Boletim da Casa de Goa

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Boletim da Casa de Goa SETEMBRO / OUTUBRO 2018

“A Política de Comunicação”

São João em Goa

Gandhi 150 anos

Por Celina Almeida

Por M. Vieira Pinto PÁGINA 4

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Boletim da Casa de Goa ÍNDICE

CASA DE GOA Associação de Goa, Damão e Diu Pessoa Colectiva de Utilidade Pública

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A POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO

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REGULAMENTO DO PELOURO DA COMUNICAÇÃO

Calçada do Livramento, 17 1350-188 LISBOA Contactos: 21 393 00 78 / 915 057 477 @ casadegoa@sapo.pt www.casadegoa.org

MEMÓRIA DE PESSOAS ILUSTRES LIGADAS A GOA

Presidente da Direcção Vasco Soares da Veiga

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MEMÓRIAS SOLTAS DO BAIRRO DO POÇO DOS PADEIROS

Director do Boletim M. Vieira Pinto Chefe de Redação Ana Paula Guerra

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COLECÇÃO: GASTRONOMIA “CARAMBOLAS”

Design/Diagramação Juliano M. Mariano

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ALMOÇO “SABORES LÁ DE CASA”

Capa: foto da escultura “Menino Jesus Bom Pastor” Intervenientes: Pe. António Colimão Ana Paula Guerra Celina de Vieira Velho e Almeida Edgar Valles Henrique Machado Jorge Manuel Vieira Pinto Valentino Viegas Vasco Soares da Veiga

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O CRIOULO DE DAMÃO, DIU E SILVASSÁ

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SÃO JOÃO IN GOA: THEN AND NOW

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GANDHI - 150 ANOS

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LIVRO - AFONSO DE ALBUQUERQUE

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LIVRO - GUIA PRÁTICO DAS ASSEMBLEIAS GERAIS

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ACONTECEU

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AGENDA

O Boletim é da responsabilidade da Direção.

ANÚNCIOS

Publicará textos que sejam solicitados, reservando-se o direito de não publicar as colaborações que não sejam expressamente solicitadas. Caso as mesmas sejam publicadas, respeitará na íntegra o texto enviado, exceto se o autor aceitar as sugestões de alterações que venham a ser propostas, em razão de critérios de espaço.

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ESTATUTO EDITORIAL O Boletim da Casa de Goa visa divulgar a atividade da associação, sendo um instrumento de divulgação da realidade de Goa e de tudo o que se insira nos fins estatutários da Casa de Goa. O Boletim aposta numa comunicação viva, imaginativa, atual e atuante, privilegiando as notícias mais relevantes da área, sem descurar a crónica, a opinião ou o comentário mais desenvolvido.


Mensagem do Presidente MENSAGEM DE NATAL FELIZ NATAL, KHUSHAL BORIT NATALA, MERRY CHRISTMAS Desejos de um Santo e Feliz Natal para todos os nossos associados, suas famílias e amigos. Nestes primeiros meses em funções, a nova Direcção da Casa de Goa, Damão e Diu já deu importantes passos no sentido de reabilitar as nossas instalações: foram pintadas 26 portas e janelas, limpo e isolado o telhado da sede, conseguimos que fosse impermeabilizada uma zona de jardim e eliminada a infiltração que dela provinha para a zona destinada ao museu, substituídas as campainhas e os intercomunicadores de toda a zona habitacional (incluindo dos inquilinos camarários), e

arranjada a entrada e o muro exterior. Conseguimos também que o restaurante voltasse a abrir as suas portas, através do concessionário já contratado pela Direcção anterior, proporcionando uma cozinha europeia de influência goesa. Conseguimos ainda que as entidades responsáveis dessem devida importância à ruína iminente da guarita junto à esplanada, uma situação com perigo de vida para as pessoas que moram debaixo dela e que se arrastava há anos sem resolução. Porém, há ainda muito por fazer: isolar o chão do auditório para permitir a sua utilização mais frequente (sem conflitos com os inquilinos camarários), reabilitar o centro de documentação de modo a poder controlar a utilização dos livros e receber mais doações, mudar a pequena cozinha junto à entrada para o local onde está hoje a despensa, de modo a poder ter lugar a preparação de alimentos goeses e outros sem prejudicar a entrada da sede, reparar o beirado da varanda que está a ruir, entre outras coisas. Vamos precisar muito da vossa ajuda e contribuições generosas, para uma conta nova que vai ser aberta especialmente para este efeito e de cujas entradas e utilizações iremos dando conta. O Jantar e o Baile de fim de ano estão à porta e será a ocasião apropriada para passarmos um bom tempo juntos e renovar a nossa esperança no futuro. A Casa de Goa espera poder alcançar nova notoriedade, que enalteça o grande valor da nossa comunidade, quer na perspectiva do seu contributo para Portugal, quer no seu relacionamento com a Índia, quer ainda com os países lusófonos e comunidades emigrantes portuguesas e goesas da diáspora. De tudo iremos dando a devida notícia. Na Primavera lançaremos um concerto de música clássica europeia composta por autores goeses, e um Baile Oriental, que desejamos venha a tornar-se anual, aberto aos portugueses europeus e estrangeiros residentes em Portugal, proporcionando atrações que só nós podemos oferecer, e obtendo os meios necessários ao desenvolvimento da nossa desejada actividade. Entretanto, desejamos que passem um Santo Natal, na companhia dos vossos entes mais queridos, num alegre convívio que celebra o nascimento do Menino Jesus.

Pela Direcção, o Presidente, Vasco Soares da Veiga

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A POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO 1. INTRODUÇÃO No Manifesto Eleitoral da Direcção da Casa de Goa eleita para o quadriénio 2018-2022 pode ler-se: «A nossa Revista, o site e a página do facebook, são o nosso retrato visível para o exterior. O trabalho já realizado nesta área é muito bom, mas podemos fazer mais. Propomos que a Revista, em concreto, tenha espaços regulares e coleccionáveis, concretamente de Memória, de Reflexão, de Culinária, e de outros assuntos de interesse para os associados. O espaço Memória, por exemplo, permitirá trazer o testemunho real de pessoas e famílias ilustres, goesas ou europeias relacionadas com o antigo Oriente português, de antigos governadores e membros da nobreza e do clero, os quais têm memórias e patrimónios extraordinários cujo conhecimento tem interesse para a nossa instituição. O espaço Reflexão poderá trazer o contributo de goeses ligados às universidades e à Igreja, de elevado valor intelectual. Devemos escrever estes textos em português, com referências em concanim, ou outras línguas com as quais nos interesse fazer ligação, mas também em inglês se queremos contactar mais rapidamente a diáspora goesa.» Comprometemo-nos assim a ampliar e melhorar os conteúdos, para além de incluir textos em outras línguas faladas em Goa ou pelos goeses que não o Português, o que de resto já começou, no que respeita ao Boletim, designadamente com a publicação no último número (e primeiro da nossa responsabilidade) de um texto sobre a família Craveiro Lopes, da autoria de um dos seus membros e da inclusão da Mensagem do Presidente em Inglês. Começámos igualmente a ampliar a acção do Boletim como instrumento de comunicação com os sócios, tendo o último número incluído, pela primeira vez, textos que cumprem essa finalidade. 2. BOLETIM No que respeita ao Boletim consideramos desejável: • Diminuir a periodicidade e o número de páginas de cada número, com o objectivo de potenciar os benefícios, designadamente facilitando a leitura, melhorando a actualidade e embaratecendo a produção; • Melhorar a eficácia do suporte como instrumento de comunicação, já que os nossos objectivos não podem ser plenamente alcançados sem a colaboração de todos, e ninguém pode colaborar numa actividade cujos objectivos desconhece; • Melhorar os conteúdos, à luz do que se escreveu no número anterior; • Melhorar o grafismo, obtendo para o efeito apoio profissional, sem encargos para a Casa; • Rever os métodos de produção e designadamente os instrumentos informáticos utilizados; • Explorar as possibilidades; • Procurar obter receitas que possam alimentar a actividade em curso para recuperação do património da nossa associação. Nada disto pretende desqualificar o muito que em mandatos anteriores já se fez, como o Manifesto da actual Direcção expressamente reconhece. 3. RESTANTES MEIOS Relativamente aos dois suportes dos dois restantes meios que o Manifesto refere não disponho ainda de elementos que me permitam descortinar com clareza o papel que devem assumir na política de comunicação. No entanto, é desde já manifesto que a actualização do grafismo e dos conteúdos do nosso sítio da internet é uma necessidade. Existe espaço que permitirá inserir uma quantidade apreciável de informação sobre Goa, e que não está ser aproveitado. Por isso o que neste capítulo se propõe é a concessão de um prazo de dois meses para se fazer o estudo necessário, findo o qual se apresentarão à Direcção as propostas que parecerem adequadas.

Em 18/9/2018 M. Vieira Pinto (Vogal da Direcção) 4


REGULAMENTO DO PELOURO DA COMUNICAÇÃO (Elaborado nos termos do art.º 14º nº1, alínea p) dos Estatutos da Casa de Goa) 1. O Vogal da Direcção da Casa de Goa responsável pelo pelouro da Comunicação, enquanto tal, tem a seu cargo o Boletim, o sítio da Casa de Goa na Internet e a página da Casa de Goa no Facebook, assumindo a direcção destes três suportes que o manifesto eleitoral associa. 2. Compete ao Vogal da Direcção da Casa de Goa responsável pelo pelouro da Comunicação, no que diz respeito aos suportes mencionados no número anterior: a. Propor à Direcção • As políticas adequadas à sua melhor utilização; • Os objectivos e as actividades relacionadas, a incluir no Plano de Actividades anual; • As medidas adequadas para a melhor gestão financeira das actividades a seu cargo. (Inserem-se nesta alínea medidas como a venda de publicidade, capas para coleccionáveis, etc.) b. Dirigir, organizar e executar as acções necessárias para atingir os objectivos, e para o seu melhor desenvolvimento, designadamente determinando as tarefas a desenvolver em relação com os serviços de sua responsabilidade, recrutando voluntários para as levar a cabo, e formando-os para o seu exercício. c. Colaborar: • Na redacção dos relatórios anuais, informando das actividades desenvolvidas; • Na elaboração dos orçamentos propondo a inscrição das despesas e receitas respeitantes ao seu pelouro. d. Dar conhecimento prévio ao Presidente da Direcção dos conteúdos seleccionados para incluir nos suportes mencionados no n.º 1., tendo em conta: • O teor do art.º 13º A, n.º 1 do Regulamento Geral da Casa de Goa («compete ao Presidente da Direcção orientar e dirigir a actividade da Casa de Goa…»); • A conveniência de habilitar o Presidente a responder a qualquer observação que lhe seja apresentada; • A necessidade de harmonizar todas as actividades directivas, em ordem à melhor consecução dos objectivos. 3. A partir da data da aprovação do presente regulamento devem ser tratados com o Vogal da Direcção responsável pelo pelouro da comunicação os assuntos relativos ao Boletim, Internet e Facebook. 4. O presente Regulamento deverá ser revisto num prazo de três meses a contar da respectiva aprovação e integrado no quadro geral dos Regulamentos da Casa de Goa.

Em 28.9.2018 M. Vieira Pinto (Vogal da Direcção)

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MEMÓRIA DE PESSOAS ILUSTRES LIGADAS A GOA Ainda sobre o Marechal Craveiro Lopes

CARTA À EXMA. SR.ª D.ª ROSÁRIO CRAVEIRO LOPES PEREIRA COUTINHO Minha senhora, Publicou Vexa, no último número do Boletim da Casa de Goa, um artigo dedicado a seu avô, o Marechal Francisco Higino Craveiro Lopes. A leitura desse artigo fez nascer em mim o desejo de lhe justapor alguns factos do meu conhecimento pessoal. E tendo em conta o escasso conhecimento que muitas pessoas têm hoje destas coisas, começarei por explicar o significado de alguns adereços que podem ver-se na fotografia que ilustra o seu artigo e que é uma reprodução do retrato oficial encomendado pela Presidência da República, da autoria de Eduardo Malta, para ser colocado na galeria, ao lado dos restantes antigos Presidentes da República. Isto porque se seu avô os escolheu, para com eles ser lembrado pela posteridade, certamente os considerava os mais significativos do seu percurso de vida. No referido retrato Craveiro Lopes ostenta, na sua qualidade de Presidente da República e Grão Mestre das Antigas Ordens Militares, a chamada Banda das Três Ordens, insígnia dos graus mais elevados das Antigas Ordens Militares de Aviz (verde), Cristo (vermelho) e Santiago da Espada (roxo). A placa correspondente, que inclui miniaturas das placas de cada uma delas, pode ver-se do lado esquerdo do dólman do uniforme de gala de oficial general, que enverga. Tem ao pescoço o colar da mais elevada condecoração portuguesa que é a Ordem Militar da Torre e Espado do Valor, Lealdade e Mérito. Esta condecoração foi-lhe conferida no ano de 1928 quando contava apenas 34 anos de idade. A medalha de Cavaleiro da mesma ordem é a primeira, que se usa à direita no uniforme mas que na foto se vê à nossa esquerda. Logo a seguir pode ver-se a Cruz de Guerra de 1ª classe, medalha mais importante por feitos em combate nas nossas Forças Armadas, muito raramente atribuída neste grau, que lhe foi conferida aos 23 anos, pelo heroísmo mostrado na defesa do Forte de Nevala e nos combates de Kiwambo, durante a grande guerra, no Norte de Moçambique. Podem ver-se ainda no seu peito as Medalha de Ouro de Comportamento Exemplar e da Vitória. Por cima destas medalhas está o emblema de piloto aviador, pois Craveiro Lopes, embora oriundo do Exército, Arma de Cavalaria, transitou depois para a Força Aérea, diplomando-se como piloto aviador e instrutor de pilotagem. Também à Força Aérea prestou assinalados serviços. Craveiro Lopes fora aluno do Colégio Militar e tal como Carmona presidia todos os anos a várias cerimónias, entre as quais as organizadas para assinalar a abertura dos anos lectivos. Ao tempo eu frequentava também aquele estabelecimento de ensino. Findas as cerimónias era hábito os alunos mais novos rodearem o Presidente da República, que era a mais alta autoridade nelas presente. Nós confraternizávamos com grande à vontade com o Marechal Carmona, que nos tratava com muita familiaridade, chegando a afagar os mais pequenos. Logo que podíamos corríamos para ele. Mas o perfil austero de Craveiro Lopes não nos autorizava a tanto. Neste caso permanecíamos a certa distância, com ar sério e compenetrado, e depois de o saudarmos militarmente, esperávamos que nos dirigisse a palavra. E ele fazia-o mas sempre muito sério e tratando-nos quase como 6


pessoas crescidas. Por alturas de 1963 quando me encontrava em Angola no cumprimento do serviço militar li numa revista do Quartel-General que o Marechal visitara pouco antes as tropas em operações no Norte de Angola, onde, apesar de já quase com setenta anos, se mantivera durante cinco meses, enfrentando os mesmos riscos, o isolamento e o desconforto que as tropas sofriam. A Wikipédia dedica-lhe extenso artigo contendo factos através do conhecimento dos quais pode avaliarse o caracter deste homem exemplar. Nunca reteve qualquer presente oferecido a título oficial nem aceitou qualquer benesse do Governo. Só aceitou a promoção a Marechal porque ela resultou de uma proposta das Forças Armadas e ainda porque ela lhe permitia manter-se no serviço activo até ao fim da vida. Recebeu o bastão e as estrelas de Marechal do povo de Moçambique, que lançou uma subscrição pública para as adquirir. Um seu filho, Nuno Craveiro Lopes, com sua mulher, então grávida, encontrava-se «entre os passageiros do comboio da linha do Estoril que descarrilou devido à derrocada da barreira junto ao farol de Caxias, em 1952. Embora não tenham ficado feridos, no meio da confusão entre mortos e feridos a esposa ter-se-á sentido mal. Não sendo possível arranjar transporte no local, o filho telefonou ao Presidente, no sentido de lhe enviar um carro da Presidência para os levar a casa. Francisco Higino, depois de se certificar de que se encontravam bem, retorquiu que não podia dar ordem para enviarem o carro pois estes eram exclusivamente para serviço oficial; que procurassem um táxi para o efeito. E seu filho assim fez: foram andando a pé em direcção a Lisboa e um pouco adiante conseguiram apanhar um táxi.» Peço desculpa por esta intromissão mas, falando-se de Craveiro Lopes, não é possível deixar no silêncio alguns traços do caracter deste grande homem, tanto mais que nos dias de hoje exemplos como este não abundam. E já agora uma última curiosidade: o conhecido militar e político angolano General Francisco Higino Lopes Carneiro, que por várias vezes integrou o Governo do seu país, para além de ter governado as províncias do Cuanza-Sul, Cuito-Canavale e Luanda, deve os seus nomes próprios ao facto de ter nascido num dia em que seu avô visitava oficialmente Angola. Com os melhores cumprimentos,

M. Vieira Pinto (Vogal da Direcção da Casa de Goa)

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Memórias soltas do bairro do Poço do Padeiro Volta e meia, quando nos encontramos em Portugal, eu e o meu amigo Homem Cristo recordamos os doces anos da meninice, vividos no bairro do Poço do Padeiro, em Pangim, Goa, nas longínquas décadas de quarenta e cinquenta do século passado. Aquele pequeno bairro, com uma população talvez inferior a duas dezenas de famílias católicas e duas ou três hindus, vivia de forma harmoniosa à volta do ilustre poço, cuja preciosa água matava a sede dos seus habitantes. Se naquela localidade apenas uma família tinha o aparelho de rádio e as crianças, por não possuírem quatro annas, só comiam o baji-puri no café Tató quando acompanhadas dos pais, todavia desenvolviam as capacidades criativas e utilizavam a incalculável riqueza da imaginação para se divertirem. O bairro fervilhava de alegria, porque os numerosos catraios, detentores de plena liberdade de movimentos, animavam o espaço envolvente inventando entretenimentos e explorando o meio circundante. Localizado bem longe daquele poço, encoberto no alto do monte que encimava o bairro, o desactivado Farol do Alto dos Pilotos era um desafio que os petizes faziam gala de enfrentar. Os garotos, alguns deles com menos de dez anos de idade, preferiam arriscar a vida e trepar pelas lianas, nas encostas deslizantes e inseguras, do que subir os intermináveis degraus da escadaria, situada bastante distante daquele poço. O objectivo era ter a coragem e ousadia de sair de casa sozinho e chegar ao farol, por caminhos mais difíceis e em segredo, subindo depois as dezenas de escadas enferrujadas e ficar de pé, lá no topo, e gabar-se bem alto, proclamando: já não sou criança. Com frequência, nos dias de semana, ao cair da tarde, a vida agitava-se ainda mais, pois o número de jovens aumentava, por coincidir com o fim das explicações dadas pela professora Lina. Começava então a louca correria pela escadaria abaixo, a partir da casa da explicadora até ao campo de futebol improvisado, que não passava do espaço mais largo da rua. Uns descalços, outros com sapatilhas, tudo faziam para introduzir a bola, feita de trapos enrolados em meia velha, na baliza adversária, demarcada com duas pedras mais altas. Quando alguém se feria no dedo do pé, atava-se o dedo com um pano e continuava-se a jogar. Para haver equilíbrio nas equipas, escolhiam-se os parceiros da seguinte maneira: dois jogadores ficavam a uma certa distância e depois avançavam um para o outro, colocando, alternadamente, um pé a seguir ao outro até se aproximarem. Aquele que tivesse a sorte de assentar o pé em cima do adversário escolhia o “Cristiano Ronaldo” do grupo. O outro tinha de contentar-se com o segundo melhor futebolista, e assim por diante até a escolha do mais pequeno, em geral, para guarda-redes. O mais curioso é que os pássaros e as gralhas surgiam a saltitar de galho em galho, como se desejassem observar os movimentos dos jogadores, e os milhafres circulavam no firmamento, soltando de vez em quando o seu grito característico que até hoje nos soa nos ouvidos. Praticavam-se também outras actividades lúdicas, designadamente, picmand (com castanhas de caju), folé 8


(com dois paus de dimensões diferentes), ring e, às vezes, recriavam-se cenas de filmes, com paus compridos a simular espadas, ou a ponta do dedo indicador a fazer de pistola de Roy Rogers, o idolatrado actor cowboy, gritando hands up! Quando o calor apertava e os pais descansavam, dois ou três garotos optavam por fazer um rápido jogo de goddés (berlindes). Como só uma única casa tinha mesa de ténis e os candidatos desejosos de jogar chegavam a uma dezena, optava-se por rodar em fila à volta da mesa, tendo cada jogador uma única oportunidade para colocar a bola do lado oposto da rede. E se alguém eliminava um dos adversários mais temidos, desviando a bola de forma irrecuperável por esta acertar na quina da mesa, a gritaria triunfal tornava-se ensurdecedora ecoando pela rua. Nos divertimentos, alinhava-se também com os vizinhos do bairro, em especial, em duas ocasiões: nas corridas nocturnas e no carnaval, com as famosas cocotadas que eram combates de bairro contra bairro atirando cartuchos de papel repletos de terra macia e cal. Havia combatentes que se apresentavam, cheios de orgulho, armados de escudo de papelão. O Homem Cristo recordou-me que, um belo dia, fomos ao cinema. Como os oito annas acumulados pelos dois só dava para um bilhete, um de nós assistiu à primeira parte do filme e o outro à segunda e a seguir contámos um ao outro aquilo que tínhamos visto. Entusiasmados, deixámos passar o tempo e regressámos tarde à casa. O pai do Cristo obrigou-o a despir-se e presenteou-o com uma monumental tareia com um ramo de goiabeira. Os seus gritos chegaram aos ouvidos da minha mãe que achou melhor fazer justiça salomónica fazendo-me também chorar. Quando as monções iam despejando a água e enchiam os poços, os mais jovens ficavam cheios de inveja ao presenciarem os mais audazes a saltar de diversas maneiras no poço para comemorar o dia de São João. Na calada da noite, havia quem, quebrando o respeitoso silêncio e pondo os adormecidos em sobressalto, com a ajuda de um foco de cabeça e um tiro certeiro de calibre doze matava dois ou mais enormes morcegos, que dormiam em segurança na árvore, e da sua carne fazia chacuti no dia seguinte. O verde que nos envolvia não só embelezava como também fornecia a cura. O banho de água quente proveniente da infusão das folhas verdes de ordoxó, retiradas de uma das árvores do nosso bairro, por ter quinino, era remédio santo para as febres altas provocadas pelo paludismo. Para terminar, apraz-me mencionar apenas quatro pessoas daquele bairro. A aguadeira Helena que, com a frágil bilha de barro, atada a uma corda, sem nunca a quebrar, retirava a água do poço e distribuía pelos vizinhos. Mesmo quando foi introduzido um chafariz público, ela mantevese fiel aos seus métodos; o alfaiate mestre Menino, especialista em camisas e fatos. Hoje a sua casa está abandonada. A famosa Dona Joaquina, confeccionadora do delicioso miscut de manga que dava fama ao bairro; e o “Peténce”, cujo nome próprio dispenso de citar, por só ser conhecido entre amigos da juventude por esta alcunha. Ficou com este epíteto por ter imitado o som que fazia a máquina, onde o seu pai trabalhava: peténce, peténce, peténce! Lisboa, 10 de Novembro de 2018.

Valentino Viegas

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GASTRONOMIA CARAMBOLAS Ingredientes: 420 grs farinha 60 grs de semolina 1 colher sopa bem cheia de ghee ( manteiga) ½ chávena de leite 2 gemas 1 clara batida

Modo de Preparação: 1. 2.

Misturar o leite e a semolina e deixar repousar Preparar como se prepara a massa quebrada: amassar a farinha, o ghee, sal q.b., as gemas e a clara batida 3. Estender a massa , cortar em quadradinhos e formar as carambolas 4. Fritar 5. Preparar uma calda espessa com 150 grs de açúcar em um bocadinho de água 6. Envolver as carambolas já fritas e escorridas com muito cuidado nesta calda 7. Deixar arrefecer e secar 8. Guardar numa lata bem fechada ou frasco hermético.

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ALMOÇO “SABORES LÁ DE CASA” No dia 20 de outubro realizou-se na Casa de Goa, mais um almoço organizado pelo EKVAT, o grupo de música e dança desta associação, que contou com a participação de cerca de 120 pessoas. Os pratos Goeses, traduziram mesmo os “sabores lá de casa” pois foram confecionados essencialmente por elementos do grupo, por vezes com trabalho em equipa, pessoas essas que tão bem conhecem os paladares de Goa. As chamuças, a apa de camarão, o frango à cafreal, o sorpotel, o caril de quiabos, as lentilhas e o “caldin” de rábano, bem como a bibinca e o alé belé, foram alguns dos pratos e doces deveras apreciados por todos. O almoço teve, particularmente, a colaboração ativa dos jovens dançarinos do Ekvat, que auxiliaram na organização dos pratos e no apoio às mesas, permitindo um funcionamento eficaz num ambiente de alegria e descontração. Foi simpática e inesperada a presença do Duque de Bragança neste almoço, que, acompanhado pelo Presidente da Casa de Goa, aproveitou para visitar as instalações e conhecer as atividades que aqui se realizam. O EKVAT fará 30 anos em 2019 e este almoço teve por objetivo iniciar uma angariação de fundos para o programa de comemorações desta data tão significativa para o nosso grupo.

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O CRIOULO DE DAMÃO, DIU E SILVASSÁ UNS PENSAMENTOS: – Linguagem, como também a faculdade de falar, é o maior dom de Deus à Humanidade – «A Linguagem é a veste do Pensamento» ------------------------------------Johnson – «Uma grande utilidade da fala é para esconder o nosso Pensamento»--- Voltaire – «Linguagem como os nossos corpos, estão num fluxo continuo e têm a necessidade de se recrutar, para substituir as palavras que constantemente caem em desuso»---------Felton Ultimamente, tenho sido convidado a abordar o tema de Crioulo de Damão, Diu e Silvassá, tema atualmente muito em moda, no mundo lusófono e não só! Foi com prazer que partilhei esse meu conhecimento e alguma pesquisa, no Salão Nobre da Academia da Faculdade das Ciências de Lisboa, a convite da PISCDIL (Plataforma Internacional da Sociedade Civil da Diáspora Lusófona), também no Palácio Conde de Penafiel, em Lisboa, Sede da CPLP (Comunidade dos Países da Língua Portuguesa) organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian, bem como na Casa de Goa, numa tarde agradável de Outubro, logo após o Chá das 17 horas, com a Sala cheia de sócios, simpatizantes e amigos, estando presente o Presidente da Direção e outros membros. O tema em si pode parecer de somenos importância, pelo facto de esses nomes – Goa, Damão, Diu e Nagar Havely – nos soarem ao ouvido, há séculos, e com alguma convicção de que já conhecemos tudo sobre esses territórios! Pura ilusão, pois a maior parte da população goesa, damanense e diuense ignora por completo as realidades desses mundos! Goa é hoje um Estado dentro da República Indiana, sendo que Damão, Diu, Dadrá e Nagar Havely pertencem a Administração de Nova Delhi, como Territórios da União. Daí, ter iniciado a minha Palestra com um pequeno esclarecimento geográfico desses territórios: De Goa a Damão................ cerca de 700 Km De Goa a Diu ….......... cerca de 1.500 Km De Damão a Diu …......... cerca de 675 Km De Damão a Bombaim …. cerca de 170 Km De Diu a Bombaim …..... cerca de 980 Km De Damão a Silvassá ….... cerca de 35 Km A língua falada em Goa é o Konkanim (língua oficial desse Estado), Inglês, Marathi e o Português, sendo que em Damão e Diu, a maioria da população fala o Gujarate, porém os cristãos falam o Português que é considerada língua oficial desse grupo, sendo contudo a sua língua franca o Crioulo Damanense ou Diuense. Naturalmente o Gujarate e o Inglês são veículos do ensino nas escolas. Em Nagar Havely os habitantes falam o gujarate e o marathi, e os cristãos em Silvassá(Vila onde nasci e cresci) falam o Português e o Crioulo damanense. Penso que será conhecido dos ilustres leitores que Praganã e Nagar Aveli, só integraram o Antigo Estado da Índia Portuguesa, no século XVIII, pelo Tratado de Marata. Território com 72 aldeias, riquíssimo na sua flora e fauna, onde se cultivavam 72 espécies de arroz que chegava a Damão, Goa, Moçambique, Angola, Portugal e ao Brasil. e com a madeira dessa Floresta, Com a celebre madeira Teca («Tecnona Grandis», uma das 4 qualidades) dessa Floresta, Naval foi construído o 8º mais antigo Barco da Guerra, a Fragata D. Fernando I e Glória, no Estaleiro de Damão, em Damão Pequeno! Não obstante haver algumas semelhanças em muitos sectores da vida, pois os 450 anos da presença portuguesa e a Administração sediada em Goa, deixaram raízes profundas que não se podem ignorar. Porém as distancias de centenas de quilómetros entre os territórios desse Antigo Estado da Índia Portuguesa fizeram crescer e marcar as diferenças! Algumas diferenças: o modo de se vestir, em Goa, entre as senhoras cristãs que usavam o vestido ocidental e o sari, enquanto que em Damão, Diu e Silvassá, elas se vestiam à europeia, sendo que os homens em todo esse território adaptaram o traje ocidental. A língua, em Goa, era o Konkanim e o Português, sendo o marathi a língua franca dos hindus. Em Damão, Diu e Silvassá falava-se o português, o crioulo damanense e o gujarate. Em Nagar Havely, além dessas línguas em muitas aldeias o veículo era o marathi. 13


Uma das acentuadas diferenças nota-se na gastronomia damanense e diuense, em relação aos sabores de Goa. Como conheço todos esses territórios, bastante bem, pois vivi, cerca de 20 anos em Goa, contactando jovens e adultos de praticamente todas as aldeias desse território, tendo como base, ao menos nos anos 50, o prato diário, em Goa, era o « Chitt Coddi» e o «Nustem/Nistem» (Arroz, Caril e Peixe), enquanto que em Damão e Diu, diariamente, se variavam os pratos! É natural que quem não conhece, com profundidade, essas zonas, é levado a pensar que o que se faz na sua terra é melhor do que na das outras partes...! Habitualmente, os goeses conhecem apenas 2 pratos damanenses: a «Espetada» e o «Dampaca»! Ainda há poucos meses, com um grande grupo de casais jovens de Damão, que vivem no Reino Unido, em Peterborough, lhes fiz um desafio para saber os vários pratos cozinhados em Damão. Foi uma grande surpresa, pois nenhum deles tinham tido o cuidado de fazer uma lista que perfez cerca de mais de 70 qualidades de pratos de carne de vaca, de porco, de cabrito, de frango/galinha, de peru, de diversas aves, sendo igual ou mais pratos de peixe, pela riqueza e abundância de fauna marítima e também os diferentes alimentos vegetarianos, com mais de outros 70 pratos. Damão e Diu tiveram influência da cozinha portuguesa (sendo o grande exemplo o do «sarpatel» damanense, que é igual ao Sarapatelo Alentejano ou Sopa do Sarapatelo de cabrito típico do Castelo de Vide e arredores, com a diferença de o «sarpatel damanense» ser com carne de porco, enquanto o do Alentejo ser de cabrito, sendo o «sorpotel» de Goa que em Damão se faz e se chama Fritado, é diferente do de Alentejo e do de Damão). Também tem influência do mundo do Estado de Guzarate, bem como uma forte influência libanesa ou jordana, devido a presença dos assalariados ou mercenários árabes, durante o período do Império Mongol! Aliás, a Espetada damanense parece ter influência dos grelhados árabes, porém com o toque de condimentos indianos! Os CRIOULOS são frutos da necessidade humana de se comunicar entre si e no mundo português tem como base ou raiz a Língua de Camões, por isso, não foi uma imposição das autoridades, mas sim o esforço do «Zé Povinho» que fez nascer os crioulos (gesticulando, falando, cantando e rezando) e surgir essas novas línguas, em várias partes do mundo por onde os portugueses andaram, com uma variedade caleidoscópica, segundo as zonas e regiões onde nasceram, sob a influência da língua local, porém, tendo a raiz da língua portuguesa! Em África e no Oriente, sendo vários na Índia, como o de Damão, de Diu, de Korlai, de Bombaim, de Bassaim, Cochim, costa de Koromandel de Bengala, etc, etc Em Damão, como seria de esperar teve forte influência da língua gujarate, um gujarate mal falado nessa zona desse vasto Estado Indiano, daí esse crioulo usar praticamente a 3a pessoa do singular, v. gr.: «eu é (io é, para eu sou), nóss te vai, para nós vamos, ilôt tê fazen, para eles fazem, etc, etc! O conhecido, douto e estudioso Mestre, Mons Sebastião Rodolfo Dalgado, legou-nos um estudo, sobre o Crioulo de Damão, embora ele próprio se confessasse não conhecer Damão, nem nunca ter ouvido falar o seu crioulo, tendo apenas a colaboração de amigos, entre outros do seu condiscípulo, Dr. António Francisco Moniz. Já há muitos anos atrás, publiquei na Revista da AFDDS (Associação Fraternidade Damão-Diu e Simpatizantes) alguns considerandos, sobre o Português de Damão que é conhecida como: «LÍNGUA DE BADRAPOR» por ser falada principalmente pelos cristãos portugueses (gente das BANDAS DE TARAPOR, donde provavelmente teria nascido esse termo) que fugiram das perseguições dos Maratas e que foram acolhidos em Damão Também teve um outro nome, «ÓSS-DÓSS» (VOSSA MERCÊ- DE VOSSA MERCÊ), mais coloquial e com certos laivos de complexo social, pois muitas famílias não só não falavam esse português, como não permitiam que as crianças assim falassem, e ainda bem, pois os que falavam esse crioulo, em casa e no dia-adia, tinham dificuldade no estudo da gramática portuguesa e no ditado!» 14


Hoje, ele é a Língua franca entre os cristãos e muitos hindus e muçulmanos em Damão! Língua de TRAPO - «Velhos são os trapos e o seu lugar é lixo» Língua de Casa - «Falada na intimidade familiar e não no exterior ou no mundo social» Os cristãos falam, rezam e cantam na Língua de Camões e seguem com interesse a RTP Internacional, sendo atualmente único elo de ligação com Portugal e sua Cultura. Muitos jovens casais que não tiveram a sua formação em português continuam a falar e escrever aos avós e pais que gostam de ler e de ouvir “nóss líng”. Ainda há poucos meses, um sacerdote goês que trabalhou cerca 4 a 5 anos em Damão assegurou-me que as pessoas com idade se confessavam nesse crioulo e há uns anos atrás ouvi um padre jesuíta, natural de Damão, fazer um sermão da Véspera da Nossa Senhora do Mar, em Damão Pequeno, no dialeto damanense, mesmo sem ter estudado português! Não há conhecimento de que se tenha escrito neste dialeto/língua, a não ser missivas familiares de alguns damanenses na diáspora e poucas fábulas, contos, a Parábola do Filho Pródigo e algumas canções damanenses que o Dr. António Francisco Moniz nos fez chegar através de «Notícias e Documentos para a História de Damão, Antiga Província do Norte». Atualmente os damanenses em Peterborough, Reino Unido, escreve umas breves notícias no seu «Monthly News Letter». Ainda neste decénio «ousei-me rabiscar» umas linhas em 2 pequenos textos, nesse dialeto para os damanenses, não sendo eu um especialista nesse falar, porque em criança, em muitas famílias, éramos proibidos de o fazer, por razões acima indicadas, e que se seguem: «BÔ FEST E UM SANT NATAL!» Iô sab ki pâ nóss gent de Damão. Mis de Natal, de Mênôt ou de Gal, ninguém pód faltá! Parbém Damnens, porkê pâ ucez, Mis aind é tud e muit important! Dipoi tê vind tôd algri da Fest de Natal: Vistí rôp nôv,-nôv, istrel na port de entrad da nóss caz-caz, muzke de «silent night», kumid-kumid, dôssdôss.... Tê vind àg na bôk, kuand tê lembrand de xacuti de gál, sarpatel de pôrk, carn assad de vak, bulinh de cabrit, ôtr-ôtr nóss kumid-kumid: de pôrk, de cabrit, de galinh, caril de peixe e kontidad de dôs-dôss: de granv, de comblenh, de bób, de neuvri, bôrô de rulanv, aranh de céu, dódól, cake, robin cake, cârl-cârl, bulinh aassucrad, bibink e tant-tan coiz mái. Tud êss é muit bunit e num pód dixá perdê nad, minh gent!Masj cuidad, dipoi de Natal, nóss tê ki pensá ki nóss vid de cristanv num pód sê como di gintiu, com brig-brig, kô invej, kô bebder e tant coiz ruim...È bom lembrá ki dipoi de kumungá, nóss kurassanv tê ficand kom verdeder Prisép! Minin Jezuz tê nascend num noss kurassanv! BÔ FEST, SANT NATAL E FELIZ ANN NÔV! (Natal de 2008)

E logo as seguir, em Agosto de 2009, saiu o segundo texto:

«DAMNENS!» Ieu num sab kom iscrevê na nóss líng de Damão, «óss-dóss ô ling de Badrapôr! Ôje, é «Di Mundial de Damão» porkê Gô tê celebrand «World Goa Day», Di kê ilôt ganhõ Estad separad e Konkanni ficô líng Oficial. Parbém pâ Gô! Ki bom celebrá Di de Damão! Bam conservá nóss cultur! Mâj cultur nã é só falá de ispetad de Damão, de bumbli assad cô sur, nem cantá Ai, Luzi, Luzi ô Dampaca, Dumpuca , muit men falá de saudad e Viva 15


Damão... Sim, é tud esse, maj un coiz ki faz um damanens é nóss líng, Òss-Dóss! Muint gent tê vergonh pâ falá noss ling, nun di de Fest, de Casment...tê chaman alguém pâ falá «high english» ô «portuguez fin e rebuscad! Un Poet portuguez, Fernando Pessoa, iscreveu: «Minha Língua, Minha Pátria»...! Damnens ki tê vivend em Damão, ô Silvass, em Bombaim, em Goa, em Diu, ô em qualquer part de Índia, maj hoj em di, muit gent, damnens tê vivend na Austrália, em Macau, no USA, no Brasil, na UK, (em Peterborough, em Leicester, London, etc) e aind na Angola, Moçambik, na Portugal e quemsab ond, ond maiz! Istudô ling, muit gent djá é Siõ Dotor ô Dotora, masj dent de caz tê faland «Óss- Dóss», cô su marid/mulher, cô su bich fin ô nigrinh. Puriss, nã é só gent velh ki tê faland ling de Badrapôr! É preciz tirá vergonh de car e cumçá falá e até iscrevê na nóss Ling. Ulhá, gent Jov, ussez ki tê iscrivend na Net, na Blog, purkê tê mêd de iscrivê na noss ling , Òss-Dóss? Ulhá, damnens, rapaziad e baizin, ieu num ker istragá ess Dia Mundial de Damão. Muit parabém pâ tod akel gent ki mixeu ess gent de Damão. Maj é priciz cumçá pensá nu Di de Damão ki Damão sempr vei celebrand: 2 de Fevrer, Fest de Noss Sinhora de Candei! VIVA DAMÃO! Ó DAMÃO, Ò DAMÃO! Normalmente, o Crioulo damanense ou diuense suprime a última silaba das palavras, quer porque o português falado no Continente português, a última sílaba é fechada ou quase muda e não como é pronunciada pelo brasileiro – todas as sílabas abertas-, ou porque esse crioulo nasceu escutando os portugueses de antanho!

Alguns exemplos: Panhá do apanhar, pagá fog do apagar fogo, Igrej da Igreja, Vak do Vaca

Óss de vós, ou ussê de você; ieu do eu, êl do ele, ilôtt do eles outros; stav, tav do estava; pad do padre; bisp dp Bispo; isprá do esperar,arvre do arvore, muxêd de muito cedo, verd do verde. butá do botar, pôr,bich fin do menino, nigrinh da menina, etc, etc. E para terminar, cito a canção damanense muito conhecida e até cantada entre os goeses, «o Ai, Luzi, Luzi»: Ai, Luzi, Luzi, Minh Lizi, Óss é meu amor(Bis) Óss tê vai andand, minh Luzi, Ieu tamém tê vi ou vind(Bis)

Mariá buta chê, Ai, Mariá, butá chê,(pôr perfume) Mariá buta chê, Ai, Mariá butá chê (e NÃO «pitá sé»);

Num tê nad ki falá, um, num tê nad ki falá doi! (significa «cala-te»!) butá chê,(pôr perfume) Mariá buta chê, Ai, Mariá butá chê (e NÃO «pitá chê»);

Pe António de Oliveira Colimão

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Mariá buta chê, Ai, Mariá,


São João in Goa: Then and Now Thousands of Johns live in the five corners of the world. Their name helps to keep alive the Christian name of the one who baptized Jesus. Besides, São João’s name is also perpetuated on the face of the Earth by christening innumerable churches, shrines, abbeys and monasteries, schools, colleges and universities, cities and roads and submarines and restaurants after him. Interestingly, it is not only the Roman Catholic Church and the Eastern Orthodox Church that have great regard to the Precursor. The Muslims and the Bahais consider John as a prophet. In a mosque at Damascus, there is a small shrine dedicated to St John. The Portuguese Missionaries, in the xvi century, introduced in this part of the world the Festas dos Santos Populares Portugueses or the feasts of the saints that Portuguese folks have high regard for, like Saint Anthony (Santo António ) , Saint John ( São João ) Saint Peter ( São Pedro ) Saint Paul (SãoPaulo ). Each one of these feasts is celebrated in various villages of Goa according to the Liturgical Calendar. The feast of São João on 24th June, is one of the oldest feasts of the Roman Catholic Church. It celebrates the nativity of the Saint and not his death (29th June). But who is São João? A Jew, who was the son of Zachary, a priest of the Temple of Jerusalem. He began his mission by baptizing his followers on the banks of the River Jordan and also by preaching fervently his message to the people of Israel : Repentance and change of heart. Father Gabriel Saldanha in “História de Goa”, vol II, puts across his readers of today how ostentatious were the festivities of São João in the XVI century in Old Goa. The revelry began on the eve, the 23 rd June, when the Portuguese used to gather at the Mandovi River front, in Old Goa, to witness a magical display of fireworks. But unfortunately, this show was discontinued due to a fire that destroyed the ships anchored at the docks. The feast day was a Holy Day, therefore a holiday. The festivities centered on spiritual practices and prayers. On the 24 th of June, in the morning, the whole city was in a festive mood. The Vice Roy and the dignitaries, dressed impeccably, would ride to the small chapel of St John to participate in the Mass. Later, at the end of the church services, they proceeded to Saint Paul’s Road where there was great entertainment: horse races, sword games, dancing and merry making. Soon after, the crowd moved to the Terreiro in front of the palace of the Vice-Roy where the festivities continued and ended. José Nicolau da Fonseca in Sketch of the City of Goa states that the Chapel of St John the Baptist was situated at the foot of the hill of our Lady of the Mount. Over there, the Dominicans had a convent and “behind it was a beautiful fountain, the waters of which were carried by barrels to a small chapel whose interior was adorned with shells in a curious manner” Padre Gabriel Saldanha in História de Goa Vol II, quotes Pietro Della Valle statement that confirmed the same description of the chapel where the spiritual practices were renowned. Time has taken its toll over the Convent of the Dominicans. There are no remnants of the glorious past neither of the chapel nor of the image of the São João. IN Goa, there are churches dedicated to São João. The oldest one is at Carambolim, Ilhas (1539) at Monte de Benaulim, Salcete (1596) and at Pilerne, Bardez ( 1658). There was an outlandish custom practiced in the evening of 23rd June. One could see in front of the houses of the then capital of Goa, a man made of hay, dressed in old pants and a shabby morning coat and a tall worn out hat covering his head. He was labeled as Judeu .The burning of the effigy of the Judeu was a ritual binding on the inhabitants of Old Goa on the night of the 23 rd June Old and young moved in groups carrying the dummy around the village and a piddó in their hands. After getting their lungs exhausted, condemning the Judeu, the group made a huge bonfire and beat it unmercifully with the piddés until it was reduced to ashes. The trouncing and burning of the judeu was repeated at the door of every house where they saw the dummy of the Judeu. At every halt, the multitude was served local sweets and feni. As the population spread from Old Goa to São Pedro and Ribandar and later to Panjim and to Santa Inês, this practice was brought to the new Christian settlements. Till date it continues in very few villages in Goa. This queer act that the figure of Judeu should be scorched was rooted perhaps in anti -Semitism or the hatred 17


that the Christians of the past centuries had for the Jews for having crucified Jesus, a Jew Himself. There are different opinions as to who in reality was the judeu that the folks burnt. Some say that he was Judas, the apostle of Jesus, who betrayed him. Others say that the effigy represents Salome, the daughter of Herod, who asked her father to behead St John the Baptist as a reward for her enticing dance. The most common view is that he represents a Jew. Modern Church intervention in Goa has constrained this folk entertainment in most villages. Change is the only thing that is constant. Time has changed the indigenous folk traditions, the sincere merriment of the celebrations of this Portuguese Saint. Some of the practices were abolished by the Inquisitional Edict: singing of vovios or Konkani verses, playing local musical instruments to accompany the vovios, and sending of Ojem to the son –in-law for specific occasions. The Laws were intended to abolish pre-Christian practices to create a new Goan Christian man and a Goan Christian Community through the process of “deculturation” . But this new “decultured” man on whom a new western culture had been imposed, could not forget his ancestry, his conventional cultural practices. So the “new man” invented a system of adjustment. When he wanted to sing the vovios he substituted the incantation to the Hindu gods by invocations to Our Lady and other Christian saints. However, the local musical instruments like the gummot , the maddalem and the kansalem continued to accompany the vovios on the day of the feast of São João. Today, only the gummot and the maddalem have the privilege of accompanying the people on the feasts. ON 24 th, June, very early in the morning, the merry making villagers rush to the hillocks, wet with rains, and pick up from our hills vibrant wild flowers poddkuvechim fulam and the são João val known in Konkanim, . He makes a Kopel or a coronet of flowers and places it on his head and moves in large groups around the village shouting :“Viva São João” or Long Live Saint John to the accompaniment of the ghumot The feast of São João was a male dominated feast. To wear the Kopel was a male prerogative. Now a day, one can see, on the feast day, young village girls moving with a crown of flowers on their heads, too. For a large majority of Goan Christian folk population, the 24th of June is a day of frolic and fun, of jumping in the ponds and wells, which are filled to the brim by the unrelenting rains. After an early lunch, large numbers of young and old men, wearing coronets of flowers on their heads with bare chests, drenched, assemble at the village cross or shrine and say a small and hurried prayer. The village reverberates with the shouts: ”Viva São João” and the crowd moves in the direction of the wells and other sources of water for the traditional jump. One and all sing a fast and catchy song created by our famous musician C Alvares “Sanjuanv , Sanjuanv , ghunvta mu re … (the words and the music are given below) The ojem,is a long-established village ritual whereby the mother –in law invited her newly married son –in law by sending a gift. This invitation was for any celebrations in the house of his wife’s parents. Since she could not fill the dhali with areca and, betel leaves and prohibited flowers, the new Christian mother –in –law filled a basket with seasonal fruits, a crown of flowers, local sweets and a bottle of feni, undoubtedly This formality is fading slowly but the son-in-law continues to be the Guest of Honour of the village on 24 th June The people accompany the new son in law of the parish, singing and dancing and when they reach a well they force him to jump there. When he clambers up he has to offer the crowd a seasonal “fruity meal” to the youngsters and feni to the not so young. In Goa, as I have mentioned earlier, São João is a male dominated feast. The girls do not jump in the wells and ponds for the traditional celebration. They may do it in the Future! Why do people jump in the waters? Some link this custom to the Gospel narrations that St. John leaped in the womb of his mother, Elizabeth when Mary went to visit her. Others associate this observance to the Midsummer Celebrations in Europe, where people jump over bonfires. In Oporto, Portugal, the festival on the 24th of June coincides with Summer Solstice. Hundreds of bonfires “fogueiras de São Jõao” are built along the promenades and to follow an ancient pagan tradition, the fun lovers jump over the bonfires to gain protection throughout the year. They jump over the fires three times and shout “witches off” It is a way of avoiding bad luck, keeping away mischievous sprits. The month of June is humid and wet in Goa. The jumping in the wells may be a cultural proxy? The Tiracol village, in the North of Goa, had a unique way of rejoicing the birth of São João . Mr.Diogo 18


Constancio de Sousa, an elderly villager, a native and a resident of that part of Goa was kind enough to describe to me the celebrations. They begin with participation in the Mass. After a heavy lunch, at about 3 p.m. the men, place the Kopel on their heads sing and dance to the beating of Dholls and make their way to the river side. But their way is rocky, slippery and steep. Once, at the foot of the hill, they get into a canoe, which is not decorated for the occasion and very cautiously move near a cross which is in the middle of the Tiracol River. Mr. De Sousa and other villagers have affirmed that the cross never gets submerged, even in the heaviest rains and the highest tides. On reaching near the cross, they fasten to it a red coloured pole, which has a white flag tied on the top. The red colour, he says, is for mariners passing by to observe the white flag and the white is to send a message of peace for all. After a prayer, they return to the land. The waters near the cross are deep and dangerous as an old shark lives near bye, say the village folks. Then, why this dangerous trip? To follow tradition, they say. A most grotesque ritual was practiced in Tiracol when youngsters, wearing tiger skins and coir face masks used to catch a pig ling that was let loose by the villagers. As it tried to evade the crowd, the youngsters caught it and tore it apart with their bare teeth. The crowds around played the drums, jumped, shouted and danced in a noisy crescendo. This rite was a compulsory performance in the very long past, recalls De Sousa and he states, that through the teachings and the concern of the Church, this custom has been eradicated However, there is a replacement to it: 4 boys from the village, with their bodies painted to resemble leopard spots pretend to catch a pig ling let loose .The crowds and the boys shout and frighten it until it disappears in the nearby bushes. Why these substitutes? Tradition is the only explanation. Perhaps an ancient pre Christian custom, or a reminiscence of the Paleo caveman that cannot be wiped from their collective memories. The pristine Tiracol village is fast loosing its beauty. Greed of the rulers has defaced the countryside and brought distress to the people of this untainted land Did you ever sit on a decorated boat with music blaring from a small stage built on the boat and sailed through a calm river? If not, visit Siolim a village in Bardez, in North Goa, on the 24 th June. Your soul will be filled with intense delight by looking at the various boats depicting themes of Nature, with the revelers wearing unique outfits and their heads decorated with Kopels !!! They are participating in the Boat Festival of Siolim .This is a 150 year old event, where the boats glide through the Chaporá River, cross various villages of Bardez and moor near the small bridge in front of the Church of Saint Anthony, at Siolim. Here the crowds spread out. There are local bands to entertain you, there are home made sweets like pattoleos and folles to remind you that these are Goan delicacies. The best decorated boat, the best Kopel are given prizes and one and all carry back home the reminiscence that this is our Goa. The Christian festivals of Goa, celebrated in the Monsoons are rich in our folklore and ritual. Will this last for long? The climatic changes have already dwindled our water resources and with rains playing truant ,will the customary leap and frolic in the waters, continue? Our wells, be it in the villages or in the cities are contaminated due to seepage from the industries and the septic tanks. Will folks jump in the polluted wells? With rampant hill cutting, the vibrant flowers from the slopes will never be available to make the attractive coronets. The spirit, the essence of our festivities is vanishing. Migration to better pastures has taken away our youth and for the elderly, the feasts of São João are nostalgic memories. The Tourism Department is determined “to sell Goa in the rains”. So the swimming pools of hotels are already being used for the conventional jump in the waters. Tourists leap in the pools shouting “Viva São João” unaware of who São João was The coronets made from the flowers of our wild bushes have been conveniently substituted by ordering sophisticated kopels from local florists. Rock bands have put aside the maddalem, the dholls and the kansallem . The vovios have been replaced by Hindi, English and konkani pop songs to the delight of one and all. You have a choice to keep your spirit high:, whiskey , vodka or brandy The government sponsored celebration of Sao João is a mockery to his name and memory. His message drowns in our pools . The song composed by C Alvares in honour of the sons –in –law on the day of feast of São João . The song is in Konkani , the language of goans . Piddó (S) piddés Pl part of the coconut palm leaf that is attached to the trunk of the coconut tree. Gummot a quasi semi circular earthen vessel ending in a small open tube and covered by a monitor lizard skin. 19


Maddalem cylindrical earthen vessel covered on both ends by the skin of the monitor lizard Kansalem are big gongs made of kashem (bronze) . These gongs are used for rhythmic purpose specially while performing the tradional goan folk orchestra Puddkuvechim fulam Red Penta Flowers ( pentas lanceolata ) Sao Juanv val wild creeper that grows on the hills during the rains Kopel a coronet made of seasonal flowers or fruits and leaves and used to decorate the head of the revelers on the feast of São João. Pattoleos /pattodios sweet dish prepared from rice and grated coconut and jaggery which is ground into a paste and spread on a leaf of turmeric plant and folded and steamed follés a sweet preparation made of ground coconut, rice and jaggery, poured into a cone made of a leaf of jack fruit tree ,pinned with a broom stick and steamed dhali a small tray made of bamboo . It could have a handle, sometimes. It was used to send sweets, fruits during festive occasions. Feni a drink made of the sap of the coconut palm . It can also be made of the juice of the cashew apple Dholl a large wooden drum with a deep sound and played with a sick terreiro a public square Celina de Vieira Velho e Almeida Fotos: Pantaleão Fernandes Musical notes : André Dias , Santa Cruz, Goa

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Celina Almeida

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Gandhi, 150 Anos Notas à margem da reunião de 7 Nov 2018 1. Na frutuosa reunião em causa emergiram dois tópicos, em perspectiva estruturante, merecedores de registo: (1) a Embaixadora da Índia terá expressamente afirmado a uma delegação da Casa de Goa (CdG), liderada pelo Presidente da Direcção, a sua abertura a «vir ao encontro de qualquer solicitação» – subentenda-se justificada – proveniente da nossa Associação; e (2) em Junho p.f. a Embaixadora será substituída, regressando à Índia, possivelmente para assumir o exercício de cargo político na governação Modi. 2. Por outro lado, como é já do conhecimento de alguns membros da CdG, logo após as eleições de Abril p.p., a então acabada de ser empossada Direcção foi alvo de inesperado confronto agressivo por parte de serviço da Câmara Municipal de Lisboa, cuja linha de ataque se centrava numa suposta «incapacidade» da CdG de fazer jus às «magníficas» instalações de que é «graciosamente concessionária». A lídima prova dessa «incapacidade» seria uma suposta pobreza de realizações que dessem devido «uso», designadamente ao auditório... 3.Atendendo às consabidas natureza e propensão da massa associativa da CdG, será possivelmente tarefa «sísifa» procurar dar corpo a um fluxo sustentável de realizações que façam o «devido uso» das instalações «gentilmente cedidas». Essa é matéria que se impõe debater em sede e oportunidade próprias, não neste momento. Mas uma constatação aparentemente inevitável é de que um «alto perfil mediático» da CdG, por via da correspondente projecção social, se configuraria como «garante de inatacabili-dade», pelo menos das ditas natureza e via camarária. 4. À luz destes considerandos, afigura-se apropriado rever a «dimensão» proposta para a iniciativa «Gandhi, 150 Anos». Propõe-se, efectivamente, o reequacionamento da proposta inicial para esse evento, orientando-o no sentido de temática(s) de interesse não exclusiva ou predominantemente para a chamada «comunidade goesa em Portugal», mas sim de relevância nacional, onde a Goanidade seja/fosse um «fio condutor», mesmo que eventualmente apenas «implícito». Temáticas dessa índole terão necessaria-mente de ser desenhadas com fito na intelligentsia nacional. 5. Nesse sentido, propõe-se um modelo de iniciativa a dois tempos, ou seja, envolvendo duas «missões», cada uma com duas linhas temáticas diferenciadas, supostamente compatíveis e complementadoras.  A primeira a ter lugar em Lisboa, preferencialmente em Maio 2019, seria dedicada a: (i) reapreciação de vida e obra do Mahatma Gandhi; e (ii) divulgação de alguns tópicos estruturantes de filosofias do subcontinente indiano – tendo em conta que, na tradição espiritual/intelectual da Índia, filosofia-religião-prática formavam um todo coeso, em completa divergência (ex-ante) com as práticas ocidentais. Para o efeito seria concitado o concurso de reputados académicos indianos.  A segunda em Pangim, no decurso do ano 2020, também tematicamente bipartida: (i) a apreciação de quanto a reorientação e renovação da ciência europeia do século XVI e seguintes, liderada por figuras como Pedro Nunes e Garcia de Orta, especialmente no caso deste último, se filiou não só no quadro da desvelação de recursos naturais do subcontinente mas também – o que frequentemente se tende a esquecer – no conhecimento acumulado e consequentes práticas assumidas pelas populações locais; e (ii) a promoção da CPLP como lusolegado global e potencial partner transcontinental in the making, designadamente para a Índia – a «força da fraqueza», ou seja, um neocolonialismo português inconcretizável, potências africanas em continuada crise mas detentoras de um «incontornável» potencial económico próprio. 6. Se com esta reformulação se visaria, objectivamente, promover a CdG como player de primeira linha, cuja «força intrínseca» residiria precisamente na quiet Goanity, worldwide, seria indispensável envolver na correspondente consecução personalidades plenamente conhecidas a nível nacional. Isso passaria, em particular, pela nomeação de um Comissário da Celebração Gandhi, 150 Anos – por exemplo, João Soares, sócio honorário da CdG. Também o concurso de um politólogo suprapartidário, profundo conhecedor da presente realidade CPLP – um nome em evidência seria, por exemplo, o de José Filipe Pinto, membro da Academia das Ciências de Lisboa. 22


7. Já no que respeita ao acontecimento Maio 2019, seria indispensável o envolvimento de pensadores nacionais como assistência e destinatários do conhecimento a partilhar/ transferir. Possíveis alvos nessa perspectiva seriam a Sociedade Portuguesa de Filosofia, Sociedade Portuguesa de Bioética, etc. Matéria a desenvolver oportunamente. 8. Esta iniciativa, face à envergadura que se lhe pretende emprestar, só se tornaria viável se, por assim dizer, a Embaixada da Índia dela se tornasse «mentora». O que significa, concretamente, ser indispensável submeter à Embaixada um plano suficientemente esclarecedor e pormenorizado, no mais breve lapso de tempo – de preferência não mais tarde do que a primeira quinzena de Dezembro p.f. 9. Mas para que a Embaixadora possa propor/aprovar em princípio o encargo financeiro de transporte e alojamento de um dado número de pensadores indianos de primeira linha, haveria provavelmente que oferecer «factores de atractividade» a mais longo prazo. O que, por ora, se afigura mais interesante seria a constituição, em Portugal, de uma plataforma de difusão europeia do pensamento filosófico actual da Índia. Isso requereria parcerias que haveria que assinalar e desenvolver em devido tempo. 10. Já o evento 2020, de promoção (também) de mérito e potencial trasnacional da CPLP, requereria financiamento português – de motu próprio ou por incumbência daquele instrumento de Lusofonia. Não se propõe que seja de espectro largo, mas sim expressamente focado em Moçambique, já que a governação Modi elegeu esse país como parceiro de interesse prioritário para a Índia. 11. Essa eventualidade constituiria uma oportunidade ímpar de afirmação da Diáspora goesa. Crê-se dispor a CdG de capacidade de influenciar/promover a criação de uma entidade representativa da Diáspora goesa de Moçambique, eventualmente inserta no conjunto da Comunidade Indiana residente nesse país. A actual situação política e macroeconómica de Moçambique afigura-se ser acolhedora e susceptível de propiciar uma iniciativa do tipo indicado – cuja consagração seria, possivelmente, alcançável no quadro do evento Gandhi de 2020. 12. Ambos eventos, de 2019 e de 2020, deveriam ser aproveitados para a celebração de acordos e a assinatura dos respectivos documentos institutivos – uma vez mais, como instrumentos de consagração de uma entente, neste caso Portugal-Índia, que se desejaria perdurasse funcionalmente também no decurso do próximo decénio (horizonte 2021/ 2030). 13. Como medida imediata, recomenda-se a formalização da Comissão Organizadora da(s) iniciativa(s) Gandhi, 150 Anos. Uma proposta nesse sentido será, em breve, submetida à Direcção da CdG. 14. Não menos urgente é a definição de um programa preliminar para o evento de Maio 2019. Caso, em linhas gerais, a proposta acima esquissada seja aceite, seria igualmente necessário dispor de um esboço de programa para o evento de 2020. Essas peças processuais são indispensáveis ao bom encaminhamento da projectada démarche junto da Embaixada da Índia. 15. Dentro de dias será disponibilizado um borrão de programas para os dois eventos. Seria desejável que, a esse propósito, saíssem decisões da próxima reunião preparatória, agendada para 23 de Novembro corrente, pelas 17h30. 16. Não será despiciendo salientar que, a serem adoptadas as directrizes programáticas inerentes sobretudo às «apostas» de médio/longo prazo acima esboçadas, desejável seria que um primeiro nível de adaptação fosse considerado e inscrito já no Plano de Actividades da CdG para o próximo ano. Uma reflexão estratégica prévia à submissão e aprovação em Assembleia Geral poderia revelar-se facilitadora. À Direcção caberá decidir a esse respeito. 12 Nov 2018.

Henrique Machado Jorge

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Livros AFONSO DE ALBUQUERQUE O Ten. Cor. João José Brandão Ferreira publicou recentemente, com a editora Nova Vega Lda, uma biografia de Afonso de Albuquerque intitula Afonso de Albuquerque o Chefe Militar, o Diplomata e o Estadista. Oficial da Força Aérea na reserva, mestre em estratégia e sócio de numerosas de várias academias e sociedades científicas, Brandão Ferreira possui uma obra literária muito extensa com mais de 1100 artigos e seis livros publicados. Com prefácio do antigo Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Nuno Vieira Matias, o livro, consideravelmente ilustrado e recheado de indicações úteis, contém em pouco mais de 80 páginas, o essencial da vida e obra daquele que foi, sem qualquer dúvida, o principal artífice do nosso império marítimo na índia e o conquistador da mais bela parcela do império português, a verdadeira Jóia da coroa, que foi Afonso de Albuquerque. A relativamente escassa dimensão do livro torna-o de leitura acessível nos dias de hoje, em que a informação abunda, sendo praticamente impossível abarca-la toda, restando ao leitor seleccionar rigorosamente a pequena parte que se torna praticável analisar. No Prefácio, sobre o interesse de mais esta obra de Brandão Ferreira o Almirante Vieira Matias opina desta forma: «De facto, ainda hoje considero muito valioso continuar a estudar a vida de Albuquerque para dela retirar lições sobre a arte de chefiar e sobre a grandeza de alma dos nossos antepassados, que fizeram de Portugal a primeira potência mundial. Como acentua Brandão Ferreira no seu livro, Albuquerque «procurou, pela educação, evangelização e integração a existência de uma sociedade e cultura luso-indiana que preservasse a permanência portuguesa naquelas paragens e que ainda hoje pode ser observada», designadamente nesta casa. Incentivou os casamentos entre portugueses e indianos e, inclusive, «propôs ao Rei que os governadores, capitães e altos funcionários pudessem levar para a Índia as suas mulheres e filhos».

M. Vieira Pinto

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GUIA PRÁTICO DAS ASSEMBLEIAS GERAIS Autor de uma extensa bibliografia grande parte da qual dedicada a questões de natureza jurídica nos seus aspectos práticos do Direito nosso estimado consócio e antigo Presidente da Direcção da Casa de Goa, consagrado advogado, Dr. Edgar Valles, publicou, na Livraria Almedina, um Guia Prático das Assembleias Gerais, relativo a associações, condomínios, sociedades comerciais e autarquias. Trata-se sem qualquer dúvida, de uma obra de enorme utilidade, que há muito fazia falta no mercado. Com efeito, depois do conhecido Guia das Assembleias Gerais, publicado há muitos anos pelo advogado Roque Laia e de há muito esgotado, nunca os numerosos componentes das Mesas destes importantes órgãos colegiais dispuseram de informações que lhes permitissem dirigi-los de forma eficiente e de acordo com a lei. Esta é, aliás dispersa, apenas regulando aspectos parciais de alguns órgãos de certos tipos específicos de associações, originando a necessidade de constante integração das lacunas das legislação aplicável, dúvidas, recursos, e numerosas demandas judiciais. Trata-se de um livro, bem sistematizado, redigido com enorme clareza e abordando de forma sintética mas completa e esclarecedora os pontos essenciais. É de fácil compreensão mesmo para os não especialistas. Valles consegue com ele facilitar a vida de um sem número de pessoas e organizações, bem como descongestionar de forma sensível os tribunais evitando um número sensível de processos. Em boa hora se dispôs a brindarnos com mais este importante trabalho, consideramos indispensável para quantos integrem órgãos de natureza colegial.

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Aconteceu ... PARTICIPAÇÃO DA DIRECÇÃO DA CASA DE GOA NA ABERTURA DAS COMEMORAÇÕES DO 150º ANIVERSÁRIO DO NASCIMENTO DO MAHATMA GANDHI A Direcção da Casa de Goa fez-se representar nas cerimónias organizadas para inaugurar as comemorações do 150º aniversário do Mahatma Gandhi. As cerimónias decorreram no Terreiro do Paço, em Lisboa, com a presença do Primeiro-ministro e muitas outras personalidades relevantes da sociedade portuguesa e incluíram um conjunto de projecções, efectuadas nos torreões que flanqueiam a praça, sobre a vida e a obra desta excepcional personalidade. Entretanto, durante o período das comemorações, que vão durar cerca de dois anos, estão previstas várias actividades com as quais a Casa de Goa deseja contribuir para o melhor conhecimento da figura de Gandhi em Portugal.

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RECITAL DE NADIA REBELO NA CASA MUSEU DE AMÁLIA RODRIGUES No passado dia 29 de Setembro, realizou-se na emblemática Casa-Museu onde residiu a mais célebre fadista de Portugal, realizou-se uma tarde de fados, onde os sócios da Casa de Goa e seus convidados tiveram a oportunidade de escutar a jovem Nadia Rebelo, fadista goesa, devidamente acompanhada por especialistas de guitarra portuguesa e de viola de fado. Nadia Ribeiro, encantadora jovem que pela primeira vez nos visitou e que apesar de ter nascido já depois do fim da soberania portuguesa naquelas paragens não conseguiu escapar à paixão pela nossa canção nacional, que interpretou com elevado nível, deliciando todos os presentes, que a obrigaram a interpretar vários números extra programa. Apesar de não ser ainda fluente na língua portuguesa, interpretou as letras em Português praticamente sem qualquer sotaque, assimilou de forma perfeita a modulação do fado, e foi com incredibilidade que os funcionários da Casa Museu, na visita que se seguiu, tomaram conhecimento de que a fadista, que julgavam ser uma encantadora moreninha lisboeta tinha, afinal, nascido na remota Índia. A encantadora jovem, que a todos encantou, prometeu visitar-nos de novo, designadamente para desenvolver os seus conhecimentos de Português, o que lhe permitirá dar ainda maior sentimento aos números musicais que interpreta. Deixou-nos saudades e esperamos que regresse em breve. Contamos com ela para que a recordação da nossa presença naquelas paragens, que durou séculos, se não apague, e que os nossos que lá ficaram continuem a poder ouvir, ao menos de vez em quando, um pedacinho de Portugal.

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JANTAR DE DEGUSTAÇÃO NO RESTAURANTE No passado dia 16 de Outubro realizou-se no restaurante da Casa de Goa uma reunião para que os membros dos corpos gerentes e alguns sócios da Casa pudessem tomar contacto com as obras realizadas no restaurante e respectiva decoração, bem como degustar alguns pratos de estilo gourmet. O restaurante conta com um chefe de cozinha, de nacionalidade francesa, que vai assumir a responsabilidade pela elaboração e execução dos pratos constantes do menu. A reunião foi agradável e permitiu aos convidados desfrutar de alguns momentos de convívio entre os participantes, embora não nos tenha sido possível apreciar nenhum prato goês, pois os pratos de origem indiana e goesa primaram pela ausência. O novo concessionário pretende organizar e explorar no espaço que lhe foi concedido um estabelecimento de qualidade, que no entanto não pode deixar no esquecimento a cozinha goesa, uma vez que todos sentimos a necessidade de preservar e dar a conhecer essa cozinha, que como todos sabemos, é de qualidade insuperável.

CICLO DE CINEMA INDIANO E GOÊS – de 12 de Outubro a 16 de Novembro Nos passados meses de Outubro e Novembro a Casa de Goa tomou a iniciativa de organizar um Ciclo de Cinema Indiano e Goês. Vários filmes foram emprestados pela embaixada da Índia, estes com legendas em português e falados em hindi. Outros filmes foram emprestados por sócios entre eles Amxem Noxib que fez as delícias dos sócios e amigos que puderam matar saudades do cinema de Goa, das músicas e do konkani. Durante todo o ciclo o público pôde sempre desfrutar de comida tradicional de Goa que esteve à venda no nosso Bar. Noites culturais de sexta-feira muito bem passadas no Baluarte do Livramento em Lisboa! Fiquem atentos pois mais ciclos virão! Estamos a selecionar/angariar os filmes.

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Agenda 31 de Dezembro - Baile de Fim de Ano

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