Revista Jardim Zoológico | Agosto 2024

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Conservar, educar e investigar

AGOSTO 2024

EM DESTAQUE

À conversa com Dra. Antonieta Costa sobre 140 anos de uma missão educativa

VISITA GUIADA

O Jardim Zoológico dá vida à natureza: o Órix-de-cimitarra

AMIGOS DO ZOO

Entre a Medicina Humana e a Veterinária: Dr. António Cartuxo

LEOPARDO-DA-PÉRSIA

O nosso papel na sua conservação

sumário

4. breves

Pequenas notícias sobre o Reino Animal.

8. visita guiada

Jardim Zoológico dá vida à natureza: o Órix-de-cimitarra.

10. pegadas

De Sete Rios ao Cáucaso.

Conheça o Leopardo-da-pérsia.

16. palavra de bicho

Tapada do Lince-ibérico: o impacto da instalação na experiência dos visitantes.

20. em destaque

À conversa com Dra. Antonieta

Costa sobre 140 anos de uma missão educativa.

26. novidades

Do mais pequeno inseto ao maior mamífero, todos contam. O novo Jardim das Abelhas.

28. amigos do zoo

Entre a Medicina Humana e Veterinária: entrevista com Dr. António Cartuxo.

30. zoo em movimento

A renovada instalação dos Pinguins-do-cabo.

32. entrevista com...

Dr. Rui Bernardino, Diretor do Departamento Zoológico e Veterinário

“As enormes mudanças do mundo nestes 140 anos definem a capacidade de adaptação dos Jardins Zoológicos e a nossa missão de educar através dos diferentes tempos e gerações..”

140 anos do Jardim Zoológico: Natureza, Educação e Conservação

Em 1884, o Jardim Zoológico, instituição de utilidade pública, foi o primeiro parque da Península Ibérica a reunir fauna e flora. As primeiras instalações situaram-se no Parque de São Sebastião da Pedreira; posteriormente, o parque mudou-se para Palhavã, até que, a 28 de Maio de 1905, as novas e definitivas instalações foram inauguradas na Quinta das Laranjeiras.

As enormes mudanças do mundo nestes 140 anos definem a capacidade de adaptação dos Jardins Zoológicos e a nossa missão de educar através dos diferentes tempos e gerações.

As grandes mudanças são visíveis na modernização das instalações e dos serviços, mas, acima de tudo, na promoção da educação, com a criação do Centro Pedagógico. Somos hoje uma referência educativa, que oferece uma das melhores “salas de aula” do país, onde a colecção animal, os espaços e as actividades proporcionam uma aprendizagem envolvente e eficaz.

Somos associados da EAZA (Associação Europeia de Zoos e Aquários) e da WAZA (Associação Mundial de Zoológicos e Aquários), cumprindo os elevados padrões determinados por estas organizações de referência, no domínio da conservação das espécies, através de programas que financiamos e coordenamos, tanto na natureza, como nas instituições zoológicas pertencentes a esta comunidade.

Mas a maior adaptação foi na essência daquilo que somos: a investigação e conservação da vida dos animais. Criámos áreas específicas para reforçar o seu bem-estar, com cuidados médico-veterinários, sendo ainda a alimentação um dos pilares. O nosso hospital veterinário foi considerado um dos melhores da Europa pela Associação Europeia de Zoos e Aquários (EAZA).

Olhando para o futuro, continuaremos a trabalhar com as nossas equipas e parceiros para sermos um centro de excelência, onde a natureza é protegida e valorizada, inspirando futuras gerações a amar e respeitar todos os seres vivos!

Venha visitar-nos, vai valer a pena!

ESPECIAL ZOO – Impresa Publishing – Dossiês Especiais

AGOSTO 2024

Edifício Impresa, 242, 2.º, Laveiras, 2770-022 Paço de Arcos Telefone: 214 544 000 Publicidade/Vendas Carlos Lopes (Diretor) (calopes@impresa.pt), Miguel Teixeira Diniz (Comercial) Telefone 917213755 | (mdiniz@impresa.pt)

EDITOR: Sofia Formosinho LOGÍSTICA, PRÉ-PRESS, MULTIMÉDIA E TRATAMENTO DE IMAGEM: Produção Publishing Ana Sengo da Costa (Diretora) ascosta@impresa.pt GRAFISMO: Margarida Salvador Os conteúdos publicados no presente dossiê são da responsabilidade exclusiva do Departamento Comercial da Impresa Publishing, sendo editorialmente autónomos dos cadernos principais do jornal Expresso

FICHA TÉCNICA

Sabia que...

ALGUMAS

CURIOSIDADES

SOBRE O JARDIM ZOOLÓGICO

PANDA-VERMELHO

Tal como o Pandagigante, alimenta-se quase exclusivamente de folhas de bambu.

ABELHA-EUROPEIA

Comunicam entre si através da libertação de feromonas, danças ou sons.

KOALA

O nome Koala deriva do dialeto aborígene e significa “não bebe”.

LINCE-IBÉRICO

80 a 100% da dieta do Lince-ibérico é composta por Coelhobravo.

PINGUIM-DO-CABO

Possuem um padrão único de manchas pretas no seu peito branco, que permite o reconhecimento individual.

URSO-FORMIGUEIRO-GIGANTE

A sua língua, sempre humedecida com saliva, é extraordinariamente comprida (mede cerca de 60 cm).

ELEFANTE-AFRICANO-DA-SAVANA

A tromba do elefante tem mais de 40.000 músculos.

GIRAFA-DE-ANGOLA

Nascem com quase dois metros de altura.

GORILA-OCIDENTAL-DAS-TERRAS-BAIXAS

No grupo dos gorilas, o dominante é o que desenvolve uma pelagem acinzentada no dorso.

kg

PANDA MAIS AMEAÇADO DO MUNDO NASCE NO JARDIM ZOOLÓGICO

Nasceu no Jardim Zoológico uma cria de Panda-vermelho (Ailurus fulgens), uma espécie que tem tanto de rara, como de curiosa.

Com uma pelagem densa e cauda longa que o ajuda a manter a temperatura corporal, o Panda-vermelho está adaptado ao frio que se faz sentir na sua área de distribuição natural, as florestas dos Himalaias. A espécie está classificada como “Em Perigo” (IUCN) devido a um declínio sustentado dos seus números, motivado pela perda e fragmentação do habitat por influência humana. Os Pandas-vermelhos são animais solitários exceto durante a época reprodutiva, que ocorre no Inverno. Após uma gestação de 4

a 5 meses, nascem em média 2 crias num ninho preparado pela progenitora em rochas ou árvores ocas. No Jardim Zoológico, os tratadores disponibilizam várias estruturas e materiais de ninho, para que a fêmea possa escolher as condições que lhe trazem mais conforto. Após o parto, que desta vez trouxe apenas uma cria, os tratadores monitorizam a sua evolução com atenção, sem interferir ou causar ansiedade que possa levar ao abandono do ninho. As crias são completamente dependentes da progenitora até por volta dos 6 meses, quando aprendem a andar nas árvores e começam a comer alimentos sólidos.

Apesar de serem carnívoros em

termos de evolução, os Pandas-vermelhos adaptaram-se a uma dieta especializada em folhas e rebentos de bambu. Para tal desenvolveram dentes molares achatados que facilitam a mastigação, e um falso-polegar que usam para agarrar os ramos. O seu aparelho digestivo continua, contudo, a ser como o dos carnívoros, o que faz com que tenham de comer até 30% do seu peso em folhas todos os dias. No Jardim Zoológico a sua dieta é suplementada com alimentos que compensam o baixo valor nutricional do bambu, e que lhes permitem uma maior longevidade como no caso do macho “Kibar”, que celebrou em julho o seu 16º aniversário!

TRÊS DÉCADAS A CUIDAR DE KOALAS

Os Koalas (Phascolarctos cinereus) são animais icónicos da Austrália, mas nem o seu carisma tem impedido a redução dramática dos seus números em meio selvagem. Atualmente a espécie está classificada como “Vulnerável” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), e a principal ameaça à sua sobrevivência é a destruição e fragmentação do habitat, que resulta no isolamento de pequenas populações e aumento da suscetibilidade a eventos como incêndios, secas e doenças infeciosas.

Para ajudar a combater este declínio, o Jardim Zoológico estabeleceu em 1991 um acordo de participação no programa de conservação ex situ da espécie com a San Diego Zoo Wildli-

fe Alliance (Califórnia, Estados Unidos da América), tornando-se no primeiro zoo da Europa a receber e a reproduzir Koalas. Desde então, nasceram no Jardim Zoológico oito Koalas que foram transferidos para a Áustria, Bélgica, França, Escócia e Estados Unidos da América de forma a dar continuidade ao programa. No sentido inverso, o Jardim Zoológico recebeu ao longo dos anos Koalas de diferentes origens, entre eles o “Gowi Nee Bu” que chegou a Lisboa em junho de 2023, proveniente de França, para reproduzir com a fêmea “Goolara” nascida na Alemanha. Estas trocas são fundamentais para manter a diversidade genética da população sob cuidados humanos.

A par do foco na educação dos visitantes e no maneio reprodutivo da espécie, o Jardim Zoológico procurou desde o início desenvolver conhecimentos e capacidades que pudessem ser partilhados com os zoos que seguiram as suas pegadas, nomeadamente no que toca à alimentação especializada com mais de 20 espécies de Eucalipto. Quanto à conservação in situ, os esforços de monitorização, translocação, reabilitação e investigação médica continuam a ser apoiados por instituições como o Jardim Zoológico, e mostram-se essenciais em situações de crise como os grandes incêndios de 2020 que tiraram a vida a mais de 6000 Koalas na Austrália.

EAZA em números

Fundada em 1992, a Associação Europeia de Zoos e Aquários (EAZA) tem como principal missão facilitar a cooperação entre os zoos e aquários europeus, de forma a atingir os objetivos a que se propõem: educação, investigação e conservação. Para tal, a EAZA começa por impor aos seus membros padrões elevados de cuidado e bem-estar animal, que são atualizados e avaliados regularmente.

Com mais de 400 instituições em 47 países

da Europa e Ásia Ocidental, estima-se que mais de 140 milhões de pessoas visitem zoos da EAZA anualmente. Para além de remeter para a necessidade de um programa educativo de excelência, este número reforça o sentido de responsabilidade social.

Uma das formas através das quais os membros da EAZA contribuem para a preservação da biodiversidade é o planeamento e apoio a projetos in situ , ou seja, nos habitats de origem das espécies ameaçadas e envolvendo as comunidades locais. Desde os anos 90 até 2022, cerca de metade dos membros reportaram contribuições que totalizam 190 milhões de euros em apoios financeiros e quase 700 mil horas de contribuições técnicas, em projetos que cobrem mais de 1000 espécies e envolvem cerca de

750 parceiros. Os mamíferos continuam a ser os mais apoiados, com cerca de 50% dos projetos, mas iniciativas com foco em espécies de outras classes, nomeadamente invertebrados, têm vindo a aumentar de forma considerável. As regiões mais intervencionadas são África e Ásia, com cerca de 25-35% dos projetos, seguindo-se a Europa com cerca de 15-20%, e a América Central e do Sul com 10-15% das iniciativas.

O Jardim Zoológico é membro da EAZA desde a sua fundação, e como tal contribui diariamente para estes números. Com formas de atuação distintas, desde ações de sensibilização a reintrodução em meio selvagem, o Jardim Zoológico orgulha-se de trabalhar para a preservação da biodiversidade, que na ausência destas intervenções estaria ainda mais comprometida.

O Planeta é a Nossa Casa

O Jardim Zoológico e a companhia de teatro Plano 6, apresentam a peça “O Planeta é a Nossa Casa”, com estreia em outubro.

Num mundo cheio de natureza e aventura, somos levados a explorar o valor de preservar nosso Planeta. Descobrimos um lugar onde tudo é enorme! Lá, encontramos animais fascinantes e aprendemos como os zoos trabalham para proteger a vida selvagem. Com música animada e cores vibrantes, esta peça emocionante ensina às crianças a importância de cuidar do nosso ambiente e dos seus habitantes incríveis!

Lisboa - Teatro Tivoli BBVA 12 out. a 03 nov.

Porto - Auditóro Exponor 10 a 17 dez.

Lisboa - Teatro Tivoli BBVA 31 jan. a 02 março

Porto - Auditóro Exponor 17 a 25 março

Conservar

1. Manter em bom estado. 2. Manter no estado atual.

3. Guardar. 4. Preservar. 5. Continuar a ter. 6. Reter (na memória).

7. Não perder. 8. Não desistir.

Palavras relacionadas: reter, manter, permanecer, mantimento, memorizar, reservar, vivificar.

entre patas e barbatanas

...a respeitar a natureza

Na sua missão de proteger as espécies e sensibilizar os visitantes para a importância da sua preservação, o Jardim Zoológico associa-se a vários projetos em todo o mundo.

EDUCAR PARA CONSERVAR

De “Extinto na Natureza”para “Em Perigo”

Jardim Zoológico dá vida à Natureza.

OÓrix-de-cimitarra (Oryx dammah) foi declarado como “Extinto na Natureza” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) em 2000, e sem os esforços de conservação internacionais já estaria extinto em todo o mundo. Contudo, o início de 2024 trouxe uma grande notícia: o regresso do Órix-de-cimitarra à natureza!

O Órix-de-cimitarra é um antílope ruminante, caracterizado pelos longos cornos curvados para trás, que podem medir até 1,20 metros de comprimento. Com uma área de distribuição original de estepes semiáridas e desertos do Egipto, Burkina Faso, Líbia, Mali, Mauritânia, Marrocos, entre outros, tem a caça, a perda do habitat e a competição com o gado doméstico como principais causas para a sua extinção. Nos primeiros anos da década de 2000 iniciaram-se, assim, esforços de conservação que uniram zoos de todo o mundo, instituições privadas e entidades governamentais. O processo é complexo, e depende desta rede de instituições e técnicos especializados. No local de reintrodução é necessário identificar e controlar os diferentes fatores de risco como a caça furtiva, a degradação do habitat e a competição com gado doméstico,

e garantir as condições que potenciam a sobrevivência dos animais translocados. A nível das instituições zoológicas que apoiam o esforço de reintrodução, como no caso do Jardim Zoológico, é necessário reunir o conhecimento adquirido ao longo de décadas de maneio da espécie; transmitir conhecimentos e apoiar o desenvolvimento de competências locais; e analisar a população sob cuidados humanos de forma a identificar os indivíduos que permitam alcançar uma descendência saudável, com comportamentos naturais para a espécie e com a maior variabilidade genética possível.

A nível europeu, este esforço é coordenado pela Associação Europeia de Zoos e Aquários (EAZA) e pelo EAZA Ex situ Program (EEP) da espécie, que procura estabelecer populações saudáveis e representativas sob cuidados humanos, através de um maneio genético rigoroso. O Jardim Zoológico contribuiu ao longo dos anos para o programa de reintrodução da espécie na Tunísia, através da partilha de conhecimentos, contribuições para o estabelecimento de uma população saudável e sustentável, disponibilização de animais geneticamente importantes, e apoio financeiro às translocações.

Leopardo-da-pérsia do passado

ao futuro na conservação da espécie

CONHEÇA ESTA ESPÉCIE EMBLEMÁTICA

O Leopardo-da-pérsia (Panthera pardus tulliana) é originário do Cáucaso, Médio oriente e Ásia Central e habita uma grande variedade de habitats e ecossistemas: desde zonas montanhosas (até cerca de 3000 metros de altitude), áreas de pastagens e ecossistemas desérticos, com preferência para falésias e áreas rochosas, bem como florestas que fornecem cobertura durante a caça (a existência de presas determina a sua presença). É uma espécie bastante territorial e solitária, com maior atividade durante a noite e crepúsculo. Durante o dia, repousa em zonas cobertas ou entre rochas similares a cavernas. De corpo esguio e cauda longa, este é o o Leopardo que atinge maiores dimensões.

AMEAÇADOS E EM PERIGO DE EXTINÇÃO

Até meados do século XX, o Leopardo-da-pérsia era comum e a sua área de distribuição estendia-se por quase todas as áreas montanhosas da região. Em 1950, a sua população decresceu acentuadamente e em algumas áreas tornou-se localmente extinto. Atualmente, os Leopardos-da-pérsia estão “Em Perigo” segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), sobrevivendo apenas algumas centenas de animais na vasta área de dispersão, o que os torna numa das subespécies mais ameaçadas. As principais causas desta ameaça são a redução e fragmentação do seu habitat natural, a redução no número de presas, a caça para o comércio ilegal da pele e dos ossos, bem como

a perseguição direta por ser considerado um potencial predador do gado doméstico e uma potencial ameaça às povoações.

TRABALHAMOS

PARA A CONSERVAÇÃO DA ESPÉCIE

Este cenário torna urgente a realização de ações de conservação da espécie que vão desde a proteção do seu habitat à gestão demográfica e genética da espécie.

Em 2005, especialistas da WWF Rússia e da Russian Academy of Science uniram-se para a criação de um ambicioso programa com o objetivo de restaurar habitats e promover a recuperação da fauna do Cáucaso. Com o apoio da WWF Rússia foi construído, em 2009, o Centro de Reprodução e Recuperação de Sochi, na Rússia. Com a integração de dois machos provenientes do Turquemenistão e duas fêmeas do Irão, teve início o Programa de Reintrodução do Leopardo-da-pérsia no Cáucaso, que procura potenciar a criação de uma população sustentável nesta região.

Em 2012 foi formado um grupo de consultores especializados para unir esforços entre as várias entidades envolvidas na conservação da espécie, e o Jardim Zoológico foi convidado a colaborar no desenvolvimento do Programa de Reprodução, devido à sua valiosa experiência nesta área. A entrada do Jardim Zoológico no projeto ficou assinalada pela cedência ao Centro de Reprodução do casal reprodutor “Andrea” e “Zadig”, que foi acompanhado de perto pelos técnicos das duas instituições.

CONSERVAÇÃO EX SITU

O Jardim Zoológico participa no EAZA Ex situ Program (EEP) do Leopardo-dapérsia desde 2006, e coordena o Studbook Internacional (ISB) e o EEP desde 2013. Este trabalho consiste na gestão das populações sob cuidados humanos a nível internacional, e exige um elevado grau de conhecimento de cada indivíduo e de cada instituição, com o objetivo de preservar a espécie num ambiente protegido. Os resultados deste esforço estão à vista, com a reintrodução de animais do EEP no Cáucaso Maior, numa região onde a espécie estava virtualmente extinta. Em 2024 o ISB conta com 113 indivíduos em 49 instituições. Em meio selvagem estima-se a sobrevivência de apenas algumas centenas de animais (IUCN).

Fotografia Pantea Tabrizizadeh

Até meados do século XX, o Leopardo-da-pérsia era comum e a sua área de distribuição estendia-se por quase todas as regiões montanhosas do Cáucaso, Médio oriente e Ásia central.

MARCOS HISTÓRICOS DO PROGRAMA

A adaptação do casal às novas instalações foi bem-sucedida, como comprovado pela reprodução nove meses depois da sua chegada, em 2013. Numa ninhada de 3 leopardos, nasce “Vitória” no Centro de Reprodução em Sochi, sendo os primeiros Leopardos-da-pérsia a nascer (comprovadamente) nas últimas décadas na região do Cáucaso. Em 2014 “Andrea” e “Zadig” reproduziram novamente, e as crias de ambas as ninhadas foram preparadas para a reintrodução na natureza. É importante perceber que animais sob cuidados humanos diretos não podem ser reintroduzidos em meio selvagem, tal como aconteceu com “Andrea” e “Zadig”. Apenas a geração seguinte, que viveu exclu-

sivamente em regime de semiliberdade sem contacto com o ser humano, e que desenvolveu técnicas de caça de presa viva, poderá ter a oportunidade de se “arriscar” em meio selvagem. Caso contrário, a escassez de alimento no habitat natural poderia levar os animais a aproximar-se, sem receio, de aldeias e cidades.

Em 2016 a fêmea “Vitória” voltou a fazer história, ao ser um dos primeiros três felinos da subespécie a serem reintroduzidos em meio selvagem, mais concretamente na Reserva Caucasus State Nature Biosphere, com uma área protegida de 3.000 km 2 Duas novas reintroduções ocorreram em junho de 2018, de dois machos no Parque Nacional de Alaniya; e em novembro do mesmo ano teve lugar a reintrodução de

um macho na Reserva Natural do Cáucaso (Caucasus State Nature Biosphere Reserve). Em paralelo, a primeira inseminação artificial em Leopardo-da-pérsia foi efetuada com sucesso em 2014, no Zoo de Nordhorn, Alemanha, resultando no nascimento de um macho e de “Elin”, a fêmea que se encontra atualmente no Jardim Zoológico. Já em agosto de 2017, o Jardim Zoológico tornou-se no primeiro zoo europeu a transferir um Leopardo-da-pérsia para o Irão. Entre Lisboa e o Zoo de Teerão, o leopardo “Gaspar” percorreu mais de 6000 km para reproduzir com uma fêmea do programa de reprodução, “Kija”, e dessa forma contribuir para a continuação da espécie.

Em janeiro de 2019, a Dra. Imke Lüders (GEOlifes) e o Dr. Rui Bernardino (Jardim

CONSERVAÇÃO IN SITU DO LEOPARDO NO CÁUCASO MENOR

Em 2024 o Jardim Zoológico foi convidado a integrar uma nova iniciativa de conservação do Leopardo-da-pérsia no Cáucaso Menor. Este projeto procura avaliar o estatuto atual da espécie em alguns locais determinantes, a existência de presas e as condições de habitat na região, de forma a orientar futuros projetos de conservação. O Jardim Zoológico é um dos três parceiros que financiam esta iniciativa em colaboração com a WWF e o Zoo de Berna, apoiando o IUCN. Fiquem atentos!

Zoológico) realizaram uma nova recolha de sémen, desta vez do macho “General” que habita no Centro de Reprodução de Sochi. Este material será utilizado para inseminações artificiais de fêmeas no futuro, sendo uma mais-valia para a espécie visto o “General” não estar geneticamente representado na população sob cuidados humanos.

A NOVA CASA DOS LEOPARDOS

No Jardim Zoológico, uma nova instalação para esta espécie está a ser desenvolvida e muito brevemente abrirá ao público. Este

avanço reflete uma preocupação de constante readaptação dos espaços e modificação do seu conteúdo, atendendo às necessidades da espécie dentro das possibilidades da instalação, e potenciando e incentivando comportamentos naturais. Existe, assim, uma importante relação entre a instalação de uma espécie e o processo de preparação para a sua reintrodução. O Jardim Zoológico, ao coordenar o EEP desta espécie, exemplifica um plano modelo na remodelação das instalações para os restantes zoos que integram o programa de reprodução ex situ . Nesta

nova instalação, pretendeu-se diversificar as oportunidades de escolha e aproveitar em pleno todo o espaço disponível, dificultando percursos e acessos. A colocação de diversas plataformas com ligações estreitas entre estas e as árvores existentes no espaço permitiu o crescimento em altura. Através da colocação destas estruturas, de túneis, de vegetação e de zonas com diferentes substratos, permite-se o enriquecimento da instalação e que os animais possam ter opção de escolha, proporcionando uma melhoria do seu bem-estar.

ÚLTIMO ESFORÇO PELO LEOPARDO-DA-ARÁBIA

O Leopardo-da-arábia ( Panthera pardus nimr ), subespécie criticamente ameaçada de extinção (IUCN), sobrevive com apenas 70 a 84 indivíduos em meio selvagem (IUCN). Em 2024 o Jardim Zoológico foi convidado a colaborar com o Centro de Reprodução de Leopardo-da-arábia em Taif, Arábia Saudita, principalmente através de apoio técnico especializado. Nesse âmbito o Dr. Rui Bernardino, Diretor do Departamento Zoológico e Veterinário do Jardim Zoológico, visitou Taif como formador e para realizar procedimentos de avaliação reprodutiva em alguns animais; e o Dr. Abdulatiff, médico veterinário do centro, esteve em formação no Jardim Zoológico durante 3 semanas. O centro conta neste momento com 32 Leopardos-da-arábia, que integrarão esforços de reintrodução num futuro próximo!

Primeira gravidez por Fertilização in vitro em rinocerontes

Em janeiro deste ano, cinco meses após a celebração de mais um nascimento natural de Rinoceronte-branco-do-sul (Ceratotherium simum simum) no Jardim Zoológico, foi tornada pública a notícia da primeira gestação resultante de fertilização in vitro (IVF ou FIV) em rinocerontes. Este foi um marco de grande importância na reprodução assistida de espécies ameaçadas, especialmente por devolver alguma esperança à recuperação dos Rinocerontes-brancos-do-norte (Ceratotherium simum cottoni), uma subespécie funcionalmente extinta que conta hoje com apenas duas fêmeas “Najin” e “Fatu” no Quénia, mas que há 60 anos era mais comum que o Rinoceronte-branco-do-sul. Este trabalho foi realizado pelos médicos veterinários do IZW em Berlim, após anos de colaboração com inúmeras instituições incluindo o Jardim Zoológico, que possibilitaram o desenvolvimento de conhecimentos e técnicas especializadas, agora aplicadas para salvar espécies à beira da extinção.

O Tigre-de-sumatra mais velho do Mundo

O Jardim Zoológico cuida de Tigres-de-sumatra (Panthera tigris sumatrae) desde 1980, com a chegada de “David” e “Dina”, da República Checa. Desde então que tratadores e quadros técnicos têm procurado desenvolver conhecimentos e capacidades que permitiram alcançar o feito que celebramos hoje: “Sigli” é o Tigre-de-sumatra mais velho do mundo, com quase 22 anos! Nasceu em Roterdão em 2002 e veio para Lisboa com apenas dois anos de idade. Em Lisboa “Sigli” teve três crias em 2009 que foram para a Alemanha e Reino Unido, e outra em 2013 que continua com a mãe no Jardim Zoológico. O Tigre-de-sumatra é uma subespécie criticamente ameaçada de extinção (IUCN), cuja população em meio selvagem está estimada em apenas 400 indivíduos. As principais ameaças à sua sobrevivência são a conversão florestal com fragmentação do habitat, e a caça furtiva motivada pelo conflito humano.

VIDA NO JARDIM

02 entre rugidos e piares

Educar

verbo transitivo

1. Dar educação a. 2. Criar e adestrar (animais). 3. Cultivar (plantas). verbo pronominal. 4. Adquirir os dotes físicos, morais e intelectuais que dá a educação.

Palavras relacionadas: educando, educado, educativo, deseducar, educação, bem-educado, desemburrar.

Tapada do

Lince-ibérico

O impacto da instalação na experiência dos visitantes

A Tapada do Lince-ibérico, inaugurada em 2014, foi projetada a pensar não só na espécie, com uma instalação naturalista adequada à mesma, mas também nos visitantes, contando com uma exposição educativa.

OJardim Zoológico encontra-se em constante adaptação para que, dentro de outros objetivos, possa proporcionar uma melhor experiência aos seus visitantes. A instalação do Lince-ibérico (Lynx pardinus), à semelhança do Montado, é composta por flora mediterrânica, zambujeiros, medronheiros, carvalhos e plantas aromáticas. Nela podem observar-se diversos locais de sombra, múltiplos esconderijos e plataformas elevadas, para que os linces possam desenvolver os seus comportamentos naturais.

Para muitos, os dois exemplares-embaixadores “Azahar” e “Gamma”, que chegaram ao Jardim Zoológico em 2014, são o primeiro contacto com esta espécie emblemática. E foi essa a função que o Jardim Zoológico assumiu ao recebê-los: sensibilizar a população e oferecer aos visitantes a oportunidade de conhecer e criar laços emocionais com a espécie, sendo evidente que as instalações naturalistas e ao ar livre estimulam a curiosidade e o interesse dos visitantes. Em 2019, um estudo realizado no Jardim Zoológico atestou a

influência positiva de fatores como o grau de naturalismo da instalação e a presença de painéis educativos, no tempo de permanência e no interesse demonstrado por parte dos visitantes, tal como afirmado em estudos semelhantes realizados noutros zoos. O estudo foi realizado através da observação de visitantes, de forma aleatória e sem qualquer interação com os mesmos, e do registo do seu tempo de permanência em determinadas áreas do Jardim Zoológico, bem como do tempo que despendiam a observar

os elementos presentes nestas áreas. De acordo com os resultados, a Tapada do Lince-ibérico foi a área que despertou maior interesse, em quase 90% dos visitantes. Verificaram-se, ainda, valores elevados de tempo médio de observação da informação disponibilizada e da própria instalação, apesar da maioria dos visitantes não ter observado os linces presentes na instalação, devido à sua fantástica capacidade de se camuflarem na vegetação tal como acontece no habitat natural. Estes resultados demonstraram a persistência e

O Lince-ibérico no nosso mapa

O Lince-ibérico é uma espécie endémica da Península Ibérica que habita no Montado, uma das paisagens mais emblemáticas de Portugal. Este bioma é dominado por sobro ou azinho, podendo encontrar-se outras espécies de árvores, arbustos, herbáceas e plantas aromáticas.

NO MAPA

interesse dos visitantes em observar e conhecer mais sobre o Lince-ibérico, facto que foi ao encontro do objetivo do Jardim Zoológico de educação e sensibilização da população para a conservação desta espécie emblemática.

ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

Uma nova cara

No final de abril de 2024, o Jardim Zoológico recebeu “Fábula”, uma fêmea de Lince-ibérico. Tal como “Azahar” (fêmea anterior e fundadora do projeto em Portugal) e “Gamma”, os outros dois Linces-ibéricos cedidos ao Jardim Zoológico, “Fábula” encontrase em fase pós-reprodutiva após ter contribuído para o programa de reprodução sob cuidado humano com múltiplas ninhadas desde 2012. Proveniente do Centro de Reprodução de Zarza de Granadilla, em Cáceres, Espanha, “Fábula” vai agora usufruir da reforma ao lado do seu irmão “Gamma”, enquanto continua a desempenhar um papel essencial: educar os visitantes para a importância do Lince-ibérico nos ecossistemas da Península Ibérica, bem como para o sucesso do programa de conservação partilhado entre Portugal e Espanha.

A recuperação do Lince-ibérico

Exatamente dois meses após a chegada de “Fábula” ao Jardim Zoológico, foi noticiada a reavaliação do estatuto de conservação do Lince-ibérico pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que culminou na redução do seu grau de ameaça de “Em Perigo” para “Vulnerável”. Esta reclassificação é resultado de um programa de conservação intensivo, que inclui reprodução sob cuidados humanos e subsequente libertação, proteção e restauração do habitat natural, recuperação do número de presas, e sensibilização das populações da Península Ibérica. O sucesso alcançado por este programa, que é reconhecidamente ímpar, deve ser motivo de orgulho para todos os Portugueses!

O Lince-ibérico conta, em 2024, com mais de 2000 animais em meio selvagem, uma evolução exponencial a partir de apenas 62 indivíduos adultos em 2001. Em Portugal correm hoje livres cerca de 100 linces adultos no Vale do Guadiana, onde podem ser avistados alguns dos filhos de “Fábula”.

Fotografia Alex Sliwa

“Educar para Conservar”

é o lema do Centro Pedagógico.

Inspirar e incentivar diferentes tipos de públicos, dentro e fora do Zoo, a mudarem comportamentos em prol da proteção da biodiversidade através de objetivos cognitivos, emocionais e comportamentais.

Aeducação no Jardim Zoológico tem sido um objetivo inerente desde o seu inicio em 1884. Primeiro, a aprendizagem era baseada no conhecimento e na compreensão científica das espécies, tendo evoluído para a compreensão das ameaças que as espécies enfrentam na natureza.

O Jardim Zoológico tem um ambiente de aprendizagem único e desempenha um papel crucial no avanço da conservação por meio da educação e da pesquisa científica. Daí que, atualmente, como assinala Antonieta Costa, “o Zoo trabalha

a educação centrada para as mudanças sociais necessárias para capacitar o nosso público a tomar ações positivas em relação à conservação de espécies e habitats”.

Num mundo onde tudo está a mudar rapidamente, uma pandemia global e uma devastadora perda de biodiversidade devido às atividades humanas, devemos manter o foco no nosso compromisso com a Educação para a Conservação. Antonieta refere que “a nossa capacidade de inspirar as pessoas a agir em favor da biodiversidade depende da forma como criamos a futura

aprendizagem”.

Antonieta Costa é Pedagoga e lidera o projeto pedagógico do ZOO desde 2007, refere que “o termo Educação é utilizado num sentido mais amplo, não se limitando a escolas ou à educação centrada nas crianças, mas para abranger oportunidades de aprendizagem, experiências e atividades para todos os públicos”. Ao usarmos “Educação para a Conservação reflete que a conservação da biodiversidade deve estar no centro de todos os programas e atividades que contribuam indiretamente para a conservação da biodiversida-

de, tais como a educação para o desenvolvimento sustentável, a biologia, a educação científica ou ambiental e as práticas dos programas baseados em competências”. O que quer dizer que os principais objetivos de Educação para a Conservação são promover a educação para o aumento da consciência ambiental.

CENTRO PEDAGÓGICO

As atividades educativas do Zoo tiveram início em 1992, com um Programa de Visitas Guiadas para escolas que proporcionou um melhor apoio e uma maior

Antonieta Costa refere que “a construção de um Projeto Pedagogico de Educação para a Conservação é o resultado de um planeamento estratégico e reflete a filosofia da instituição”. O Projeto Pedagógico do Zoo é atualizado anualmente de acordo com o Currículo Nacional, os ODS, os Padrões de Educação para a Conservação da EAZA e da WAZA (Associação Europeia de Zoos e Aquários e Associação Mundial de Zoos e Aquários) e a Missão de Educação para a Conservação do Jardim Zoológico.

O Projeto Educativo apresenta mais de 50 programas educativos e diferentes atividades para todo o tipo de público, exposições, campanhas, critérios e métodos de avaliação e como refere Antonieta está “aberto à constante criação de cenários de aprendizagem inovadores”.

vantagem educativa às escolas que nos visitavam. Em 1994, foi aprovado o primeiro Projeto Global do Centro Pedagógico, o que significou estruturar a base para o desenvolvimento dos serviços educativos do Zoo. Em 2009 o Programa Educativo para escolas é reconhecido pelo Ministério de Educação por desempenhar um papel importante no domínio da Educação Ambiental para a Sustentabilidade e na Educação para a Cidadania na Educação Pré-escolar, Ensinos Básico e Secundário. Este reconhecimento evidencia o paralelismo pedagógico entre os conteúdos veiculados pelo Zoo e o currículo escolar, sendo concretizado através de diversas atividades, como elo de ligação entre a escola e o mundo real, numa perspetiva de con-

textualizar as aprendizagens desenvolvidas em sala de aula. Atualmente o Centro Pedagógico desenvolve e implementa mais de 50 programas educativos para todo o tipo de público, Team Buildings para empresas, formação em Educação Ambiental e formação acreditada para professores, para além de desenvolver campanhas de conservação, exposições, recursos e conteúdos educativos.

Antonieta Costa refere que “O Centro Pedagógico tem uma forte preocupação educativa em todas as áreas e o trabalho desenvolvido nos últimos anos tem contribuído para a perceção do Zoo como Instituição de Educação para a Conservação”. Antonieta Costa é Doutorada em Pedagogia e lidera o Centro Pedagógico do Jardim Zooló -

gico há 17 anos. Define, desenvolve e acompanha a Educação formal (100.000 alunos/ano) e informal (800.000 visitantes/ ano). Lidera ainda a consolidação das relações institucionais com o Ministério da Educação, estabelece e gere parcerias institucionais, nacionais e internacionais, para o incremento das políticas educativas e para a criação de cenários de aprendizagem inovadores. É ainda Presidente do Comité de Educação para a Conservação da EAZA (Associação Europeia de Zoos e Aquários) e faz parte do Board of Directors do IZE (International Zoo Educators) ramo educativo da WAZA (Associação Mundial de Zoos e Aquários). Foi ainda nomeada pela Blooloop como uma das 50 maiores influencia-

doras a nível mundial de Zoos e Aquários em 2022 e em 2023, juntamente com outros colegas incríveis.

“A força da Educação para a Conservação depende da qualidade e capacidade da minha equipa”, diz Antonieta e para tal conta com uma equipa permanente de técnicos altamente qualificados: Diogo Gomes, Biólogo e coordenador dos programas educativos para escolas; Andreia Bilhota Henriques, Animadora Sociocultural e coordenadora dos programas educativos de animação; Cheila Alves, Bióloga e responsável pelos recursos e conteúdos educativos; Rita Rodrigues, Bióloga co-responsável pelo desenvolvimento de novos programas educativos e Rita Félix, responsável

pela comunicação com escolas. Antonieta refere também que “contamos ainda com uma equipa freelance de Educadores Ambientais que implementa os Programas de Educação (para Escolas, programas de férias, visitantes, famílias, empresas… todo o tipo de público). Esta equipa é formada por licenciados e mestres em diversas áreas científicas como Biologia, Engenharia Ambiental, Medicina Veterinária e bem como no Ramo Educacional. Têm formação inicial e contínua ministrada pelo Centro Pedagógico de forma a desenvolverem conhecimentos e competências pedagógicas que lhes permitam realizar diferentes programas de educação de acordo com os objetivos pré-definidos.

EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO – INFORMAL

A educação informal é alcançada através da observação do comportamento animal, placas identificativas de espécies,

campanhas de conservação, exposições e apresentações didático-pedagógicas. Todas as mensagens educativas são integradas e transmitidas de forma subliminar aos visitantes. Como Antonieta Costa refere “a Educação para a Conservação tem por objetivo o aumento de conhecimento, de aptidões e da conscientização sobre a conservação, sensibilizando para comportamentos sustentáveis”, logo “a aprendizagem no que diz respeito às reações cognitivas e afetivas podem impactar este processo”. Antonieta destaca a Tapada do Lince-ibérico que tem sido alvo de vários estudos, sendo que a presença de painéis educativos tem demonstrado bastante interesse por parte dos visitantes. Destaca ainda a mais recente exposição “Jardim das Abelhas” como um exemplo onde se reconhece o papel fundamental dos insetos polinizadores, em particular, o das abelhas, e que dá origem a um novo programa educativo para

escolas já no próximo ano letivo.

EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO – FORMAL O Centro Pedagógico desenvolve e implementa Programas Educativos Escolares para cerca de 100.000 alunos/ano durante o período escolar, desde o Ensino Pré-Escolar ao Ensino Básico, Secundário e Universitário com base nas orientações curriculares definidas pelo Ministério da Educação no âmbito das disciplinas ligadas à Educação Ambiental para a Sustentabilidade e Educação para a Cidadania, Ciências Naturais, Geografia, Biologia e História dos Descobrimentos, centrando-se em temas que se enquadram no âmbito da caracterização e conservação das espécies e dos seus habitats. Todos os programas são concretizados através de diversas atividades, como elo de ligação entre a escola e o mundo real, numa perspetiva de contextualizar as aprendizagens desenvolvidas em sala de aula.

> 32 anos

A PROPORCIONAR PROGRAMAS

EDUCATIVOS NO ZOO

ALCANÇAMOS > 100,000 alunos/ano

MINISTRAMOS > 50 programas educativos

DIFERENTES PARA TODOS OS PÚBLICOS

3 Campos de Férias anuais

COM

3.000 participantes/ ano 2 programas de Educação

PARA A CONSERVAÇÃO

VISITAS PARA GRUPOS E FAMÍLIAS > 1.000 participantes/ ano

EVENTOS EXTERNOS ALCANÇAMOS > 300.000 participantes/ ano

FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL 10 cursos/ano > 300 participantes/ ano

FORMAÇÃO ACREDITADA PARA PROFESSORES > 100 professores/ano

EQUIPA PEDAGÓGICA 6 Magnificos colaboradores permanentes > 100 Entusiásticos

A EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO A NÍVEL MUNDIAL

O Zoo é membro ativo de várias associações e organizações internacionais. Ser membro ativo de todas estas instituições implica uma atividade dinâmica em que é garantido o contacto permanente as mesmas, Antonieta destaca a “WAZA, Associação Mundial de Zoos e Aquários e a EAZA, Associação Europeia de Zoos e Aquários e ainda o IUCN – a União Internacional para a Conservação da Natureza” onde tem um papel ativo.

Antonieta Costa é Presidente do Comité de Educação para a Conservação da EAZA desde 2020, tendo sido Vice-Presidente do mesmo desde 2013. Este comité estabelece os Standards de Educação para a Conservação a nível Europeu que fornecem uma abordagem coordenada para a prática de Educação para a Conservação em zoos e aquários e adotam

uma abordagem estratégica de educação focada na biodiversidade que conecta o público em geral à natureza e os capacita a ter atitudes e ações positivas para contribuírem para a sua conservação.

Antonieta refere que “a Missão de Educação para a Conservação da EAZA estabelece como prioridade a mitigação da extinção da biodiversidade por meio de uma Educação para a Conservação de qualidade que aumente a conscientização, conecte as pessoas à natureza e incentive comportamentos sustentáveis nos milhões de pessoas que se envolvem anualmente com os zoos e aquários da EAZA”.

É também representante Europeia na IZE (International Zoo Educators), ramo educacional da WAZA desde 2019 e colaborou na Estratégia Mundial de Educação para a Conservação da WAZA com dois estudos de caso relativos ao Jardim Zoológico – Projeto Pedagógico

e Formação de equipas ativas e defensoras da conservação, através da metodologia Formação – Aplicação – Avaliação tanto na formação inicial como na formação contínua. Antonieta diz que “a formação garante que o conhecimento científico, o empenho, as estratégias pedagógicas e a comunicação estão de acordo com os Padrões Europeus e Mundiais de Educação para a Conservação”.

A Antonieta participa regulamente em reuniões e conferências internacionais, estando já a organizar a próxima conferência europeia de Educação no Zoo de Chester, no Reino Unido em 2025. Este ano Antonieta irá ainda representar o Jardim Zoológico na Conferência Anual da EAZA como Presi-dente do Comité de Educação para a Conservação que irá decorrer em Leipzig, na Alemanha e na Conferência Anual da WAZA que irá decorrer em Sydney, Austrália.

Exposição Jardim das Abelhas

Cumprindo a sua missão de Educação para a Conservação e reconhecendo o papel fundamental dos insetos polinizadores no Mundo, em particular, o das abelhas, o Jardim Zoológico inaugurou, no dia 28 de maio de 2024, uma nova exposição educativa: o Jardim das Abelhas.

Neste espaço, o Jardim Zoológico dá destaque à Abelha-europeia (Apis mellifera), e ao seu importante papel na manutenção dos ecossistemas, através da sua função polinizadora. Este espaço torna possível a compreensão do ciclo de vida e da complexa estrutura social da Abelha-europeia, de como os indivíduos comunicam e se orientam e de todo o trabalho que desenvolvem dentro de uma colmeia.

Tendo a polinização como fio condutor de toda a exposição, torna-se clara a forte relação entre o trabalho das abelhas e a reprodução de espécies vegetais que servem de alimento para outras espécies animais, tal como os humanos. A nível global, os insetos estão em declínio acentuado. Na proteção dos polinizadores, nenhuma ação é pequena demais! Sabia que a rainha consegue determinar o surgimento de abelhas fêmeas ou machos em resposta às necessidades da colmeia? Que o voo nupcial da rainha consiste no único momento de acasalamento de uma colmeia? E que a posição do sol é o principal mecanismo de orientação das abelhas?

Neste espaço é possível encontrar as respostas a estas e a muitas outras perguntas e compreender as ferramentas certas na proteção destes seres vivos. Conheça o Jardim das Abelhas e apoie o Jardim Zoológico na proteção da biodiversidade e dos ecossistemas naturais.

LANÇAMENTO DO NOVO PROGRAMA EDUCATIVO: ENTRE ABELHAS

O Centro Pedagógico do Jardim Zoológico lança um novo programa educativo, denominado por “Entre Abelhas”. No interior do Jardim das Abelhas, este é um programa conduzido por um educador zoológico que, de forma interativa, orienta os alunos à descoberta da importância dos polinizadores no Mundo. Durante este programa vamos abordar as principais características da espécie Abelha-europeia, as suas ameaças e quais as ações de conservação que podem ser realizadas em casa ou na escola em prol dos insetos polinizadores. O programa termina com um jogo de consolidação das aprendizagens que tiveram durante o percurso pela exposição.

Investigar latim investigo, -are) verbo transitivo Proceder à investigação de... Palavras relacionadas: investigação, investigativo, reinvestigar, megainvestigação, meteoronomia, exatificar

entre pintas e riscas 03

A Colaboração entre Medicina Humana e Veterinária

Nesta entrevista, exploramos a colaboração entre o Dr. António Cartucho, ortopedista de patologia humana, e o Dr. Rui Bernardino, médico veterinário do Jardim Zoológico. Juntos, aplicam técnicas adaptadas em cirurgias veterinárias complexas, desafiando as fronteiras da ortopedia.

Dr. António Cartucho é um médico ortopedista, licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa (1984) e especializado em Ortopedia (1995). Trabalha no Hospital CUF Descobertas desde 2001 sendo o coordenador da equipa de patologia do ombro e cotovelo. Com uma carreira dedicada à patologia do ombro e do cotovelo, o Dr. António Cartucho tem tido um papel relevante na educação pós-graduada e na pesquisa científica na área da patologia do ombro e cotovelo.

Dr. Rui Bernardino é o médico veterinário responsável pelo Hospital Veterinário do Jardim Zoológico, onde trabalha desde 2003. Conhecido por sua abordagem inovadora e pela colaboração interdisciplinar, o Dr. Bernardino tem desempenhado um papel crucial em intervenções cirúrgicas veterinárias complexas, integrando conhecimentos da medicina veterinária e humana.

Fale-nos um pouco acerca da sua formação e experiência profissional Sou licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa desde 1984, especialista em Ortopedia desde 1995 e dedicado à patologia do ombro e do cotovelo em Ortopedia de humanos desde 1993. Exerci no Hospital de Santa Maria, no Hospital da Marinha e desde há cerca de 20 anos que estou no Hospital CUF Descobertas fazendo parte de um grupo de ortopedistas que constitui o Serviço de Ortopedia, que é coordenado pelo Professor Dr. Jorge Mineiro. Durante estes 20 anos constituiu-se uma equipa que neste momento, além de mim, tem mais três elementos. Neste momento, a equipa é responsável por cinco cursos de treino em patologia do ombro e do cotovelo para além da vertente científica. Aliás, as duas coisas vêm em conjunto, e recebemos desde há 17 anos para cá, num programa de fellowship, especialistas em ortopedia com interesse na patologia do ombro

e cotovelo ou internos de ortopedia, que já totalizam mais de 40 elementos de todo o país. Com estes colegas o grupo tem feito trabalho de investigação científica que tem sido alvo de publicações em jornais da especialidade. E é esta curiosidade científica e esta vontade de sair da nossa zona de conforto que fez com que, uma vez desafiados, nos encontrássemos.

Como e quando surgiu o seu envolvimento com o Jardim Zoológico?

As empresas de dispositivos médicos têm, algumas delas, uma vertente humana e vertente veterinária, e a Stryker (que tem uma colaboração de vários anos com o Hospital do Jardim Zoológico), pôs-me em contato com o Dr. Rui Bernardino, por causa de um problema específico num membro anterior de um Tigre-da-sibéria do Jardim Zoológico. A empatia entre os dois foi instantânea; o Dr. Rui Bernardino pôs-me a estudar anatomia comparada, e eu levei-o ao Bloco Operatório

de Humana. Com a indicação do Dr. Rui Bernardino de qual intervenção cirúrgica a que o tigre teria de ser sujeito, trocámos as experiências que tínhamos, nas diferentes realidades. Havia diferenças fundamentais entre um quadrúpede e um bípede, que vai desde a via de abordagem, ou seja, a maneira como nós chegamos à articulação, à posição em que vamos fixar os ossos, uma vez que é completamente diferente a mecânica do ombro de um bípede de uma mecânica de uma cintura escapular, neste caso de um felino. O processo permitiu-me conhecer outra realidade, outro tipo de funcionamento, outro tipo de cuidados, outras necessidades, e coisas tão simples como, por exemplo, quando tiraram o pelo ao tigre para fazermos a intervenção cirúrgica, eu fiquei muito espantado que as listas estavam na pele, coisa que eu não fazia ideia nenhuma. É claro que como cirurgião pensei logo que eram boas marcas para depois acertarmos a

estrutura da pele na fase final, que é o que nós fazemos com canetas que utilizamos para marcar a pele dos humanos. Este projeto foi realmente muito interessante, porque teve uma fase de conhecimento interpessoal primeiro, depois teve uma fase de estudo, não só da parte do Dr. Rui Bernardino como da minha parte, depois conjugação de experiências, que passou pelo ensaio em cadáver de animal de grande porte, com todas as necessidades que tínhamos, desde o equipamento e instrumental adaptado a um animal deste porte.

Quando se depara com o Hospital Veterinário do Jardim Zoológico, certamente encontra uma realidade diferente daquilo que esperava encontrar. Pode falar mais sobre isso? É verdade, mas sem perceber nada do tratamento de animais, eu percebi que o hospital seguramente funcionava. A forma como estavam ordenados os espaços, desde o armazenamento de materiais, até os circuitos dentro do hospital, as salas, o circuito dos animais, o tipo de marquesas que tinham, etc., tudo isso me fez pensar que este hospital, ainda antes de o ver a funcionar, funcionava. E foi o que aconteceu quando fizemos esta intervenção cirúrgica. Não houve obstáculos ao nosso projeto. Executámos como achámos de forma correta e toda a equipa promoveu o sucesso desta intervenção cirúrgica. Desde então, e é preciso notar que isto foi em 2011, denoto algumas melhorias, nomeadamente o aparelho de raio-x de última tecnologia, e alegra-me ver, nas colaborações mais recentes, que continua a haver melhorias, apesar de compreender as dificuldades que na medicina humana não existem.

De que forma, pelo facto de ter estado nos bastidores do Jardim Zoológico, é que vê o Jardim de forma diferente quando o visita?

Esta convivência com o Hospital veterinário do Jardim Zoológico vem-me mostrar, de facto, um Jardim Zoológico desconhecido do público. Vem-me mostrar que o Jardim Zoológico, uma instituição privada, luta diariamente para conseguir ter bem condicionados, bem alimentados, e bem tratados os seus animais. Vem-me mostrar um trabalho de bastidores invisível que, passando pelos tratadores e todas as outras equipas, e acabando na equipa do Hospital Veterinário, demonstra um grande cuidado pelos animais. Faz-me pensar em todas estas pessoas que trabalham para manter esta instituição com 140 anos.

Acredita que, ao aceitar estes desafios e sair da sua zona de conforto, também encontrou uma forma diferente de ver as coisas? Como é que isso impactou a sua vida? Sim, quem está habituado a um tipo de trabalho muito especializado encontra nestes desafios, onde é preciso muitas vezes uma visão mais abrangente, uma necessidade de mudança. Eu penso que as pessoas que conseguem ser mais proficientes na sua área são aquelas que gostam de sair da sua zona de conforto, gostam de explorar novas fronteiras, novos ambientes, porque sabem que quando o fazem vão enriquecer o seu conhecimento e as suas experiências, e vão tornar-se melhores pessoas, tanto a nível pessoal como profissional. Encontrei no Hospital Veterinário do Jardim Zoológico e na sua equipa, uns parceiros ideais para a exploração dessas novas fronteiras pessoais. Foi realmente muito gratificante todo este trajeto dos casos que temos tratado em conjunto, mas também do relacionamento que tenho mantido com os vários elementos da equipa, e em especial com o Dr. Rui Bernardino.

Pinguim-do-cabo

Remodelações para os Pinguins e para os visitantes

OO Pinguim-do-cabo (Spheniscus demersus) é uma espécie reconhecida pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como “Em Perigo” de extinção. Atualmente, está ameaçada pela drástica diminuição dos stocks de peixe, devido à pesca excessiva, às alterações climáticas, e à poluição do habitat, sobretudo por derrames de petróleo.

O Jardim Zoológico tenta contrariar esta tendência e colabora no EAZA Ex situ Program (EEP) do Pinguim-do-cabo, que permite uma ação conjunta da comunidade zoológica para manter a população geneticamente saudável, salvaguardando a conservação da espécie. Contribui para a recuperação desta espécie no habitat natural, através da recolha e partilha de dados fundamentais para o conhecimento da espécie e de apoio financeiro prestado

à Fundação para a Conservação das Aves Costeiras da África do Sul (SANCCOB). Esta parceria permitiu a construção do Sea Bird Hospital e assegura a reabilitação de um grande número de aves.

PINGUINS NUMA NOVA PRAIA

No início de 2024 foi apresentada ao público a nova instalação dos Pinguins-do-cabo. As melhorias incluem uma expansão da área seca e da piscina, a integração de vegetação similar à do seu habitat natural, substratos adequados à espécie, e a incorporação de ninhos estilizados e soluções de controlo térmico inovadoras que oferecem conforto sem prejudicar a harmonia do habitat. O nascimento de duas crias que podem agora ser vistas na nova instalação, celebram estas modificações.

CONHECER PARA AJUDAR

A PROTEGER

O Jardim Zoológico desenvolve e disponibiliza ao seu público novos recursos e painéis interativos e interpretativos que apelam a todos os níveis de compreensão e conhecimento, com o intuito de melhorar a sua experiência durante a visita. Além disto, com estes painéis, o Jardim Zoológico pretende atingir impactos na educação ambiental e na consciencialização acerca da biodiversidade, do seu valor e das medidas que podem ser tomadas para a sua conservação. Aprender sobre os animais e os seus habitats desperta empatia com o mundo natural e ajuda as pessoas a avaliar seus valores intrínsecos e promover um senso de responsabilidade em relação à conservação das espécies e da natureza. Com este propósito, o Jardim

O Pinguim-do-cabo é a única espécie de pinguim no continente africano. Vive em grandes colónias nas praias rochosas do sudoeste de África e em muitas das ilhas próximas. Por habitar em climas quentes, possui hábitos crepusculares e nidifica em abrigos protegidos do sol. Para dissipar o calor, mantêm as asas afastadas do corpo, o bico aberto e uma respiração ofegante.

O ÚNICO PINGUIM AFRICANO

PARECIDOS MAS NÃO IGUAIS

Cada espécie de pinguim pertence a um grupo maior, o género, por partilharem diversas características. O género do Pinguim-do-cabo (Spheniscus) é composto por quatro espécies e caracteriza-se pela presença de listas negras na plumagem branca. Além desta característica, os indivíduos da espécie Pinguim-docabo possuem um padrão único de manchas pretas no seu peito branco, que permite o reconhecimento individual de cada um.

Zoológico, em julho de 2024, inaugurou uma nova exposição educativa junto da instalação do Pinguim-do-cabo. Com os painéis educativos que se erguem ao longo desta instalação, a exposição pretende dar a conhecer aos seus visitantes as espécies de Pinguim que existem no Mundo, as características e comportamentos naturais da espécie que tem sob o seu cuidado, o Pinguim-do-cabo, bem como as características do seu habitat natural, muitas vezes desconhecido pela população.

Além da aprendizagem dos conceitos

mencionados, a exposição propõe-se a informar e sensibilizar os visitantes acerca da principal ameaça enfrentada pelos pinguins e restante biodiversidade marinha: a diminuição do stock de peixes, essenciais para a sua alimentação e nutrição. Apesar de não se tratar de uma espécie nativa de Portugal, é de reforçar que todos podemos contribuir para a sua conservação, através da prática de um consumo mais sustentável por meio de apoio de pescas sustentáveis e com certificação, do reconhecimento e respeito pelo tamanho mínimo de captura das espécies

consumidas e da preferência por pescado nacional e diversificado ao longo do ano. Podemos ainda contribuir para a conservação destas aves marinhas através da divulgação de conhecimento e de projetos ou de contribuições financeiras feitas direta ou indiretamente a projetos e instituições que atuem no terreno, como é o caso do Fundo de Conservação do Jardim Zoológico, que é constituído por uma parte das verbas angariadas na bilheteira do parque. Venha conhecer a nossa nova exposição sobre Pinguins e tornar-se num agente na conservação desta espécie.

Pinguim-do-cabo
Pinguim-de-humboldt
Pinguim-das-galápagos
Pinguim-de-magalhães

“Investigar, conservar e cuidar é um trabalho diário. ”

O privilégio de fazer parte de um projecto que vai bem mais para além da exposição das espécies animais ao público.

Nas últimas décadas, zoos, aquários e parques deixaram de ser locais meramente expositivos para se transformarem em espaços dedicados à educação ambiental e à conservação da biodiversidade. De que modo é que esta mudança de paradigma levou a transformações (físicas) no Jardim Zoológico?

Os Jardim Zoológicos devem ser espaços dinâmicos e em permanente transformação. O facto de lidarmos com animais ao abrigo do programa europeu de reprodução de espécies ameaçadas (EEP’s - ex situ Programs), exige a que essa transformação e acompanhamento das condições necessárias à sua manutenção seja uma constante, e de acordo com critérios estabelecidos internacionalmente, seguindo a evolução e conhecimento de cada espécie. Sendo este um museu de espécies vivas, o espaço dedicado à área informativa tem acompanhado a natural evolução dos espaços físicos, pela necessidade acrescida de fomentar a consciencialização geral, assim como o acompanhamento de grupos e estudantes por técnicos qualificados. As alterações das últimas décadas são bem visíveis, neste que é um dos mais antigos e apreciados Zoos da Europa.

A localização, no centro da cidade, limita de alguma forma os esforços de naturalização do espaço?

Os desafios na reformulação dos espaços estão mais relacionados com as características existentes dentro do próprio Parque e não tanto com o que temos ao redor. Existem sempre mais e menos valias inerentes ao contexto onde se localizam os parques, os desafios variam mas a perfeição é utópica.

O facto do Jardim Zoológico se localizar no centro da cidade torna-o inclusivamente reconhecido também na sua vertente de parque botânico e essa característica de alguma forma também o define. É muito agradável para o visitante entrar num “mundo” diferente dentro da própria cidade. Cada Jardim Zoológico tem o seu contexto e os seus desafios, até porque os requisitos e as necessidades de cada espécie são muito diferentes. No caso de Jardim Zoológico, comparativamente a outros Países, por exemplo, o clima é claramente mais propicio para a maioria das espécies que temos, o que contribui para uma melhor adaptação dos animais e não só à vertente “verde” do Parque.

De que modo é feito o equilíbrio entre a satisfação da curiosidade do público (que quer ver os animais) e a necessidade de garantir o bem-estar das espécies? É, de facto, um equilíbrio importante. Felizmente, cada vez mais os visitantes entendem a razão dessa dificuldade que nós “criamos“ para benefício das espécies; nem sempre os avistamentos são rápidos e possíveis e devem respeitar, também, as necessidades dos próprios animais e, de uma forma geral, a maior complexidade ao nível das instalações pode dificultar a tarefa da observação num curto espaço de tempo.

Temos noção que o tempo destinado pelos visitantes a esta procura pelos animais nas instalações é reduzido, mas visitar o Zoo é também entrar num “registo” diferente: é uma experiência como um todo, desde que se esteja recetivo a viver essa experiência a um ritmo diferente do dia-a-dia.

Em 2005 foi criado o Fundo de Conservação. Como funciona e quais são atualmente as principais iniciativas apoiadas? O Fundo de Conservação tem permitido o apoio a Projetos de Conservação in situ , muitas vezes com ligação a espécies que existem no Zoo, mas que surgem de um esforço global de toda a comunidade de Zoos, que trabalham em rede. Após a criação da Associação Europeia de Zoos e Aquários (EAZA), surgiu a necessidade de um envolvimento mais global ao nível da Conservação e com ação direta no terreno. Este Fundo sem fins lucrativos que conta com contribuições de bilheteira e de diversos projetos específicos de angariação de fundos, tem como objetivos corresponder a essa necessidade e de forma a:

- Financiar os diversos projetos de conservação de participação obrigatória ou recomendada através dos diferentes EEP nos quais o Jardim Zoológico participa, como por exemplo os projetos de conservação do Koala (Phascolarctos cinereus), do Mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), do Dragão-de-komodo (Varanus komodoensis) entre outros;

- Apoiar outros projetos de conservação ou investigação que beneficiem espécies de particular interesse para o Jardim Zoológico, mesmo não sendo uma exigência dos EEP, como por exemplo o projeto de conservação da Chita (Acinonyx jubatus) na Namíbia e da Zebra-de-grevy (Equus grevy) na Etiópia e no Quénia;

- Dinamizar a implementação de programas coordenados pelo Jardim Zoológico, como o programa de conservação dos Lémures-vermelhos (Varecia rubra) em Madagáscar que incluiu a restauração de 17 hectares de

Perfil

Naturalidade: Beja

Ano de Nascimento: 1979

Profissão: Médico Veterinário (desde 2003 no Jardim Zoológico)

Cargo: Diretor Departamento Zoológico e Veterinário

Curiosidades: Como fotógrafo, efetuou desde 2016 várias expedições ao Cáucaso para documentar os últimos trilhos do Leopardo, retratando as populações e as paisagens nesta ecoregião.

floresta e translocação de alguns animais; o programa de conservação do Saguim-cinzento (Saguinus leucopus); e o programa de reintrodução do Leopardo-da-pérsia (Panthera pardus tulliana) no Cáucaso.

Em que tipo de projetos de investigação estão envolvidos? Como é feito esse envolvimento (apoio financeiro, científico, técnico, outro tipo…)?

O envolvimento é feito de diferentes formas e em diferentes graus. Pode existir um envolvimento direto dos próprios técnicos (como a iniciativa e execução do projeto ou orientação dos trabalhos) ou, por exemplo, através de produção de informação em questionários, o que permite concentrar conhecimento disperso por diferentes Zoos. O conhecimento acumulado pela comunidade científica que trabalha em Zoos é essencial e também com aplicação in situ

Uma outra forma é através do fornecimento de amostras para Investigação nas mais variadas áreas com ligação direta ou não à área animal. Existem fenómenos específicos numa variedade tão grande de espécies, que o seu estudo tem permitido aumentar a compressão ao nível de áreas tão distintas como a Medicina (Animal e Humana), a Biologia, a Ecologia, entre outras. Os exemplos em que participamos de forma indireta com amostras são muito variados e usando os casos mais recentes, podemos referir desde o estudo de alterações climáticas através do estudo de dentes de elefante e extrapolação para dentes de fósseis encontrados no nosso território, até à identificação de espécies por DNA ambiental (eDNA).

Atualmente, quais os projetos de conservação in situ em que o zoo colabora?

Um dos mais recentes será o “Programa de Conservação in situ do Leopardo-da-pérsia no Cáucaso” através do qual o Jardim Zoológico presta assistência e apoio técnico ao Projeto, à WWF e ao Centro de Reprodução de Sochi (Cáucaso), para onde foi cedido e translocado um dos nossos casais reprodutores em 2012 e cuja descendência foi reintroduzida em meio selvagem. Este ano (2024) participamos (como um dos principais patrocinadores) no estudo desenvolvido pelo IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) no território do Cáucaso Menor para monitorizar presas e territórios, nos quais possam vir a ser reintroduzidos estes felinos.

O Jardim Zoológico tem, ainda, participado no desenvolvimento do “Programa de Conservação in situ dos Koalas na Austrália”; projeto coordenado pelo San Diego Zoo Wildlife Alliance – apoiado financeiramente pelo Jardim Zoológico desde 1991 e através do qual são estudadas e monitorizadas populações ameaçadas. O “Programa de Conservação in situ dos Okapis” na República Democrática do Congo, é outro exemplo e, desde 1987, tem permitido formar e equipar guardas-florestais, desenvolver programas educativos para a população, e estimular a formação e a investigação em conservação florestal. Outra referência é o “Programa de Conservação in situ do Dragão-de-komodo” na Ilha de Flores, Indonésia, através do qual se monitorizam as populações, realizam ações de proteção direta dos animais, e se estabelecem programas comunitários de

desenvolvimento de capacidades.

No caso de projetos de longa duração, já é possível ver resultados? Podem dar exemplos?

Uma das notícias mais significativas dos últimos meses foi a redução do estatuto de ameaça do Órix-de-cimitarra (Oryx dammah), declarado como “Extinto na Natureza” pelo IUCN em 2000, e agora reavaliado para “Em Perigo” após ver os seus números crescer na sequência de reintroduções coordenadas e apoiadas por diversos zoos europeus e americanos. O Jardim Zoológico participa no EEP há várias décadas e contribuiu de forma ativa para o programa de conservação, nomeadamente através da manutenção de populações saudáveis com elevada variabilidade genética, na partilha de conhecimento e desenvolvimento de capacidades e na identificação e disponibilização de animais geneticamente importantes, assim como prestando apoio monetário às translocações para reintrodução. É um trabalho que envolve inúmeros parceiros e entidades, mas em que os Zoos são uma parte essencial.

Quais os principais EEP’s em que participam? Podem falar sobre uma ou duas? (espécie em causa, quando começou, como funciona a participação do ZOO, etc). Os EEP’s (EAZA Ex-situ Programs) são programas europeus de conservação de espécies ameaçadas, sob cuidados humanos, desenvolvidos ao nível da Associação Europeia de Zoos e Aquários (EAZA). O Jardim Zoológico participa atualmente em 75 EEP’s e 49 outros programas (studbooks

europeus e internacionais) referentes a um total de 97 espécies ou subespécies em risco de extinção. Em todos eles, a participação envolve, para além do facto da espécie estar presente nas nossas instalações, o respeito pelas normas particulares de maneio, de nutrição, de instalações e do seguimento das indicações da coordenação de cada espécie. A participação do Zoo pode, ainda, incluir a coordenação do EEP ou a presença de técnicos nos comités científicos das diferentes espécies. O Jardim Zoológico coordena, atualmente, quatro EEP’s: Leopardo-da-pérsia (Panthera pardus tulliana), contando ainda com o EAZA Veterinary Advisor para a espécie), Niala (Tragelaphus angasi), Leão-marinho-da-california (Zalophus californianus) e Tartaruga-espinhosa (Heosemys spinosa). O Ádax (Addax nasomaculatus) é um dos exemplos, sendo uma espécie criticamente ameaçada de extinção (desde 1994 presente no Jardim Zoológico) e a qual teve o contributo direto do Jardim Zoológico com dois animais (permitindo melhorar a genética do grupo) para um esforço de reintrodução em meio selvagem. Um outro exemplo de participação em EEP é o Mico-leão-de-juba-dourada (Leontopithecus chrysomelas), sendo uma espécie em perigo de extinção e que aqui reproduziu com sucesso, duas vezes, em 2023. O Koala (Phascolarctos cinereus) é emblemático, porque esta espécie carismática e classificada como “Vulnerável”, chegou à Europa através do Jardim Zoológico, sendo o participante europeu mais antigo do programa de conservação da espécie sob cuidados humanos.

O JARDIM ZOOLÓGICO AGRADECE

A TODAS AS EMPRESAS QUE O APOIAM.

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