Urbanidade Pivot

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CAPÍTULO 7: NOTAS CONCLUSIVAS

A Arquitectura procura hoje novos caminhos, e num momento em que o Urbanismo se afigura cada vez mais como disciplina integradora dos seus gestos isolados, urge reflectir acerca das possibilidades de inserção da obra arquitectónica no tecido urbano. Definitivamente, a “origem” proposta pelas “Tendências alternativas” não serve (já então não havia servido), mas necessitamos de facto de uma abordagem clara que permita a coabitação pacífica entre temporalidades, e a coexistência sem conflito das diversas performances sociais. Uma abordagem conceptual que possibilite a redução do fosso entretanto criado entre transitoriedades e sedimentações, criando consensos entre o construído e o desejado. O grande desafio deverá pois residir na capacidade de visão estratégica na antecipação ou previsão das mutações sócio-culturais. É por isso que o papel do arquitecto não poderá ser, nos dias de hoje, o de actuar apenas tendo em vista o presente. É necessária uma visão de futuro ancorada na história passada porque o presente é transitório, fugaz. O arquitecto não poderá pois deslumbrar-se com as diversas “modas arquitectónicas”, mas antes tentar criar consenso entre temporalidades, encontrando uma substância que persista. Que tenha a capacidade de se tornar Lugar (como recipiente das memórias e desejos do individual-colectivo) A nosso ver, tal poderá atenuar o desfasamento entre sedimentação e transitoriedade. Diminuindo o impacto das diversas “urbanidades pivot” (na linha histórica e referencial da cidade) pode-se também diminuir a crescente instabilidade que experienciamos actualmente. Ou pelo menos retirar-lhe importância na (re)definição das várias dimensões da cidade. Conclui-se por fim que a nossa “urbanidade pivot” existiu e existe (talvez exista sempre) sob as mais variadas formas. Pelo que tentámos demonstrar, a nossa urbanidade pivot é indefinível porque se manifesta de várias formas e de acordo com as diferentes temporalidades e performances sociais. Por isso e desde logo, a urbanidade pivot não persiste. É, antes de mais, um estado transitório. Assim como o Não-Lugar rapidamente se torna Lugar, também a urbanidade pivot se transforma num “outro”, num constante balanço entre a transitoriedade dos desejos e a sedimentação das memórias. Tal leva-nos a crer que não existe apenas uma urbanidade pivot. Existem várias e correspondem à temporalidade na qual são concebidas. Porque talvez a imagem da publicidade e marca global veiculada pelos meios de comunicação global e globalizante dê lugar a outra equação espaço-tempo que reformule o nosso lugar no mundo. A comunicação, como todas as outras inovações ou tecnologias, apenas se tornam evidência e tema de debate enquanto novidade, enquanto suscitam as mais variadas dúvidas. Após a sua massificação caem por norma na banalidade do dia-a-dia, sendo por nós procurada outra forma de nos relacionarmos com o meio dada a nossa curiosidade natural: outra forma de interpretar o cenário, reformulando-o, reformulando-nos.

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