Revista samba na praça

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Edição: 01 - Ano: 01 - dezembro 2014 - www.facebook.com/sambanapraça Foto Thiago Bracarense

C onf ira os b ast idores do g r up o C ord a e C aç amb a, c ar ro chefe do projeto.

Foto Marília Cunha

Foto Vita del rei

Confira o cenário do samba em São João del Rei

Cara a cara com o compositor We s l l e y M u m u .

Conheça a história e o trabalho sãojoanenses do Grupo Simplicidade, que completou 15 anos.

Quando a praça sambou Por João Marcos El Yark.

O projeto Samba na praça teve início a XX anos atrás na cidade de São João del Rei. Criado por amantes da cultura que buscavam fomentar as expressões artísticas ao ar livre no município, o projeto se consolidou na comunidade ao longo desse tempo.

O carro chefe do projeto é o grupo “Carda e Caçamba”, formado por quatro jovens que tem em comum a paixão pelo gênero. Eles trazem em seu repertório gravações dos sanjoanenses Jota Dângelo, Agostinho França e Chacal dentre outros, além dos grandes nomes do samba nacional como Cartola, Noel Rosa, João Nogueira e Paulinho da Viola.

O fortalecimento da cultura se faz necessário para o desenvolvimento social da própria comunidade saojoanense, além de ajudar na preservação da memória e identidade da mesma.

Nesta primeira edição do jornal “Samba na Praça” trazemos uma descrição completa sobre o projeto e sua importância dentro de São João del Rei. Tratamos desde o surgimento do projeto, passando pelos perfis das bandas participantes e mostrando os bastidores como escolha do repertório, do local, palco, passando pela preparação dos eventos e demonstrando ainda como é o cenário sambista e cultural na cidade.

EXPEDIENTE

Veículo online Coordenação Prof. Dr. Ivan F. Vasconcelos Projeto Gráfico João Marcos El Yark Reportagens Rafaela Ramos, Luana Carvalho Júlia Dias, Marília Cunha Fotografia -

como Cartola, Noel Rosa, João Nogueira e Paulinho da Viola.

O fortalecimento da cultura se faz necessário para o desenvolvimento social da própria comunidade saojoanense, além de ajudar na preservação da memória e identidade da mesma.

Nesta primeira edição do jornal “Samba na Praça” trazemos uma descrição completa sobre o projeto e sua importância dentro de São João del Rei. Tratamos desde o surgimento do projeto, passando pelos perfis das bandas participantes e mostrando os bastidores como escolha do repertório, do local, palco, passando pela preparação dos eventos e demonstrando ainda como é o cenário sambista e cultural na cidade.

O samba não pode morrer, o bom samba não pode acabar Por Luana Carvalho.

A vontade de resgatar as obras primas dos grandes nomes do samba nacional, e principalmente sanjoanense, os amigos: Congo, Wesley Mumu, Darc Brasil, Zé Leandro e Thiago Bracarense, formaram um grupo de samba movido pela paixão desses jovens pelo ritmo. Eis o Corda e Caçamba,

Marília Cunha Edson Andrade Thiago Bracaense Vita del Rei Realizado para a matéria de Assessoria de Imprensa - Comunicação Social/ Jornalismo - Universidade Federal de São João del Rei.

cujo repertório contempla nomes como Cartola, Noel Rosa, João Nogueira, Paulinho da Viola, Jota Dângelo, Agostinho França, Chacal e composições do próprio grupo. Pelos arranjos assinados e tocados pelo conjunto, tem-se uma evidente noção de que o bom samba nunca deverá morrer.

Denominado inicialmente como “Quinteto pra sambar” o grupo era composto por seus fundadores. Segundo Darc Brasil, esse não era um nome comercial, e influenciados mais uma vez pelo samba, um novo nome foi escolhido. “O nome Corda Caçamba veio de um samba que a gente tocava e dizia assim: “Não posso ficar, eu juro que não/Não posso ficar eu tenho razão/Já fui batizado na roda de bamba/O samba é a corda e eu sou a caçamba.”.

Na linha de frente do Corda e Caçamba está o vocalista Wesley Mumu, que, acompanhado dos músicos Jonathan (cavaquinho), Rodrigo (violão), Darc Brasil (pandeiro, caixa e chique-balde), Moisés (chique chique) e Rogério Congo (surdo e percussão), compõe a formação atual. O Grupo reúne antigos e novos sambistas, mesclando sambas renomados e sambas sanjoanenses com interpretação fiel aos clássicos e original às raízes do samba.

Junto com Thiago Bracarense, hoje, empresário do grupo, o Corda e Caçamba criou o Projeto Cultural Samba na Praça. Com shows gratuitos e com uma periodicidade mensal, o projeto mantém a intenção do grupo: resgatar o samba de raiz. “A nossa intenção era criar um evento em que as pessoas pudessem ir e se divertir, trazer os filhos, reunir a família. A gente pensou num encontro de gerações, com o intuito de levar à população uma forma diferente de lazer e cultura, além de resgatar e preservar o Samba, uma das tradições culturais sanjoanenses”, explica Thiago.

A partir do Samba na Praça, surgiu o interesse de lançar um CD com sambas inéditos que fossem surgindo ao longo das edições do projeto: “A nossa ideia é fazer o samba de raiz, tocar os compositores antigos, mas também lançar sambas, tocar composições inéditas e gravar um CD com esses sambas”, explica Wesley Mumu.

Embalados por cada melodia e pela paixão ao samba, o grupo tem o desejo de

manter viva essa tradição sanjoanense, carregam em si, o pedido de grandes sambistas como Alcione que em uma de suas composições pede: Não deixa o samba morrer, não deixa o samba acabar.

Foto Thiago Bracarense

Wesley Carmelo dos Santos Nascido em 9 de maio de 1979, Wesley Carmelo dos Santos, Mumu, trouxe do berço o gosto pelo samba.

Desde os 17 anos, participa na sua Escola de samba do seu coração, G.R.E.S Irmãos Metralhas, da qual desde 2003 é o compositor e interprete oficial, sendo o atual presidente.

O sambista, compositor e intérprete, conquistou prêmios importantes no cenário musical mineiro. Concorrendo a categoria música inédita, Wesley foi 1º lugar no Festival Estadual Sesi Música em 2011 e 2012, em 2013 ficou em segundo lugar na grande final do Festival. Além de toda a repercussão de um grande festival, Mumu coleciona triunfos conquistados como melhor intérprete do Carnaval sanjoanense, conquistando quatro nos últimos cinco anos.

Por amor a música Dificuldades e amor pela música motivam grupos de samba no interior de Minas.

Por Júlia Dias.

O Grupo Simplicidade existe desde 1999, quando irmãos, primos e amigos decidiram se juntar para tocar o que gostavam. O grupo mantém a mesma formação desde a criação, e já se chamou “Da sala para a cozinha”, uma brincadeira dos familiares já que só tocavam em casa. O nome Simplicidade veio em 2001, inspirado no CD do grupo Fundo de Quintal. O integrante Deosdete Sousa contou um pouco mais sobre a história do grupo e sobre o mercado da música em São João del-Rei.

Como começaram com o grupo?

Nossos familiares são bastante envolvidos com a música, então desde pequenos tivemos contato. No início não sabíamos tocar nada, então corremos atrás para aprender tocar cavaquinho e como não tínhamos dinheiro, pedimos um amigo do meu pai para fazer um cavaquinho para gente. Estreamos o grupo em outubro de 1999, em uma festa do dia das crianças em nosso bairro.

Vocês têm outras profissões ou vivem da música?

Para nós a música é diversão, um hobby, não é uma coisa profissional. Cada um tem sua profissão, eu por exemplo trabalho em uma farmácia. Gostaríamos de viver só da música, mas infelizmente não tem como.

Foto arquivo pessoal

São João del-Rei sediou neste ano o 1º Concurso de Marchinhas Carnavalescas com o objetivo de resgatar a tradição e valorizar a música carnavalesca, promovido pela Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer.

O integrante do Grupo Simplicidade, Deosdete Sousa, participou do Concurso com seu amigo André Pereira e os dois ganharam em 2º lugar com a marchinha “É o pinga, pinga”.

Foto arquivo pessoal

São João del-Rei tem mercado para a música?

Tem, mas não é valorizado. Quando nós começamos por exemplo, o pessoal chamava os grupos para tocar mas não pagavam em dinheiro e sim com engradados de cerveja, alguns grupos aceitavam tocar por isso, nem todos. Essa desvalorização acontece não só com a gente, a Banda Teodoro de Faria e outras bandas de São João não são remuneradas. E a gente percebe que os grupos mais famosos, as duplas sertanejas, Dj’s, as bandas de rock têm muito mais oportunidade e acesso aos grandes eventos.

Já gravaram algum CD?

CD não gravamos, mas temos algumas músicas gravadas. Nós temos umas 20 músicas que estão prontas, que poderíamos usar para gravar um CD.

Quais são os planos futuros do grupo?

“Fazer música é como espirrar: tem horas que a gente não tá esperando e vem” Deosdete Sousa

Concurso de Marchinhas São João del-Rei

Gostaria que a gente conseguisse registrar os shows e as músicas, mesmo que a gente não consiga vender, mas para ter um registro, e futuramente lembrar os velhos tempos.

Nós pretendemos continuar com o grupo, fazendo música, seja ganhando ou não dinheiro. Por gostarmos de fazer música, e levar alegria por onde vamos, a gente continua. Quem sabe nossos filhos participem com a gente mais pra frente e continuemos a levar música para todo lado.

Foto arquivo pessoal

Os bastidores do Samba na Praça Wesley dos Santos (Mumu) conta detalhes dos preparativos pré show.

Por Rafaela Ramos.

Antes de subir ao palco e trazer o melhor do samba de raiz para os sanjoanenses, os idealizadores do Samba na Praça passam por uma maratona de preparativos.

Ensaios constantes, passagem de som e emissão de alvará são etapas que acontecem longe dos holofotes e do público.

Para realização dos shows em espaço público a banda precisa primeiramente de uma autorização de funcionamento expedida pela Prefeitura Municipal de São João del Rei. “O solicitante deve retirar um alvará de uso de espaço público na prefeitura, além de enviar ofício para a Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, e contratar um engenheiro para expedir documento que ateste a segurança do público”, explica a administração pública. “Estando com os documentos (ofícios para as autoridades competentes, atestado da engenharia e alvará de funcionamento) o solicitante pode requisitar o palco e os ba-

nheiros químicos através de ofício encaminhado à Secretaria de Cultura”, completa.

Wesley dos Santos (Mumu), vocalista, conta que a preparação antecipada é de suma importância e contribui para que o público possa desfrutar do melhor do samba, “ensaiamos frequentemente para que no dia da apresentação tudo saia perfeito. Gosto de resgatar sambas dos grandes nomes da MPB e a cada show procuramos trazer músicas que contam uma história e levam o público a uma viagem ao passado. Temos um repertório extenso, mas tem músicas que as pessoas nunca deixam de pedir então sempre estão presentes em nosso show”.

Horas antes do show, “Mumu” se certifica de que está tudo certo para mais um espetáculo do Samba na Praça, “sempre vamos ao local de realização do show para conferir se tudo está conforme idealizamos. Verificamos juntamente com o engenheiro todas as questões técnicas de estrutura de palco e iluminação

para que tudo ocorra como o planejado”. A passagem de som é outro ponto que garante o bom funcionamento dos instrumentos e deve ser feita para evitar possíveis falhas, “um bom show depende da passagem de som, é nessa hora que podemos verificar possíveis falhas em instrumentos, amplificadores, microfones, entre outros”, afirma o vocalista.

O grupo acompanha de perto todos os detalhes que envolvem a realização do show, desde a escolha da melhor data até o momento de subir ao palco. O samba na Praça acontece uma vez por mês nas praças de São João del Rei gratuitamente.

A importância do Samba na Praça para São João del Rei Segundo a Secretaria de Cultura e Turismo de São João del Rei, o evento é fundamental para valorização do samba na cidade. Além de incentivar outros grupos a resgatar as raízes culturais através da música e de outras formas de arte, serve como forma de valorizar o centro histórico, já que a maior parte das apresentações acontece neste local.

Foto arquivo pessoal

Tradição e cultura no mesmo ritmo Por Marília Cunha.

O samba nasceu no século 19, na Bahia da mistura de ritmos africanos, mas foi no Rio de Janeiro que ele se desenvolveu. No início, o samba não era bem-visto, por ser ligado a cultura negra. Só mais tarde, nos anos 40, começo do governo Getúlio Vargas, o samba foi considerado símbolo nacional.

Nesta música, a harmonia é feita pelos instrumentos de corda, como o cavaquinho e violão. Já o ritmo é dado pelo surdo ou pandeiro. Com o tempo outros instrumentos como flauta, piano e saxofone foram incorporados, dando origem a novos estilos de samba

Foto Marília Cunha

Foto/legenda José Antônio de Ávila

Confira como se dá o trabalho nos bastidores para alcançar sucesso no evento 1 dia antes

No dia do show: 5 horas antes

Na semana do show 3 semanas antes

3 horas antes

2 semanas antes 30 min antes

Ensaios 2 dias na semana

Envio de ofício para a Prefeitura, Polícia Militar, Bombeiros e Prefeitura

Ensaios diários com duração mínima de uma hora

Estrutura de palco. Gastase em média 6 horas para finalizar

Os músicos conferem junto ao engenheiro os equipamentos e o palco

Passagem de som

Concentração e preparação de voz

“O “Rancho Custa Mais Vai” desfilava no carnaval são-joanense desde 1922. Com carro alegórico e música própria (as marchas-rancho), ranchos carnavalescos são grupos de foliões que em suas performances sofrem grande influência cultural dos folguedos negros (congados e folias), da cultura nordestina e das tradições musicais populares portuguesas. Esta imagem é uma reprodução do acervo de Benedito Reis de Almeida, o “Quati”, e mostra o “Rancho Custa Mais Vai” posicionado na escadaria da Igreja de Nossa Senhora das Mercês, em São João del-Rei – MG, provavelmente no ano de 1924. Infelizmente, este rancho carnavalesco foi extinto no final da década de 1980.

Em São João Del-Rei, a origem do samba também foi através das raízes africanas, mesmo sendo uma cidade histórica, religiosa, o espaço com o profano, foi divido harmonicamente, inclusive o berço do samba em São João Del-Rei é até hoje a região entre a igreja Matriz do Pilar, (do Bar do Português, Rua Getúlio Vargas) e o Largo Do Carmo (Igreja do Carmo ,Cemitério e rua da Cachaça).

Segundo as pesquisas do estudioso, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, José Antônio de Ávila Sacramento, no início o carnaval em São João del-Rei era bem violento, na qual jogava sujeira nas pessoas, como, limões de cera recheados com água de cheiro , até urina e excrementos. Depois vieram os desfiles de blocos caricatos que mais tarde se transformaram em escolas de samba. Passando a ser

um grande carnaval que chegou a ser considerado o terceiro melhor do interior do Brasil.

Para ele, o samba aqui é um pouco desprestigiado, pois já deixou de ser cultuado como samba, pelo amor ao samba. “Hoje é um negócio, uma transação comercial e os sambistas ficam muito a vontade, esperando a verba oficial do município para se fazer o carnaval ao invés de promover eventos carnavalescos durante o ano para arrecadar fundos”.

“Na minha análise virou um negócio, uma mercadoria, onde a prefeitura fornece a verba e eles irrisórios espetáculos de sambas ou de desfiles carnavalescos”.

“O Samba já deixou de ser cultuado como samba, pelo amor ao samba”. José Antônio de Ávila

Hoje, a cidade conta com oito escolas de samba e três blocos. Através de investimentos da prefeitura e parcerias com instituições locais na tentativa de resgate do Carnaval antigo, tem-se obtido ótimos resultados e um aumento significativo do turismo.

Foto Edson Andrade

Foto Edson Andrade

Foto Edson Andrade