25 minute read

Aula 12 – Produção, material e Logística no Brasil

Produção, Material e Logística no Brasil Carlos Henrique Berrini da Cunha 12 AULA

Meta da aula

Advertisement

Apresentar informações sobre o cenário de Produção, Material e Logística no Brasil.

objetivos

1

2

3

4

5

Esperamos que, ao fi nal desta aula, você seja capaz de:

conhecer a evolução histórica do processo produtivo;

reconhecer a produção no Brasil;

defi nir os conceitos introdutórios sobre produção;

identifi car os conceitos da Logística;

identifi car os aspectos de competitividade da Logística no Brasil.

Administração Brasileira | Produção, Material e Logística no Brasil

INTRODUÇÃO O ambiente industrial tem apresentado diversas mudanças técnicas e organizacionais, incluindo algumas fusões e aquisições que buscam acrescentar estratégias para a competitividade. Mediante tal cenário, a Gestão de Produção, Material e Logística pretende discorrer sobre seu histórico, bem como apresentar seus conceitos, para elucidar questões que contemplam o mundo atual globalizado, em face da difícil tarefa de manter as empresas competitivas. Para tanto, a seguir, será apresentado o histórico sobre o modo de produção.

ANTIGUIDADE ORIENTAL

O modo de produção é um tanto abstrato e conceitual, mas pode-se defi nir modo de produção como a forma pela qual uma sociedade organiza seu modo de vida. Daí, o interesse em descrever as diversas civilizações antigas, seus mitos e meios produtivos. A civilização fenícia ocupava uma estreita faixa de terra do litoral do Mediterrâneo até as montanhas do Líbano e dividiu-se politicamente, fazendo com que suas cidades possuíssem autonomia política, uma frente à outra, como cidades Estado, não havendo portanto um Estado centralizado. A economia baseava-se no comércio, principalmente marítimo, pelo Mediterrâneo, alcançando a Península Ibérica, o que possibilitou a formação de uma camada enriquecida, responsável pelo controle político da cidade. Por isso, fala-se que nas cidades fenícias houve uma talassocracia (governo “daqueles que vêm do mar"). No Egito, apesar de ser considerado o modelo clássico do modo de produção asiático, há um momento importante: em 1377 a.C., o faraó Amenófi s IV implementou o culto monoteísta a Aton, representado pelo disco solar. O faraó executou violenta repressão aos sacerdotes, tomou terras e fechou templos, com o intuito de eliminar a grande infl uência do clero sobre o povo e sobre as relações socioeconômicas. Na Mesopotâmia, à exceção do povo assírio, originário da região Norte, os demais dependiam da caça e posteriormente da guerra para sobreviver. Sua expansão foi responsável pelo domínio sobre toda região Sul e pela construção de um grande império. O povo hebreu caracteriza-se principalmente por ter sido o único povo monoteísta da Antigüidade. Sua história é conhecida principalmente através do Antigo Testamento, que não é apenas uma obra religiosa, mas

que trata de aspectos variados de sua história, como a importância de patriarcas e juízes, assim como das técnicas utilizadas na agricultura. Durante a antiguidade prevaleceu um conceito estático do homem. As suas potencialidades eram limitadas tanto na vida social como na individual. O seu ideal apresentava limites concretos. A ideologia cristã medieval dissolveu, no sentido terreno, estes limites. O início e o fi nal do processo histórico passaram a ser o pecado original e o Juízo Final.

RENASCIMENTO

Com o Renascimento surge um conceito dinâmico do homem. O indivíduo passa a ter a sua própria história de desenvolvimento pessoal e a sociedade também. A relação entre indivíduo e a realidade objetiva na qual ele está inserido se entrelaçam. O passado, o presente e o futuro transformam-se em criações humanas. O tempo e o espaço se humanizam e o infi nito transforma-se numa realidade social. O Renascimento estende-se por todos os aspectos da sociedade sejam eles políticos, econômicos, culturais, sociais, artísticos, envolvendo a vida de todos, infl uenciando nas maneiras de pensar, nas práticas morais, nos ideais éticos, religiosos e na ciência. Estes aspectos aparecem ligados a um mesmo período, afetando as estruturas básicas da sociedade e provocando alterações dessa estrutura social e econômica. O movimento renascentista proporcionou o primeiro ataque ao adiado processo de transição do feudalismo para o capitalismo. Foi considerado por alguns autores como uma revolução, abalando toda a estrutura econômica e social, todo um sistema de valores e maneiras de viver. Sucederam-se levantamentos sociais. Na hierarquia social, os indivíduos de cima e os de baixo mudaram rapidamente de lugar. O Renascimento surgiu entre dois sistemas sociais e econômicos mais estáveis. Por um lado, o feudalismo e por outro o equilíbrio entre as forças feudais e burguesas. O movimento constituiu-se, em alguns locais, em um tipo de revolução social e econômica que acabou num impasse. O Renascimento foi a aurora do capitalismo. As maneiras de viver dos homens e o desenvolvimento do conceito renascentista do homem se fundamentavam no processo de que o embrião do capitalismo se desenvolveria e destruiria a relação natural entre o indivíduo e a comunidade, dissolvendo os elos naturais que ligavam o homem à sua família, à sua

12

AULA

Administração Brasileira | Produção, Material e Logística no Brasil

situação social e ao seu lugar previamente defi nido na sociedade, abalando toda a estrutura social existente. O homem passa de agente passivo do processo histórico, a agente ativo da construção do processo. O indivíduo torna-se capaz de aprender a sua própria história como um processo e de conceber, de maneira científi ca, a Natureza com a qual forma verdadeiramente o todo, o que lhe permite dominá-la na prática. Com o desenvolvimento das forças de produção burguesas, a estrutura social e o indivíduo nela inseridos se tornaram dinâmicos. O novo modo de comportamento e a nova maneira de viver em evolução produziram sua própria ideologia, encontrando os elementos desta, parte na antiguidade e parte em certas tendências do cristianismo.

O Renascimento proporcionou o desenvolvimento dos modos de produção da sociedade capitalista. A riqueza como objetivo, a produção pela produção, a produção como um processo interminável dissolvendo e transformando constantemente as coisas, forçou o surgimento de um novo tipo de homem, diferente do antigo e do medieval: o do homem como ser dinâmico. ! ! A dinamicidade do homem compreende todas as concepções das relações humanas. As concepções de valor deslocam-se, a perfeição deixa de constituir uma forma absoluta, pois quando tudo está em transformação só pode existir uma constante procura pela perfeição. No campo das artes, a perfeição, ao contrário da antiguidade, deixou de ser uma norma permanente e assumiu uma forma mais ou menos transitória no processo geral de desenvolvimento. Ou seja, ao terminar uma obra, a mesma já estava praticamente superada, forçando o artista a se superar na busca pela perfeição. Este dinamismo caracterizou a relação entre homem e sociedade. A condição social do ser passou a depender da sua capacidade de interpretação correta do dinamismo da sociedade, passou a depender “mais daquilo que realizei e daquilo que fi z

de mim” e não devido ao seu nascimento. O homem vai se desenvolver no seio do movimento geral da sociedade, transformando o seu próprio crescimento político, humanístico, pessoal e até mesmo profi ssional, numa questão individual. Criou-se uma espécie de culto do “homem que faz a si próprio”. O indivíduo passa a modelar o seu próprio destino, a dialética do homem e do destino transforma-se no centro do conceito dinâmico do homem. O desenvolvimento de uma forma de produção que tinha como objetivo adquirir riquezas proporcionou a saída do estado de limitação. A versatilidade do homem do Renascimento decorria de dois fatores: o aparecimento da produção burguesa e o nível de produtividade ainda relativamente baixo. A origem desta versatilização se encontrava na expansão da produção, no desenvolvimento geral das forças produtivas na possibilidade do desenvolvimento universal do homem e também na expansão das necessidades como necessidades sociais.

Versatilização Com o avanço do capitalismo, o homem universalizou-se e, ao mesmo tempo, alienou-se. O Renascimento foi o ponto de partida para o desenvolvimento da versatilidade no sentido que a contemporaneidade lhe dá. A ideologia do Renascimento era uma ideologia das classes dominantes, pois nasceu a partir do surgimento do ? ? moderno modo de produção, mas não teve, como o ILUMINISMO , uma ideologia universal. Devido ao estado em desenvolvimento da produção e à relação entre o homem dinâmico e a sociedade, esta versatilidade poderia evoluir tanto para trás como para frente em direção a uma refeudalização, a um beco sem saída, a um retorno, mesmo que parcial ao antigo modelo de organização social.

I LUMINISMO

Foi o movimento cultural que se desenvolveu na Inglaterra, Holanda e França, nos séculos XVII e XVIII. Nessa época, o desenvolvimento intelectual, que vinha ocorrendo desde o Renascimento, deu origem a ideias de liberdade política e econômica, defendidas pela burguesia. Os fi lósofos e economistas que difundiam essas ideias julgavam-se propagadores da luz e do conhecimento, sendo, por isso, chamados iluministas.

12

AULA

Administração Brasileira | Produção, Material e Logística no Brasil

EVOLUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO E OPERAÇÕES

A Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX transformou a face do mundo. A revolução marca o início da produção industrial moderna, a utilização intensiva de máquinas, a criação de fábricas, os movimentos de trabalhadores contra as condições desumanas de trabalho, as transformações urbanas e rurais, enfi m o começo de uma nova etapa na civilização. A Inglaterra, berço principal dessa revolução, transformou-se na grande potência econômica do século XIX. Já estava claro que o poderio econômico, e mesmo político, ligava-se à capacidade de produção de produtos manufaturados. As técnicas de Administração que se tornaram populares durante a maior parte do século XX, entretanto, nasceram ou se desenvolveram nos EUA, por meio da chamada produção de massa, símbolo do seu poderio industrial e que pode ser encontrada já em 1913, quando a Ford inicia sua linha de montagem de automóveis. Já em fi ns do século XIX e início do século XX havia sido introduzida a noção de administração científi ca da produção, quando Frederick Taylor, um engenheiro e ex-operário, advogava a aplicação de racionalidade (ou seja, utilização da razão, encadeamento, aparentemente lógico, de juízos ou pensamentos) e métodos científi cos à administração do trabalho nas fábricas. Assim, procurava-se desenvolver um “saber” que sustentasse a hegemonia industrial, apoiado em: – novas técnicas de Administração (Taylor – administração científi ca); – processos de produção em massa (Ford – 1913).

O ambiente concorrencial, interno e externo, que acompanhou os avanços que se seguiram, fez com que outras áreas adquirissem especial atenção. É o que se observa por meio da ascensão de outras áreas da Administração, como Marketing e Finanças, como também pelo estreito envolvimento entre Estado e indústria, materializado pelas políticas industriais; Em síntese, a Administração da Produção evoluiu da prática tradicional de gerência industrial para uma disciplina com aplicações tanto na área industrial como na de serviços, tendo chegado à defi nição de que:

“A Administração da Produção e Operações é o campo de estudo dos conceitos e técnicas aplicáveis à tomada de decisões na função de Produção (empresas industriais) ou Operações (empresas de serviços).”

Empresa Industrial Fornece, em sua forma mais característica, um produto físico, tangível, tal como uma geladeira ou um automóvel. Empresa de Serviços Presta um serviço, realiza uma ação, embora os meios físicos possam estar ? ? presentes para facilitar ou justifi car o serviço, como, por exemplo, um atendimento médico ou a prestação de uma consultoria.

Atividade 1

Com o objetivo de diferenciar os diversos tipos de atividades, correlacione as fi guras da direita com os itens da esquerda.

a. Produção.

b. Serviços.

c. Indústria.

d. Produção em massa.

e. Estoques

1

Resposta Comentada

Tais fi guras correlacionam os elementos essenciais na administração da produção. A primeira fi gura representa a produção industrial. A segunda fi gura representa uma prestadora de serviços. A terceira fi gura apresenta uma indústria e uma característica poluidora, a quarta fi gura mostra uma linha de produção com sua característica da produção em massa e a quinta fi gura mostra os estoques, que são os insumos da indústria.

12

AULA

Administração Brasileira | Produção, Material e Logística no Brasil

SISTEMA DE PRODUÇÃO

É o conjunto de atividades e operações inter-relacionadas envolvidas na produção de bens (caso de indústrias) ou serviços. Os elementos fundamentais do sistema de produção são: • Insumos: são os recursos a serem transformados em produtos e mais os recursos que movem o sistema, como matérias-primas, mão de obra, capital, máquinas e equipamentos, instalações, conhecimento técnico dos processos etc. • Processo de criação ou conversão: processo de criação ou conversão – em manufatura, muda o formato das matérias-primas ou a composição e a forma dos recursos; em serviços, é o próprio processo de criação ou prestação do serviço pela da conversão do trabalho. • Produtos ou Serviços: são as saídas do sistema, ou seja, os resultados do processo de conversão. • Subsistema de controle: conjunto de atividades que visa assegu rar que programações sejam cumpridas, portanto, promove a monitorização dos outros três elementos do sistema de produção.

Veja agora alguns fatores que Infl uenciam o Sistema de Produção:

1. Ambiente Interno:

1.1. O Sistema de Produção, ou simplesmente a Produção, encontra-se sujeita à infl uência de outras áreas funcionais da empresa (Marketing, Finanças, Recursos Humanos etc.) e tem sobre elas um impacto. 1.2. Finanças – é responsável pela obtenção dos recursos fi nanceiros, controle do seu uso e análise das oportunidades de investimento, assegurando uma base efi caz de custos e geralmente com lucro. Atua nas decisões sobre escolha de equipamentos, uso de horas extras, políticas de controle de custos, relações preço-volume etc. 1.3. Marketing – é responsável pela geração e manutenção da demanda para os produtos da empresa, assegurando satisfação para os consumidores e o desenvolvimento de novos mercados e produtos potenciais. 1.4. Recursos Humanos – é responsável pelo recrutamento, alocação e treinamento da mão de obra, negociação de salários, negociações sindicais etc.

2. Ambiente Externo:

2.1. Condições Econômicas Gerais do País – incluem taxa de juros, infl ação, maior ou menor disponibilidade de crédito. 2.2. Políticas e Regulações Governamentais – incluem a política fi scal, a política monetária e a política cambial, além de dispositivos legais como as leis antipoluição. 2.3. Competição – inclui a fatia de mercado da empresa e como ela reage ou se antecipa às estratégias competitivas dos concorrentes; o objetivo básico no processo competitivo é reduzir o número de competidores, quer pela aquisição comercial, quer pelo dumping, quer pela introdução de novas tecnologias. 2.4. Tecnologia – como a formação de trustes e o dumping são reprimidos por lei, a tecnologia torna-se o principal meio de se obter vantagem no processo competitivo, sendo inclusive estimulado por legislações de proteção à propriedade intelectual.

Quadro 12.1: Tipos de Sistemas de Produção

Classifi cação tradicional

Sistema de produção contínua (fl uxo em linha) Sistema de produção intermitente

Sistema de produção de grandes projetos

Características

Subdivisão

Riscos • produtos ou serviços seguem seqüência linear; • produtos padronizados (pequena diferenciação, infl exibilidade); • alta efi ciência (grande substituição do trabalho humano por máquinas).

• produção em massa (linhas de montagem); • produção contínua (indústrias de processo). • obsolescência do produto; • monotonia dos trabalhos (rotinas); • mudança tecnológica. • produção em lotes ou por encomendas; • arranjo físico funcional ou por processos (soldadores, eletricistas); • equipamentos genéricos e mão de obra mais especializada; • maior fl exibilidade e menor efi ciência (indicado para baixos volumes de produção). • cada projeto é um produto único; • alto custo e difícil gerenciamento no planejamento e controle.

12

AULA

Administração Brasileira | Produção, Material e Logística no Brasil

MODOS DE SE ENTENDER A PRODUÇÃO NO BRASIL

Na concepção marxista, o conhecimento do modo de produção de uma dada sociedade, isto é, a maneira como ela se organiza para produzir seus meios de vida, é uma base imprescindível para a compreensão científi ca dos fatos sociais e políticos que ocorreram e ocorrem naquela sociedade. No caso da história brasileira, surpreendentemente, não existe qualquer consenso entre os estudiosos marxistas acerca deste tema tão central. Até a década de 1960, predominava entre os marxistas brasileiros a visão de que a história teria vivenciado os mesmos modos de produção conhecidos na história europeia: comunismo primitivo, escravismo, feudalismo e capitalismo. O escravismo fora tornado ilegal com a Abolição em 1888, mas continuavam vivas e legais outras formas arcaicas de organização da produção, como o comunismo primitivo, vigente entre grupos indígenas e remanescentes de quilombos, e, principalmente, relações feudais, vigentes na estrutura agrária do Brasil, compreendendo o latifúndio, o poder privado do latifundiário e as relações de trabalho típicas no campo. Nesse contexto, a reforma agrária era entendida como uma transformação histórica no país. Alguns autores advogam que o Brasil foi colonizado sob a égide do capitalismo. Outros reconhecem o escravismo como o modo de produção dominante na colônia e no império, considerando-o um modo de produção distinto do escravismo da Antiguidade.

Atividade 2

Após o entendimento da evolução do conceito de Administração da Produção, disserte sobre sua evolução, elencando os marcos temporais e principais marcos dessa evolução.

1

Resposta Comentada

A Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX marca o início da produção industrial moderna. A produção de massa pode ser encontrada em 1913, quando a

Ford inicia sua linha de montagem de automóveis. Começa a existir um estreito envolvimento entre Estado e indústria. A Administração da Produção evoluiu da prática tradicional de gerência industrial para aplicações na área industrial. Já no fi nal do século XIX, Frederick Taylor, aplicava racionalidade (ou seja, utilização da razão, encadeamento, aparentemente lógico, de juízos ou pensamentos) e métodos científi cos à administração do trabalho nas fábricas.

CONCEITOS DE LOGÍSTICA

A defi nição primordial da Logística é baseada na aplicação prática do planejamento das guerras desde os tempos antigos, onde as disputas eram demasiadamente longas e travadas em regiões ermas, inóspitas e de difícil acesso, tornando imprescindível o deslocamento das tropas que eram responsáveis – entre outras atribuições – por transportar tudo o que fosse necessário para o suprimento da campanha, como medicamento, material bélico, alimentos etc. Desse planejamento lógico,– que visava ao melhor caminho ou modo de preparação, estratégia de descolamento e ataque, surgiu o conceito de Logística como hoje é conhecido. Em síntese: Logística é o planejamento, organização e controle dos processos relacionados à produção, armazenagem, transporte e distribuição de bens e serviços. Para Ballou (1993), é tarefa básica do profi ssional de Logística: vencer tempo e distância na movimentação de bens ou na entrega de serviços de forma efi caz e efi ciente. São muitos os conceitos de Logística e variam de autor para autor, assim como também varia seu signifi cado para os profi ssionais, mesmo que engajados nesse assunto. Muitas são as defi nições propostas para a Logística, a saber:

Logística empresarial trata de todas as atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fl uxo de produtos desde o ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo fi nal,

12

AULA

Administração Brasileira | Produção, Material e Logística no Brasil

assim como dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos clientes a um custo razoável (BALLOU, 1995).

“Logística caracteriza-se pelo planejamento e administração de sistemas para o controle do fl uxo de materiais, materiais em processo e estoque de produtos acabados no apoio às estratégicas da empresa” (BOWERSOX, 1996).

Logística é o processo de gerenciar estrategicamente a aquisição, movimentação e armazenagem de materiais, peças e produtos acabados (e os fl uxos informações correlatas) através da organização de seus canais de marketing, de modo a poder maximizar as lucratividades presente e futura através do atendimento dos pedidos a baixo custo (CHRISTOPHER, 2000).

“Logística é a atividade que serve para oferecer aos clientes, artigos comerciais, produtos e serviços com rapidez, baixo custo e satisfação” (KOBAYASHI, 2000).

De certa forma, compreende-se, por meio destes conceitos, que Logística envolve o fl uxo desde a matéria-prima até à entrega do produto ao consumidor fi nal. As etapas são fundamentais, para que não haja entraves, mas se busca a fl uidez por meio de gerenciamento da cadeia de suprimentos.

A Logística como fator de competitividade no Brasil

A Logística se torna um diferencial competitivo para as empresas, à medida que contribui para a redução de custos e, consequentemente, na melhoria de desempenho das mesmas. No mundo globalizado atual, não são mais perdoadas as falhas estratégicas e a concorrência está sempre pronta para absorver demandas perdidas por empresas que estão logisticamente mal preparadas. Segundo Novaes (2001), houve a necessidade das empresas buscarem novos referenciais para a atuação em diversas áreas – inclusive a Logística. Este processo foi motivado basicamente por dois fatores: abertura da economia e globalização dos mercados. Embora a tecnologia da informação já esteja bastante avançada e disponível para qualquer empresa – que esteja disposta a pagar por este tipo de serviço – ainda hoje se detectam no mercado algumas empresas

que ainda estão na Primeira Fase da Logística, isto é, controlando seus custos logísticos, por meio de seus estoques e tendo como pano de fundo, os diversos setores trabalhando de forma isolada. Porém, a grande maioria já opera entre a Segunda e a Terceira Fases da Logística, buscando uma melhor integração com seus fornecedores e clientes. Para isso, adotam um planejamento integrado com suas operações, estando, em muitos casos, já interligados através do EDI. Desta forma, estas empresas possibilitam maior fl exibilidade nas entregas dos componentes ou produtos acabados. Muitas empresas já caminham rumo à Quarta Fase da Logística e estas têm como principal característica a integração estratégica e a otimização dos processos logísticos entre os participantes da Cadeia de Suprimentos. Pode-se destacar como um dos principais indícios da migração para a Quarta Fase o uso do Effi cient Consumer Response (ECR) ou Resposta Efi ciente ao Consumidor, que vem sendo utilizado amplamente pelo setor varejista. Outro exemplo é o do Consórcio Modular que atualmente é utilizado em montadoras de veículos (ex.: Fábrica de Volkswagen em Resende, RJ). Esse processo se dá por meio da participação física direta dos fornecedores no processo de fabricação, montando seus componentes e motores e trabalhando em células na linha principal. As empresas brasileiras enfrentam grandes limitações em sua estrutura organizacional para poder colocar em prática a otimização de seus processos logísticos. A maioria destas empresas está dividida em setores que giram em torno de atividades afi ns como Marketing, Manufatura, Vendas, Finanças, Transporte e Armazenagem. Essa divisão difi culta o tratamento sistêmico dos processos logísticos. A Logística – assim como outras ciências – é extremamente dinâmica. Portanto, é um erro concluir que qualquer solução seja defi nitiva. Como exemplo pode ser citada a compra de programas de roteirização por empresas que possuam seu programa de entregas que variam diariamente, sendo a aplicação deste programa pouco ou nada prática. A solução para este caso seria o desenvolvimento de um programa customizado às necessidades reais desta empresa. Além disso, existe o problema das bases de dados confi áveis para a confecção de mapas digitais cuja responsabilidade de fornecimento das informações básicas

EDI

Electronic Data Interchange ou Intercâmbio Eletrônico de Dados, em que ocorre a troca de informações entre dois ou mais elementos da Cadeia de Suprimento.

12

AULA

Administração Brasileira | Produção, Material e Logística no Brasil

é de Órgãos Governamentais que, por sua vez, não possuem dados completos e atualizados, tornando assim o custo para o desenvolvimento de tal ferramenta cada vez mais alto. No que tange à informática, os problemas encontrados atualmente no mercado empresarial brasileiro são bastante preocupantes, pois as empresas investem pesado em sistemas autônomos, que não são interligados entre si e que são utilizados em atividades corriqueiras de operação e controle. Tal tratamento às informações é extremamente danoso, pois uma das características da Logística Moderna é a integração em tempo real de toda a Cadeia de Suprimentos. Surge então a fi gura do Enterprise Resource Planning (ERP) ou Planejamento do Recurso Empresarial como ferramenta na tentativa de atenuar este problema. O ERP pode ser defi nido da seguinte maneira (MOURA, 2004):

É um sistema de informações com abrangência ampla para identifi car e planejar os recursos necessários em todas as empresas para receber, produzir, expedir e contabilizar os pedidos de clientes. Também é denominado Sistema de Gestão Empresarial.

Atividades primárias e de apoio

O Quadro 12.2 demonstra a complexidade das necessidades das organizações, em termos logísticos, para atender às exigências do mercado. Tal fato requer que soluções logísticas efetivas e efi cazes necessitem de planejamento com capacidades de equipes multidisciplinares integradas, experiência e criatividade para abordar os aspectos na Cadeia de Suprimentos. De uma forma geral, as atividades de apoio e primárias estão assim divididas dentro das Organizações:

Quadro 12.2: Atividades primárias e de apoio

Atividades de apoio Atividades primárias

• Vendas • Planejamento • Marketing & Propaganda • Operações/Transportes • TI (Tecnologia da • Financeiro Informação) • Recursos Humanos • Jurídico • Compras

Dependendo do escopo de cada Organização, essas atividades podem exercer papéis invertidos. Ou seja, as de apoio no lugar das primárias e vice-versa, mas o essencial é que haja interação total entre essas áreas para garantir a otimização de todos os seus processos num ambiente dinâmico e cada vez mais competitivo dos mercados atuais.

Elementos básicos da Logística

A Figura 12.1 apresenta os principais elementos conceituais da Logística. Para Novaes (2001), a Logística se inicia pelo estudo planifi cado do projeto ou do processo a ser implementado. Uma vez planejado e aprovado, segue-se a fase de implementação e operação. Erroneamente, algumas empresas pensam que é neste ponto que o processo termina. Porém, devido à complexidade dos problemas logísticos e à sua natureza dinâmica, todo e qualquer sistema logístico precisa ser reavaliado, monitorado e controlado periodicamente por meio de auditorias logísticas.

Processo de planejar, operar, controlar

Do ponto de origem Fluxo e Armazenagem Matéria-prima Produtos em processo Produtos acabados Informações Dinheiro Ao ponto de destino

De forma econômica, efi ciente e efetiva

Satisfazendo as necessidades e preferências dos clientes

Figura 12.1: Elementos básicos da Logística.

Observa-se, na Figura 12.1, que os fl uxos associados à Logística envolvem também a armazenagem de matéria-prima, dos materiais em processamento e dos produtos acabados, percorrem todo o processo – desde os fornecedores, passando pela fabricação – seguindo para o varejista, até atingir o consumidor fi nal (alvo principal de toda a cadeia de suprimentos. Outros fl uxos igualmente importantes são: fl uxo de dinheiro e fl uxo de informações.

12

AULA

Administração Brasileira | Produção, Material e Logística no Brasil

F ORNECEDORES

Todos estes elementos do processo logístico devem ter foco em um objetivo principal: satisfazer às necessidades e preferências dos consumidores fi nais. No entanto, cada elemento da cadeia de Logística é também cliente de seus FORNECEDORES .

Entenda-se por fornecedor uma empresa ou indivíduo que abastece o comprador de produtos ou serviços.

GERENCIAMENTO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS

Ao adquirir um produto não se pode imaginar o processo longo e às vezes, complexo, para converter matérias-primas, projeto, mão de obra, energia e tempo em algo útil, que agregue valor e prazer. Produtos complexos como o automóvel, por exemplo, requerem matérias-primas variadas e complexas (metais, borrachas, plásticos, tintas) e são montados a partir de um número muito elevado de componentes – a chamada bill of materials (B.O.M.) ou lista de materiais. Na outra ponta, por exemplo, pode ser citada uma caixa de ovos em que existe o produto simples formado por elementos básicos, mas há de se ter em conta também a embalagem, etiqueta e o código de barras. Porém, na maioria dos casos, o caminho é muito mais longo. Como exemplo, a geladeira que utiliza componentes fabricados por outras indústrias, como o compressor. A fábrica de compressores, por sua vez, necessita de fi os elétricos, metais e outros elementos para sua produção, componentes estes fornecidos por outras empresas. O longo caminho que se estende desde as fontes de matéria-prima, Fornecedores de matéria- passando pelas fábricas dos componentes, pela prima manufatura do produto, pelos distribuidores e Fabricantes de chegando fi nalmente ao consumidor por meio componentes do varejista, constitui a cadeia de suprimento ou supply chain management (SCM).

Indústria principal A Figura 12.2 ilustra a cadeia de suprimentos típica. Atacadistas e distribuidores

Produto acabado Varejista

Consumidor fi nal

SCM

É a integração dos processos industriais e comerciais, partindo do consumidor fi nal e indo até os fornecedores iniciais, gerando produtos, serviços e informações que agreguem valor ao cliente.

Figura 12.2: Cadeia de suprimentos típica.

Quando se fala em cadeia de suprimentos, se pensa no fl uxo de materiais, formado por insumos, componentes e produtos acabados. Por isso, as setas da Figura 12.2 são orientadas de cima para baixo. É importante fi xar o conceito da SCM que focaliza o consumidor, pois todo o processo deve partir e se iniciar por ele, em uma constante busca pela otimização dos processos, de forma a atender este consumidor da forma por ele desejada. Outro ponto fundamental é enfatizar a integração exigida entre todos os elementos da cadeia de suprimentos, reforçando desta forma o caráter estratégico da Logística moderna.

Atividade Final

Como Atividade Final você deve ser capaz de dissertar sobre a evolução do conceito de Logística, elencando seus principais instrumentos e mecanismos com suas respectivas características.

4 5

Resposta Comentada

A definição primordial da Logística é baseada nas guerras, demasiadamente longas, e em regiões de difícil acesso, tornando imprescindível transportar tudo o que fosse necessário, como medicamento, material bélico, alimentos etc. Em síntese: Logística atual é o planejamento, organização e controle dos processos relacionados à produção, armazenagem, transporte e distribuição de bens e serviços, objetivando vencer tempo e distância na movimentação de bens ou na entrega de serviços de forma eficaz e eficiente. A Logística trata de todas as atividades de movimentação e armazenagem e os fluxos de informações correlatas.

12

AULA

Administração Brasileira | Produção, Material e Logística no Brasil

RESUMO

A Logística moderna procura incorporar prazos previamente acertados e cumpridos integralmente ao longo de toda a cadeia de suprimentos e a integração efetiva e sistêmica entre todos os setores da empresa. Na relação com fornecedores e clientes, a Logística busca a integração efetiva e estreita (parcerias win-win (ganha-ganha) além de buscar a otimização global, envolvendo a racionalização dos processos e redução de custos em toda a cadeia de suprimentos e a satisfação plena do cliente, mantendo nível de serviço preestabelecido. Em termos de necessidades dos consumidores, podem-se destacar os seguintes elementos: informação sobre o produto, preço, uso, restrições de funcionamento, vantagens comparativas, etc. Também quanto aos consumidores, a Logística é responsável por cumprir prazos, garantir o estado de conservação e manter a relação de confi ança existente entre o atacado, o varejo e o consumidor fi nal. Também fi ca a cargo da Logística a continuidade na relação entre consumidor e varejista, que caracteriza a fase do pós-venda (garantias, serviços de manutenção e consertos). Esta etapa é fundamental, pois trata da fi delização do cliente.

This article is from: