"sonar" - roteiro escrito do filme.

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“sonar” um filme por: j.p schwenck 35:31 | P&B | março novembro de 2022.

voz, roteiro, fotografias e filmagens, produção, edição, alguns textos pelo próprio.

Tela preta. “sonar” em caixa baixa escrita do lado esquerdo da tela. “dirigido por j.p s.”, do lado direito.

Ainda em silêncio, se intercedem fotografias com um intervalo de 1 2 segundos entre elas

Foto 1. Meu reflexo na janela de um vagão de metrô vazio. Foto 2. Interior de uma livraria desarrumada e não vazia, mas fechada. Pilhas de livros por toda parte.

Foto 3. Meu reflexo no vidro da mesma livraria. Um pouco da fachada aparece na foto. Do lado direito do vidro, um aviso em papel A4.

Foto 4. Close-up do mesmo vidro. Do lado esquerdo da foto, estou eu misturado às pilhas de livros no fundo da loja. Do lado direito, o aviso de papel A4, que diz que a loja está fechada por motivos de quarentena do Covid 19. (Essas três últimas fotos foram tiradas em outubro de 2022.)

Foto 5. Interior de uma loja vazia para ser alugada no shopping da Carioca. No reflexo do vidro, ao fundo, pessoas passam.

Foto 6. Da grade da janela, o interior da sala da antiga casa dos meus avós. A sala está vazia.

Foto 7. Estação de trem desativada em Natividade, Rio de Janeiro. Não há ninguém na foto.

Tela preta. “silêncio?” escrito do lado esquerdo da tela.

Cena 1. Janela. Fazenda dos meus tios, Itaperuna. A tela se divide entre exterior e interior. Mostro um pouco do quarto e do banheiro onde fiquei enquanto escrevia esse texto. Zooms e desfoques Som ambiente junto à voz em off.

Voz em off (“Eu, Warhol”, escrito e lido por mim): “Escrevo isso numa terça a noite, 15 de março. Estou passando uns dias em Itaperuna, fazenda dos meus tios, aqui tem internet. Fraca. Mas tem. Costumo baixar umas coisas na Netflix antes de vir pra assistir quando o tédio bate aqui. Dessa vez, baixei a série do Andy Warhol, produzido pelo Ryan Murphy, a série é baseada nos diários do Andy e tem como tópico principal sua intimidade social e individual.

Sou um fã de Warhol como artista e como pessoa, como um pensador de arte, um criador, um ser de personalidade questionável, uma obra de arte ambulante, mas que tinha em si um sentimentalismo que me toca. Eu me vejo em Warhol em alguns momentos, o que me angustia como uma pessoa que também se identifica como artista. As dores e as angústias estão ali, o silêncio indubitável também. Eu não sou Andy Warhol, ninguém no mundo da arte e da cultura pop é Andy Warhol se não o próprio Andy Warhol. Saí da experiência de assistir esses seis episódios ao longo do dia tentando me encontrar no mundo. Na internet, sou apenas um número. Andy Warhol não viveu pra assistir a internet surgir. Fui pra Bahia e talvez tenha me encontrado. Fiquei feliz de não concordar com coisas de Andy vendo essa série, não conseguiria ter um relacionamento íntimo sem contato sexual.

(Foto 8. Entrada do banheiro. Foto tremida.)

Entendo o medo dele de ficar sozinho, adoraria ter conversado com ele por dois minutos.

(Foto 9. O mesmo banheiro. Foto tremida.)

(Foto 10. Raposo. Rua vazia, com apenas um cachorro ao fundo.)

Eu também teria bastante medo de morrer aos poucos, mas também demonstraria afeição.

(Foto 11. No caminho para Natividade. Da janela do carro, vacas num pasto nos observam.) Warhol é um enigma bonito.

(Foto 12. Paróquia Santo Antônio de Miracema. Nenhum movimento na rua.)

(Foto 13. Rua no Município de Miracema. Pouco movimento, carros estacionados.)

Fico pensando se conseguirei expor minhas fotografias em algum lugar, ou vender meus livros, ou divulgar minhas músicas ou progredir em suma.

(Foto 14. Santuário de Nossa Senhora de Natividade. Em uma grade, terços, fotos, flores, máscaras descartáveis e fitas são deixados. Em destaque, no lado esquerdo, a foto de um casal. Um terço está amarrado entre essa foto. Em baixo, uma pequena placa com os dizeres “Agradecimento por uma graça alcançada.)

Não sirvo pra ser profissional, logo, serei um rótulo bastardo.

(Foto 15. Ainda no Santuário. Em um espaço próximo a mesma grade, flores, máscaras descartáveis e partes do corpo feitas de cera, como cabeças e pés, são deixados. Do lado direito da foto, uma placa com os dizeres “Não acender velas.”)

(Foto 16. Rua vazia em Raposo, nenhum movimento, apenas uma loja de roupa aberta. Não há ninguém dentro dela. Na parte de cima da foto, uma placa do Hotel Central de Raposo.)

Ser artista hoje é um estigma, pois o tempo te condiciona e o mercado te pressiona.

(Cena 2. Praça de Raposo. Pouquíssimo movimento. Intimismo. Som ambiente do vídeo ao fundo junto à voz.)

Tudo o que for pessoal e importante pra você tem o risco de ser mau visto por eles. Há o sistema do ódio, o preconceito, a invisibilidade. Eu acho que todas as pessoas deviam escrever as próprias memórias, pois até anônimos tem mais brilho próprio que as celebridades com brilho posto no corpo. Você vê uma casinha no meio do nada e muitas vezes possui mais significado que um condomínio lotado.

Essa coisa de ser artista me agoniza, fico tentando rasgar minha bolha mas simplesmente ela não se rasga. Tento e tento. Quero ir além. Quero estar além.

Pensar no futuro me dá um pleno desespero, sempre sou jogado a esses momentos. Onde estou sentado à uma mesa porcamente posta lidando com alucinações macarrônicas. Envelheço triste, pois o alvorecer sempre é.”

Tela preta. “silêncio?” escrito no canto inferior esquerdo da tela. Som ambiente de um avião prestes à decolar. Voz em off de um piloto dando instruções.

Cena 3, 4 e 5: o avião aonde estou antes de decolar, uma cidade vista de cima e nuvens vistas de cima. Sobreposição de duas vistas do mesmo avião. Som ambiente do segundo vídeo se misturando à voz do piloto.

Voz em off servindo como uma inserção, comentando à cena. Minha primeira viagem de avião.

Da visão de cima, corte para Cena 6: Salvador. Passando de carro pela cidade, um guia turístico nos orienta. Conversa de fundo de meus pais com o guia. Som ambiente enquanto a voz em off ainda continua. Barcos no mar, uma comunidade ao fundo. Voz termina.

No centro do vídeo, quatro fotografias se intercalam:

Foto 17. Interior da Igreja do Bonfim.

Foto 18. Um mural com fotografias 3X4 deixadas no interior da Igreja do Bonfim para fins de promessas à serem pagas

Foto 19. Janela do carro onde a cena está sendo gravada Do lado de fora, um gari passa. Barcos ao fundo, nuvens no céu. Bahia.

Foto 20. Interior da sorveteria da Ribeira. Minha mãe e o atendente olham para a placa com os sabores de sorvete.

Cena 6: Mar e Praia da Costa do Sauípe, meus pés tocam a água, praia com pouco movimento. Voz em off no fundo (“Tarântula”, escrito e lido por mim):

“victor heringer aos 29 talvez eu tenha medo do que a próxima década me reserve elena não conseguiu dizer a resposta no que o coração pesa, não posso dizer que sou como ela o amor e todas as suas intensidades. eu aos 20, moldando o desassossego com a mais pura argila, se desfazendo entre meus dedos sigo o instinto de um rosto, uma garganta que possa me abrigar não me encontrariam em Nova York, na Tijuca ou em qualquer lugar dá muito medo, e bem cedo neva mil desculpas, oito pernas, o horror me acorda distúrbios voláteis das mil lentes, algo me enxerga. minha avó em 33, fernando pessoa ainda vivo era heartstopper já muito disse, um sol azul me espera.

(Cena 7: Interior de meu quarto. Estante, livros, mesa bagunçada. Minha visão enquanto estou deitado na minha cama.)

rimming comprehension, lesson 1: meio copo, cheio ou vazio? você escolhe. transparente, sou eu com a vida preso no mundo que me encolhe. escrevo isso aos 19.”

Cena 8: O Anjo Peréio

Voz em off (“O Anjo Peréio”, escrito e lido por mim. Piano tocado também por mim. Enquanto o poema é lido, uma única gota escorre de uma parede, enquanto o filme “Sun in your head”, do Wolf Vostell é projetado na parede.

“Um anjo de fossa descendo no meu sonho Com migalhas caindo pelas mãos furadas e uma olheira que contorna sua cabeça

É preciso e objetivo, esbelto na sua honestidade Ele nada fala, apenas sopra calamidades quentes.

Quentes toques embalados em melodias intermináveis Sopros que desencadeiam necroses Pedindo proteção à luz do dia Que cai derrubando as vidas Àvidas respostas, azedas imagens Que faz reluzir mais a silhueta do anjo.

Ele guarda beijos e abraços que ouso respirar com narinas e janelas abertas Tudo parece sublime O anjo e o escarro

Do sorriso pornográfico Milagres da vida uníssona.”

A nota do piano ecoa na Tela preta. Corte abrupto para “Into the Bathtub”, peça colagem sonora produzida por mim. Ao fundo, trechos do filme “H.O”, de Ivan Cardoso. Cenas se intercalam e se sobrepõem em meio ao som. Reverberações, vozes, velocidades. Corpo, matéria, movimento.

Cena 9: Interior de um Uber, indo para a rodoviária. Ao fundo, “Forever Young”, de Rod Stewart no rádio. Na janela, pouco se vê. Voz em off se intercalando com a cena, a breve tela preta e a cena seguinte.

Cena 10: No ônibus, em movimento. Estou sentado indo para São Paulo pela primeira vez. Detalhes seguintes em três cenas.

“Descobrir o som que rodeia minha vida. Essa é a missão.

Por isso destrincho os elementos que rodeiam o cinema da minha vida.

Cor, movimento, som...

(Cena 11: Cortina e janela, close. Não é possível ver o movimento na janela.)

Por isso detalhes, cruezas, desfoques, violências.

(Cena 12: Aviso no banco do ônibus, close.)

Tudo num mesmo prato.

(Cena 13: Meus pés.)

Spic, sic, tupnik. Tudo numa grande tela, uma pintura abstrata.

(Cena 14: Janela do ônibus, som ambiente enquanto a voz em off ainda está rolando.)

Por isso Azul Cinza do Céu Vermelho, é tudo o que me cerca. Todos esses documentos, por isso o tempo. Por isso todas as vontades.”

(Cena 15: Continuação da 14, close da janela. Movimento indecifrável)

Cena 16: Elevador, som ambiente enquanto ele sobe e para. A porta se abre.

Corte abrupto para o silêncio. Cena 17: Avenida Vieira de Carvalho, alto do Esponja, vista para a rua, pouco movimento.

Voz em off, Bruno Mendonça durante a performance “A Hora da Chuca”, recitando o texto “Eu Não Sou um Homem”.

Corte para cenas da performance de Bruno:

Cena 17: Close em seu busto enquanto recita o monólogo. O lugar é pequeno e à esquerda do vídeo, a câmera de um celular capta seu corpo inteiro.

(Cena 17.1: Continuação da 17, apenas com uma distância maior da minha visão para Bruno.)

Cena 18: Close no celular. Continuação da performance, Bruno está de quatro usando apenas uma jockstrap enquanto canta “O Beijo”, do Kid Abelha.

(Cena 18.1: Continuação da 18, apenas com uma distância maior da minha visão para o celular.)

Voz para. Na tela, seguintes fotos do Esponja:

Foto 21: Espaço do lado de fora. Poucos elementos na foto, apenas uma luminária e uma porta.

Foto 22: Banheiro aonde a performance foi realizada, close do vaso sanitário, do lado uma duchinha, embaixo dela uma cesta de lixo, em cima do vaso uma placa com os dizeres “Apenas Xixi”.

Foto 23: Foto minha no espelho do camarim. Na minha frente, uma mesa com álcool fisiológico, água e bolsas. Atrás de mim, uma arara de roupas e alguns materiais espalhados.

Foto 24: Close da arara. Nela, há um guarda chuva transparente e uma jockstrap de couro.

Foto 25: Espaço do lado de fora. Uma cadeira vazia, uma mesinha com um cinzeiro cheio.

Foto 26: Banheiro aonde a performance foi realizada. Banheira com plantas ao redor, dentro dela um bastão de LED rosa que não aparece na foto.

Voz volta, outra parte do monólogo da performance.

Foto 27: Público da performance no espaço. Foto tremida.

Foto 28: Performance. Bruno está no fundo, mas, da minha visão, seu rosto é tampado pelo público.

Foto 29: Performance. Público observa.

Foto 30. Performance. Bruno observa.

Voz em off. (Texto sem título por Alessio Mazzari (agradecimentos ao mesmo), recitado por mim)

“São Paulo foi descrita para mim como fenômeno natural e caos ordenado. Ele tentará ver a cidade como pessoa e se perguntar o que pensa dele. Um treinamento a estar presente. Não se sinta mais errado. O pessoal é poética. Não sei se acredito. Às vezes acho que o corpo da cidade que eu estava procurando poderia ser o meu corpo. Duas vozes em paralello. Ficar aqui significa negociar quem você é. Todos os dias. Havia uma portinha, sua avó passava por ela. Sinta todo. Tinha uma impossibilidade de sonhar no campo. Quando entrei, abaixei a cabeça e quando saí, bati nela. A crise econômica em 2010 varreu como um arado as ilusões, que perguntas tenho o direito de fazer? O íntimo pequeno é apenas um fragmento. Construir formas de narrá lo com dignidade. São Paulo para mim foi voltar a sonhar. Talvez eu gostaria de dizer tudo ao público. Se sentir parte, não quero mais me justificar. Vovó Flora sabia ouvir. É o fim da culpa, mesmo que o passado continue presente. E a água sempre foi. Nasci a dois quilômetros de uma lagoa. Deixe as coisas para a água. Para liberar, sem compromissos. Profere todas as palavras entregues. Sair do documentário para o poético. Proferir todas as palavras, é São Paulo quem me faz esta pergunta. Havia uma portinha, quando saí bati nela. A verdadeira mentira são todas as explicações que deixamos entre nós e o mundo. Senti uma força que precisava perseguir. Para avançar. Só sua avó

passava por ela. A rigidez nos ombros para uma escrita desajeitada. E o resto estivesse perdendo seu significado na borda de uma cama. Estou deslizando no chão e empurro minhas omoplatas contra a parede. Ela não se levantava até o livro terminar. Nada mais acontecera. O dever de aprender sozinha e o terror de ser julgada, de ter cometido um erro. Sempre observado. As pessoas que sonham batem a cabeça. Crença no imperfeito. Sendo quebrada na luta, esvaziada da fábrica. Tenho a responsabilidade de sonhar. Por ela entre os fragmentos. Em um espaço entre São Paulo e eu."

Enquanto o texto é recitado, as seguintes fotos são mostradas:

Foto 31. MASP. Obra não identificada. Zoom out nos olhos. A visão grita.

Foto 32. Interior de sebo de livros próximo à Liberdade. Estantes cheias.

Foto 33. Janela do alto do SESC 24 de Maio. Zoom-out no movimento.

Foto 34. Galeria do Rock. Interior da loja Baratos Afins. Na parte de cima, janela. Na parte de baixo, LPs.

Foto 35. Interior da estação de metrô da Paulista.

Foto 36. Interior do mesmo sebo da foto 32. Close numa placa indicando livros de direito penal.

Foto 37. Sala de projeção do Pivô (Copan). Na legenda do filme na tela, os dizeres “living is also a part of the industry”.

Foto 38. Interior da Gato Sem Rabo, olho o viaduto no lado de fora da loja, um homem está sentado de costas para a foto.

Foto 39. Vista do Minhocão. Pessoas passam em frente a um pedaço da Cracolândia.

Foto 40. Close em um escrito num pedaço do alto do Minhocão com os dizeres “É menine ou menine”.

Foto 41. Galeria do Rock. Close up Poucas pessoas se reúnem.

Foto 42. Pessoas entrando no metrô.

Foto 43. (No centro da foto 42). Mural com diversas fotos de pessoas não identificadas. Obra exposta no SESC 24 de Maio.

Foto 44. Interior de um Uber. Avenida Paulista. No fundo, o MASP.

Foto 45. Obra de Leonilson. MASP.

Foto 46. Obra de Paulo Nazareth. Pivô.

Foto 47. Alto do Pivô/Copan. Da minha visão, um canto isolado, com uma mulher pintada no muro. Plantas em vasos espalhados

Foto 48. Sala de projeção do Pivô. Público assistindo. Na tela, vídeo com Paulo Nazareth.

Foto 49. Parede de um dos ateliês abertos no Pivô. Desenho colado de autoria não identificada.

Foto 50. Minhocão. Pessoas caminham.

Foto 51. Esponja. No cenário da foto, uma cama desarrumada, um móvel, uma porta e, ao lado, um desfile da Casa de Criadores sendo projetado na parede.

Foto 52. Interior da Gato sem Rabo. Em destaque na parede, acima das estantes de livros, a palavra “arte” escrita.

Foto 53. Porta de uma gráfica fechada ao lado do Copan. Não é possível ver o que está dentro dela. Ao lado direito da foto, um trecho de uma placa com informações da loja.

Foto 54. Interior d’A Porta. Poucos elementos na foto. Vista cabisbaixa. Uma tomada e dois pés.

Foto 55. Rua do Takko Café. Carros passam, um homem vem em direção à câmera.

Foto 56. Parque Augusta. Pessoas sentadas no chão, se reunindo.

Foto 57. Zig Duplex, vista da garagem em frente. Um carro passa entre mim e a boate.

Foto 58. Mesa de boteco. Visão. Pessoas em volta, copos vazios, prato com polenta.

Foto 59. MASP. Um homem olha um quadro de Alfredo Volpi.

Foto 60. Interior d’A Porta. Rosas murchas em garrafas vazias de Uísque.

Em fade, som ambiente de uma jam session, ocorrida também n’A Porta, imergindo no fundo.

Cena 19. A mesma jam session. Um cara toca bateria, um toca baixo, outro toca saxofone, outro toca guitarra. Um cara sentado ao meu lado toca bongô (enquanto está em efeito de doce). A cena foca não nos rostos, mas na minha visão da cena.

Cena 20. Apresentação da Virgo Virgo no Esponja. Festa de 25 anos da Casa de Criadores.

Cena 21. Mesma apresentação. Um cara ao fundo balança um bastão de led em cima da Virgo enquanto ela canta “Big Time Sensuality”, da Björk.

Foto 61 (No centro do vídeo). Uma foto da mesma apresentação. A luz do bastão ilumina seu rosto. É noite, mesmo sendo não aparente.

Foto 62. Varanda do Esponja. Foto tremida.

Foto 63. A mesma cama da foto 51, porém centralizada na imagem.

Foto 64. Vista dos prédios da Avenida Vieira de Carvalho.

Foto 65. Tapete na entrada de um prédio. Foto cabisbaixa.

Foto 66. Ônibus. Voltando para casa. Rio Foto tremida.

Foto 67. Ônibus. Em frente, o Shopping Grande Rio.

Foto 68. Janela do ônibus. Em destaque, a cortina tapando pela metade o que está do lado de fora.

Tela preta com o escrito “silêncio” no canto superior direito da tela. O som da jam session é cortado.

Voz em off. “Chão Sujo”, escrito e recitado por mim. Ao fundo, trecho do filme “Fragment Of Seeking”, do Harrington Curtis.

“quem é o mecenas? quem é o curador disso tudo? quem patrocina?

quem escreve esse roteiro? quem decide? e eu como hipster do século socorro transbordo me como no sonho que tive onde estou de volta à casa da minha infância (Foto 69. Frente da casa dos meus avós.) (Foto 70. Campainha quebrada da mesma casa.) os livros ainda estão no mesmo guarda roupa já o mofo, não era de lá. (Foto 71. A parte de trás da casa vista da escada para o terraço) o sol entra pela janela o terraço cheio de folhas (Foto 72. Entrada dos fundos da casa. Poucos elementos na imagem triste, a mangueira do quintal e a escada) (a casa nunca teve espaço para árvores) desco todas as escadas (Foto 73. Vista para a rua, do lado da escada para o terraço.) não encontro meus pais não encontro a minha criança a tinta está fresca, mas não há cheiro. (Filme volta.) "morro pela boca vivo pelos olhos" (Foto 74. Sobreposição de duas fotos da garagem e da escada da casa. Fantasmagoria da memória.) e amo por mim mesmo.”

Cena 22. Not-Pancake. (Texto escrito por Márcia X, interpretado por mim). Ao fundo, variadas imagens de arquivo da Cinemateca Brasileira.

“Roteiro romance

Zero, 3 degraus de escada para atravessar a porta, sempre aberta, da biblioteca pública

Na terminologia local, gabinete de leitura REAL Gabinete Português de Leitura.

Cinco passos adentro os BUSTOS DE PEDRA

Ramalho Ortigão à direita Eduardo Lemos à esquerda

Um pouco mais à frente os BUSTOS ELETRÔNICOS, compondo duas duplas desconcertantes unidas por habitarem o mesmo espaço e antagônicas por pertencerem a tempos distintos. Vamos anunciar! Vamos anunciar!

De olhos fechados, Márcia X é a TELA. (bustos eletrônicos) Abre um olho, somente um, como CAMÕES faria A palavra OLHE pisca.

OLHE*OLHE*OLHE

(método por identificação)

Várias pessoas entram e olham, se curvando um pouco Através dos vidros losan gulares das portas laterais Como quem olha por um buraco de fechadura São os AMBIENTES VERMELHOS Experimente você também!

A cena é repetida várias vezes sem que se mostre, nunca, o que está do outro lado

A meta, a visão onírica, a "realidade com truques".

(Esta cena é também recons tituída por setas no chão, como manuais de dança de décadas atrás).

Todas as cenas se repetem. Vamos Anunciar! OLHE*OLHE*OLHE

Retina impregnada de vermelho e o espírito de lúcida curiosidade; tomar novo rumo, a NAVE CENTRAL. Tudo a desvendar, mas... Onde depositar o olhar? Na luz que deságua da abõboda, nos livros incontáveis, relevos, adornos, as TVs naquela mesa descomunal logo à frente, a arrumação das mesas, aquela figura, isto sim, ao lado uma FIGURA que monopoliza todos os sentidos... No último degrau da escada mais alta, cabelos cor de rosa escorrendo até o chão. Ela retira cada livro da estante e não o lê. Abre o livro e cheira o, um a um, se deixando tomar pelas sensações ins pi ra do ras, de li ci o sas, nu tri ti vas, re ve la do ras ... que emanam daquelas páginas.

O tempo todo aquele SOM, o que seria? Um falar contínuo, parece surgir dos quatro cantos, vindo da boca dos quatro guardiães: CAMÕES, CABRAL, MINERVA e VASCO DA GAMA. Um relato imaginário ? A descrição de um planeta distante? Uma viagem fabulosa certamente, elefantes, acontecimentos estranhos, ouro, prata, sol, chuva, armas, flores, deuses, mandarins, salões, música.................................................

HOMEM AO MAR! ..... TCHIBUMM... Este grito rompe repentinamente o transe. Já é possível olhar as TVs que ladeiam a estátua preta. Lá está Camões novamente! Na TV outra “peregrinação”, esta ao interior do corpo “humano.”

EVA A BONECA GIGANTE. Coração, estõmago, veias, ouvidos, pulmões enormes, imensos em relação ao outro ser humano que se encontra lá dentro explicando como tudo aquilo funciona.

Olhar as vitrines, escolher uma das mesas para sentar, olhar, ouvir, Estar, .............. Hora de ir embora.

O que seria afinal tudo aquilo ?

O que seria afinal tudo o que não é aquilo ?

Sacolas, castanhas do Pará, canetas, balas, pulseiras de relõgio, todo tipo de quinquilharia... No meio de tantos apelos uma visão estranha, uma construção talvez incomum, original, ou seria melhor dizer logo uma maravilha do outro mundo!

Lá dentro todas as palavras, todos os pensamentos possíveis (?), todo o conhecimento acumulado ao alcance da mão. Um organismo que se alimenta do tempo. R E A L se propõe a ser mais um elemento a participar deste mecanismo. 30 minutos de acontecimentos vivos e televividos.

Ações... ecos... reflexos... correspondências + milagres diários:”

Tela preta com o dizer: “silêncio” escrito no centro.

Voz em off, enquanto fotos se intercalam.

Foto 75. Aula de fotojornalismo. Uma câmera, meu caderninho e duas canetas na minha carteira.

Descobrir o som que rodeia a minha vida. Essa é a missão. (Foto 76. O vão do MAM visto de trás.)

Por isso quando acordo é como se eu tivesse submergindo do meu próprio oceano (Foto 77. Três barcos juntos na frente da mureta do MAM.)

Por isso me sinto perdido mesmo quando me encontro, por isso delírios de grandeza (Foto 78. Espaço ao ar livre no interior da Galeria Nara Roesler, de Ipanema. Prédios ao fundo. Visão fechada.)

Por isso ficção imaginativa. (Foto 79. Tela do meu notebook enquanto assisto Serial Experiments Lain)

Tudo numa tela, uma pintura abstrata. Por isso detalhes, por isso arde

(Foto 80. Interior do Metrô desembarcando em alguma estação.)

A crueza, o desfoque. Vômito do mito, rebel without a cause.

(Foto 81. Obra não identificada em exposição no Oi Futuro)

É tudo o que me cerca. Por agora. Eu quero ficar aqui pensando um pouco.

(Foto 82. Vista da borda da passarela da estação de BRT do Jardim Oceânico.)

Antes de quebrar o espelho e reconstruir lo dos pedaços. (Foto 83. Praia de Ipanema vista do alto da Casa de Cultura Laura Alvim.)

Por isso o tempo. Todas as vontades. (Foto 84. Passarela do MAM.) E o que há por vir.

Cena 23. Voltando pro Rio, da viagem da Bahia. Vista do avião. O som se intercala entre o fim do áudio anterior com o silêncio e som ambiente do vídeo.

Cena 24. Uma cidade é vista de cima. Luzes no céu noturno. Sobreposição de imagens.

O áudio da cena se intercala com sons internos de um BRT.

Voz em off. “Leonilson” peça colagem sonora produzida por mim. Texto de autoria do próprio Leonilson.

No centro da tela, é mostrado, por meio de um print de um bloco de notas do computador, um pequeno poema de Hilda Machado, chamado Sagitariana. (“parar de fazer mil coisas ao mesmo tempo de bater de encontro as coisas de encontrar elefantes dentro das lojas sou de porcelana.”)

“e você músico? sua lira seus cabelos o sol: a vontade é se atirar nesta porta trancada pergunto pela luz pergunto por você não poderia eu me afogar ou correr meus olhos nos seus? certamente eu não poderia medir a distância da terra no sol certamente não posso alcançar seus lábios

esta não é uma melodia triste esta não é uma melodia mas vejo a distância a projeção de sua sombra no longe, seus olhos a lira seus cabelos."

No mesmo bloco de notas, são mostrados os créditos do filme. Imagem estática. Silêncio. O filme se acaba.

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