Alphonse Mucha

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES Departamento de História – Curso De História Disciplina: História da Arte I John Rafael Lúcio de Farias 2ª Avaliação Escrita Individual

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lphonse Maria Mucha Pintor, Fotógrafo e Artista Decorativo. Nascido em 1860, em Ivančice, na Morávia do Sul, parte do Império AustroHúngaro, no que hoje é a República Tcheca. Tornou-se famoso na década de 1890, quando passou a produzir cartazes para as peças de teatro de Sarah Bernhardt, atriz francesa e uma das mulheres mais famosas de seu tempo. Muitos de seus mais de 120 pôsteres são reconhecidos como obras de destaque do movimento Art Nouveau. Além disso produziu ainda dezenas de peças para ns comerciais, como embalagens dos mais diversos produtos.


rt ouveau Foi um movimento de arte decorativa que in uenciou fortemente a Pintura, a Arquitetura, a Arte Grá ca e o Design, principalmente entre os séculos de 1890 e 1910. Permitindose uma multiplicidade de in uências, o movimento Art Nouveau inspira-se nas estilizações de Van Gogh, Gauguin e Munch, no movimento britânico Arts and Crafts com seus padrões orais, e nas gravuras japonesas com suas cores vibrantes e linhas orgânicas. É um estilo versátil, com foco voltado para a decoração e a beleza, afastando-se da narrativa e abrindo caminho para o desenvolvimento da Arte Abstrata.

Art Nouveau

Zodíaco Alfonse Mucha, 1896


Ator como cortesão tagawa Kunisada, anos 1850

INFLUÊNCIAS AO MOVIMENTO ART NOUVEAU

Padrão Floral William Morris, 1883


Mais sobre Victor Horta

O movimento Art Nouveau é reconhecido por suas linhas de inspiração orgânica e estética naturalista. Enquanto na França os trabalhos de Mucha eram os mais famosos, na Bélgica o que mais se desenvolveu foi a arquitetura, com os trabalhos de Victor Horta. Outro arquiteto fortemente inspirado pela Art Nouveau foi o catalão Antoni Gaudí.

Escadaria do Hotel Tassel Victor Horta, 1892-1893


Por quê Alphonse Mucha? Mucha marca uma ruptura. Quando Mucha passa a produzir os cartazes de Sarah Bernhardt, não é arte para galerias. É arte para as ruas. É arte para o povo. Mucha rechaça o academicismo e dá (talvez involuntariamente) um cariz social à Arte. A Arte começa a aparecer onde nunca antes ninguém tinha se importado. Para Mucha, a Arte não podia se limitar ao academicismo, às exposições eruditas e aos círculos esnobes.

“As ruas tornaram-se exposições ao ar livre.”


Início da arreira Mucha começa a entender de Arte num momento em que o nacionalismo tcheco está em franca expansão, e são notáveis os esforços da população local para rechaçar as in uências germânicas vindas de Viena, a capital do Império, e valorizar as in uências locais em vez disso. O jovem Mucha nutre um grande interesse pela Música, Literatura e Artes Visuais da Morávia. Estes temas iriam marcar profundamente a sua obra. Em 1879, Mucha deixa sua cidade natal e parte primeiro para Viena, onde inicia seus estudos como pintor de cena. Segue com sua educação artística em 1885 na Academia de Belas Artes de Munique, na Alemanha, de onde parte para Paris em 1887. Na Cidade-Luz, estuda nas Académies Julian e Colarossi. Concluída a sua formação, ele passa a trabalhar como ilustrador autônomo. Feira Local de Ivančice Alphonse Mucha, 1913.


Arte pela Arte ou Arte para o povo? Esta era a discussão em voga entre os artistas no m do século XIX. Mucha criticava a primeira. Para ele, a arte pela arte era insatisfatória, por focar apenas nas técnicas, sem representar conteúdo moral, e assim ele se identi cava mais com a segunda, o que o levou a conhecer o trabalho de Artistas como William Morris e a tornar-se amigo de outras personalidades simbolistas, como Henri Cazalis (1840-1909). Cazalis, médico e pensador social, fundou a ocieté nternationale de ’Art opulaire, que buscava promover o enobrecimento das massas pela estética. Mucha participou desta associação, bem como da ocieté opulaire de eaux-rts, outra associação que buscava popularizar a arte entre a população mais pobre.

“Fiquei feliz por estar envolvido em uma arte para o povo e não para salas de estar privadas.”


“A arte ensinada ao povo através das projeções” A ocieté opulaire des eaux-Arts, desenvolveu uma forma para ensinar sobre Arte às pessoas pobres de forma gratuita, através de projeções feitas com Lanternas Mágicas, similares a uma apresentação de slides como esta. Mucha fez esse cartaz em 1896 para a ocieté, gratuitamente.

Societé Populaire des Beaux-Arts Alphonse Mucha, 1896. A Bibliothéque nationale de France guarda boletins da Societé Populaire des Beaux-Arts.


e style ucha Para Mucha, a Arte melhoraria a qualidade de vida das pessoas, e já que ele tinha acesso a publicar para ns comerciais (breve mais sobre isso), ele via ali uma possibilidade de promover a arte para pessoas comuns. Estas visões cam claras em seus escritos como professor. Mucha lecionou na Académie Colarossi, onde antes havia ensinado, na Académie Carmen e em 1904, foi para os Estados Unidos, onde ensinou no Art Institute of Chicago, além de Escolas de Arte em Nova York e na Filadél a. Para Mucha, O objetivo da Arte é a expressão da beleza, que Mucha chama de “harmonias morais”. O artista tem o papel de despertar o interesse do espectador em sua mensagem, o que deve ser feito de forma mais afetiva possível, para “comunicar-se com a alma do homem”. Uma das iniciativas de Mucha em seu movimento foi a criação dos chamados paineis decorativos (panneaux décoratifs), cartazes publicitários (litogravuras, mais baratas que pinturas), com função decorativa, ns estéticos e temas leves. Surge aí o le style Mucha, caracterizado por belas mulheres em poses elegantes, em composições remetendo à harmonia da natureza.


lementos A Mulher: Imagem central da composição. A beleza feminina chama atenção e potencializa a beleza do ambiente. Grande Auréola ou arco em segundo plano: Segundo Mucha, a auréola é um símbolo de harmonia universal. Figuras naturais e orgânicas: Remanescentes do Arts and Crafts, evocam a tranqulidade e a harmonia da natureza. Arte tradicional: elementos eslavos, padrões arquitetônicos e de vestimentas de sua terra natal são comuns. Cores delicadas combinadas com ornamentos elaborados: Reminiscências do Gótico, Romantismo e Rococó. Devaneio lphonse ucha, 1897.


As Quatro Estações Alphonse Mucha, 1896.


Dança, Pintura, Poesia e Música Alphonse Mucha, 1899.


Despertar da Manhã, Brilho do Dia, Contemplação da Tarde e Descanso da Noite Alphonse Mucha, 1899.


ucha e ernhardt A Atriz parisiense Sarah Bernhardt (1844-1923), maior personalidade teatral de sua época, foi a gura mais in uente da vida de Mucha como artista. Seu primeiro pôster para ela, da produção Gismonda, de Victorien Sardou, foi o responsável por fazer sua carreira atingir certa maturidade. Igualmente, o trabalho de Mucha foi um dos grandes responsáveis por preservar até hoje a memória d’A Divina Sarah. A amizade e parceria de ambos foi repetida por mais seis cartazes. Em tempo:  quase uma falta de respeito com ucha, ernhardt e com uma obra tão icônica apresentar uma imagem tão pequena. or favor, clique no ícone para uma versão maior, com toda a glória de ambos. Sarah Bernhardt como Gismonda Alphonse Mucha, 1896.


Sarah Bernhardt como Melissinde para La Plume Alphonse Mucha, 1897.


Sarah Bernhardt como Lorenzaccio Alphonse Mucha, 1896.


Sarah Bernhardt como Medéa Alphonse Mucha, 1898.


Sarah Bernhardt como La Tosca Alphonse Mucha, 1898.


Sarah Bernhardt como Camille para A Dama das Camélias Alphonse Mucha, 1896.


Sarah Bernhardt como Hamlet Alphonse Mucha, 1896.


eatre de a enaissance Sarah Bernhardt deteve os direitos do eatre de La Renaissaince de 1893 a 1899. Desde quando se conheceram, Mucha passou a produzir peças para o teatro.

Projeto de Outdoor para o eatre de La Renaissance Alphonse Mucha, 1895.


rte omercial: artazes O sucesso proveniente do trabalho com Bernhardt, a partir de 1894, fez Mucha se tornar um ilustrador extremamente requisitado, disputado por vários editores e impressores. Em 1896, Mucha abandona a carreira de autônomo e passa a ser representado por F. Champenois, litógrafo parisiense, sob um contrato de exclusividade de oito anos. Passa então a produzir peças de publicidade dos mais diversos temas, de produtos de consumo até eventos (entre eles os vários cartazes de Bernhardt). A gura feminina é tema central nestas obras, em especial nos cartazes, responsável por seduzir os consumidores.

Devaneio (Reimpressão para F. Champenois Imprimeur-Editor) Alphonse Mucha, 1898.


Lança Perfume “Rodo” Alphonse Mucha, 1896.


Cigarros “Job” Alphonse Mucha, 1898.


Licor “La Trapistine” Alphonse Mucha, 1896.


Cerveja “Bière de La Meuse” Alphonse Mucha, 1897.


Monaco - Monte Carlo Alphonse Mucha, 1897.


Biscoitos Lefêvre-Utile Alphonse Mucha, 1897.


rte omercial: mbalagens Um trabalho leva a outro, outro e depois outro. Tendo feito os cartazes para a “Rodo”, marca de lança-perfume, ca encarregado também do rótulo. O apelo comercial de suas obras, a sedução proposta por suas “personagens femininas”, mulheres livres que bebem, fumam, viajam e aproveitam a vida na Belle Époque, vai cando mais forte.

Embalagem para Biscuits Boudoir Lefêvre-Utile Alphonse Mucha, 1897.


Lança Perfume “Rodo” Alphonse Mucha, 1896.


otogra a Mucha aprendeu a fotografar durante o período em que estudou em Viena, mas nos seus primeiros anos em Paris, ainda não tinha uma câmera própria. No entanto, mesmo quando ele adquiriu a sua própria câmera, ele não tornou-se pro ssional de fotogra a. Em vez disso, ele preferia tirar fotos com modelos vivos em seu estúdio e usá-las como referência para as suas ilustrações. Assim, as suas fotos geralmente são de mulheres completamente nuas ou em trajes tradicionais da Morávia.


Nu Dançando Alphonse Mucha, 1901.


Modelo em Traje Folclórico da Boêmia Alphonse Mucha, 1900.


ucha na América Cansado de lidar com editores e impressores, Mucha decide focar no seu objetivo original, que é produzir arte para valorizar a sua nacionalidade. Em 1900 ele começa a planejar sua obra mais importante, a Epopeia Eslava. Em 1904, após o m do seu contrato de exclusividade, Mucha começa a viajar para a América, para dar aulas em universidades e escolas de arte, mas mais especialmente em busca de novas inspirações e de mais dinheiro para os seus projetos, o qual encontrou nos bolsos de Charles R. Crane, um excêntrico milionário que havia feito fortuna com encanamentos. Crane era o que se podia chamar de um eslavó lo. Um dos pedidos de Crane foi que pintasse sua lha Josephine como Slava, uma personi cação dos povos eslavos. Curiosamente, anos depois, quando a Tchecoslováquia se tornou independente e Mucha foi convidado a produzir as cédulas de Coroa, a recém-criada moeda, a falta de tempo o obrigou a usar a gura da jovem americana como referência para a cédula.


Leslie Carter Alphonse Mucha, 1908.


Auto-retrato com paleta Alphonse Mucha, 1907.


Josephine Crane como Slava na cédula de 100 coroas (detalhe) Alphonse Mucha, 1919.

Josephine Crane como Slava. Alphonse Mucha, 1908.


e volta à terra natal Em 1910, já casado e com um lho, após passar alguns anos lecionando nos Estados Unidos, Mucha volta para Praga, e um ano depois se muda para o castelo de Zbiroh, no oeste da ainda Boêmia. Com o dinheiro de seu novo patrocinador, começa a grande obra que idealizara, porém segue aceitando pedidos de causas “caras ao seu coração”, como a Feira de sua cidade natal, em 1913 (do slide 8). Suas obras desta fase, ainda que sigam representando mulheres, não tem mais a nalidade comercial. É algo mais voltado para a construção de uma espécie de “espírito nacional”, de uma cultura pan-eslava, representando mulheres como a Slava que aparece anteriormente em suas pinturas.

Cartaz em comemoração aos dez anos da Tchecoslováquia. Alphonse Mucha, 1928.


Praga Subjugada Alphonse Mucha, 1911

Sonho de Liberdade Alphonse Mucha, 1911


Nossa Canção Alphonse Mucha, 1918


Estudo para “Russia Restituenda” Alphonse Mucha, 1922. Mucha revisita a iconogra a ortodoxa de eotokos numa mãe camponesa angustiada pela fome de 1921


 popeia slava Durante dezessete anos, a partir de 1911 e até 1928, Mucha pintou episódios importantes da História dos Tchecos e outros povos eslavos, desde a sua origem nos tempos antigos até aqueles dias. Nessas telas de tamanho monumental, os povos eslavos são mostrados como povos pací cos que contribuem grandiosamente para a humanidade, bem como os horrores e tristezas causados por sua desunião. A epopeia eslava é dividida em 20 ciclos.

Cartaz da Primeira Exibição da Epopeia Eslava, com Jaroslava Mucha como personi cação da Música. Alphonse Mucha, 1930.


Ciclo Nº I: Os Eslavos em sua Pátria original: Entre o Chicote Turaniano e a Espada dos Góticos (entre os séculos III e VI)

Alphonse Mucha, 1912.


Ciclo Nº II: A Celebração de Svantovít: Quando os Deuses Estão em Guerra, a Salvação está nas Artes (entre os séculos VIII e X)

Alphonse Mucha, 1912.


Ciclo Nº III: A Introdução da Liturgia Eslava: Louvado Seja o Senhor em sua Língua Nativa (880)

Alphonse Mucha, 1912.


Ciclo Nº IV: Czar Simeão da Bulgária: A Estrela da Manhã da Literatura Eslava (início do século X)

Alphonse Mucha, 1924.


Ciclo Nº V: O Rei da Boêmia Přmysl Otakar II: A União das Dinastias Eslavas (1261)

Alphonse Mucha, 1924.



Ciclo Nº VII: Jan Milíč of Kroměříž: Um Bordel Convertido em um Convento (1372)

Alphonse Mucha, 1916.


Ciclo Nº VIII: Depois da Batalha de Grunwald: A Solidariedade dos Eslavos do Norte (1410)

Alphonse Mucha, 1924.


Ciclo Nº IX: Mestre Jan Hus Pregando na Capela de Belém: A Verdade Prevalece (1412)

Alphonse Mucha, 1916.


Ciclo Nº X: A Reunião em Křížky: Sub utraque (1419)

Alphonse Mucha, 1916.


Ciclo Nº X: Depois da Batalha de Vítkov: Deus Representa a Verdade, Não o Poder (1421)

Alphonse Mucha, 1923.


Ciclo Nº XII: Petr Chelčický em Vodňany: Não Pague o Mal com o Mal (1430)

Alphonse Mucha, 1918.


Ciclo Nº XIII: O Rei Hussita Jiří de Poděbrady: Os Tratados Devem ser Preservados (1462)

Alphonse Mucha, 1923.


Ciclo Nº XIV: A Defesa de Sziget por Nikola Zrinski: O Escudo da Cristandade (1566)

Alphonse Mucha, 1914.


Ciclo Nº XV: A Impressão da Bíblia Kralice: Deus nos Deu o Dom da Linguagem (1578)

Alphonse Mucha, 1914.


Ciclo Nº XVI: Jan Amos Komenský: Um Lampejo de Esperança (1670)

Alphonse Mucha, 1918.


Ciclo Nº XVII: Santo Monte Athos: Abrigando os Mais Antigos Tesouros Literários (Anos 1890)

Alphonse Mucha, 1926.



Ciclo Nº XIX: A Abolição da Servidão na Rússia: O Trabalho na Liberdade é a Fundação de um Estado (1861)

Alphonse Mucha, 1914.


Ciclo Nº XX: A Apoteose dos Eslavos: Eslavos para a Humanidade (1918)

Alphonse Mucha, 1926.


Mais Alphonse Mucha O corpo principal desta aula vem primariamente do Catálogo da Excelente exposição Mucha - O Legado da Art Nouveau, da Fundação Mucha em parceria com o Centro Cultural Banco do Brasil, curada por Ania Rodríguez e Tomoko Sato, a maior estudiosa sobre Mucha do planeta. A exposição trouxe ainda mais peças, e é um deleite para os olhos. A exposição física já encerrou, porém com a ajuda da internet temos acesso a ela a qualquer momento. Clicando nas imagend abaixo, dá para fazer um tour virtual por todas as salas da exposição e baixar o catálogo.


Outras Referências MUCHA, Alphonse. Mucha - O Legado da Art Nouveau. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2020. Catálogo de exposição, 18 nov. 2020 -28 fev. 2021, CCBB. Disponível em: <https://www.bb.com.br/docs/portal/ccbb/CatalogoMucha.pdf> Acesso em: 11 abr. 2021 Mucha - O Legado da Art Nouveau. Google Arts and Culture, 2020. Disponível em: <https://artsandculture.google.com/exhibit/mucha-o-legado-da-art-nouveau/HALig0t-hwa-IQ> Acesso em 07 Abr. 2021 JOHNSTON, Ian. An introduction to the work of Alfons Mucha and Art Nouveau. Vancouver Island University, 2004. Disponível em: <http://johnstoi.web.viu.ca//praguepage/muchalecture.htm> Acesso em: 13 abr. 2021. Para as imagens que não estavam disponíveis no Catálogo da Exposição: Alfons Mucha. Wikimedia Commons. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/Alfons_Mucha> Acesso em 11 abr. 2021


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