimos redutos de resistência no

de D. Duarte. Na rua de D. Duarte identificou-se um

Os vestígios romanos não são muito abundantes em Vila

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Vila Chã de Sá

Vias romanas a partir de Viseu (a partir de ALARCÃO, 1988: 92)

Torre: casa com silhares romanos reutilizados

Moeda visigótica cunhada em Viseu

tramo de um fosso que tinha uma função defensiva e

decurso do tempo, como a Arqueologia e a História o têm

de Retura (INQ, 853-854). Ora, carril significava – como

medieva que eventualmente ali terá existido, tendo em

certamente delimitadora do povoado castrejo (ALMEIDA,

comprovado.

ainda significa- um caminho ou estrada que atravessava o

consideração o topónimo Torre deste lugar. A sua recolha

lugar. Referir-se-iam à velha via romana? Parece-nos muito

em Pedra do Altar é também uma possibilidade que não

2005; ALMEIDA & CARVALHO & PERPÉTUO & FIGUEIRA & NÁDIA & COSTA, 2007).

Durante o domínio romano o território da actual freguesia

provável.

nos parece descabida dada a proximidade.

A cerâmica da Idade do Ferro até agora recolhida

de Vila Chã de Sá fazia parte da civitas viseense. Aqui

Em Vila Chã conhecem-se vestígios arqueológicos da

apresenta, quer nas suas características morfológicas,

passava uma das várias vias que saía da cidade, neste

época romana no sítio de Pedra do Altar e no sítio da

Nos inícios do século V (409), alguns povos provenientes

quer na decoração, semelhanças com as encontradas no

caso para Sudoeste, com destino a Aeminium (Coimbra).

Torre. O primeiro local fica situado na periferia de Vila

da Europa Central e da região do Cáucaso atingiram a

Castelo dos Mouros.

O seu itinerário era o seguinte: zona do Quartel RIV-14,

Chã, a Sudeste, numa área de cultivo sobranceira à

Península Ibérica, como foi o caso dos vândalos, dos

Bairro de Stª Eulália, Repeses, Paradinha, Vila Chã de Sá,

ribeira de Sasse; no segundo caso, trata-se de materiais

alanos e dos suevos. Alguns anos mais tarde, também os

A cidade de Viseu de Augusto foi, de facto, a primeira

Fail, Sabugosa, Canas de Stª Maria e Nandufe, onde seria

reaproveitados numa casa situada no centro da povoação.

visigodos entraram na Península. A chegada de todos estes

cidade, porque se obedeceu pela primeira vez a um

a fronteira da civitas.

Na Pedra do Altar é com bastante frequência que se

povos à parte ocidental do Império Romano, a par das

programa urbanístico de obras públicas, porque se

Em Vila Chã não subsiste qualquer vestígio material dessa

encontram, ao lavrar os terrenos agrícolas, materiais

crises política, económica e militar, conduziu nos finais do

delimitou o seu espaço intra-urbano por meio de uma

estrada romana, contudo a sua memória ficou registada

cerâmicos de construção, como tégulas e imbrices.

século V à desagregação da parte ocidental do Império e à

muralha honorífica, simbólica, porque se estabeleceu um

no topónimo Portela, que significa ainda hoje um lugar

No segundo local, como já foi referido, trata-se do

constituição de vários reinos bárbaros. Na Península Ibérica

poder político-administrativo, burocrático e porque foi

de passagem, um caminho antigo. Em meados do século

reaproveitamento numa casa de habitação de pelo menos

formaram-se os reinos Suevo, no Noroeste peninsular, e

ponto de encruzilhada de vias de um espaço mais vasto,

XIII, nas Inquirições que D. Afonso III mandou realizar pelo

quatro silhares almofadados. Desconhecemos onde e

o Visigodo, no restante território. Em 585, o reino suevo

integrado politicamente numa entidade supranacional. A

reino, ainda se referia que uma das cavalarias de Vila Chã

quando foram recolhidos estes silhares. Talvez não seja

acabou por ser dominado pelo visigodo, que estabeleceu

essa cidade augustana sucederam-se outras cidades no

de Sá, a do Picanço, se encontrava delimitada pelo carril

de descartar a sua reutilização inicial numa construção

capital em Toledo. Quer durante o primeiro reino, quer

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“Conforme a derradeira vontade de Beltrasanas, tinham-lhe aberto a cova a pico, em plena rocha viva, naquela face do penedo que olhava a Oriente, donde nasce todas as manhãs a luz astral e veio uma vez, para redenção do mundo, a luz perpétua. Não obstante o obséquio das aldeias serranas que, piedosamente, forneceram pedreiros com ferramenta, o granito era tão duro que consumiram no trabalho quatro longos dias. (…) Mas Beltrasanas ficaria num sarcófago ao estilo dos primeiros tempos do cristianismo, obra de três côvados de comprido, com recrava à proporção da cabeça, incisura para os ombros, largo em cima, estreito em baixo, e um orifício ao fundo para descarregar os humores da decomposição.” In S. Banaboião, Anacoreta e Mártir Aquilino Ribeiro

Sepultura rupestre da Pedra do Altar 22

durante o segundo, Viseu foi cidade episcopal, com um

e, em particular, por Fernando Magno de Leão e Castela.

vasto território diocesano que em muito ultrapassava o

Em 1058, depois de várias campanhas nas Beiras, que

da antiga unidade administrativa romana da civitas. Vila

levaram à reconquista de castelos importantes como o de

Chã de Sá, às portas de Veseo, como aparece grafado

Lamego, de S. Martinho dos Mouros e de Seia, Fernando

nas moedas cunhadas na cidade durante o reinado de

Magno reconquistou definitivamente Viseu e o seu termo,

Sisebuto (612-621) e de Suintila (621-631), integrava essa

preparando o assalto a Coimbra, que se veio a concretizar

nova e duradoura circunscrição religioso-administrativa

em 1064.

(MARQUES & EUSÉBIO, 2007: 82-85).

As sepulturas escavadas na rocha são os vestígios

Em 711, novos povos aportaram à Península Ibérica,

arqueológicos mais abundantes deste período. Elas

uma vez mais procedendo do Mediterrâneo: os árabes.

não nos dão informações apenas sobre os mortos

Em poucos anos conquistaram o reino visigótico, que se

que foram inumados num determinado lugar, dão-nos

encontrava em profunda crise devido a várias guerras

também informações sobre os vivos que geralmente

internas, e transferiram a capital de Toledo para Córdova.

habitavam pequenos casais agrícolas nas imediações das

Por essa altura, Viseu permaneceu cidade diocesana mas

necrópoles. Este tipo de “cemitério familiar” corresponde

agora também capital de uma circunscrição administrativa

a um período anterior à institucionalização do cemitério

árabe: a Kura (MARQUES, 1993: 187).

paroquial como único local de enterramento. Pedra do

Entre os inícios do século VIII e os meados do século XI, a

Altar, em Vila Chã de Sá, é um desses sítios povoado no

história da cidade de Viseu e da sua região é, grosso modo,

tempo da Reconquista, cerca do século X, como parece

a história do avanço e recuo da fronteira do Douro para o

provar a presença de uma sepultura rupestre de um

Mondego e do Mondego para o Douro, entre Muçulmanos

indivíduo adulto (MARQUES, 2000(2)).

e Cristãos. Com a fragmentação do Califado Omíada do al-

Em 1127, ainda durante o período da Reconquista, a

Andalus a situação ainda se tornou mais complexa porque

condessa Dª Teresa, viúva do conde D. Henrique, mandou

os novos reinos de Taifas degladiaram-se também entre

realizar uma inquirição na Terra de Viseu, para saber

si, facto que foi aproveitado pelos reinos cristãos do Norte

quais os bens que aqui possuía. 23


Cenas da vida rural em forais de D. Manuel

Documento 1 1127, Inquirição mandada fazer na Terra de Viseu por Dª. Teresa e Fernando Peres de Trava (D. M. P., Documentos Régios: DR, 74) “In vila Plana super Menendo Pelaiz casal Doide et Gavino cum sua ereditate casal de Trasufu que est in Tevvas per ubi potueritis invenire.” Esta inquirição, como outras que serão realizadas pelos monarcas portugueses, sobretudo ao longo da primeira

porque retrata o tipo de povoamento que existia na região

et pectant regi vocem et calumpniam, et dant in

ipsa hereditate, nom poterit, quia sic fuit testata ipsa

de Viseu e porque contém a primeira referência escrita a

collecta Regis, et dant pro Madio rationa equi singulos

hereditas, quod omnes, qui descenderent de avolenga de

Vila Chã de Sá, então designada de vila Plana. Nesta, a

morabitinos, et dant riquihomini iste .v. caballarias pro

illis, qui eam testeverunt, haberent eam cum ipso foro.

condessa tinha dois casais: o casal Doide et Gavino e o casal

vita et pro pausa .v. morabitinos minus tercia annuatim,

Johannes Vicencii de Villa Chaa dixit similiter; et addit,

Trasufu.

et dant iste quinque caballarie maiordomo annuatim

quod Episcopus demandavit geiras ipsis hominibus et

Depois de 1127, só encontramos nova referência escrita

pro sua vita .j. morabitinum, et riquushomo non debet

non potuit eos ducere ad eas. Menendus Gallego de Villa

a Vila Chã de Sá em 1258, ano em que se realizaram as

pausare in sua villa pro istis .v. morabitinis minus tertia,

Chaa dixit similiter.

Inquirições de D. Afonso III, de que publicamos o texto

quos illi dant annuatim, nec demandare illis aliam vitam.

Idem Donnus Surgi juratus dixit, quod ipse vendidit

integral em latim e a respectiva tradução.

Johannes Vincencii de Villa Chaa dixit similiter. Martinus

Menendo Menendi canónico de Viseo unam hereditatem

Dominici dixit similiter.

forariam Regis de caballaria sua de Villa Plana in loco,

Idem Donnus Surgi juratus dixit, quod audivit dicere patri

qui dicitur Vallis de Madeyros, et modo Laurencius

suo et suo avo, quod ipsa hereditas, quam Episcopus de

Pacheco habet ipsam hereditatem et nullum forum facit

Viseo habet in Villa Plana, fuit caballaria Regis, et dixit,

Regi. Interrogatus de tempore dixit, quod tempore Regis

quod fuit de testamento, et est sexta pars de quinque

Sancii fratris istius Regis.

caballariis, et dixit, quod vidit avum suum et suum patrem

Johannes Vicencii dixit similiter. Martinus Dominici de

et alios homines morari in ista hereditate, et habebant

Villa Chaa dixit similiter. Donnus Bartholomeus de Villa

eam per avolengam et faciebant de ea forum Episcopo,

Chaa dixit similiter. Menendus Galego de Villa Chaa dixit

et addit, quod, quamvis Episcopus velit jectare illos de

similiter.

Documento 2

dinastia, tinham dois propósitos essenciais: combater

1258, Inquirições de D. Afonso III (P. M. H.,

a usurpação de direitos e bens da Coroa, por um lado, e

Inquisitiones: 853-854)

afirmar o poder do rei, por outro. A partir do texto de Dª Teresa, sabemos que tinha 158

“De Villa Chaa de Saos - Donnus Surgi juratus et

casais em 53 povoações, incluindo também a cidade de

interrogatus dixit, quod in Villa Plana habet Dominus Rex

Viseu, onde possuía várias herdades e casas. Para o nosso

quinque caballarias. Interrogatus de foris Regis de istis

estudo, esta inquirição é particularmente importante

caballariis dixit, quod vadunt in hostem et anuduvam,

24

25


Idem Donnus Surgi juratus dixit, quod Johannes de Alvelos

Gunsalvino et de Picanzo in riparia de Theyvas ubi vocitant

homo electi de Viseo conparavit quasi per forciam et sine

Petram de Homine; et modo Laurencius Suariz miles stat

directo unam hereditatem forariam Regis de caballaria de

in possessione de ipso molendino et nullum forum facit

Villa Chaa de Donno Surgi, et modo Donnus Sabastianus

de eo Regi. Interrogatus de tempore dixit, quod tempore

homo Episcopi habet et possidet ipsam hereditatem et

Domini Regis Alfonsi patris istius Regis.

nullum forum facit Regi. Interrogatus de tempore dixit,

Donnus Bartolomeus de Villa Chaa dixit similiter; et

quod tempore istius Regis.

addit, quod est de caballaria Regis. Menendus Galego

Johannes Vincencii de Villa Chaa dixit similiter. Martinus

dixit similiter.

Dominici de Villa Chaa dixit similiter. Donnus Bertolomeus

Idem Donnus Surgi juratus dixit quod Donna Toda de

de Villa Chaa dixit similiter. Johannes Fulqueiro de Villa

Parada testavit ecclesie Sancti Michaelis de Auteiro

Chaa dixit similiter. Menendus Gallecus dixit similiter.

unam hereditatem forariam de caballaria de Picanzo de

Idem Donnus Surgi juratus dixit, quod Guilelmus de Saas

Villa Chaa in fonte de Varzea et in Piado. Interrogatus

miles habet et possidet unam vineam forariam Regis

de tempore dixit, quod tempore Regis Sancii fratris istius

de caballaria de Johanne Vicencii et de caballaria, que

Regis.

vocatur de Picanzo in Villa Plana sicut dividit per carril de

Donnus Bertolomeus de Villa Chaa dixit similiter.

Retura et cum Donno Surgi; et addit, quod conparavit de

Johannes Gunsalvi, dicto Folqueyro, dixit similiter.

ipsa vinea et de illa non, et nullum forum facit de ea Regi.

Menendus Galego dixit similiter.

Interrogatus de tempore dixit, quod tempore istius Regis.

Menendus Galego juratus dixit, quod Donnus Fernandus

Johannes Vicencii dixit similiter; et addit, quod caballaria,

et uxor sua de Villa Chaa testaverunt ecclesie de Viseo

que modo vocatur de Johanne Vincencii, fuit de Salvatore

unam hereditatem forariam Regis de caballaria in Villa

Pelagii de Casali de Aalem. Martinus Dominici de Villa

Chaa in loco, qui dicitur Valenza. Interrogatus de tempore

Chaa dixit similiter. Domnus Bertolomeus dixit similiter.

dixit, quod tempore Regis Sancii fratris istius Regis.

Menendus Gallecus dixit similiter.

Idem Menendus Gallecus dixit, quod Donnus Andreas

Item Domnus Surgi juratus dixit, quod Gunsalvus Pelagii

frater suus testavit ecclesie de Viseo unam hereditatem

de Saas miles filiavit unam hereditatem forariam Regis

forariam Regis de caballaria in Villa Chaa in Sauto.

de caballaria de Gunsalvino et de Picanzo de Villa Plana

Interrogatus de tempore dixit, quod tempore Regis Sancii

in loco, qui dicitur Carvalius de menedo Pelagii, et modo

fratris istius Regis.”

Guilelmus de Saa et alii filii et nepotes de Gunsalvo de Saa habent ipsam hereditatem et nullum fórum faciunt Regi. Interrogatus de tempore dixit, quod tempore Domini Regis sancii fratris istius Regis. Donnus Bertolomeus de Villa Chaa dixit similiter. Menendus Gallecus dixit similiter; et addit, quod Johannes Ripos dedit istam hereditatem Gunsalvo de Saas per forciam. Idem Donnus Surgi juratus dixit, quod Gunsalvinus et Picanzo vendiderunt Pelagio Suierii de Revordino militi unum molendinum de caballaria de ipsa caballaria de

26

Tradução Sobre Vila Chã de Sá: Dom Surjo, jurado, interrogado, disse que em Vila Chã o Senhor Rei tem cinco cavalarias. Interrogado sobre os foros a pagar ao Rei e sobre estas cavalarias, disse que vão em hoste e anúduva e tomam voz e calúnia pelo Rei; dão na colecta régia: em Maio dão apenas morabitinos para a ração dos cavalos, e as 5 cavalarias dão 5 morabitinos ao rico-homem pela vida e pela pausa, menos a terça anual, e dão anualmente 1 morabitino ao mordomo e 27


o rico-homem não deve pousar na sua vila por estes 5

Interrogado sobre quando isso aconteceu, disse que

morabitinos menos a terça que eles dão anualmente,

no tempo deste Rei.

nem lhes pedir outra vida.

João Vicêncio de Vila Chã disse o mesmo. Martinho

João Vicêncio de Vila Chã disse a mesma coisa.

Dominico de Vila Chã disse o mesmo. João (Gonçalo)

Martinho Domingos disse o mesmo.

Fulqueiro de Vila Chã disse o mesmo. Mendo Galego

O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que ouviu dizer

disse o mesmo.

ao seu pai e ao seu avô, que estas herdades, que o

O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que Guilherme

Bispo de Viseu (D. Mateus, 1254-1268) tem em Vila

de Sá, cavaleiro, tem e possui uma vinha foreira do

Chã, foram cavalarias do Rei e disse que o foram por

Rei, da cavalaria de João Vicêncio e da cavalaria

testamento e que é a sexta parte das cinco cavalarias

chamada do Picanço, em Vila Chã, que divide pelo

e disse que viu o seu pai, o seu avô e outros homens

carril da Retura e com Dom Surjo e acrescenta que

morarem nesta herdade e que a tinham por avoenga e

comprou essa vinha e não dá foro nenhum ao Rei.

davam foro ao Bispo e acrescentou que o Bispo não os

Interrogado de quando é isso, respondeu que do

podia tirar dessa herdade, pois a herdade foi dada de

tempo deste Rei.

testamento de forma a que todos os que descendessem

João Vicêncio disse o mesmo e acrescentou que a

por avoenga deles a tinham com esse foro.

cavalaria que chamam de João Vicêncio foi de Salvador

João Vicêncio de Vila Chã disse o mesmo e acrescentou

Pelágio de Casal de Além. Martinho Dominico de Vila

que o Bispo pediu geiras a esses homens mas não as

Chã disse o mesmo. Dom Bartolomeu disse o mesmo.

podia obter. Mendo Galego de Vila Chã disse o mesmo.

Mendo Galego disse o mesmo.

O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que vendeu a

O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que Gonçalo Pelágio

Mendo Mendes, cónego de Viseu, uma herdade foreira

de Sá, cavaleiro, filhou uma herdade foreira ao Rei, da

ao Rei, da sua cavalaria de Vila Chã no lugar chamado

cavalaria de Gonçalo e de Picanço de Vila Chã, no local

Vale de Madeiros e, deste modo, Lourenço Pacheco

chamado Carvalhos de Mendo Pelágio e, desse modo,

tem (trabalha?) essa herdade e não dá foro nenhum

Guilherme de Sá e outros filhos e netos de Gonçalo de

ao Rei. Interrogado sobre quando foi, disse que no

Sá, têm essa herdade e não dão foro nenhum ao Rei.

tempo do Rei Sancho (1223-1248) irmão deste Rei

Interrogado em que altura isso ocorreu, disse que do

(Afonso III).

tempo do Rei Sancho irmão deste Rei.

João Vicêncio disse o mesmo. Martinho Dominico de

Dom Bartolomeu de Vila Chã disse o mesmo. Mendo

Vila Chã disse o mesmo. Dom Bartolomeu de Vila Chã

Galego disse o mesmo e acrescentou que João Ripos

disse o mesmo. Mendo Galego de Vila Chã disse o

deu esta herdade a Gonçalo de Sá pela força.

mesmo.

O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que Gonçalo e

O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que João de

Picanço venderam a Pelágio Soeiro de Rebordinho,

Alvelos, homem eleito (nomeado) de Viseu, comprou

cavaleiro, um moinho na ribeira de Teivas, desta

quase à força e sem direito, uma herdade de Dom

cavalaria de Gonçalo e Picanço, onde chamam Pedra

Surjo, foreira ao Rei da cavalaria de Vila Chã, e

do Homem e deste modo Lourenço Soeiro, cavaleiro,

deste modo Dom Sebastião, homem do Bispo tem e

está na posse desse moinho e não dá foro ao Rei.

possui essa herdade e não dá nenhum foro ao Rei.

Interrogado em que tempo isso aconteceu, disse que

Soutulho, rio Pavia: rodízio 28

(pág. anterior)

29


Anúduva: obrigação de trabalhar na construção ou reparação de castelos, cercas, fossos, torres. Avoenga: direito de suceder nos bens que foram dos seus avós. Calúnia: pena pecuniária a pagar de acordo com o foral da localidade. Cavalaria: herdade, quinta, casal ou casas que tinham de fornecer cavalos ou mantimentos para a hoste régia. Filhar: tomar, conquistar. Geiras: prestações de trabalho agrícola nas terras do Rei ou de seus oficiais. Hoste: serviço militar sempre que necessário. Pausa: residência onde permanecia o cobrador dos foros reais e recebia os mantimentos para o seu sustento. Vida: sustento, comida e refeição devidos. Voz: multas pagas ao rei. Enxerto de videiras

Ecomuseu de Vila Chã de Sá: grade

no tempo do Rei Afonso (II, 1211-1223), pai deste Rei

Vila Chã no local chamado Valença. Interrogado em

D. Mateus, Bispo de Viseu (1254-1268), era detentor, por

1. Pelágio Soeiro de Rebordinho comprou, no reinado de

(Afonso III).

que tempo isso aconteceu, disse que no tempo do Rei

testamento, de 1/6 de cada uma das cavalarias de Vila

D. Afonso II, um moinho na ribeira de Teivas a Gonçalo e

Dom Bartolomeu de Vila Chã disse o mesmo e

D. Sancho, irmão deste Rei.

Chã. O jurado D. Surjo declarou, a este propósito, ter ouvido

Picanço e não pagou o foro;

acrescentou que é cavalaria régia. Mendo Galego

O mesmo Mendo Galego disse que Dom André, seu

ao seu avô e ao seu pai que o Bispo não podia expulsar os

2. o cónego da Sé de Viseu Mendo Mendes comprou a D.

disse o mesmo.

irmão, fez testamento à igreja de Viseu de uma herdade

moradores dessas cavalarias por estas terem sido doadas

Surjo, no reinado de D. Sancho II, uma herdade em Vale de

O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que Dona Toda

foreira do Rei, da cavalaria de Vila Chã, no Souto.

por avoenga.

Madeiros e não pagou foro;

de Parada (de Gonta) fez testamento à igreja de São

Interrogado sobre em que altura isso aconteceu, disse

Das cinco cavalarias existentes apenas são nomeadas

3. João Alvelos comprou a D. Surjo, no reinado de D. Sancho

Miguel de Outeiro de uma herdade foreira da cavalaria

que no tempo do Rei D. Sancho, irmão deste Rei.

nas Inquirições a de Gonçalo e Picanço e a de João

II, uma herdade em Vila Chã, que se encontrava em 1258

Vicêncio, que fora de Salvador Pelágio de Casal de

entregue a D. Sebastião, homem do Bispo, e não pagava o

de Picanço de Vila Chã, na fonte da Várzea e no Piado (Prado?). Interrogado em que tempo aconteceu isso,

A partir destas inquirições sabemos que o rei tinha 5

Além. Nestas duas ocorreram, de acordo com os relatos

foro;

disse que no tempo do Rei D. Sancho, irmão deste

cavalarias em Vila Chã de Sá e que tinham sido instituídas

dos jurados, alguns negócios de compra e venda de

4. Gonçalo Pelágio de Sá filhou a João Ripos, no reinado

Rei. Mendo Galego disse o mesmo.

no reinado de D. Afonso II (1211-1223). As quintas

herdades, doações testamentárias e também uma

de D. Sancho II, uma herdade da cavalaria de Gonçalo e

Dom Bartolomeu de Vila Chã disse o mesmo. João

destas cavalarias garantiam o sustento da hoste régia

usurpação. Todas estas transacções tiveram como

Picanço, no sítio de Carvalhos de Mendo Pelágio, e não

Gonçalo, dito Fulqueiro, disse o mesmo. Mendo

em alimentos, rações para os cavalos e dinheiro. Os foros

última consequência o incumprimento de entrega

pagou foro;

Galego disse o mesmo.

devidos ao rei eram os seguintes: hoste, anúduva, voz,

de foros ao rei por parte dos novos proprietários. As

5. Guilherme de Sá, filho de Gonçalo de Sá, tinha uma vinha

Mendo Galego, jurado, disse que Dom Fernando e sua

calúnia, morabitinos em Maio para a ração dos cavalos,

Inquirições informam que tais factos ocorreram no

da cavalaria de João Vicêncio, que já tinha sido de Salvador

mulher de Vila Chã fizeram testamento à igreja de

5 morabitinos dados ao rico-homem pela vida e pausa e 1

reinado de D. Afonso II (1211-1223) e no de D. Sancho

Pelágio de Casal de Além, e outra da de Picanço, sobre as

Viseu de uma herdade foreira ao Rei da cavalaria em

morabitino ao mordomo do rei.

II (1223-1249):

quais não pagou foro desde o reinado de D. Sancho II;

30

31


Alqueire (11Kg) Ecomuseu Rasa (5,5Kg) Ecomuseu Quarta (3Kg) Ecomuseu Ceremim (1,5Kg) Ecomuseu Ecomuseu de Vila Chã de Sá: rasa e gamela

6. no reinado de D. Sancho II, Dona Toda de Parada (de

na ribeira de Teivas (também designada hoje ribeira de

Gonta) doou à Igreja de S. Miguel de Outeiro uma herdade

Rebordinho ou ribeira de Cabanões), por Pelágio Soeiro a

situada na fonte da Várzea e no Piado, da cavalaria de

Gonçalo e Picanço, comprova a sua produção a nível local.

Picanço, da qual não pagou foro;

Mais tarde, no foral manuelino do concelho do Barreiro,

7. no reinado de D. Sancho II, D. Fernando e a sua mulher

de 1514, Vila Chã pagava de foro doze alqueires de pão

doaram à Sé de Viseu uma herdade no local chamado

meado, isto é, de mistura de trigo e milho.

Valença, da cavalaria de Vila Chã, da qual não pagaram foro;

A referência a vinhas ocorre a propósito de umas que o

8. no reinado de D. Sancho II, D. André doou à Sé de Viseu

cavaleiro Guilherme de Sá possuía, que eram das cavalarias

uma herdade no Souto, da cavalaria de Vila Chã, da qual

de João Vicêncio e de Picanço.

não pagou foro.

O cultivo da vinha era também aqui uma das mais importantes produções agrícolas, como nos atestam,

As inquirições afonsinas dão-nos algumas pistas sobre

mais do que os documentos escritos, as muitas lagaretas

quais os produtos que eram produzidos nas cavalarias de

rupestres conhecidas na área da freguesia e no território que

Vila Chã. Estes, de resto, eram os que maior peso tinham

com ela confina. Tratando-se de um vestígio arqueológico de

na produção agrícola regional e nacional: os cereais,

valor ímpar no domínio das tecnologias agrárias medievais,

sobretudo para pão, e a vinha.

atesta-nos igualmente as boas aptidões da região para a

No que diz respeito aos cereais, a compra de um moinho

produção vitivinícola desde tempos remotos.

32

33


4

5

2

1

3

Cartografia das lagaretas rupestres Localização das lagaretas na freguesia de Vila Chã de Sá 1.Lagareta de Pedra do Altar 2.Lagareta da Corga 3.Lagaretas do Pinhal das Martelas (2) 4.Lagareta do Brunhal 5.Lagareta de Vales Outras lagaretas no território envolvente: Paradinha/S. Salvador Lagareta do baldio de Paradinha Lagareta da Quinta de Paradinha Lagareta de Infesta Lagareta da Conchada Lagareta do Talho Longo Lagaretas da Serra Lagareta da Quinta da Sara Lagareta da Quinta do Alter 34

Parada de Gonta Lagareta da Igreja Paroquial Lagaretas da captação de Água Lagareta do cruzamento para os Três Rios Lagareta da Aguieira Lagaretas das Laceiras Lagareta da Esmoitada/Vide Lagareta da Quinta da Fonte Figueira

Silgueiros Lagaretas do Vale Lagareta da Quinta do Espinhal Lagareta de S. Miguel Lagareta de Barrabás Lagareta da Tapadinha Lagareta de Pedra do Altar (pág. seguinte)

35


Lagareta da Corga

Lagareta do Pinhal das Martelas I

Lagareta do Pinhal das Martelas II

Lagareta do Pinhal das Martelas II

Lagareta rupestre: esquema de funcionamento

Lagareta do Brunhal 36

37


Em 1514 o rei D. Manuel concedeu carta de foral ao concelho do Barreiro, onde Vila Chã de Sá se integrava. Documento 3 1514, Foral do concelho do Barreiro, de D. Manuel I (DIAS, 1961: 148-149) Dom Manuel etc. Mostra se pellas ditas imquiriçooens e assy per semtenças da nosa Relaçam que na dita terra há desvairados dereitos assy de jugada e oytavos como doutras cousas os quaaes abaixo hiram particularmente decrarados. a saber. pagase em Silvares primeiramente de trigo doze alqueires e de pam meado. a saber. cemteo e mjlho quorenta e oyto alqueires. Item villa nova seis de trigo e quoremta e dous de meado. Item pedro bornes doze de trigo e quorenta e viij de pam meado. Item as quyntaãs dezaseis de trigo e trimta e seis de meado. Item sam salvador trimta e seis de trigo e cemteo e trimta seis de meado. Item villa de moynhos doze de trigo e quoremta e oyto de meado. Item o casall de pero diaz quatro de trigo e de quatro hum do que se lavra. Item o casal de sam çibraam seis de trigo e o mais de quimto. Item os moynhos de gualdim paaz quatro de trigo, quatro de cemteo, quatro de mjlho. Item o moynho de Joham dalmeida dous de trigo. Item as lagias doze alqueires de meado. Item o purinheiro vimte e oyto alqueires de meado. Item o loureiro seis alqueires de meado. Item paços doze alqueires de meado. Item parada de gomta cemto e noventa e dous alqueires meado. Item villa cova cemto e quorenta e dous alqueires de meado. Item dade meor coremta e oyto de meado. Item portella cemto e cimquoenta de meado. Item o felgar dezaseis meado. Item sam colmade duzemtos e dezaseis alqueires de meado. Item mazgalos cemto e oyto alqueires de meado e de trigo oyto alqueires. Item o casal do rybeiro çemto e vimte alqueires de meado. Item o carregal trimta e seis alqueires de meado. Item fomte arcada trimta e dous alqueires de meado. Item chaãos noventa e seis de meados. Item paga mais o prado do Rio boom cemto e cinquoenta reaaes E o chaão da nogueira tres quartas de pam meado e huma de trigo 38

aa paga de villa noua. O casal de parada de gomta paga de quimto do que há dous capoões. O casall das moutas de meado quoremta e cimquo alqueires O porto do carro de meado trimta e seis. As pousadas vimte e quatro de meado. As paradinhas de meado vimte e quatro alqueires Villa chãa e rebordinho de meado doze alqueires. Os moinhos de parada de gomta de meado seis alqueires e dous capooens. E pagam se mais na dita terra outros dereitos. a saber. as lageas hum capam, paço outro capam. Os moynhos daugoa dalte quatro capoões O casal de mazgallos paga o quimto do pam e dous capoões. O casall de pero diaz dous capoões e huma marrãa Sam Salvador dous casaaes e de hum paga de quimto E outro vimte alqueires de cemteo sabido e cada hum delles dous capooes e huma marrãa Dos moynhos de pero coelho cemto e cimquoenta reais e dous capõoes O moynho dalvaro de crasto dois capoões O casall de Sam payo de pam meado vimte alqueires e de vinho cimquo almudes e seis capoões. E o casal de novaaes paga de quatro e huma marrãa e dous capoões. E dazenha daugoa dalte huma marrãa A quimtaa de Sam çibram paga de quimto. Jugada E foy jmposto pollo dito foral que se pagase jugada nam por jugo de boys segumdo em outros lugares se mandou pagar somente foy a terra aforada por certas jugadas nos tombos amtigos decraradas a quall avya de seer e foy repartida per todollos herdeiros das ditas terras jugadeiras segumdo sempre andou e amda E per elles se ham de pagar os moyos das ditas jugadas sem se mais jugadas poderem acreçemtar que as que antigamente sempre na dita terra se pagaram posto que mais lavradores ora nella lavrem. E o moyo da dita jugada será de vimte alqueires de pam meado desta medida corrente. a saber. cemteo e mjlho por quamto assy foy julgado em nossa relaçam feitos pera ysso primeiro todollos jssames ao tal caso neçesarios E paga se sobre cada alqueire da dita jugada hum reall de seis ceptis o Reall E pollo pam que na dita terra se paga per este forall per alqueires se pagarão por tres alqueires do dito forall hum alqueire desta medida corremte. E pagam mais na dita terra certas eiradegas

de vinho. a saber. em muzelos dezoyto almudes. Sam Colmade trimta e nove dade mayor treze. Villa nova tres. Villas covas treze. Villa de moinhos doze. As quimtãas E pero bornes doze E paradinha doze almudes Os quaaes almudes se pagam pella medida antiga que fazem cimquo almudes della quatro desta medida corremte E o vinho das ditas eiradegas se paga pollos herdeiros de todollos ditos lugares atras contheudos segumdo antigamente estaa repartido segumdo a quall repartiçam se fará e pagará ao diamte sem outra mudança. E paga se mais deiradega certas feveras de linho per estes lugares. a saber. mazallos dous. Sam colmade tres. Portella dous. Dade meor hum. Villa nova hum Villas covas hum Parada de gomter hum Silvares hum Chãaos hum As quimtãas hum São Salvador dous Villar de moynhos hum As quaaes eiradegas se pagam pollos moradores e herdeiros de cada hum destes lugares homde quer que viverem E há de ser de tres feveras meãas gramdes e pequenas E o senhorio será obrigado de teer no lugar pesoa pera a dita justificaçam atee santiago[…]. E se o nom tever ou mandar atee dia de santiago de cada hum anno partirão o dito linho com o jurado da terra e leixar lhe am o linho homde ho partirem sem serem a mais obrigados nem emcorrerem por ysso em alguma pena E assy este linho deiradega com o sexto que delle pagam todollos moradores da dita terra que o colherem tirando os que lavrarem nas terras da Igreja. a saber. de santa cruz e cabido de Viseu o partirão e leixarão no temdal se o nam forem partir ao dito tempo como dito hé. E os foros sobreditos do pam, vinho, linho seram obrigados as pessoas que os pagam de os levarem a santar posto que seja doutra jurdiçam porque pello antigo costume que disso estiveram assy foy julgado em nossa Rellaçam que se fezesse os quaaes foros levarão dês de santa maria dagosto atee natall E nam os levamdo atee o dito tempo o senhorio os poderá mandar penhorar E os penhores nam seram tirados fora do dito comçelho nem menos se alguns forem por ysso pressos mas hy seram ouvidos e eixecutados per dereito sem serem levados fora do dito comcelho os ditos homens nem os penhores. E o senhorio será obrigado de os receber damdo lhos no

dito tempo E nam os querendo receber ao dito tempo nam seram obrigados de pagarem os ditos foros senam a como valliam ao tempo que lhos levavam ou no dito pam, vinho e linho quall mais qujserem os foreiros. E o vinho porem decraramos que o senhorio nam será obrigado de o receber amte de dia de sam Martinho […] de cada hum anno se nam quiser. E decraramos mais e mandamos que das terras de que o dito comcelho paga jugada de pam se nas taaes terras sam feitas vinhas ou ao diamte se fezerem nam seram obrigados os ditos moradores de pagarem jugada de vinho das taaes vinhas somente pagarão a jugada de pam a que sam obrigados. E decraramos que na dita terra nam daram ao senhorio della apousentamento salvo quimze dias em cada hu anno E assy defemdemos ao senhorio do dito lugar que nom tome palha nem lenha, galinhas, bestas nem carnes nem nehumas cousas aos moradores da terra nem serviços das pessoas E quamdo cada huma das ditas cousas ouver mester requeira os juizes e officiaaes a que pertemcer os quaaes lhas daram pera suas necesidades quamdo estever na terra damdo logo o denheiro dellas. Nom há montados no dito comcelho porque estam em vizinhamça com seus comarcãaos e ussarão huns com os outros per suas posturas do comcelho. E maninhos nam há hy mais que as terras que sam aforadas nos dereitos atrás decraradas sem o senhorio mais poder dar nehuns em nesta nem poer outros foros. O gado do vemto será do senhorio dos outros direitos com decraraçam ect. E o mais como Viseu. O tabaliam nam paga hy pemsam porque sam de Viseu. Da pena darma se levara duzemtos reaaes e as armas a quall será dos juizes se as tomarem no arroydo ou dos meirinhos da terra ou do senhorio quem primeiro citar. E huns nem outros as nam demandarão nem levarão semdo pasados tres dias despois dos arroydos ou maleficios feitos com decraraçam ect. E o mais deste capitolo E a pena do foral hé tal como Viseu. Dada na nosa muy nobre e sempre leal cidade de lixboa aos sete dias do mes de mayo era do nacimento de nosso senhor Jesu Cristo de mjll quynhentos e quatorze Annos E sobscptrito pello dito Fernam de pina. Em oyto folhas com esta. 39


A paróquia de S. João Baptista de Vila Chã de Sá

A paróquia de S. João Baptista de Vila Chã de Sá foi criada

dom Gabriel Machado outrosi protonotario e coneguo da

em 26 de Maio de 1554, como se pode ler no documento

dita See e bem assi Fernao da Fonseca ho velho e Antonio

avulso do Cabido de Viseu, sendo bispo da diocese de Viseu

Roiz ho velho Nicollao Roiz Dioguo Dias ho velho e Dioguo

D. Gonçalo Pinheiro (1552-1567).

Dias ho novo Fernam da Fonseca ho novo ferreiro Antonio do Casal Antonio Gonçalves Pedralvarez ho velho Simão Afonso Pedro digo Pedro Eanes ho velho Roiz Afonso Pero

Documento 4 1554, Criação da paróquia de S. João Baptista de Vila Chã de Sá (PT-ADVIS-CVIS/A: Cota: cx.19, nº77)

Saibbam quantos este istromento de contrato e obrigaçam virem que no anno do nascimento de nosso senhor Jeshus Cristo de mil quinhentos e cinquenta e quatro annos aos vinte e seis dias do mês de Maio na cidade de Viseu e casas da morada do senhor dom Miguel Ribeiro protonotario cónego e arcediaguo da See da dita cidade estando hi a esto presentes ho dito dom Miguel Ribeiro e o senhor

40

ho novo Pedro Eanes genro de Gonçallo Vaaz Gonçalo Vaaz Simão Allvarez çapateiro Joham Gonçalvez ho novo Joham digo Gaspar Gonçalvez Francisco Fernandez

Senhores

S. João Baptista: adro da igreja paroquial

Gonçalves o velho Fernam Gonçalvez Symao Allvarez

Sebastiam Roiz Pedro Jorge Joham Fernandez Ferreiro Symao Afonso Antonio Nunes Apariço Gonçalvez Pedro Anes filho de Joham Dominguez Marcos Roiz o velho Antonio Roiz ho velho Fernam da Fonseca ho velho da quintam Joham Afonso filho que foy de Simao Roiz Manuel Afonso Pedro Diaz ho novo Fernam da Fonseca Almocreve Pedro Gonçalvez criado de Roiz Antonio Sebastiam Ferreira Dioguo Diaz ho novo e Antonio Joham

(pág. anterior)

41


Afonso Bras Afonso Joham Gonçalvez Fernam Dallavarez

hos moradores do dito luguar de Villa Chaa presentes

Fernam da Fonseca ho novo Gonçallo Anes çapateiro e

e vindoiros serem nunqua mais obrigados hirem ouvir

Antonio Henrique filho de Rapreses todos moradores no

missa ha irmida de Sam Joham de Lourosa nem la hirem

lluguar de Villa Chaa de Saa do termo da dita cidade e

receber hos santos sacramentos como ate aqui foram

da Freguesia de Sam Joham de Lourosa e jurisdiçam da

obrigados somente seram obrigados hirem ouvir missa

dita See loguo pellos ditos senhores dom Miguel Ribeiro

ha dita irmida de Sam Joham de Lourosa todallas festas

e dom Gabriel Machado protonotarios foy dito perante

de Nosso Senhor e de Nossa Senhora e dos Apostollos

mim tabeliam e testemunhas adiante nomeadas que era

que caírem em allgum Domingo tirando a noute e dia de

verdade que elles ambos foram elleitos pellos senhores

Natal e os aviam por escusos com suas oitavas por rezam

do cabido da dita See se contratarem com os senhores

do grande inverno que entam fazia e era de ser naturall

e os mais moradores do dito luguar de Villa Chaa que

Com tall condicam que hos ditos moradores de Villa Chaa

nam estavam presentes por serem fregueses da dita

presentes e vindoiros sejam obrigados para sempre digo

Igreja de Sam Joham de Lourosa jurisdiçam da dita See

ssentarem coregerem fazerem repairarem ha dita irmida

serem obrigados como oje em dia eram hirem todollos

de Sam Joham de Villa Cha de paredes madeiramentos

Dominguos festas has missas e ouvir hos ofícios divynos

telhados retavollos e hornamentos que na dita igreja

ha dita igreja de Sam Joham de Lourosa e onde também

for necessario e lhes mandarem por visitações em

recebiam todollos santos sacramentos e que havendo

proveito da dita irmida os moradores do dito luguar de

respeitos hos senhores do cabido e o dito lluguar de

Villa Chaa porque doutra maneira lhes nam davam alli

Villa Chaa ser de muitos moradores riquos e abastados

missa nem hos santos sacramentos nem desobirgavam

e delles pobres e aver também muitos velhos e homens

da dita freguesia de Lourosa e loguo hos sobreditos

doentes e do dito luguar de Villa Chaa ha dita igreja e

atras nomeados disseram em seus nomes e dos mais

irmida de sam Joham de Lourosa ser llonge e passarem

moradores do dito lluguar de Villa Chaa que nam estavam

hum rio em que elles e os outros moradores de Villa Chaa

presentes e assi de seus sucessores que apoos elles

perecem muito de tormento e periguo de suas pessoas

vierem que elles recebiam e aceitavam em mui grande

e por elles asy fregueses e serviço de Deos e descargo

merce esta que hos ditos senhores do dito cabido lhes

de suas consciências e por fazerem graça e merce e

faziam sem obrigaçam per si e seus bens avidos e por

boa obra a elles moradores do dito luguar de Villa Cha

aver de fazerem refazerem repararem todo ho que for

presentes e vindouros elles em nome dos ditos senhores

necessário na dita irmida de Sam Joham de Villa Chaa

do cabido por assim serem elleitos em cabido lhes

assi como for mandado fazer por visitações dos senhores

aprazia como de feito aprouve esta obrigaçam em nome

do cabido ou dos prelados da dita cidade e estarem por

dos ditos senhores do cabido doje em diante para todo

suas visitações e mandados sem mais apellarem nem

sempre mandarem dizer aos moradores de Villa Chaa

agravarem de suas visitações ou mandados que assi

presentes e vindouros missa na sua Igreja que tem na

fazerem em proveito da dita sua igreja e de responderem

dita Villa Chaa de Sam Joham todollos Dominguos do

por isso perante hos senhores prellados e seus ordinários

anno que nam caírem nas festas de Nosso Senhor e de

ou senhores do cabido para o quall renunciavam de seu

Nossa Senhora ou dos Apostollos de Nosso Senhor por

foro e todos outros privilegios que por isso possam allegar

hos capellaes e curas da dita see e helles daram todollos

para por geral nem especial que seja e em testemunho de

paramentos necessários tudo a custa das rendas dos

verdade outorgaram ser feito este istromento de contrato

ditos senhores do cabido e da sua mesa capitullar sem

e obrigaçam que huns e outros aceitaram dizendo huns e

42

43


os outros que requeriam e pediam por merce ao senhor

Gonçalvez morador no casal de Ribafeita e Domingos

e igreja de Sam Joham de Lourosa como sempre fizeram

como sempre fizeram e foi de costume antiguo antre elles

bispo ou a seu vigario e provisor que assi o julgasse

Roiz criado do dito dom Miguel Ribeiro e disseram mais

e foram obrigados ate aqui/ testemunhas hos sobreditos/

e mais nam/ testemunhas hos sobreditos e eu Francisco

verdadeiro e pediram a mim tabeliam que lhes desse hos

que os ditos moradores de Villa Cha que tambem se

e isto contanto que tambem hos de Sam Joham de

Diaz tabeliam do publico e judicial e escrivam da

instromentos da nota que tabeliam como pessoa publica

obrigavam e de facto se obrigaram a fazer e refazer na

Lourosa ajudem na irmida de Villa Chaa nas obras que

ouvidoria da dita cidade e seus termos pella SantĂ­ssima

e estipullante tambem aceitei em nome dos que nam

osia da irmida de Sam Joham de Villa Chaa e de porem

nella fizerem tirando hornamento sino pia de bautizar e

Maria Nossa Senhora que esto escrevi e aqui meu pubrico

estavam presentes testemunhas que presentes estavam

tambem pia de bauthizar na dita irmida e se obrigaram

outras cousas que novas fizerem por bem deste contrato

sinal fiz

Francisco Lopes capellam da cura da dita See e Baltazar

de pagarem tambem nas obras que se fizerem na irmida

somente que huns e outros testemunhas paguem e façam

pague desta nota cem reis

44

45


Até 1554, embora existisse uma igreja em Vila Chã de Sá,

couzas antigas e memorandas da forma dos itens da dita

as povoações da freguesia integravam a vizinha paróquia

ordem e achei o seguinte

de S. João Baptista de Lourosa. Mesmo depois da criação

Em coanto ao que pertence ao primeiro item da ordem

da nova paróquia, mantiveram-se práticas e celebrações

he esta freguezia patrocinada com o patrocinio do bem

em comum, como recorda o padre João da Cunha Leitão

aventurado Sam João Baptista padroheiro que he da dita

de Vila Chã de Sá ao dar resposta ao inquérito da Academia

igreja, consta a freguesia somente do povo de Villa Cham

Real da História Portuguesa em 1722 (OLIVEIRA, 2005:

de Saá que tem setenta e coatro fogos pessoas maiores

165-169).

duzentas e corenta e coatro e pessoas menores corenta

[…] o parrocho e perroquianos desta igreja [de Vila Chã de

e coatro.

Sá] tem obrigacão de irem a [igreja de Lourosa] matris que

Do que pertence ao seguondo e terceiro itens da ordem

se dis foi desta em dia d’ Acensão do Senhor e em segunda

não ha couza de que se fassa mencão mais do que o que

outava do Espirito Santo e em dia de Sam Barnabé e da dita

se declara em o tratado das cappellas.

igreja de Louroza sahirem encorporados em pocisam com

Em coanto ao quarto não se fazem em esta freguesia

o parrocho e parroquianos de Lourosa em o dia d’ Asunção

procisões por voto ou costume mais do que as ladainhas

saida em a tal porcisão em esta igreja de Villa Cham em

maiores na forma do universal costume da igreja sem

a outava do Sperito Santo se da fim a pocisam em huma

embargo do que o parrocho e perroquianos desta igreja

capella de Sam Domingos lugar de Cobroes da mesma

tem obrigacão de irem a igreja de Lourosa matris que se

freguezia de Louroza e a terceira porcisão que say da dita

dis foi desta em dia d’ Acensão do Senhor e em segunda

igreja de Lourosa dia do apostolo Sam Barnabé dá fim em a

outava do Espirito Santo e em dia de Sam Barnabé e da

Santa See da cidade de Vizeu todas estas procisois não se sabe

dita igreja de Louroza sahirem encorporados em pocisam

o principio que tiveram por serem muito antigas somente se

com o parrocho e parroquianos de Lourosa em o dia da

dis que os parroquianos se obrigaram a mayor voto por graves

Asunção saida em a tal porcisão em esta igreja de Villa

necessidades que tiveram como milhor se podera ver do que

Cham em a outava do Sperito Santo se da fim a pocisam

sobre este particullar declarara o cura de Louroza e das mais

em huma capella de Sam Domingos lugar de Cobroes

sirconstancias das tais porcisoens por sahirem todos de sua

da mesma freguezia de Louroza e a terceira porcisão

igreja e a lhe pertencer a caval noticia destas porcisoense. […]

que say da dita igreja de Lourosa dia do Apostolo Sam Barnabé dá fim em a Santa See da cidade de Vizeu todas

Documento 5 1722, Memórias Paroquiais (OLIVEIRA, 2005: 165169). Eu o padre João da Cunha Leytão cura em parochial igreja de Sam João Baptista de Villa Cham de Saa felial da santa See da cidade de Vizeu satisfazendo a ordem dos muitos elustres reverendos senhores do ylustre Cabido da Santa See da cidade de Vizeu me emformei nesta freguesia das

estas procisois não se sabe o principio que tiveram por serem muito antigas somente se dis que os parroquianos se obrigaram a mayor voto por graves necessidades que tiveram como milhor se podera ver do que sobre este particullar declarara o cura de Louroza e das mais sirconstancias das tais porcisoens por sahirem todos de sua igreja e a lhe pertencer a caval noticia destas porcisoens. A respeito do quinto item da ordem não ha nesta freguezia homens insignes em vertudes ou letras por como he

Vila Chã de Sá, pormenor de cruzeiro 46

47


composta de pobres estes de ordinario deixam em o

da sua fundação nem tem administrador particullar.

mundo pequeno nome.

A terceira e ultima capella desta freguesia he da

A respeito do sexto não ha em esta igreja sepulturas

emvocasão do bem aventurado Sam Jose que esta situada

com letreiros nem armas esculpidas de que se fassa

em o meo do lugar e foi mandada edifficar acerca de

menção nem tem esta igreja cartorio ou arquivo donde

corenta annos pouco mais ou menos por António Gomes

constem couzas antigas e memorandas por coanto todos

da Costa abbade que foi de Santa Olaia de Besteiros

os livros della em estando findos se recolhem ao cartório

deste bispado a coal capella foi de todos os seos bens

do reverendo Cabido da See de Vizeu e os livros dos

repartidos na forma seguinte parte delles pello capellam

baptizados casados e defuntos que tenho em nosso poder

da dita capella e o cura da igreja os coais sam obrigados

é necessario a servir o livro dos baptizados principiou aos

dizerem missa quotidiana na forma de suas distribuisoes

tres dias do mes de Setembro de seiscentos e sesenta e

a coal missa em todos os dias asistem coatro molheres

nove annos os termos dos defuntos principiou em doze

a quem se da o titollo de mercieiras estas se lhe pagua

dias do mês de Maio de seiscentos e sesenta e sinco

das tidas ditas rendas e parte das mesmas rendas

annos.

sam dedicadas para a fabrica da dita capella que com

A respeito do setimo item da ordem não se acha quem

grandeza he ornada outra parte se distribui em dois dotes

foi fundador desta parroquial igreja nem nella há

que todos os annos se dam em dia de Sam Joseph a duas

capella adjuntas nem na tal igreja pesoas coriozas de

donzellas orfans e pobres e outra parte das ditas rendas

antiguidades porque como sam lavradores como fica dito

se da ao provedor e escrivam da meciricordia da cidade

só tratam da sua agricultura.

Documento 6

Documento 7

de Viseu e ao conigo da dita See probendado mais antigo

Livro dos Defuntos (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº

Livro dos Defuntos (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº1,

Em coanto ao outavo tem esta freguesia em seo distrito

os coais todos dia de Sam Joseph vem a dita capella

1, fl.1)

fl.1)

tres capellas huma junto ao povo da emvocação do

ahy fazem meza e aprovam as sobre ditas orfans com os

invicto martir Sam Sabastiam do baixo do patrocinio do

dotes e satisfazem ao capellam e parrocho e mercieiras

Aos 20 dias domes de maio [1595] faleceo em esta igreja

Aos 2, ou 3 de agosto da era de mil e quinhentos e noventa

coal esta fundada huma irmandade de pessoas seculares

com as comgroas dos finados e para cada hum. A estes

de Villa Chaa de Sa filial desta See Simão dominges

e cinquo annos faleceo em este lugar de Villa Saa filial

e eclegiasticas com aitoridade do ordinario os coais com

pertence e pertencem capellas todas as vezes que

morador, em este lugar, de que he herdeira sua molher

desta See Gaspar moço Solteiro e fez manda, de que e

muito zelo fabricão a capella de tudo o necesario e tam

algum falece e administrar todas as couzas para a dita

Beatriz [Frez] e fez manda e por verdade asinei comprida

testamentro dos Frez seu irmão he herdeiro sua criança

bem socorrem as almas dos irmans defuntos e lhe fazem

capella necessarias E não achei mais e por assim passar

atudo o que toqua ao coprimento d’alma. Veigua.

sua natural, que ouve de Ines Braz moça solteira filha de

em cada hum anno dois aniversarios o primeiro em a

na verdade passei esta que asignei e o juro in verbo

Britez Braz, com a qual a fama pubriqua estar casado,

quinta sesta feira da coresma do segundo em vinte do

sacerdotis

digo jurado e por verdade asinei, Eu o padre Pedro da

mes de Agosto em coais dias ha jubileo para os irmãos

Aos des de Outubro de 1722

Veigua cura o presente anno [n]esta dita igreja era S. d.

da dita irmandade por bulla e concesam apostolica e não

O padre cura João da Cunha Leytão

comprida tirado um seu do anno. Pedro da Veiga

há em esta freguesia outros alguns aniversarios ou gerais pellas almas ou especiais por alguma alma particollar. Ha

Os livros paroquiais mais antigos de registo de Defuntos e

mais outra capella do apostollo Sam Pedro cita distante

Casamentos têm o seu primeiro registo datado de 1595,

do lugar em partes de serras muito antiga que não consta

enquanto o livro de Baptismos tem o registo mais antigo datado de 1598.

48

49


Documento 8

Documento 9

Livro dos casados (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº1,

Livro dos baptismos (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30,

fl.53)

nº1, fl.66)

Aos 3 dias do mês de Setembro da era de 1595 racibi eu

[Aos] dezoito dias do mês de Março de 98 annos

esta de Pedro da Veiga cura que sou, o presente anno em

bauptizei Eu o padre Antonio Monteiro a Maria filha de

esta igreja de Villa Chaa de Sa filial desta See na forma

Maria moça solteira moradora no luguar de Cabanoy filha

do Sagrado Coração a Domingos Lopez he a Maria Gles

de Domingos Roiz do mesmo luguar e de Lianor Antonio

he por verdade asinei co esta abaixo asinado Pedro da

já defunta forão padrinhos Francisco filho de C. Lopez

Veigua.

e Domingas Fernandez molher de Antonio Fernandez diguo Francisca fez todos dahi. E por verdade assinei aqui oje dia mez e era ut supra. Antonio Monteiro.

Com estes registos paroquiais encontra-se também uma interessante partitura da Missa comemorativa do nascimento de S. João Baptista (24 de Junho), intitulada In Nativitate S. Joannis Baptistae ad Missam. A partitura de cantochão, embora não apareça datada, parece-nos que terá sido manuscrita pelo padre António Correia que esteve à frente da paróquia de Vila Chã de Sá entre 1625 e 1634.

50

51


Documento 10 Transcrição: In Nativitate S. Joannis Baptistae ad Missam (PTADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº1, fl.50-52) Introito De ventre matris meae vocavit me dominus nomine meo et posuit os meum ut gladium acutum sub tegumeto manus suae protexit me et posuit me quasi saggitam electam. ps (Isaías 49: 1-2) Bonum est confiteri Domino et psallere nomini tuo, Altissime. gloria patri (Salmo 92: 1) (Ritos Iniciais)

Kyrie Eleison Christe Eleison Kyrie Eleison

Gloria in excelsis Deo et in terra pax hominibus bone voluntatis laudamos. te benedicimus te. adoramus te. glorificamus te gratias agimus tibi propter magnam gloriam tuam D[omi]ne deus Rex celestis Deus Pater omnipotens D[omi]ne fili uni genite Jesu Xriste D[omi]ne Deus agnus Dei filius patris qui tolis peccata mundi miserere nobis qui tolis peccata mundi suscipe deprecacionem nostram qui sedes ad dextram patris miserere nobis q[uo]nniam tu solus sanctus tu solus D[omi]nus tu solus altissimus Jesu Christte cum sancto speritu in gloria Dei patris amem. (Aclamação ao Evangelho) Aleluia Aleluia tu puer prophe[ta] Altissimi vocaberis: praeibis enim ante faciem Domini parare vias ejus. (Lucas 1: 76) […]

52

53


Entre 11 de Maio de 1784 (cx.30, nº4: fl.149) e 23 de

melhor, na nova igreja paroquial como se lê no registo de

Junho de 1791 (cx. 30B, nº12: fl.101v) vários paroquianos

óbito de Manoel de Almeyda, datado de 20 de Outubro de

de Vila Chã foram sepultados, não na sua igreja paroquial,

1791 (cx.30B, nº12, fl.102v): “foi enterrado em a igreja nova

como era hábito, mas na capela de S. Sebastião. Para além

desta mesma freguesia de Vila chão”.

dos enterramentos, também os casamentos ocorridos neste período de sete anos foram celebrados nesta capela,

Em termos arquitectónicos a igreja de S. João Baptista

como aquele realizado a 26 de Julho de 1788 pelo padre

é uma construção de raiz tardo-barroca, com diversas

José Lopes, em que se pode ler no registo paroquial que a

alterações e acrescentos realizados posteriormente. É

capela de S. Sebastião “agora serve de Igreja” (cx.30B, nº12:

muito provável, contudo, que a igreja oitocentista tenha

fl.43). Nestes registos paroquiais ficamos também a saber

substituído no mesmo lugar o templo mais antigo, talvez

que para além de se celebrarem matrimónios na capela, o

de traça gótica ou manuelina, dado que no seu adro foram

pároco José de Figueiredo Queiroz de Vila Chã celebrou a 2

encontradas ossadas do cemitério medieval que ali existiu.

de Dezembro de 1790 um casamento “no oratório do Aljube

A igreja, de planta rectangular, é bastante comprida devido

da Torre eclesiastica” (cx.30B, nº12: fl.45).

ao acrescento realizado nos anos 40 do século XX. A torre

Quais as razões para tão grandes alterações na rotina de

sineira encontra-se na fachada, ao centro do corpo da

sacerdotes e paroquianos de Vila Chã de Sá durante um tão

igreja, o que não é muito comum nas igrejas da diocese.

longo período de tempo? A resposta chega-nos novamente

Ainda na fachada abre-se uma rosácea neo-gótica sobre a

pelos registos paroquiais: a partir de 23 de Setembro de

porta principal. Do lado Norte da igreja foi construída a

1791 (cx.30B, nº12: fl.102) os defuntos voltaram a ser

Sacristia, também num momento posterior à edificação da

sepultados na igreja paroquial de S. João Baptista, ou

igreja setecentista.

Igreja paroquial 54

(pág. anterior)

55


Auto de entrega à paróquia de Vila Chã de Sá dos locais de Igreja Paroquial e Capela de S. Sebastião com respectivos recheios

56

Padre António Barbosa com duas crianças austriacas refugiadas na casa Lemos e Sousa (década de 40 do século XX)

No seu interior é digno de referência o conjunto de imagens

Evangelho, a primeira, e do lado da Epístola, a segunda.

de Cristo na Cruz, no topo da Capela-mor, ladeado do seu

Na sacristia guardam-se três imagens: Nossa Srª com o

lado direito pela de S. João Baptista, o padroeiro da paróquia

Menino ao colo, Stª Teresinha do Menino Jesus, Nossa Srª

e, do lado esquerdo, pela de S. Pedro. Ambas as imagens

das Dores de roca.

encontram-se em dois nichos embutidos na parede. Reza a

A igreja tinha altar em talha dourada barroca, que foi retirado

tradição que aquela imagem de S. Pedro foi encontrada no

nos anos 40 do século passado, quando o padre António

lugar de Reigoso, onde se diz ter existido uma capela deste

Barbosa procedeu a obras no templo. Não se conhece qual

Apóstolo. Ainda na Capela-mor encontram-se as imagens

foi o destino dado a essa talha. Nessa ocasião foi feito um

de Stº António, do lado do Evangelho, e a de Stª Bárbara,

altar em granito onde se representa a “Fonte da Vida” a jorrar

do lado da Epístola. As duas imagens estão colocadas

para um tanque de onde saem sete bicas, correspondendo

sobre peanhas em madeira, estilizando uma concha.

aos Sete Sacramentos, tudo em alto-relevo. Sob a fonte

Na nave encontram-se as imagens do Coração de Jesus e de

encontra-se a inscrição: COM ALEGRIA BEBEREIS DA

Stª Teresinha, do lado do Evangelho, e do lado da Epístola

FONTE DO SALVADOR. As obras foram dirigidas pelo

as de Nossa Srª de Fátima e de S. José, todas elas sobre

mestre Cosme, natural de Fataunços (Vouzela). Com ele

peanhas em granito, com nicho embutido na parede. Ainda

trabalharam os pedreiros Amando Rodrigues de Campo,

nas paredes da nave, encontram-se as imagens dos Beatos

Joaquim “Patolas”, Celestino Figueiredo, Justino Lopes de

Madre Rita e Pastorinhos de Fátima, Francisco e Jacinta,

Figueiredo, Miguel Pereira Cardoso “Mira”, António Lopes

sobre peanhas em granito, respectivamente do lado do

dos Santos e seu cunhado Eduardo Anastácio. O mestre57


1

2

5

6

4

Obras na igreja paroquial na década de 40 do século XX 1 - Igreja antes das obras. Sobre a porta, nicho onde se encontrava uma estátua do padroeiro 2, 3, 4, 5, 7 - Fases da obra 6 - Padre António Barbosa no interior da igreja 8 - Padre António Barbosa no exterior após a conclusão das obras 3 58

7

8 59


1

2

3

4

Nossa Senhora das Dores de roca, na sacristia

5

6

7

8

Imagens no corpo da igreja: 1- Coração de Jesus 2 - Santa Teresinha 3 - Nossa Senhora de Fátima 4 - São José com Menino ao colo 5 - Madre Rita 6 - Pastorinhos de Fátima 7 - Santa Bárbara 8 - Santo António

9 60

10

na sacristia: 9 - Santa Teresinha 10 - Nossa Senhora com Menino ao colo

Pia baptismal

ferreiro da obra foi José Figueiredo Cardoso “Querido”

No adro da igreja encontram-se uma estátua em mármore

de Fail. Para estas obras o pároco estabeleceu que quem

de S. João Baptista, sobre peanha em granito e enquadrado

tivesse bens contribuía com dinheiro, enquanto todos os

por quatro colunas também em granito, uma fonte de S. João

outros contribuíam com trabalho. Nos anos 70, o pároco

e um cruzeiro. Estes monumentos, bem como o Catavento

Manuel Dias Ferreira, em colaboração com a Fábrica da

“A Quantos Fizeram Vila Chã de Sá”, anteriormente na torre

Igreja, procedeu à terraplanagem de um morro que existia

da igreja, a iluminação, o calcetamento e ajardinamento do

no lado Sul da igreja, com o propósito de a tornar mais

adro da igreja, foram realizados pela Junta de Freguesia

visível. Posteriormente foi ali plantada uma vinha e um

em colaboração com a Comissão Fabriqueira e com o apoio

olival.

financeiro da Câmara Municipal de Viseu, entre 1998 e

Nas paredes exteriores da Igreja de S. João Baptista foram

2000.

colocados vários painéis de azulejos: Sagrada Família,

No jardim que ladeia a escadaria de acesso à igreja

Nossa Srª de Fátima, S. João Baptista, S. José com

paroquial, encontram-se duas esculturas em granito,

Menino Jesus ao colo, Nossa Srª do Carmo e Nossa Srª da

uma em homenagem à Mãe, da autoria do escultor Luís

Conceição.

Queimadela, inaugurada em 8 de Julho de 2001 pelo bispo 61


Monumento à Mãe

Monumento à Família

de Viseu D. António Monteiro, pelo Presidente da Câmara

A Sagrada Família foi uma iniciativa do padre Daniel

Municipal de Viseu e pelo Presidente da Junta de Freguesia,

Ferreira dos Santos que, em conjunto com a Comissão da

e outra representando a Sagrada Família, inaugurada em

Fábrica da Igreja, a Junta de Freguesia e a população da

17 de Abril de 2005 pelo Bispo de Viseu D. António Marto,

mesma, erigiu este monumento religioso.

pelo Presidente da Câmara Municipal de Viseu e pelo

Aquando das obras realizadas pelo padre António Barbosa,

Presidente da Junta de Freguesia. A sentida homenagem à

foi demolida a casa da Fábrica da Igreja, situada no largo da

Mãe foi uma iniciativa do presidente da Junta de Freguesia,

mesma, em frente da casa da família Nunes, onde se reuniam

prof. José Ernesto, que contou com a colaboração de vários

habitualmente párocos e paroquianos para tratar de assuntos

grupos que se constituíram na freguesia para angariar

da paróquia e onde também era dado um bodo em funerais

fundos com vista à sua concretização.

com Ofícios que consistia num pão com bacalhau frito.

62

Catequistas: década de 60 do século XX (?) Da esquerda para a direita: Maria da Luz, Olívia, Alda, Elvira do “Sabão”, Maria Irene, Maria Garcia, Adélia Paulino, Mariana “Faroz”, Armanda de Jesus, Alcina Loureiro

63


Lista de párocos de S. João Baptista de Vila Chã de Sá* 1554-1594 (não se conhecem quaisquer registos paroquiais)

1787 Brás José de Figueiredo

1595 Pedro da Veigua

1788 José Lopes

1598 António Monteiro

1788 José de Figueiredo Queiroz

1600 Francisco Vaaz

1805 Bernardo Pereira de Figueiredo

1600 José Antunes

1813 José de Figueiredo Queiroz

1603 Francisco Vaaz

1814 Frutuozo Lopes Ribeiro

1604 Domingos Pires

1825 José Esteves Correia

1604 Francisco Vaaz

1826 Jerónimo Paez Correia

1605 João Lopez

1828 Agostinho Ribeiro Pinto

1606 João de Figueiredo

1829 António Bernardo Rodrigues de Oliveira

1605 Francisco Vaaz

1830 Romão Lopes Pereira Carvalho

1625 António Correa

1831 António Bernardo Rodrigues de Oliveira

1634 Pedro Rodrigues

1831 Justino José Rodrigues

1638 João Lopes

1832 João Luiz

1639 António João

1834 Manuel Pereira

1640 Manuel Almeida

1834 Seraphim Gomes da Costa

1647 Jorge da Fonseca

1837 José Marques de Figueiredo

1647 Francisco Antunes

1838 António Rodrigues do Vale

1666 Manuel Figueira

1838 Francisco Manuel Pereira de Figueiredo

1667 Francisco Antunes

1844 José Pereira de Queiroz

1667 Manuel Figueira

1847 José da Costa Lemos de Andrade

1690 Manuel da Silva

1850 José Pereira de Queiroz

1699 Francisco Rodrigues

1875 José Lopes Pereira

1703 Domingos de Almeida

1876 Filippe Francisco de Figueiredo

1704 Domingos Lopes Rebelo

1878 Manoel Lopes de Campos

1720 Bonifácio de Almeyda

1879 Francisco Paes Pereira

1721 João da Cunha Leytão

1911 Luiz Ferreira da Ponte

1723 Bonifácio de Almeyda

1939 Franklin Coimbra

1724 Lourenço Mendes

1940 Francisco Augusto Correia de Figueiredo

1726 Martinho Rodrigues Cassam

1940 António de Barros Barbosa

1727 Lourenço Mendes

1950 João Ferreira dos Santos

1740 Manuel Lopes Rebelo

1963 Manuel Dias Ferreira

1779 António Pereira de Figueiredo Queiroz

1991 Daniel Lopes dos Santos

Documento 11 Registo de óbito assinado pelo cura Frutuozo Lopes Ribeiro que esteve na paróquia de Vila Chã de Sá entre 1814 e 1825 64

(*Lista elaborada a partir de: PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº1 a nº5; cx.30A, nº6 a nº9; cx.30B, nº12 e nº13; cx.30C, nº14 e nº15 e de Livros Duplicados Cota: cx.30A, nº52)

65


Documento 12

Documento 13

Documento 14

Documento 15

Registo de baptismo (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30,

Registo de óbito (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº2:

Registo de óbito (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº4:

Registo de óbito (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30A, nº9:

nº1, s/n)

fl.46)

fl.149)

fl.35)

Aos 2 dias de Setembro de 1611 baptizei eu o padre

Aos três dias do mes de Novembro de 1637 faleceu Maria

Terça feira onze de Maio de mil setecentos outenta e

Aos quinze dias do mes de Novembro do anno de mil

Francisco Vaz a Francisca filha de João Francisco e de

glz abintestada cumprira com o bem fazer de sua alma

quatro annos falleceo da vida prezente com todos os

oito centos e dezasete annos faleceu da vida prezente

sua molher Antonia Francisca e forão padrinhos Pedro

seu marido Dominguos Lopes. Dia mes e era ve supra. o

sacramentos Jacinta solteira deste lugar e freguesia de

Maria solteira de maijor idade de 16 annos Maria solteira

Estevão criado do ferrador e madrinha Maria filha de

padre Pedro Roiz.

Vila Cham de Sá seu sobrinho Joze Lopes e obrigado ao

filha de José Lopes Sagucho e de sua mulher já defunta

seu comprimto de bem d’alma foi sepultada na Capella

deste lugar e freguezia de Villa Chã de Sá do Bispado de

Chaa e por verdade fiz este e asinei dia mes et hera acima

de São Sebastião do mesmo lugar epara constar fiz este

Vizeu e recebeu todos os Sacramentos percizos e não

dita. Francisco Vaaz.

traslado que asigney

fez dispozição alguma seu corpo foi sepultada dentro da

O Cura Antonio Pereira de Figueiredo Queiroz.

Igreja da mesma freguezia o dito seu pay he obrigado ao

Domingos Roiz todos moradores neste luguar de Villa

comprimento do seu bem d’alma. E para constar fiz este asento, que assigney; Dia, mes, anno, Era ut Supra

66

Cura Frutuozo Lopes Ribeiro. 67


1

2

1 - Inauguração da estátua à Mãe: padre Daniel Ferreira dos Santos, dr. Fernando Ruas, jornalista, escultor Luis Queimadela, bispo de Viseu D. António Monteiro, prof. José Ernesto P. da Silva, sr. José Costa e sr. Eduardo Cortês

Documento 16

Documento 17

Registo de óbito (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30C, nº14:

Registo de óbito (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30C, nº14:

fl.4)

fl.4 e 4v)

Aos trez dias do mês de Julho de mil oito centos cincoenta

Aos dezanove dias do mês de Julho de mil oito centos

e cinco annos falleceo Anna Joaquina mulher de João

cincoenta e cinco annos falleceo Manoel Francisco,

Francisco M… e recebeu somente os sacramentos da

cazado com Maria do Carmo, e não recebeu se não

Confissão e Comunhão e não lhe dei a Extremaunção por

o Sacramento da Confissão, por não me chamarem a

me não chamarem a tempo. Não tem testamento: seu

tempo, era morador no Soutulho desta freguezia de Villa

corpo esta sepultado dentro desta igreja de Villa Chãa de

Chãa de Sá. Tem testamento: seu corpo esta sepultado

Sá. E para constar fez este Termo que assinei dia mês ano

no Cemiterio onde manda o Governo. E para constar fiz

ut supra o Cura

este Termo que assignei dia mês ano ut Supra o Cura

68

o Padre José Pereira de Queiroz.

o Padre José Pereira de Queiroz.

2 - Visita ao complexo desportivo da Pedra d’Águia: sr. António Ferreira (membro da Junta desde 1997, primeiro como secretário e actualmente como tesoureiro), prof. José Ernesto P. da Silva, padre Nuno, sr. Belarmino Costa, dr. Fernando Ruas e bispo de Viseu D. António Marto 3 - Visita pastoral do bispo de Viseu: sr. José Costa, sr. António Pais, D. Elídio Leandro, sr. João Pereira, prof. José Ernesto P. da Silva 3

Cemitério A palavra cemitério deriva do grego Koimeterion e do latim

Colégio da Via Sacra e a terceira, talvez a maior da cidade,

Coimeterium que significava “lugar de dormir”, “lugar de

na área compreendida entre a Stª Cristina, a rua Alves

descanso”. Durante o domínio romano, os mortos eram

Martins e o Bairro do Serrado.

sepultados do lado de fora das muralhas das cidades,

Entre finais do Império e inícios da Idade Média, os

geralmente ao longo de caminhos e vias de acesso. Estes

enterramentos continuaram a fazer-se no espaço das

lugares ainda não eram cemitérios, na acepção cristã, mas

antigas necrópoles romanas, entretanto cristianizadas.

necrópoles. Em Viseu conhecem-se três necrópoles desse

Essa cristianização revela-se nos novos rituais funerários

período: uma ficava na zona onde hoje é a rua Emídio

praticados – inumação despojada de qualquer mobiliário

Navarro, outra entre a capela de S. Miguel de Fetal e o

ritual –, e na construção de uma igreja onde se encontravam 69


9 11

8 2

1 7 10

6

4

5

3

Necrópoles de sepulturas escavadas na rocha no território da primitiva paróquia de S. João de Lourosa, onde Vila Chã de Sá se integrava. 1. Pedra do Altar, Vila Chã de Sá 2. Quinta da Capela, Lourosa de Baixo (2) 3. Adiqueiro, Oliveira de Barreiros (3) 4. Cruzeiro, Oliveira de Barreiros (4) 5. Quinta da Prepita, Oliveira de Barreiros (7) 6. Quinta do Giestal, Oliveira de Barreiros (3) 7. Vale de Matos, Oliveira de Barreiros (1) 8. Casa dos Gomes, S. João de Lourosa (1) 9. Celão, S. João de Lourosa (1) 10. Quinta da Castanheira, S. João de Lourosa (1) 11. Srª da Ribeira, Lourosa de Baixo (sarc.) 70

Documento 18 - Registo de óbito

Documento 19 - Registo de óbito

relíquias de um ou de vários santos mártires. Foi neste

que existe no lugar de Pedra do Altar, em Vila Chã de

período que verdadeiramente nasceram os cemitérios,

Sá (MARQUES, 2000(2): 175), são o tipo de campas que

com a conotação cristã de “lugar de descanso” dos fiéis

melhor ilustram essas práticas funerárias altomedievais.

defuntos até ao dia da Ressurreição e do Julgamento Final

Dado o seu elevado número por todo o Norte de Portugal,

prometido nas Escrituras. Fora das cidades os mortos

por um lado, e a escassez de documentação escrita desse

eram sepultados seguindo os mesmos rituais, embora nem

período, por outro lado, constituem uma fonte preciosa

sempre descessem à terra junto a um templo; geralmente

para se conhecer a estrutura do povoamento no período da

o defunto era enterrado próximo da quinta, do casal ou

Reconquista (BARROCA, 1987; MARQUES, 2000(2)).

da aldeia onde habitara, numa campa completamente anónima. As sepulturas escavadas na rocha, como a

O registo de óbito mais antigo que se conhece na 71


Documento 20 - Registo de óbito

Documento 21 - Registo de óbito

Documento 22

Documento 23

freguesia de Vila Chã de Sá é de 20 de Maio de 1595,

não excluiu que se realizassem enterramentos noutras

nº12, fl.102v): “e foi enterrado em a igreja nova desta mesma

primeiro registo de óbito (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30C,

como já referimos anteriormente. Seguramente que

igrejas, pelas mais diversas razões. Em Vila Chã de Sá,

freguesia de Vila chão”.

nº14: fl.4 e 4v) em que o defunto foi sepultado no cemitério

desde a criação da paróquia de S. João Baptista de Vila

entre 11 de Maio de 1784 (PT-ADVIS-PVIS: cx.30, nº4:

Em 18 de Setembro de 1844, foi aprovada a Lei de Saúde

da freguesia de Vila Chã de Sá e já não na igreja paroquial,

Chã de Sá, em 1554, os fiéis defuntos eram sepultados

fl.149) e 23 de Junho de 1791 (PT-ADVIS-PVIS: cx. 30B,

Pública pelo governo de Costa Cabral. Tal lei proibia

como tinha acontecido ainda a 3 de Julho do mesmo ano.

nos terrenos envolventes da igreja ou no seu interior.

nº12: fl.101v) várias pessoas foram sepultadas na capela

a prática de enterrar no interior dos templos, como era

O novo cemitério era designado de campo santo.

Antes desta data, os vilachanenses, como pertenciam

de S. Sebastião. A partir de 23 de Setembro de 1791 (PT-

costume, por razões higiénicas. Esta proibição despoletou

Em 17 de Março de 1918 a Junta de Freguesia deliberou

à paróquia de S. João de Lourosa, eram sepultados

ADVIS-PVIS: cx. 30B, nº12: fl.102) os defuntos voltaram a

no Minho, em Março de 1846, a célebre revolta da Maria

requerer à Câmara Municipal de Viseu o alargamento do

naquela igreja paroquial.

ser enterrados na igreja paroquial, ou melhor, na nova igreja

da Fonte. Depois de aprovada esta legislação cabralista

cemitério. A 19 de Maio do mesmo ano de 1918, a Junta

O enterramento no adro da igreja ou no seu interior foi

paroquial, como se registou no óbito de Manoel de Almeyda,

que gerou tanta controvérsia, sobretudo nos meios mais

voltou a deliberar o mesmo! E a 1 de Dezembro fez a mesma

praticado durante centenas de anos. Porém, essa tradição

datado de 20 de Outubro de 1791 (PT-ADVIS-PVIS: cx.30B,

tradicionalistas, encontramos a 19 de Julho de 1855 o

deliberação!! Decorrido quase um ano, a 18 de Fevereiro de

72

73


Portão do cemitério

Documento 24 74

1919, o presidente da Junta, Amando Teixeira, requereu ao

Cão para conseguir dinheiro para terminar os trabalhos

Governador Civil o alargamento do cemitério em “virtude das

(Livro de Actas).

ultimas epidemias se ter enchido de cadaveres, sendo preciso

A 31 de Janeiro de 1960 a Junta de Freguesia, presidida

andarem a fazer os enterramentos nas carreiras do Cemitério e

então por José Pereira da Silva, deliberou fazer novas obras

estas mesmas já pouco espaço terem” (Governo Civil, Obras

de alargamento do cemitério, com o intuito de permitir a

Públicas, Cx.2956, nº27). As epidemias referidas no texto

construção de jazigos de família, nomeadamente da de

da acta foram, entre outras, a terrível gripe espanhola

Henrique Pereira de Almeida. Estas obras foram em grande

que fez milhares de mortes em Portugal e milhões em

parte financiadas pelo dr. Ernesto Pereira de Almeida.

todo o mundo. A obra no cemitério de Vila Chã de Sá foi

Em 1979 a Junta de Freguesia, presidida pelo prof. José

aprovada com o parecer favorável do Delegado de Saúde,

Ernesto P. da Silva, realizou em colaboração com a Câmara

dr. José de Mello Ferrari. Contudo, apesar do processo bem

Municipal de Viseu, presidida pelo dr. Leal Loureiro, as

encaminhado, a 19 de Junho de 1921 o cemitério ainda

últimas e maiores obras de alargamento do cemitério. Este

não tinha sido ampliado por falta de verbas. Na reunião

alargamento ocupou parte de um terreno adquirido ao sr.

ocorrida nessa data, decidiu-se vender o pinhal do Vale do

Manuel Rodrigues, do Aral. 75


Altar-mor da capela de S. Sebastião

Capela da Irmandade de S. Sebastião de Vila Chã de Sá

76

Desconhece-se a data de constituição da Irmandade de

ordinario os coais com muito zelo fabricão a capella de

S. Sebastião. Foi, seguramente, posterior a 1554, data de

tudo o necesario e tam bem socorrem as almas dos irmans

criação da paróquia de S. João Baptista, e anterior a 1615,

defuntos e lhe fazem em cada hum anno dois aniversarios

ano em que obteve uma Bula do Papa Paulo V, que lhe

o primeiro em a quinta sesta feira da coresma do segundo

concedia Infinitas Indulgencias (Estatutos da Irmandade

em vinte do mes de Agosto em coais dias ha jubileo para os

de S. Sebastião).

irmãos da dita irmandade por bulla e concesam apostolica

Nas Memórias Paroquiais de 1722, o padre João da

e não há em esta freguesia outros alguns aniversarios

Cunha Leitão diz sobre a Irmandade: tem esta freguesia

ou gerais pellas almas ou especiais por alguma alma

em seo distrito tres capellas huma junto ao povo da

particollar.

emvocação do invicto martir Sam Sabastiam do baixo

Os Estatutos da Irmandade mais antigos que se lhe

do patrocinio do coal esta fundada huma irmandade de

conhecem datam de 1771 e foram mandados fazer pelo

pessoas seculares e eclegiasticas com aitoridade do

então Reitor Manoel Lopes do Couto. 77


Documento 25 Estatutos da Irmandade de S. Sebastião de Vila Chã de Sá (fl.4-5) Considerando os freguezes de Villa Cham de Sá, freguezia de São João baptista filial da Sancta Sé da Cidade, e Bispado de Vizeu: quam proveitoza he a intercessão dos Sanctos, e o ajudarem-se huns aos outros, com oraçoens pelo bem commum dão brado, que escala ao Ceo, e são de muita efficacia para com Deos conforme ao 78

Capitolo quarto do Exodo aonde orando Moises pelo bem

Romanos, dos quais consta, Publio Tacito, q estando

por seus rogos, e intecessão, sejamos todos asim Irmãos,

commum, dice Deos a Moises, porque gritas para mim; e

aquella grande, e populoza cabeça do Mundo a Cidade

como os mais fieis Christaons, livres de todos os malles

Santiago Apostolo em huma sua Epistola Capitolo quinto

de Roma enficionada com o grande, e cruel mal da peste,

espirituais, e temporais.

dis, Orai huns pelos outros, para que sejais salvos, porque

tão contagiozo, que a nenhu perdoava, per pimissão

val munto diante de Deos a continua petição dos justos:

Divina, e do Ceo foi posto hum Altar com a imagem do

Aos 38 capítulos que tinham inicialmente (1771), foram

e asim determinarão, e ordemnarão fazer, e erigir huma

Glorioso, e invicto Martir S. SBASTIÃO na Igreja chamada,

acrescentados 15 em várias alterações realizadas nos anos

Irmandade debayxo da tutela, e protecção do invicto

a Igreja de S. Pedro ad vincula: logo pelos mericimentos

de 1780, 1784, 1793, 1817, [1817-1850] e 1850. Estas

Gloriozo Martir S. SEBASTIÃO, tomando-o intercessor,

deste gloriozo Sancto sessou aquelle grande mal da

foram devidamente aprovadas como mandava a lei:

e defenssor nas necesidades espirituais, temporais,

peste. Seja o Senhor sempre louvado, e seja tão bem

e males contagiozos, como discretos a imitação dos

servido, por quem padeceo este invicto Martir, para que 79


3

Documento 26 (Estatutos da Irmandade de S. Sebastião de Vila Chã de Sá fl.30)

1

O Doutor Jozé da Fonseca

1. S. Romão 2. S. Sebastião 3. Bandeira da Irmandade de S. Sebastião 4. Bandeira da Irmandade de S. Sebastião com representação de Nossa Srª da Conceição 5. Pormenor dos capitéis do Altar-mor

de Andrade e Aguiar do Dezembargo de Sua Magestade Excelentissima que Deos guarde seu Provedor com Alçada em esta Cidade e Provedoria de Vizeu pela

2

5

4

mesma Senhora Nossa Faço saber aos que este meu Alvara de confirmação virem que eu aprovo e confirmo, hey por

80

aprovados e confirmados os

Em 1775, o Reitor da Irmandade mandou fazer uma nova Tribuna

Em termos arquitectónicos a capela de S. Sebastião

Estatutos retro, que mando

e Altar da capela, tendo obtido a respectiva Licença para a sua

apresenta planta retangular. O altar, em talha dourada,

se cumprão e guardem como

bênção em 20 de Janeiro daquele ano (ALVES, 1964: 332).

é estilo Rococó (2ª metade do século XVIII). No centro

nelles se contem para o que lhe

Em

estatutos

do Altar encontra-se uma belíssima imagem barroca de

interponho minha authoridade

convenientemente reformados e approvados, como se pode

Nossa Srª da Conceição, em madeira policromada; do

e Decreto judicial etc. Dado

ler na capa da publicação. No primeiro capítulo, são

seu lado direito, em nicho, encontra-se uma imagem

e passado em esta Cidade de

definidos os seus princípios gerais:

do padroeiro da capela da Irmandade, S. Sebastião,

1892

a

Irmandade

editou

os

seus

Vizeu sob meu signal e sello ou

- prestar o devido culto ao glorioso martyr S. Sebastião;

e do lado oposto, também em nicho, encontra-se a

sem elle excausa aos dês dias

- prestar soccorros espirituaes, aos irmãos vivos e defunctos;

imagem de Santiago peregrino. Ainda no Altar-mor, em

do mez de Abril de 1780.

- a pratica da caridade em geral

ambas as paredes laterais, foram penduradas como 81


Quem foi S. Sebastião? Tem o cognome de Defensor da Igreja; comemora-se a 20 de Janeiro. Nasceu em Narbona. As suas qualidades de afabilidade cedo o tornaram conhecido na corte dos imperadores. Chegou a ser um dos favoritos do imperador Diocleciano que o nomeou capitão da sua guarda. Enquanto soldado romano socorreu muitos cristãos encarcerados e converteu outros. Foi denunciado ao Imperador e condenado a ser morto por flechadas. Sobreviveu e foi curado por Irene, viúva do santo Mártir Cástulo. Depois de recuperado, S. Sebastião confrontou o Imperador com a crueldade que este fazia com os cristãos. O Imperador, furioso, mandou-o prender e ser morto imediatamente no circo, à varada. Depois de morto, Luciana mandou-o sepultar no cemitério Calisto. Morreu no ano de 288.

Altar colateral de S. Francisco

Altar colateral de S. Bernardo

quadros as pinturas maneiristas a óleo da Bandeira

tábuas das pinturas maneiristas originais, truncadas

revestimento de azulejos nas paredes interiores, com o

acompanhado pelo presidente da Câmara Municipal de

da Irmandade, respectivamente S. Sebastião, do lado

pela colocação das colunas barrocas. No topo do altar

apoio do Ministério da Habitação e Obras Públicas através

Viseu. Em 17 de Abril de 2005, o bispo de Viseu D. António

do Evangelho, e Nossa Srª da Conceição, do lado da

de S. Bernardo, do lado da Epístola, em quadro central,

da Direcção Geral de Equipamento Regional e Urbano e

Marto, acompanhado pelo presidente da Câmara Municipal

Epístola.

encontra-se uma pintura de Stº António com o Menino

Junta de Freguesia.

de Viseu, visitou a capela de D. Sebastião já totalmente

Os altares colaterais da capela da Irmandade foram

ao colo.

Em 2000/2001 a capela foi objecto de obras de restauro

restaurada.

originalmente ali colocados no século XVII, dado o traço

A nave da capela é de corpo único. Sobre a porta

no seu interior e em 2004/2005 na parte exterior. As

No adro da capela encontra-se a Pedra-de-Altar que para ali

maneirista que ostentam na parte superior, e no século

seiscentista da fachada encontra-se um pequeno nicho

obras foram financiadas pela ADDLAP (Associação de

foi deslocada aquando das obras em 2000, com o intuito

XVIII foram reformados com a colocação de dois pares

com uma imagem em granito de S. Sebastião.

Desenvolvimento Dão-Lafões e Alto Paiva) e pela Junta

de celebração de missas campais.

de colunas torsas em cada um deles. No altar de S.

Em 1981 a capela foi objecto de um primeiro conjunto de

de Freguesia. Em 14 de Março de 2002 o bispo de Viseu

Francisco, do lado do Evangelho, ainda “espreitam” duas

obras no seu telhado, pavimento interior, electrificação e

D. António Monteiro visitou os trabalhos já realizados,

82

Primeira página do Missal Romano

83


Capela de S. José Em 14 de Novembro de 1693 o tabelião Manoel de Almeida

Diogo de Lemos e Barros Conego prebendado na Sé desta

Cardozo redigiu o Instrumento de Vínculo e Capela de S.

Cidade aonde eu Tabalião vim estando ahi prezente o

José de Vila Chã de Sá, em casa do cónego Diogo de Lemos

Reverendo Antonio Gomes da Costa Abbade de Santa

e Barros, em Viseu.

Eulália deste Bispado pessoa bem conhecida de mim Tabalião por elle foi dito em minha prezença, e das

Documento 27 1693, Instituição do Vinculo e Capella de S. Jozé, q fez o R. Antonio Gomes da Costa Abb.e de S. Eulalia, cuja propria está lançada no L.o Velho. Saibão quantos este publico Instrumento de Instituição de Vinculo, e Capella ou como em Direito melhor lugar haja virem como no Anno do Nacimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil seis centos noventa e trez annos: aos quatorze dias do mez de Novembro do dito anno nesta cidade de Vizeu em as cazas das moradas do Reverendo

Testemunhas ao diante nomeadas, e asignadas que elle tinha tinha no lugar de Villa Chaã de Sá huma capella que mandara edificar, a qual foi benta pelo Illustrissimo Dom João de Mello Bispo deste Bispado, e hé da Invocação de S. Jozé, e nella se celebrão os Officios Divinos á muitos annos, a qual Capella dise elle Reverendo Abbade Antonio Gomes da Costa, que unia e vinculava toda a sua fazenda de raiz, que tem de Prazos perpetuos fateozins com as condições nos Emprazamentos declaradas, cujos foros e pençoes rendem em cada hum anno sessenta e sete mil reis em dinheiro, que os foreiros tem obrigação de pagar, e por sua conta e risco no lugar de Villa Chaã de

Capela de S. José, propriedade da família Lemos e Sousa (pág. anterior) 84

85


Altar-mor da capela de S. José 86

Sá em dia de S. Jozé; e asim mais unia e vinculava a dita

Chaã de Sá, tera preferência na Elleição da dita Capellania

Capella o dinheiro que traz a razão de juros em maos de

sendo capaz para poder ser Elleito nella. E não havendo

diversas pessoas a cinco por cento na forma declarada

Clerigo no dito Lugar que seja capaz de poder servir a dita

nas Escripturas que delle tem, os quaes juros importão

Capellania, ellegerão os Administradores Capellão na

noventa e sete mil e quinhentos reis cada anno: os quaes

forma asima declarada, e com a obrigação de viver no

rendimentos dos ditos Prazos, e dinheiros de juro une, e

dito Lugar, como asima fica dito, e será mais obrigado o

vinculla em Capella e Morgado, ou como em Direito

dito Capellão a dar da porção que lhe fica taxada, cera,

melhor haja lugar, para que esteja sempre vivo, e delle se

vinho, e hóstias para as ditas Missas. E se o dito Capellão

satisfação as obrigações adiante declaradas a saber =

estiver legitimamente empedido para não poder satisfazer

Que dos ditos rendimentos se dirá Missa quotidiana na

com a dita Missa quotidianna na dita Capella, a poderá

dita Capella para o que se darão quarenta mil reis ao

mandar dizer a outro Sacerdote, a quem dará a esmola

Capellão cada anno: e alem dos quarenta mil reis posuira,

por que com elle se concertar, e se o dito empedimento

e logrará hua vinha, que elle Instituidor tem no dito lugar,

passar de seis mezes, os ditos Administradores proverão

aonde chamão a corredoura tapada sobre si, e cazas em

a dita Capellania em outro Capellão, emquanto durar o

que viva no dito lug.r, as quaes hade dar Manoel de

tal impedimento, na mesma forma, e com as obrigações

Mesquita de Loureiro de Gallifoins concelho de Lafoes

asima declaradas, e com a asistencia e voto do dito

como no Empreazamento que elle Instituidor lhe fez se

Reverendo Conego Diogo de Lemos e Barros, ou do que

declara; e mais hum cazal de vinte alqueires de pão

lhe suceder; e tanto que sessar o dito empedimento

meado de que he cazeiro Antonio João o Caião do mesmo

tornará o dito Capellão a servir a dita Capellania. E o dito

lugar, o qual cazal logrará em sua vida Izabella Salgada

Capellão poderá dizer hu dia de cada semana Missa por

criada delle Instituidor, e por sua morte passara ao dito

quem lhes parecer, não sendo em dia de Domingo ou dia

Capellão, o qual cazal se não podera vender, nem dividir,

Santo. E o cura que for na Igreja do dito Lugar de Villa

nem tambem a dita vinha, porque hua e outra couza

Chaã de Sá dirá cada semana hua Missa na dita Capella

logrará o dito Capellão emquanto o for desta Capella, e os

de São Jozé o dia que elle quizer, para que sinão falte á

mais que lhe forem sucedendo nem o poderão partir,

obrigação de Missa quotidianna, e os Administradores

alhear, nem trocar. E tudo o dito Capellão trará bem

deste Vinculo darão ao dito Padre Cura trez mil reis por

reparado, e cultivado asim as ditas cazas, com a vinha. E

anno. E asim esta Missa que o dito Padre Cura hade dizer,

os Administradores terão cuidado de que asim tudo ande

como as mais que hade dizer o dito Capellão serão pella

bem reparado que será por conta do dito Capellão: o qual

tenção

Capellão terá mais obrigação de viver no dito lugar de

Administradores darão cada anno quatro mil reis para a

Villa Chaã de Sá, e será o que elle Instituidor nomear, e

fabrica da dita Capella, e os depozitarão em mão de

não nomeando, o nomearão os Administradores, e por

Pesoa segura, e abonada para que estejão promptos a

morte do dito Capellão, ellegerão outro os ditos

todo o tempo que necessarios forem para a dita fabrica, e

Administradores com a asistencia e voto do Reverendo

se fara hum Livro, que servirá de receita e despeza da dita

Conego Diogo de Lemos e Barros, e sendo falecido, com

fabrica. Haverá quatro Mercieiras que asistão á Missa

o Conego mais antigo em Cadeira da Meza aprestimada

quotidianna, rezando cada huma dellas huma coroa de

da Sé desta cidade de Vizeu: o qual Capellão será de boa

Nossa Senhora pela tenção delle Instituidor, e a cada

vida e costumes, e avendo Clerigo do dito Lugar de Villa

huma dellas se dará hum cruzado cada mez, e por cada

delle

Instituidor:

e

tambem

os

ditos

87


Pormenor dos capitéis do Altar-mor

Pormenor do remate do Altar-mor

vez que cada huma dellas faltar á asistencia da dita

outra Orffa com as condições asima declaradas. E estes

anno. E o Escrivão haverá mais, alem dos seis mil reis,

Estas são as clauzulas principaes da Escriptura da

Missa, o Capellão as multará em sinco reis, que se

Dotes serão dados com asistencia e votos do dito Conego

dois mil reis para papel. E darão inteira satisfação a tudo

Instituição da Capella de S. Jozé que foi feita pelo Tabelião

aplicarão para a cera das mesmas Missas da dita Capella:

Diogo de Lemos e Barros, e do q lhe suceder. Nomeio

quanto aqui he disposto, sob cargo de suas conciencias,

Manoel de Almeida Cardozo [1693 Novembro 14], e se

e se alguma das Mercieiras estiver legitimamente

para Administradores deste Vinculo e Capella ao Provedor

e correrá por conta do dito Escrivão fazer cada mez

acha a propria no Livro Velho desta Capella a fl.37v.º

empedida, se lhe dará o dito cruzado por mez sem lhe

e Escrivão que for da Meza da Mizericordia desta cidade

pagamento ás ditas Mercieiras na forma atraz declarada,

tirar couza alguma, mas terão obrigação de rezar a dita

de Vizeu, os quaes cobrarão, e mandarão cobrar o

o qual pagamento não fará, sem lhe trazerem certidão do

E no mesmo a fl.40 se acha o Instrumento de acceitação

coroa: as quaes Mercieiras serão as que elle Instituidor

rendimento deste Vinculo, e satisfarão as obrigações

Capellão de como asestirão. E satisfeitas as obrigações

deste Vinculo que fizerão o Provedor e Meza da

nomear, que servirão emquanto forem vivas, e por

delle na forma que fica declarado tudo com a asistencia e

deste Vinculo, o que subejar dos rendimentos delle

Mizericordia em 18 de 9br.o de 1693 = Tab.am o dito

falecimento de cada huma dellas, os Administradores

voto do dito Reverendo Conego Diogo de Lemos e Barros,

despenderão os ditos Administradores com a asistencia e

Manoel de Almd.a Cardozo.

com asestencia, e voto do dito Conego ellegerão outra,

emquanto for vivo, ou do Reverendo Conego mais antigo

voto do dito Reverendo Conego, em obras pias da Caza

que não poderá ser de menos idade de concoenta annos,

da Meza aprestimada, que lhe suceder. Os quaes todos

da Mizericordia, e sua obrigação como melhor lhe

(A.S.C.M.V., Livro da Instituição do Vinculo e Capella de

e serão naturaes do dito Lugar de Villa Chaã de Sá

trez juntos serão obrigados em dia de S. Jozé, acharem-

parecer. E declarou elle dito Instituidor q as Escripturas, e

S. Jozé, 1693; MAGALHÃES, 2008: 2-3)

havendo as nelle. Em cada hum anno se dotarão duas

se na dita Capella de S. Jozé de Villa Chaã de Sá, e nella

titillos dos Prazos, e Escripturas de juros deste Vinculo,

Orfas com o Dote de vinte mil reis cada huã e não poderá

proverem os ditos dois Dotes das ditas duas Orffas, e

estarão na Caza da Mizericordia em hum caixão que se

Neste documento, o padre António Gomes da Costa vinculou

ser dotada a que passar de edade de quarenta annos, e

proverão tambem algum lugar de Mercieira, ou do

mandará fazer, o qual terá trez chaves deferentes, e huma

os seus bens de raiz e dinheiro a juros à capela de S. José,

serão estas Orffas, e terão obrigação de se receberem na

Capellão, estando vago, não sendo cazo que seja

chave terá o Provedor, outra o Escrivão, e outra o dito

que tinha sido por si edificada e benzida pelo então bispo

forma da Igreja dentro de dois annos, e não se recebendo

necessario proverse antes do dito dia. E cada hum delles

Reverendo Conego.

de Viseu D. João de Mello (1673-1684). Nomeou como

dentro delles os Administradores provirão o dito Dote em

haverá do rendimento deste Vinculo, seis mil reis cada

88

administradores o provedor e o escrivão da Misericórdia de 89


Pormenor das paredes revestidas a azulejos maneiristas de “tapete”

Viseu e o cónego da Sé, Diogo de Lemos e Barros.

com a estrutura retabular. Esta, em talha dourada também

Os rendimentos da capela seriam utilizados para que um

maneirista, está embutida sob o arco. Ao centro, assente

capelão nela celebrasse Missa diariamente e o cura paroquial

sobre peanha, encontra-se a imagem de S. José, ladeada

uma vez por semana. A essas missas deveriam vir todos os

por dois pares de colunas de fuste direito. Estas têm o

dias quatro merceeiras da povoação de Vila Chã de Sá que

terço inferior com ornatos de grotescos e o restante fuste

rezariam uma coroa de Nossa Senhora pelo instituidor da

com estrias de orientação oblíqua. A superfície do altar,

capela. Estas receberiam um cruzado por mês.

atrás da imagem de S. José, é pintada, configurando

Em cada ano os administradores deveriam dar a duas órfãs

uma glória solar proporcional à imagem, enquadrada por

da aldeia um dote de vinte mil reis cada e à fábrica da

duas cabeças aladas nos cantos superiores, ladeando a

capela quatro mil reis.

pomba do Espírito Santo, e dois vasos de flores nos cantos

O Instrumento de Vínculo determina também que no dia de

inferiores. No remate do altar, em forma de edícula, ao

S. José os administradores, reunidos na capela, deveriam

centro e sob o frontão arqueado, encontra-se uma pintura

escolher as órfãs, alguma merceeira e o capelão, caso

que figura a Virgem com o Menino num ambiente familiar.

fosse necessário substituir algum em falta.

A poucas dezenas de metros da seiscentista capelinha

A pequenina capela de S. José, de planta rectangular, tem

de S. José, ainda na mesma rua, encontram-se duas

as suas paredes interiores totalmente revestidas de azulejos

interessantes casas de traça seiscentista, também com

maneiristas de “tapete” com o motivo da maçaroca, com

muito valor histórico e patrimonial.

excepção do interior do arco, que se encontra preenchido

Imagem de S. José (pág. seguinte)

90

91


Vestígios da desaparecida capela de S. Domingos

Capela de S. Domingos

Capela de S. Pedro

A disputa sobre a tutela desta capela, situada nos

Na área de terrenos de cultivo designada por Reigoso, na

limites das freguesias de Vila Chã de Sá e S. João de

periferia de Vila Chã de Sá, existiu uma capela cujo orago

Lourosa, levou a conflitos, por vezes violentos, entre os

era o Apóstolo S. Pedro. Pode-se concluir da passagem das

paroquianos de ambas as localidades. As pauladas e

Memórias Paroquiais de 1722 que por essa altura o templo

murros, distribuídos equitativamente por ambos os lados,

ainda existia: Ha mais outra capella do apostollo Sam Pedro

não fizeram mais do que umas cabeças partidas e umas

cita distante do lugar em partes de serras muito antiga que não

nódoas negras nos corpos dos de Sá e nos de Teivas. Mais

consta da sua fundação nem tem administrador particullar.

de cem anos decorridos, ainda se recordam de ambos os

Quase três séculos decorridos sobre o escrito do cura de

lados as peripécias pouco condizentes com o lugar que era

Vila Chã de Sá, nada resta da capela no lugar de Reigoso,

reivindicado.

a não ser a memória transmitida oralmente de geração em

Em altura que se desconhece, a pequena ermida entrou

geração de que ali era o S. Pedro. Conta-se também que a

em ruína e hoje pouco mais resta no local do que um

imagem do Apóstolo que se encontra na Igreja paroquial foi

amontoado de pedras das suas paredes e telhas do seu

trazida daquele lugar.

telhado. A imagem do santo, ao que parece, foi levada para Passos de Silgueiros. 92

Alminha do Largo da Capela 93


Alminha do Adjunto. Os srs. Armando ”Quinze” e Abílio com a opa da Irmandade de S. Sebastião

Alminha de Casal de Igreja

Cruzeiro do adro da capela de S. Sebastião

Cruzeiros e Alminhas Ao longo dos séculos, a Igreja, enquanto instituição, e

Em Vila Chã foram erigidos quatro Cruzeiros, todos em

as populações foram erigindo os mais diversos edifícios

granito. Os mais antigos, do Reguengo e do Largo dos

e monumentos de culto, de carácter público ou privado.

Castanheiros, são provavelmente do século XVIII. Os

Já vimos que em Vila Chã de Sá, para além da Igreja

cruzeiros da igreja paroquial, da capela de S. Sebastião e

paroquial, existem outros edifícios de culto como a capela

do cemitério foram colocados pela Junta de Freguesia em

da Irmandade de S. Sebastião e a capela de S. José. De

1998 e 2000.

entre os monumentos religiosos mais simples ligados

As três alminhas de Vila Chã de Sá, também em granito

às práticas devocionais encontram-se os Cruzeiros e as

como os cruzeiros, há muito que se encontram desprovidas

Alminhas

da tabuinha onde estavam representadas as Almas no

Enquanto que a cruz em madeira, em pedra, pintada ou

Purgatório. Os monumentos do Largo de S. Sebastião

grafitada, é um símbolo que já se encontra representado

e da rua da Eira poderão ter sido encomendados na

na arte do primitivo cristianismo, as Alminhas são

mesma altura, dado que apresentam os mesmos motivos

monumentos bem mais recentes, fruto sobretudo de novas

decorativos vegetalistas. A alminha do Casal da Igreja é

concepções e práticas religiosas pós-medievais, dado que

mais simples e não apresenta qualquer decoração.

o próprio Purgatório, enquanto “espaço físico” de expiação

Todas elas estão à beira de caminhos antigos, hoje

dos pecados, é uma concepção que só aparece no discurso

alcatroados. Tal facto, recorrente neste tipo de monumentos

teológico no século XII.

de devoção popular, destinava-se a lembrar aos transeuntes

94

Alminha da Várzea

que era necessário rezar pelas almas que estavam no

Erradamente,

Purgatório porque no futuro também seria necessário que

associado a algumas alminhas a ideia de que ocorreram

alguém rezasse por eles.

acontecimentos trágicos naquele local, geralmente a

Ao longo do ano, as Procissões, e por vezes os funerais,

morte de alguém. É o que sucede com a alminha do lugar

paravam junto das alminhas e rezava-se um Pai Nosso e

da Várzea relacionada com o crime passional ocorrido em

uma Avé-Maria. Pela Quaresma, grupos de paroquianos

Vila Chã de Sá a 16 de Setembro de 1908, eloquentemente

faziam a Ementação das Almas. Este ritual, caído em

noticiado n’O Commercio de Viseu (nº2303 de 20 de

desuso nas últimas décadas, consistia na entoação

Stembro de 1908).

portanto,

encontramos

por

vezes

de cânticos religiosos de cariz popular pelas Almas do Purgatório. 95


Património Etnológico

Diz o provérbio popular que “no Carnaval ninguém leva a

tenha sido objecto dessas brincadeiras pois a sua história

mal” e diz muito bem, porque é a época do ano em que

de vida a isso era propícia. Enviuvou aos 86 anos, mas,

o mundo parece que fica virado do avesso e é permitido

apesar da provecta idade, desejou casar novamente e a

fazer quase tudo, sem que daí resulte ofensa grave para

escolhida foi uma rapariga de Teivas com idade de ser

os outros. Em Vila Chã de Sá, tal como em muitos lugares

neta do octogenário, dado que tinha 22 anos. A família

do nosso país, era a altura para soltar pelas ruas os

dela, apreensiva com decisão tão arrojada, levou o caso

Cabaços, uma tradição antiga que provocava o riso entre

para à Justiça. Diz-se que na audiência com o juiz, este

aqueles que nela participavam. Esta brincadeira, caída

lhe terá perguntado, com o intuito de se inteirar do estado

em desuso nos últimos anos, consistia em gritar alto e

mental de Ricardo “Cabanas”, que horas eram, ao qual

em bom som, a coberto da escuridão nocturna, certas

ele prontamente respondeu, sem olhar para o relógio, que

“verdades” de pessoas bem conhecidas da terra, que por

eram, pela altura que o Sol levava, mais ou menos 4h30m

uma ou outra característica ou acontecimento vivido eram

da tarde. O juiz ficou convencido que o noivo estava em

objecto dessa brincadeira. Os namorados, as alcoviteiras,

seu perfeito juízo. A coroar a história, o feliz casal ainda

as falsas beatas e os “amigos do copo”, costumavam ser

teve uma filha, que segundo consta vive para as bandas de

os alvos preferidos dos vozeadores, lembrando algumas

Lisboa. Não admiraria que os Cabaços andassem pelo povo

das mais célebres personagens do teatro vicentino. Tavez

de funil na boca a gritar: Homem velho e mulher nova,

Ricardo “Cabanas”, ancião oriundo de Cabanas de Viriato,

filhos até à cova!

Em pé, da esquerda para a direita: Amanda Jesus, Cidalina, Celeste, professora Filomena Inês, António “Moire”, Manuel “Contrata” e Adelino “Teixugo”; sentados: D. Maria Isabel Pereira de Almeida, D. Lucinda de Jesus, sr. Henrique Pereira de Almeida e sr. José Francisco Pereira da Silva 96

(página anterior)

97


1

3

2

4

1. Rodízio 2. Telhado com telha de Teivas 3. Levada do moinho 4. Mó (Ecomuseu)

Moinhos de rodízio A compra de um moinho de rodízio na ribeira de Teivas

Ainda na mesma ribeira, no lugar das Remôlhas, existiam

por Pelágio Soeiro a Gonçalo e Picanço (INQ. 853-854)

também dois moinhos, um de João Ladeira e um de Zé

constitui a referência documental mais antiga a este tipo

“Bacatela”. No Pisão, havia um da família do “Camões”,

de tecnologia moageira. Tal sistema de moagem proliferou

de Passos de Silgueiros, que tinha aí um forno de cozer o

sobretudo nos cursos de água do Norte e Centro de Portugal,

pão. Na Regada Nova existia um moinho de Maria Isabel P.

mantendo-se inalterado do ponto de vista tecnológico até

de Almeida e Silva. No lugar do Pincho, a família de José

aos nossos dias.

Francisco da Silva tinha quatro moinhos.

Na ribeira de Sasse, nos Lagares, existiam moinhos,

Para além destes, subsistem ainda moinhos no rio Pavia, em

respectivamente dos “Rabecas” de Rebordinho, da Tia

Soutulho, que eram de vários proprietários: um de Eduardo

Albertina, também de Rebordinho, e do “Cabeça Torta”

Moleiro, dois do António “Chumbo”, um do Gonçalves

de Teivas. Hoje, apesar de arruinado, apenas subsiste um

“Beleza”, outro da família dos “Grilos”, dois da família dos

deles, junto à ponte de Lagares, sobre a ribeira de Sasse.

“Pinadores” e dois da família de Augusto Figueira.

Moinho do Soutulho 98

(pág. anterior)

99


Pote de azeite (ecomuseu)

Lagar de azeite, doado pela família de José Carvalho; funcionou durante centenas de anos no lugar dos Lagares.

a - moega b - quelha c - chamadouro

Lagares de azeite

d - mó

A oliveira é a árvore de fruto mais abundante na freguesia

O registo respeitante ao ano de 1606 refere dois lagares

e - agulha ou aliviadouro

de Vila Chã de Sá. A produção de azeite, que não é tão

de azeite em Vila Chã, certamente já existentes no ano

f - pelão ou relão

antiga no Centro e Norte de Portugal como o é no Sul, já se

anterior; os documentos não esclarecem onde é que estes

g - cubo

encontra documentada nesta freguesia desde os inícios do

se localizavam exactamente.

h - seteira

século XVII, mais precisamente desde o ano de 1605 (PT

Junto à ponte dos Lagares, na margem direita da ribeira de

i - rodízio de penas

- ADVIS - CVIS723/40, Cota: liv.637/478, fl.126 - 126v).

Sasse, havia um lagar de azeite de uma vara que laborou

j - aguilhão ou espigão

Este registo encontra-se nos Livros da Tulha do Cabido da

até finais dos anos 50 do século XX. Desconhecemos a

l - urreiro

Sé de Viseu, dado que Vila Chã de Sá pagava dízimo ao

data da sua construção. Nos inícios dos anos 60 do século

Cabido, não só de cereais - milho, trigo e centeio - como

passado, os produtores de azeite locais passaram a fazê-lo

se pode constatar no documento, mas também de azeite.

em lagares mais modernos existentes em Viseu, em Faíl

Esse dízimo era pago por lagar e não por produção total, o

e em Parada de Gonta. Posteriormente, em data que se

que nos leva a pensar que já nesse ano havia mais do que

desconhece, o engenho dos Lagares foi completamente

um na freguesia.

desmantelado.

ESQUEMA DO MOINHO de RODÍZIO (A partir de: OLIVEIRA & GALHANO & PEREIRA, 1983: 105)

100

101


ESQUEMA DE LAGAR DE VARAS (A partir de: GALHANO, 1985: 200 - 205 e PEREIRA, 1997: 49)

Como se fazia azeite? Foi no Mediterrâneo oriental que se produziu pela primeira vez azeite. Talvez tenham sido os antigos egípcios os seus primeiros produtores. Utilizavam-no não só na alimentação mas também na medicina, nos perfumes e em rituais funerários. Terão sido os Fenícios ou os Cartagineses a introduzir essa árvore no solo peninsular. Os Romanos, primeiro, e os Árabes depois, desenvolveram o seu cultivo e a produção de azeite sobretudo no Sul da Península. Só na Idade Média a árvore mediterrânica conquistou as terras do Norte, em altitudes até aos 700m. Nos meses de Novembro e Dezembro colhe-se a azeitona à mão ou varejando as oliveiras com um pau comprido. Depois de apanhada de panos estendidos no chão e de limpa de folhas e ramitos, era transportada para o lagar onde podia ficar em tulhas durante alguns dias antes de ser moída. O lagar é composto por moinho, para esmagar a azeitona, uma ou várias prensas, uma caldeira e fornalha para aquecer água, câmaras de decantação, seiras, vários recipientes e utensílios diversos. Geralmente o lagar ficava localizado na margem de um ribeiro ou rio, dada a necessidade de utilização de água na tracção das galgas, no caso de serem acionadas hidraulicamente e não a sangue. A roda de água podia ser horizontal ou vertical. No segundo caso a propulsão podia ser inferior ou superior. A moagem era feita pelas galgas no pio, ou vasa, durante aproximadamente 3 horas até as azeitonas – polpa e caroço – ficarem transformadas numa massa. Então, a massa era retirada com pás de madeira para gamelas e depois colocada nas seiras. Sobre estas, depois de cheias e sobrepostas, era colocado o adufe e, sobre este, os malhais. A prensagem era feita aterrachando o fuso – ou sarilho – que se encontrava fixo ao peso do lagar, à vara. A enorme pressão exercida sobre as seiras – entre 2 a 10 kg por cm2 – fazia escorrer o azeite das seiras para canais que conduziam o líquido para a(s) tarefa(s). Passado algum tempo desapertava-se o fuso para caldear a massa. Este processo consistia no seguinte: retiravam-se as seiras para revolver a massa à mão e deitar-lhe água a ferver, seguindo-se nova prensagem. Finalmente todo o azeite produzido, misturado com a água da vegetação e do caldeamento, encontra-se na tarefa. A água como tem maior densidade fica na parte inferior da tarefa. O mestre do lagar deixa então sair a água-ruça pela sangradeira, situada na parte inferior da tarefa, ficando apenas o azeite. Este era depois retirado para recipientes.

102

Documentos 28 1605 (PT - ADVIS - CVIS723/40, Cota: liv.637/478, fl.126 - 126v)

103


104

Documentos 29

Documentos 30

1606 (PT - ADVIS - CVIS723/41, Cota: liv.638/479, fl.119 - 119v)

1612 (PT - ADVIS - CVIS723/45, Cota: liv.642/483, fl.142 - 142v)

105


Da esquerda para a direita: Maria José, Alice “Padeira”, Rita “do Alto”, Ermelinda Sá e Natália (pág. seguinte)

106

107


Cachos

Sr. Inocêncio Dias a mexer o mosto

Sr. Manuel “Taranta”

Lagares de vinho

Alambique

Terra de pão e de azeite, mas também de vinho, como se

Já na Antiguidade existiam engenhos para realizar a

pode concluir imediatamente da observação da paisagem

destilação alcoólica. Os alambiques mais simples são

vilachanense.

constituídos por quatro partes: caldeira, capitel, serpentina

Tradição

agrícola

milenar,

como

nos

recordam as inúmeras lagaretas rupestres aqui existentes,

e vaso refrigerante.

é renovada todos os anos.

A caldeira com o bagaço é aquecida por uma fornalha

Sr. Inocêncio Dias junto da sua colecção de alambiques

existente sob ela. Os vapores libertados sobem ao capitel e dirigem-se por um tubo para a serpentina que está mergulhada num refrigerante. Esta diferença de temperatura liquefaz o vapor alcoólico transformando-o em aguardente. O alambique mais antigo que se conhece em Vila Chã de Sá era o tipo cabaça, mais pequeno. Depois usou-se o médio, também tipo cabaça e finalmente os de “coluna”. Estes ainda em laboração, têm a fornalha com um termostato e duas colunas.

108

Alambique de Campos Nunes. Em Vila Chã de Sá houve ainda alambiques de Armando “Ranheto” e de D. Dores Lemos e Sousa) 109


Antigos moldes de sapatos

Instrumentos para fazer tamancas

Artesanato Em Vila Chã de Sá não houve muitos artesãos, talvez

“Gargalo de Cântaro”, também tinha sido tamanqueiro.

por se encontrar às portas da cidade de Viseu onde se

Antigamente, como nos relatou junta à banca onde

podia abastecer de todo o tipo de produtos no mercado

ainda trabalha, ia com a sua mulher, a srª Piedade

semanal e, em Setembro, na Feira Franca de S. Mateus.

Santos, buscar ameeiros ao rio para depois, em casa, os

Por altura da festa de S. Bartolomeu de Silgueiros, o

cortar em rolos que por sua vez eram cortados ao meio,

povo também se deslocava ali para comprar utensílios

perpendicularmente, e trabalhados com uma enxó. Por

agrícolas, cântaros de barro, pipos, gamelas, cestos,

fim, utilizavam o formão para modelar as tamancas.

etc. Ao Alto do Paneleiro ia comprar as louças de

Curiosamente, ou talvez não, José Manuel Ferreira dos

Molelos, mais utilizadas na cozinha. Contudo, também

Santos, um dos filhos do sr. Manuel, também seguiu a

havia e ainda persistem artesãos como o sr. Manuel dos

tradição familiar e explora uma casa de arranjos rápidos

Santos Pereira, tamanqueiro e sapateiro de profissão

de calçado em Coimbra, utilizando maquinaria moderna

desde criança. Como ele próprio lembra, o ofício que

para o efeito, longe já dos tempos em que o seu bisavô

aprendeu com o pai, José Pereira dos Santos, conhecido

pegava na enxó e nos moldes de madeira para fazer

por “Zé Morreta”, foi a sua “escola”. A tradição já vinha

as tamancas que o povo usava, quando não andava

de trás porque o seu avô, António Pereira dos Santos, o

descalço.

Sr. Manuel dos Santos Pereira (pág. anterior)

110

111


Inauguração do Ecomuseu: prof. António C. Lemos (vereador da C.M.V.), sr. António Francisco, dr. Fernando Ruas, srª Isabel Salvador (funcionária da C.M.V.), prof. José Ernesto P. da Silva e dr. José António (secretário da junta de freguesia de V.C.S.) Os objectos foram todos doados pela população de Vila Chã de Sá.

Ecomuseu de Vila Chã de Sá e colecções etnográficas particulares Em 29 de Junho de 2007 foi inaugurado o “Ecomuseu

S. João de Lourosa e Passos de Silgueiros ou para muito

de Vila Chã de Sá”, um projecto que contou com o apoio

mais longe, como é o caso do Alentejo. Daí, muitos dos

da Câmara Municipal de Viseu e da ADDLAP. Neste, os

vilachanenses trouxeram raminhos de trigo e de arroz para

muitos objectos utilizados na faina do campo como foices,

oferecer às namoradas, nos bailaricos organizados nos

manguais, grades de desterroar, arados, cestos, cabaças,

lugares de Casal d’Além, Rua da Capela, Castanheiros,

pipos, enxadas, serras e serrotes, carro de bois, carroça

Largo do Adjunto, Torre e Largo da Igreja. Nessas festas

de burro, moinho de rodízio, lagar de vinho, palheiro,

populares a humilde gaita-de-beiços e as concertinas

procuram reconstituir os ciclos do vinho, do azeite, do pão

eram os reis dos acordes musicais. Posteriormente a festa

e da actividade resineira. A cozinha aldeã, típica da Beira

popular concentrou-se, primeiro no Largo de Dª Dores e

Alta, com as suas panelas de ferro tradicionais e o forno

depois no Largo dos Castanheiros, sempre na primeira

do pão comunitário, retratam a casa e o modo de vida dos

semana de Agosto. Nos últimos tempos, a festa passou a

vilachanenses de antanho.

realizar-se no campo de futebol da Pedra d’Águia.

Para além do espólio material que se encontra exposto no

Com o intuito de preservar as tradições musicais

espaço museológico, também se procura valorizar tradições

vilachanenses, nasceu em Junho de 2004 o Cantorias,

orais, nomeadamente as que relatam a migração sazonal de

Grupo de Cantares de Músicas de Tradição Popular

trabalhadores para as povoações vizinhas de Rebordinho,

Portuguesa. Está integrado na Associação de Solidariedade

Pormenor do Ecomuseu 112

(pág.anterior)

113


O que é um Ecomuseu? Um Ecomuseu é um museu que tem como programa museológico a valorização de uma estrutura construída ou de um território onde o Homem desenvolveu uma ou várias actividades. Pode tratarse de um edifício, de um conjunto de edifícios, de um espaço ao ar livre, humanizado, ou de ambas as coisas. Ao invés das concepções museológicas tradicionais, que procuravam formular programas a partir exclusivamente de peças ou colecções relevantes, reunidas num edifício para esse efeito, a Ecomuseologia procura valorizar os objectos, as estruturas arquitectónicas e as vivências das comunidades no seu espaço original. Há, portanto, a valorização do património cultural, nas suas diversas acepções, no seu contexto ambiental e paisagístico.

Cozinha beirã com as sua panelas de ferro em torno do fogo. Tradicionalmente era em torno do lume que a família se reunia, não só durante as refeições, mas também ao serão, escutando histórias contadas pelos mais velhos. 114

Colecção do sr. Inocêncio Dias

Colecção do sr. Joaquim Pereira

Social Desportiva e Recreativa de Vila Chã de Sá. O Cantorias

Musical no Programa Saúde e Termalismo Sénior 2007

tem vindo a realizar um trabalho exaustivo de pesquisa e

- Programa TVI “Você na TV!”, Dezembro 2008

recolha de cantares tradicionais junto da população mais

- “Natal Penicheiro 2008” (Peniche)

idosa. Dessa compilação de memórias bem vivas merece

Após 3 anos de intensa actividade, dando continuidade

especial destaque o seu riquíssimo acervo de Cantares de

a todo o trabalho desenvolvido, surgiu o primeiro registo

Janeiras.

discográfico do Grupo, intitulado “Ora vá de Cantar!”

Apesar de ainda jovem, o Cantorias tem participado em inúmeros encontros de música popular, animações

Em Vila Chã de Sá existem também colecções etnográficas

culturais, festas populares, encontros de Janeiras de que

particulares, de que se devem destacar as reunidas

destacamos:

pelo sr. Inocêncio Fernandes Dias e pelo sr. Joaquim

- Comemorações do 13 de Maio de 2006 em Dax (França)

Conceição Pereira. Ambas são constituídas por peças

- Abertura da Feira de S. Mateus 2006 (Viseu)

relacionadas essencialmente com os trabalhos no campo

- 1º Prémio no Festival de Música Tradicional da Beira Alta

e a vida quotidiana rural na região de Viseu. As cerca de

2006

cinco centenas de badalos de todos os tamanhos que o

- Programa RTP “Portugal Azul”, Junho 2007

Sr. Inocêncio reuniu na sua adega, quando abanados

- Melhor Grupo de Música Tradicional Portuguesa no

através de um engenhoso sistema por ele arquitectado,

Concurso Nacional de Música “Festimúsica 2007”

transportam-nos, sem sairmos daquele lugar, para o meio

- Programa RTP “Há Volta! - 69ª Volta a Portugal em

de um imenso rebanho, como aqueles que ainda há poucas

Bicicleta”, Agosto 2007

décadas cruzavam muitos dos caminhos da Beira Alta,

- 1º Prémio no Festival de Música Tradicional da Beira Alta

rumo aos pastos da Serra da Estrela. Os ferros de engomar

2007

aquecidos a carvão e as candeias de petróleo que se

- Espectáculo de apresentação do CD “Ora Vá de Cantar”

podem ver na colecção do sr. Joaquim Pereira também nos

no Teatro Viriato, Dezembro 2007

levam para outros tempos quando a electricidade ainda era

- 1º Lugar na categoria de Melhor Agrupamento Serão

apenas um sonho. 115


Cantorias Da esquerda para a direita: Rui Rodrigues, José Rodrigues, António José Ferreira, José Querido, António Marques, Daniel Ferreira, Belarmino Costa, António Cardoso, José Marques, Leodina Silva, Elizabete Marques, Maria Fonseca, Fátima Figueiredo, Beatriz Martins, Elvira Oliveira, Ilda de Jesus, Helena Almeida, Sara Albernaz, Paula Marques, Raquel Cardoso, Nelida Rodrigues, Isabel Corgas, Bárbara Ferreira (sentada)

116

117


O Cortejo de S. João (24 de Junho), que se deixou de

No largo da igreja paroquial existia uma grande carvalha

realizar nos últimos anos, era uma das tradições mais

onde se realizavam as festas populares, próximo do lugar

populares entre as gentes de Vila Chã de Sá. Nesse dia

onde era a casa da família João Calais. A habitação e o

de festa desfilavam pela freguesia carros alegóricos,

terreno contíguo a esta casa foi comprado por António

geralmente carros de bois, carroças e tractores, enfeitados

Pereira Marques “Novo” e posteriormente vendido à

O magusto por altura do S. Martinho (11 de Novembro) é

brasa, acompanhadas com pão e vinho tinto. Para compor

com ramos de arbustos e flores. Os homens, vestidos de

paróquia para ali ser reconstruída uma casa para residência

uma das tradições mais enraizadas entre os vilachanenses.

o estômago, um caldo de couves e feijão, seguido de umas

mulher e com tabuleiros floridos à cabeça, eram o aspecto

paroquial. Nesta reconstrução foi utilizada muita pedra

Em família ou com os amigos, comem-se as castanhas

castanhas assadas de sobremesa, encerra o repasto festivo

mais humorístico do desfile, onde não se perdia a ocasião

saída da demolição da antiga casa da Fábrica da Igreja,

assadas na caruma e bebe-se a doce jeropiga de produção

que anuncia o Inverno.

para alguma crítica social. O cortejo ia até à Quinta do Vale

que se situava entre o adro da igreja paroquial e a actual

local.

Salgueiro, em Faíl, onde se comia e bebia para ter forças

casa da família Nunes. Nas traseiras da velha casa da

A matança do porco é outra das tradições seculares que,

Um dos poucos motivos de distracção dos vilachanenses

para o regresso. Os de Faíl também faziam um desfile

Fábrica da Igreja existia uma escadaria de acesso ao adro.

apesar de ser mais rara nos nossos dias, ainda se pratica

era o circo que por vezes ficava instalado durante alguns

semelhante, vindo a Vila Chã de Sá, à Quinta dos Lemos

Estas obras foram realizadas pelo padre António Barbosa e

e é também motivo de convívio nomeadamente depois

dias no terreiro da Dª Dores. À noite, apresentavam um

e Sousa, recompor o estômago para a viagem de retorno.

suportadas financeiramente pela população.

da desmancha, com umas fêveras do porco grelhadas na

espectáculo que incluía diversos números de ginástica,

118

Da esquerda para a direita: Zé “Piçolas”, Virginia, ?, Fernando Pais, Antero, ?, Fernando Figueiredo, ?, Lurdes Campos, ?

119


Festas do Povo na Pedra d’Águia - 2008

contorcionismo, palhaços, trapézio, trabalho com animais,

às vezes Segunda-feira), animava todos. Nos anos 40 e 50

quase sempre um pequeno macaco. Os artistas ficavam

do século XX, o dia da Festa da Povo era também um dos

instalados em tendas no próprio local onde faziam a

dias em que as famílias se esforçavam por fruir de “rancho

apresentação

que

melhorado”, utilizando carnes nas refeições de Domingo,

assistiam de pé em roda dos artistas, era pedido contributo

quase sempre matando um coelho ou uma galinha, mas

em moedas que eram colocadas num chapéu ou numa

também comprando carne de ovelha na venda do sr.

lata que corria a assistência. Normalmente os artistas

Eduardo Cardoso. Havia sempre gente, incluindo crianças,

pediam aos espectadores que fossem generosos. Mas,

a assistir à matança dos animais, desde o sangramento até

no fim do peditório, ficava sempre um lamento porque no

à divisão em pedaços e respectiva venda.

chapéu apareciam quase só moedas negras (1 e 2 tostões),

À Festa do Povo acorria muita gente das aldeias das

quando o que os artistas apreciavam eram moedas de 5 ou

redondezas, enchendo por completo o terreiro da Dª Dores

10 tostões (1 Escudo).

(mais tarde foram realizadas noutros locais, por exemplo

Outro motivo de distracção era assegurado pela projecção

nos Castanheiros). A música, tocada por grupos que vinham

de filmes na garagem da Dª Dores, situada também no

de fora, normalmente de Viseu, animava os espectadores e

terreiro.

punham a juventude a dançar. Era também o momento de

O verdadeiro momento de distracção dos vilachanenses

arranjar namoricos.

era a Festa do Povo, que ocorria em pleno Verão (Julho

Hoje, as festas populares de Vila Chã de Sá decorrem na

ou Agosto) e que durante 2 ou 3 dias (Sábado, Domingo e

Pedra d´Águia reunindo milhares de foliões que assistem a

dos

números.

Aos

espectadores,

espectáculos de música e variedades. 120

Páscoa, crianças da freguesia apanham amêndoas atiradas pelo dr. Ernesto Pereira de Almeida, na rua da Capela 121


Vila Chã de Sá do Liberalismo à Democracia

Vila Chã de Sá foi uma das freguesias que passaram

compreendido entre 1885 e 1910. A partir do ano em

a constituir o concelho de Viseu depois da reforma

que se implantou a República em Portugal, temos todos

político-administrativa de 1836 de Passos Manuel e da

os Livros de Actas. Desconhecemos, portanto, quem

publicação do 1º Código Administrativo.

esteve à frente dos destinos da Junta antes de 1885.

O Código Administrativo de Costa Cabral de 1842

A construção de duas pontes, respectivamente nos

retirou as Juntas de Paróquia da organização da

Lagares, sobre a ribeira de Sasse (ADVIS-Governo Civil,

administração pública. As paróquias ficaram apenas

Obras Públicas, Cx. 2969 nº17) e no Soutulho, sobre o

com a administração dos seus bens, da Fábrica da

rio Pavia (Actas da Câmara de Viseu de 1907 a 1909,

Igreja e com o desempenho de actos de beneficiência.

p22v), são as únicas obras públicas realizadas em Vila

Tal código vigorou até 1878.

Chã de Sá nas últimas décadas da Monarquia de que

O Livro das contas da receita e despesa da Junta da Parochia

temos documentação.

da freguesia de Villa Cham de Sá, de 1885 a 1931, é o

A 28 de Novembro de 1871, José d’Almeida Pereira,

documento mais antigo que se conhece desta Junta.

presidente da Câmara Municipal de Viseu, submeteu ao

Embora não seja particularmente rico em informações,

governador civil do distrito, Francisco de Mello Lemos e

não deixa de ser importante porque é a única fonte

Alvelos (Visconde do Serrado), o auto de arrematação e

escrita onde encontramos registados os nomes dos

projecto da referida ponte dos Lagares. De acordo com

membros da Junta de Vila Chã de Sá para o período

o auto, a obra foi arrematada a Manoel Rodrigues, de

Pormenor do Livro de Receitas e Despesas da Junta do ano de 1885 (pág.anterior)

122

123


Documento 31 - Processo de concurso para a construção da ponte dos Lagares

124

Orgens, Marcellino Pereira, de S. Martinho, e António

tinha chegado um ofício do Governo Civil do Distrito com

da Costa, também de S. Martinho, pela quantia de

o despacho do Ministério do Reino, de 25 de Novembro,

168$000 reis. No dia 31 de Março de 1872 a ponte

aprovando o projecto e orçamento de construção do

deveria estar concluída.

pontão do Soutulho. A arrematação da obra seria no dia

Anos mais tarde, a 12 de Dezembro de 1907 (p.22v),

9 de Janeiro de 1908 (Acta de 9 de Janeiro de 1908,

pode ler-se na acta da Câmara Municipal de Viseu que

p.50v). 125


Documento 32 Processo de concurso para a construção da ponte dos Lagares 126

Documento 33 Acta da Câmara Municipal referente à construção do pontão do Soutulho 127


Juiz Heitor Lemos e Sousa

Lisboa, implantação da República

Ainda nesses derradeiros tempos da Monarquia, o juiz

Marques de Campos, que já estivera à frente dos destinos

Heitor de Lemos e Sousa Cardoso de Aragão, da família

da freguesia de Vila Chã entre 1890 e 1892, voltou a

Lemos e Sousa, cujos descendentes ainda hoje habitam

presidir à sua Comissão. Não deixa de ser curioso este

o solar de família em Vila Chã de Sá, foi Provedor da

facto, dado tratar-se de um sacerdote a ocupar o cargo

Misericórdia de Viseu (1901-1902) e presidente da

e o novo regime se caracterizar, entre outras coisas, por

Câmara Municipal de Viseu, pelo Partido Regenerador,

ser marcadamente anti-clerical. Era no lugar do Adjunto

no curto período de cinco meses, entre 2 de Janeiro

que se travavam as mais acesas discussões políticas

e 4 de Junho de 1902. Tal facto deveu-se ao recurso

entre aqueles que na terra tinham mais instrução e

interposto

Supremo

estavam a par das “últimas” publicadas nos jornais,

Tribunal Administrativo, sobre os resultados eleitorais

fossem Monárquicos ou Republicanos, como eram os

nas freguesias de Ribafeita e Silgueiros. Na sequência da

casos do prof. Correia “Guitas”, Lourenço Pinheiro,

decisão daquele órgão judicial foi nomeado presidente

Monteiro, António “Gato” e muitos outros. Foram tempos

da Câmara Municipal o Progressista dr. Luiz Ferreira de

de muita instabilidade política, social e económica, com

Figueiredo.

os militares permanentemente envolvidos activamente

Com a implantação da República em 5 de Outubro de 1910

no curso dos acontecimentos, como foi a tentativa de

passou a haver eleições para as Comissões Paroquiais

golpe militar pró-monárquico, ocorrida na madrugada

Republicanas que governavam as freguesias. Nesses

de 21 para 22 de Outubro de 1913. Essa tentativa de

primeiros 3 anos após a revolução, o padre Francisco

revolução Realista foi encabeçada pelo capitão João

128

pelo

Partido

Progressista

ao

O solar da família Lemos e Sousa de Vila Chã de Sá é um imóvel cujo núcleo primitivo remontará ao séc. XVII, estando desde essa altura relacionado à família Cardoso do Loureiro. A primeira pessoa desta família ligada a Vila Chã de Sá é António Cardoso Mesquita do Loureiro, casado nesta freguesia com Dª Isabel Pereira. Este cavalheiro, natural de S. Pedro do Sul, havia construído em 1633, na sua Quinta de Galifães, uma capela dedicada a Santa Cruz, que ainda existe. Era filho de Manuel Loureiro de Campos e de sua mulher e prima Dª Filipa de Mesquita Cardoso, dispensados por bula pontifícia de 1589. Em 1690, como já vimos anteriormente, o cónego António Gomes da Costa emprazou as suas casas e capela a Manuel do Loureiro de Mesquita, filho de António Cardoso, de Galifães, e sua mulher Dª Maria do Loureiro. O seu neto, António Cardoso do Loureiro Castelo Branco, casou em Viseu a 8 de Dezembro de 1737 com Dª Ana Catarina Josefa Cardoso Pereira, sobrinha do cónego António Cardoso Pereira, Vigário Geral da Diocese, que remiu o foro e doou o vínculo à sua sobrinha. António Castelo Branco era sobrinho do arcebispo de Lacedemónia, Bispo Auxiliar de Lisboa e Vigário Geral. Foram pais de José Cardoso do Loureiro Castelo Branco, casado com Dª Maria Melízia de Almeida Pinto de Mesquita Pimentel e Vasconcelos, senhores da Quinta da Felgueira, junto a Viseu. Na sequência dum incêndio nesta sua casa da cidade, fizeram obras de recuperação da casa

de Vila Chã de Sá, datando dessa altura a pedra de armas, de difícil decifração (Cardoso, Azevedo?, Castelo, Castelo-Branco, Mesquita, Vasconcelos, Gouveia e Pinto, sobrepujado duma coroa). Do casal atrás citado, nasceu, única e herdeira, Dª Maria Emília Cardoso do Loureiro Castelo-Branco, que vem a casar com António de Lemos e Sousa Moniz Caldeira, natural da Sertã, donde era a sua mãe, Fidalgo da Casa Real, pertencendo a uma das mais ilustres famílias de Viseu, com vasto património, que deu origem à família Lemos e Sousa, apelidos hoje usados pelos senhores da casa. Deles foram netos o dr. Heitor de Lemos e Sousa Cardoso de Aragão, primogénito, e António de Lemos e Sousa, “o Fidalgo”, senhor da casa de Vila Chã de Sá, solteiro e sem filhos, que deixou a sua casa ao sobrinho, Agnelo de Lemos e Sousa, casado com Dª Maria das Dores de Almeida, pais da actual proprietária da casa, Dª Maria Margarida de Almeida de Lemos e Sousa. O dr. Heitor, pai de Agnelo, primogénito, e de mais filhos, foi uma personagem importante em Viseu, onde residia na sua casa de Stª Cristina. Dª Maria Margarida casou com o eng. José Fernando de Oliveira Amaral e tiveram 6 filhos, sendo o mais velho Dª Teresa Maria de Lemos e Sousa Amaral, casada com Gonçalo Ferreira Bandeira Calheiros.

129


d’Azevedo Coutinho, ex-oficial da Armada, e, como

(Partido

noticiava o jornal O Comercio de Viseu, “tendo ramificações

nos finais do mês de Dezembro, a mesma questão foi

em varios pontos do paiz, sendo os dirigentes já conhecidos

colocada no Parlamento, pelo dr. Júlio Patrocínio (Partido

do governo, que está de posse de todos os fios da meada”.

Evolucionista) ao Ministro da Guerra, na presença do

Este jornal local, Monárquico, informa a 26 de Outubro

presidente do Ministério, dr. Afonso Costa.

de 1913, que os revoltosos contavam em Viseu “com o

Decorrido

levantamento de cavalaria 7 de Nelas, que se dirigiria a esta

parlamentares, mais precisamente no dia 2 de Fevereiro

cidade, trazendo consigo os amotinados das povoações do

de 1914, os seguintes detidos foram enviados para

percurso, e que chegados aqui teriam a adesão do regimento

Braga, “afim de ficarem á disposição do Tribunal Marcial”:

de artilharia 7. Então os dois corpos, com os elementos civis

padre Luiz Ferreira da Ponte, João Ferreira da Ponte e

revoltados, de Viseu e de fora, fariam um ataque a infantaria

Antonio Rodrigues Barbosa, guarda rios, todos de Fail;

14, conseguindo, segundo eles, a sua rendição com toda a

Padre Francisco Paes Pereira, Antonio Paes Pereira,

facilidade, proclamando-se então a monarquia, havendo já

Justino Lopes Pinheiro e Manuel Fernandes Novo, de Vila

sido escolhidas as autoridades que assumiriam desde logo

Chã de Sá; padre José d’Oliveira, de S. João de Lourosa;

os seus cargos.” Na sequência do falhanço da intentona

e José Pereira da Rocha, João da Costa Freira, João

foi presa muita gente, de que se destacam os párocos de

Francisco da Silva, Urbano Lopes, Serafim Lourenço,

muitas freguesias, acusados de instigarem a população

Joaquim Antonio Ferreira e Braz Ribeiro de Figueiredo,

à participação nos acontecimentos. Assim, no dia 22,

estes de Cepões. Os detidos foram escoltados por uma

“começaram as autoridades a efectuar prisões, para o que

força do Regimento de Infantaria 14.

saíram para as povoações amotinadas automóveis com

A 11 de Fevereiro foram feitas novas detenções, dessa vez

forças militares, policiais e republicanos, todos armados,

só em Vila Chã de Sá, como noticia O Comercio de Viseu:

que regressavam de momento despejando gente nas prisões

“Uma força d’infantaria 14, sob o comando do sr. tenente

do governo civil. Entre eles contavam-se muitos sacerdotes,

Castelo Branco e 2º sargento Marques, custodiou ontem

como os párocos de Orgens, Vila Chã de Sá, Fail, Lourosa,

para a cadeia desta cidade os seguintes presos, todos de Vila

Côta, Abravezes, etc.

Chã de Sá, acusados de terem tomado parte no movimento

-Tambem foram ontem detidos os srs. dr. Luiz Ferreira de

politico de 22 d’outubro:

Figueiredo e filho, dr. Luiz Frutuoso de Mélo, Florido Marques,

Bernardo Lopes Ribeiro, Manoel Lopes de Campos Pinho,

João Antonio Cavaleiro, guarda Candido, nº46 da policia

Antonio Domingos Figueiredo, Joaquim Campos Figueiredo,

civica, etc, dizendo-se que se preparam outras prisões.

Antonio Lopes Correia da Cruz, Manoel Pereira dos Santos,

O sr. dr. Luiz Ferreira deu entrada na cadeia após os

Antonio Pereira Marques, Jose Pereira da Costa, Agostinho

interrogatorios. Entre outros sacerdotes entrou preso o padre

de Figueiredo Loureiro, João d’Oliveira, Antonio Marques

Adelino, de S. Cipriano”.

Lopes, Francisco Figueiredo, Agostinho Pereira da Silva e

Evolucionista)

mais

de

sobre

um

essa

mês

questão.

sobre

os

Ainda

debates

Manoel Pereira Marques.”

Documento 34 130

Até ao final do ano de 1913, os acusados viseenses

No dia 23 de Fevereiro de 1914 foram libertados todos os

foram presos e soltos pelo menos três vezes, o que

presos políticos que ainda se encontravam detidos sob

constituiu motivo de debate acalorado no Senado nos

suspeita de envolvimento no golpe Monárquico de 21 de

finais de Dezembro, com o Ministro da Guerra, Pereira

Outubro, em virtude de uma amnistia geral promulgada

Bastos, a ser questionado pelo dr. Ricardo Pais Gomes

pelo Governo.

131


A partir de Illustração Catholica 132

133


2

1 1. Percurso marítimo e terrestre até à linha da frente 2. Embarque no cais de Alcântara (Lisboa) 3. Nas trincheiras em África 4. Desembarque em no porto de Brest (França)

3

4

Grande Guerra (1914-1918) -191428/Junho: assassinato do Arquiduque Francisco Fernando (e mulher) em Sarajevo 18/Julho: a Áustria declara guerra à Sérvia 1-5/Agosto: declarações de guerra da Alemanha, Rússia, França, Inglaterra 18/Agosto: o governo português decretou a mobilização de dois destacamentos mistos para as colónias de Angola (zona Sul) e Moçambique (zona Norte), entre os quais se contam o 3º Batalhão do Regimento de Infantaria 14 (embarque: 10-12/Setembro/1914) e a 5ª Bateria do Regimento de Artilharia 7 (embarque a 11/ Novembro/1914) 25/Agosto: ataque alemão ao posto fronteiriço de Maziúa (Norte de Moçambique) 31/Outubro: ataque alemão ao posto português de Cuangar (Sul de Angola) 18/Dezembro: combate entre portugueses e alemães em Naulila (Angola)

134

-19169/Março: a Alemanha declara guerra a Portugal 10/Abril: tropas portuguesas em Moçambique tomam Quiomba 26-27/Maio: tropas portuguesas em Moçambique tentam tomar Rovuma 9/13/27Junho: tropas alemãs tomam Macaloja, Namoca e Negomano -19172/Fevereiro-20/Novembro: Corpo Expedicionário Português (CEP) chega a França (Brest) 10/Julho: o CEP integrou um sector sob comando do XI Corpo do Exército Britânico na Flandres francesa, entre Armentiéres e Béthune (em frente de Lille) 26-27/Julho: primeiro ataque da infantaria portuguesa a posições alemãs (Regimento de Infantaria 24) 14/Agosto: infantaria alemã ataca o CEP em Fauquissart -19189/Abril: batalha de La Lys (um Batalhão de Infantaria 14 pertencia à 3ª Brigada de Infantaria) 11/Novembro: assinatura do Armistício

Documento 35

O ano de 1914 ficaria tristemente célebre pelo início da

Em 1917, embarcaram para a Flandres os seguintes pra-

Grande Guerra, mais tarde designada de 1ª Guerra Mundial.

ças:

Neste conflito morreram dezenas de milhões de seres humanos de todos os continentes e a destruição material,

António Pereira Marques Novo, natural de Vila Chã de

sobretudo na Europa, nunca alcançara tamanha dimensão.

Sá, filho de José Pereira Marques e de Nazareth Marques

Portugal participou no conflito em três campos de batalha:

Gonçalves

Norte de Moçambique, Sul de Angola e Frente Ocidental.

Soldado nº 243 da 3ª Brigada de Infantaria, 1º Batalhão,

Para África seguiram, em 1914, os praças naturais de

4ª Companhia do Regimento de Infantaria 14 de Viseu.

Vila Chã de Sá, José Pereira de Campos, Lourenço Cam-

Embarcou em Lisboa a 23 de Março de 1917 e desembarcou

pos, José Maria Rodrigues e Francisco Pereira de Almeida.

em Brest a 26 ou 27. Regressou a Lisboa em 28 de Março

Apesar das investigações realizadas no Arquivo Histórico

de 1919.

Militar e no Arquivo Histórico Ultramarino, não foi possível confirmar a sua incorporação. Os seus nomes também não constam na lista de baixas ocorridas em África. 135


Documento 36

Documento 37

Documento 38

Documento 39

José da Silva Seabra Novo, natural de Fail, filho de José da

Gregório de Figueiredo, natural de Vila Chã de Sá, filho de

José Lopes Albernaz, natural de Vila Chã de Sá, filho de

José Lopes de Campos, natural de Vila Chã de Sá, filho de

Silva Novo e de Maria Emilia Ferreira.

Francisco de Figueiredo e de Ana Maria.

João Lopes Albernaz e de ? Lopes de Jesus.

Manuel Lopes de Campos e de Maria do Carmo Nunes.

Soldado nº 212 da 1ª Divisão, 2º GBA, 1ª Bateria do

Soldado nº 296 da 3ª Brigada de Infantaria, 1º Batalhão,

Soldado nº 361 da 3ª Brigada de Infantaria, 1º Batalhão,

Soldado nº 337 da 3ª Brigada de Infantaria, 1º Batalhão,

Regimento de Artilharia 7 de Viseu. Embarcou em Lisboa

4ª Companhia do Regimento de Infantaria 14 de Viseu.

4ª Companhia do Regimento de Infantaria 14 de Viseu.

4ª Companhia do Regimento de Infantaria 14 de Viseu.

a 15 de Março de 1917 e desembarcou em Brest a 19

Embarcou em Lisboa a 23 de Março de 1917 e desembarcou

Embarcou em Lisboa a 23 de Março de 1917 e desembarcou

Embarcou em Lisboa a 23 de Março de 1917 e desembarcou

de Março. Regressou a bordo do “Pedro Nunes” em 18

em Brest a 26 ou 27. Foi evacuado para o 3º Canadiano em

em Brest a 26 ou 27. Foi ferido com gases em 11 de Março

em Brest a 26 ou 27. Regressou a Lisboa em 28 de Março

de Outubro de 1919. Como a sua folha de registo refere,

27 de Fevereiro de 1918. Desembarcou do “Gil Eanes” em

de 1918. Regressou a Lisboa a 17 de Março de 1919.

de 1919.

esteve na linha da frente em Ferme du Bois e Neuve-

Lisboa a 15 de Outubro de 1918.

Chapelle

em

10/Maio/1917,

31/Janeiro/1918,

23/

Março/1918 e 9/Abril/1918. Faleceu em 18 de Outubro de 1980, encontrando-se sepultado no talhão da Liga dos Combatentes, no cemitério de Vila Chã de Sá. 136

137


Prof. Zulmira com os seus alunos na década de 50/60 do século XX Primeira fila, atrás, da esquerda para a direita: José “Piçolas” (2º), Adelino (5º), Gonçalves Cabral (6º), António Pereira Cardoso (7º), José Santos (8º), António “Truque” (10º); segunda fila: Maria da “Grila” (14º), José “Giadas” (16º), prof. Zulmira (17º), Beatriz Queirós (19º), Maria Irene (21º), Esmeraldo (24º); fila da frente: António do Soutulho (26º), Manuel “Giadas” (27º), Diamantino (29º), José “Carolo” (30º), José “Ferro” (31º), José Gonçalves (32º), Manuel “Músico” (33º), Francisco Rolo (34º).

2

1 Casas das antigas escolas primárias: 1.Casal de Além; 2.Adjunto

Uma das primeiras conclusões que se pode tirar da leitura

crianças, meninos e meninas, de acordo com o artigo 13

combatente em África durante a Grande Guerra, era um

recebeu 12 carteiras. A casa onde as alunas tinham aulas

dos Livros de Actas da Junta é o papel muito activo dos

e seguintes do capítulo do novo regulamento do Ensino

mestre na arte da medicina popular.

situava-se no Casal d’Além, numa antiga casa da família de

seus membros a partir de 1910. O seu propósito era o de

Primário.

Ainda nesse ano de 1916, a 15 de Outubro, novo pedido à

José Francisco da Silva. Nos anos 30 do século passado foi

melhorar as condições de vida da população da freguesia

Apesar da vontade que a Junta demonstrava em fazer

Câmara: a criação de escola para meninas. Não sabemos

ali professora a srª Dª Micas Lacerda. A escola dos meninos

dado que existiam carências de todo o tipo, apesar de estar

obras na freguesia, estas não avançavam porque a 25 de

como a edilidade respondeu a este pedido, mas decorridos

era numa casa adquirida à família de Henrique Pereira

situada apenas a escassos sete quilómetros da cidade

Janeiro de 1914, decorridos três anos sobre o pedido de

dois anos, a 3 de Março de 1918, a Junta pede uma escola

de Almeida, pelo professor António de Almeida Corrêa,

de Viseu. Essas carências ficaram expressas ao longo

calcetamento da rua Principal, é feito novo pedido para que

mista e, quinze dias decorridos, solicita também o aumento

oriundo de Farminhão, na rua do Adjunto. Nessa escola foi

dos anos, sob a forma de pedido, de reivindicação e de

esta rua fosse empedrada.

do cemitério da freguesia. No ano seguinte, a 27 de Julho,

professor o mesmo António de Almeida Corrêa e, nos finais

protesto, próprios da época revolucionária que se seguiu

Em 6 de Agosto de 1916, a Junta pede à Câmara Municipal

é arrematada a ampliação do cemitério e, como esta ficou

dos anos 20, inícios dos anos 30 do século passado, a srª

ao 5 de Outubro. Vejamos alguns exemplos:

de Viseu que a Zona Médica de Oliveira de Barreiros

provavelmente mais cara do que era suposto, as campas

Dª Zulmira da Conceição Monteiro, casada com Alfredo

- em 5 de Fevereiro de 1911 a Comissão Parochial

passe para Passos de Silgueiros, na condição do médico

passaram a ser vendidas a 60 escudos!

Monteiro “Peras”. Esta professora foi muito marcante na

Republicana propõe empedrar a rua Principal;

se deslocar a Vila Chã de Sá uma vez por semana.

A escola primária foi uma das preocupações constantes

terra para várias gerações de crianças porque aqui esteve a

- em 2 de Julho de 1911 a mesma Comissão fica com as

Provavelmente, mais importante do que o médico que ali

dos homens que governaram a freguesia de Vila Chã de Sá,

exercer a docência durante mais de três décadas.

chaves da Igreja; é criado o registo civil na freguesia porque

se deslocaria uma vez por semana, era o sr. José Maria

pois, na acta de 7 de Novembro de 1920, é referido que

Numa terra que vivia quase exclusivamente da agricultura,

o caminho para Passos de Silgueiros, onde a população ía

Rodrigues “Canudo”, barbeiro encartado e sangrador,

não havia edifício da escola, nem casa para o professor e

a água era fundamental. Em Março de 1921, a Junta

fazer o registo, estava intransitável;

endireita, dentista, boticário e outras ciências mais

as aulas eram dadas em “casas antihigiénicas”. Propõe-se

recebeu 300 escudos para melhorar dois tanques, um para

- em 6 de Agosto de 1911 o professor oficial da escola

relacionadas com os tratos do corpo quando atacado de

que se vendam maninhos para fazer uma escola. Quase um

lavar roupa e outro para dar de beber aos animais. As obras

primária, António de Almeida Corrêa, recenseou as

maleitas. Ainda hoje se conta que o versátil barbeiro, ex-

ano depois, em Outubro de 1921, a escola das meninas

ficaram a cargo do pedreiro José Campos Figueiredo. Anos

138

139


Prof. Pinheiro, de Canas de Stª Maria (Tondela), com os seus alunos no recreio da antiga Escola Primária, em 1956

Alunos que fizeram a 4ª classe em 1956. Da esquerda para a direita, de pé: António Garcia, José do Vaca, José da Estela, João Baptista (do Soutulho), Adelino do Beleza, António Queiroz e Prof. Pinheiro; em baixo: Adelino Marreco, Adelino do Feroz, António do Palhuço, José Loureiro e José do Rolo

mais tarde, em Novembro de 1930, é pedido à Câmara que

mais significativa. A 13 de Março de 1932, a Junta pediu à

presidente da Junta de Freguesia, doou mil escudos,

determinação

seja acabada de construir a canalização da água (pública)

Câmara Municipal para fazer obras na escola dos meninos

alguns lavradores ofereceram-se para transportar pedra

condições dignas para ensinar e aprender. As obras,

e que se proceda à trasladação do chafariz.

porque as cadeiras se encontravam de tal maneira

e alguns proprietários ofereceram pinheiros para a obra.

que se arrastaram durante vários anos, foram realizadas

Em 1927, já em plena Ditadura Militar, que se havia

estragadas que as crianças tinham de se sentar no chão.

Apesar das boas vontades reunidas, parece que não foi

pelo sr. Anastácio Lopes Pereira, mestre pedreiro muito

implantado a 28 de Maio do ano anterior, a Junta de

e

muita

paciência

para

conseguir

possível a construção porque, em Janeiro de 1938, cinco

conhecido na freguesia, onde ainda perduram algumas

Freguesia solicita à Câmara Municipal o calcetamento de

No dia 7 de Maio de 1933, mais de um ano decorrido

anos decorridos, foi criada uma comissão para tratar

construções em granito de sua lavra, e fora dela, porque

toda a povoação, pois as ruas em terra transformavam-se

sobre o pedido à Câmara, é enviado novo ofício

da construção da escola. Em 1943, mais cinco anos

construiu também as escolas de Loureiro de Silgueiros,

num lamaçal durante o inverno.

à edilidade, dando conta de vários donativos de

passados, a Junta enviou um ofício à Câmara para pedir

Gumirães e Esculca. Para além deste mestre, outros

Os anos foram passando, o regime deixou de ser Ditadura

particulares para se construir uma nova escola em Vila

que concluíssem a obra. Apesar de todas as insistências,

pedreiros trabalharam nestas obras nomeadamente o

Militar e passou a chamar-se Estado Novo, mas as

Chã de Sá. Entre os beneméritos salienta-se o sr. Lemos

só em 1948 é que a escola primária foi definitivamente

seu filho Eduardo Anastácio, o seu genro António Lopes

preocupações das gentes de Vila Chã de Sá permaneceram

e Sousa que doou o terreno para a construção da escola

concluída, tendo então duas salas, uma feminina e

dos Santos, Miguel “Mira”, Justino “Rabeiras”, Celestino

quase sempre as mesmas, sendo a da escola primária a

e mil escudos. O sr. José Francisco da Silva, pai do actual

outra masculina. Foram quinze anos de persistência,

Santos e António “Grande”.

140

141


Documento 40 (Livro de Actas, 26 de Maio) Exmº Senhores Secretário das Obras Públicas e Indústria; Exmº Senhor Governador Civil de Viseu e demais autoridades Distritais e Concelhias, Reverendíssimos Senhores, Exmº professores, minhas Senhoras e meus Senhores. Na qualidade de Presidente da Junta da Freguesia de Vila Chã de Sá coube-me a honra de saudar Vossas Excelências neste dia de festa para este povo. Ainda que a minha cultura não esteja à altura do cargo para que fui chamado e não devesse ser eu a falar

Cerimónia da inauguração da electricidade. Da esquerda para a direita: engº Amaro da Costa, José Pereira da Silva (presidente da junta de freguesia), ?, major Romão Loureiro (presidente da Câmara Municipal de Viseu), Adelino Francisco da Silva (regedor da freguesia), dr. Manuel Marques Teixeira (governador civil), ?

em nome do povo, circunstâncias diversas a isso me obrigaram e, por isso, aqui estou para manifestar o meu agradecimento sincero expresso em palavras simples como simples ainda é a nossa vida nestas terras pobres da Beira. Levanto a minha voz neste dia, sobretudo para agradecer os muito benefícios que o Governo da Nação e a Exmª Câmara nos tem concedido, não apenas as inauguradas hoje, mas todas quantas nos foram dadas durante o tempo em que tenho sido presidente da Junta e sintome feliz e todos nos sentimos felizes por poder exprimir

No contexto profundamente rural em que Vila Chã de Sá

de alguma forma para quebrar um certo isolamento em

por palavras que não apenas pelo sentimento a gratidão

vivia, apesar da proximidade com a capital do concelho,

que permanecia.

para com o Estado Novo, aqui representado pelos ilustres

o índice de analfabetismo era muito elevado, como aliás

No dia 12 de Maio de 1963, foi inaugurada a electricidade

membros do Governo e para com a Exmª Câmara de

em todo o país. Em 1957, para combatê-lo, a Junta de

e a nova Escola Primária de Vila Chã de Sá, incluída no

Viseu. Bem hajam, pois.

Freguesia, presidida então por José Pereira da Silva, pede

Plano Centenário. O edifício da escola foi construído por

Foi a comparticipação para a nossa Igreja paroquial, foi a

que seja criado um curso de alfabetização de adultos.

José “Encrencas”, de Lobão da Beira, sendo carpinteiro

electrificação da aldeia, foi a construção deste magnífico

Não sabemos se esta meritória preocupação foi ou não

António Nabais e João Pereira da Silva. Nesse dia festivo,

edifício de 4 salas de aula, foi a exploração e condução

atendida.

estiveram presentes o Subsecretário de Estado das Obras

de água para estes belos fontanários, foi o alargamento e

Recuando ainda no tempo, talvez seja curioso referir o

Públicas e Indústria, engº Amaro da Costa – pai do engº

calcetamento de ruas, foi a ampliação de cemitério, etc,

facto de a Junta, em 1938, ter enviado um ofício à Câmara

Adelino Amaro da Costa –, o Governador Civil do Distrito

etc. Tudo isto, obra para mais de mil contos e numa só

Municipal a dispensar o médico que se devia deslocar a

de Viseu, dr. Manuel Marques Teixeira, o Presidente da

aldeia.

Vila Chã de Sá, alegando que ele não cumpria o seu dever,

Câmara Municipal de Viseu, major Romão Loureiro, o

Temos que confessar: foi muito. As obras falam por si.

isto é, ir dar consulta.

Presidente da Comissão Distrital da União Nacional, o dr.

Em tempos tão difíceis só a política hábil de Salazar pode

maiores

Armindo Crespo, e outras entidades civis e religiosas. O

conseguir tanto até nós pequenos meios como a nossa

preocupações das populações. Em Fevereiro de 1948, a

Presidente da Junta de Freguesia, sr. José Pereira da Silva,

aldeia.

Junta pediu uma ligação da povoação à Estrada Nacional,

fez o seguinte discurso:

Educação,

142

saúde

e

rede

viária,

eram

as

Bem haja Salazar. Nós confiamos no governo da Nação que não nos esqueceu e desceu até nós para nos honrar com a visita de alguns dos seus membros e este é motivo para com mais razão podermos dizer: Bem hajam o governo da Nação. Bem hajam as entidades competentes que sempre mostraram boa vontade e compreensão pelas necessidades deste povo humilde e pobre, mas ordeiro e trabalhador. Bem haja Exmª Câmara de Viseu. Bem hajam os membros da Junta que me ajudaram, acompanharam e encorajaram nas dificuldades. Bem hajam os párocos que sempre me orientaram e ajudaram a resolver as maiores dificuldades com boa vontade e com verdadeiro espírito de bem-fazer, não se poupando a sacrifícios e despesas. Bem haja o povo que tem dado o seu contributo sempre que foi preciso. Em suma a todos muito obrigado. E digo-o em nome do povo que se sente feliz com o que está feito, mas espera sempre mais, porque ainda há muito para fazer. Grande virtude é a da esperança e nós esperamos confiadamente que num futuro próximo sejam resolvidos outros problemas também urgentes. Faltam os lavadouros públicos, e estes indispensáveis, falta a cantina escolar, alargar ruas de importância vital para o desenvolvimento da terra, falta a ligação da Estrada de Rebordinho, melhoria de transportes para a cidade, nomeadamente autocarros frequentes e falta resolver problemas de importância capital para a vida quotidiana da gente do povo humilde, pequeno e pobre do Soutulho: água, posto escolar, e ponte sobre o rio Pavia, por onde possam ir às suas terras. E feito isto, como esperamos, podemos então dizer: por agora estamos satisfeitos. Vou terminar. Antes porém, com perdão de V. Exª vou manifestar publicamente o meu agradecimento que é agradecimento do povo a pessoas aqui presentes que nunca esquecemos. São eles o Exmº Presidente da Câmara e Exmº Director Escolar. Para eles dum modo particular, o nosso agradecimento. Tenho dito

143


Engº Amaro da Costa e regedor Adelino Francisco da Silva,?

Sendo um discurso de sincero agradecimento, num dia que

nome de todos os professores da escola: prof. Riquito, profª.

era de festa para as gentes de Vila Chã de Sá, não deixou de

Alda Ladeira e profª. Elisabete – e o padre João Rodrigues

ter a normal exaltação nacionalista, bem ao estilo do regime

dos Santos. A encerrar a sessão falou o representante do

de Salazar. Apesar de todos os condicionalismos da época,

governo, engº Amaro da Costa. Houve música e grupos

o presidente da Junta de Freguesia não deixou de chamar

de cantares organizados pela população dos diversos

a atenção para problemas graves que necessitavam uma

bairros da freguesia, como tinha sido deliberado na

resposta urgente por parte das autoridades municipais.

reunião que antecedeu este importante dia. As entidades

Depois do discurso do sr. José Pereira da Silva, discursou

seguiram depois para o Grémio do Comércio de Viseu onde

também o professor local, Álvaro Loureiro da Silva – em

almoçaram a convite da Câmara Municipal.

144

Documento 41 Jornal da Beira de 17 de Maio de 1963, Ano XLIII, nº 2202, p. 1 145


Grupo folclórico do Bairro da Portela

Documento 42 Jornal de Viseu de 15 de Maio de 1963, Ano XXVIII, nº1529, pp. 1-2; nº1530, pp.1 e 4 146

Grupo folclórico de Casal de Além, da rua da Capela e da Pedra d´Águia 147


Da esquerda para a direita, em pé: João do “Russo”, Daniel Pereira da Silva, Artur, José “Carriço”, José Silva, Adelino “Beleza”; em baixo: Carlos Teixeira, José Ernesto, António “Vinagre”, José Teixeira, João Loureiro, Fernando “Coxo”

A preocupação manifesta no discurso do presidente da

lembrados e homenageados e se aliene uma parcela de

Junta, com os habitantes de Soutulho, não se desvaneceu.

terreno, gratuitamente, à Liga dos Combatentes, com sete

Cinco anos mais tarde, a 4 de Fevereiro de 1968, já sendo

metros de comprimento por quatro de largura, no Cemitério

presidente da Junta de Freguesia José da Silva Marques,

Paroquial desta freguesia de Vila Chã de Sá.

foi formalizado o pedido à Câmara Municipal para que se melhorasse o caminho que dava acesso àquela pequena

Com o 25 de Abril de 1974 o país entrou numa nova fase

povoação e se construísse também uma ponte sobre o rio

política, económica e social.

Pavia. Nos anos seguintes as reuniões de Junta tinham

A 6 de Outubro de 1974 desse ano revolucionário, os

quase sempre um ponto sobre as obras no Soutulho.

membros da Junta deixavam expresso, pela primeira vez,

Durante as décadas de 60 e 70 do século XX, as preocupações

que era necessário haver uma casa da Junta com anexo para

foram sempre direccionadas para os melhoramentos

biblioteca, sala de espectáculo, sala de leitura, sala de cinema

materiais, nomeadamente a distribuição de água, a rede

e teatro e gabinetes de várias direcções de âmbito cultural,

viária, a iluminação da via pública, a recolha do lixo, etc.

desportivo, recreativo e de convívio e teatro. Consideravam ainda

O início da Guerra Colonial, em 1961, confrontou o país,

que na parte cultural não se deveria desprezar a cultura própria

pela segunda vez no século XX, com a guerra e com as suas

da freguesia e explorar, no possível, as origens da freguesia.

terríveis consequências. Sinal desses tempos é a acta de

Recordemos, a este propósito que, em 1972, em resposta

29 de Junho de 1968 em que se deliberou, por proposta do

a um inquérito da Câmara Municipal de Viseu, se informava

presidente José da Silva Marques:

que em Vila Chã de Sá não havia nenhuma associação cultural ou recreativa, facto que não era inédito em milhentas outras

Em pé, da esquerda para a direita: Manuel “Bineta” (2º), António “Ferro” (3º), Manuel “Vages” (6º); em baixo: Carlos Teixeira (7º), António “Vinagre” (8º), Daniel Pereira da Silva (9º), António “Giadas” (10º) 148

Documento 43 (Livro de Actas, 29 de Junho)

freguesias do país. Nas horas vagas, sobretudo ao Domingo, o

Considerando que no Ultramar também se batem em

local de encontro e convívio, quase exclusivamente reservado

defesa do Património Português e dos legítimos interesses

aos homens, eram as tabernas como a do Velhaco, na rua da

de Portugal Uno e indivisível, perfeitos heróis, filhos desta

Capela, do Hilário, na rua da Vala, do Piegas, na rua da Eira,

terra e freguesia. Considerando ainda que são ainda vivos

a do Gregório, no Largo dos Castanheiros, a dos Miras, numa

alguns combatentes da grande guerra, que também tiveram

casa já derrubada no Casal d’Além, a do Lino “Pego”, na rua

o seu passado glorioso, proponho que como manifestação

da Capela – depois propriedade do sr. Inocêncio F. Dias e,

da nossa admiração e recompensa, sejam eternamente

mais tarde de Arnaldo Figueiredo – a da srª Eduarda e do sr. Ramiro, no Casal de Igreja. 149


Equipa da Associação em jogo realizado em Fuentes de Onoro, em 1997, num intercâmbio com uma associação daquela localidade espanhola. Em pé, da esquerda para a direita: Gomes, sr. Adelino Marques, sr. José Querido, Pedro Queijeiro, Nuno Albernaz, Bruno, Nuno Ferreira, Zé, Rui, Tiago Cardoso, Néné, Oliveira, sr. José Costa; em baixo: Alexandre, Tiago Regalo, António “Rabeca”, Pedro Neves, Filipe Coelho, Xano, Claúdio, Sérgio, António Carlos, Víctor Queirós, prof. José Ernesto

Equipa da Associação 2008/2009 Da esquerda para a direita, em pé: Alcides, André Loureiro, Augusto Oliveira (treinador), David Carregoso, Helder Cardoso, Antonio Pereira, Filipe Silva, Ricardo Costa, José Oliveira, Filipe Coelho, Antonio Lourenço, Marcelino Santos, Rui Pereira (massagista); em baixo: Luis Soares, Nuno Lourenço, Claudio Pinto, Carlos Pina, Manuel Martins, António Rodrigues, Lionel Santos.

A partir dos anos 60 do século passado, os rapazes formaram

para ali instalar a primeira serração e moinho mecânicos

uma equipa de futebol e jogavam num campo cujo terreno

movidos a motor a gasóleo. Este segundo campo, situado

tinha sido cedido pela srª Dª Dores Lemos e Sousa, no

no lugar do Reguengo, foi também construído pelos jovens

lugar da Maceira. Este campo foi construído pelos próprios

da freguesia, que uma vez mais nas horas vagas utilizaram

jogadores, nas horas vagas. Na ausência de máquinas

tratores e força braçal para nivelarem o terreno.

foram utilizadas juntas de bois para aplanar o terreno.

Em 1975 a Srª Dª Margarida Lemos e Sousa fez escritura

Da equipa inicial, que teve grande sucesso desportivo em

de doação deste terreno à recém-constituída Associação

jogos interfreguesias, destacamos os seguintes jogadores:

Documento 44

Documento 45

Cultural Recreativa e Desportiva de Vila Chã de Sá. Como o

A 20 de Junho de 1974 foi constituída a Associação

organizaram um grupo folclórico e um grupo de bombos.

Arnaldo Figueiredo, José “Borrego”, António “da Céu”,

terreno tinha poucas condições para as práticas desportivas,

Recreativa e Cultural de Vila Chã de Sá, em reunião muito

Para além disso, o GJATC editou um boletim informativo de

Manuel “Preto”, o Ervilhas (de Parada de Gonta), Cerílio

de comum acordo com a antiga proprietária foram feitos

participada que decorreu no Salão Paroquial. O prof. José

cariz essencialmente cultural: “O Galho”.

(de Repeses), Domingos “Chedas”, o guarda-redes Pinta

lotes para a sua urbanização, ficando uma área destinada à

Ernesto P. da Silva foi eleito presidente da sua Comissão

Na Associação Recreativa foi também constituído o Grupo

(de Lages de Silgueiros), José do “Músico”, José Marques,

construção da sede da Associação.

Administrativa. Porém, a 1 de Dezembro de 1975, devido

de Intervenção Teatral da Associação de Vila Chã de Sá

António Mota, António “Ferro” e outros.

Em 1992, a família Lemos e Sousa fez escritura de doação

a rivalidades políticas muito próprias da época, foi criado

(GITAV), apelidada de Vermelhos. O GITAV encenou várias

Cerca de 1968, a mesma senhora e sua filha Margarida Lemos

à Junta de Freguesia de um terreno na Pedra d’Águia, já

o Grupo Juvenil de Animação Teatral e Cultural (GJATC),

peças de teatro, entre as quais “A Farsa de Mestre Pathelin”,

e Sousa cederam outro terreno na estrada dos Lagares,

anteriormente cedido para a construção de um campo de

apelidada de Amarelos, ligado à Igreja, protagonizado por

de autor francês desconhecido dos finais do século XV,

onde actualmente se localiza a Associação de Solidariedade

futebol. Este é o campo onde a equipa de futebol da Associação

António Lopes, Agostinho Cardoso, José Pais Figueiredo,

e “Natal na Praça”, recriando o nascimento de Jesus.

Social de Vila Chã de Sá, em troca com o da Maceira, uma

de Solidariedade Social Recreativa e Desportiva, actualmente a

José Silva, Isabel Oliveira, José Silva, entre muitos outros.

Algumas das encenações contaram com a colaboração do

vez que este foi vendido ao sr. Inocêncio Fernandes Dias,

militar na 2ª Divisão Distrital, disputa os seus jogos.

Encenaram peças de teatro, uma delas de António Aleixo,

grupo teatral de Viseu “A Centelha”.

150

151


Da esquerda para a direita: José Figueiredo Rodrigues, António Carvalho, Carlos Teixeira, José Santos, José Lopes, Jacinto Figueiredo, António Martins Ginésio, José Manuel, Maria José Loureiro

Da esquerda para a direita: Lucília, ?, Jacinto Figueiredo, Maria José Loureiro, Carlos Teixeira, António Carvalho, José “Nortenha”, Carlos Teixeira, José Manuel, António Baptista, José Lopes, José “Minato”, ?, Graça, José Rodrigues, José António da Silva

Lucília, Jacinto Figueiredo, Carlos Figueiredo Regalo

Salão paroquial; da esquerda para a direita: Belmiro Costa, ?, José Pais

GITAV (Vermelhos) Da esquerda para a direita, em cima: António “Ferro”, Fernando Figueiredo, José Lopes, José Santos, Maria José Loureiro, António Ginésio, José do “Cravo”, Lucília, José “Minato”, Jacinto Figueiredo, Maria Armanda Rodrigues, ?, António Scott, Isabel Marques, ?, José Marques da Silva “Taranta”, Maria de Fátima, Daniel Pereira da Silva; ao centro: ?, António Baptista, António “Corgas”, ?, ?, ?, António Carvalho (ensaiador), José “Músico”, João Loureiro; em baixo: ?, ?, ?, ?, José Nabais, José “Corgas”, Carlos “Regalo”, Carlos Teixeira, José António Pereira da Silva, José Manuel

152

153


Rancho do GITAV em actuação

Rancho do GITAV Em pé, da esquerda para a direita: António Carvalho, Adriano, António, Zézinha, Maria Benta, Maria Martins da Silva, Maria José, Olívia, Isabel Corgas, Beatriz Martins(?) debruçada, Lurdes Coxa, Maria de Fátima Figueiredo, Isabel, Adelaide, Filomena Silva, Emília, Gracinda, Isabel, José Carvalho; em baixo: Carlos Alberto Figueiredo, António Scott, Augusto, Manuel, António Corgas, Queirós (de Teivas), Manuel Cardoso, Carlos, António

154

Rancho do GJATC em desfile na rua da Eira. 1º par: Maria Armanda e Manuel “Malta” 2º par: Lurdes Costa e António “Malta” 3º par: Ercília e Adelino “Cabanas” 4º par: Helena “Malta” e Eduardo “Malta” 5º par: Virgínia “Cabanas” e António 155


A 15 de Dezembro de 1974 tomou posse a Comissão

pessoas carenciadas, procurando dessa forma ajudar a

Administrativa da Junta, presidida por José Marques da

resolver um dos seus problemas mais graves. O maninho

Silva. Na primeira acta da Comissão, datada de 15 de

foi loteado numa primeira fase em 1977. Quatro anos mais

Janeiro de 1975, pode adivinhar-se no texto um futuro

tarde, a 13 de Abril de 1981, foi inaugurada a luz eléctrica

“Verão Quente”, por causa da radicalidade do discurso,

neste bairro, na Corga e em Maceira.

próprio de períodos revolucionários. Documento 46 (Livro de Actas, 15 de Dezembro)

Desfile do rancho do GJATC Irene (porta-bandeira), Fernando (ensaiador), Lurdes “Bitotes”, Zita, Celina “do Abílio”

[…]

Constituição da República de 1976

Delibera-mos esta nossa primeira acta fazer uma ligeira

Título VIII

analis às actas extraordinárias de transmissão de poderes

Artigo 245 (Orgãos da freguesia)

passadas pela Junta sessante estas actas denunciam

Os órgãos representativos da freguesia são a

verdadeira demagogia fachista própria de quem serviu

assembleia de freguesia e a junta de freguesia.

e apoiou uma política desonesta em relação aos

Artigo 246 (Assembleia de freguesia)

verdadeiros interesses do povo. Mais à frente revelam

1 . A assembleia de freguesia é eleita pelos

uma decisão tomada: Dicidimos manter este livro de

cidadãos eleitores residentes na área da freguesia.

actas por conciderarmos [que tem] valor Histórico mas

2. Podem apresentar candidaturas para as eleições

protestamos as rubricas acima de cada folha incerida

dos órgãos das freguesias, além dos partidos

que denuncia abuso do poder. Deliberamos riscar a dita

políticos, outros grupos de cidadãos eleitores, nos

rubrica.

termos estabelecidos por lei.

[…]

3. A lei pode determinar que nas freguesias de população diminuta a assemblei de freguesia seja

Rancho do GJATC Em baixo, da esquerda para a direita: António Figueiredo, Amândio Cardoso, António Pais, Fernando Pais, José Pais e Manuel Taranta; em pé, da esquerda para a direita: Lurdes “Cavalito”, Maria Armanda, Isabel “Pipa”, Helena Malta, ?, Ercília, ?, ?, ?, Lurdes “Xixarro”, Elvira “Xixarro” e Lurdes “do Bitotes”, ?. Atrás, de pandeireta na mão, Daniel “Cabanas”, Irene “Cabanas”, ?, ?, Carlos “Regalo” (acordeonista), Joaquim “Patolas” (viola), António “Xixarro”; no topo: ?, José “Taranta”, ? 156

Em 12 de Novembro de 1976 realizaram-se as primeiras

substituída pelo plenário dos cidadãos eleitores.

eleições autárquicas de que saiu vencedor o PPD (Partido

Artigo 247 (Junta de freguesia)

Popular Democrático), cuja lista era encabeçada pelo sr.

1. A junta de freguesia é o órgão executivo da

José Marques, ex-presidente da Comissão Administrativa.

freguesia, sendo eleita por escrutínio secreto pela

O programa do MFA preconizava, para além do D de

assembleia de entre os seus membros.

Democratização, o D da Descolonização. Esta, ao ser

2. O presidente da junta é o cidadão que encabeça a

concretizada provocou o retorno de centenas de milhar

lista mais votada na eleição da assembleia ou, não

de portugueses das antigas Províncias Ultramarinas.

existindo esta, o cidadão que para esse cargo for

Procurando minorar as muitas dificuldades em que estes

eleito pelo plenário.

viviam, a Comissão Administrativa da Freguesia de Vila

Artigo 248 (Delegação de tarefas)

Chã de Sá e uma Comissão de Moradores da Freguesia,

A assembleia de freguesia pode delegar nas

constituída para o efeito, presidida pelo prof. José Ernesto

organizações populares de base territorial tarefas

P. da Silva, em reunião realizada a 5 de Outubro de 1975,

administrativas que não envolvam o exercício de

decidiram que o maninho do Gorgolão seria para construir

poderes de autoridade.

casas para os então denominados Retornados e para outras

157


Inauguração da electricidade no Soutulho. Da esquerda para a direita: Azevedo Pinto “Rijo”, prof. José Ernesto P. da Silva, Lemos Cardoso (vereador da C.M.V.) e sr. Joaquim do Soutulho

Em

de

Pereira da Silva. No edifício da Junta funcionava, para

construção da sede da Junta de Freguesia de Vila

além dos serviços administrativos, uma turma do

Chã de Sá, no lugar onde existiam quatro casas

ensino pré-primário.

pertencentes aos sr. Joaquim do “Pipo”, srª Rita

A 10 de Outubro de 1981, dezoito anos decorridos

do “Pistolo”, srª Nascimenta e do José “Bacatela”.

sobre a inauguração da electricidade em Vila Chã de Sá,

A Junta foi inaugurada três anos depois, a 14 de

foi finalmente inaugurada a electricidade na pequena

Novembro de 1982. Estiveram presentes no acto

povoação de Soutulho. Para além do Presidente da

o Ministro da Administração Interna, engº Ângelo

Junta de Freguesia, prof. José Ernesto Pereira da Silva,

Correia, o representante do Governador Civil do

estiveram presentes na cerimónia o Presidente da

Distrito de Viseu, dr. Isidro Meneses, o Presidente da

Câmara Municipal de Viseu, eng. Manuel Amorim, o

Câmara Municipal de Viseu, engº Manuel Amorim, o

Vereador do Pelouro das Aldeias, sr. Lemos Cardoso,

Vereador do Pelouro das Aldeias, sr. Lemos Cardoso,

os presidentes das juntas de freguesia de Fail e S.

o Presidente da Junta de Freguesia, prof. José Ernesto

Cipriano, e responsáveis dos Serviços Municipalizados

P. da Silva e o Director do Distrito Escolar, prof. José

de Viseu.

158

Outubro

de

1979

começaram

as

obras

Documento 47 Notícia nos jornais Jornal da Beira de 18 de Novembro de 1982, nº3217, p.8 159


Presidentes […] 1885-1889: Padre Bernardo Francisco Pereira da Silva 1890-1892: Padre Francisco Marques de Campos 1893-1909: Padre Francisco Paes Pereira - 5 de Outubro de 1910: Implantação da República 1910-1913: Padre Francisco Marques de Campos Amando Teixeira

Lourenço Lopes Pinheiro

António Francisco Figueiredo

Aristides Rodrigues Santos

1914-1917: António Almeida Corrêa (Professor) 1918-1919: Amando Teixeira (Proprietário) 1919-1926: Lourenço Lopes Pinheiro (Proprietário) - 28 de Maio de 1926: Ditadura Militar/Estado Novo 1927-1937: António Francisco Figueiredo (Proprietário) 1937-1938: António Cardoso (Proprietário) 1938-1939: José Francisco da Silva (Proprietário) 1939: José Pereira da Silva (Proprietário) 1939-1948: José Francisco da Silva (Proprietário)

José Francisco da Silva

José Pereira da Silva

José da Silva Marques

José Ernesto Pereira da Silva

1948-1967: José Pereira da Silva (Proprietário) 1968-1974: José da Silva Marques (Contabilista) -25 de Abril de 1974: Democracia1974-1978: José Marques da Silva (Proprietário)* 1978-1986: José Ernesto Pereira da Silva (Professor) 1986-1994: António Francisco Pereira da Silva (Professor) 1994-1998: Aristides Rodrigues dos Santos (P.S.P. aposentado) 1998-2009: José Ernesto Pereira da Silva (Professor) *Comissão Administrativa: 15/12/1974 a 12/11/1976

José Marques da Silva 160

José Ernesto Pereira da Silva

António Francisco P. da Silva 161


(a) 1722, Memórias Paroquiais (b) 1768, Fonte: Pinho Leal, 1886: 69

Demografia No reinado de D. João III, entre 1527 e 1532, foi realizado

Desconhecemos onde Pinho Leal se baseou para chegar a

o Numeramento do Reino, com o propósito de saber

estes quantitativos.

quantos habitantes tinha o país. Neste, por razões que

Ao observar-se o quadro com os valores populacionais

desconhecemos, Vila Chã de Sá não aparece citada. Esta

absolutos,

lacuna priva-nos de saber quantos fogos aqui havia e, dessa

nacionais, conclui-se que a população de Vila Chã de Sá

forma, calcular quantos habitantes tinha.

foi sempre registando um aumento até 1991. Entre esse

Em 1722, decorridos dois séculos, quando o Padre João

censo e o último, realizado em 2001, a freguesia teve

da Cunha Leitão responde ao questionário das Memórias

um ligeiro decréscimo, fruto de muitas transformações

Paroquiais, afirma que Villa Cham de Saá q. tem setenta e

sócio-económicas que a sociedade portuguesa viveu

coatro fogos pessoas maiores duzentas e corenta e coatro e

nos últimos anos, que se reflectiram, por exemplo, num

pessoas menores corenta e coatro, o que dá um total de 288

acentuado decréscimo da taxa de natalidade. Longe vai o

habitantes (índice 3.9). Ainda no século XVIII, em 1768,

tempo em que as mulheres tinham uma dúzia de filhos,

de acordo com Pinho Leal (1886: 69), Vila Chã de Sá, com

ou até mais, como foram os casos da “Avó” Mariana e

os casais de Soutulho e Lagares, contava com um total de

de Ana “Califa”, com 18 e 19 filhos respectivamente a

94 fogos, o que equivalia a 367 habitantes (índice 3.9).

primeira e a segunda.

162

registados

periodicamente

nos

censos

Catequistas em passeio dominical aos Três Rios (1955?): António Ladeira, Maria do Céu, Olívia de Campos, Maria Isabel, Agostinho Carvalho, ?, Elvira Campos (?), ?, Armando Jesus, Alcina Loureiro, Olívia, Ismailda, sargento Santos, Beatriz Loureiro, Agostinha Carvalho

163


Assistência e solidariedade social Durante a Idade Média foram fundadas albergarias,

instituições assistenciais, cuja origem é muito anterior

hospitais, confrarias, irmandades, mercearias e gafarias,

à intervenção do Estado no apoio aos desvalidos. No

cujo propósito principal era o de prestar assistência

documento de Instituição do Vínculo ficava estipulado que

a pessoas pobres e a doentes. Os patronos da grande

quatro mercieiras receberiam cada huma dellas [...] hum

maioria destas instituições eram pessoas abastadas

cruzado cada mez. Em contrapartida tinham que assistir á

que procuravam através da prática da caridade atingir

Missa quotidianna, rezando cada huma dellas huma coroa de

a Salvação Eterna, de acordo com o ideal da fé cristã.

Nossa Senhora pela tenção delle Instituido. Quando alguma

Também os peregrinos e viajantes em geral, que batessem

falecesse os Administradores com asestencia, e voto do dito

à porta de uma dessas albergarias, não deixariam de aí ter

Conego ellegerão outra, que não poderá ser de menos idade

um lugar para dormir, cozinhar e tratar de algum mal do

de concoenta annos, e serão naturaes do dito Lugar de Villa

corpo, durante um ou dois dias antes de prosseguir viajem.

Chaã de Sá. Para além das mercieiras, o Vínculo também

A Irmandade de S. Sebastião de Vila Chã de Sá, fundada

estipulava que Em cada hum anno se dotarão duas Orfas com

antes de 1615, foi, seguindo os propósitos definidos nos

o Dote de vinte mil reis cada huã e não poderá ser dotada a que

seus estatutos - prestar o devido culto ao glorioso martyr S.

passar de edade de quarenta annos, e serão estas Orffas, e terão

Sebastião, prestar soccorros espirituaes, aos irmãos vivos

obrigação de se receberem na forma da Igreja dentro de dois

e defunctos e a pratica da caridade em geral - a primeira

annos, e não se recebendo dentro delles os Administradores

instituição caritativa a existir na freguesia. Porém, para

provirão o dito Dote em outra Orffa com as condições asima

além do culto religioso ao Mártir S. Sebastião e do

declaradas.

acompanhamento nos funerais dos irmãos defuntos, não

No século XX o Estado passou a desempenhar um

se conhece outra actividade da Irmandade.

papel fundamental no apoio aos mais desfavorecidos.

A mercearia da Capela de S. José de Vila Chã de Sá,

Encontram-se dezenas de exemplos dessa intervenção em

instituída em 1693 pelo reverendo António Gomes da

prol de pobres e doentes, nas actas da Junta de Freguesia,

Costa, é outro eloquente testemunho dessas modestas

nomeadamente através dos atestados de pobreza.

164

Documento 48

Documento 49

Documento 50

165


Documento 51

A falta generalizada de bens de primeira necessidade

através de uma doação pecuniária (73.000$00). Este

nos anos 40 do século XX levou o governo a racionar os

apoio aos pobres era também extensivo aos membros

produtos através da emissão de senhas de racionamento.

da Irmandade de S. Sebastião. A nova instituição foi

Por esta altura, um tal de Benjamim, morador na rua da

constituída formalmente em sesssão extraordinária da

Eira, homem muito habilidoso de mãos que consertava

Junta de Freguesia, a 8 de Agosto de 1948. Decorridos

todo o tipo de utensílios domésticos e agrícolas na aldeia,

quase três anos, mais precisamente a 11 de Janeiro de

falsificou os apetecíveis cupões de racionamento. A fome

1951, a Irmandade de S. Sebastião reuniu, estando

aguçava o engenho. Apesar da qualidade das falsificações,

também presente o pároco João Rodrigues dos Santos, e

tudo foi descoberto pela polícia, com as respectivas

decidiu criar os estatutos da Caixa de Caridade. Esta tinha

consequências negativas. Benjamim só não chegou a ser

como propósito receber donativos que se destinavam a

encarcerado porque as autoridades constataram que a sua

constituir um património para socorrer todos aqueles que

acção não visava o lucro fácil e por ele ser portador de

necessitassem de cuidados de saúde.

deficiência motora. A existência de várias pessoas carenciadas na freguesia de Vila Chã de Sá nos finais dos anos 40 do século XX levou Manuel Pereira, emigrante no Brasil desde criança, a promover a fundação de uma associação de beneficiência Documento 52

166

Documento 53

denominada Associação Beneficiente de Vila Chã de Sá, 167


Visita Pascal. Da esquerda para a direita: dr. Ernesto Pereira de Almeida, padre João Rodrigues dos Santos, sargento Santos, ?, José Loureiro

Dr. Ernesto Pereira de Almeida e senhoras D. Margarida Lemos e Sousa, D. Maria Helena Almeida e D. Dores Lemos e Sousa

Outro grande benemérito foi o dr. Ernesto Pereira de

e desportiva da freguesia, passaram a partir de 1985 a

Almeida. Eminente advogado, trabalhou em Lisboa com o

enquadrar-se no domínio da solidariedade social, com a

dr. Azeredo Perdigão e foi testemunha no testamento de

alteração dos seus estatutos que a transformaram numa

Calouste Gulbenkian (anos 50). Foi advogado principal no

instituição particular de solidariedade social, passando a

famoso processo da família Mário Cunha (pai do presidente

designar-se Associação de Solidariedade Social, Recreativa

do Benfica Maurício Vieira de Brito). Faleceu em 1981 em

e Desportiva da Freguesia de Vila Chã de Sá (Diário

Lisboa e encontra-se sepultado no jazigo de família no

da República, III Série, nº 124 de 30.05 de 1987). Essa

Documento 54

cemitério de Vila Chã de Sá.

profunda alteração da Associação de Vila Chã de Sá foi

As dificuldades económicas levaram muitos vilachanenses a emigrar nos inícios do século XX para o Brasil e para as antigas colónias portuguesas de África, sobretudo Angola. Na segunda metade do mesmo século, sobretudo a partir da década de 60, muitos partiram para destinos europeus como França, Alemanha, Luxamburgo e Suiça, demandando trabalho e melhores condições de vida.

proposta pelo prof. José Ernesto P. da Silva, com o apoio do Como já referimos anteriormente, a 20 de Junho de 1974 foi

dr. Daniel Pereira da Silva, do sr. António Cardoso P. da Silva

constituída a Associação Recreativa e Desportiva de Vila Chã

e muitos outros. Em Assembleia Geral, sendo presidente da

de Sá, em reunião muito participada que decorreu no Salão

direcção o sr. Aníbal Ferreira Soares, constituíram-se então

Paroquial. As actividades da Associação, direccionadas

vários grupos de trabalho que concretizaram a proposta

nos primeiros anos para a dinamização sócio-cultural

apresentada.

168

169


Sede da Associação na rua dos Lagares França: José Pereira de Oliveira com esposa e filhos acompanhados de António Pereira Ferreira “Brilhante“ e Abel (de Passos de Silgueiros)

Brasil: Franklin Pereira de Almeida a cumprir serviço militar 170

Festa de Natal na Associação: Adelino Marques da Silva e José Ernesto P. da Silva

Angola: José Francisco da Silva, do lado direito

Brasil; da esquerda para a direita: José Tabaio, Fernando Coxo (mestre de armação de ferro) e Ginésio. Os dois últimos eram brasileiros que não foi possível identificar

A sua primeira sede situou-

autoria do arquitecto José Fernandes Basto e do engº civil

se na loja de uma casa na

Álvaro dos Santos Rolo.

rua da Eira, propriedade de

Com a nova instituição procurou-se dar resposta a

Adelino Marques da Silva, a

necessidades

da

pedido do seu filho Daniel

população

da

Pereira da Silva, também

freguesia. Por um

este membro da Comissão

lado, a Associação

Administrativa. Em meados

dá apoio a pessoas

dos anos 70 do século XX,

necessitadas

arrancaram as obras da

pessoas

sede na rua dos Lagares

através

e

a

idosas, de

Apoio

(antigo campo de futebol), passando a realizar-se aí todas as

Domiciliário;

actividades associativas. Também aqui as obras contaram

outro

uma vez mais com o trabalho voluntário de muitos sócios

creche, o A.T.L. e

e de vilachanenses interessados no progresso da sua terra.

o

O primeiro projecto de construção de uma sede para a

de Horário vieram

Associação data de Julho 1977 e foi da autoria do eng.

dar um apoio muito importante às famílias com filhos em

Lino Moreira, ex-presidente da Câmara Municipal de Viseu.

idade pré-escolar e escolar, cujos pais, trabalhando durante

Dez anos mais tarde, já depois de alterados os estatutos da

o dia, não tinham lugar onde deixar as crianças.

Associação que a transformou numa IPSS, foi realizado um

O actual presidente é Adelino Marques da Silva e o

novo projecto tendo em vista a construção de uma creche,

presidente da Assembleia Geral é o prof. José Ernesto

jardim de infância, centro de dia e pavilhão polivalente, da

Pereira da Silva.

lado,

por a

Prolongamento

171


Obras de saneamento em Casal de Igreja (1982)

Obras na Pedra d´Águia (2009)

Nos últimos anos têm decorrido diversas obras de

a ocidente e a oriente da chamada “reta do Tosco”.

melhoramento por toda a freguesia, das quais se

Outras obras realizadas nos últimos anos: a renovação

destacam a renovação da rede de saneamento básico e

da iluminação pública e o melhoramento e requalificação

a rede de distribuição de água ao domicílio, em 1982, a

de espaços públicos como, por exemplo, a fonte de Casal

requalificação da rede viária, a construção da ponte de

d’Além, o recanto da rua da Capela, adros da capela de S.

Soutulho, a Estrada Municipal nº 597, em 1995. Foram

Sebastião e da igreja paroquial.

requalificadas as estradas municipais de ligação a Teivas,

A aquisição de um terreno para construção de uma estação

Soutulho/S. Cipriano, S. João de Lourosa e Passos de

de tratamento de águas residuais (ETAR) bem como a

Silgueiros, onde foi construída

instalação de vários Eco Pontos e, recentemente, de um

uma ponte sobre a ribeira de

Electrão – o primeiro do concelho de Viseu –, denotam

Sasse. As

Equipa de andebol feminino da Associação (1997). Em pé, da esquerda para a direita: Gomes (treinador), Cristina, Fátima, Andreia, Marlene, Patrícia; em baixo, da esquerda para a direita: Sofia, Andreia, Carla, Fernanda, Sandra, Vera e Sara

Grupo de Bombos da Associação em desfile em Vila Chã de Sá (1998)

preocupações com o meio ambiente. obras

relacionadas

No domínio desportivo o grande projecto em curso é

com a ligação IP3 - A25

o da construção de um centro de apoio às actividades

tiveram também um

desportivas e culturais no lugar da Pedra d’ Águia, onde

grande

terão sede as várias associações da freguesia.

impacto

na

freguesia, provocando

A freguesia conta hoje com três associações ligadas à

alterações viária

na

mais

nomeadamente

rede

cultura, desporto e recreio: a Associação de Solidariedade

antiga,

Social Recreativa e Desportiva de Vila Chã de Sá, o Clube

nas

de Caça e Pesca “Os Três Rios” e “Rasga-a-Mata TT”, clube

ligações entre as áreas

de Todo-o-Terreno. Clube de Caça e Pesca “Três Rios” - montaria ao javali na lagoa da Pedra d´Águia

172

173


Clube Todo-Terreno de Vila Chã de Sá “Rasga-a-Mata TT” 174

Crianças na Associação: o Futuro; da esquerda para a direita, atrás: Rodrigo, Miguel, Érico, Daniela, Gabriel, Tiago e Simão; à frente: Gabrielly, Leonor e Gustavo

175


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O Comercio de Viseu, nº2860 de 29 de Janeiro de 1914

a 30 de Agosto de 1959; 27 de Setembro de 1959 a 7 de

O Comercio de Viseu, nº2861 de 1 de Fevereiro de 1914

Junho de 1976; 30 de Junho de 1976 a 30 de Dezembro

O Comercio de Viseu, nº2863 de 8 de Fevereiro de 1914

de 1986 e Janeiro de 1987 a 2008

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