REVISTA 19

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REVISTA DA ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS Jandir Jo達o Zanotelli (organizador)

Pelotas Abril - 2010 No.19

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REVISTA DA ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS Fundada em 9 de maio de 1970 Diretoria Presidente: Jandir João Zanotelli Vice-Presidente RS: José Moreira da Silva Vice-Presidente SC: Lauro Junkes Vice-Presidente PR: João Darcy Ruggeri Secretário: Wilma mello Cavalheiro Tesoureiro: Reyzina Vianna Ramos Conselho Editorial Ângela Treptow Sapper Jandir João Zanotelli (organizador) Joaquim Moncks José Clemente Pozenato Lígia Antunes Leivas Maria Alice Estrela Maria Beatriz Mecking Caringi Sérgio Oliveira Wilma Mello Cavalheiro ________________________________________________ Revista da Academia Sul-Brasileira de Letras- N 19 (Abr..2010)

Pelotas: EDUCAT, 2010. Semestral. 150 p. ISSN 1809-5540 1. Letras – Periódicos. 2. Literatura – Periódicos. CDD B869.05 ____________________________________________________ Sede: Rua 3 de Maio 1060 – Conj.403 – Pelotas – RS– 96010-620 E-mail- jjzanotelli@ig.com.br

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SUMÁRIO Apresentação........................................................................5 EVENTOS............................................................................7 ASBL 40 anos..................................................................7 Discurso – Lígia A. Leivas – Posse Rogério G Xavier.11 Lançamento livro - Luiz de Miranda............................20 Encontros Santa Catarina e Paraná................................22 POESIA .............................................................................23 Despedida – Ary Albuquerque......................................23 Nós – Guilherme de Almeida........................................25 Minha Terra - Leno Caldas...........................................26 A Morte do Delegado – José Isaac Pilati.......................28 Animal Simbólico – Jandir João Zanotelli.....................30 Carnavales de Progreso – Carlos Gil Turnês..................32 Na volta – Odilon Ramos...............................................36 Coração de Mãe – Semente de Paz – Roza de Oliveira..37 Tentativa – Nair Solange Pereira Ferreira......................39 Onde me descubro sem teu olhar? – Lígia A Leivas......40 Dia do Médico – Roza de Oliveira.................................42 O Amor, o Sorriso e a Flor – Marísia Vieira..................43 Promessa – Marísia Vieira.............................................43 Procura-se um Homem – Maria Luiza Kuhn.................45 Passos de Neve – P. de Petrus........................................47 Timidez – Wilma Mello Cavalheiro...............................48 Paz – Wilma Mello Cavalheiro......................................49 Venus de Millo –Noemi de Ass. Osório Caringi...........50 POESIA..............................................................................51 TROVAS.HUMORÍSTICAS.............................................58 3


CONTOS E CRÔNICAS...................................................59 Vida de Pedro Yamaguchi Ferreira – Paulo Teixeira...59 O mal de Ondina – Rogério Xavier..............................83 O gato da Irmã Amélia – D. Edson Damian.................87 Fim do Caminho – Maria Beatriz Mecking.................89 Iluminação – Maria Beatriz Mecking..........................90 Ano Novo – Maria Beatriz Mecking............................91 Ode ao juiz ladrão – Juremir Machado da Silva..........93 ARTIGOS E ENSAIOS .....................................................95 Sobre Contos Gauchescos de João Simões Lopes Neto – José Moreira...95 Deus é o Criador da Vida – O Homem é seu colaborador – Jandir João Zanotelli...99 RECENSÃO.....................................................................106 ESTATUTO SOCIAL DA ASBL....................................107 ASBL: Cadeiras – Patronos – Titulares............................122

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APRESENTAÇÃO É época de Páscoa. De Ressurreição. De abolição da escravatura. De mães e de noivados. Mês de aniversário de nossa Academia. São 40 anos. Almoçamos juntos. Declamamos. Fizemos festa. Eis o que disse Lígia, nossa ex-presidente na coluna do jornal: E para concluir a apresentação de nossa Revista semestral, nada melhor do que a mensagem madura e saborosa desse grande educador e amigo Rubem Alves: “Para os meus amigos com mais de 50 anos, que já não suportam mediocridades. Estou passando para lhes deixar um abraço e uma mensagem.“Contei meus anos e descobri que, com absoluta certeza, terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sintome como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. “Já não tenho tempo para conversas intermináveis para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são 5


imaturas. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral ou semelhante bobagem, seja ela qual for. “Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus”.

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EVENTOS 1. ASBL – 40 anos “A palavra é como uma abelha: tem mel e tem ferrão.” Magda Costa, ao reunir um grupo de escritores para juntos fundarem a Academia Sul-Brasileira de Letras – Casa de Cultura João Simões Lopes Neto (ata de fundação) – acreditou no ‘mel’ da palavra... da palavra literária que ‘caindo como orvalho num pensamento, produz milhares, talvez milhões de outros pensamentos’. Faz quarenta anos. Era o dia 9 de maio de 1970 quando a ASBL começou – a sede em Pelotas, abrangendo os três Estados do sul. Ergueu-se altaneira! Fincou o marco literário com a bandeira da ‘arte completa’! O 40º aniversário de nosso sodalício foi comemorado na fraternidade da convivência diante da paisagem mansa das águas do São Gonçalo que olhava com olhos de alegria e convidava o céu para nos abraçar. Éramos amigos, simpatizantes, familiares e acadêmicos prontos para partilhar satisfações nas dependências do Clube Veleiros Saldanha da 7


Gama. Celebrarmos a palavra... 'palavra-morada, palavra-viva, palavra-casa do Ser, do homem, da memória, da esperança, da caminhada...' A palavra sempre sábia, sempre irmã de nosso presidente Jandir Zanotelli nos saudou a todos e insistiu na idéia de que o compromisso com a cultura é também de cada um, e de cada acadêmico em particular. Aprimorarem-se os estudos, as pesquisas, as leituras, mas também expandirem-se ações culturais para a comunidade toda – eis a meta das academias, de modo que não sejam estas mantidas apenas como ‘guetos de intelectuais vaidosos cercados por passivos ouvintes’. Se a palavra é ‘juízo’, urge que este seja o de construir consciências comprometidas com a dignidade e a qualidade de vida para todos, sob pena de, se assim não for, tudo se tornar vazio de significado. Este é o papel da literatura; esta, a missão dos que abraçam a causa cultural como fonte de desenvolvimento. Enquanto delicioso almoço era servido, ouviram-se manifestações de alguns presentes: Acad. Dr. José Moreira da Silva, vice-presidente da ASBL-RS e presidente da Academia Literária Gaúcha (ALGA-P. Alegre) – emocionado, reportou-se à sua chegada ao convívio com nosso sodalício e sua assunção academial; Acad. Zênia de Leon, presidente da Academia Pelotense de Letras, cumprimentando a todos da ASBL; 8


Waldemar Souza, presidente do Centro Literário Pelotense e Acad. Honorário da ASBL, parabenizando o presidente e os acadêmicos, fazendo bonita saudação às mães. Gildo Oliveira, sensibilizado, declamou poemas. Acad. Wilma Cavalheiro - também presidente da UBT - recitou sonetos de sua autoria e de outros poetas. Lígia Antunes Leivas fez a leitura dos cumprimentos recebidos pela ASBL, sendo eles: Carlos Leite Ribeiro e Iara Mello, presidente e vice-presidente do Portal CEN (Brasil-Portugal); Delasnieve Daspet, Embaixadora do Poetas del Mundo; Rozélia Razia, presidente da ALGAS XXI; Dalva Martins, vice-presidente da Acad. Rio-Grandina de Letras; Fátima Armesto, do Centro de Escritores Lourencianos; Pedro Du Bois, presidente da Academia Itapemense de Letras (SC); Leno Caldas, presidente da Academia de Letras de São Pedro de Alcântara (SC); Abílio Pacheco, da Academia de Letras de Belém do Pará; Antonio Luiz Alves, da Academia de Letras de Carrazedo de Montenegro (Portugal); Dr. Luiz Caminha, da Academia de Letras de Blumenau; Ieda Cavalheiro, presidente da Casa do Poeta RioGrandense – CAPORI; dos escritores José R. Moutinho , Fábio Ramos (SC); Maria Helena Camilos (MG), Gilberto Chaves (Brasília, DF); Marlene Tejada (ES); do jornalista Hélio Freitg – Diário da Manhã, Pelotas; de Maria de Lourdes 9


Poetsch, presidente do IHGPEL; de Tristão Oleiro, presidente da Casa Brasileira de Cultura; dos Acadêmicos Joaquim Moncks, Rogério Gastal Xavier; Blau Souza, Nair Solange Ferreira, Roza de Oliveira (e esposo Julio), João Ruggeri, Sebastião Ferrarini, dentre tantos outros e.mails e telegramas. O festivo encontro foi encerrado com gloriosa homenagem às mães que receberam rosas vermelhas das mãos do Prof. Jandir Zanotelli. Aos que nos honraram com sua presença, levando sua alma literária para o aniversário da ASBL, os mais sensibilizados agradecimentos de nosso presidente, Prof. Jandir Zanotelli, e da diretoria da Academia Sul-Brasileira de Letras. “A palavra é a única magia A alma é conduzida e regida pela palavra Pois a palavra é sempre dona do coração.” R onsard, in ELEGIA Lígia Antunes Leivas

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2. Discurso da paraninfa Lígia Leivas na posse de seu afilhado Rogério Gastal Xavier. Ilustres Acadêmicos Dignas autoridades anteriormente referidas Distintos convidados: familiares, amigos, admiradores, leitores de Rogério Gastal Xavier. Uma noite solene! Damos início a uma noite solene. Uma noite cultural. De festa cultural. Festa da palavra, da literatura, da poesia em prosa e em versos. A ASBL sente-se honrada em tê-los conosco; mais do que honrada, sente-se feliz, acarinhada com a presença dos que aqui vêm para celebrar a assunção academial de Rogério Gastal Xavier – pelotense ilustre que dentro de momentos será o mais novo integrante da nossa instituição. Rogério Gastal Xavier, embora daqui se tenha ido há quase meio século jamais cortou vínculos com sua terra e sempre soube fazê-la digna em decorrência da inteligência, da humanidade, da competência em sua atuação profissional e de cidadão. Desejamos a todos aqui presentes que esta noite não seja uma noite de tempo calado; mas que permaneça indelével na lembrança de cada um; e que nós, da ASBL, tenhamos a felicidade de 11


corresponder plenamente às expectativas trazidas no aconchego da emoção de cada um dos senhores e das senhoras. Nossa ASBL – sensibilizada – e nossa doce, nobre, majestosa Pelotas agradecem a presença de todos e em particular a dos que vieram de outras cidades para homenagear Rogério e nosso sodalício. Sejam muito bem – vindos! Confrades e confreiras Distintos convidados Meu querido afilhado Rogério Gastal Xavier. Uma solenidade de posse exige, em princípio e por norma, um discurso formal no tom propriamente acadêmico. Permitam-me arranhar um qualquer tanto o rigor, o convencional indicado à ocasião e não fazer um discurso, mas sim uma saudação em tom quase intimista, ainda que breve, ao novel Acadêmico e fazer sucinto relato sobre a chegada, até nós, de Rogério Gastal Xavier, figura humana ímpar, simples em sua sábia postura. Abro parênteses para observar que nesta hora algumas questões afloram imediatamente à nossa curiosidade: Por que se tornar um acadêmico? O que é ser acadêmico? 12


Por que Rogério Gastal Xavier torna-se Acadêmico neste 28 de Novembro de 2008? Respostas para algumas dessas questões implicam necessariamente repassar que Rogério Gastal Xavier foi aceito, por unanimidade, para integrar nossa academia, em Assembléia Geral realizada dia 23 de abril de 2008, tendo seu nome sido indicado anteriormente por esta presidência em reunião de diretoria do dia 20 de março de 2008, na qual também foi aprovado por unanimidade. Seu nome chegou-nos não ao acaso das coisas, mas sim porque a produção literária de Rogério transcende a montanha e o cedro e vai a alturas que o condor alcança – se usarmos uma definição de Machado de Assis sobre os poetas. Se a imaginação é o que mais atua no ser humano, nos poetas ela se estende além dos aléns... O poeta expande as fronteiras do mundo com a linguagem da sentimentalidade, o que, em Rogério, tem o poder de arrebatar o leitor. Se o escritor profere a palavra que se pulveriza em múltiplos significados, Rogério faz emergir dos recônditos da emoção o poema que arrepia o topo da nossa cabeça e faz correr pela nossa espinha aquele frio que nenhum fogo é capaz de aquecer – tomando aqui emprestadas as palavras da poetisa Emily Dickinson.

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Totalmente entregue ao texto, Rogério une o coro à orquestra; funde sonho e sonhador. Por isso Rogério está conosco. Saber de Rogério poeta foi um acontecimento passado em uma tarde de fevereiro. Pelotas ardia de calor. Uma tarde tórrida. Subitamente um temporal assusta a cidade; a tarde vira noite. Estaciono no Pq. Dom Antônio Záttera, enquanto aguardo calmar a tormenta. Meu telefone toca. Do outro lado, um amigo querido - professor Nicola Caringi (colega de revisão, na reitoria, compus da UFPel). Não me surpreendo. Soubera que havia me procurado. Ele me fala sobre Rogério – seu contraparente e amigo poeta. Queria este que eu lesse alguns de seus poemas. Naquela noite leio e releio os poemas de Rogério. Lindos! O fascínio da palavra literária! O encantamento. Eis o e.mail com minhas impressões sobre aqueles não mais que seis poemas: Doutor ROGÉRIO !!!!!!!!!! MARAVILHA!!!!!!! Seus poemas são lindos!!! Há neles tanta humanidade, tanto sentimento de compaixão, de saudade, de tristeza, de olhar o mundo com os olhos - ainda - da esperança, que é o quanto basta pra que o senhor já seja um poeta 14


aclamado! Afinal de contas, poeta é aquele que profere... é isso mesmo que está não só nas linhas, mas nas entrelinhas de seus versos! Uma profissão de fé pela poesia! Algumas figuras literárias ( metáforas e, em especial, metonímias) retocam de um jeito precioso suas 'escrituras'. P-A-R-A-B-É-N-S ! ! ! Hoje, depois que saí da ASBL (chovia a cântaros!), peguei o envelope que o sr. havia deixado com Nicola (meu queridíssimo amigo que 'mora' no meu coração!) na casa da sra. mãe dele ( bem pertinho da nossa Academia). Li suas folhas com os olhos não só da curiosidade, mas da expectativa de encontrar um novo e resplendente POETA... e 'não deu outra' com certeza! Deixo-lhe meu abraço e muitos parabéns literários. Lígia Antunes Leivas Tenho para mim (acho que aprendi com o tempo) que o homem não chegou a este mundo para ser entendido ou explicado – afinal, como escreveu José de Alencar na última frase de Iracema, “tudo passa sobre a terra”. O homem também passa mas enquanto vivemos – e é bom estar vivo! – Precisamos de emoção, de amor, de 15


arrebatamento e o poeta de verdade tem este dom... Rogério tem este dom! Naquele momento em que terminei a leitura dos poemas de Rogério (não mais do que cinco, seis) pensei: este será nosso acadêmico; ou trazê-lo para nós. Não demorou muito, mais precisamente em abril, ele nos visitou. Trazia os convites para o seu livro de estréia como poeta: “Maria dos Mares Lunares”, um livro com cem poemas, abrangendo quatro secções: Maria dos Mares Lunares, Maria Felicidade, Maria Contigo e Maria Vem. Alguns desses poemas estão no site da ONU, no Portal Poético das Nações Unidas pela Paz e foram expostos em março deste ano. Outros estão no Portal Hiroshima-Nagasaki - Nunca Mais, exibido no Japão em agosto de 2008, nas homenagens aos mortos da 2ª Grande Guerra Mundial. “Maria dos Mares Lunares” foi lançado em 13 de maio de 2008 em Porto Alegre , na Livraria Cultura do Shopping Country Bourbon, com um público invejável. Este livro foi autografado, com grande sucesso, na Feira do Livro de Porto Alegre e na de Pelotas. Contém poemas em que a inteligência do autor, aliada à sua lírica sentimentalidade, transforma a palavra na mais refinada arte literária. Rogério Gastal Xavier também teve trabalhos literários de sua autoria selecionados para 16


integrar o livro “Vivo e Conto”, projeto Cultural Roche-ABCâncer, razão pela qual foi homenageado em São Paulo na semana passada. Sobre Rogério Gastal Xavier – sua formação, suas atividades, seu nome profissional – todos nós sabemos da sua grandiosidade: ele é médico, pneumologista com graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e tem todos os níveis de pós-graduação também: alguns no exterir – Estados Unidos - e pós-doutorado na França. É conhecido internacionalmente. Professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, orientador de pós-graduandos, responsável pelo setor de Pneumologia no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Em Pelotas estudou no Colégio Municipal Pelotense e na década de 60, transferiuse para Porto Alegre. “Para ser grande, sê inteiro. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim, em cada lago A lua toda brilha, porque alta vive.” Eis Fernando Pessoa, Rogério, de quem tanto gostamos! “Para ser grande, Rogério, sê inteiro!” 17


Rogério, meu afilhado: minhas palavras finais são para ti com exclusividade. Serás nosso confrade na Academia Sul Brasileira de Letras. Não fora pela qualidade de nossos acadêmicos, sua notoriedade, a aptidão de cada um deles, nosso sodalício já teria preciosa significação por sua territorialidade, porquanto abrange o nosso RS, e mais PR e SC. Hoje com sessenta cadeiras, delas quarenta destinadas ao chão gaúcho e dez para cada um dos outros estados do sul, a ASBL foi fundada em 9 de maio de 1970 por uma mulher – uma mulher simples, modesta; uma advogada preocupada também com o social, com os desvalidos – homens e também animais. Fundou ela também o Albergue Noturno de Pelotas – Adolfo Fetter. Circe Palma Monteiro (Magda Costa) – mulher gigante, com o coração do tamanho do mundo. Magda Costa: ser humano de verdade, não só escritora, mas espiritualizada, visionária, caridosa. A ASBL vive porque Magda Costa a idealizou e realizou o sonho! E por isso hoje estamos aqui. Em sua ata de fundação, a Academia SulBrasileira de Letras é a Casa de Cultura João Simões Lopes Neto. E assim será. 18


Rogério, nasceste em Pelotas, sobre a qual te manifestaste com versos de Neruda: ..."Y al mirar las cenizas azules del pasado nos sentimos más grandes y más eternizados y sentimos que nace como uma inmensa flor"... (Neruda, P. En la buena canción) - no mesmo chão de grandes escritores e na terra que também soube ser mãe adotiva de tantos outros. Como eles serás, pois a posteridade não cala, não mente. Entre eles: Lobo da Costa, João Simões Lopes Neto, Mimi Caringi, Márcio Dias, Ápio Antunes, Major Ângelo Moreira, Sady Maurente, Clóvis Alt, Salazar Cavero, Heloísa Nascimento, Pedro Baggio, Ivone Amaral, Paulo Marques, Maria Amélia Hillal, Jorge Sali Goulart, Juca Xavier de Freitas... Rogério: Que os “Negros Iluminados” brilhem em todos os espaços siderais! Que a “Flor da Fortuna”, em seu estoicismo, mantenha-se guerreira, lutando pela vida sem desistir nunca. Que com os “Olhos de ver” nos possas dar ‘a alegria do poema de cada dia’, como escreveu O. Bilac em um dos versos do conjunto de 35 sonetos lapidares, perfeitos com que compôs “Via-Láctea”! 19


Rogério: Na ASBL encontrarás não apenas os acadêmicos, mas amigos leais que conquistarás e que vão te querer muito bem! Nossa Academia te recebe orgulhosa, honrada e sabendo que contará com teu empenho, tua sabedoria, teus escritos literários. Adentra as portas da ASBL com os lírios da bondade nas mãos e as estrelas do saber na fronte! Sê bem-vindo! Poesia sempre! Obrigada!

3. Abaixo transcrevemos o convite para o lançamento da vasta e consistente obra de nosso confrade Luiz de Miranda, para marcar a memória de sua intensa atividade literária.

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4. Por outro lado, estamos tentando articular dois encontros, um em Curitiba e outro em Florianópolis, para fazer acontecer eleições e posse de mais acadêmicos afim de somar sócios e dar ainda maior consistência ao trabalho daquelas operosas Seções da Academia.

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POESIA

DESPEDIDA Ary Albuquerque1 Despedimo-nos sem nenhum segredo. Simplesmente, despedimo-nos. Foi tão natural como se fosse um sair para voltar. Não houve adeus nem lágrimas sequer parecia que era para sempre. A porta aberta, escancarada e ela partindo suavemente sem se importar com o tempo.

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Ary Albuquerque é um poeta de extrema sensibilidade. O poema acima consta do seu livre intitulado “Tríade Poética’. Na sua vida civil se destaca como um dos mais sólidos empresários do Nordeste brasileiro.

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Não percebia que estava levando em seus lábios pedaços de meus beijos e que em seus seios se encontravam as marcar de minhas mãos. E assim, devagar e serena, partia, deixando apenas a ausência de sua alma divina.

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NÓS Guilherme de Almeida2 Espero-te, pensando: “Ela não tarda... Prometeu-me: há de vir...” e com que aflitas, longas horas de angústia tu me agitas o coração que, tímido, te aguarda! E espero, tristes horas infinitas, um momento de vida que retarda. Súbito irrompes, trêmula e galharda, numa nuvem de rendas e de fitas. Vens a mim. Corro, tomo-te em meus braços, e te estreito, estreitando mais os laços do teu, do meu, do nosso grande amor. E o teu beijo, e o meu beijo, e os nossos beijos são mil rosas vermelhas de desejos, na primavera do teu corpo em flor!

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Guilherme de Almeida, advogado, jornalista, poeta, ensaista e tradutor, nasceu em Campinas, SP, em 24 de julho de l890 e faleceu em São Paulo em 11 de julho de l969. Ocupou a Cadeira l5 da Academia Brasileira de Letras. Também pertenceu a Academia Paulista de Letras; Ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e ao Instituto de Coimbra.

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MINHA TERRA3 Leno Saraiva Caldas pseudônimo - GAIA

Se na minha terra eu pudesse apreciar o canto dos pássaros o vôo sutil das coloridas borboletas... Se eu pudesse... deixar o céu com doces matizes fazer mais forte o brilho das estrelas... Se eu pudesse... proteger o magnânimo universo em que minha terra mora eu transformaria o lendário homem em ser quase celeste na transcendência do amor maior! Faria dos sentimentos inferiores essências de compaixão e trocaria a fome por abundância. Tocaria a harpa divina e no exercício do perdão 3

Primeiro lugar do concurso Minha Terra realizado pela ASBL.

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diria "Graças, Meu Deus!" pelo milagre da vida! Diria a todos de minha terra quão importante é a sabedoria e assim viveríamos a felicidade a fraternidade na energia sutil do coração! Na minha terra... ah! na minha terra seríamos os sonhadores sem dores na união de cada irmão em busca da felicidade de todos nós!

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A MORTE DO DELEGADO José Isaac Pilati

Vo te mostrá, piá de merda Quem é que manda pará! Foi de relho sobre o taura, Mas não deu nenhum laçasso: viu um revólver, como clara, e um disparo, como gema: ele mesmo a gemada, a bater-se no tablado. Logo jaz como uma bíblia: ferida e olhos abertos na tristíssima trindade. Já não olha e não sangra mas o olham como salmo: encomendam sua alma em nome do pai e do filho e do mal definitivo, Amém. Em nome da briga e do revólver e em definitivo, Adeus. 28


Ei-lo na trindade mortuária hospitaleira: dois olhos e uma ferida exangue, três olhos, mas um só Esquecimento! Na balsa de levá-lo de uma vida madeireira Foi um cedro com barriga, num destino de Uruguai: Trinta almas foi a enchente que o levou pra nunca mais.

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ANIMAL SIMBÓLICO Jandir João Zanotelli

Ah! Tão perto, tão perto e tão distante... Tão longe de minhas mãos, de meu cálculo, e meu alcance... E tão perto, muito mais perto do que eu estou perto de mim... Mais carne de minha carne, Mais osso do que meus próprios ossos... Antes de meu começo e de meu fim Olhos..., peito arfante e mãos e curvas Que chamam, que convidam, que insinuam... Que apostam e garantem o que eu mais quero, o que eu mais busco... alma, olhos, coração. Mais que meu próprio ser e identidade, e que se entrega tão simples como a chuva tão doce como o leite e como a uva Que antes de chegar... já dá saudade. Meu amor! Que não é meu, que não é teu. Nem é de Deus. Nem de ninguém... Que vai e vem... Muito aquém, muito além... Faz tanto mal... faz tanto bem... 30


Quero-te perto muito mais perto do que o beijo. Mais íntima e total do que o desejo. Abismal convite e sedução que me anima sempre em busca de um caminho Com mil pedras, mil dobras, mil espinhos Mas que é a casa da paz que eu quero ter. Agarrado ao símbolo de tua vida que me traz o ausente tão presente e faz o presente tão ausente que se sente de repente entre a gente que o amor já começou.

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CARNAVALES DE PROGRESO Carlos Gil Turnes (2003)

Lindos son los carnavales Carnavales de Progreso Carnavales de a vintÊn Carnavales sin um peso Lindos son los carnavales Carnavales de Progreso Carnavales de tractor O si no de bicicleta Y p´al que no tiene un mango Carnavales de chancleta Carnavales con olor Y sabor de chorizada Con cerveza bien helada Pal´ gusto de la mozada Carnavales de tablado Con cantores y murguistas Payadores guitarreros Y a veces malabaristas 32


Carnavales coloridos De gurisas sin marido Y de madres preocupadas En buscar un buen partido Esos eran carnavales Carnavales de Progreso puede usted tener certeza No hay nada mejor que eso puede usted tener certeza No hay nada mejor que eso Allí está Julio Gallegos Lo acompaña La Pampita cuando ellos cantan juntos Todo el mundo aquí se agita Se presentan saltimbanquis Y también los humoristas Charlatanes que hacen gracias Como ve, todos artistas Se presentan tamboriles Baten fuerte los murguistas acompañan los mariachis Con algún saxofonista

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Carnavales con amigos Con Luisito el barraquero José Acosta tractorista Que se hizo carnicero Carnavales con Chichilo Que de la Italia llegó De Julio, Carlos y Mario Gran amigo él quedó Lindos eran carnavales Carnavales de Progreso Carnavales de a vintén Carnavales sin um peso Esos eran carnavales Carnavales de Progreso puede usted tener certeza No hay nada mejor que eso puede usted tener certeza No hay nada mejor que eso puede usted tener certeza No hay nada mejor que eso Eres como la noche, callada y constelada. Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

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Me gustas cuando callas porque estรกs como ausente. Distante y dolorosa como si hubieras muerto. Una palabra entonces, una sonrisa bastan. Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

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NA VOLTA Odilon Ramos4

Pra não dizer que não te trouxe nada, que tudo é caro, e o dinheiro escasso, eu trago a minha boca pro teu beijo e o meu corpo para o teu abraço. Pra não dizer que não te trouxe nada, nem uma flor que achasse no caminho, eu trago o peito cheio de saudade e as duas mãos repletas de carinho. Meia dúzia de frases mal escritas, duas ou três palavras mais bonitas, cortadas pelo trepidar da estrada, deram um soneto que não é um presente, mas que te entrego agora humildemente, pra não dizer que não te trouxe nada.

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Odilon Ramos é jornalista, radialista, cantor e poeta. Já publicou dois livros: “Vida e Verso” e “Tu, minha poesia”. Este soneto faz parte de um livro e de um CD cujo título é “Pra ti com carinho”. Odilon também é gaúcho e tradicionalista.

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CORAÇÃO DE MÃE – SEMENTE DE PAZ EM TEMPOS DE VIOLÊNCIA Roza de Oliveira Enquanto os decibéis dos canhões das escopetas e das moto serras eliminam a Paz, a Vida e a potência das Florestas comprometendo o equilíbrio universal! Na vocação da Paz, da Vida em abundância O CORAÇÃO DE MÃE ENXERGA O VERDE PROMOVENDO ORQUESTRAS NAS CURVAS DO SINAL ABERTO DA ESPERANÇA! Enquanto há gigantes nucleares – pigmeus morais captando do átomo os mistérios - não da paz! prefaciando o caos universal! O CORACÃO DE MÃE EM VIBRAÇÕES DE LUZ O SERMÃO DA MONTANHA REPRODUZ! Enquanto falsos líderes dão prêmio à violência e a mídia a reproduz contagiosamente COM AS TURBINAS DO AMOR EM EVIDÊNCIA O CORAÇÃO DE MÃE É LUZ, É CONSCIÊNCIA É DA PAZ E DO AMOR VIVA SEMENTE! 37


Enquanto a doença, a fome e a pobreza penalizam a criança, o adulto e o ancião... O CORAÇÃO DE MÃE EXPLODE NA BELEZA DE SER DAS MÃOS DE DEUS UMA EXTENSÃO DOANDO AMOR, CARINHO E PROTEÇÃO!

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TENTATIVA Nair Solange Pereira Ferreira

Quisera poder parar o tempo que tenho, tornรก-lo eterno. Como nรฃo consigo apreendo os sonhos antes que eles se desvaneรงam.

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ONDE ME DESCUBRO SEM TEU OLHAR? Lígia Antunes Leivas.

A mente vasculha distâncias as madrugadas se aceleram nuas de presenças plenas de desejos... Nos labirintos das incertezas luas reafirmam palavras mortas e o coração segue esse vento frio de maio. Suportaremos tão louco exílio sem adormecer destroços estilhaços de nós mesmos? Quem eras tu antes daquele espelho multifacetado em imagens imagináveis desequilibradas na mudez do mundo? No chão, as cinzas vêm... Varrem as ruas... solitárias... - Onde me descubro sem teu olhar? Voltar pode não ser o melhor... Abriu a porta... tudo como deixara ao sair. Intacto. O café no bule. A xícara sobre o prato auxiliar. 40


O guardanapo dobrado. Fatias de pão cobertas com glacê. Sentou. Com a colherinha pegou um pouco de açúcar. Mexeu a mistura. Tomou alguns goles. Parou. Descalçou as botas. Tirou o casaco. Passou as mãos pelo rosto como se assim retirasse o cansaço. Olhou em volta. Defronte, imagens mentais, lembranças... apenas. O lugar seguiria vazio... a outra cadeira, a outra xícara... ... Nada seria tocado, usado, mudado. A gargalhada ecoou até a guarita na esquina. Em silêncio tumular recolheram o corpo... perfurado pela solidão.

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DIA DO MÉDICO Roza de Oliveira

Do nascimento à morte... está presente. Tem a missão de Pai e Protetor. Vive sua vida diligentemente além de seu papel de Professor. Nunca ele dorme em paz, tranquilamente: seu celular dispõe ao sofredor. De seu dever jamais se faz ausente é seu martírio - do paciente a dor. Para assim nosso médico exaltar componho este soneto que é de amor para nesta emoção reafirmar o quanto agradecemos ao Criador sua existência nobre e dedicada que faz de cada dor sua jornada..

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O AMOR, O SORRISO E A FLOR Marisia Vieira

O amor nos faz sorrir O sorriso é de alegria Não sabemos definir Do amor esta magia. A alegria do sorriso Quantas vezes se desfaz E o que era paraíso Ficou longe, para trás. O perfume que inebria O perfume desta flor Nem sempre é alegria O sorriso do amor.

PROMESSA Marísia Vieira

Ano a ano... Do desconhecido ao conhecimento. Flores de ouro, brinde à amizade Água no corpo, luz na alma 43


No escuro, a casa No olhar, claridade Dias e noites se escoam... Voz ao longe - promessa. Verdade - ausência, Fruto amargo solidão Horizonte! Sol! Esperança de paz: no olhar, na palavra, no sorriso, no abraço à distância com o respeito que traz no peito, oferenda de sincero amanhecer de amigo. Noite, chuva, vento, natureza... Tristeza? Horizonte! Sol! Novo dia. Promessa. Vida nova. Alegria, esperança de aurora no caminho do viver!...

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PROCURA-SE UM HOMEM Maria Luiza Kuhn5

Procura-se um homem Precisa ser poeta Se não souber escrever versos Deve trazer poesia no olhar. No peito carregar Um tanto de mar Uma inquietude de ondas Um mistério profundo. Deve ter na boca 0 gosto insaciável de beijos. Procura-se um homem com uma certa “finesse” \Gestos gentis sem afetação. Um homem que goste de cheiros Que vez em quando lembre Que eu gosto de flores. Procura-se um homem Que goste de fantasias Quando faz amor Passeie no meu paraíso. 5

Maria Luiza Kuhn é natural da cidade de Três de Maio, mas reside atualmente na cidade de Gramado-RS. Bacharel em Direito, especialista em Administração-RH. MBA em Gestão Empresaria pela ESPM. Poetisa por vocação (assim ela se define).

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Para o meu gosto Melhor se for moreno. Mas imprescindível mesmo É que seja sereno. Um homem que respeite o semelhante Que esteja comigo E com o olhar no mundo Realizando sua missão. Procura-se um homem Que tenha nas veias A virtude dos justos. E na pele o calor De inquietas asas Para voar nos meus sonhos.

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PASSOS DE NEVE P. de Petrus6

É madrugada! 0 frio é grave e intenso neste inverno em que fico solitário; e amarga-me a saudade quando eu penso naquele Amor, inquieto e visionário! Vivo a cumprir na vida o meu fadário, qual veleiro a vagar em mar infenso. - Meu caminhar não tem itinerário, somente enxugo prantos no meu lenço. Quanta ilusão que a mente me descreve! Surpreso, enquanto estava a refletir, eis que batem à porta, bem de leve... Temeroso, e infeliz, não pude abrir! Porém, depois fui ver, não era a neve: - era a Ventura, em risos, a fugir...

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P. DE PETRUS é o pseudônimo literário do poeta e trovador PEDRO BANDETTINI. Nasceu na Cidade de São Paulo. Seu estro é fértil, dadivoso e sensibilizante.

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TIMIDEZ Wilma Mello Cavalheiro7

Quis desatar os nós da timidez que prendem o meu verso na garganta, num momento de louca insensatez mostar ao mundo o que mais me encanta. Mas o bom senso, o pejo, a altivez, me disseram baixinho: que adianta perderes num arroubo a lucidez que te faz mais mulher, que te agiganta. Melhor deixar dormir eternamente o segredo que guardas ternamente sem ressaibo...sem grande reprimenda... Se preferes dizê-lo, vai em frente, entrega teu segredo docemente, mas tão baixinho que só ele entenda. 7

Wilma M. Cavalheiro é natural de Pelotas. 0cupa a cadeira 41 da Academia Sul-Brasileira de Letras e presidente da União Brasileira de Trovadores em Pelotas.

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PAZ Wilma Mello Cavalheiro

Trago o rosto marcado pelo tempo, pés cansados por tantas caminhadas, minha vida é um grande contratempo, dissolvida em eternas madrugadas. A poesia é um simples passatempo num carnaval de rimas mascaradas, onde o verso nem sempre está isento das ilusões perdidas, naufragadas. Felicidade é canto de sereia, espuma que se joga sobre a areia, interlúdio sonoro de um terceto, Porém, se me envolvesse em sua teia, se brilhasse em meu céu, qual lua cheia, talvez houvesse PAZ neste soneto.

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VÊNUS DE MILO Noemi de Assumpção Osório Caringi8

Eu não invejo o teu porte tranqüilo, a tua perfeição, tua grandeza, todo o teu esplendor, toda a pureza das formas do teu ser, Vênus de Milo! És formosíssima, sim, eu assimilo, e o ideal maior da natureza! Mas nada inveja a mim tua beleza - sou mais perfeita eu, Vênus de Milo. Porque, estátua antiga, eterna e calma não vibras...é de mármore a tua alma!... nem tens no olhar do Amor os grandes brilhos! E a minha vida é Amor, grega escultura! Sou mãe, tenho a mais rara formusura e ainda dois braços pra estreitar meus filhos!...

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Noemi 0sório Caringi é natural de Pelotas. Nasceu no ano de l914 e faleceu em l993. Era membro da Academia SulBrasileira de Letras. Este soneto foi extraído do seu livro Alma em Poesia.

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TROVAS Transcrevemos aqui o conteúdo de nossa coluna semanal no jornal Diário da Manhã de Pelotas: É carnaval. A vida dança. O samba embala. É preciso reconduzir tudo ao originário pela dança, diziam os bantus. Quando a vida se fez velha, gasta, sem sentido, é preciso faze-la voltar à origem. É preciso ajuda-la a desvestir-se das formas que o homem lhe impôs: as formas econômicas, políticas, sociais e culturais para que a vida possa reencontrar sua raiz e renovar todas as coisas. Não adianta perder tempo em remendar as formas velhas, ressequidas da vida. Quando a árvore perde o viço e vigor é preciso uma poda radical. Reencontra-la na matriz original e originária. Os povos antigos chamavam este útero originário da vida de “caos” (indoeuropeus), de “ovo primevo”(egípcios), de “neblina primeira” (guaranis), de “informidade vazia” (semitas). A Palavra criadora do amor de Deus fez que, a vida nascesse sob todas as formas. As formas saudáveis da vida que mantém 51


permanentemente relação com sua origem e destino vão, aos poucos, permanecendo somente forma, estrutura, instituição, poder, como se a forma substituísse a vida, fosse a própria vida. E assim andando, tudo definha, morre no sem sentido. É preciso, ritualmente, pelo poder mágico da palavra e da dança, reconduzir as instituições, as formas à origem. Não para reforma-las. A vida não admite reformas. É preciso que as formas morram para que a vida renasça. No meio do inverno (no hemisfério norte agora é inverno) quando o rigor da natureza despiu a vida de suas folhas, flores e frutos e a reconduziu ao coração fértil da terra-mãe, os povos, na noite mais fria, faziam o carnaval. As formas da vida familiar, da vida social, da vida econômica e política eram suspensas: a chave da cidade era dada a um palhaço e tudo acontecia como se não houvessem formas e instituições. As relações sexuais entre o rei (elite) e a mais bela mulher era, não apenas um bacanal banal, mas a invocação à vida para que ela retornasse, voltasse e fecundasse novamente a história dos homens. A água das casas era esvaziada, o fogo apagado e, desde uma pedra originária, buscava-se o novo fogo, na fonte a água nova. Para que tudo fosse novo. A fragilidade, a facticidade, a precariedade da vida precisa encontrar raiz e nascedouro. A 52


dança, o ritmo, o frenesi do carnaval são um clamor por vida nova. Hoje também precisa ser. É preciso retirar do originário as possibilidades da vida, de uma vida nova, que supera a morte e se faz canção. Canção de fraternidade que, construindo a justiça, prepare a paz. Enquanto isso, é bom acessar à palavra simples, singela, bela e completa da trova. É bom aprender a fazer trova. Wilma Mello Cavalheiro, nossa competente secretária da Academia Su-Brasileira de Letras, no texto abaixo, ensina e convida, ela que é presidente da UBT (União Brasileira dos Trovadores) de Pelotas. ao mundo da trova, essa poesia curta e plena que nos acompanha desde sempre. “Hoje, vamos falar sobre a TROVA. O que é a Trova,? Trova é uma composição poética de 4 versos setessilábicos, rimando o primeiro com o terceiro e o segundo com o quarto verso, e tendo sentido completo. Fazer quadras é fácil, mas, transmitir a essência lírica e bela da palavra em apenas quatro

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versos é tarefa difícil. Tão difícil como recolher numa grupiara pequenos e preciosos diamantes. Segundo Luiz 0távio, que criou e impulsionou este fantástico movimento trovadoresco, não é fácil fazer uma boa trova, e ele estava certo, quando dizia: “Todo o bom trovador é um bom poeta, mas nem todo o poeta é um bom trovador”. Jorge Amado não deixa por menos ao dizer: “Quanto a TROVA , não pode haver criação literária mais popular , que fale mais diretamente ao coração do povo. É através da trova que o povo toma contato com poesia e sente a sua força. Por isso mesmo, a Trova e o Trovador são imortais.” Hoje, o Movimento Trovadoresco se espalha por todo o Brasil, de norte a sul, de leste a oeste, e atravessa fronteiras, pois, além de Portugal que já cultivava este gênero literário e continua cultivando belamente, com seus exímios trovadores e poetas, outros países uniram-se a nós, numa corrente trovadoresca universal, não só participando dos nossos Concursos de Trovas (Jogos Florais), como fundando seus Movimentos Trovadorescos, com seus respectivos Jogos Florais. Países que ingressaram neste magnífico mundo da Trova: Argentina, Chile, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, México, Porto Rico e Venezuela. E aí está a TROVA, palpitantemente viva, com a sua bandeira, com a sua Rosa Rubra, tão 54


rubra quanto o coração dos trovadores que por ela palpitam. Poeta, vem versejar, meu convite se renova... Deixa teu sonho vagar pelos caminhos da trova. Com apenas quatro versos, a trova beleza encerra. Este pequeno universo há de florir nesta Terra Quero ver nossa Pelotas com seus vates e escritores percorrer a mesma rota, irmanar-se aos trovadores.” Jandir João Zanotelli Presidente.

Quando a saudade me guia pelas noites do passado, qualquer luz eu trocaria pela penumbra ao teu lado. Carolina Ramos

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Deserto imenso, inclemente, que martiriza quem ama. é o que mede exatamente a metade de uma cama! Pedro 0rnellas

----------------------------Entre os véus da noite, imerso, insone em meu travesseiro, escrevo apenas um verso e a saudade...um livro inteiro! Maria Lúcia Doloce

----------------------------Sempre opostos, nem de leve nossos sonhos se aproximam... Na trova que a vida escreve somos versos que não rimam. Sergio Bernardo

-------------------------------Vais chegar...ouço teus passos... o amor que em meu peito mora, se amplia...abrindo espaços... para o prazer dessa hora. Wilma Mello Cavalheiro 56


TROVAS HUMORÍSTICAS

Ganhei um dogue alemão, mas é tão mole o safado... Que se eu quiser proteção só dublando o condenado! Sérgio Ferraz dos Santos

........................................... Foi, as matas, devastando pior que qualquer queimada... ´Éra um português tentando achar a raiz quadrada. Marcelo Zanconato Pinto

......................................... Meu fusquinha anos setenta às vezes pega no tranco, e eu, que passei dos oitenta, ronco...ronco..e não arranco! Renata Paccola

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“O prédio vai ser tombado”! - Decidiram em plebiscito, e o portuga inconformado: - Que castigo...é tão bonito! Sérgio Ferraz dos Santos

...................................... No quarto um cartaz dizia, Lá no motel “Bem Amado” Caro patrício, sorria: você está sendo filmado1... José Paulo Tavares

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CONTOS E CRÔNICAS

SOBR E A VIDA DE PEDRO YAMAGUCHI FERREIRA9 Paulo Teixeira No dia 1 de junho passado, às 19:30h, estava em meu gabinete em Brasília e recebi uma ligação de Dom Edson Damiani, Bispo de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, dizendo que o Pedro, meu filho, tinha desaparecido ao meio-dia, depois de ir tomar banho na águas do Rio Negro. Parti na manhã seguinte para São Gabriel da Cachoeira com a esperança de encontrá-lo. Participei da busca do seu corpo que finalmente foi encontrado, 48 horas depois, a 9

Recebi de D. Damian, bispo amigo da mais longínqua Amazonas a notícia de falecimento de um grande homem Pedro Yamaguchi Ferreira. O pai dele, deputado federal teceu os comentários que vão abaixo e que, acredito, todo pai gostaria de dizer de seu filho. Vale por si só. J.J. Zanotelli. 59


50 km abaixo do local onde ele foi tomar seu banho. Pedro nasceu no dia 11 de abril de 1983, num parto demorado da Alice. Era o irmão mais velho de nossos 6 filhos. O nome Pedro foi dado em homenagem a Dom Pedro Casaldáliga, hoje Bispo Emérito de São Félix do Araguaia e a Pedro Tierra, escritor, autores da obra em homenagem aos índios brasileiros:“Missa da Terra Sem Males”. Pedro estudou na Zona Leste de São Paulo, onde fez grandes amigos, desde o ensino fundamental até o colegial. Adora futebol, e jogava bem, chegou a treinar no Corinthians, mas não conseguiu compatibilizar o horário da escola. Morou nos EUA, na Califórnia, para apreender inglês e trabalhou numa loja de sucos.Mais tarde morou no Japão e trabalhou como dekasségui, numa fábrica de alimentos e depois foi visitar a casa onde nasceu seus avós japoneses, em Okinawa e pode rezar para sua ancestralidade. Fã do Rappa e do Mano Brown, nos últimos anos se interessou pelo samba de raiz e frequentava as rodas do “Samba da Vela” em Santo Amaro, que lhe deram cultura musical. 60


Frequentava e era amigo do grupo de Jongo, dança de resistência dos escravo na cidade de Guaratinguetá-SP. Formou-se em Direito pela PUC de São Paulo e seu trabalho de Conclusão de Curso(TCC) foi sobre o voto do preso. Trabalhou num grande escritório de advocacia em São Paulo para custear seus estudos e onde apreendeu grandes lições de Direito. Na PUC fez grandes amigos, que se somaram aos amigos do colégio e aos amigos de São Miguel. Quando da realização de sua missa de envio, organizado pela Pastoral Carcerária, em fevereiro desse ano, disse aos amigos: “Brindo com todos meus amigos e amigas, da rua, de colégio, de faculdade, das lutas, da vida. Pela amizade e companheirismo. Obrigado por me ensinar. Espero que nossa amizade possa ser preservada e se fortalecer ainda mais, nos sentimentos de solidariedade com os outros, no amor pelo país, na luta por mais igualdade social,

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autonomia e liberdade das pessoas e tolerência com as diferenças. Tamo junto!” Os seus laços com a família também eram muito fortes e disse na missa: “Quero abraçar todos meus familiares. Meus tios e tias, pais e mães pra mim, e meus irmãos. Meus primos e primas, que são meus outros irmãos e irmãs. Carrego vocês no coração, assim como carrego a lembrança de meus quatro avós, os quais tive a enorme felicidade de conhecer e conviver. Sinto que eles estão comigo. Sempre os senti por perto e sei que eles nos protegem. Dedico também a eles minhas alegrias.” Para mim e sua mãe Alice, dedicou: “Aos meus queridos pais, também faltam palavras. Obrigado pelo exemplo, por nos ensinar a olhar pelo outro, a ter consciência do mundo em que vivemos, a lutar por nossos sonhos. Muito obrigado por serem parceiros comigo e com meus irmãos em nossas investidas, em nossos projetos. Amo muito você, pai e você, mãe. ”

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Para seu irmãos Ana, Caio, Laís, Manoela e Júlia devotava um intenso amor e declamou: “Aos meus queridos irmãos, todo meu amor e amizade. Vocês são pessoas especiais pra mim, trazem mais energia pra minha vida, são minha sustentação.” Em 2006, interessou-se pelo tema da vida carcerária. Trabalhou na Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo e após, foi convidado para trabalhar na Pastoral Carcerária, pela missionária Norte-Americana Heidi Cerneka e pelo Pe . Valdir João da Silveira. Trabalhou como estagiário e depois como advogado por três anos. Atendia os presos e presas cuidando de seus processos e atendendo suas famílias. A partir da realidade que conheceu dos cárceres brasileiros passou a participar das discussões sobre o sistema penitenciário. A Pastoral Carcerária exerceu sobre ele forte influência e sobre ela disse, na missa: “Quero agradecer, de forma muito especial aos meus queridos amigos e amigas companheiros de Pastoral Carcerária. Obrigado pela oportunidade 63


que me deram, por confiarem e apostarem em mim. Pela amizade e paciência que tiveram comigo. E, sobretudo, pelo exemplo de fé e compromisso com a causa carcerária e humana. Vocês são verdadeiros guerreiros, pessoas iluminadas. Faltam palavras pra descrever tudo o que vivi nestes 3 anos de Pastoral. Quero, do fundo do coração, agradecer a oportunidade de ter compartilhado com vocês momentos dos quais nunca esquecerei. A presença missionária dentro da Pastoral influenciou a minha escolha. Carrego vocês, os presos e as presas, comigo. Que tenhamos dias melhores, em que nossa sociedade respeite os direitos dos cidadãos presos. Muito obrigado!” Sobre o Padre Valdir, seu chefe e orientador, disse: “Pe Valdir, aliás, que foi o pai desta minha idéia de ir pra Amazônia. Desde fazer contato com o bispo de São Gabriel da Cachoeira, até falar com todos os padres e irmãs para que autorizassem meu envio. Muito obrigado por toda a ajuda, Pe Valdir.” E sobre o trabalho dos missionários da Aliança da Misericórdia, que impressionou profundamente:

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“Quero saudar meus amigos da Aliança da Misericórdia. Por ceder essa igreja, que é vossa casa. Saibam que vocês têm enorme influência na minha vida e nessa minha decisão: desde o primeiro momento, quando conheci um montão de jovens que moravam na favela do moinho e faziam pastoral carcerária, logo fiquei encantado com o que vi. Eram jovens dedicando suas vidas a melhorar a realidade dos mais marginalizados: os moradores de favelas e os encarcerados. Nas muitas vezes que estive com eles, sempre me identifiquei com aquela vocação e sentia alguma coisa arder mais forte no meu peito. Sabia que faria algo parecido. Vocês vivem a solidariedade na essência na palavra, vivem pela causa social com compromisso e verdade. Parabéns e muito obrigado pelo exemplo.” A religiosidade da fraternidade religiosa dos Irmãos de Charles de Foucauld lhe atraía: “Agradeço o carinho dos amigos de Carlos de Foucauld. Obrigado pela amizade e acolhida. Terei mais oportunidade de conhecer os ensinamentos de Foucalt. De alguma forma, já me sinto muito influenciado por essa espiritualidade, 65


desde minha infância, através de meus pais, e agora, por todo esse processo da minha decisão, quando estive rodeado por vocês. Muito obrigado.” A decisão de ir para São Gabriel da Cachoeira foi também construída quando cursou a Escola de Governo em SP, onde estudou melhor o Brasil. Como pai, com tantas ausências pela minha militância, só agora entendo quantas pessoas maravilhosas influenciaram a vida de Pedro. Sua ida para São Gabriel da Cachoeira, veio da decisão de atuar mais firmemente para mudar a realidade brasileira e assim deixou o seguinte pensamento: “Essa minha decisão de viver essa experiência na Amazônia é fruto do convívio com a realidade dos cárceres e a realidade social em sua forma mais cruel, o lado B de nosso País: o País dos esquecidos, dos humilhados. Pude estar em contato com a miséria da miséria, a injustiça, a segregação social e racial, a dor, o esquecimento. Ter visto de perto situações desconhecidas pela maioria das pessoas, ter conhecido um País que ainda maltrata seus cidadãos, tudo isso me 66


despertou pra necessidade de luta, de trabalho para a profunda transformação dessa realidade.” A referência ao lado B, vem da música do Rappa, “lado B, lado A” e se refere ao ambiente de violência com os debaixo. Tal música, é uma homenagem aos jovens da periferia e propõe a saída pela luta: “Eu sou guerreiro, sou trabalhador E todo dia vou encarar Com fé em Deus e na minha batalha Espero estar bem longe Quando tudo isso passar....”

A denúncia da desigualdade social é central no seu discurso: “De forma geral, vejo os poderes de Estado ainda muito elististas. Não conhecem de verdade a realidade de seu povo, a pobreza, a falta de dignidade e cidadania que sofrem milhões de cidadãos, não conhecem os cárceres. Mantêm-se distantes daquilo que deveria ser a essência de seu trabalho: o bem comum do povo, sobretudo daquele que mais necessita das instituições para a garantia de seus direitos. Privilegiam o status, o 67


poder, as facilidades materiais em detrimento dos direitos fundamentais das pessoas. As leis, a Constituição Federal infelizmente não são as mesmas para todos. A justiça é justa para poucos. Os direitos de alguns são mais importantes que de outros. Lutar pela terra é crime. Mas não é crime a situação daquela pessoa que vive em condições sub-humanas nas favelas, sem dignidade nenhuma, sem comida. Furtar é crime. Mas não é crime quando o Estado amontoa milhares de presos e presas numa lata, os tortura impunemente, e viola todos seus direitos previstos nas leis. Temos dois Países: o País dos privilegiados, dos que têm acesso à riqueza, à cultura, ao lazer, aos bens materiais, às melhores oportunidades e o País dos esquecidos, que não têm direitos, não têm oportunidades, e ainda são criminalizados.” Ele reconhece avanços nas políticas que vêm sendo adotadas e indicava a necessidade de aprofundamento das conquistas por direitos: “Devemos mudar, acredito que estamos avançando, mas é preciso muito mais, não podemos permitir retrocessos nas conquistas dos direitos. “

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E propunha o engajamento, para continuar a mudar o Brasil: “Não dá para ficarmos tranquilos diante de tanta injustiça. Porque preferimos a anestesia à luta? Porque não deixemos de lado um pouco nosso conforto para pensarmos e agirmos por uma sociedade melhor?” Sua preocupação social se somava com a preocupação ambiental e disse em seu discurso: “Do que adianta exercitarmos uma consciência ecológica se não questionamos nosso próprio anseio consumista que desgasta a capacidade da natureza e acelera a degradação do meio ambiente? Devemos exigir de nos sacrifícios pelo bem da sobrevivência da natureza e nossa também. Apenas para exemplificar, com situações cotidianas: será que precisamos ter 50 pares de sapatos em nossos armários? Dezenas de peças de roupas que depois ficam armazenadas? Será que todos precisamos de carro em detrimento do transporte público? Precisamos tomar duas vezes ao dia banhos de 30 minutos? Devemos pensar que nosso padrão de consumo gera desigualdades e agride a natureza, e é preciso abdicar desse modelo.” 69


Dessa compreensão, toma a sua decisão: “Penso que, diante de toda a realidade miserável que pude ver, não posso ficar inerte, tocando minha vida como se a vida do outro nada tivesse a ver com a minha. Me sinto na obrigação de colaborar com nosso povo.” Na missa da sua despedida para São Gabriel da Cachoeira, pediu que cantassem a música de Mercedes Sosa que dizia: “Eu só peço a Deus, que a dor não me seja indiferente, que a morte não me encontre um dia, solitário sem ter feito o que eu queria...” Para ele, a Amazônia não seria o único lugar para se engajar na mudança social: “Não é preciso ir até a Amazônia para mudar essa realidade social brasileira. A cidade de SP está cheia de problemas a serem resolvidos, e todos vocês podem colaborar para mudar essa situação. Visitem a favela do moinho, o jardim pantanal, uma unidade prisional. Certamente lá existem muitos problemas e as pessoas precisam

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Na ida para a São Gabriel da Cachoeira, Pedro vai com o espírito humilde, e usa a palavra colaborar na caminhada do povo da Amazônia. “Viajo para a Amazônia para colaborar, como cidadão e advogado, com as comunidades ribeirinhas, os índios, a questão ambiental. A discussão que está em voga hoje é a ambiental e, realmente, ela se faz necessária e urgente.”

E na carta de despedida, fala também dos seus desejos de viver perto da natureza e recita a música do sambista Candeia e cantada por Cartola: “Mas, nem só de lutas vive o homem. Quero viver, escrever uma gostosa poesia de minha vida. Poder respirar um ar puro, contemplar a mata e os animais, estar em contato com culturas diferentes, jogar mais futebol, estar no paraíso natural. Como diz a poesia do sambista Candeia, cantada na voz de Cartola: “deixe-me ir, preciso andar, vou por ai a procurar, sorrir pra não chorar. Quero assistir ao sol nascer, ver as águas do rio correr, ouvir os pássaros cantar, eu quero nascer, quero viver”. 71


Pedro foi saindo de casa, e de nossas mãos, devagarinho e serenamente. Doeu no meu peito a sua partida para São Gabriel da Cachoeira. São Gabriel da Cachoeira o recebe no começo de março desse ano, depois de uma breve passagem por Manaus. Ali Pedro começa sua missão junto com o Bispo Dom Edson Damian, os padres, as religiosas, os leigos, no seio da comunidade. Pedro começa por onde conhecia,visita com o Bispo, padre Jorge e leigos, a cadeia pública. Escuta os presos, conhece a juíza, o delegado, pede a procuradoria geral da justiça a presença de um promotor. Estuda os processos, e juntamente com o Bispo, propõe a liberdade dos presos que já teriam direito a benefícios, com o compromisso de frequentarem o trabalho. Escreveu sobre esse trabalho de que a delegacia nunca estivera tão vazia, que estava limpa, que foram divididos condenados e provisórios e que um preso lhes disse que isso aconteceu depois de suas visitas. Entendia que o caminho da justiça naquele rincão do país era o modelo de justiça restaurativa.

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Participava junto com os Vicentinos da arrecadação de alimentos para as famílias pobres da cidade e constatava nas visitas as famílias dos presos que viviam muito mal, faltando o básico, a comida. Que a vinda dos índios para a cidade era ruim,vinham sem muita estrutura e se perdiam na adaptação, alcoolismo e violência.Tinha visitado uma família em que dois primos foram assassinados por outro primo. Em três meses de trabalhou, tinha também participado da busca de solução para os problemas da cidade. Nos seus relatos, fala das audiências na Câmara Municipal de S. Gabriel da Cachoeira, para buscar solução para a falta de iluminação pública e água tratada em alguns bairros. Como advogado, jovem e acessível passa a ser demandado pelas demais organizações, de igreja e da cidade. A Pastoral da Juventude pede para que fale sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente(ECA) no curso de futuros Conselheiros Tutelares. O Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) o convida para trabalhar remunerado. Pedro avalia que ainda não é hora.

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Assumindo a Vice-Presidência da Rádio Novo Milênio, fazia um programa musical chamado “Samba e Cidadania”. A grade do seu último programa, que não foi ao ar, teria músicas de Leci Brandão, Cartola e Jorge Aragão. Jogava no time do Boa Esperança, time de jovens que participa do Campeonato da Cidade, quase todos eram indígenas, vestia a camisa 10. Queria a reativação do teatro para os indígenas e junto com a artista plástica e também missionária Minnie, fez uma peça teatral, na qual dançava, intitulada: “A morte da marreca da amazônia”, parodiando o Cisne Negro e que nas palavras polidas do bispo Dom Edson, as cenas eram impagáveis. Deu tempo ainda de se iniciar nas aulas de Tukano e Nheengatú, para compreender melhor os índios. Dom Edson era seu grande amigo e conselheiro. Devotou ao Pedro um amor filial. Disse sobre ele:

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“Pedro testemunhou que a vida não é um capital para ser acumulado, mas um dom de Deus para ser partilhado. Vida a serviço da vida dos pobres, dos Povos Indígenas para pagar-lhes a imensa dívida social que lhes devemos pelos massacres e genocídios perpetrados desde o “descobrimento”. A diocese de São Gabriel da Cachoeira fez uma linda homenagem de despedida do Pedro que está no site www.omissionariopedro.wordpress.com Dom Pedro Casaldáliga escreveu por ocasião da despedida do Pedro: “Eu também me senti muito afetado porque o Pedro querido carregava o meu nome e os meus sonhos.” Pedro Tierra, poeta que inspirou seu nome, enviou: “Ouço a notícia e recolho o impulso do seu relato, há poucos meses, quando ele escolheu ir para a Amazônia. Percebi naquele instante sua alegria. A orgulhosa alegria de quem se prolonga 75


na geração seguinte. Uma geração que se lança à vida, alimentada pela raiz das mesmas crenças que nutriram as lutas que nos coube travar antes dela.” Alice, sua mãe, disse, na missa celebrada na catedral da Sé: “Quando soube que o Pedro tinha desaparecido no Rio Negro tive a sensação de que não resistiria diante de tamanha dor. Mas, na medida em que fui recebendo uma profusão de visitas, telefonemas, abraços de tantas pessoas amigas, numa rede humana de solidariedade isso foi me reanimando e consolando. Percebi que meu filho era amado e tinha ajudado muitas pessoas. O Pedro estava onde desejava muito estar. Através de freqüentes telefonemas sempre me dizia que estava muito contente. Meu filho morreu feliz no meio do rio, da floresta, entre os Povos Indígenas. Apesar de sua breve existência, ele soube viver tão intensamente que tenho a impressão de que ele viveu 100 anos em 27”. Paulo Suess, padre e indigenista escreveu esse lindo poema para ele: Saudade de PedroYamaguchi Ferreira Pedro, pedra de Davi, missionário, testemunha, 76


maracá do Reino, veleiro do Rio Negro onde paz e tempestade te abraçaram. Sinal de solidariedade, memória do cárcere, dos injustiçados, furacão, sino de esperança; desde o mundo indígena badalando indignação. Pequeno irmão dos pobres, apareceste entre os humanos em tempo de vacas magras; sonhaste vinho para todos e pão consagrado, repartido como tua vida. Posseiro do tempo, romeiro sem lar; trocaste a carreira de advogado pela caminhada do peregrino, o grito pela canção Quixote e Macunaíma. Pedro, pedra preciosa, raiz com asas; na luta pela justiça te fizestes pedra-caminho, agitação divina, dom, presente, Eucaristia. 77


Seus amigos cantaram, na sua despedida, essa linda música de Geraldo Filmes: “Silêncio o sambista está dormindo Ele foi mas foi sorrindo A notícia chegou quando anoiteceu Escola eu peço o silêncio de um minuto O Bixiga está de luto O apito do Pato n'água emudeceu” Quero agradecer a todos. Quero agradecer a todos que compartilharam desse sofrimento pela morte do Pedro. Quero agradecer ao Exército Brasileiro que encontrou o corpo dele nas águas do Rio Negro. Agradeço o Coronel Caminhas, que coordenou toda operação. Agradeço à Força Aérea Brasileira, por todo apoio dado, na pessoa do Brigadeiro Juniti Saito. Agradeço igualmente ao governo do Amazonas, na pessoa do Governador Omar Aziz. Agradeço a todos os Bispos que celebraram as missas: Dom Odílio Scherer, Dom Angélico Sândalo Bernardino, Dom Edson

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Damian, Dom Pedro Luis Stringhini, Dom Fernando Legal e Padre Valdir. Aos padres co-celebrantes das missas e a todos que celebraram as missas em homenagem a memória do Pedro. Às religiosas que participaram desse momento nas suas orações. Aos leigos que rezaram por nós. Aos amigos que nos deram todo apoio nesse momento. Aos meus colegas de parlamento, na pessoa do presidente Michel Temer, aos senadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores que foram solidários. Agradeço a solidariedade de todo o povo brasileiro prestada no momento de tanta dor. No momento que o Pedro foi se banhar ele deixou uma camisa na beira do rio com os seguintes dizeres: “Aqui tem um bando de loucos que nunca vai te abandonar” Certamente esse é o nosso lema: Não vamos abandonar as tuas idéias Pedro, os teus

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propósitos e tentaremos ficar perto da grandeza das tuas obras! Inspirados por você, Pedrão e sob a inspiração da obra que te deu o nome, lutaremos por uma “ terra sem males”. Estaremos voltados às periferias das grandes cidades, aos jovens com suas aflições e riqueza de expressão que quase sempre não entendemos e nos precipitamos em condenar, aos encarcerados e os seus direitos ao respeito a sua dignidade e a sua reinserção. Atenderemos os clamores dos povos da Amazônia, dos ribeirinhos, de São Gabriel da Cachoeira. Em relação às nações indígenas,respeitaremos a sua cultura, falaremos a sua língua. Enfim, nos esforçaremos para construir um Brasil mais justo e fraterno! Os navegantes, quando os aparelhos de navegação lhes faltam, guiam-se pelas estrelas. Sempre olharei para o céu para que sua estrela possa me guiar . Guimarães Rosa, numa das suas passagens lapidares dizia: “O correr da vida embrulha tudo 80


A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, Sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” Não nos faltará coragem , diante de um intrépido Pedro. Como pai, posso dizer que o mundo te criou assim: generoso, amoroso, alegre, engraçado,elegante, forte, tenaz e consistente. Mercedes Sosa, em “Honrar a vida” cantava das vidas como a sua: “Merecer a vida não é se calar e consentir Com tantas injustiças repetidas...” Você honrou a vida Resta a mim, um amor enorme, as lembranças das partidas de futebol, das festas de aniversário, o Natal, o Ano novo, a sua alegria, o seu canto no banheiro, a saudade eterna!

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Você viverá conosco para sempre, ao lado da Alice, da Ana, do Caio, da Laís, da Manoela, da Julia, do Hórus, dos parentes e dos amigos! Paulo Teixeira 13 de julho de 2010

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O MAL DE ONDINA Rogério Xavier

Pouco se fala sobre Ondina, a ninfa, eterna prisioneira nas profundezas das águas. Uma vez libertada, torna cativo do seu encantamento a quem dela se aproximar. Seria também a Bela Adormecida, ao ser picada pela agulha de cozer, como a lenda determina. Ou, segundo outras que lhe precederam, violada ao assalto das tropas de soldados invasores, somente será acordada se beijada por um príncipe. Pois vou contar aquilo que ouvi de antigos, que ouviram de boca em boca, e que seria a melhor forma de aprender, embora os registros possam diferir nos detalhes. Porém, para a história se sustentar, sabe o povo mantê-la em sua essência, como quem retém o núcleo para ficar com o melhor ou, por outra, come o pêssego e guarda o caroço, para um dia vir a plantá-lo ou ceder a vizinhos e vê-lo crescer em um novo pessegueiro. Ondina teria nascido no interior do município de Osório, região dos lagos de água doce, para cá de Morro Alto, onde os frutos davam no pé, bastava colhê-los com carinho, sem destruir 83


a planta mãe. Aves migrantes e paridas não faltavam, a garantir carne e ovos em substância. Tinha por hábito recorrer pelos lagos a qualquer hora e tanto se afeiçoou ao costume que, dizia-se, era capaz de caminhar em sua superfície para visitá-los em um só percorrido. E, um dia, tagarela como são os jovens, perdeu a fala após um susto. Muda e retraída, ficou por longo tempo. Ao recuperá-la, disse apenas lembrar o medo pavoroso de quando foi aprisionada como um bicho; a um súbito movimento de tocaia, viu elevados seus braços e algo rude ora vindo, ora se desprendendo de si. E foi notado logo o aumento de volume do seu ventre, cada vez maior, o que não foi aceito pelos seus. Após consulta aos que entendiam daquilo, tomou rumo da cidade grande, por própria conta, daí em diante não pregando mais um olho, como se diz dos prevenidos. Ondina, aquela dos cabelos negros que evocavam o sangue indígena; dos reflexos ruivos de feixes de luz, como os que se infiltravam entre as folhagens ou, ainda, que ela presenciara no interior da igreja matriz, dando ar angelical na estatuaria, de época dos colonizadores europeus; buscou trabalho após trabalho para se sustentar, a si e a prole que foi nascendo ano a ano.

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Como? Sem tempo a perder, não dormia à noite, emendando serão aos empregos diurnos. Pouco falava, vivia como sonâmbula e já perdera a conta do cotidiano. Dos salários sabia bem para o sustento da família. Pois, não esquecera que sustos fazem parte da vida e, periodicamente, elevava os braços, fosse noite ou dia, para nove meses depois parir um filho. Até que, certa vez, parou. A vê-los, todos. Emocionou-se tanto que os olhos encheramse de orvalho, daquela umidade que tão bem conhecia e que os últimos anos não lhe haviam permitido senti-lo mais. E aí, dentro de si, reconquistou um elo perdido com seu passado, ou consigo mesmo, voltando a sentir-se plena, como fora antes de partir. Não se tratava mais de comparar o seu diário no interior do município de Osório com o da capital. Sempre gostara do que fizera, lá e aqui. Seus filhos e o tempo iriam demonstrar como foram prolíficos, pela força da matriz que injetara em cada um deles, estando a se completar. Recostando a cabeça, sonhou com um rapaz que se aproximava para lhe abraçar e beijá-la na boca, de um gosto que desconhecera até então. Pareceu que seu corpo lhe respondia com um calor veemente, ultrapassando-a sem limite e que seus braços deixavam-se mover sobre o rapaz, tocando85


o em seu corpo, e pensou que, em sonhos, alcançara a felicidade. Dizem que Ondina aí teria se acordado de verdade e dito que agora poderia voltar a dormir quando quisesse. Os tempos foram passando, a história de Ondina contada pelos seus herdeiros e conhecidos ao mundo. De uns aos outros, ouvida em silêncio, sem mais a presença da personagem, já então desnecessária para explicar os fatos. m ocado bre o rapzo lhe respondia com um calor veemente, ultrapassando-a sem limie e que seus braços dixavam-se fora ntes de pa

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O GATO DA IRMÃ AMÉLIA Dom Edson Damian10

No dia 14 de dezembro de 2009 um grave acidente de trânsito ceifou a vida de duas queridas Irmãs Missionárias da Consolata que trabalhavam em Roraima. Ir Amélia e Ir Ana eram colombianas e viviam na mesma comunidade, na cidade de Mucajaí, a 30 km de Boa Vista. Lá estive em vários fins de semana para celebrar a Eucaristia com as comunidades, pois a paróquia permaneceu algum tempo sem padre. Relembro agora um fato que certamente permanecia sem explicação para a Ir Amélia e do qual também fui cúmplice. Certo dia, Ir Ana desabafou comigo que se distraia muito na oração porque a Ir Amélia era afeiçoada a um gato que a acompanhava em toda a parte. Inclusive durante as orações comunitárias. E como criança travessa para chamar a atenção das visitas, o gato fazia mil piruetas no meio da capela. 10

Bispo de São Gabriel da Cachoeira-AM

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A Ir Ana havia solicitado várias vezes à Ir Amélia para que enxotasse o gato naqueles momentos. Mas ela, além de não atender o pedido, ficava chateada quando alguém ousasse afugentar o visitante. Sugeri então à Ir Ana a seguinte estratégia. Numa ocasião em que a Ir Amélia não estivesse em casa, prendesse num saco o gato rezador. Quando partíssemos de carro para visitar uma comunidade do interior, soltaríamos o bichinho na estrada, de preferência perto de alguma casa. Dito e feito. Nem é preciso descrever a tristeza da Ir Amélia com o desaparecimento do animal de estimação. Procurou-o com aflição em todos os recantos do quintal e também nas casas dos vizinhos. Agora que as Irmãs partiram, fico imaginando o que teria acontecido quando se abraçaram no mesmo dia em que entraram no céu. Ainda bem que a Ir Ana partiu algumas horas antes para poder acolher sua Irmã, pedir-lhe perdão e oferecer-lhe o gato mais formoso do paraíso.

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FIM DO CAMINHO Maria Beatriz Mecking

O tema estava escolhido. Nos últimos tempos, ele ficava pairando na sua cabeça como nuvem permanente, dessas que parecem fixas no azul do céu. Esgotara-se a fase de maturação: a sua nuvem estava por estourar a qualquer momento. E, quando isso acontecesse, ela se lançaria à ação, num ato de pura entrega. Segunda-feira, prometeu-se, tentando postergar. No tempo que lhe restava, foi assistir a uma palestra sobre literatura. Quando a autora começou a discorrer sobre o livro que acabara de lançar, não acreditou: quase tudo que vinha construindo, há meses, estava ali sendo exposto. Perdida, saiu. A nuvenzinha teimava em continuar no seu posto.

ILUMINAÇÃO 89


Maria Beatriz Mecking

A lagoa brilha. A lagoa resplandece, na manhã de sol. Os raios douram as águas, repartindo-se em mil cintilações. A lagoa, que não é realmente uma lagoa, mas uma laguna, reverbera ao sol. Ela caminha pela borda. Caminha e pensa, caminha e sente. As águas da lagoa brilham. As águas da lagoa cintilavam assim no dia em que ele foi embora. A lagoa assistiu àquela despedida. Ele, dividido. Ela, angustiada. Veio o outono, passou o inverno, chegou a primavera. Mais um verão lotou a praia. Na manhã de domingo, as águas da lagoa brilham. Sente que alguém caminha a seu lado. O ausente faz-se presente. Continua a caminhar, como se sozinha estivesse. Lá no fundo, brilha a lagoa.

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ANO NOVO Maria Beatriz Mecking

Começou a beber cedo. As primeiras doses, saboreou; as outras, engoliu-as maquinalmente. Tocou o telefone: “Não vens? Estou te esperando!” “Pra quê?” – balbuciou. “Para a festa do ‘réveillon’, homem.” Estrondos abalaram o silêncio. Pela janela, viu luzes multicores que pipocavam no céu. Tentou levantar-se: foi então que desabou sobre o tapete, perdendo toda a consciência.

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ODE AO JUIZ LADRÃO11 Juremir Machado da Silva

Algumas espécies precisam ser protegidas: a ararinha-azul, o cantor com vozeirão e o juiz de futebol ladrão. Confio na Fifa. A Onu é muito fraca. O Ibama é quase tão poderoso quanto a seleção do Chile. A ararinha-azul, o cantor de vozeirão e o juiz de futebol ladrão fazem parte do patrimônio natural e cultural da humanidade. Talvez eu devesse citar também o ladrão de livros de qualidade, não aquele que rouba Paulo Coelho ou os volumes da saga “Crepúsculo”, mas o cara que se arrisca por Baudelaire, Rimbaud, Flaubert, Balzac e por mim. Soube de um maluco que foi pego roubando um exemplar de meu romance “Solo”. Eis alguém que merece todo o meu respeito e admiração.

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Correio do Povo, 30 de junho de 2010, pg 4.

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Nelson Rodrigues elogiava o juiz ladrão. O politicamente correto praticamente acabou com essa expressão. Agora só se fala em erros de arbitragem. Há uma perda semântica considerável. Há quem defenda o uso da tecnologia para acabar com os erros de arbitragem. Seria catastrófico. O futebol se tornaria tão chato quanto o tênis, o vôlei, o basquete e outros esportes incapazes de produzir polêmica, contestação e raiva. Só a possibilidade do erro humano é criadora. A “mão de Deus” de Maradona faz parte do imaginário do futebol tanto quanto os gols perdidos por Pelé. A perfeição do futebol está também na sua imperfeição. O bandeirinha ensopado, no meio de um temporal, tendo de marcar um impedimento que não enxerga expõe o ser humano a seus limites. É fantástico. Dá o que falar. Ativa a fúria das paixões.

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O árbitro é um totem que recebe a violência de nossos sentimentos. Tem um valor simbólico essencial. Graças a ele e a seus erros, fazemos a nossa catarse. Só a ele podemos chamar de ladrão, durante um jogo, das arquibancadas, sem tomar um processo. Há um valor digestivo impressionante nisso. A bossa nova matou os cantores de vozeirão. A sociedade industrial está acabando com a ararinha-azul. Só nos resta o juiz ladrão como resquício de um mundo romântico e livre. A mídia precisa defender o juiz ladrão e condenar qualquer tentativa de uso da tecnologia no futebol. Sem o juiz ladrão, muitos comentaristas podem perder o emprego por falta de assunto. Os programas esportivos encolherão.

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Esta Copa da África do Sul está sendo uma mediocridade genial. Só os erros dos juizes ladrões em favor da Alemanha e da Argentina estão acima da banalidade. E as holandesas gostosas fazendo propaganda da cerveja Bavária. As moças acabaram na delegacia. Os juizes, na geladeira. A Fifa precisa nos salvar da ideologia tecnicista, do positivismo dos que não suportam erros e da assepsia dos que desejam transformar o futebol numa ciência exata. O futebol é o último espaço do homem decidindo em tempo real, sem GPS nem outras próteses tecnológicas. Viva o reacionarismo no futebol. Eu sou contra qualquer inovação. Nem aquela espuma para marcar o local de uma falta eu aceito. Gosto mesmo é daquela incerteza quanto ao lugar onde a barreira deve ficar. Na época dos póshumanos, o erro do juiz é a nossa salvação.

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ARTIGOS

SOBRE "CONTOS GAUCHESCOS" DE SIMÕES LOPES NETO José Moreira

Na apresentação de Contos Gauchescos, Simões Lopes Neto, inicialmente, fala de suas andan-ças pelo Rio Grande do Sul. Traça um roteiro sentimental, e logo passa a palavra ao seu imaginário guia - o gaúcho Blau Nunes. Daí em diante a interlocução se es-tabelece entre este e o leitor. Usa, portanto, de uma técnica especial em redação, dando vida e voz ao personagem que, dentro do espaço definido pelo autor da obra, se movimenta, articula e dá autenticidade à forma xucra do dizer campeiro, com todas as suas nuances dialetais. Com isto, nos dá oportunidade de saborear,à volta de um fogo de chão, en-quanto o naco de carne despeja graxa no braseiro e corre o 96


amar-go de mão em mão, os causos da gente simples, galponeira e dos senhores das lidas do campo, com cheiro de terra, mato e flor, o recato das prendas, os dengues das chinas, as habilidades dos xirus e peões, seu romantismo e audácia, na solitude do pampa, entre um e outro crepúsculo, temperando a vida com amor, graça, ironias muitas, enquanto o tempo passa. Nota-se o diálogo, a linguagem gauchesca do vaqueano, que chama o leitor para a intimidade da gauchada, estabelecendo um clima capsular das casas para a cozinha, onde crepita a lenha no fogão de ferro e das panelas exalam os cheiros de comida. Logo, das mãos da patroa vêm os gostosos quitutes da cozinha para o galpão. O escritor delineia as trilhas, retira-se do cenário das narrativas e deixa que corra a palavra entre o "legítimo senhor dos caminhos" e nós, interlocutores no rosário de recordações. Se o escritor contasse os casos eivados de suas subje-tividades, num linguajar citadino, não teria a mesma força de expressão. A grandeza de Simões Lopes assenta-se nos cantares da aldeia, com suas peculiari-dades linguísticas e fidelidades aos usos e costumes campeiros originais, ainda sem a contamina-ção das normas oficiais de ortografia acorrentadas à lingua-gem culta,

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enfeitada de metáforas, e confeitada para o sabor das elites. Blau Nunes fala à sua gente e quer ser entendido em toda a sua originalidade, sem sofisticação, para ser verdadeiro intérprete de gaúchos e gaúchas, sem unifor-midade de pontuação, vocabulário academicista e sintaxe, que o afastaria da forma de narrativa em estilo tipicamente campeiro. Venha você, leitor, abra o livro "Contos Gauchescos" e delicie-se com a apresentação que faz o autor Simões Lopes Neto, do "Guasca" Blau Nunes, no seu melhor estilo memorialista. Ele finaliza deixando-nos na intimi-dade do benquisto tapejara de "desempenado arcabouço de oitenta e oito anos, todos os dentes, vista aguda e ouvido fino, sadio, leal, ingênuo, impulsivo, precavido, perspicaz, de invejável memória laureada do pictórico dialeto gauchesco". Leia, pense, medite, viaje pelos títulos das "TREZENTAS ONÇAS" ao CONTRABANDISTA e até o final das páginas de ouro dessa obra. Depois, impregnado de tradicionalismo puro e folclore, vamos marcar um encontro, num lugar tranquilo da campanha, pode ser até à sombra de uma figueira, onde não falte lenha para o fogo, uma picanha de engraxar o bigode, alguns amigos, uns traguinhos de canha da boa e a roda de mate amargo. Não faz mal se uma 98


prenda faceira e dengosa nos brindar com a serventia do mate, com todo o respeito do tradicionalismo gaúcho. Acaso queira chorar, leia o caso das trezentas onças e veja quão diferentes são os homens de hoje em relação ao zelo pela coisa alheia, princi-palmente na política. Depois conte e reconte os "casos", como queria João Simões Lopes Neto, "aumentando um ponto a cada conto".

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SÓ DEUS É O CRIADOR DA VIDA O HOMEM É SEU COLABORADOR Jandir João Zanotelli

Eis “a primeira célula sintética”, anunciou o coordenador da pesquisa Craig Venter, célula completamente controlada por instruções do homem. O homem não pode brincar de Deus, atalha imediatamente o grupo atento à possibilidade ética do viver... Mas isto é criar a vida? Ou apenas manipulação das condições da vida? Como nunca, o modelo moderno epistemológico de interpretação da realidade, das coisas, da vida e do universo é posto em questão. Na verdade, o Ocidente estabeleceu como critério de interpretação da realidade a matemática, como expressão prática da lógica constituída como um sistema de pensamento formal que seria capaz de dar conta de toda a realidade. Tudo o que é, é igual à idéia que disso se tem. A idéia, ao contrário 100


do que os sentidos sentem, é universal, sempre a mesma, intemporal. Assim, a idéia de homem como animal racional, é universal, compreende todos os homens que existiram, existem ou existirão. Esta idéia universal e vazia de homem não é, porém, capaz de dar conta do que eu sou, do que tu és, do que alguém que existiu, existe ou existirá é. A idéia, a forma não é a realidade, não é igual à realidade. A realidade ultrapassa, uma ou todas as idéias. Ela é mais do que a forma, do que o conceito, mais ainda do que o conceito matemático que dela possamos ter. O conhecimento não se reduz à forma, à idéia, à lógica e seu sistema. Quando o Ocidente, por interesse que o homem teve em dominar o universo, em calcular a produtividade e o lucro, em traduzir as leis da natureza em operações matemáticas, reduziu todo conhecimento às ciências e estas à capacidade de produção técnica, deixou de ter a possibilidade de conhecer. De conhecer as coisas, o universo, a vida e si mesmo. Para facilitar o conhecimento e a epistemologia de tudo, o homem moderno, baseado na teoria formal dos gregos, dividiu a realidade em: física, química, biológica... e depois social (?)... psicológica (?)... A teoria geral para tudo seria a matemática, tendo como pressuposto a observabilidade. Assim, um saber verdadeiro e 101


válido, é (ou seria) aquele que provem da observação dos fatos e da redução desta observação a equações matemáticas. O que não coubesse na observação dos órgãos sensoriais e na matematização não seria científico e, por isso, não seria verdadeiro. Seria apenas intuição, superstição, mito, ilusão. Fez-se depois uma teoria de que o homem, além da cientificidade, da matemática e da racionalidade (assim entendida) teria uma face obscura, inconsciente, imponderável, do homem que vive fora de si, alienado, perdido em suas ilusões e desejos. E quanto a estas, cada um que cuide das suas, porque é impossível falar delas com conhecimento real e válido... Mas, como interessa aos homens que governam o mundo a segurança, a certeza do sistema produtivo que gera acúmulo de capital e da exploração de tudo (da natureza, da vida e do homem) para este fim, o homem moderno vive iludido de que só a ciência e sua técnica têm valor. É por isso que confunde, deliberadamente ou não, quatro maneiras de articular os dados da realidade: causa, condição, ocasião e função. Quando duas variáveis podem ser aproximadas entre si (A e B) e, variando uma varia na mesma proporção a outra, dizemos que a variação de uma é função da variação da outra. A variação de uma seria a causa da variação da outra? 102


Apressadamente, alguns dizem que sim. Pode, porém, não ser assim. A variação de uma pode ser apenas a ocasião da variação da outra. A ocasião é uma circunstância que pode facilitar ou dificultar a produção de um efeito, mas não explica o efeito. Assim, a presença de adrenalina no sangue pode ser ocasião para sentir e manifestar alegrias ou raivas, pode ser condição delas mas, certamente não será a causa. A condição é uma circunstância necessária à produção do efeito, mas não é suficiente para dar conta dele. Assim, o cérebro e seu funcionamento é condição para pensar, falar... mas não é sua causa. Não basta o cérebro para que haja o pensamento. Sem ele não há pensamento, mas ele não é suficiente para dar conta do pensar. Assim como a feminilidade é condição da maternidade, mas não é sua causa. Não basta ser feminina para ser mãe. Assim, se a ocasião facilita ou dificulta o funcionamento da causa para produzir o efeito, mas não é nem necessária, nem suficiente para a produção do efeito; assim, se a condição é necessária mas insuficiente; assim a causa é necessária e suficiente para dar conta do efeito enquanto efeito; mesmo quando não soubermos qual e como é a causa, o certo é que não podemos reduzi-la à condição. Assim, também, o ordenamento das condições e ocasiões físico-biológicas do DNA... 103


pode ser ocasião ou condição para o surgimento de uma célula. Não se fala de causa, nem, portanto, da criação da célula e da vida. A manipulação das condições para que surja a célula, de uma célula sintética como bem disse Craig Venter, não tem a pretensão, por jocosa que seja, de que o homem se fez Deus criador da vida. Implica, isto sim, novamente o questionamento ao conhecimento, à ciência, da possibilidade de reduzir a realidade ao conhecimento, especialmente ao conhecimento formal-matemático. Não está resolvida a questão do que seja o real. Embora facilite, por preguiça mental inclusive, dividir a realidade em física, química, biológica etc...: como se articula o que é “físico”, com o que é “químico” e o “biológico”? Quem disse que o físico não é vivo e o químico também? Só por que não correspondem ao conceito que o Ocidente se fez do que é vivo? Aliás, embora a vida tenha seu código genético, seu DNA..., quem disse que a vida se reduz ao código? O código, como condição ou apenas ocasião, é capaz de dar conta do que seja uma célula viva? Interferir no código, manipular o código é criar a vida? E, se é verdade que o pensamento dos povos antes do formalismo racionalista grego que foi adotado pelo Ocidente, diz que o homem não só está integrado ao universo (sem que pretendamos 104


que ele seja apenas um pedaço do universo físico) mas é, em si a síntese do universo; que na vida do homem integra-se como síntese a vida dos animais, das plantas e a realidade do universo, a questão ética que se põe não é apenas a de dizer: não é lícito interferir na vida, máxime na vida humana. Tudo o que o homem faz interfere na vida e na vida humana. Resta saber em que consiste verdadeiramente a vida humana como síntese e como sua atuação é atuação humana digna do humano. Tirar as ocasiões e condições do viver (econômicas, políticas, sociais, culturais e religiosas) é indigno do homem, é contra o homem, porque a essência do pensar e do agir não é apenas dominar e sim a gratuidade generosa de ser com o outro: a essência do homem e da síntese do universo é o amor. Não é apenas a conjunção nem a mútua destruição. Assim, a manipulação das condições genéticas da vida humana, pode ser um serviço generoso ao outro homem que luta contra a doença, a fome, à falta de abrigo. Como pode ser, e é tudo o que o Ocidente fez com a ciência e a tecnologia, a exploração até a última gota de sangue, da vida do próximo. O aparecimento da primeira célula sintética pode significar que o homem se faz colaborador de Deus em cuidar da vida ou a negação (e esta possibilidade também está no horizonte do 105


homem) de tudo o que é: do universo, da vida, do humano a caminho de sua liberdade e comunhão. E a vida que a sabedoria do homem compreende, acima de toda a formalidade racional, lógico-matemática, pede licença para vir à tona, para acontecer. A Academia Sul-Brasileira de Letras, pensa que não se pode aprisionar a palavra, mas que se deve cuidar dela para que ela seja o clamor e a conclamação para viver a vida digna do homem em comunidade responsável.

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RECENSÃO Mello Cavalheiro, Wilma. Amor Substantivo Abstrato. Pelotas, Edição da autora, 2009. São 120 páginas da mais bela e bem trabalhada poesia. Poemas, sonetos, trovas, frutos sazonados no pampa aberto da vida e do amor que integra terra e céu em horizontes verde azulados da faina poética desta grande poetisa. Seu quinto livro. O mais maduro deles. Impossível toma-lo, ler uma poesia sem ler todas. Aqui o amor é fecundo. É social. É profundamente político sem ser partidário ou apenas ideológico. É amor recolhido das entranhas do mundo e de nossa história, das filigranas da linguagem simples, bem vestida, bonita como o requer a melhor literatura. O aprumo da forma dá ainda mais leveza e beleza ao poema. Esta Secretária da Academia Sul-Brasileira de Letras leva a público não só sua produção literária como também o incentivo a que todos sejamos minimamente poetas no sentido profundo da poesia. De parabéns está o público leitor. De parabéns as Letras de nosso país. Jandir J. Zanotelli. 107


ADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS ESTATUTO SOCIAL Título I Da Denominação, Sede, Símbolos e Abrangência Art.1º - A ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS a qual utilizará a sigla ASBL e, doravante neste Estatuto Social simplesmente como ASBL, com objetivos culturais e educacionais é uma associação civil sem fins econômicos, com duração por prazo indeterminado, rege-se por este Estatuto Social e pelas disposições legais atinentes, estando sediada na Rua 3 de Maio, número 1060, conjunto 403, Pelotas – RS, com foro neste município. Art. 2º - São símbolos da ASBL: a) O Brasão; b) A Bandeira; c) A Flâmula; d) A Pelerine; e) O Sinete. Parágrafo único – Os símbolos da ASBL são descritos de forma minuciosa no Regimento Interno. Art. 3º - A ASBL, para fins de congregação de associados 108


acadêmicos, abrange os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná § 1º – Em cada um dos Estados nominados haverá uma seção da ASBL administrada por um vice-presidente. § 2º - A Seção 1 será a do Rio Grande do Sul, a Seção 2 será a de Santa Catarina, a Seção 3 será a do Paraná. TÍTULO II Dos Objetivos Art. 4º - São objetivos da ASBL: a) Congregar literatos e intelectuais de sua área de abrangência; b) Incentivar a investigação, o desenvolvimento das atividades culturais, a criação, elaboração e a divulgação de obras literárias na região; c) Instituir concursos, prêmios e outros incentivos; d) Manter intercâmbio e colaborar com as entidades congêneres em âmbito local, regional, nacional e internacional; e) Associar-se e colaborar com instituições educacionais públicas ou privadas no incentivo ao ensino e aprendizagem da língua pátria. TÍTULO III Do Patrimônio Art. 5º - O Patrimônio da entidade é constituído de: a)direitos de qualquer natureza suscetíveis de serem apreciados economicamente; b) bens imóveis e móveis; c) biblioteca, fototeca, pinacoteca, hemeroteca e demais recursos audiovisuais; d) montante oriundo da contribuição do quadro 109


social; e) doações e quaisquer rendas eventuais. Parágrafo único – A biblioteca, cuja organização e funcionamento serão regulados por Regimento Interno, reúne em seu acervo livros, jornais, revistas, fotografias, arquivos e museu adquiridos com recursos próprios ou recebidos em doação; para constituição de seu acervo, são priorizadas as obras dos acadêmicos, dos autores da área de abrangência da ASBL. TÍTULO IV Da Organização Deliberativa e Administrativa Art. 6º - A organização deliberativa e administrativa da ASBL compreende: a) a Assembléia Geral; b) a Diretoria; c) o Conselho Fiscal. d) as Seções Estaduais CAPÍTULO I Dos Sócios Art. 7º - A ASBL congrega as seguintes categorias de associados: a) Fundadores b) Acadêmicos; c) Beneméritos; d) Honorários; e) Correspondentes.

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§ 1º - São associados Fundadores aqueles que assinaram a Ata de Fundação da Academia Sul-Brasileira de Letras, em 09 de maio de 1970. § 2º - São associados Acadêmicos os literatos dos três Estados sulinos que, tendo, pelo menos, um livro publicado em qualquer gênero literário e que, apresentados por membro do sodalício, tenham o seu ingresso aprovado pela Assembléia Geral. § 3º - São associados Beneméritos as pessoas físicas ou jurídicas que prestarem relevantes serviços à Academia, independentemente de naturalidade ou nacionalidade, a juízo da Assembléia Geral. § 4º - São associados Honorários as pessoas físicas ou jurídicas que se destacarem na difusão da cultura, independentemente de naturalidade ou nacionalidade a juízo da Assembléia Geral. § 5º - São associados Correspondentes as pessoas físicas ou jurídicas, com residência ou sede fora do município de Pelotas e que, constantemente trocarem informações de interesse da ASBL e/ou da cultura, e tiverem o nome aprovado pela Diretoria. § 6º - A proposição à Diretoria de nomes para associado Benemérito, Honorário e Correspondente é atribuição dos Sócios Acadêmicos, acompanhando a indicação curriculum vitae e circunstanciada exposição de motivos. Art. 8º - O quadro de Associados Acadêmicos se compõe de até 60 (sessenta) membros, cujas cadeiras têm um patrono específico; o de sócios Beneméritos, Honorários e 111


Correspondentes não tem limite prefixado. Parágrafo único – A Direção da Academia cuidará de uma adequada distribuição de vagas que contemple a representatividade dos três Estados. CAPÍTULO II Dos Direitos e Deveres dos Associados Art. 9º – São direitos dos associados de todas as categorias: a) Participar das atividades da Academia, utilizar o seu patrimônio, freqüentar os espaços da sede, referir em suas obras e publicações sua pertinência à entidade; b) Sugerir, propor, discutir políticas e medidas que visem ao engrandecimento do ASBL; Art. 10 – São direitos dos associados Acadêmicos: a)Ocupar cadeira numerada do Quadro Acadêmico; b) Usar o sinete acadêmico; c) Mencionar em suas obras o título de membro da ASBL, referindo o número da cadeira que ocupa e o nome do patrono, se assim desejar; d) Votar e ser votado para os cargos eletivos da ASBL, conforme as normas da entidade; e) Ocupar cargos e desempenhar atividades nos Departamentos, a convite do Presidente; f) Representar a ASBL, quando autorizado para isso, por procuração do presidente; g) Vitaliciedade; h) Renunciar à vitaliciedade. Parágrafo único – O associado que perder a cadeira na entidade conforme o disposto no parágrafo 3º do Art. 12, não poderá, a partir de então, referir sua pertinência à 112


ASBL. Art. 11 – São deveres dos associados de todas as categorias: a) Cumprir e fazer cumprir o Estatuto Social, o Regimento Interno, as normas e deliberações da ASBL; b) Contribuir para o bom nome da entidade; c) Incentivar a cooperação com as entidades congêneres e outras instituições culturais; d) Zelar pela imagem e moralidade pública da ASBL. Art. 12 – São deveres dos associados Acadêmicos, além dos especificados no artigo anterior: a) Participar de reuniões, assembléias, solenidades e eventos promovidos pela ASBL. b) Pagar mensalmente, ou em outras modalidades oferecidas pela Diretoria, as contribuições financeiras estipuladas; § 1º - É condição para participar das Assembléias Gerais, ordinárias ou extraordinárias, com direito a voto, estar quite com a tesouraria. § 2º - O associado que não cumprir seus deveres será submetido a julgamento por uma comissão, designada pela Diretoria, e com atribuições estabelecidas pelo Regimento Interno, garantidos ao acusado direito de ampla defesa e de contraditório. § 3º São previstas as seguintes penalidades: a) Advertência – Será aplicada ao associado que infringir os deveres previstos nas letras a), b, e c do Art. 11, e as letras a) e b) do Art. 12. b) Suspensão -

Será aplicada ao associado que 113


descumprir o previsto na letra d) do Art. 11 ou reincidir na infringência dos deveres para o que se prevê pena de advertência. c) Perda da cadeira – Será aplicada a penalidade de perda da cadeira ao associado que, advertido e suspenso, reincidir em suas faltas, bem como ao associado condenado judicialmente por atos considerados desabonatórios e indignos de participação na Academia, assegurada a postulação de nova cadeira no quadro. § 4º - As penas de advertência e suspensão são de alçada da Diretoria; a aplicação da pena de perda da cadeira proposta ao final do processo pela comissão julgadora, é de competência da Assembléia Geral, sendo que de qualquer penalidade será notificado o infrator através de documento escrito expedido pela Diretoria. CAPÍTULO III Da Assembléia Geral. Art. 13 – A Assembléia Geral, órgão soberano da entidade, é constituída pelos associados acadêmicos em pleno gozo de seus direitos estatutários. Art. 14 – A convocação para as Assembléias Gerais, com a especificação da ordem do dia, será feita pelo Presidente, com antecedência mínima de 15 (quinze) dias, mediante edital afixado no local da sede e/ou em órgão de divulgação, bem como através de correspondência pessoal enviada a cada acadêmico, comprovando-se a data de remessa pelo carimbo de postagem. Art. 15 – A Assembléia Geral Ordinária, bem como a Extraordinária, serão abertas pelo Presidente ou por seu 114


substituto legal que, se assim o decidir a Assembléia, passará a direção dos trabalhos ao associado que for escolhido por maioria, convidando auxiliares para o desempenho das tarefas inerentes à reunião. Art. 16 – As Assembléias Gerais funcionarão, em primeira convocação, na hora marcada, com a presença mínima de 20% dos acadêmicos com direito a voto e, em segunda convocação, trinta minutos após a hora marcada, com a presença mínima de 10% dos associados habilitados. Art. 17 – Para deliberar sobre a destituição do Presidente ou a alteração dos Estatutos Sociais da ASBL, a Assembléia especialmente convocada para este fim, não poderá deliberar, em primeira convocação, sem a maioria absoluta dos associados aptos a votar, ou com menos de um terço nas convocações seguintes, exigindo-se o voto concorde de, no mínimo 2/3 dos presentes. Art. 18 – Nas Assembléias de caráter eletivo será facultado o voto por correspondência aos acadêmicos residentes fora da sede, sendo o assunto regulado pelo Regimento Interno, vedada a modalidade de voto por procuração. Art. 19 – São atribuições da Assembléia Geral: a) Eleger a Diretoria da ASBL e os integrantes do Conselho Fiscal; b) Aprovar o estatuto social e o regimento interno, assim como suas modificações; c) Apreciar, aprovando ou rejeitando o relatório financeiro da Diretoria acompanhado de parecer do Conselho Fiscal; d) Apreciar, homologando ou rejeitando as 115


propostas de ingresso de novos associados acadêmicos, bem como o de associados beneméritos e honorários, mediante exposição de motivos exarada pela Diretoria; e) Decidir pela aplicação ou não da penalidade de perda da cadeira ao associado julgado conforme o parágrafo 3º do Art. 12. f) Destituir o Presidente com a concordância e o quorum previstos no art. 17. g) Decidir pela extinção da ASBL conforme o disposto no Art. 35. CAPÍTULO IV Da Diretoria Art. 20 – A Diretoria da ASBL compreende os seguintes cargos e funções: a) Presidente; b) 1º Vice-presidente (RS); c) 2º Vice-presidente (SC); d) 3º Vice-presidente (PR); e) Secretário Geral; f) 1º Secretário (RS); g) 2º Secretário (SC); h) 3º Secretário (PR) i) Tesoureiro Geral; j) 1º Tesoureiro (RS); k) 2º Tesoureiro (SC); l) 3º Tesoureiro (PR). § 1º – A Diretoria contará ainda, para auxiliá-la, com o Departamento de Imprensa e Relações Públicas, bem como com os cargos de Diretor do Patrimônio e outros que julgar necessários, todos os titulares de livre escolha do Presidente 116


e segundo normatização exarada por ele. § 2º - Os cargos da Diretoria são eletivos, conforme art. 19, a), havendo para cada cargo, excetuado o de Presidente, um suplente que auxiliará o titular em suas funções e o substituirá em seus impedimentos. §. 3º - O mandato da Diretoria é de 2 (dois) anos. Art. 21 – Compete à Diretoria: a) Aprovar e pôr em prática as políticas a serem implementadas pela Academia; b) Decidir quanto aos valores e formas de cobrança das contribuições financeiras dos associados acadêmicos; c) Auxiliar a presidência na administração da entidade; d) Apreciar a indicação de nomes para associados acadêmicos, beneméritos, honorários encaminhando os nomes aprovados à homologação da Assembléia Geral; e) Autorizar contratos de locação ou os que implicarem comprometimento financeiro por parte da ASBL; f) Conceder licença ou aceitar a demissão de associados, quando solicitadas por escrito pelo interessado em documento com firma reconhecida; g) Aprovar a admissão ou demissão de funcionários com suas obrigações e salários especificados; h) Autorizar o ingresso de Associado Correspondente. Art. 22 – O Presidente será eleito pela Assembléia Geral, para um mandato de 2 (dois) anos e podendo ser reconduzido para um segundo mandato. Parágrafo único – Em caso de vacância do cargo de 117


Presidente, com menos de 50% do mandato, far-se-á nova eleição. Art. 23 – Compete ao Presidente: a) Escolher, empossar e dispensar os titulares de Departamentos e de cargos não eletivos, dentre os associados da ASBL; b) Representar a ASBL ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente, em todos os atos de administração e gestão, podendo para tanto, quando necessário, nomear procurador com poderes específicos para representá-lo. c) Assinar juntamente com o Tesoureiro os documentos da tesouraria e especificamente os cheques bancários; d) Admitir e demitir funcionários; e) Resolver “ad referendum” da Diretoria, os assuntos considerados de urgência, dando ciência aos demais diretores na sessão imediata; f) Convocar e dirigir a Assembléia Geral e os atos solenes realizados pela entidade; g) Convocar e presidir as reuniões de Diretoria; h) Prestar contas de sua gestão através de relatórios financeiros apreciados pelo Conselho Fiscal e pela Assembléia Geral. Art. 24 – Aos vice- presidentes, eleitos com o presidente, e com igual mandato, compete: a) Auxiliar o presidente no exercício de suas funções; b) Substituir o presidente em seus impedimentos e concluir o mandato, em caso de vacância do cargo, obedecida a ordem de precedência sucessivamente; Participar das reuniões da Diretoria; 118


c) Organizar e executar o protocolo das solenidades; Presidir e administrar a Seção do respectivo Estado, auxiliado por um Secretário e um Tesoureiro, desenvolvendo as atividades da ASBL que melhor julgar oportunas e relevantes, em representação do Presidente. Parágrafo único – A administração econômicofinanceira, a contabilidade e a prestação de contas das atividades da Seção cabem ao Vice-Presidente. Art. 25 – Compete ao Secretário Geral: a) Assinar, com o Presidente os documentos relativos à Secretaria; b) Lavrar, em livro próprio, as atas de todas as sessões da Diretoria; c) Manter em dia os registros da entidade. Art. 26 – Compete aos Secretários auxiliar o Secretário Geral em suas atividades e manter em dia o registro da respectiva Seção. Art. 27 – Compete ao Tesoureiro Geral: a) Assinar, com o Presidente, cheques e documentos; b) Conservar sob sua guarda os valores da entidade; Manter em dia os registros atinentes a seu cargo; c) Manter em dia o registro de imóveis e móveis da Academia. Art. 28 – Compete aos Tesoureiros das Seções auxiliar o Tesoureiro Geral fornecendo-lhe os dados para a prestação geral de contas da ASBL e auxiliar o Vice-Presidente em tudo o que diz respeito às atividades de tesouraria na Seção à semelhança das tarefas exercidas pelo Tesoureiro Geral 119


em relação à ASBL. Art. 29 - As funções de Diretor de Patrimônio, de Assessor de Imprensa e de Relações Públicas serão especificadas no Regimento Interno, de acordo com o estabelecido no presente Estatuto Social. CAPÍTULO V Do Conselho Fiscal Art. 30 – O Conselho Fiscal é composto por 3 (três) membros efetivos e 1 (um) suplente, tendo a função de examinar os relatórios financeiros e contábeis da Diretoria e das Seções, emitindo parecer para encaminhamento à Assembléia Geral. Parágrafo Único – A função de conselheiro fiscal é prerrogativa dos associados acadêmicos, eleitos, pela Assembléia Geral para um mandato de 2 (dois) anos. CAPÍTULO VI Das Seções estaduais Art. 31 – Às seções estaduais compete: a) Promover o congraçamento dos associados de seus respectivos Estados e o entrosamento com os dos demais Estados; b) Indicar à Diretoria da ASBL nomes de acadêmicos a serem apreciados pela Assembléia Geral, para o preenchimento de cadeiras vagas. c) Indicar, dentre os acadêmicos do respectivo Estado, candidatos a Vice-Presidente, secretário e tesoureiro para a Seção, e seus respectivos suplentes a serem eleitos 120


pela Assembléia Geral. § 1º - Respeitadas as normas do Estatuto Social e do Regimento da ASBL, cada seção organizará seu regimento interno; § 2º - Cada seção, além de participar das atividades gerais da ASBL, administrará suas atividades, mantendo contabilidade própria e arcando com seu ônus financeiro. TÍTULO V Das Disposições Gerais e Transitórias Art. 32 – A ASBL comemorará o aniversário de sua fundação em 9 de maio, data em que serão empossados os membros da Diretoria e do Conselho Fiscal eleitos na Assembléia Geral. Art. 33 – Os associados não respondem, nem pessoal nem solidariamente, pelas obrigações contraídas pela ASBL. Art. 34 – Os associados acadêmicos poderão requerer, por escrito , licença por um ano das atividades da ASBL. Art. 35 – A ASBL somente será extinta por deliberação da Assembléia Geral Extraordinária, convocada para este fim, com a presença de ¾ dos associados acadêmicos em pleno gozo de seus direitos e com votos favoráveis de, no mínimo, ¾ dos participantes, destinando-se o patrimônio a outra entidade congênere ou ao município em que estiverem sediadas a sede da ASBL e suas respectivas seções na proporção dos bens nelas localizados. Art. 36 – As regras decorrentes deste Estatuto Social serão 121


disciplinadas pelo Regimento Interno ou Interno e por resoluções da Diretoria. § 1º - A Diretoria elaborará o Regimento Interno no prazo de 120 (cento e vinte) dias. § 2º – Na falta do Regimento, e os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria. Art. 37 – O presente Estatuto Social, aprovado pela Assembléia Geral, entrará imediatamente em vigor, revogados as disposições em contrário e o Estatuto até agora vigente, registrado sob o nº 1.280, a fls. 43v/44 do Livro A5, em 12 de novembro de 1973, no Registro de Pessoas Jurídicas em Rocha Brito Serviço Notarial e Registral, de Pelotas. Aprovado na Assembléia Geral de 06/12/2003 e adequado às novas normas da legislação federal.

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ASBL :CADEIRAS-PATRONOS-TITULARES

CADEIRA No.1 Patrono: Jorge Salis Goulart Titular I: SADY MAURENTE AZEVEDO Titular II: MARÍSIA DE JESUS F. VIEIRA Endereço: G. Telles, 607/901 CEP 96010-310 fone (53) 32274789 E-mail: marisia.vieira@brturbo.com.br

CADEIRA No.2 Patrono:Francisca Marcant Gonçalves Titular: MANOEL JESUS SOARES DA SILVA Endereço: R. João Jacob Bainy, 266 – Pelotas RS E-mail: manoel@ucpel.tche.br

CADEIRA No.3 123


Patrono: Manoelito de Ornellas Titular: I- IVONE LEDA DO AMARAL Titular II: Endereço:

CADEIRA No.4 Patrono: Nelson Abott de Freitas Titular: JOAQUIM MONCKS Endereço:R. Lima e Silva, 116/401 CEP 90050-100 Porto Alegre RS E-mail: joaquimmoncks@ig.com.br

CADEIRA No.5 Patrono: Érico Veríssimo Titular: VALTER SOBREIRO JÚNIOR Endereço: R. Prof. Araújo, 2149/102 CEP 96020-360 Pelotas RS

CADEIRA No.6 Patrono: Fernando Luis Osório Titular: MÁRIO OSÓRIO MAGALHÂES Endereço: Av. Domingos de Almeida 3030 CEP 96085-470 Pelotas RS

CADEIRA No.7 Patrono: Paula Correa Lopes Titular: CATARINA SCHENINI CUNHA Endereço: R.Vicente Lopes dos Santos, 200/301 CEP 90103-140 Menino Deus, P. Alegre RS –

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cmarlowe@terra.com.br

CADEIRA No.8 Patrono: Francisco de Paula Pinto Magalhães Titular: JOSÉ ANÉLIO SARAIVA Endereço: R. João da Silva Silveira, 211- B. Na. Sra. Fátima CEP 96080-000 Pelotas RS

CADEIRA No.9 Patrono: Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior Titular: SUELLY CORRÊA GOMES Endereço: R. Heinrich Hosang, 165/303 CEP 89012-190 Blumenau SC

CADEIRA No.10 Patrono: Francisco Lobo da Costa Titular I: José Vieira Etcheverry Titular II: IRMÃO ELVO CLEMENTE Endereço:

CADEIRA No 11 Patrono: Álvaro José Gomes Porto Alegre Titular: FELIPE ASSUMPÇÃO GERTUM

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Endereço: Av. A A Assumpção, 9805 CEP 96090-240 Pelotas RS

CADEIRA No.12 Patrono: Marieta Mena Barreto Costa Amador Titular: ANA LUIZA TEIXEIRA Endereço: Av. Borges de Medeiros, 1141/193 CEP 90020—25 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 13 Patrono: João Simões Lopes Neto Titular: I - ÂNGELO PIRES MOREIRA Titular II: Endereço

CADEIRA No l4 Patrono: Aurora Nunes Wagner Titular I:LYDIA MOMBELLI DA FONSECA Titular II:

CADEIRA No.15

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Patrono: Irajá Moraes Nunes Titular: SÉRGIO OLIVEIRA Endereço: R. Leonardo Colares, 137/101 CEP 96020-190 Pelotas RS

CADEIRA No 16 Patrono: Raul de Leôni Titular I: IVO CAGGIANI Titular II: LÍGIA ANTUNES LEIVAS Endereço: R. Dr. Franklin Olivé Leite, 323 CEP 96055-520 Pelotas RS Liluleivas@starmedia.com loleivas@yahoo.com.br

CADEIRA No. 17 Patrono: Demerval Araújo Titular: I -HARLEY CLÓVIS STOCCHERO Titular: II Endereço:

CADEIRA No .18 Patrono Alberto Coelho da Cunha Titular: RONALDO CUPERTINO DE MORAES Endereço: R. Gen. Osório, 938 CEP 96020-000 Pelotas RS

CADEIRA No. 19 Patrono: João Cruz e Sousa Titular I: Rondon Soares

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Titular II: LAURO JUNKES Endereço: R.Capitão Romualdo de Barros, 251. CEP 88015-000(Carvoeira)Florianópolis SC

CADEIRA No. 20 Patrono: Maria Alzira Freitas Taques Titular: ZENIA DE LEÓN (Licenciada) Endereço: R. Bernardino Santos, 74 CEP 96080-030 Pelotas RS

CADEIRA No. 21 Patrono: Victor Russomano Titular: JORGE MORAES Endereço: R. Manoel Caetano da Silva, 16 CEP 96025-230 Pelotas RS

CADEIRA No.22 Patrono: Januário Coelho da Costa Titular: CLÓVIS ALMEIDA ALT Endereço: R. Cel. Alberto Rosa, 268 CEP 96010-770 Pelotas RS

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CADEIRA No. 23 Patrono: Adalberto Guerra Duval Titular: CLÓVIS P. ASSUMPÇÃO Endereço: Av. 16 de Julho, 165 CEP 90550-220 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 24 Pat:Antônio José Gonçalves Chaves TitularI:HELOISAASSUMPÇÃO NASCIMENTO Tit. II:MARIA BEATRIZ MECKING CARINGI Endereço: R. Gomes Carneiro, 1881/403 – CEP 96010-610 E-mail: beatrizmecking@terra.com.br

CADEIRA No.25 Patrono: Guilherme de Almeida Titular: OSÓRIO SANTANA FIGUEIREDO Endereço: R. Procópio Mena, 975 CEP 97300-000 São Gabriel RS

CADEIRA No. 26 Patrono: Ceslau Mario Biezanko

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Titular: ANTENOR PEIXOTO DE CASTRO Endereço: R. 15 de Novembro, 666/1110 CEP 96015-000 Pelotas RS

CADEIRA No. 27 Pat: Roberto Landell de Moura Tit I: ENRIQUE SALAZAR TitularII:OLGA MARIA DIAS FERREIRA End: Gen. Neto, 625/302 Pelotas RS –CEP 96015-280 E-mail: olgadf@gmail.com.

CADEIRA No.28 Patrono: José Xavier de Freitas Titular: MIGUEL RUSSOWSKI Endereço: Av. Sta. Terezinha, 321 CEP 89600-000 Joaçaba SC

CADEIRA No. 29 Patrono: Aureliano Figueiredo Pinto Titular: FRANCISCO PEREIRA RODRIGUES Endereço: R. Vasco Alves, 435 CEP 90010-410 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 30 Patrono: Alberto Pereira Ramos Titular: ANTÔNIO KLEBER MATHIAS NETTO

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CAVERO


Endereço: R. Castro Alves, 950 CEP 25959-075 Teresópolis, RJ

CADEIRA No. 31 Patrono: Dionélio Machado Titular: DANILO UCHA Endereço: R. Lopo Gonçalves, 172 CEP 90050-350 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 32 Patrono: Tristão Veloso Nunes Vieira(MárcioDias) Titular: MARIA ALICE ESTRELA Endereço: Largo Gomes da Silva, 3635/201 CEP 96020-240 Pelotas RS

CADEIRA No. 33 Patrono: José Vieira Pimenta Titular I: JOSÉ BACCHIERI DUARTE Titular II:

CADEIRA No. 34 A foto é de Sejanes Dornelles Patrono: Josué Guimarães Titular: JOSÉ TÚLIO BARBOSA Endereço: Av. João Pessoa, 1784/803 CEP 90040-001 Porto Alegre RS

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CADEIRA No. 35 Pat: Hipólito José da Costa Tit I: Edgar José Curvello Titular II: ÂNGELA TREPTOW SAPPER Ender: Rua Paulo Alcides Porto Costa, 205 - Cep 96090-000 Email: angelatreptow@terra.com.br – Fone: 53-32264122

CADEIRA No. 36 Patrono: Juliné da Costa Siqueira Titular I: PEDRO BAGGIO Titular II: Endereço:

CADEIRA No. 37 Patrono: Antônio Gomes de Freitas Titular I: MARIA AMÉLIA GONÇALVES HILLAL Titular II Endereço:

CADEIRA No. 38 Patrono: Ramiro Barcelos

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Titular I: HUGO RAMIREZ Titular II: Endereço:

CADEIRA No. 39 Patrono: Arquimedes Fortini Titular: PÉRICLES AZAMBUJA Endereço: R.7 de Setembro, 1561 CEP 96230-000 Santa Vitória do Palmar RS

CADEIRA No. 40 Patrono: Darci Azambuja Titular: ANSELMO AMARAL Endereço: R. Gen. Osório, 2279 CEP 96230-000 Santa Vitória do Palmar RS

CADEIRA No. 41 Patrono: Mário Quintana Titular: WILMA MELLO CAVALHEIRO Endereço: R. Anchieta 3173/102 CEP 96015-420 - Pelotas RS F: (53) 32255045

CADEIRA No. 42 Patrono: Oscar Bertholdo Titular: JANDIR JOÃO ZANOTELLI

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Endereço: R. Jaguarão, 643 CEP 96090-350 - Laranjal – Pelotas RS E-mail: jjzanotelli@ig.com.br fone (53-)32262662

CADEIRA No. 43 Patrono: Noemi Assumpção Osório Caringi Titular: NAIR SOLANGE PEREIRA FERREIRA Endereço: General Telles, 358 CEP 96010-310 - Pelotas RS E-mail: nspf@ig.com.br

CADEIRA No. 44 Patrono: Delminda Silveira TitularI: CHEILA STUMPF Titular II: JULIO DIAS DE QUEIROZ

CADEIRA No. 45 Patrono: Noemi Vale da Rocha Titular: BLAU FABRÍCIO DE SOUZA Endereço: Av. Juca Batista, 8.000, casa 114 Belém Novo, CEP 91.780-070 Porto Alegre RS E-mail: blausouza@.c.povo.net

CADEIRA No. 46 Patrono: Magda Costa 134


Circe de Moraes Palma Monteiro Tit:NEUSA MARILÚ DUARTE End: Av. Independência, 1196 CEP 96300-000 - Jaguarão RS

CADEIRA No. 47 Patrono: Carlos Drummond de Andrade Titular: LUIZ DE MIRANDA Endereço: José do Patrocínio, 95/405 CEP 90050-001 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 48 Patrono: Guilhermino Cezar Titular: JOSÉ CLEMENTE POZENATO Endereço: R. Conselheiro Dantas, 1290/301 CEP 95054-000(S.Família)Caxias do Sul RS E-mail: pozenato@terra.com.br

CADEIRA No. 49 Patrono: Luiz Delfino Titular I: PASCHOAL APÓSTOLO PÍTSICA Titular II: JOSÉ ISAAC PILATI Endereço: Largo Benjamim Constant 691/603 CEP88015-390 Florianópolis SC E-mail: jipilati@matrix.com.br

CADEIRA No. 50 Patrono: Virgílio Várzea Titular: HOYÊDO DE GOUVÊA LINS

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Endereço: R. D. Joaquim, 132 CEP 88015-310 Florianópolis SC

CADEIRA No. 51 Patrono: Brasílio Itiberê Titular: CLORIS CASAGRANDE JUSTEN Endereço: R. Des. Otávio do Amaral 57/142 CEP 80730-400 Curitiba PR

CADEIRA No. 52 Patrono: Scharffenberg de Quadros Titular: CLOTILDE DE QUADROS CRAVO Endereço: R. XV de Novembro 1630 CEP 80050-000 Curitiba PR

CADEIRA No. 53 Patrono: Luiz Carlos Pereira Tourinho Titular: IVO ARZUA PEREIRA Endereço: Cons. Laurindo, 890/702 CEP 80060–100 Curitiba – Pr Ivo@arzua.com.br

CADEIRA No. 54 Patrono: Oscar Joseph de Plácido e Silva Titular: JOÃO DARCY RUGGERI Endereço: R. Nestor Vistor, 227

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CEP 80620-400 Água Verde – Curitiba - Pr. E-mail: HYPERLINK mailto:ruggeri@uol.com.br ruggeri@uol.com.br

CADEIRA No. 55 Patrono: João Cândido Titular: LAURO GREIN FILHO Endereço: Av. D. Pedro II, 571/701 CEP 80420-060 Curitiba -Pr

CADEIRA No. 56 Patrono: Assad Amadeo Titular: LUÍS RENATO PEDROSO Endereço: R. Carlos de Campos, 482/62 CEP 85540-110 Curitiba - Pr

CADEIRA No. 57 Patrono: Emílio de Menezes Titular: ROZA DE OLIVEIRA Endereço: R. João Negrão, 140/71 CEP 80010-200 Curitiba PR E-mail: roza @ onda.com.br

CADEIRA No. 58 Patrono: Ruy Wachowicz Titular: SEBASTIÃO FERRARINI Endereço: R. XV de Novembro 1050 137


CEP 80060-000 Curitiba PR

CADEIRA No. 59 Patrono: Telêmaco Borba Titular: TÚLIO VARGAS Endereço: R. Coronel Dulcídio 1239/5 CEP 80250-100 Curitiba PR E-mail: tulio@netpar.com.br

CADEIRA No. 60 Patrono: Ildefonso Pereira Correia Titular: VALTER MARTINS DE TOLEDO Endereço: Av. Pres. Getúlio Vargas,3737/33 CEP 80240-041 Curitiba – Pr E-mail: v.toledo@terra.com.br

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