Boletim da Casa de Goa

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Boletim da Casa de Goa MARÇO / ABRIL / MAIO / JUNHO / JULHO 2018


BOLETIM DA CASA DE GOA ÍNDICE 3-7

MENSAGEM DO PRESIDENTE

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EDITORIAL

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COLECÇÃO: ILUSTRES “CRAVEIRO LOPES”

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COLECÇÃO: GASTRONOMIA “XIRÓ”

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OS SANTOS POPULARES EM GOA

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GOA MANGUESAIS

16-27

CONVERSAS FRANCAS

28-32

THE ZAGOR AT CACRÁ

33-38

ANTÓNIO ANASTÁSIO BRUTO DA COSTA

39-41

AS TEIAS DA PRIMEIRA REVOLUÇÃO PORTUGUESA

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ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O LIVRO DE VALENTINO VIEGAS

43-47

GOA SONS E RITMOS NA AV. DA LIBERDADE

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Á AVENTURA COM NALINI ELVINO DE SOUSA

49-52

ESPAÇO DOS JOVENS

53-66

ACONTECEU

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AGENDA

68-72

KNOW GOA PROGRAMME 2018

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ANÚNCIOS

CASA DE GOA Associação de Goa, Damão e Diu Calçada do Livramento, 15 - 1350-188 LISBOA Contactos: Tel. 21 393 00 78 / Tlm. 915 057 477 @ casadegoa@sapo.pt / www.casadegoa.org Edição: Março/Abril/Maio/Junho - Ano: 2018

Associação de Goa, Damão e Diu Pessoa Coletiva de Utilidade Pública Calçada do Livramento, 17 1350-188 Lisboa Contactos: 21 393 00 78 91 505 74 77 casadegoa@sapo.pt www.casadegoa.org

Direcção Vasco Soares da Veiga Coordenação: Ana Paula Guerra Design/Diagramação: Juliano M. Mariano

Capa: Juliano Mariano, vista da Casa de Goa Intervenientes: Ana Barbosa Celina de Vieira Velho e Almeida Ema Teixeira Gil Bizarro Henrique Machado Jorge José Salvador Rodrigues Lourdes Elvino Sousa Manuel Vieira Pinto Maria da Assunção Fernandes Nalini Elvino de Sousa Rosário Craveiro Lopes Pereira Coutinho Rui Cabral Telo Valentino Viegas Vasco Lourenço Produções Vasco Soares da Veiga Vicente Fernandes Vrishank Matatme ESTATUTO EDITORIAL O Boletim da Casa de Goa visa divulgar a atividade da associação, sendo um instrumento de divulgação da realidade de Goa e de tudo o que se insira nos fins estatutários da Casa de Goa. O Boletim aposta numa comunicação viva, imaginativa, atual e atuante, privilegiando as notícias mais relevantes da área, sem descurar a crónica, a opinião ou o comentário mais desenvolvido. O Boletim é da responsabilidade da Direção. Publicará textos que sejam solicitados, reservando-se o direito de não publicar as colaborações que não sejam expressamente solicitadas. Caso as mesmas sejam publicadas, respeitará na íntegra o texto enviado, exceto se o autor aceitar as sugestões de alterações que venham a ser propostas, em razão de critérios de espaço.

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Mensagem do Presidente CALOROSAS SAUDAÇÕES FRATERNAIS E DESEJOS DE FELICIDADES PARA TODOS MHOJE UNHUNIT TOXE BORE ANVDDE TUMKAM SOGLEANK, MHOJEA MOGALL BHAVA-BHOINNANO

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irijo-me aos nossos associados, originários ou não de Goa, Damão e Diu, suas famílias e amigos, e a todos os que, como nós, amam a herança cultural das populações daqueles territórios. Para simplificar esta comunicação, cada vez que me referir a Goa deverá entender-se que me refiro também a Damão e Diu, apesar das diferenças culturais entre si, pois estamos todos ligados.

a Índia e outras partes da Ásia.

Porque somos uma comunidade entre dois mundos, mas de mente aberta, e porque temos orgulho quer na herança Goesa, quer na herança Portuguesa, actualmente temos membros cujas famílias não vieram da Índia, mas que se identificam com as culturas de Goa, Damão e Diu e com a sua influência sobre Portugal, e inversamente, com a influência Portuguesa sobre

Novos membros da Direcção, da Mesa da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal, foram eleitos no dia 14 de Abril de 2018 e propomo-nos dar nova vida à nossa associação, sem nunca esquecer a defesa dos objectivos estabelecidos há 30 anos atrás, nomeadamente preservar a identidade das culturas de Goa, Damão e Diu, promover o intercâmbio entre Portugal e esses territórios, promover a cooperação com associações similares e a investigação sobre estas matérias, e criar um espaço de convívio e entretenimento para os nossos associados e suas famílias. O último destes objectivos leva-nos a desejar considerar o espaço utilizado pela nossa associação como “O Clube Goês”, um local onde possamos encontrar-nos e tomar uma bebida com os amigos, ler e ouvir música (ou tocá-la e cantá-la se conseguirmos). Um local onde possamos inclusive celebrar os nossos aniversários e outras festividades, pois dispomos de amplas salas e de um parque de estacionamento. Sucede que a situação em que se encontra a Casa de Goa é crítica e poucos dias após a nossa eleição, fomos acusados de não utilizar e não manter convenientemente as nossas instalações. Bem sabemos que isto não é verdade, pois a Casa de Goa sempre manteve e mantém uma actividade constante mensal, quer com o seu grupo musical, quer com aulas de dança, apresentação e lançamento de livros, saraus, o “chá das cinco”, as “conversas francas”, entre muitas outras, que constam dos nossos relatórios de actividade e dos nossos Boletins. Estamos a fazer um esforço muito grande para contrariar esta acusação e precisamos da ajuda de 3


todos, desde logo persuadindo familiares e amigos a tornarem-se sócios da nossa associação e fazê-la ainda maior, trazendo novas ideias, nomeadamente mais apelativas aos jovens. Além disto, pedimos a todos os que puderem, que contribuam monetariamente para o esforço de reabilitação de espaços tão úteis à nossa comunidade, e ao público em geral, como a insonorização do auditório, a actualização e controlo do centro de documentação (biblioteca), a recuperação e reabertura do centro de colecções e exposições (museu), e a racionalização do estacionamento. Para este efeito, vamos em breve anunciar a abertura de uma conta nova destinada apenas a receber estas doações extraordinárias, das quais iremos dando conta no nosso Boletim. Quer os fundos, quer o tempo, de que dispomos, são curtos e temos que mostrar o que valemos. Nestas condições adversas, só aceitámos candidatar-nos e ser eleitos, porque entendemos que o valor da nossa comunidade é tão grande, que é merecedor que façamos tudo o que estiver ao nosso alcance para não se perder, ou pelo menos ver diminuída a sua visibilidade. Nós acreditamos que há uma identidade Goesa forte e única, que merece ser estudada, preservada e explicada aos outros. Este é aliás um tópico favorito de debate onde quer que se encontrem goeses. Graças à internet, temos a sorte de poder comunicar, em segundos, com partes do mundo diferentes e muito distantes, e podemos debater livre e abertamente com outras pessoas, sobre os pontos principais que nos identificam, especialmente a referência à terra-mãe Goa e à sua língua, o Concanim. O mesmo se aplica aos povos de Damão e Diu, com a língua Guzerate. Contudo, a língua Marata também é falada em todos estes locais, bem como as línguas da unidade da Índia, o Hindi e o Inglês. Nós entendemos que a língua Portuguesa também tem um papel muito importante a desempenhar neste relacionamento. Esta mensagem vai enviada também em inglês, justamente para poder chegar ao maior número possível de destinatários, os quais podem inclusive tornar-se nossos sócios apesar de não residirem em Portugal. Há características identitárias que encontramos nos Goeses, quer tenham nascido em Goa, quer tenham nascido em Portugal, Moçambique, ou outros locais, que são a sua grande gentileza, valor intelectual, respeito por outras culturas e a sua extremamente fácil e bem sucedida integração na sociedade Portuguesa. Sucede que talvez em nenhuma outra parte do mundo os goeses tenham alcançado tanto sucesso, como em Portugal. Depois de séculos de co-habitação e de miscigenação, isto não nos surpreende. A cultura goesa está muito enraizada em Portugal e sente-se muito uma atração geral pelo orientalismo, em particular na gastronomia e na decoração. O mesmo se dirá sobre a cultura portuguesa que se mantém viva em Goa, nas casas de fado, no modo de vestir, na religião cristã, na arquitectura e num certo modo de estar. Deste lado do mundo, o nosso país tem boas razões para estar orgulhoso das contribuições dos goeses em todos os campos do conhecimento e da ciência. A extraordinária boa imagem dos goeses também nos permite aspirar a uma maior contribuição nos países e comunidades de língua oficial Portuguesa, pois além da grande afinidade existente, os portugueses europeus, tal como os goeses, espalharam-se por todos os cantos do mundo. Este fenómeno é habitualmente referido como Diáspora (embora habitualmente esta palavra seja utilizada para significar a dispersão forçada das famílias judias, nas quais se incluíam os primeiros cristãos, pelos romanos, depois da destruição do Templo). É importante promover as nossas visitas regulares a Goa, Damão e Diu, e das populações destes territórios, ou dos Goeses da diáspora, a Portugal, pois ainda não é fácil para as comunidades em Portugal e na Índia voltarem a dar-se com regularidade. Todos podem e devem contribuir reciprocamente para essa aproximação e para o desenvolvimento mútuo, não só ao nível do intercâmbio cultural, mas também para proporcionar oportunidades de investimento e de emprego. Posso referir-vos a minha experiência pessoal. Apesar de eu e a minha família termos uma forte ligação a 4


Goa, só me senti um verdadeiro Goês quando visitei uma ilha e uma capela que em tempos nos pertenceram. Foi nessa ocasião que, subitamente, compreendi que também pertencia àquela terra e àquele povo. A ligação entre Portugal e Goa, Damão e Diu é muito emocional, e não é apenas por terem estado sob domínio português durante quatro séculos e meio. Estes territórios não possuem nem a dimensão, nem os recursos naturais, do Brasil ou de Angola, ou a riqueza de Macau, e contudo não há outros territórios que tenham estado sob domínio português e aos quais os portugueses se sintam tão ligados. Na História de Portugal, eles significam a coragem dos primeiros descobridores e dos governadores e vice-reis que se lhes seguiram, os quais conseguiram manter esses territórios contra oponentes muito mais fortes. Também significam o esforço de Cristianização, através de muitas pessoas, ordens e instituições, entre as quais se destacam grandes figuras como S. Francisco Xavier, S. João de Brito e S. José Vaz, os quais têm presença nos altares do mundo e constituem devoção importante para os crentes. A visita do navio escola “Sagres” a Goa em 2010 e a reacção dos pescadores locais, que se aproximaram do navio com decorações festivas e pediram para ser recebidos a bordo, o que o comandante gentilmente aceitou, é um sinal de boas memórias passadas e de um contacto caloroso actual. A recente visita do navio escola “INS Tarangini” a Lisboa, em 2018, mostrou a mesma gentileza dos oficiais indianos para com os portugueses. O actual relacionamento entre Portugal e a Índia é bom e as questões do passado estão agora enterradas. As recentes e primeiras visitas de um Primeiro Ministro português à India e de um Primeiro Ministro indiano a Portugal, ocorridas em 2017, são disso os melhores exemplos. Há muito trabalho para fazer e os goeses são a melhor ligação entre a Índia (e todos os indianos) e Portugal (e através do nosso país, com a União Europeia e com a CPLP). Finalmente o relacionamento entre Portugal e Goa deixou de ser a história do amor proibido de Dona Paula e Gaspar Dias, e pode agora avançar para um casamento feliz. Se Deus permitir, nos próximos meses e anos terão ocasião de assistir à recuperação da Casa de Goa, Damão e Diu, e ao lançamento de novas actividades e manifestações culturais. Desejamos que todos, sem excepção de nascimento ou de situação na vida, se sintam orgulhosos por pertencer à nossa associação e contribuam activamente para a defesa dos nossos objectivos. Termino com uma das mais bonitas frases em concanim: “Que o poder do bem e a bondade de Deus permaneçam sempre nos vossos corações, e que através das vossas boas mãos , possam chegar a muitos mais” – “Boreaponnachi xokti ani Dhonia Devachem boreaponn, tumchea kalizan soddanch tigoun urum ani tumchea borea vavreantlean, tem somestank mellum”. Lisboa, Julho de 2018

Vasco Soares da Veiga Presidente da Direcção

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MESSAGE FROM THE CHAIRMAN OF THE BOARD

WARM AND BROTHERLY GREETINGS AND BEST WISHES OF HAPPINESS FOR EVERYBODY MHOJE UNHUNIT TOXE BORE ANVDDE TUMKAM SOGLEANK, MHOJEA MOGALL BHAVA-BHOINNANO

I would like to contact all our associate members, whether or not you are from Goa, Daman and Diu, your families and friends, and all those who love the cultural heritage of the populations of these territories like we do. To simplify this communication, every time I refer to Goa it is understood that I am also referring to Daman and Diu, despite the cultural differences between them, as we are all linked. Because we are a community between two worlds, with an open mind, and because we are proud of both the Goan and the Portuguese heritages, we presently have members whose families did not come from India, but who identify themselves with the cultures of Goa, Daman and Diu and their influence on Portugal, and likewise, the Portuguese influence on India and other parts of Asia. New members of the Board of Directors, the General Assembly and the Fiscal Board have been elected on the 14th April 2018 and we propose to give new life to our association, without ever forgetting the purposes established, 30 years ago, for our association, namely to maintain the identity of the cultures of Goa, Daman and Diu, to promote the interchange between Portugal and these territories, to promote the cooperation with similar associations and the investigation on these subjects, and to create a space for getting together and entertainment for our associates and their families. This latter purpose leads us to consider the space used by our association as “The Goan Club”, a place where we can meet and have a drink with friends, read, and listen to music (or play it and sing it if you can). A place where we can even celebrate our birthdays and other festivities, as we have large rooms and a parking place. Nevertheless, the situation of Casa de Goa is critical and a few days after our election, we were accused of not using and not properly maintaining our premises. We know only too well that this is not true, because Casa de Goa has always kept a regular monthly activity, with its musical group, with dance classes, the presentation of new books, cultural events, the “five o’clock tea”, the “frank conversations”, amongst many others, which are referred in our reports of activity and our Bulletins. We are making a big effort to contradict this accusation and we need everybody’s help, starting with the persuasion of family members and friends to become members of our association and make it even more important, bringing new ideas, namely making it more appealing to young people. On top of this, we request all who can afford it, to contribute financially to the effort of rehabilitation of the premises which are so useful to our community, and to the general public, such as sound proofing the auditorium, updating and controlling the documentary centre (library), recovering and reopening the exhibitions and collections centre (museum), and rationalising the use of the parking place. To this effect, we shall soon announce the opening of a new bank account destined to receive extraordinary donations, of which we shall keep you informed through our Bulletin. Both the funds, and the time available, are short and we must prove that we are worth it. Under these adverse conditions, we only accepted to present our list and to be elected, because we believe that the value of our community is so big, that it is worthy of anything within our range that we can do to prevent its loss, or at least to prevent it from reducing its image. We believe that there is a strong and unique Goan identity that is worth studying, preserving and explaining to others, even though this a favourite topic for debate all over the world where you can find Goans. Thanks to the internet, we are lucky to be able to communicate in seconds with different and very distant parts of the world, and we can debate freely and openly with other persons about the major points that identify us, especially the reference to the mother land Goa and its own language the Konkani. The same applies to the people of Daman and Diu, with the Gujarati language. However, the Marathi language is also spoken in all these places, as well as the languages of the unity of India which are Hindi and English. We believe that the Portuguese language also has a very important role to play in this relationship. This message is sent in Portuguese and English in order to reach as many people as possible, who can also become our members even though they do not reside in Portugal. There are identification characteristics that we find in Goans, whether they were born in Goa, or in Portugal, Mozambique, or other places, which are their great kindness, intellectual value, respect for other cultures, and their extremely easy and successful integration into the Portuguese society. After centuries of co-habitation 6


and mixing, this does strike us as a surprise. Goan culture is deeply rooted in Portugal and we feel a general attraction for orientalism, particularly in food and decoration. The same can be said about the Portuguese culture that is still alive in Goa, in the fado houses, in the way people dress, in the Christian religion, in architecture and in a certain way of living. From this side of the world, our country has good reasons to be proud of the contributions of Goans in all fields of knowledge and science. The remarkable good image of Goans also allows us to aim to a wider contribution to the Portuguesespeaking countries and communities all over the world, as the European Portuguese, like the Goans, have spread to all corners of the world. This phenomenon is referred to as the “Diaspora” (though this word is commonly used to mean the forced scattering of the Jewish families, which included the early Christians, after the destruction of the Temple by the Romans). It is important to promote our regular visits to Goa, Daman and Diu, and of the populations of these territories, or of the Goans of the Diaspora, to Portugal, as it is still not easy for the communities living in Portugal and in India to resume regular contact. Everybody can and should contribute reciprocally to the re-approaching and to mutual development, not only at the level of cultural exchange, but also to make investment and job opportunities available. I can tell you my personal experience. Even though my family and I have a strong connection to Goa, I only felt a true Goenkar when I visited an island and a chappel that once belonged to us. It was on that occasion that I suddenly understood that I belonged to that land and that people. The connection between Portugal and Goa, Daman and Diu is very emotional, and it is not just because they were under Portuguese rule for four and a half centuries. These territories neither have the size, nor the natural riches, of Brazil or Angola, or the wealth of Macao, and yet there are no other territories that were under Portuguese rule and to which we Portuguese feel so connected. In Portuguese History, they signify the courage of the first discoverers and of the Governors and Vice-Roys who followed them, who succeeded to maintain those territories against much stronger opponents. They also mean the effort of Christianisation, through many people, orders and institutions, among which great persons like Saint Francis Xavier, Saint John de Brito, and Saint José Vaz, who are present in the altars of the world and receive the important devotion of believers. The visit of the Portuguese training-ship “Sagres” to Goa in 2010, and the reaction of the local fishermen who approached the ship with cheerful decorations and demanded to be received on board, which the captain gracefully accepted, is a sign of past good memories and present warm contact. The recent visit of the Indian training-ship “INS Tarangini” to Lisbon in 2018, showed the same gentleness of the officers towards the Portuguese. The present relationship between Portugal and India is good and past disputes are now buried. The recent and first visits of a Portuguese Prime Minister to India, and of an Indian Prime Minister to Portugal, which took place in 2017, are the best examples. There is a lot of work still to be done and Goans are the best link between India (and all Indians) and Portugal (and through our country to the European Union and the CPLP). Finally the relationship between Portugal and Goa has stopped being the story of the forbidden love of Dona Paula and Gaspar Dias, and it can now move towards a happy marriage. If God permits, within the next months and years you will witness the recovering of Casa de Goa, Daman and Diu, and the launching of new activities and cultural events. We wish that everybody, with no exception of birth or position in life, feels proud of being or becoming a member of our association and actively contributes to the defence of our purposes. I terminate with one of the most beautiful expressions in Konkani: “That the power of good and the kindness of God remain forever in your hearts, and that through your good hands, may it reach out to many others” – “Boreaponnachi xokti ani Dhonia Devachem boreaponn, tumchea kalizan soddanch tigoun urum ani tumchea borea vavreantlean, tem somestank mellum”. Lisbon, July 2018

Vasco Soares da Veiga Chairman of the Board

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Editorial

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o manifesto eleitoral com o qual a actual Direcção da Casa de Goa se apresentou às eleições de 14 de Abril deste ano, pode ler-se: «A nossa Revista, o site e a página do facebook, são o nosso retrato visível para o exterior. O trabalho já realizado nesta área é muito bom, mas podemos fazer mais. Propomos que a Revista, em concreto, tenha espaços regulares e coleccionáveis, concretamente de Memória, de Reflexão, de Culinária, e de outros assuntos de interesse para os associados. O espaço Memória, por exemplo, permitirá trazer o testemunho real de pessoas e famílias ilustres, goesas ou europeias relacionadas com o antigo Oriente português, de antigos governadores e membros da nobreza e do clero, os quais têm memórias e patrimónios extraordinários cujo conhecimento tem interesse para a nossa instituição. O espaço Reflexão poderá trazer o contributo de goeses ligados às universidades e à Igreja, de elevado valor intelectual». Cumpre-nos agora, uma vez eleitos, tornar efectivas as nossas intenções e dar cumprimento ao que prometemos no referido manifesto. A nossa publicação principal, que por enquanto continuará com a designação de Boletim. Passará a sair mensalmente, por volta do dia 15 de cada mês, e incluirá a matéria relativa ao mês anterior. Manter-se-á em suporte digital, sem prejuízo da articulação de um sistema que permita passar a papel um certo número de exemplares, de venda assegurada. Vamos renovar o grafismo, em ordem a facilitar a impressão. Será composta pelas seguintes secções: i. Mensagem do Presidente, facultativa e destinada a figurar se o Presidente da Direcção desejar dirigir, através da publicação, uma mensagem aos leitores. ii. Editorial, destinado a inserir a Revista no contexto geral das actividades da Casa, permitindo uma melhor colaboração e integração dos sócios na prossecução dos seus objectivos. Será da autoria de um membro da Direcção da Casa, nem sempre o mesmo. iii. Área da actividade da Direcção, incluindo designadamente, o comunicado referente à última sessão realizada. Isto tornará visível o percurso do trabalho directivo, e possibilitará aos associados conferir a fidelidade da Direcção às propostas feitas aos sócios. Facilitará a formulação de sugestões, sempre úteis para a valorização daquele trabalho. iv. Área noticiosa (Aconteceu). v. Agenda (informando das actividades que vão ter lugar). vi. Carta de Goa, relatando o que de mais importante se passou ali no período. vii. Área da memória (ver acima). viii. Área da cooperação, redigida em Inglês, destinada a ajudar quantos desejarem investir em Goa ou em Portugal, sejam residentes em Portugal ou em outros países. ix. Área de opinião, composta por artigos de tese . x. Coleccionável, (inicialmente dedicado à culinária) mas extensível a outras áreas. Vamos tentar também aumentar a publicidade inserida no Boletim, pelo que tencionamos apresentar, na próxima reunião da Direcção, uma proposta de tabela de preços que permita começar essa promoção. Como acima se recordou pretendemos que o Boletim seja o retrato da Casa de Goa visível para o exterior. Mas também um instrumento privilegiado de comunicação com os sócios que permita, com a colaboração de todos, preencher da melhor forma os objectivos da nossa a Associação. Estes são, como todos sabem mas nunca é de mais repetir, a preservação da identidade e da memória das culturas da Índia Portuguesa, o incremento das pesquisas com elas relacionadas, o intercambio com as Associações congéneres, o incremento das deslocações de Portugal aos antigos territórios e vice-versa, bem como o convívio e a diversão dos sócios e dos seus amigos. Não nos pouparemos a esforços para o conseguir e estamos esperançados em alcançar os nossos propósitos. Com a vossa ajuda, certamente o conseguiremos. Manuel Vieira Pinto Membro da Direcção 8


Ilustres

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CRAVEIRO LOPES Apontamentos do Editor / Presidente da Direcção:

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família Craveiro Lopes é das mais ilustres que passaram pela antiga Índia Portuguesa e tinha uma tradição militar. João Carlos Craveiro Lopes nasceu a 16.03.1871, em Lisboa, e faleceu na mesma cidade, em 21.07.1945, sendo filho de Francisco Higino Craveiro Lopes, General de divisão e entre outras funções, 1º Ajudante de Campo e Chefe da Casa Militar de S.M. El-Rei D. Carlos, e de D. Maria Luísa Adelaide Capon. Chegou a General de Brigada e foi Governador-Geral da Índia de 1929 a 1936. Durante a 1ª Guerra Mundial combateu na Flandres e foi feito prisioneiro em La Lys. O seu tio-avô Inácio de Loyola Craveiro Lopes casou em Goa com D. Maria Rita Aires de Magalhães, de uma família de “descendentes” (1). Casou com D. Júlia Clotilde Cristiano Salinas, de quem teve quatro filhos, de entre eles: - D. Alda Luísa Craveiro Lopes, que nasceu a 12.07.1892 e casou com Luís Filipe Carneiro de Sousa e Faro, Coronel de cavalaria, de outra família de “descendentes”. - Francisco Higino Craveiro Lopes, que nasceu em Lisboa, a 12.04.1894, e casou com D. Berta da Costa Ribeiro Arthur. Foi Governador de Damão de 1933 a 1936, ajudante de campo do seu pai, e Encarregado Geral da Índia de 1936 a 1938. Foi eleito Presidente da República de 1951 a 1958, tendo sido elevado a Marechal neste último ano. Veio a falecer em Lisboa, a 2.09.1964. O seu relacionamento com Salazar inicialmente era bom, mas tornou-se frio com o passar do tempo. Recebeu a visita oficial da Rainha Isabel II de Inglaterra, em 1957. O seu filho, João Carlos Craveiro Lopes, foi Coronel de cavalaria, e cavaleiro de obstáculos, tendo representado Portugal em vários concursos internacionais, inclusive os Jogos Olímpicos de Helsínquia em 1952, e de Roma em 1960. Este último teve três filhos, entre eles a autora do artigo que se segue.

Depoimento pessoal: “O meu pai falava muito da Índia Portuguesa, e era com grande curiosidade que nos maravilhávamos com um álbum de fotografias que ainda existe, e que eu associava a uma espécie de conto de fadas passado em terras longínquas, e que não estaria nunca ao meu alcance. Ouvia falar dos rios Zuari e Mandovi, bem como de Ribandar, Reis Magos, Bairros das Fontainhas e Altinho e principalmente do Palácio do Cabo. Nas nossas duas primeiras viagens à Índia, os meus pais e filhos foram connosco. No primeiro ano, chegámos a Goa na véspera de Natal e fomos à Missa do Galo à Igreja de Santa Cruz. Celebrada em Concanim só percebemos três palavras – Cristo, Jesus e Ámen. Ao visitarmos Pangim, o meu pai reconheceu o edifício do Liceu Nacional Afonso Albuquerque que tinha frequentado 60 anos antes, e onde tinha tido um professor chamado Pissurlencar (2). Transmitiu-nos uma imensidão de recordações, chamando-nos a atenção para o Café Central, para a Barbearia Real e para tantas outras coisas que nos passariam despercebidas e que contribuíram fortemente para que nos tivéssemos apaixonado por Goa. Tanto assim é, que a minha filha escolheu Goa para a sua lua-de-mel. Já fui a Goa mais de 10 vezes e quando regresso tenho a certeza que quero voltar, nem que seja só mais uma vez. Numa dessas visitas quis visitar o Raj Bhavan em Dona Paula, anteriormente chamado Palácio do Cabo, residência dos Governadores, onde bisavós, avós, tios, pai e irmãos, bem como tios e primos Sousa e Faro residiram. Acompanhada do meu marido e filhos, apresentei-me como bisneta e neta de dois Governadores. Acontece que o representante do Governo na altura estava em Nova Delhi, e além de terem que se certificar da veracidade da minha informação, era necessária uma autorização para visitarmos o interior do Palácio, a qual só seria possível obter no dia seguinte. Tivemos, no entanto, permissão para visitar os jardins e a Capela de Nossa Sra. do Cabo, onde existe uma linda 9


imagem de Nossa Sra. da Conceição ali deixada pela minha bisavó Júlia. O meu pai contava que o terço era religiosamente rezado diariamente às 19 horas e atrasos não eram admitidos. Aproveitámos para descer até à praia privada e no caminho deparei-me com uma pequena gruta escavada na rocha, com a imagem em posição reclinada de Santa Paula, e por trás uma imagem de Jesus na cruz. Em nossa casa sempre se falou desta Santa como sendo Sta. Paulina. Creio que lhe começaram carinhosamente a chamar Sta. Paulinha e daí ter surgido a Sta. Paulina. Tem inúmeros devotos e consta que atende todos os pedidos se lhe são solicitados com grande fé. Nesse mesmo dia, depois do jantar, recebi no hotel um fax com um convite do Secretário do Governo, para uma visita ao Palácio no dia seguinte e foi com grande alegria que telefonei para Lisboa dizendo ao meu pai que iria viver por umas horas o que me tinha sido relatado durante tantos anos. Foi exactamente como se já lá tivesse vivido também, a descrição feita pela família correspondia ao que estava a presenciar, principalmente a enorme casa de jantar com imensa porcelana chinesa, candelabros, pratas e grandes jarrões com as armas portuguesas e nas traseiras uma correnteza de varandas (verandahs) com vista à direita para o Rio Mandovi, à esquerda para o Zuari, e à frente o Mar Arábico. Curiosamente, deparei-me numa das salas com um quadro a óleo de um tio avô do meu lado materno. À saída foi-nos servido um chá, em lindas chávenas de porcelana e colheres de prata com o escudo português, acompanhado de uns deliciosos pastéis folhados com carne, segundo receita portuguesa, feitos pela incansável Mrs. Fernandes. O bisavô João Carlos era uma pessoa muito intensa e dinâmica. De manhã e depois do almoço saía com a sua farda branca e o indispensável “guarda pó” para o seu local de trabalho, no Palácio do Idalcão em Pangim. Levou a cabo a construção de uma ponte bem como o programa de asfaltamento de todas as estradas da cidade de Pangim e a sua electrificação foi implementada em 1931. A partir daí o cinema chegou a Goa, e exibiu-se o filme “Les Miserables” baseado no romance de Victor Hugo. S. Francisco Xavier é um Santo por quem a nossa família nutre uma enorme devoção. O bisavô João Carlos promoveu durante o seu mandato com D. Teotónio Manuel Vieira de Castro, Arcebispo de Goa e Damão e Patriarca das Índias Orientais, uma exposição sobre este Santo, que incluiu uma exibição numa urna de cristal. Actualmente a urna é exposta em Dezembro, de 10 em 10 anos, e durante 40 dias o Santo, considerado o Apóstolo do Oriente, é venerado por milhares de devotos e numerosos não católicos. Numa das minhas viagens a Goa tive o privilégio de assistir a essa enorme manifestação de fé, em que famílias completas, independentemente do credo religioso, vestem o seu melhor fato, e para prestarem a sua homenagem estão horas em enormes filas sob calor abrasador, sem ultrapassar ninguém, na expectativa de poderem tocar por segundos a urna desta figura universal em toda a Índia, a que chamam “senhor de Goa”. A fila indiana existe mesmo! O meu avô Francisco Higino, contribuiu igualmente para o desenvolvimento da Índia Portuguesa, como por exemplo a construção de inúmeras escolas para o ensino primário. Destaco ainda que efectuou o levantamento aéreo de Goa, Damão e Diu em 1929, e em 1930 o 1º voo de correio aéreo Goa-Bombaim-Goa, no avião monomotor “Marão”. 10


Quando regressou a Portugal com a família, além dos pertences pessoais, apenas trouxe pouco mais do que uma mobília de sala em madeira trabalhada ao estilo indo-português, composta por uma pequena mesa redonda, 2 cadeirões, algumas cadeiras e um canapé. A minha avó Berta achava a mobília demasiado grande para a sala da casa de Lisboa e recorrentemente batia com as pernas nas cadeiras, pelo decidiu vender a mobília. Um senhor muito simpático, grande coleccionador de antiguidades que vivia numa Quinta, acabou por comprar a referida mobília. Pouco antes do meu casamento em 1972, fui com os meus pais visitar a minha futura sogra que vivia numa Quinta perto de Lisboa onde iria decorrer a cerimónia. Ao entrarmos na chamada “sala indiana”, o meu pai reconheceu a mobília como sendo a que os meus avós tinham trazido da Índia. Havia um pequeno boneco representando uma figura indiana, que saía e entrava das costas do canapé, pormenor de que o meu pai se lembrava perfeitamente. Afinal o senhor muito simpático era tio-avô do meu marido! Essa mobília está agora na sala da nossa casa e o boneco continua por colar. Vou voltar a Goa em Janeiro próximo. Ao chegar, o primeiro pensamento é que estamos no fim do mundo, mas rapidamente percebemos que não é assim. Dizem-nos que há tempo para tudo e que nada é impossível na Índia, e nós acreditamos. Tenho saudades do clima, da comida e da praia, numa altura em que é Inverno em Portugal. Recordo-me de há uns anos ter comprado na praia um ananás a uma vendedora de fruta. Tínhamos acabado de tomar o pequeno-almoço e não nos apetecia comê-lo na altura, portanto pedimos-lhe que o guardasse. A vendedora enterrou-o na areia para que conservasse a sua frescura, ficando só a rama de fora. Acontece que nos esquecemos de o trazer quando saímos da praia e para nossa surpresa no dia seguinte estava a vendedora à nossa espera desde as 7h da manhã para nos entregar o ananás, não fosse entretanto alguém passar e comê-lo. Chamava-se Maria. Estranhei o nome porque não tinha ar de goesa. Explicou-me então que tinha sido hindu, mas o seu verdadeiro nome não era adequado, dado ter casado com um católico. Outro episódio que me marcou, foi numa ida ao mercado de Mapusa, onde fiquei fascinada com o que ali se vende. Ao redor existem diversas lojas e entrei numa para ver as sedas. Tantas tonalidades de verdes, azuis e encarnados e até de brancos, deixaram-me confusa e tive dificuldade em me decidir. No entanto tinha a certeza que queria comprar vários metros de uma seda cor de marfim que escolhi por uma amostra. Pedi que embrulhassem o que tinha pedido e paguei. Dando por falta da seda marfim, disseram-me com a maior naturalidade, que não tinham de momento em stock, mas que no dia seguinte iriam entregá-la ao hotel onde estávamos instalados, a mais de uma hora de caminho. E assim foi ! Em Janeiro do próximo ano, irei visitar no Museu Arqueológico de Goa a galeria onde estão retratados os Vice Reis da Índia e os Governadores. Vou uma vez mais e com o maior orgulho prestar a minha homenagem ao meu bisavô e avô, também ali dignamente e merecidamente representados”. Maio 2018

Rosário Craveiro Lopes Pereira Coutinho

Notas: (1) “Descendente” é uma expressão que na Índia se utiliza para identificar um descendente de uma família originária do Portugal europeu, radicada na Índia. (2) Pissurlencar é certamente o célebre Dr. Panduronga Pissurlencar, Director do Arquivo Histórico de Goa e Doutor Honoris Causa da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 11


Gastronomia

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DOCES

XIRÓ

Autora: Ana Barbosa Ingredientes 1 Chávena de sêmola de trigo 1 Chávena de açúcar ½ Chávena manteiga (ghee) 2 ½ Chávena de leite Amêndoas, caju, passas ( a gosto) Cardamomo em pó 3 Cravinhos Corante amarelo

Modo de preparação: Numa caçarola derreter a manteiga, dourar os cajus, amêndoas e por último as passas. Juntar a sêmola de trigo e deixar torrar por 2 ou 3 minutos. Juntar o açúcar mexer bem e de seguida juntar o leite e o corante amarelo ½ colher de café. Ir mexendo em fogo brando até despegar. Juntar o cardamomo em pó. Dispor num prato para bolo com o formato redondo e servir à fatia.

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Os Santos Populares em Goa

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oda a gente em Portugal conhece os Santos Populares: S. João, Santo António e S. Pedro – são as festas em Lisboa, a sardinha assada, o manjerico, aquele início de verão que já nos vai lembrando que a época da praia está para chegar. Muito longe, em Goa, também celebramos estes santos, mas não há cá verão nenhum para nos aquecer. É mesmo só água dos pés à cabeça, pois estamos na altura das monções. Não é possível pescar por isso também sardinha, é complicado. Mas então como celebramos os santos populares? No dia do Santo António que é a primeira festa do mês – 13 de Junho – há uma procissão na capela de Santo António em Pilar, mas também em outras cidades. Por exemplo nas Fontainhas ou em Miramar há ladainhas. Para os que perderam alguma coisa durante o mês de Maio, não há nada como vir ao encontro deste santo, 13 dias antes. Há vários métodos para encontrarmos o que perdemos: 1) oferecer óleo durante 13 dias para deixar sempre acesa a lamparina milagrosa que se encontra na capela de Santo António 2) atar um escapulário à imagem do Santo António 3) Enterrá-lo de pernas para o ar 4) Amarrá-lo a um pau e metê-lo dentro de um poço de pernas para o ar. 5) Amarrá-lo com uma corda que só se tira quando ele encontra o objecto perdido. As pessoas mais desesperadas, têm a tendência a dar uma sova ao Santo António quando acham que ele não lhes dá ouvidos. Eu nunca bati aos meus filhos e não acho isso muito certo, mas crença é crença. O dia de São João, a 24 de Junho, já é menos dramático e é interessante como este santo está relacionado à água – como vos disse, água é o que não falta durante as monções. Uma das tradições é saltar no poço – não, não é ninguém que se quer afogar. Já chega de dramatismos! Longe disso. O poço representa o ventre materno. Segundo a bíblia, Nossa Senhora soube que Santa Elizabete estava grávida e foi visita-la. Quando S. João, ainda no ventre materno, ouviu a sua voz, saltou de alegria. A festa de S. João também está ligado à vinda do genro a casa da sogra. São dadas honras ao genro. A mulher, acabada de casar, traz o marido a casa da mãe e esta oferece ao genro uma cesta cheia de fruta da época como manga, jaca e ananás. Até há uma canção tradicional que se chama “sasumai ponos dadla” que significa, “a minha sogra enviou jaca”. Dentro da cesta também por vezes encontramos doces tradicionais da época como o “patoleo” feito de farinha de arroz, jagra e coco e embrulhado numa folha de bananeira. Do ponto de vista científico, estamos a presenciar uma nova vida que nasce. Assim como S. João está para nascer, também o novo casal está prestes a criar a sua nova família. É também nesta altura que a natureza mais nos dá. Não só a água essencial ao ser humano, mas também o arroz que depende desta água e importante à nossa alimentação. Esta é também a época de fruta variada que não encontramos noutras épocas. Durante o S. João há ainda que presenciar a tradição do “copel” – uma coroa feita de folhas, flores e mesmo fruta. Todos estes elementos são atados em forma de uma coroa. Talvez uma forma de agradecer a natureza pela abundância de flores fruta e hortaliça. A festa termina quando uma pessoa da aldeia, sobe até ao cimo da igreja e coloca a “copel” na cruz da igreja. Esta festa é particularmente bonita na aldeia de Siolim, mas há outras aldeias que também celebram o S. João. E por fim chega o S. Pedro no dia 29 de Junho. Aqui não se amarram santos, mas sim barcos de pesca. É o chamado “sangodd”. 13


S. Pedro é o patrono dos pescadores e portanto normalmente são as aldeias piscatórias que celebram esta festa como Candolim e Ribandar. Depois de amarrados os barcos, normalmente 2 ou 3, criando uma plataforma, adiciona-se um modelo de uma igreja, o sistema de som e um concerto com música variada tem lugar, tudo dentro dos barcos amarrados. O público fica em terra, com guarda-chuva na mão a dançar ao ritmo da música. Este concerto de variedade é precedido de missa na igreja. Em Moçambique, na ilha de Catembe, onde vive uma grande comunidade de goeses, também fazem o mesmo, só que neste caso são traineiras e não barcos ou canoas de pesca. A banda toca dentro do barco e o público também lá vai dentro. Há lugar para todos. Uma coroa de flores é posta no mar e volta-se para a ilha onde depois tudo segue para almoçar, cantar e dançar pela tarde fora. A comida claro, de Goa. Assim é a nossa comunidade dentro e fora de Goa. Onde quer que estejam nunca se deixa de celebrar os Santos Populares, sempre rodeados por água, muita água.

Nalini Elvino de Sousa

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CONVERSAS FRANCAS (Sessão - I) “Será a Orientalidade um Orientalismo?”

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niciou-se a 27 de Fevereiro p.p., no auditório da Casa de Goa, a apresentação da série mensal Conversas Francas, dinamizadas pelos consócios Henrique Machado Jorge e António Faria. Numa primeira fase, a série estender-se-á até Junho p.f. À excepção da primeira Conversa, todas as sessões se realizarão na terceira terça-feira do correspondente mês; funcionarão em molde de tertúlia, ou seja, introdução de cada tópico pelos dinamizadores, seguida de discussão aberta a toda a assistência.

A primeira sessão, que reuniu dezena e meia de participantes activamente contribuintes para o debate, teve por tema: «Será a Goanidade um "Orientalismo"»? Em conformidade, a apresentação e a subsequente discussão centraram-se nestes dois conceitos: «goanidade» e «orientalismo» – aliás, sequencialmente por ordem inversa. No que respeita a «orientalismo», embora com as inevitáveis (e úteis) nuances pessoais, predominou um reconhecimento de que a abordagem que usualmente se identifica como «orientalismo», que Edward Said severamente criticou na sua obra homónima de meados do século passado, de facto foi (e persiste ainda) como agenda de dominação e, também, expressão de indisfarçável menosprezo pelas culturas geoestrategicamente classificadas como «orientais»; não raro, em particular no que respeita às culturas asiáticas, reduzidas a incompreensível estatuto de «religiões», até com apelo a suposto «misticismo oriental» congénito. Na sequência dessa questão foi introduzido o tópico: «Qual a "essência" da goanidade?». A discussão foi prontamente convertida na questão: «Será "identidade goesa" o mesmo que "goanidade"?» (ou vice-versa). Não surpreendemente foi levantada, na continuação da troca de pontos de vista, a situação dos goeses de 2ª geração nascidos em diáspora. Poderá, nessas circunstâncias, falar-se em «identidade goesa», pois que quer «naturalidade» quer efectiva vivência são não goesas?! A aparente convergência de «sentimentos» tendeu para uma noção de «conteúdo de pertença», uma «ligação emocional à condição de "ser goês"». Em contrapartida (ou, talvez mesmo, essencialmente), o direito e dever de afirmar essa específica cultura – não por qualquer tipo de noção de «nacionalismo», aqui completamente despropositada, mas sim de enriquecimento cultural global por via de contribuintes diferenciações culturais (ou mesmo subculturais) locais. Ao que acresceu o perspectivante comentário de que o concani poderá emprestar ao termo «goanidade» uma conotação de ser e estar no tempo. Como corolário desta permuta orientada de pontos de vista sobreveio o tópico: «Poderá subsistir temporalmente uma "goanidade" cuja base territorial (Estado da Índia) cada vez menos nela se reveja?». Se, nessa matéria, não houve clara tendência para consenso, diversos e muitos interessantes foram alguns dos aspectos relevados. Designadamente: se «goanidade e identidade» pelo menos têm valores comuns, a identidade cultural tornase conditio sine qua non para a própria «sustentabilidade». Outra percepção: as minorias tendem a resistir a absorção descaracterizadora. Se não, como compreender o facto de estar presentemente em funcionamento, em Goa, uma Escola de Fado – aparentemente sustentada pela frequência de dezenas de alunos? Em fecho foi, pelos dinamizadores da Conversa, afirmada a intenção de tomar partido de argumentos defendidos no decurso da sessão, bem como de matéria que possa advir da II Conversa Franca, para a redacção de uma comunicação a submeter pela Casa de Goa a Conferência Internacional que terá lugar, em Lisboa, no Outono deste ano. O tema seleccionado para a Conversa de 20 de Março é: «Goanidade – Verso e Anverso de um "Luso-Orientalismo"?»

Henrique Machado Jorge 16


CONVERSAS FRANCAS (Sessão - II) «Goanidade – Anverso e Reverso de um “Luso-Orientalismo”?» Realizou-se a 20 de Março p.p., no auditório da Casa de Goa, a apresentação da segunda das Conversas Francas, dinamizadas pelos consócios Henrique Machado Jorge e António Faria. Em consonância com o espírito de tertúlia que subjaz à organização desta série de «encontros», foi posto à consideração dos participantes um leque de questões associadas ao suposto conceito de «luso-orientalismo». Em primeiro lugar, questionou-se «o que encontrou Portugal em Goa e o que hoje possamos crer ter Portugal legado à Índia», nos cerca de 450 anos de presença portuguesa em terras do Índico. Para modulação da troca de pontos de vista entre dinamizadores e participantes na Conversa foram, à partida, apontados dois aspectos paradigmáticos. Em primeiro lugar, a missão com que o rei D. Manuel mandatou Vasco da Gama centrava-se no estabelecimento de comércio de bens, com particular relevo para as especiarias da Índia, em termos de pronto pagamento; portanto, sem evidentes objectivos de ocupação territorial permanente. Em segundo lugar, quando, em 1526, foi concedido o Foral de Goa pelo rei D. João III, foi honrada a promessa feita em 1510, aquando da conquista de Goa, de «bom tratamento de suas pessoas e guarda de suas fazendas», assim como foram mantidos os privilégios consuetudinários, em particular dos gãocares, que eram chefes das aldeias abrangidas1. Nos contributos emanados do subsequente debate foram fundamentadamente acrescentadas diversas outras matérias, de que importa assinalar pelo menos algumas das mais substantivas. Tendo por quadro referencial o esforço de missionação católica, desde logo a fundação do Colégio de Santa Fé, cuja construção se iniciou em 1541, sendo a primeira instituição desse teor estabelecida em toda a Ásia. A orientação do (depois renomeado) Colégio de São Paulo viria a ser, competente e inspiradoramente, assumida por Francisco Xavier, que lhe impôs um cunho de co-educação, ou seja, a obrigatoriedade de aceitação de jovens de diferentes culturas, de malabares, malaios ou chineses a etíopes e oriundos de Sofala (Moçambique) e Madagascar2. Mas em matéria de educação tampouco se poderá deixar de referir a Escola Médico-Cirúrgica de Goa, fundada em 1842 – como tal, a terceira mais antiga Escola dessa natureza na Ásia, ou seja, após as instituições homólogas, francesa (Pondichéry, 1823) e britânicas (Calcutta & Madras, 1835). Contudo, as origens da Escola de Goa situam-se no início do século XVII, quando o Vice-Rei D. Cristóvão de Sousa Coutinho solicitou à Coroa «dois ou três Mestres para ensinar medicina a muitos naturais, que são mui agudos e com facilidade a aprenderiam»3. Da Escola de Goa provieram figuras extraordinárias, como Francisco Luís Gomes (18291869), notável autor de estudos económicos e distinto parlamentar, Froilano de Melo (1887-1955), assinalado microbiologista e investigador médico, ou o novelista Agostinho Fernandes (1932-2015). Ainda numa outra perspectiva haverá que assinalar o Colégio de São Paulo: contrariando orientações específicas da Sociedade de Jesus, o Colégio introduziu o canto, ou seja, a educação musical, não per se, mas como instrumento essencial à implementação da respectiva abordagem à educação dos meninos que lhe ficavam à guarda. Mais abrangentemente, há que reconhecer o mérito da contribuição musical portuguesa para a cultura goesa, compreendendo vilancicos (género musical muito popular em Portugal nos séculos XIV a XVIII), mandós (desde o século XVI) e mutetes (ainda em pleno uso e usufruto em Goa nos séculos XIX e XX). Assim como o facto de se ter estabelecido a construção local de instrumentos musicais, como bandolins e cavaquinhos. Já em matéria de danças tradicionais, onde inequivocamente se registaram também assinaláveis contributos da cultura portuguesa para a evolução das práticas ancestrais goesas, inexiste ainda um levantamento suficientemente compreensivo das modalidades que continuam a ser praticadas. Outros domínios de interacção e benefício mútuo se poderiam buscar, mas não foi na senda da exaustividade que o debate se desenvolveu. Assim mesmo, caberá referir a marinharia, já que um dos argumentos de peso que o (aliado) rei de Cochim habilidosa-mente usou para convencer Afonso de Albuquerque a empreender 1 Viegas, Valentino (2005). As Políticas Portuguesas na Índia e o Foral de Goa. Lisboa: Livros Horizonte, pg. 49. 2 Bispo, A.A. “Estudos jesuítas e análise de processos performativos e músico-educativos. Colégio de São Paulo - Brasil e Goa.” Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 131/17 (2011:3). http:// www.revista.brasil-europa.eu/131/Goa-Colegio_de_Sao_Paulo.html 3 Verbete Goa Medical College, Wikipedia (EN). Acedido em 24 Março 2018. 17


a conquista de Goa foi, precisamente, o facto de ali haver estaleiros navais onde «estavam prontos a ser utilizados muitos galeões e naus» e «[o]utros encontravam-se em construção [...]»4. E se aí se pode ver luso usufruto, num exemplo diametralmente oposto, o da fruticultura, se pode ver o inverso, ou seja, dação: ainda hoje a manga goesa constitui uma variedade (para alguns, de sabor incomparável...) em tempo introduzida pelos Jesuítas. Assim abordado o «anverso» do suposto conceito de «luso-orientalismo», o debate foi orientado para o «reverso» do mesmo, ou seja, «como poderá a Índia julgar/valorar o que ficou da finda presença portuguesa em Goa, Damão e Diu». De novo num sentido de modulação do debate, buscou suscitar-se uma abordagem pela positiva, ou seja, a renúncia à usual temática de suposto «direito», em particular das diásporas goesas, de procurar influenciar as políticas públicas do Estado de Goa – sem que nessa postura se possa ou deva ver qualquer intuito de negação do legítimo direito de manifestação de opiniões individuais em matérias de interesse público. Foi, aliás, apontado por um participante que, em ampla medida, o conceito de «diáspora goesa» se associa, não à secular saída e fixação de residência permanente de goeses fora do território natal, mas sim à nova situação criada pela cessação da soberania portuguesa na costa ocidental do subcontinente indiano. Ao invés, bem mais frutuoso se afigura tomar nota e analisar as implicações de «episódios» da corrente política externa da Índia que indiciem uma «atitude oficial» globalmente favorável a iniciativas ou comparticipação de goeses administrativamente classificados como «non resident Indians». Nesse sentido, é desde logo desejável (se não mesmo necessário) manter bem presente o que representaram, em matéria de estreitamente de relações bilaterais, a recente (Janeiro 2017) visita do Primeiro Ministro de Portugal à Índia e a posterior passagem por Portugal, em trânsito, do Primeiro Ministro da Índia. A esse referencial diplomático acrescem episódios ainda mais recentes, dos quais dois se considera serem merecedores de reflexão imediata – e de que houve eco no desenrolar desta Conversa. O primeiro foi a celebração do Dia Mundial do Hindi (12 de Março), realizada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sob o Alto Patrocínio da Embaixada da Índia em Portugal e a presença da Embaixadora, que usou da palavra na ocasião. O segundo foi uma sessão organizada pela Comunidade Hindú (16 de Março), onde, na sequência das três palestras constantes do correspondente programa, o Presidente manifestou plena abertura para iniciativas com não membros da Comunidade em matérias de interesse para a generalidade dos naturais da Índia e respectivos descendentes, residentes em Portugal. Do que fica dito transparece a evidente impropriedade da designação «luso-orientalismo»; nem sequer cumpre os requisitos epistemológicos para ser considerada um «conceito». É, sim, apenas um claro e meritório exemplo da interacção de duas culturas, ambas (geograficamente opostas) peninsulares relativamente à dominante massa territorial do Continente Euro-asiático; exemplo esse, ilustrativo dos incessantes cruzamentos provocados pelas sempiternas migrações, conhecidas desde que há registos arqueológicos de vida humana. Nessa linha, que juízo, senão propiciatório, fazer dos indícios – aparentemente, suficientemente sólidos – da presença de povos indo-arianos na região a sul do paralelo do Cabo da Roca, em período inscrito no I milénio a. E. C. (era comum/era cristã)5? A simples possibilidade de, a um contingente populacional agora «amadurecido» pelo tempo – a elite goesa, nomeadamente nas diásporas ocidentais –, ser reconhecida e dada a oportunidade de actuar em intermediação associada ao indispensável esforço de globalização contemporânea da Índia – aliás imposto como factor de equilíbrio regional (leste/sudeste da Ásia) – não seria, por si própria, como que um «fechar de ciclo» civilizacional, plurimilenar? O tema seleccionado para a terceira edição das Conversas Francas, a efectuar em 17 de Abril corrente é: «Ecologia(s), Ética e a “Teia de Vida”».

Henrique Machado Jorge

4 V. ref. 1, acima, pg. 28. 5 Amaral, João Ferreira do (2017). Celtas e Indianos em Portugal. Áreas Etno-Culturais em Portugal no I Milénio a. C. Lisboa: Edições Parténon. 18


CONVERSAS FRANCAS (Sessão - III) «Ecologia(s), Ética e a “Teia de Vida”» Apontamento

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ealizou-se a 17 de Abril p.p., no auditório da Casa de Goa, a apresentação da terceira das Conversas Francas, dinamizadas pelos consócios Henrique Machado Jorge e António Faria. A escolha do tema para esta Conversa Franca teve por base a pertinência e recorrente invocação de «problemas ambientais», designadamente no Estado de Goa. Contudo, procuraram os dinamizadores colocar a discussão num plano, não só menos imediatista, mas sobretudo de tentativa de compreensão dos factores determinantes da actual crise global; esta, representada por uma acumulação, provavelmente não gerível, de detritos, fruto de não menos sustentável consumo de recursos naturais finitos. Nessa perspectiva, foi desde logo lembrada a efectiva limitação prática da capacidade de previsão da evolução no tempo dos fenómenos associados à matéria em análise. Ou seja, o irrealismo da presunção, amplamente espalhada no Ocidente, de que «a seu tempo a Ciência encontrará soluções» para os problemas com que, sucessivamente, se defronta e defrontará a Humanidade. A título de exemplo, foram recordadas previsões recentes de especialistas nacionais de que a seca extrema, que Portugal atravessava tão recentemente quanto finais de Fevereiro p.p., requereria «pelo menos três meses de chuva intensa». Afinal, um único mês (Março), como se sabe até com períodos de interrupção de precipitação, tinham bastado para libertar 80% do território continental da condição de seca. Situações como esta evidenciam quanto é complexo o conjunto de factores intervenientes nas questões ambientais (e não só) e, consequentemente, como a «opinião» de especialistas não raro se limita a ser simplesmente uma educated guess, pouco mais do que isso. Esta óbvia constatação deu, por sua vez, oportunidade a lembrar quanto até a linguagem é incompetente para, portanto uma barreira à, tradução da realidade. A própria Ciência, como processo que efectiva e estruturalmente é, reflecte conhecimento, não raro existente de há muito, ainda que segundo formulações basto diferentes das que se tornaram características das chamadas actuais «abordagem e linguagem científicas». Por outro lado, não é apenas a linguagem que necessita evoluir – se é que tal é possível – para melhor se ajustar a descrições mais ricas e fidedignas da realidade. É necessário reconhecer e actuar em conformidade com o facto de tudo no planeta, do indivíduo à sociedade, ter uma teia de vida – tecida por todos os actores (isto é, aqueles que são determinantes de acção/actuação) à escala global. A consequência imediata deste reconhecimento é a constatação da inevitabilidade de a todo o modelo ecológico estarem subjacentes uma ontologia e uma epistemologia. O que significa que todo o modelo ecológico não é passível de frutuoso tratamento senão for, ab initio, intrinseca-mente transdisciplinar. Ora transdisciplinaridade não é o que está no horizonte de uma Ciência, a ocidental, cuja dinâmica se tornou indissociável de especialização e super-especialização. Foi lembrado o exemplo da questão eutanásia, presentemente objecto de acaloradas discussões na sociedade portuguesa. Por virtude dessa super-especialização vêem-se especialistas a «desautorizar-se» via falta de fundamentado conhecimento de aspectos exteriores ao respectivo domínio de especialização, desse modo deixando o campo livre a opinion makers cujo «generalismo» não raro toca as raias do desconhecimento factual/fenomenológico. Há que reconhecer que sábio (sage) é quem entende a, ou pelo menos é sensível à, diversidade e multiplicidade dos padrões constitutivos do universo. Se essa é uma perspectiva em patente conflito com a corrente superespecialização acima referida, torna-se indispensável e urgente que se ponha ponto final à insubstanciada «crença» na potencial omnisciência da Ciência – reconhecendo-se que esta é uma gramática (ou linguagem), poderosíssima, indispensável e insubstituível, mas apenas uma das gramáticas que permitiram e permitirão no futuro sustentar extensão e densificação do conhecimento humano, sobre nós próprios e o cosmos em que nos inserimos. Sem separação entre «pessoa» e «natureza»; cada um de nós é, simultaneamente, parte e todo da macro-realidade em que estamos imersos. Em especial, há que recorrer à(s) ecologia(s) como ferramenta 19


para sair do particular para o todo. Ferramenta essa que, necessariamente, incorporará também a política como dimensão indispensável à actuação (e concertação) social. Nessa perspectiva torna-se indispensável que o Ocidente reconheça o contributo das culturas da Ásia, com particular relevo para as do subcontinente indiano. O ciclo multimilenar que conduziu da civilização védica às upanishads, estas entendidas como o «fim dos Vedas» e, subsequentemente, às āstikas (escolas ortodoxas), de que o Vedanta é uma das seis variedades mais conhecidas, de há muito puseram à disposição de quem queira aproveitar os frutos de «heróico» esforço filosófico plurimilenar na Índia, conhecimento de que a filosofia grega – e com ela a subsequente civilização ocidental – ficou privada por virtude da axiomática que elegeu como orientadora. Ora o stream filosófico da Índia proporciona uma inimitável congregação de abordagens a complexidade, diversidade e simbiose – factores reconhecidamente indispensáveis para acesso a conhecimento não distorcedor, não hedonista, libertador de muitas das peias cognitivas que afligem o Ocidente. Será esse acervo filosófico suficente per se? Capaz de, por si só, «mudar a Humanidade»? Decididamente, não! Contudo, não há que «mudar de sectarismo», mas sim apostar na congregação de abordagens, na plena consciência de que nenhuma, isoladamente, dará resposta à indispensável compreensão humana da realidade cósmica. Porque o que está em causa é, de novo, um processo necessariamente incremental. Nenhuma abordagem ecológica terá êxito, ou seja sustentabilidade, se não reconhecer que é nesse pluralismo assumido que reside a chave para a mudança do indivíduo e da sociedade, em tandem e sintonia. Abril 2018

Henrique Machado Jorge

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CONVERSAS FRANCAS (Sessão - IV) «Espiritualidade e Religião como Factores Identitários da Cultura Goesa. Até Quando?» Apontamento Realizou-se a 15 de Maio p.p., no auditório da Casa de Goa, a apresentação da quarta das Conversas Francas dinamizadas pelos consócios Henrique Machado Jorge e António Faria. Sendo o tema escolhido para esta Conversa Franca reflexo de considerações tecidas em anteriores sessões dessa série de tertúlias, a sessão foi conduzida sobretudo numa lógica de concatenação de argumentos anteriormente avançados. Para o efeito, o ponto de partida consistiu numa organização de tópicos que se pode delinear nos seguintes termos: Epítome – «A Goa de Afonso de Albuquerque (1453-1515) e de Francisco de Xavier (1506-1552)». Afonso de Albuquerque, guerreiro temível, expoente de mestria na estratégia naval portuguesa (e respectivo, inigualável à época, poder de fogo); simultaneamente, um provedor de justiça cuja memória perdura viva ainda hoje, meio milénio após o seu desaparecimento, não só em Goa como (por exemplo) em Malaca. Francisco de Xavier, como expressão cimeira do misticismo católico que converteu incontáveis milhares e se espraiou, como determinante (e não menos perdurável) referência teísta, por vastíssimo sector geográfico do sudeste asiático. Factores adjuvantes – «Sabedoria, Teísmo, Ciência». Pretender reduzir a presença portuguesa na Costa Ocidental do subcontinente indiano a mera «colonização» é, evidentemente, expressão de apreciação sumamente míope. De facto, tratou-se do encontro de duas culturas; muito distantes entre si mas, não obstante, com afinidades. Disso é referência o frequentemente esquecido factor «tolerância» religiosa, de marcante presença e herança nas duas culturas em confronto. Por um lado, o sufismo de, designadamente, Ibn Arabi (1165 – 1240 E. C.) na Ibéria, que viria a reflectir-se em certos aspectos do comportamento colectivo das lusas gentes – por exemplo, claramente contrastante com uma certa, inata, «violência» castelhana. Por outro, a prática islâmica sunita do III Imperador Mugal, Akbar I (15421605), que reinou de 1556 a 16051. Em Setembro de 1579, Akbar I convidou os Jesuítas a visitar o seu reino e, posteriormente, autorizou-os a nele evangelizar. Essa abertura do Imperador foi manifestação de uma sabedoria ancestral, de facto acumulada ao longo de milénios, cuja expressão última é a espiritualidade das gentes da Índia; por sua vez, determinante de uma aparente «facilidade» de conversão inter-confissões religiosas. Nesse sentido observe-se que, embora o Budismo actualmente represente a opção declarada por apenas 0,08% dos habitantes de Goa (censo de 2011), e nunca tenha tido significativa implantação no território em causa, pode recorrer-se a essa ética transcendental – pois que, estritamente, o Budismo não é uma «religião» – para explicar a citada «facilidade de conversão inter-confissões religiosas», de que a história de Goa é registo patente. Especificamente, para o dharma (lei) do Buda, sabedoria (conhecimento; gnosis) é poder «ver as coisas tal como elas são», isto é, sem mediação (por exemplo, cultural). Qualquer cultura humana, até por via das intrínsecas limitações do respectivo idioma, imprime uma «distorção cognitiva, por redução» sobre a «reconstrução» que essa cultura identifica/titula como «a realidade». Nestas condições, o acto de opção pela prática de uma determinada religião facilmente se poderá inscrever num processo de avaliação de «oportunidades e conveniências» temporais, não só reversível «sem drama», mas, sobretudo, sem entrar em conflito com – logo, forçar a alteração de – valores individualmente perfilhados e praticados como conduta ética pessoal. Serve, sobretudo, como regulador de «comportamento de grupo». Em que medida terá, na segunda metade do segundo milénio E. C. (era cristã/comum), o proselitismo católico (de matriz dominicana e jesuíta) condicionado o processo de progressiva integração das duas culturas, a multissecularmente residente e a ao tempo vindoura a Goa? Dois factores se apresentam, nessa perspectiva, como de primeira importância, especialmente por via da respectiva conjugação: o político e o confessional. Por específica orientação da coroa, Afonso de Albuquerque e respectivos sucessores (governadores e vicereis) – ainda que com alguns lamentáveis incumprimentos sucessórios – não interferiram na ordem social pré-

1 O Império Mogol, Mugal ou Mogul, autodesignado Gurkani, foi um Estado existente entre 1526 e 1857, que chegou a dominar quase todo o subcontinente indiano. 21


existente. Aceitaram o estatutário sistema varna2,3, de quatro classes sociais, sem se «pronunciarem» (actuarem) sobre a quinta categoria: os intocáveis (párias). O preço dessa opção tácita seria, porém, o impedimento da homogenização do território sob o estandarte do Catolicismo4. Já Francisco de Xavier representa, a vários títulos, uma singularidade. Em primeiro lugar, anote-se que o reiterado pedido de D. João III ao Vaticano, de atribuição de missionários para Goa, tinha da parte do monarca como objectivo combater a progressiva degradação de padrões éticos nas gentes lusas ali estacionadas, de que sucessivamente chegavam relatos à coroa. Coube, exactamente por sorteio, ao Jesuíta navarro Francisco de Xavier incumbir-se dessa missão. Contudo, em pelo menos dois aspectos, a sua actuação revelou-se inesperada e exemplar: genuinidade/essência mística e capacidade de organização/administração. O misticismo de Francisco de Xavier revelou-se, sobretudo, por via dos repetidos milagres que realizou e que foram testemunhados por centenas, se não mesmo milhares, de pessoas. Essa capacidade demonstrada (sem exibicionismo) conferiu-lhe um estatuto ímpar, mesmo aos olhos de não-crentes/inconvertíveis. Era respeitado até pelas mais altas autoridades civis, inclusive bem além dos territórios a que o seu incansável proselitismo o conduziu – como o comprovou a presença de altos dignitários, reis incluídos, por ocasião das cerimónias fúnebres celebradas em sua honra. Mas, em matéria de permanência dessa incomparável obra missionária, o aspecto determinante terá porventura sido a visão e o agudo sentido organizativo evidenciados por Francisco de Xavier. Embora as suas estadias em qualquer área de missionação fossem normalmente curtas, frequentemente medidas em semanas (que não meses), nunca abandonava um local de pregação sem deixar instalado um corpo organizado de recém-conversos, que devidamente doutrinava e a quem atribuía a responsabilidade de acompanhamento da nova vivência confessional – para que esta não corresse o risco de se esgotar em vazio gerado por ausência do prócere. Esse espírito de antevisão e concretização tão-pouco se ateve aí. Teria a respectiva expressão maior na direcção do Colégio de São Paulo, onde Francisco de Xavier instituiu a «co-educação». Por disposição regulamentar, por si traçada, o Colégio ficava obrigado a acolher jovens, para instrução e educação eclesiástica, provenientes de toda a área sob a responsabilidade do Padroado de Goa, ou seja, de Madagáscar à China! Aliás, quando num retorno a Goa verificou que essa regra obrigatória não estava a ser respeitada, despediu os filhos de portugueses ali ilegitimamente alojados e procedeu à sua substituição por autóctones das regiões sob missionação. Do que fica anotado pode enfatizar-se que o processo de coalescência, em Goa e territórios afins, das duas culturas em confronto teve, do lado da multissecularmente residente, dois contributos singularmente favoráveis ao desfecho que seria efectiva-mente alcançado: espiritualidade dominante e propensão religiosa não-sectária. Do lado da cultura emergente, à cabeça, o concurso das duas personalidades tutelares, Afonso de Albuquerque e Francisco de Xavier, mas complementadas por inequívoca demonstração de poder tangível: artes de marinharia e ciência natural. É, pois, o contributo «ciência» que resta caracterizar. Para esse efeito, bastou invocar na sessão duas figuras cimeiras da ciência portuguesa e europeia – não menos tutelares, ainda que por razões de foro marcadamente distinto: Garcia de Orta [1501(2) – 1568] e Pedro Nunes (1502 – 1578). Seguem-se breves notas a esse respeito, simplesmente a título de referenciação. Gracia de Orta, judeu sefardita, por profissão tornou-se, conjuntamente, médico, botânico e naturalista. Tendo emigrado para Goa em 1534 – talvez para esconjurar um antecipado perigo decorrente da então crescente preponderância da Inquisição em Portugal – tornar-se-ia um pioneiro de medicina, farmacognósia e etnobotânica tropicais. O mérito maior do excepcional contributo que trouxe à ciência da época foi o de ter substituído o conhecimento escolástico por observação e experimentação no terreno. Disso se tornou testemunho singular a sua opus magnum, «Colóquios dos Simples e Drogas da Índia» (1563). Escrita em português, seria posteriormente traduzida para latim (por Carolus Clusius), tornando-se a obra padrão para toda a Europa então «cientificamente» evoluída. 2 Literalmente, varna significa: tipo, ordem, cor ou classe. 3 Nomeadamente, brâmanes (grupo sacerdotal), xátrias (governantes, administradores, guerreiros), vaixiás (artesãos, mercadores, negociantes e agricultores) e xudras (trabalhadores manuais). 4 Como apontado por um participante, a heterogeneidade do território goês não cessou sequer de se agravar. Note-se que até a fronteira actual de Goa só foi estabelecida em meados do século XVIII, ou seja, após a aquisição das Novas Conquistas (Bardez e Salcete). Hoje, a maioria da população do Estado de Goa fala concani, mas escreve em marati. 22


Pedro Nunes, cristão novo, matemático, cosmógrafo e lente universitário, foi o pioneiro da aplicação da matemática, de que era exímio conhecedor e praticante, à cartografia e à navegação. A razão de ser da sua capacidade criativa residia, sobretudo, na entranhada compreensão que detinha da geometria esférica, o que lhe permitiu abordar com êxito problemas como a determinação do dia mais curto de cada ano ou explicar porque era que um navio que mantivesse um curso de navegação a latitude constante não percorreria a distância mais curta entre os pontos inicial e terminal da viagem, mas sim uma espiral, a chamada «curva loxodrómica». [Aliás, o tratamento matemático desse comportamento só seria alcançado mais tarde, por Leibniz (1646 – 1716), após invenção do conceito de «logaritmo».] Adicionalmente, foi o inventor do nónio, um instrumento de apoio à navegação que deriva a designação do nome (latinizado) do seu inventor. Importa ainda anotar, pela relevância de que o facto se reveste, que Pedro Nunes escreveu em latim, português e espanhol e leccionou, academicamente, matérias tão variadas como Moral, Filosofia, Lógica e Metafísica. Pura erudição, que não diletantismo (avant la lettre). Em suma, procurou evidenciar-se quanto o cruzamento de duas culturas em terras da Índia Ocidental, a anfitriã e uma adveniente, não obstante abissal diferença de dimensão entre ambas (logo, inerente capacidade), efectivamente se aproximou de um encontro de «iguais», não regido pela «força bruta», mas sim por heurísticas distintas – tendo-se conseguido alcançar apreciável grau de integração, ainda que à escala de fenómeno essencialmente «local». Poderá, ainda, ser «globalizado»? *** Foi, desde o lançamento da série Conversas Francas, apontado que cada sessão teria como propósito levantar questões, debatê-las, suscitar contribuições (tão diversificadas quanto viável), mas não tentar estabelecer «respostas», pelo menos as susceptíveis de ser lidas como tentativa de «resolução» das interrogações formuladas. Mesmo sob essa reserva, haverá aqui que reconhecer que o que acima ficou escrito, e se procurou reflicta o essencial das intervenções feitas no decurso da sessão, não aborda a parte interrogativa do tema em debate: «Até Quando?». Resta deixar uma pista. A quinta e última Conversa Franca, que se realizará a 19 de Junho do ano corrente, terá como tema: «Goa como Ponte Virtual entre Commonwealth e Lusofonia?». A bom entendedor... Maio 2018

Henrique Machado Jorge

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CONVERSAS FRANCAS – (Sessão - V) «Goa como Ponte Virtual entre Commonwealth e Lusofonia?» Apontamento

R

ealizou-se a 19 de Junho p.p., no auditório da Casa de Goa, a apresentação da quinta e última das Conversas Francas dinamizadas pelos consócios Henrique Machado Jorge e António Faria. Das anteriores sessões, três foram dedicadas ao tema Goanidade, tratado sob distintas perspectivas, e uma à abrangente questão Ecologia no mundo actual. A quinta Conversa Franca, alternativamente às anteriores, foi estruturada com uma proposição de partida e um subsequente conjunto de propostas de medidas, submetidas aos participantes para apreciação e debate. Proposição inicial A Goanidade ou identidade goesa é o singular produto histórico da conjugação de duas culturas – a portuguesa, dominantemente na respectiva configuração ‘séculos XV a XVII’; a matriz cultural da costa oeste do subcontinente indiano, ela própria, de facto, um complexo multiculturalismo constituído ao longo de milénios. Diáspora goesa, fundamentadamente uma realidade, é uma «criação» que ganha autonomia em 1961, com a «libertação» dos territórios à data ainda sob domínio colonial português. Graças aos traços distintivos da Goanidade – a «tranquilidade na agitação» (vulgo, comportamento «sossegado») – as diásporas goesas distinguiram-se colectivamente (e continuam a fazê-lo) pela sua «tranquila» e eficaz inserção nas sociedades de acolhimento. Contudo, essa mesma característica simultaneamente acentua o risco de diluição a prazo, ou seja, a evanescência da própria Goanidade. Como evitar esse risco que, a consumar-se, objectivamente representaria um empobrecimento à escala global – como sempre acontece quando qualquer cultura se desvanece na penumbra da História – é a questão que esta Conversa Franca se propôs debater. Implicações de factores de escala Passando à pormenorização, o primeiro aspecto a considerar é o que se poderia apelidar de sheer numbers: a estimativa corrente de que haja cerca de 60 mil goeses a residir em Portugal coloca, quantitativamente, este contingente de portugueses mesmo abaixo do grupo estrangeiro mais numeroso (v. Quadro abaixo). Sabendose que a deslocalização de goeses para Portugal e, subsequentemente, destas paragens para outros países europeus teve o seu início, em contingentes quantitativamente significativos, no século XVIII, aumentando apreciavelmente no século XIX; considerando-se que a emigração de Goa para Reino Unido, América do Norte e Oceania (Austrália e Nova Zelândia), se acentuou no século XX; possivelmente estar-se-á a falar de contingentes proporcionalmente modestos para cada um dos destinos mencionados, mas que, congregados, poderão alcançar valores relevantes em matéria de impacte colectivo. A inferência a extrair imediatamente do que acaba de se expor é a suma utilidade de se conhecerem valores fidedignos para as quotas mencionadas, pois que as estimativas apontadas poderão ser até basto deficientes. População estrangeira residente em Portugal Ano de 2017 (dados actualizados a 2018-06-29) Unidade: milhar de indivíduos Brasil Cabo Verde Ucrânia Roménia China Reino Unido Angola França

83,0 34,7 32,4 30,8 22,7 22,4 16,8 15,3

Espanha S. Tomé e Príncipe Índia Nepal Moldávia ....

12,5 8,5 7,9 7,4 5,2

Total geral

416,7 24


Uma segunda interrogação (que não inferência) é a seguinte: em que medida a existência de algo equiparável a uma Federação de Associações das Diásporas Goesas poderia ser uma factor de afirmação, vivificação e extensão no tempo da Goanidade, enquanto cultura local-plural? No decurso da Conferência Internacional «Desenvolvimento Sustentado de Goa no Século XXI», Maio 2017, o mentor do internacionalmente celebrado Dia de Goa, René Barreto, propôs essa possibilidade, ou seja, a criação de uma Federação. Colocada esta questão à assistência no decurso desta Conversa Franca, as opiniões expressas aparentemente convergiram em dois pontos: (i) a declaração de René Barreto deve ser tomada como espontânea, pelo que por ora tem de ser interpretada apenas como visão pessoal; (ii) a factibilidade de uma tal Federação só poderá ser estabelecida (ou recusada) após apropriado processo de consulta às existentes Associações de Goeses, questão relativamente à qual supostamente nada foi feito até agora. Factores conjunturais A presente crise, suscitada pela Administração americana, em matéria de comércio internacional, está a ter efeitos inesperados. Um merece registo no presente contexto. Contactos de alto nível União IndianaUnião Europeia foram suspensos em 2013, por as partes terem concluído que as divergências existentes não permitiam vislumbrar possibilidade de futuro acordo, logo não havia razão bastante para manter um diálogo activo. As conversações foram, contudo, recentemente retomadas. Este é um facto que importa, pois, ressalvar, por motivo da sua intrínseca importância e previsíveis implicações. Um outro aspecto a considerar: ao celebrar 22 anos de existência, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na respectiva XII Cimeira (Ilha do Sal, Cabo Verde – 17, 18 Julho 2018), segundo comunicado oficial acolheu, sob o estatuto de Observador Associado, oito países e uma organização regional: Grão-Ducado de Luxemburgo, Principado de Andorra, Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, República da Argentina, República da Sérvia, República do Chile, República Francesa, República Italiana, e Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). Face à diversidade destas candidaturas, por que não inquirir: não seria do interesse da União Indiana buscar estatuto similar? Duas razões se podem apresentar como justificação plausível para esse efeito: (i) a residência plurissecular de cidadãos da Índia e de goeses em Moçambique; (ii) a concomitante facilitação, por essa via, do acesso da Índia a Angola, assim estendendo presença pelas economias de maior potencial da África meridional – pois que também a presença na República da África do Sul tem já pelo menos um par de séculos, a uma escala social e economicamente muito significativa. Em perspectiva mutatis mutandis, valerá ainda a pena recordar palavras proferidas pelo presidente da TAP, Miguel Frasquilho, em entrevista ao Jornal Económico (12 Junho 2018), acerca do projecto de reforço das ligações aéreas entre a China e Portugal. Escreveram os entrevistadores que «Portugal é visto, assim, como uma ponte, uma ligação para o mundo da lusofonia, por parte da China, que tem interesses em diversos países de língua oficial portuguesa». E citam Frasquilho nos seguintes termos: «Há uma relação muito forte com Angola, com Moçambique. Mesmo em países com uma dimensão mais pequena como a Guiné Bissau e Cabo Verde [;] e há agora uma relação que se está a iniciar com São Tomé. Penso que a República Popular da China não só tem interesse nisso como percebeu [que] o papel de Portugal pode ser fundamental nesta ligação [...] Não há nenhum país que tenha a relação com a comunidade dos países de língua portuguesa como Portugal [...] a República Popular da China percebeu isso e é também um incentivador desta relação que é importante para as duas partes. E para os próprios países de língua portuguesa [...]». É justo registar que, tão-pouco, o Estado de Goa é alheio ao reconhecimento da importância e utilidade de relações culturais com a Lusofonia. Assim o atestam realizações relativamente recentes, como o International Film Festival ou o Serendipity Festival. Ponte ou «caminho do meio»? 25


Ao «celebrar-se» a Goanidade haverá que ter como postulado que, per se, não é a memória da cultura portuguesa em terras do Oriente que se «exalta», mas sim que se homenageia um património comum à Índia e a Portugal, isto é, uma singular «miscibilidade» inter-cultural, que deveria ser apreciada como património da humanidade – muito para além da miopia histórica de quem prefere sobrepor incidentes temporalmente localizados à visão de grandes tendências inter-temporais. Por isso há que ter, desde logo, bem presente que os envolvimentos que a temática da Goanidade possa propiciar, terão de se inscrever no seio de uma relação triangular, delimitada por Índia, Portugal e as diásporas goesas. O objectivo será robustecer o conceito de Goa Overseas, onde todas as diásporas goesas, não apenas a residente em Portugal, tenham lugar e se revejam nesse conceito.

Um evidente corolário desta asserção é que nenhuma das diásporas goesas, seja qual for o respectivo país de acolhimento, poderá albergar a pretensão de reclamar-se direito próprio a envolver-se em matérias do foro soberano da governação do Estado de Goa, mesmo que seja em nome de uma herança intangível, aliás indesmentível. Assim sendo, o objectivo a perseguir é fomentar a conversão da Goanidade em «activo», legítima e louvavelmente beneficiador de todas as partes envolvidas. Quando se fala na facilitação da entrada da Índia em áreas lusófonas africanas (v. referência acima), de facto do que se trata é de apelar a uma função pontifex (construtor de pontes). Ou seja, à rede (in- ou semi- formal) de residents abroad e demais partes interessadas caberia a iniciativa de aplicar capacidades próprias para o despiste de possibilidades interessantes e a construção de contactos prévios potenciadores de iniciativas promissoras, ainda que estas coubessem ao foro governamental, passando pois a ser da exclusiva competência das autoridades em causa. Nesta medida, não haveria lugar a formas de conluio mas apenas a emergência de iniciativas afins a grass roots movements. No que respeita à viabilidade teórica deste tipo de processos, talvez baste recordar a estimativa de que vivem, no Reino Unido, cerca de 67 mil goeses (nativos e descendentes), muitos dos quais portadores de passaporte português. Mas se a erecção de «pontes» é virtualmente uma abordagem muito interessante, tão-pouco é uma solução tipo one size fits all. É aí que poderá configurar-se a possibilidade de «caminho do meio». Tome-se como referência a questão da Ecologia no mundo actual, já abordada em anterior Conversa Franca, conforme menção acima. Como discutido nessa ocasião, trata-se efectivamente de conflitos latentes, nomeadamente casos – e não são raros – de oposição de culturas locais a fenómenos globais, isto é, de disfuncionalidades das existentes modalidades de gestão, a escala macro, de interesses colectivos. Na ausência de mecanismos efectivos de governância global, resta a solidariedade, designadamente por via de partilha de conhecimento e experiências inter-culturas, sem reconhecer fronteiras, históricas ou artificiais, entre nações. Por isso, só a solidariedade, fruto da co-responsabilidade inter-cultural, poderá prover soluções propiciadoras de posteriores arranjos voluntários mais abrangentes; esses sim, qualificáveis como regionais ou internacionais. A título de ilustração, assinale-se a possibilidade da vasta experiência australiana em matérias da maior 26


importância para a sustentabilidade das sociedades humanas, como a preservação de solos ou a garantia de persistente disponibilidade de água potável para uso urbano e rural, ser adaptada e transmitida a zonas do subcontinente indiano onde esses problemas assumem intensidade maior – o Estado de Goa incluído também, naturalmente. Uma abordagem desta índole inevitavelmente conquistaria o backing das administrações estaduais e da União, por se configurar como expressão do empenhamento de residents abroad na concretização de soluções para problemas de dimensão maior na Índia. Em termos processuais, uma Federação de Associações de Diásporas Goesas, se existente, seria naturalmente instrumental para «dar corpo» a «uniões de boas vontades», inter alia, facilitando contactos intra-Goa Overseas, por exemplo, entre «goeses» residentes no Reino Unido e na Oceania. E por se mencionar o Reino Unido: É, por ora, imprevisível o desfecho das negociações Brexit. Assim mesmo, no referido hipotético quadro federativo seria porventura mais fácil acudir, se a ruptura vier a consumar-se, a necessidades, profissionais ou de outra índole que se inscrevessem no foro da União Europeia, de portugueses de raiz goesa. Em suma, só uma lógica de benefícios mútuos, envolvendo as diásporas goesas, as respectivas nações hospedeiras, a Índia e Portugal – naturalmente em frentes de ataque fraccionadas, devidamente delimitadas – afastará o conceito de Goanidade dos arcanos de decadência do saudosismo, para o converter em activo determinante de valiosos contributos para o welfare, em sedes diversificadas. Nisso se reconhecerá como a Goanidade efectivamente é uma narrativa polivalente. Remate A V Conversa Franca buscou ouvir «outras» opiniões. Não cabe, aqui, extrair conclusões. Nem tão-pouco o texto que precede é um relato fiel do debate que teve lugar, a 19 de Junho, no auditório da Casa de Goa. Este é, sobretudo, um non paper, de cujo teor os sócios e os órgãos sociais da Associação farão o uso que vejam apropriado. Assim mesmo, consigna-se, aqui, uma sugestão final. A Goanidade realmente constitui o epítome da multiculturalidade portuguesa. Sobre as actuais gerações cabe uma inalienável responsabilidade de defender esse património comum – onde, aliás, não cabe nem patriotismo nem, muito menos, ‘patrioteirismo’. Se quisermos manter a coesão de uma referencial «identidade goesa», um passo imprescindível é, para os mais jovens, a visita ao «berço de antanho» – para que sintam e/ou afiram em que medida a essência, o indizível local ainda permanece no seu make-up intangível. Essa, crê-se, será a via para despertar (ou robustecer) o sentimento de pertença, sem o qual a Goanidade não tem razão de ser e, consequentemente, não sobreviverá a prazo.

Henrique Machado Jorge

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THE ZAGOR AT CACRÁ Leela, my most trusted domestic helper for two decades, had always been extending an invitation to us to witness the Zagor/Jagor at her village, Cacrá. It is a fisher folk hamlet located on the banks of the river Zuari, on the west coast of Tiswadi. Above the village is a hillock where lies the University of Goa The Zagor at Cacrá is celebrated on the first Sunday of May and coincides with the feast of the Church of the village of Santa Cruz. My skilled helper Leela had invited us for dinner at 9 p.m. We were there on the dot of time. We relished her preparations of shell fish, of fish curry with local rice and the dessert of coconut and jaggery .As we entered the small but dirt free house, we saw on the wall a small wooden altar with the images of Crucified Christ, of Our Lady, of Saint Francis Xavier and some other saints which I could not identify. We were astonished to spot this. Leela explained that her father would always pray near the altar. When I reminded her that they had already been reconverted, she said “ Baí , God is one . We pray to all the gods on the altar and also to our gods”. Although they had been reconverted they have never forgotten their catholic tradition and continue till date to pray to the catholic saints that their ancestors had treasured. Leela and her ancestors belong to the Gavdda Reconverted Community. She would often narrate to me how, her father ,although a reconvert, would, at all times, participate in the Catholic Church rituals be it processions, Holy Week ceremonies, Ladainhas, funerals, Feast of Siridão Church, attired in the vestments of the Confrade .. Jagor /zagor means awakening. The word jagor comes from Jagar which is derived from Sanskrit. It means vigil or wakefulness. All the participants and the villagers stay awake through the night to worship gods, Spirits, ancestors who protect the village. Zagor is not a Portuguese invention .It was being celebrated much before the arrival of the Portuguese. The Goan historian, Pandurang Pissurlenkar. describes Jagor as “a Hindu theatre which is usually performed in certain religious festivities in Goa” Historian Teotónio de Souza in Medieval Goa reaffirms that the Zagor was being celebrated prior to the arrival of the Portuguese “ It was in the temple premises that children were educated and where adults organized their cultural activities , particularly their Zagor or dramatic performances” But after the arrival of the Portuguese there were periods of long silence about this popular Folk Festival The first time one finds written evidence of Zagor ceremonies in the colonial period is in the Foral of Salcete of 1635. The Foral of Salcete is a list of taxes for the southern province of Salcete . “ Pa {ra} se fazerem dous autos que se fazem de noite a que se chama zagor en todo o ano pagavã doze tangas brancas There are other references to this term Zagor by Jesuit missionaries , when they started the compilation of Vocabulário das linguas canarins The Church .condemned and persecuted the performers of Zagor . They were severely advised to desist from barbaric acts being held through the night. Rigorous punishments were imposed on those who participated in these nocturnal celebrations. How did Zagor survive in spite of rigorous prohibitions and persecutions? Today it is a brilliant exhibition of talents of folk dances, music and theater. The Puranas , which were epic poems written in Sanskrit, narrated facts of mythological nature related to Gods , to national heroes , information related to the creation of the world and its destruction and renovation , of the universal deluge , of genealogy and life of gods , etc . The Puranas also included epics like the Mahabarath and Ramayana. From very ancient times the Puranas were read at various occasions and places. They were read by people who could not only read and sing in verse form but could also explain to the gatherings the message of the verses. The message was to indoctrinate moral, religious and social virtues to 28


the population. Father Thomas Stephen, a British Jesuit Missionary drafted in 1616 The Kristapurana in the same style of the Puranas , i.e. in verse form and using a mix of local languages Konkani and Marathi , so that native population could assimilate the teachings of Christ and convert to Christianity .The efforts of the missionaries to convert the local population were ingenious. They replaced the invocations of the Hindu Trinity to those of the Catholic Trinity and Catholic Saints. All ideas of the Hindu religion were replaced by Catholic ideas. They targeted the tribal groups of Gavdda of Goa whose living conditions were very poor and by mid sixteen century the Jesuit missionaries had. converted a large number of the tribal people to Catholicism. The Gavddas are aborigines of Goa and are supposed to have migrated to Goa although one cannot find the exact time of this migration. They are basically agriculturists while some work in the salt industry, and are known as Mitt Gauddas . As Henn Alexander ,.in his book Gods and Saints in Goa , Local religion and Cultural Diversity explains that this substitution of ideas from one religion to another “helped to make the Zagor a regular part of the Church festivals that were celebrated in honor of local saints.” Later in the early twentieth century, Hindu activists were successful in reconverting a large number of the catholic Gavddas back to Hinduism Today, we have the Gauddas divided in three groups : the Hindu Gaudda who never converted , the Catholic Gaudda who converted in the sixteen century and follow Christianity till date and the Nava-Hindu Gaudda whose ancestors were converted to Christianity in the past but converted back to Hinduism in early twenty century . The celebration of Zagor was vital for both the Gaude groups, the Catholic and the Hindus. The celebrations were held clandestinely at night at hidden places. The Zagor /Jagor had a second revival in the mid seventeenth century. There was a change in the Government of Portugal. Marquês de Pombal (1699-1782) a Portuguese diplomat, Secretary of Foreign Affairs acquired immense political authority. He used it to obtain permission in 1733, from Pope Clement XIV to banish the Jesuits from Portugal and also from its colonies. This resulted in changing the religious climate in Goa, which was now liberal, and therefore there were no conversions and the Hindus were allowed to practice their religion freely. Zagor also continued its existence due to political events that took place in Goa .The New Conquests or the provinces which were never exposed to religious suppression were integrated to form a part of Goa : Pernem , Bicholim, Satari, Ponda Quepem , Sanguem and Canácona were annexed by 1788. These newly annexed Talukas, known as Novas Conquistas, or New Conquests, were largely inhabited by Hindus So from 1788 ,Portugal ruled from Sawantwadi in the North to Karwar in the South . The annexation of New Conquests strengthened the practice of Hinduism in Goa as Hindus migrated from New Conquests to Old Conquests and built temples and shrines dedicated to Hindu Gods and goddesses. Consequently, Zagor continued to be celebrated in Goa albeit the firm conflict with the rulers . WE have also to take into account that Goan Catholics in the seventeenth century migrated in search of jobs They travelled to Mumbai, to British Colonies in East Africa These factors namely, the annexation of the New Conquests and the emigration of Hindus to Old Conquests and the massive migration of Catholic Goans resulted in change of demography of religions in Goa .Goa was witnessing a return to Hinduism .In the early XX century, the campaign of the Church intensified. The Police and the Church worked in unison to wipe away the celebrations of Zagor The Gaudda s from Tiswadi and Salcete villages offered resistance to this new conflicting movement of the Church and continued to celebrate the Zagor. Permission from the Portuguese authorities to stage the folk play was a must So the Gaudda community avoided punishment from the Portuguese Police and the Church by asking for permissions and staging the folk play which was in konkani , a language not understood by the police who would be sitting to witness the folk play . In 1917, there was a very strong campaign in the journal kesari published by Tilak. The aim of the campaign was to dislocate to Goa and to conduct a ceremony of Suddhi or purification. Various rituals of purification were celebrated, new Hindu names were given and about 8000 Hindu Gaudas were reconverted the philosophy behind the re conversion is “ whatever 29


happens later, wipes out what happened earlier”. The re- conversion opened the doors for involvement in the Hindu rituals and feasts. Those who never converted did not basically accept the reconverts. As the dinner was over, Leela explained that the rehearsals for the Zagor start a month before. They are conducted after the performers return from a hard day’s work. They believe that participation is a religious duty. In the morning, the catholic toddy tappers from Cacrá sing a short prayer in Latin near the cross of the village which is known as Ladainha . It is an invocation to God the Father, God the Son and the Holy Spirit, asking Them to have mercy on the people.: Kyrie eleison Christie eleison Kyrie eleison (2) Christe , audi nos Christe exaudi nos (2) Miserere nobis Pater de Coelis Deus Miserere nobis Fili Reemptor mundi Deos Miserere nobis ……………. And it continues The Cross of the village is beautifully decorated with flowers and candles which are kept burning throughout the singing. Traditionally, at the end of every ceremony near the thousands of crosses, which are scattered in the Goan landscape, the singers are offered a glass of feni and boiled peas. At Cacra, it is so interesting to learn that the protector of the Cross is the main Hindu family of the village, the Zolmi. So it is the duty of this family to offer feni and boiled peas to the tappers or render as they are known in konkani WE were moving towards the Maand , where the Jagor was going to be celebrated. Surya Gauda , in “Silent Goa”, affirms that the Maand existed in Goa for more than 5000 years The Maand is a part of the life of the tribal community not only in Goa but in all the tribal communities of India “The Zagor Maand deals with the rituals and traditional dances to please the Spirits and supernatural forces that protect life and property” Before any performance at the Maand , an oil lamp is lit , betel nut is offered to the Supreme Power . No images of idols nor of deities are placed here, according to Surya Gaudda The Nava –Hindus of Cacra , participate in making and erecting a pole decorated with tulsi leaves near the Maand, a couple of days before the Zagor . They also build a canopy or mattou that covers the Maand . This canopy is profusely decorated with local flowers and lights. The Maand is divided into two parts. The front, where the musicians, the performers and the audience sit. In the back stage area, the performers dress and get their faces painted by special artists. We cannot forget the very loud speaker that is placed in the Maand The Maand was already occupied by locals, by neighbors, by relatives and by friends who had come, like us, to enjoy this unique folk play By 10 p.m the crowd swelled Everyone sat around the Maand, facing the stage .One and all were awaiting for the arrival of the procession which would bring the sacred oil lamp, the musical instruments the dhol and the ghumat, the jhãnj, the actors who would participate in the play ,the head gear of the main character of the Jagor , known as Goraser/ 30


Gorasher . The sacred oil lamp was placed in the center part of the Maand . I asked one of the villagers as to why do they always celebrate the Jagor at night? To make certain that the gods and the Spirits that guard the rural community will wake up through the night, once a year, and safe guard the village throughout the year, he said in konkani - And what happens if you do not celebrate Jagor for one year? -Our village will be flooded by salt water and our crops will be destroyed. ON the day of the Jagor, the performers do not eat non-vegetarian food in order to maintain purity for the rituals that they would be performing that night. . The ritual began with the lighting of the Sacred Oil Lamp, which had been placed in the middle of the Maand A coconut and a betel leaf were placed respectfully in the Maand. Later, only local flowers were offered and incense was burnt. After this initial ceremony, each musician who was going to play the musical instrument picked up a flower from the Maand and placed it behind his earlobe. The loud beating of the Dhol, announced that the Namaan was going to start. This invocation service lasted for approximately one hour It began by invoking the Holy Trinity Poilem noman Deva Bapak ( Hail God ,the father ) Dusrem noman Deva Putak , (Hail God, the Son ) Tisrem noman Deva Spirit Santak ( Hail God the Spirit ) Sogle Dev ekuch re ( All three are the same God ) Khurisa Jesu , Noman Noman ( Jesus on the Cross , we praise you ) Our Mother , loving Mother The Holy Church Jesus on the Cross and His twelve apostles And it continued praising Jesus on the Cross,. , to the Teacher Jesus etc ‌.. Every invocation was repeated by the audience and through out the musical instruments were softly accompanying the singers. IN the second part of the Nomana ceremony they sing invocations to the catholic saints Sanjão( st John) , Sanmigelu,( saint Michael )Bom Jesu,( the Good Jesus ) Santanton ( saint Anthony),Jezu Nodre ( Jesus Nazaren) Santandre( saint Andrew) Siridão Chapel which is dedicated and to many many saints of the Catholic Church. After each invocation there was a repetition by the people. The reconverted Gaude community did not forget the religion of their ancestors and therefore they pay homage to the catholic Church and to Jesus Christ , and the Saints of the Catholic Church , to Our lady , the Mother of Jesus . The language they use is Konkani interspersed with Portuguese words . In the second part of the Namaan, the invocations were dedicated to gods and goddesses of the Hindu Pantheon. The Namaan ended by asking gods to forgive the gathering if they had missed the names of any gods or deities People were restless, as they wanted the entertainment part of the Jagor to be initiated. The Master of Ceremonies, the Maandkari, struck a huge drum and the dancers and the actors entered the stage. There is no content to this Folk Play. Each one of the characters represented various occupations of Goa. They were men and boys who were dressed stunningly according to the part he played and the make up on the face suited the role. The washer man (modvoll )the basket weavers , the spice vendor, the barber (mahlo) the milkman (govli) . baker ( podder ) , the flower sellers , the fisherman, the potter (khumbar) the mahars , the toddy tapper ( render). Besides the traditional occupations, the actors also portrayed local politicians, tax collectors, Roadside Romeos, and political events. There were duets sung on the themes of marital discord, on inappropriate relationship, on students who waste their time flirting, etc. Each person dressed the costume of the personality that he was representing. They sang, they danced, they narrated, they criticized the politicians, the landlords and the audience was in peals of laughter. Sometimes the person who was criticized on the stage, gave a suitable reply but in a vulgar language. 31


The performers are always male, although they may represent feminine characters. Today, to follow modern trends, Jagor artists also enact dances and songs of Bollywood films. The Goraser, the most important character all the way through the play, had various roles besides wearing his colorful headgear; He was a clown teasing the girls who enacted like the flower sellers, he was a nasty man as he played tricks with the some of the actors on the stage He teased girls who arrived on the scene dressed in western outfits and gorgeous goggles, only to be reprimanded by the brothers of the girls and throughout his head gear would be swinging according to the movements of his head The elaborate headgear that he had worn was made of bamboo and decorated with colorful paper flowers . Two very important celebrities of the night were the Tax Collector and the Guardian of the Village. The whole time, they walked in the Maand on logs of wood about two feet in height which were tied to their legs by a rope made of cloth. The height was to put across that they were above the common people. The night was ebbing and slowly the dawn was rising .It was time for the Jagor to come to an end The final Noman hymns had to be sung invoking all the gods of the local village of Cacra , Jesus born in Bethlem , to the millions of gods living in India and asking for forgiveness if any one had been forgotten …. The crowd started dispersing motorbikes and scooters rumbling …..people whistling , humming and singing on their way home …………

Celina de Vieira Velho e Almeida Dhol is a large a large wooden drum with deep sound and played with a stick Jhãnj brass cymbals Nomaan/noman /nomana lyrical hymns which pay homage to gods and spirits Ghumat /ghumot a small earthen drum played by hand Maand /mand a sort of a stage where the performers act Gaudda /gaude /gauda a tribal community of Goa Tulsi a plant sacred to the Hindus .It also has immense medicinal value betel nut is the fruit of areca palm which is grown largely in Goa jaggery is a type of unrefined sugar made from sugarcane or the sap of the coconut palm Mitt salt Baí madam Feni a drink made of the sap of the coconut palm. It can also be made of juice of cashew apple

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António Anastásio Bruto da Costa UM HOMEM DE PRINCÍPIOS

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m Goa, António Anastásio Bruto da Costa, gozava a fama de ser brilhante advogado, mas eu desconhecia os seus escritos, apesar de ter dirigido durante pouco tempo o jornal O Ultramar. Todavia, como qualquer jovem goês, minimamente informado, ouvi uma das muitas versões que corriam acerca de um episódio de sua vida, ao qual mais adiante referirei. Era pai do saudoso presidente da Casa de Goa, Prof. Doutor Engenheiro Alfredo Bruto da Costa, que no dia onze deste mês teve uma justa e saudosa homenagem nesta Casa. Vou fazer a minha palestra apenas com base nos discursos, artigos, cartas e defesas forenses seleccionados e apresentados em livro pelo seu filho Dr. Mário Bruto da Costa, com o título Goa: a terceira corrente. Católico praticante, nasceu em Goa, na aldeia de Candolim, a 9 de Agosto de 1902. É sabido que existem milhentas formas de ler uma obra, cada leitor privilegia as matérias que mais lhe tocam. Não fujo a essa regra. Nesta interessante colectânea, cuja leitura recomendo vivamente, os causídicos podem-se deliciar com a sabedoria e assertividade da argumentação jurídica revelada e também sobre o papel e a nobre missão que devem desempenhar na sociedade; os tratadistas com oportunas citações de leis, estudos e convenções nacionais e internacionais; os magistrados com denúncia de corrupção nas mais altas esferas de administração pública; o comum dos leitores com informações sobre outros goeses proeminentes que também lutaram pela emancipação de sua terra; os historiadores com o conhecimento e o pulsar do modus vivendi de um determinado período histórico; os linguistas com a beleza e sólida erudição revelada, aliada a um elegante vocabulário vernáculo; e os especialistas em outras áreas do saber podem achar matéria enriquecedora para o objecto de sua pesquisa. Da minha parte, vou apenas abordar cinco temas, cada um deles com tratamento diferenciado, a saber: combate político, amor a Goa, desprendimento, coragem e pensamento sobre o futuro da sua terra. Combate Político Existem duas figuras marcantes da História Portuguesa que se destacam na obra sobre o Dr. António Anastásio Bruto da Costa: Afonso de Albuquerque e António de Oliveira Salazar. Outras personalidades de vulto podem ter sido citadas mais vezes, mas a sua importância é menos relevante. Embora a ordem dos textos seleccionados nos permitam assegurar que se insurge contra os governantes locais e nacionais em 1946, o seu combate político deve ter-se iniciado pelo menos quando tinha 28 anos de idade, aquando da publicação do Acto Colonial em 8 de Julho de 1930, da autoria de Salazar, na altura ministro interino das Colónias. Para nos apercebermos da força e justeza do seu combate político necessitamos de citar a política de casamentos mistos entre goesas e portugueses, fomentada por Afonso de Albuquerque , bem como a lei de 2 de Abril de 1761 do Marquês de Pombal, na qual se declara os indígenas da Ásia portuguesa perfeitamente iguais, perante a lei, aos portugueses nascidos no reino , e comparar esta lei pombalina com as aberrações introduzidas nas disposições do Acto Colonial , cujo Art. 2.º tem o desplante de rezar assim: - “É da essência orgânica da Nação Portuguesa desempenhar a função histórica de possuir e colonizar domínios ultramarinos e de civilizar as populações indígenas que nêles se compreendam, exercendo também a influência moral que lhe é adstrita pelo Padroado do Oriente”. Com a criação desta legislação retrógrada, Salazar passou uma esponja sobre a história das brilhantes civilizações orientais, mais avançadas e muito anteriores às ocidentais, e determinou no Art. 32.º: “As instituições administrativas municipais e locais são representadas nas colónias por câmaras municipais, comissões municipais e juntas locais, conforme a importância, desenvolvimento e população europeia da respectiva circunscrição”. Enunciados estes dois nefastos e inqualificáveis artigos, atentatórios a toda uma tradição histórica que vinha desde Afonso de Albuquerque, vejamos como se desencadeou o seu combate político. Na sessão extraordinária do Conselho do Governo, realizada em 24 de Junho de 1946, sob a presidência do 33


governador-geral Dr. José Silvestre Ferreira Bossa, Bruto da Costa refutou o preceituado no artigo segundo do Acto Colonial afirmando que quando Cristo estendeu um dos seus braços para o Oriente, o Ocidente “ainda vivia imerso nas trevas da ignorância e do obscurantismo, tendo-se integrado na civilização cinco ou seis séculos depois” . (p. 64). No Oriente, acrescentou, “entre outros povos, a Índia ostentava, séculos e séculos antes, a sua arte, a sua arquitectura, uma brilhante cultura, uma assombrosa filosofia, e tinha hospitais e asilos para homens e até para animais” (p. 64). E quando aquele governador-geral fez a visita oficial à Câmara Municipal de Salcete, alertou-o para o facto de o elo que unia os povos de Goa e Portugal se adelgaçar cada vez mais por causa de erros administrativos, leis preconceituosas, cerceamento de grandes liberdades e uma governação exercida por “cabeças que não foram feitas para mais altos cometimentos”. (p.75). O seu combate político teve maior visibilidade quando o governador-geral, comandante-de-mar-e-guerra Fernando de Quintanilha e Mendonça Dias, em 26 de Janeiro de 1952, tornou público que o Ministro do Ultramar, comandante Sarmento Rodrigues, faria uma visita oficial ao Estado da Índia para resolver eficazmente os mais importantes problemas pelo estudo directo e solução imediata. Aproveitando esta ocasião, um grupo de cidadãos decidiu recebê-lo na cidade de Margão, em reunião pública, no dia 25 de Março, para lhe dar conhecimento das reivindicações do povo de Goa. O administrador do concelho e o governador-geral impediram a sua concretização. Tiveram o conluio da União Nacional. O aviso da convocatória, enviado aos diários A Vida e Heraldo, foi suspenso pela censura. O Ministro do Ultramar, que chegou a Goa no dia 23 de Abril de 1952, recebeu no dia seguinte uma carta assinada por Bruto da Costa e António Colaço. Nela queixam-se da prepotência do administrador do concelho por ter infringido os princípios básicos da lei e ter atentado contra os legítimos direitos dos cidadãos, garantidos pela Constituição. Asseveram ao Ministro do Ultramar que a reunião não visava nenhuma propaganda política ou social, mas tão-só estudar e concretizar as aspirações cívicas do país. Além desta carta conjunta, Bruto da Costa fez uma outra exposição individual ao Ministro do Ultramar, em 1 de Maio de 1952, queixando-se da censura, por mutilar e desfigurar o pensamento, e pelo facto de as queixas e aspirações goesas não terem sido resolvidas. Lembra-lhe que o novo Estatuto Político do Estado da Índia, prometido pelo governador-geral Dr. José Silvestre Ferreira Bossa, há seis anos, ainda não tinha sido publicado. Cansado de esperar pelo prometido Estatuto, Bruto da Costa já tinha escrito a Salazar, em 28 de Maio de 1948, onde contestava o Acto Colonial e corrigia o texto, garantindo que quando Albuquerque chegou “à riquíssima cidade de Goa, não foi encontrar uma terra sáfara a arrotear, nem selvagens a educar, mas uma cidade florescente, um empório comercial importantíssimo, com gente de espírito culto e adiantada civilização, em muitos sentidos superior à sua”. (p.123). Assegura-lhe que o decreto n.º 19220, de 9 de Janeiro de 1931, tinha agravado o infeliz Acto Colonial, criando o grupo de assimilados que “pelos seus costumes, ilustração ou outros indícios do grau de civilização atingidos sejam considerados não indígenas”. Afirma que esta distinção era enjeitada pelos próprios assimilados. (p. 124) Denuncia também o maléfico espírito rácico introduzido na estrutura política ultramarina, designadamente no decreto n.º 29244, de 8 de Dezembro de 1938, onde se consigna este feio princípio: “As vantagens que pelo art.º 24.º do decreto n.º 12.209, de 27 de Agosto de 1926, foram concedidos aos filhos de pai e mãe europeus e portugueses, embora nascidos nas colónias, são extensivos a todos os seus descendentes em linha recta e por filiação legítima, desde que não exista cruzamento com indivíduos das raças nativas das colónias” (pp.125-126). E por se ter determinado que as chefias da administração pública deviam ser ocupadas por europeus, aponta o caminho a seguir: a administração pública deve ser “confiada a entidades competentes, moral 34


e mentalmente superiores, sobretudo moralmente elevadas, sem discrime de metropolitanos e ultramarinos, pois disso em muito depende o êxito e a segurança do património moral de Portugal” (p.134). Dá-lhe também conta de que a burocracia absorvia mais de 80% da receita total. Salazar respondeu-lhe no dia 4 de Julho de 1948, agradecendo a carta e dizendo que as providências tomadas em Lisboa podiam ser discutidas e modificadas. Embora Bruto da Costa tivesse apresentado o seu projecto do Estatuto para o Estado da Índia, em 1 de Julho de 1955, foi promulgado o Estatuto Político do Estado da Índia, em Goa, e enviado para Lisboa. Na sequência da sua promulgação, Bruto da Costa tornou a escrever a Salazar em 1955, dizendo-lhe que o Estatuto não correspondia aos anseios dos goeses. Como, apesar dos avisos, o Acto Colonial foi integrado na Constituição, Bruto da Costa diz abertamente a Salazar: “S. Exa. foi para nós um desapontamento” (p.197). Em 19 de Fevereiro de 1957 escreveu ao governador-geral Paulo Bénard Guedes dizendo que aceitara fazer parte do Conselho Económico como seu vogal, para servir Goa, mas como os pontos de vista do governo e os seus sobre os problemas económicos e políticos eram antagónicos, pediu a suspensão do cargo e posteriormente a exoneração. A sua luta incessante pela defesa da causa goesa revelou-se mais uma vez quando regressou de Bombaim e, a seu pedido, em 15 de Maio de 1959, foi recebido pelo governador-geral, general Vassalo e Silva, a quem disse que, após conversas tidas com goeses naquela cidade, “contrariamente ao que tinham chegado a defender, entendiam agora que Goa não devia integrar-se na União Indiana”. (p. 247) Daí ter afirmado que a única solução seria a de entregar Goa aos goeses. Vassalo e Silva respondeu-lhe “a nossa dignidade não o permite”. Bruto da Costa replicou que “em jogo estava a dignidade do povo de Goa”. Vassalo e Silva acabou por dizer que “não estava nas suas mãos dar ao problema goês a solução que Bruto da Costa preconizava”. (p. 248). Entretanto, como o Caso de Goa continuasse a ter repercussões internacionais, Bruto da Costa e António Colaço escreveram directamente ao Presidente da República, Américo Tomás, em 25 de Junho de 1959, solicitando a concessão de plena autonomia administrativa e financeira ao Estado da Índia. Não obtiveram resposta. Desesperado, como quem pressagia o desenlace inevitável, em carta escrita a Salazar em 1961, escreve: “digam o que disserem os zoilos e as alforrecas locais, o mal vai-se agravando de dia para dia. E a minha pobre terra, apesar da crise de carácter, não morre unicamente pelo deficit moral, que muito pior se vê em outra gente, mas morre sobretudo devido a teimosia de uns e a estupidez de outros. E eu morrerei a protestar”. (p. 277). Amor a Goa António Bruto da Costa orgulha-se de ter nascido na pequena, mas muito amada terra chamada Goa. (p.191). Justifica a razão por que considera Goa a sua pátria: “Foi aqui que abri os olhos à luz. Nesta nesga da terra nasceram os meus filhos. E ainda neste bom e lindo País que tive meus Pais”. (p. 317). Depois de definir o patriotismo como o amor sincero da pátria, esclarece que: “Foi no coração da família que bebi o patriotismo. Nunca me desinteressei da sorte do meu País. Em ocasião alguma regateei por ele o menor sacrifício. Bati-me sempre, como soube e pude, pela sua dignidade, pelo seu progresso, pela sua honra”. (p. 318). Não é difícil encontrar no livro passagens reveladoras de estar enamorado daquele solo. A título de exemplo cito este trecho: “Tudo aqui me atrai, me encanta, me seduz: o chão em que dei os primeiros passos e o sol fagueiro dos meus primeiros anos, o sussurro das fontes e o murmúrio dos rios, a frescura dos campos e a alvura das praias, o colorido das paisagens e o verde dos montes, a fragrância das flores e o canto das aves, por fim e sobretudo, os vestígios palpitantes de pés antigos e os enternecedores sinais de antigas mãos.” (p. 317). Desprendimento No seu comportamento, Bruto da Costa provou ser uma pessoa desprendida. Pugnou apenas em defesa da sua terra e jamais para recolher benefícios pessoais. 35


O poder e a prosperidade nunca o seduziram (p.ix). Numa ocasião, por ter sofrido o deslocamento da retina, pediu o visto à polícia de Margão para se deslocar a Bombaim. Foi-lhe recusado, alegando que tinha de ser pedido ao governador-geral. Na sequência desta recusa, quando o governador-geral, general Vassalo e Silva, se encontrava numa aldeia, a quatro quilómetros de Margão, o tenente Melo Gomes, comandante da polícia de Margão veio à sua residência e comunicou-lhe que o governador-geral havia oferecido duas passagens, para ele e para sua mulher poderem ir à Europa a fim de se sujeitar à intervenção necessária. Indignado, replicou: “repilo o agravo que me é feito. Nasci cidadão livre. Os fundos do Estado não são fundos particulares do Governador Geral, fundos de que S. Exa. possa dispor a seu belo prazer. Não tenho direito a passagens gratuitas. Respeito a lei, mas não me vergo perante o arbítrio e a prepotência”. (p. 267). Pediu ao tenente Melo Gomes que transmitisse a S. Exa. o que lhe dissera. Em resposta, o governador-geral afirmou que com aquele gesto não queria ofendê-lo e reiterou o pedido de aceitação da oferta. Noutra ocasião, quando o governador-geral Paulo Bénard Guedes convidou-o para fazer parte do primeiro Conselho Legislativo, sob a égide do Estatuto do Estado da Índia, promulgado em 1 de Julho de 1955, comunicou-lhe que “trairia a sua consciência e o seu País se fosse tomar assento nesse Legislativo, dentro da orgânica de um Estatuto que, ao mesmo tempo, dava e tirava a autonomia. (p. 216). Depois de Goa ter sido integrada na União Indiana, Bruto da Costa foi uma das personalidades propostas para ser um dos dois deputados no parlamento indiano. Numa atitude de desapego, por ser contra a integração, rejeitou liminarmente. Assegurou aos proponentes que a sua posição era clara. Não estava sujeita à reconsideração. (p. 312). Coragem Em Goa corriam várias versões sobre um episódio de agressão física ocorrida entre o Dr. António Bruto da Costa e o governador-geral, comandante Quintanilha e Mendonça Dias. Recordo que muitas pessoas me asseguraram que Bruto da Costa tinha sido agredido pelo governador-geral em plena parada com uma bofetada e que havia respondido da mesma maneira. O livro narra assim: Após o encontro tido com o Ministro do Ultramar, comandante Sarmento Rodrigues, no palácio do cabo, no dia 3 de Maio de 1952, o governador-geral disse-lhe que desejava falar com ele e convidou-o a ir a uma sala contígua. Ali, ainda de pé, Quintanilha e Mendonça Dias admoestou: - “Não tolerarei insinuações contra a minha honorabilidade”. Bruto da Costa contestou: - “Não costumo fazer insinuações. Faço afirmações com provas concretas. Se os factos falam contra a honorabilidade de V. Exa., de quem é a culpa?” (p. 44). Em resposta, o governador-geral agrediu-o fisicamente, atingindo os óculos que caíram no soalho de madeira. Acto contínuo, Bruto da Costa desferiu dois murros e tombou o agressor ao chão. Depois, com um joelho sobre o estômago, sovou-o. Acudiu-lhe o genro que se colocou por trás e pegou nos braços de Bruto da Costa. Este momento foi aproveitado por Quintanilha e Mendonça para lhe arranhar a cara. Se neste evento é de salientar o arrojo revelado, naquelas circunstâncias e naquele local, merece ainda maior destaque o facto de ser seu hábito lutar para cumprir o dever cívico perante o país, tendo como lema “a sinceridade, lisura de processos, clareza de intuitos e constância de propósitos”. (p. 21). Como os censores exorbitavam o exercício do seu mandato em Goa, Bruto da Costa teve a coragem de retratar o quadro da censura ao Ministro do Ultramar, afirmando: “Entre nós, a Censura começa por trair o pensamento de Salazar e acaba por espezinhar a lei e os próprios princípios da doutrina e moral cristãs, para, afinal, transformar a imprensa numa tela sem expressão nem cor, incapaz de traduzir a opinião do País e de a fixar nas suas tintas verdadeiras. (p. 25). Em 1933, aos 31 anos de idade, foi director do jornal O Ultramar. Ele que queria ter por único guia a consciência, por mira a verdade e por linha de força o dever e a dignidade (p. 53), viu-se obrigado a suspender a 36


sua publicação porque os artigos voltavam mutilados e até riscados a lápis vermelho de cima a baixo. Suspendeu o jornal o Ultramar com a alma a sangrar para não se sujeitar à censura e não ver deformado o seu pensamento (pp. 213-214). Não suportava que lhe “viessem pôr a mão na boca”. (p. 27). O seu grande cavalo de batalha foi a infatigável luta para alcançar a descentralização administrativa e autonomia financeira, embora sob fiscalização e a superintendência do Governo Central (p. 260) Quando interpelado por Salazar, durante uma audiência em Lisboa, em 1947; como um dos delegados à cerimónia de canonização de São João de Brito: - Desde quando este mal-estar em Goa? Bruto da Costa respondeu: - Desde o famigerado Acto Colonial (p.101). Homem de princípios inabaláveis enfrentou o poder instituído, olhos nos olhos e em textos escritos, munido de duas armas poderosas: as palavras precisas e as ideias fundamentadas. Pensamento sobre o futuro da sua terra Das riquíssimas transcrições de textos sobre o seu pensamento político, constantes no livro, vou citar algumas. Na carta que escreve a Salazar em 1955 diz que sendo Goa parte integrante de Portugal, “não deve por tal forma comprimir-se, na sua unificação com ele, que arrebentem as molas e os elos que a Portugal a ligam.” (p. 200). Todavia, como o governo central se mantinha irredutível nas suas posições, e a genuína autonomia administrativa e financeira caíra no manto do esquecimento, Bruto da Costa, por pressentir que a União Indiana podia utilizar a força para resolver o Caso de Goa, na reunião do dia 15 de Maio de 1959, tida com o governador-geral, general Vassalo e Silva, afirmou que em sua opinião a única solução para aquele problema seria a de entregar Goa aos goeses. Em Dezembro de 1961, estiveram na sua residência Panduronga Mulgãocar, Gopala Apá Camotim e outros cidadãos pedindo-lhe que fosse a Lisboa para tentar convencer Salazar a outorgar autonomia administrativa e financeira ao Estado da Índia. Aceita o pedido, “sob a condição de se não querer utilizar a autonomia como um plano inclinado conducente à posterior integração na União Indiana”. (p. 302). Depois de 19 de Dezembro de 1961, recusa resignar à situação de facto, então criada, pois entendia que “soava a hora de o povo de Goa afirmar-se e decidir sobre o seu destino”. (p. 309). Para ele, integrar Goa na União Indiana, “sem se seguir o processo estabelecido pela ONU e por um acto de exclusiva vontade do parlamento indiano é regressar ao século XVI.” (p. 310). Insistia: lutemos enquanto é tempo “para que não tenhamos a sorte do povo de Israel”. (p. 311). Não esconde a sua opção política, pois afirma peremptoriamente: a minha pátria é Goa (p. 89). Daí ser contrário à absorção de Goa “na Índia para constituir com ela uma unidade política ou nacionalidade”. (p. 90) “Em Março de 1962, o Parlamento indiano aprovava um projecto de alteração da Constituição da Índia, que dava os territórios de Goa, Damão e Diu como integrados na União Indiana”. (p. 312). Como a integração tinha sido imposta sem se ouvir a voz do povo desses territórios, (p. 312) considera a União Indiana como potência ocupante, razão pela qual, afirma, tem poder de carácter provisório e não adquire soberania sobre o território ocupado. (p. 313). Através da 12.ª Emenda à Constituição anunciava-se que Goa, Damão e Diu passavam a ser territórios da União em virtude de aquisição. Bruto da Costa contesta: estes territórios não foram adquiridos, encontram-se sob ocupação militar. (pp. 341-343). Recorda que o próprio Supremo Tribunal de Justiça Indiano havia decidido, a 26 de Março de 1969, que a ocupação de 20 de Dezembro de 1961 foi “uma verdadeira anexação por conquista e subjugação” (p. 315). Quando soube que Jawaharlal Nehru queria visitar Goa, escreveu-lhe uma carta, em 15 de Agosto de 1962, onde dizia: “Oito meses vão decorridos que a União Indiana, sem notificação prévia ou declaração de guerra, invadiu o Estado da Índia Portuguesa e ocupou o seu território. Anuncia agora a imprensa que, em breve, deve V. Exa. vir a Goa. Certamente, não entrará a cavalo, como 37


outrora teria entrado Átila em Roma, mas de avião, tal qual a ave de rapina a cair sobre a sua presa”. (p. 316). Politicamente, não podia ser mais claro quando explicita por carta o seu pensamento a Nehru: “é aos goeses, e somente aos goeses, que compete decidir do seu futuro”. (p. 353) No dia 25 de Dezembro de 1974, Bruto da Costa, já sem visão, escreve a Mário Soares protestando veementemente por Portugal pretender ceder Goa à India, sem auscultar a opinião da respectiva população. (p. 359). Assim, afirma, Portugal vai substituir um colonialismo por outro (p. 360). E adverte: nas condições em que “projecta firmar o tratado de transferência e cedência do Estado da Índia, ele não pode em caso algum vincular a sua população”. (p. 361). Finalmente, esta luta incessante sofre um duro revés quando no dia 5 de Abril de 1975 é aprovado para ratificação, o Tratado entre a Índia e Portugal relativo ao reconhecimento da soberania da Índia sobre Goa, Damão e Diu, Dadrá e Nagar Aveli e assuntos correlativos, assinado em 31 de Dezembro de 1974. Esse acto torna aqueles territórios parte integrantes da Índia (pp. 362-4). Resta-me concluir dizendo: Na sua vivência, durante a presença portuguesa, Bruta da Costa sempre lutou para poder alcançar uma genuína autonomia administrativa e financeira para Goa. Depois da invasão foi contra a integração de Goa na União Indiana, sem que fosse ouvida a voz dos goeses. Foi sempre fiel aos seus princípios, os quais defendeu, dentro e fora de Goa, antes e depois da invasão pela União Indiana. Goa deve orgulhar-se de ter gerado este filho, altamente esclarecido, dotado de carácter firme e arrojado, aliado a uma invejável grandeza intelectual. Com a leitura do livro vim a saber que muitas das ideias por mim defendidas estão plasmadas nos escritos de António Bruto da Costa. Sinto-me orgulhoso e afortunado com esta feliz coincidência. Conferência realizada na Casa de Goa, Lisboa, 24 de Março de 2017.

Valentino Viegas

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AS TEIAS DA PRIMEIRA REVOLUÇÃO PORTUGUESA de Valentino Viegas Senhor Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Casa de Goa: Queridos colegas da Direcção e outros corpos sociais: Prezadas consócias e prezados consócios: Minhas senhoras e meus senhores: alentino Viegas propôs-me que apresentasse o seu novo livro a que chamou As Teias da Primeira Revolução Portuguesa. Obviamente, não me ocorreu recusar a proposta. Valentino Viegas inspira-me um profundo respeito e uma elevada estima. Vou pois desincumbir-me do encargo, para o que me sinto qualificado não por que tenha estudos ou possua aprofundados conhecimentos teóricos na matéria, mas sim pela minha experiencia de leitor compulsivo, com muitos livros lidos, designadamente romances. Depois de nos ter brindado com uma bibliografia vasta e variada onde podemos encontrar livros de história, romances, memórias e relatos de experiencias vividas, reportagens de guerra, não faltou a Valentino Viegas a inspiração para se estrear com uma obra diferente daquelas que até agora escreveu. Considero muito positiva, a adesão de Valentino Viegas a este género de literatura, não só pelo que adiante hei-de dizer, como porque lhe reconheço os atributos necessários para a praticar com qualidade. Tem provas dadas como historiador, e é um especialista no período crítico de 1383-1385, que manifestamente o apaixona. Na sua bibliografia conta já com vários livros sobre a época, como Lisboa a Força da Revolução, A Primeira Revolução Portuguesa, Cronologia da Revolução Portuguesa e Uma Revolução Pela Independência Nacional nos Finais do Século XIV. Também as tem como escritor. Deu-nos obras como Goa o Preço da Identidade, Os filhos da Sombra e A Morte do Herói Português. Comunica eficazmente. Descreve com rigor os factos, na sua objectividade. Expõe as ideias de forma simples e acessível para qualquer público medianamente instruído. Consegue prender a atenção dos leitores através de uma teia de acontecimentos, simples mas bem articulada. Dispõe das capacidades fundamentais para se dedicar a este género de literatura. Valentino classifica de romance histórico o livro hoje aqui apresentado, mas eu chamar-lhe-ia um livro de história escrito sob a forma de um romance. Isto porque, para o realizar, Valentino não necessitou, ao contrário do que acontece com os autores de quase todos os romances deste género por mim lidos, de inventar uma trama paralela ao decurso dos acontecimentos históricos, para neles a inserir, enganando, de certa forma, o leitor que, interessado pela história dos personagens, não se apercebe de que, consciente ou inconscientemente, o que o autor deseja é contar-lhe a História do País. Não. Para escrever As Teias da Primeira Revolução Portuguesa Valentino não necessitou disso. A matéria tratada, como ele próprio tem a honestidade de esclarecer na Introdução, é a matéria bebida nos trabalhos dos grandes cronistas da época, neste caso de Fernão Lopes, que ele diz estar presente em todo o texto. A teia central imaginada, e introduzida no ambiente, é aqui muito mais ténue do que no romance histórico a que estamos habituados. Com excepção de algumas poucas figuras criadas para dar a conhecer os sentimentos experimentados pelos homens do povo perante a situação, que só excepcionalmente a História fixa, os personagens do seu romance são os personagens da própria História. Vivem os acontecimentos históricos. Alguém perguntou um dia a Isabel Allende o que seria um bom romance. A autora da Casa dos Espíritos respondeu que era aquele em que o autor agarrava o leitor pelo pescoço e só o largava no final da última página. Valentino consegue-o. A sua obra assenta numa torrente de descrições quase ininterruptas que se sucedem, umas após outras, sem hiatos, sem intervalos, mas que nos fazem entrar por tal forma no ritmo narrativo que após algumas páginas se me tornou quase impossível pousar o livro, e abandonar a leitura, mesmo àquelas horas em que o estômago exige que tratemos dele. Com requintes de rigor, ao relatar-nos os acontecimentos de 1383-1385, sublinha-nos as realidades de sempre.

V

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A profissão política que é a 2ª mais velha profissão do Mundo, mas que, como dizia Ronald Reagan, cada vez se parece mais com a primeira, quando verificamos que os seus agentes a tudo se prestam para alcançar ou conservar o tão desejado poder, que depois exercem com desprezo pelos interesses de que deveriam curar. O aproveitamento das crises em proveito próprio, a indiferença perante o sacrifício dos inocentes, o oportunismo, a hipocrisia, a cobardia, a mentira, o caos resultante do esvaziamento da autoridade, a mudança constante de bando, consoante a evolução da correlação das forças em presença. Os acontecimentos de que nos dá conta aparecem-nos como familiares quaisquer que sejam os nossos conhecimentos da época retratada. Num golpe mágico, Valentino salta da História para a Filosofia, e como se não bastasse, empreende de imediato um regresso ao futuro, colocando na boca dos intervenientes imagens e conceitos desconhecidos na época em que decorre a acção, porque os sentimentos são os de sempre, de que é exemplo a seguinte afirmação de um homem do povo: «por minha parte tive o cuidado de reanalisar o filme posto então a correr pelas ruas e ruelas da capital». Ao descrever os factos subsequentes à aceitação, pelo Mestre de Avis, à revelia dos poderes legítimos e constituídos, do cargo de Regedor e Defensor dos Reinos de Portugal e dos Algarves, Valentino escreve: «Não é difícil imaginar os abusos cometidos, pois houve denúncias posteriores em como alguns comissários indignos, nomeados no andamento do processo revolucionário, levavam cartas de crença com espaços em branco, assinadas de antemão pelo Mestre, onde só faltava preencher o nome dos visados ou o local onde podiam exercer funções. Nos pedidos posteriores para a reposição da legalidade e da justiça garantia-se que esta nefasta forma de actuar havia provocado grandes males e danos ao país.» Terá (ou poderá ter sido) nesses primeiros tempos que os contemporâneos foram buscar a inspiração para a prática de certos actos, ocorridos mais perto dos dias de hoje, como os célebres mandados de captura com o nome em branco, assinados pelo nosso conhecido Otelo Saraiva de Carvalho. Utilizando os conhecimentos militares que o destino lhe proporcionou, quando, chegado de Goa a este jardim à beira-mar plantado, depois de uma viagem que constituiu uma verdadeira odisseia, de imediato foi incorporado no Exército e mandado para Tavira receber formação para seguir para o Ultramar como Furriel miliciano, Valentino descreve com minúcia a situação particular em que o Mestre de Avis se encontrava. Não esquece o papel das mulheres, quando nos dá conta de que: «Não eram apenas os homens os únicos que pugnavam pela defesa da causa do Mestre, pois as mulheres também participaram na eliminação física dos oponentes chegando a vias de facto.» Mas trata com justiça Leonor Teles, enuncia os seus defeitos sem esquecer as suas qualidades, que eram várias, como se constatou com a coragem e a presença de espírito reveladas quando enfrentou o mestre, nos momentos subsequentes ao assassínio do Conde de Andeiro. Minhas senhoras e meus senhores: O conhecimento histórico é da maior importância, tanto para as organizações como para as pessoas. O gestor é tanto mais eficiente quanto melhor conheça o passado da organização que dirige, e só pode considerar-se profissional quando o conhece. Esta importância motiva a existência, nos organigramas, de unidades orgânicas, dedicadas à cristalização desse passado. Quanto a nós pessoas físicas, o que hoje somos é em grande parte fruto do que fomos ontem. Além disto, os dados históricos são extremamente relevantes na motivação daqueles que empreendem as tarefas mais esforçadas e perigosas, como é o caso dos militares. Portanto, é da maior importância investigar e escrever a história. Mas a investigação de nada serve se não for dada a conhecer aos que nos rodeiam. O que não é fácil. Os investigadores, por norma, não utilizam os meios mais adequados para levar a História ao conhecimento do público em geral. São demasiado minuciosos. Prendem-se com pormenores que não interessam aos leigos. Ocupam muito tempo na fundamentação das suas teses. Utilizam uma linguagem erudita que as pessoas comuns não entendem. Mergulhados e totalmente absorvidos no seu limitado mundo, falam e escrevem sobretudo uns para os outros. Servem para a criação mas falham na divulgação. Por isso temos de agradecer a Ana Inês (a quem Valentino diz que tudo deve) o ter contribuído para a divulgação de um dos acontecimentos mais importantes da nossa secular História, a nossa primeira luta pela conservação da independência, a que se seguiram muitas, e que ainda hoje está em curso, já que, como dizia Atatürk, o caminho mais curto para a perda da independência de um país é a dívida pública. 40


Só que, como Saramago, acho que um livro só o é verdadeiramente se for lido. Caso o não seja nunca passará de um monte de folhas de papel. Por isso, vamos transformar este monte de folhas de papel num livro. Vamos lê-lo. Vamos estimular a sua leitura. Vamos discuti-lo, comentá-lo e recomendá-lo. Vamos oferecê-lo, como prenda de aniversário, como prenda de Natal, sobretudo aos jovens, sem omitir as razões porque o fazemos. Vamos tornar efectivo mais este importante serviço prestado por Valentino a Portugal, nossa Pátria grande e a todas as Pátrias pequenas que o compõe, de que Goa será, porventura, a mais ilustre. Muito obrigado pela vossa atenção.

M. Vieira Pinto

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Algumas palavras sobre o livro de Valentino Viegas “As Teias da Primeira Revolução Portuguesa”

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screver um livro histórico não é para qualquer um e, fazê-lo em forma de romance é-o ainda menos. Mas o meu amigo Valentino Viegas não é qualquer um. Historiador doutorado, deve ter passado grande parte, da sua vida e do seu tempo, feito rato de bibliotecas e arquivos metendo o nariz em tudo o que é registo e documento para nos relatar com a maior veracidade possível “As Teias da Primeira Revolução Portuguesa”, dando-lhe ao mesmo tempo uma visão quase real do que teriam sido os diálogos e conversas de todos aqueles homens que foram responsáveis pelo facto de a coroa portuguesa não ter caído em mãos castelhanas após a morte de D. Fernando e durante a regência de sua mulher D.ª Leonor Teles (1383/1385). É pois, através de uma linguagem fácil que seguimos todas as reuniões dos homens, quer da nobreza quer do povo, que levam D. João, Mestre de Avis, a liderar várias acções, que começando na morte do Conde Andeiro, terminam nas Cortes de Coimbra com a aclamação de D. João, Mestre de Avis, a rei de Portugal. Através deste livro romanceado ficamos a saber que a causa de toda a teia revolucionária residiu no facto de Portugal estar em vias de perder a independência nacional, por ainda não ter nascido o filho do rei D. João I de Castela e de D. Beatriz, filha do falecido rei D. Fernando e da rainha D. Leonor Teles que, depois de gerado, seria o futuro rei do território português, conforme determinava as cláusulas do contrato de casamento de Salvaterra de Magos. O rei vizinho, como desejava ocupar o trono português, já se intitulava rei de Portugal, por lhe permitir o clausulado daquele contrato. A sua vontade era fazer letra morta daquele tratado celebrado entre Portugal e Castela. O livro revela também como a rainha D. Leonor, que pretendia concentrar em si todo o poder, tinha conseguido que os infantes D. João e D. Dinis, potenciais candidatos ao trono português, filhos do rei D. Pedro e de D. Inês de Castro, se exilassem em Castela. Por sua vez, o amedrontado D. João, Mestre de Avis, igualmente filho do rei D. Pedro, contudo, muito menos influente que aqueles dois meios-irmãos, alegando defender a sua vida mata o conde Andeiro, amante da rainha, acelerando o complexo e imprevisível movimento revolucionário. Nesta intensa trama, o cidadão Álvaro Pais, alguns nobres e homens do povo, como o tanoeiro Afonso Anes Penedo e o sapateiro Estevão Domingues, conseguiram, com a sua liderança e intervenção, mudar o rumo dos acontecimentos fazendo com que nobres, clérigos, representantes concelhios e homens de leis, como o doutor João das Regras, tomassem as decisões que mudaram o curso da história. Tudo isto nos é mostrado através de uma linguagem livre e directa, completamente entusiasmante que nos leva, parágrafo atrás de parágrafo, até ao fim da história que é de nós conhecida na sua essência, mas não no seu pormenor. De salientar algumas similitudes entre esta revolução e a de 25 de Abril de 74. A propósito de linguagem livre, achei divertidíssimo que Valentino Viegas pusesse na fala de Afonso Anes Penedo, a frase: “… pela minha parte, tive o cuidado de reanalisar o filme posto a correr pelas ruas e ruelas da capital ...” como se em pleno século XIV já fosse possível utilizar filmes. Liberdades de escritor que o autor certamente me perdoará a ousadia de referir. Valentino Viegas sempre se interessou pela história e já a isso se referia em livros anteriores, nomeadamente em “A Morte do Herói Português”, livro que escreveu sobre a sua experiência de guerra em África, onde aliás teve comportamento extraordinário que lhe valeu uma cruz de guerra. Sinto-me honrado em ser amigo deste nosso historiador/escritor, natural de Goa, que optou por viver em Portugal após a invasão daquele território e que muito veio valorizar o nosso panorama cultural.

Rui Cabral Telo

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GOA SONS E RITMOS na Av da Liberdade O espectáculo que a Casa de Goa levou até o público, no Teatro Tivoli BBVA no dia 8 de Abril 2018, foi a mostra do desiderato do percurso do EKVAT, ao longo de 30 anos A constituição do EKVAT, começou por integrar goeses de primeira e de segunda geração, escolhendo para seu espaço próprio, a Casa de Goa. Essa constituição dificilmente seria reprodutora e, sobretudo, tivemos a percepção de que, não basta ter origem goesa para se dedicar a um projecto, em moldes de voluntariado, que obriga a escolhas, à disciplina, a uma dedicação à “causa” que, só acontece quando se a abraça livremente Por outro lado, sendo seu objectivo divulgar a música e danças de Goa, nada melhor do que alargar o âmbito e acolher os que, mesmo não sendo de origem goesa, encontraram Goa na encruzilhada da vida e hoje fazem parte da mesma familia que, sem dúvidas, também escolheram livremente Este espectaculo, contou com apoio da Câmara Municipal de Lisboa, e ainda, ficou a dever à Fundação Oriente, não só o patrocinio para a sua realização mas, e sobretudo, a formação que proporcionou a duas dançarinas do EKVAT, com estadia em Goa, e contactos com grupos similares. Essa formação foi o ponto de partida que permitiu diversificar as coreografias com novas abordagens, por nova gente, enriquecendo o portofólio do EKVAT e, principalmente, garantindo a sua continuação Todo o espectaculo foi realizado em moldes de voluntariado desde a participação dos artistas profissionais convidados, até o desenho e confecção dos novos trajes. Foi o conjunto de amadores e voluntários de que é feito o EKVAT que, sonhou, pensou, desenhou e realizou, Goa Sons e Ritmos, convidando a participar

Dançarinas da Escola de Dança da Comunidade Hindú 43


profissionais que colaboram no PĂĄteo das Artes da Casa de Goa.

Catarina Guerra - Bharatanatyam Com outros Sons e Ritmos da mesma famĂ­lia tradicional

Judite Dilshad 44


e ainda aqueles que criam novos Ritmos com os mesmos Sons de Goa

Yana Suslovets, Joana Pinto, Lia Soares, André e Artur Dias

Para além dos originais do EKVAT, músicas e letras, quase todas as interpretações tiveram o arranjo do Arvi Barbosa, Director musical do grupo

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As coreografias das interpretações do EKVAT, foram imaginadas pelos seus dançarinos, introduzindo uma nova abordagem no contexto tradicional

e, inovando quando teatralizam canções populares transmitindo a cultura de forma lúdica

Tiveram para isso um enquadramento seguro por parte dos elementos do EKVAT, mais conhecedores da cultura goesa que, com os dançarinos constituiram uma equipa de inovação, no quadro das suas raízes culturais.

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Foi gratificante ter conosco os jovens que integraram o EKVAT ao longo destes 30 anos e que vieram participar, uns no palco outros a apoiar na plateia. O “mandó” seguido das “dulpodas” transportou o público par ao imaginário da cultura de origem católica de Goa.

Antes de se cantar o “mandó” de despedida o então Presidente da Direcção da Casa de Goa, Dr. Edgar Valles disse umas breves palavras sobre o papel da Casa de Goa em Lisboa.

O espectáculo que durou cerca de duas horas terminou com todos os artistas, juntamente com o público, a cantar “Adeus korchó vellú pauló”

No fnal os artistas desceram do palco e saíram pelas cochias aplaudindo o público que os veio apoiar e com ele se encontrou no átrio em conversa animada que continuaria noite dentro, não fosse a necessidade de fechar as portas do Teatro Tivoli BBVA. 47


Á AVENTURA COM NALINI ELVINO SOUSA A nossa amiga Nalini continua a divulgar ativamente a Cultura de Goa pelo Mundo… E isto está claramente reflectido nos momentos que aqui lembramos e que têm sido o panorama da vida desta pessoa maravilhosa neste primeiro semestre de 2018… Palavras para quê?!...

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ESPAÇO DOS JOVENS Orquídea Silvestre Introdução A natureza do Projeto enquadra-se num contexto de conflitos nacionais e internacionais causados pela escassez de recursos naturais, recursos estes que se esgotam por motivos de poluição, gestão insensível e sobre-exploração. A dependência que as comunidades têm relativamente aos preciosos recursos como a água, energia e minérios fomentam conflitos a nível económico, ambiental, social e bélico, assim como limita gravemente o desenvolvimento económico do interior e subsequentemente do país no seu todo. Juntamente com a tendência dos jovens tenderem para se concentrarem nos centros urbanos à procura de oportunidades económicas imediatas, cada vez mais abandonam o meio rural. A população envelhecida que representa uma parte substancial dos meios rurais vai também saindo por falta de recursos para se sustentar durante períodos de maior pressão e dificuldade climática e ecológica. A pobreza cultural que também contribui para o despovoamento rural e falta de sensibilidade ecológica e social. Conceito e Objetivos No projeto Orquídea Silvestre, vamos desenvolver simultaneamente uma quinta e uma comunidade que sirva de exemplo para como viver integrado com a natureza, reduzindo ao máximo a necessidade de importação de recursos básicos como a água e energia, criando o ecossistema necessário para que a subsistência da comunidade não necessite do apoio da indústria química, que se mostra nociva para o ser humano, uma comunidade que transborde de conhecimento, cultura e alimento para a comunidade em redor. Uma comunidade cujas casas e cultivo se enraízam numa maneira de viver permanente, consciente de suas ações e reações. Sonhamos construir uma comunidade multicultural que integre pessoas de todo o mundo. Ambicionamos integrar pessoas oriundas de países em guerra neste ambiente rural, para que elas possam fazer parte da solução que Portugal e o mundo tanto precisam. Também temos o desejo de criar uma comunidade rica numa cultura que seja viva, usando elementos como as artes, dança, música, poesia, escultura, arquitetura para proporcionar um projeto que possa contribuir positivamente para a evolução, cultivando a sensibilidade e o entendimento. Nesta comunidade, iremos incluir a comunidade presente em Aljustrel, especialmente a juventude de forma a tentar contribuir para o repovoamento rural. Esta inclusão será feita de várias formas, nomeadamente, através de festas, aulas de dança e artes plásticas assim como convívios musicais; queremos fazer uma ponte entre a nossa comunidade e as crianças e jovens que encontrarmos nas escolas de Aljustrel, pois através desta ponte, pouco a pouco, vamos conhecendo os pais e assim, criando ligações com trabalhadores e proprietários que se possam contagiar com este conceito de comunidade viva. Para nós é extremamente importante que hajam crianças a crescer neste meio, para que a próxima geração tenha contacto com as coisas que fazem de um ser humano, um humano. Um dos nossos objetivos é igualmente proporcionar um espaço na natureza saudável e seguro, particularmente necessário para refugiados provenientes de meios rurais, como por exemplo refugiados Sírios provenientes de pequenas aldeias, assim como fornecer um espaço que possa servir para todo o tipo de refugiados poderem ter um ambiente que sirva de retiro espiritual, onde vão poder acalmar a mente caso sofram de traumas e ansiedade pela situação que viram ou pelas suas famílias lá situadas. Um dos problemas que identificamos nas quintas biológicas, comunidades alternativas e projetos semelhantes é que existe a tendência para, depois da fase inicial, caracterizada pela motivação, o ímpeto inicial dos membros do projeto e o idealismo latente, vir a fase da estagnação, das discórdias e da desilusão. Da mesma forma que a água parada é o ambiente perfeito para bactérias, mosquitos e parasitas, os grupos que se fecham em si tendem a estagnar e implodir. Visto isto, a nossa equipa será dinamizada também com a vinda de voluntários da WOOF, os quais darão o seu contributo para identificar problemas que nós possamos não ter identificado, tanto a nível social como a nível prático. A Orquídea Silvestre irá ser regida pelos princípios do Planeamento Participativo, sendo que temos vários membros da equipa que têm experiência nesta área. A Orquídea Silvestre 49


irá potencias as estruturas e localidade adjacentes, a começar pela Lavaria da Almina – Orquídea Silvestre poderá ser um local de convergência saudável e útil para os trabalhadores da mina. O projeto Orquídea Silvestre está a ser desenvolvido em parceria com a Associação Família de Refugiados, composta maioritariamente de refugiados e imigrantes de países como a Eritreia, Palestina e Síria. A Associação Família de Refugiados, para além de disponibilizar membros com experiência em gestão de projetos, ativismo e associativismo, ficará com a responsabilidade de fazer a ponte com refugiados e imigrantes. Está igualmente enquadrado no projeto do Universo Morgado. Metodologia OBJECTIVOS DA 1a FASE “PIONEIRA” - Abastecimento de energia e água; - Preparar locais de habitação; - Valorização dos recursos endémicos; - Participação na vida local; - Auto-suficiência alimentar. RECURSOS NECESSÁRIOS 1a FASE - 5 residentes - Serviços de apoio legal; - Serviços de apoio a licenciamento agrícola e habitacional; - Abastecimento energético solar; - Abastecimento e gestão da água; - Sistema de rega; - Ferramentas manuais para fins agrícolas e de construção; - Sementes, árvores e animais. OBJECTIVOS DA 3a FASE “PLENITUDE” - Incubadora de empresas dedicadas à ecologia e sustentabilidade; - Avaliar e expandir a área do empreendimento; - Criar espaços para eco-turismo; - Condições de habitação e trabalho para 24 pessoas.

OBJECTIVOS DA 2a FASE “ESTRUTURANTE” - Criar condições de fixação para 10 pessoas; - Diversificar as atividades agrícolas; - Oficina; - Espaço cultural; - Atingir sustentabilidade económica.

RECURSOS NECESSÁRIOS 2a FASE - 12 residentes - Serviços de apoio legal; - Serviços de apoio a licenciamento agrícola e habitacional; - Levantamento topográfico; - Estruturas em terra (c. solo e água); - Abastecimento energético solar; - Abastecimento e gestão da água; - Expansão sistema de rega; - Algumas sementes, árvores e animais; - Ferramentas de carpintaria e serralharia; - Diversos materiais de apoio cultural; - Tractor e carrinha pick up; - Triturador (ramos/galhos).

RECURSOS NECESSÁRIOS 3a FASE - 24 residentes - Serviços de apoio legal; - Serviços de apoio a licenciamento relativo ao turismo e núcleo empresarial; - Estruturas em terra (c. solo e água); - Abastecimento energético solar; - Abastecimento e gestão da água; 50


A Equipa Alan Ghunim Engenheiro Informático de AUB - Lebanon , Mestrado em comunicação e networking, University of the Ryukyus - Japan , Mestrado em Gerencia de Projecto, Heriot-Watt University , United Kingdom, MBA HeriotWatt University, United Kingdom , Strategic Project Management & Risk Analyse Heriot-Watt University , Dubai , 12 anos de experiência em gerência de projetos, contracting manager , e CEO em duas empresas com receitas de vendas de 4 milhões de euros. Presidente da ONG Associação Família de Refugiados.

José Parreira Proprietário dos Terrenos, o José tem uma profunda consciência social e cultural que é a sua grande motivação para ver crescer nos seus terrenos um projeto economicamente, socialmente e ecologicamente justo e sustentável.

Pedro Horta Trabalha com o José Parreira a manter o seu terreno, tem um grande conhecimento do terreno em questão e é experiente em Permacultura. Catarina Guerra Licenciada em belas artes, é uma escultora com grandes capacidades de trabalhar em materiais como cerâmica, madeira e metal. Bailarina profissional de Bharatanayam. Gil Bizarro É movido por uma paixão pela permacultura, pelas artes da música e da dança. João Silva Jordão Gestor de Projetos e Vice-Presidente da Associação Família de Refugiados, assim como ativista político em várias frentes. Fez voluntariado em vários projetos de Permacultura. Também é Mestre em Planeamento de Desenvolvimento Urbano da Development Planning Unit, University College London, e especializou-se nos estudos de economia informal e metodologias de Planeamento Participativo em contextos de países em desenvolvimento. Mazen Aljasem Alhaji Cresceu e viveu numa área rural semi-árida como pastor e agricultor tradicional na Síria, é experiente em construir casas de barro, nas quais ele costumava viver antes de fugir da síria. A sua motivação é poder voltar a viver como vivia, integrado na natureza, como pastor. Naeem ilkaa Engenheiro eletrônico, é refugiado da Síria, Chegou a portugal em 2017, Veio com a mulher e o filho. A família gostou de Portugal e decidiu ficar e morar neste país. Naeem é um membro da Associação Family Of Refugees ( FOR ). Naeem é movido pela vontade de melhorar a situação dos refugiados cá em Portugal.

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Aconteceu... Encontro Chá das Cinco Na actividade Chá das Cinco, já regular na Casa de Goa, na última quinta-feira de cada mês, podemos contar com eventos culturais entre os quais salientamos o Grupo Cantares e Poesia do Centro Cultural de Oeiras.

O chá”

Quatro letras fáceis de se pronunciar, pelas quais se designa um evento que se pretende despretensioso, mas agregador de uma faixa de associados e simpatizantes da Casa de Goa. Uma evocação dos sabores, cheiros e memórias de infância para uns, para outros um vislumbre da culinária goesa. Na qualidade de sócia e também de pessoa que colborou e aceitou a incumbência de organizar apenas um, posso garantir-Vos que, ao contrário do que parece, está longe de ser simples. Estando para terminar o mandato da atual Direção que teve poucos colaboradores no âmbito deste evento e, não obstante, não deixou de o realizar, não posso deixar de lhes agradecer o seu empenho e o contributo desprendido que permitiram manter a tradição herdada, agradecimento que torno extensivo aos familiares e colaboradores. É uma realidade o facto de a massa associativa da Casa de Goa estar envelhecida e diminuída na sua capacidade financeira, dado ser constituída em grande número por reformados e pensionistas. Daí o mérito acrescido de uma atividade que não pesa e agrada, na medida em que as pessoas se revêem, trocam dois dedos de conversa e, sobretudo, saem da sua rotina. As atividades de cunho exclusivamente cultural são, indiscutivelmente, importantes. Mas também o são, as que vão de encontro à simples convivência, rompendo um quadro, em alguns casos, de solidão. Por isso, uma vez mais, o meu obrigada às pessoas que, com o seu trabalho e “carolice”congregaram esforços para tornar o “Chá das 5” uma realidade.. Esperemos que haja quem lhe dê continuidade.

Maria da Assunção Fernandes

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11de Abril – Lançamento dos Livros de Francisco Sá No auditório da Casa de Goa tivemos a honra de receber o nosso sócio e amigo Francisco Sá que fez a apresentação dos mais duas obras que se juntam ao seu já longo historial: Património Heráldico Português- um complemento da primeira obra editada anteriormente que contou com a apresentação do Dr. Augusto Ferreira do Amaral e Páginas Diversas que foi apresentado por Maria Virgínia Brás Gomes que escreveu um texto maravilhoso lido por Ana Paula Guerra, onde foi relatado as principais partes da obra e tecidos os merecidos elogios ao autor. Um evento com casa cheia de amigos e sócios encerrado com um maravilhoso porto de honra.

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Assembleia Eleitoral e Tomada de Posse dos novos Ă“rgĂŁos Sociais da Casa de Goa 14 de Abril de 2018

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15 de Abril – GOA UM POEMA VIVO Organizado pelo nosso sócio e amigo João Coutinho, recebemos no auditório da Casa de Goa uma tarde repleta de poesia e de Cultura Goesa, representada em versos, histórias, música e dança. Com a maravilhosa participação de José Fanha, Ana Freitas, Jorge de Castro, Grupo Ekvat e alguns sócios e amigos, a quem muito agradecemos. Casa cheia de amigos, sócios e público em geral que no final tiveram ainda a oportunidade de desfrutar de um delicioso lanche repleto de delícias goesas que tradicionalmente marcam a sua presença. Bem Haja a todos os participantes e assistentes neste evento cultural!

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Apresentação dos Novos Membros dos Órgãos Sociais Eleitos - 29 de Abril A Direcção da Casa de Goa mudou e a apresentação da nova Direcção foi feita num agradável convívio onde pudemos contar com a presença da Rubi Machado acompanhada do Ahmad Gulzar que cantaram música de Bollywood e ainda Raimundo Teixeira e Zeca Rodrigues, que cantaram música portuguesa relativa a Goa. Foi também servido um jantar de comida tradicional goesa.

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Lançamento do Livro “A última dança em Goa” - 19 de Maio Apresentação do livro “A Última Dança em Goa: música popular nos últimos anos do Estado da Índia Portuguesa”, de Joaquim Correia, com a chancela da editora Ideias com História. A obra também pode ser adquirida na Casa de Goa. No passado dia 19 de maio, na Casa de Goa em Lisboa, foi apresentado pela etnomusicóloga Susana Sardo o livro “A Última Dança em Goa: música popular nos últimos anos do Estado da Índia Portuguesa”, de Joaquim Correia. Houve música pelo Grupo EKVAT, que recriou e dançou temas de Goa, e pelo duo Mário Ferreira e Zeca, sempre com muita animação e participação dos presentes. A sessão iniciou-se com palavras de Boas-Vindas pelo Ex.mo. Sr. Presidente da Casa de Goa, Dr. Vasco Soares da Veiga, tendo o autor viajado entre os capítulos do livro, cabendo a alguns dos presentes recordar “o que era ser jovem na intemporal terra da música”. Realce-se que o Posfácio é da responsabilidade do anterior presidente da Casa de Goa, o ilustre Dr. Edgar Valles. Aproveitando a vitalidade das inúmeras orquestras que preenchiam muitos dos rituais de divertimento/ celebração/ religiosidade da comunidade católica, o autor dá-nos a conhecer elementos culturais específicos dos goeses: lembra que muitos fins de semana eram preenchidos a assistir a peças de Tiar, espécie de teatro de revista com sotaque indiano; refere um dos primeiros estudiosos da hipnose, o Abade Faria, nascido e criado em Goa; sublinha que a Emissora local estava na vanguarda das rádios mais ouvidas na região; apresenta numerosas imagens que testemunham os diversos tipos de músicas que se ouvia e dançava nos bailes, nas festas em clubes ou no adro da igreja, nas feiras ou festividades religiosas ou mesmo em casa ou no rádio, mencionando quais as orquestras ou conjuntos que eram contratados para tocar nos eventos ao vivo (desde logo muito se fala de Joãozinho e o seu Conjunto Alegre, entre cerca de outros 40 agrupamentos musicais listados…); claro que não faltam referências aos petiscos que se saboreavam, às roupas que se usavam, aos filmes, peças de teatro ou outros espectáculos a que se assistia. Existe também espaço reservado à diáspora, onde se acompanha a carreira de alguns músicos que partiram para Bombaim, Karachi, Portugal e também Moçambique nos anos 50, 60 e 70. Quanto a esta antiga colónia, apresenta-se exaustiva listagem comentada das bandas pop-rock da altura, da responsabilidade do ainda mentor da Onda Pop, agora em formato digital, João Pedro Gouveia. Por último faz-se uma breve incursão no período após a integração na República da Índia, realçando o contributo do músico com nacionalidade portuguesa e indiana Remo Fernandes, não esquecendo a chamada “invasão hippie”. Como bónus final, Luis Pinheiro de Almeida recorda a sua única viagem à Índia e a Goa e, mais ainda, conta histórias - verdadeiras - sobre os Beatles na Índia e em Goa. Especial menção merece o texto da Dra. Susana Sardo, onde se apresenta o projeto GEMM (Goan Encyclopedia of Music and Musicians), arquivo que fará justiça “à ação de milhares de músicos que até hoje vivem silenciados nos discos e nas cassetes que já ninguém escuta, nas partituras gastas pela humidade e na memória dos que um dia foram os seus públicos”.

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Festival Garcia de Orta em Castelo de Vide de 29 de Junho a 1 de Julho A Casa de Goa Juntou-se ao Grupo de Amigos de Castelo de Vide e participou activamente no Festival Garcia de Orta em Castelo de Vide. Entre Diálogos - Este projecto foi vencedor do Orçamento Participativo e irá acontecer durante dois anos. Para começar fez-se um fim-de-semana animado com uma viagem dos nossos sócios e amigos a Castelo de Vide, Exposição de Fotografia, Workshop de gastronomia, Workshops de Dança, Workshop de Saris, Espectáculo, Massagens Ayurvédicas, Histórias Infantis, Mercado de Cá e de Lá, Passeio Guiado, Jantar temático e um Desfile de Trajes Indianos. Foi um Fim de semana Maravilhoso! Acesso link vídeo do passeio

Esposição de fotografia

Workshop de Saris

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Mercado De cá e de Lá

Abertura do Festival no Jardim Garcia D’Orta

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Workshops de Mandalas e Estrela de David

Bombons de Orta

Workshops de danรงa

Espectรกculos

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SARDINHADA – 14 de Julho Caríssimos sócios e amigos da Casa de Goa, depois da tomada de posse da actual Direção em 14-042018, foi necessário seguir o rumo dos eventos, delineados pelas Direcções anteriores, entre as quais a nossa “Sardinhada” que agrega um conjunto de pessoas, que por norma, faz questão de estar presente neste saudável e alegre convívio. De facto, tudo se conjugou para que tal acontecesse. Durante a semana que antecedeu o mesmo, deparámonos com algumas circunstâncias, inerentes ao espaço físico onde decorre o evento, no caso concreto, à impermeabilização da laje tectónica do Museu que obrigou à remoção das terras que cobriam a mesma. Ultrapassada, aquela intervenção, foi delineada uma logística, em tempo record, que comportasse o número de associados e simpatizantes fiéis ao evento. Naquele sentido, convém salientar a inestimável colaboração de alguns associados, nomeadamente dos Srs. António Rodrigues, Braúlio Garçoa, Elisabete Marques, Juliano Mariano e Vicente Fernandes, que contribuíram para que este evento fosse possível. Nunca é demais acrescentar, também, a cooperação e empenho de todos os sócios que estiveram presentes e aqueles que por outras razões não lhes foi possível assistir a este acontecimento. A Direcção da Casa de Goa, a todos agradece.

O Vice-presidente José Salvador Sequeira Rodrigues

Manhãs de Verão na Trafaria - 14 de Julho O Grupo Ekvat da Casa de Goa participou no evento manhãs de verão na Trafaria. Foi uma manhã divertida em contacto com um público muito participativo e simpático, acarinhados com um lanche servido na biblioteca e com muitos bons momentos durante o espectáculo e o Workshop de Danças tradicionais. Bem haja à organização e ao público!

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Agenda 15 de Agosto - Dia da Independência em conjunto com a Embaixada da Índia, no Jardim de Belém 22 de Setembro - Pravasi Bhartiya Diwas (Evento publicitário da Convenção com espectáculo no Auditório da Casa de Goa) 27 de Setembro - Encontro chá das Cinco

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Government of Goa NRI COMMISSION Secretariat Porvorim – Goa - 403521 APPLICATION FORM FOR KNOW GOA PROGRAMME (KGP) 11th KGP November 30 - December 14, 2018 PERSONAL PARTICULARS

Name (as in Passport in BLOCK letters)

_____________ _____________ ____________ (Surname) (First Name) (Middle Name) (ii)

Gender

Male/Female

(iii) Date of birth (iv) Place of birth (dd/mm/yyyy)

----------(City)

--------(Country)

(v) Nationality -------------------- (vi) Domicile ------------------- (Country where you live in permanently) (vii) Marital status -----------------------(viii)

Passport Particulars

No.

------------------

Place of issue ---------------------------- (City) (Country) Date of issue ------------------ (dd/mm/yyyy) Date of Expiry ------------------ (dd/mm/yyyy) Whether holder of PIO / OCI Card status If so, furnish details -----------------------------------------(ix) Telephone number: Work --------------- (With country and city code) Residence --------------- Mobile/Cell ---------------- Fax Number ----------------- (With country and city code) E-mail Address ------------------------------------

(x)

Complete mailing address with PIN/ZIP Code 68


(xi) (xii)

Permanent home address with PIN/ZIP Code Particulars in respect of your parents / grand parents (a) Name and address (b) Date and Place of birth ( c) Present nationality. (d) whether any of your parents / grandparents had ever been citizen of Pakistan or Bangladesh before acquiring present nationality. (The selection of such participants will be subject to clearance from Govt. of India, Ministry of Home Affairs, New Delhi).

(xiii) Name, address (if available) and your relationship with your ancestors who migrated from Goa: Name Last known address Your relationship with him/her The year when he/she migrated from Goa (xiv) Particulars in respect of your closest relative in India: Name Present address Your relationship with him/her Contact telephone numbers with city code EDUCATIONAL AND PROFESSIONAL PARTICULARS 1. Educational qualification State the name and address of the College/University from where you completed under graduate / post graduate course or have joined it for this purpose Subjects of study Medium of instruction 2.

Qualification in English language

3.

Details of Occupation/employment:

Sr.No.

4.

Organization/Office/Firm (Name and address)

Position held

Period From

To

Contact particulars of the present employer: 69


5.

Telephone number: Work ---------------(With country and city code) Mobile/Cell ----------------Fax Number -----------------(With country and city code) E-mail Address ------------------------------------

Personal

Achievements,

If

any___________________________________

________________________________________________________________ OTHER DETAILS 1.

Details of Community Activities, if undertaken:

2.

Are you a member of any Overseas Indian/Goan Association/Organization? If yes, give its name And address

3.

How did you come to know about the KGP? (Through an Indian Diplomatic Mission/Goan Overseas Association)

4. Have you participated in any Know India Programme organized by Government of India, Ministry of Overseas Indian Affairs ? If yes, provide details. 5.

Yes/No

Have you visited India earlier? if yes, please provide details of your last two visits including the month and year of the visit, places visited and the purpose for your visit

6. Please state, in not more than 100 words, why do you wish to take part in the Programme? (May write on a separate sheet)

know

Goa

___________________________________________________________ _________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 7.

Write a brief proposal note on a blank page giving details on what 70


contribution the applicant could make for his/her native land Goa. DECLARATION I, hereby, declare that all the information given in this Application Form is true and correct to the best of my knowledge and belief. I also declare that I will abide by the terms and conditions of the Know Goa Programme, and would offer my full cooperation in its smooth conduct, and would not leave it mid-way. I understand that if I am found guilty of any misconduct or indiscipline during the course of the Programme, or if I leave the Programme mid-way, I could be refused any further participation in the said Programme or participation in any future Programmes and that I would not be eligible for any reimbursement of the return international airfare from my country of residence to India.

(Signature of the applicant) Name of the applicant Date:

ENDORSEMENT OF THE CONCERNED INDIAN MISSION/POST

Name of Indian Mission/Post: Recommendations of the Head of Mission/Post

Signature of HOM/HOP _______________ Name of the HOM/HOP__________________ Office Seal Date

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Terms & Conditions and Eligibility Criteria Goan Diaspora Youth in the age group of 18 – 28 years who are foreign nationals and whose parents or ancestors are of Goan origin, have had no opportunity to discover their roots, have abiding interest in Goa, and who have distinguished themselves in various fields, are eligible to apply in the application form attached. Those who have already participated in the Know India Programme organized by Government of India, Ministry of External Affairs or the Know Goa Programme organized by Government of Goa, Department of NRI Affairs from 2008 till 2017, will not be considered for the 11th Know Goa Programme 2018. The Government of Goa will re-imburse to the participants on reaching Goa in rupee equivalent 90% of the total cost of the air ticket at lowest economy excursion fare from the destination in the country of domicile to Goa, and return from Delhi back to the destination. The Government of Goa will purchase one way economy class air ticket of the participants from Goa to Delhi. While in Goa, the participants will be accommodated at Miramar Residency in Deluxe A.C. Rooms on twin sharing basis at government cost. This is a prime property of Goa Tourism Development Corporation located at the famous Miramar Beach, only 04 kms away from Panaji, the capital city of Goa. The participants will be provided breakfast, lunches and dinners at government cost. While in Delhi, the participants will be accommodated in three star category hotel in A.C. rooms on twinsharing basis and provided breakfast, lunches and dinners at government cost. Arrangements for the visit of the participants to places of interest in Delhi and Agra will be made in consultation with the Government of India, Ministry of External Affairs, New Delhi. Final departure of the participants to their respective destinations will be from Delhi.

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