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Aula 3 – Autores contemporâneos em Administração Brasileira
Carlos Henrique Berrini da Cunha Alessandra Mello da Costa
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3AULA
Meta da aula
Apresentar informações acerca dos principais autores contemporâneos em administração brasileira.
objetivo
Esperamos que, ao fi nal desta aula, você seja capaz de:
identifi car os principais autores contemporâneos em administração brasileira e as suas contribuições para a produção do conhecimento na área.
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Administração Brasileira | Autores clássicos em Administração Brasileira
INTRODUÇÃO
A partir dos anos 1980, os pesquisadores da área de Administração voltam-se para questões mais relacionadas com o contexto brasileiro. Neste sentido, identifi car os principais autores contemporâneos em Administração Brasileira torna-se uma tarefa bastante desafi adora. Optamos, então, por proceder a um recorte onde enumeramos a contribuição de quatro pesquisadores que foram, ao longo dos últimos anos, a base teórica para as gerações mais recentes de pesquisadores na área.
AUTORES CONTEMPORÂNEOS
Fernando Prestes Motta
O primeiro autor a ser estudado é Fernando Prestes Motta. A originalidade de seus estudos pode ser atribuída à sua recorrente crítica à organização burocrática e à busca por caminhos de superação deste modelo que levassem em conta o contexto e a cultura das organizações no Brasil. Assim:
(...) apesar do aumento signifi cativo de estudos focados em cultura organizacional no país desde fi ns da década de 80, ainda são poucos aqueles que tem focado na análise da cultura de empresas no Brasil à luz das raízes, da formação e evolução, ou dos traços atuais da cultura brasileira. Também não são muitos aqueles que tem buscado entender melhor a cultura brasileira – ou manifestações de sua diversidade – com base no espaço organizacional moderno, do seio das empresas aqui instaladas. E, por fi m, são muito poucos os que tem dedicado a analisar organizações ou manifestações organizativas tipicamente brasileiras, procurando daí aprender sobre nossa cultura, sobre nossos próprios híbridos, ou sobre nós mesmos (MOTTA, 1984, p. 16).
De acordo com Prestes Motta, o estudo das formas que as diferenças e variações culturais assumem no mundo do trabalho são recentes. O quadro que existia até então era o de pesquisadores e teóricos das organizações que acreditavam na existência de regras gerais que se aplicavam a todas as situações de administração. Esta concepção é reforçada em função da forte infl uência da academia dos EUA sobre a local, o que faz com que a prática acadêmica de pesquisadores brasileiros reproduza as opções ontológicas, epistemológicas e metodológicas dos acadêmicos norte-americanos.
Um dos seus livros mais signifi cativos foi publicado em 1974 – Teoria geral da administração – que já está em sua 23ª edição. É utilizado em quase todos os cursos de administração. Outros livros importantes são: • Introdução à organização burocrática (Editora Brasiliense, 1981). • Participação e Co-gestão – novas formas de administração (Editora Brasiliense, 1984). • Organização e poder (Editora Atlas, 1986). • Cultura organizacional e cultura brasileira (Editora Atlas, 1997). Neste sentido, Prestes Motta sempre buscou questionar e ultrapassar o “estrangeirismo” que, no seu entender, existe de forma bastante arraigada nos estudos de administração, ou seja, a valorização do que é estrangeiro e o menosprezo do que é brasileiro:
A valorização do estrangeiro e a adoção de modelos e teorias administrativas ‘estrangeiras’ não fi caram circunscritas ao lado prático da administração. (...) repetimos e divulgamos idéias produzidas fora do país, principalmente proveniente dos EUA (...) e a utilização desses referenciais não se dá em virtude da adequação deles a nossa realidade, mas pela infl uência que tais referenciais tem na formação dos autores brasileiros (MOTTA; ALCADIPANI; BRESLER, 2001, p. 278).
E é exatamente a busca pela superação dessa forma de pensar analiticamente a administração brasileira que faz com que o tema do poder esteja presente em todas as suas obras. Seguindo a linha dos estudos críticos em administração, foram estudados: a burocracia e suas formas organizacionais; a ideologia e hegemonia política; as formas de gestão alternativas como a cogestão e a autogestão; e o poder como controle social manifesto no conjunto de valores e crenças compartilhadas.
Tânia Fisher
O segundo autor que merece ser destacado é a pesquisadora e professora Tânia Fischer. Tânia Fischer atualmente é professora titular da Universidade Federal da Bahia e seus interesses de pesquisa em Administração Brasileira enfatizam os seguintes temas: organizações, gestão de organizações locais, poder local, gestão social do desenvolvimento, cultura e interculturalidade.
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AULA
Administração Brasileira | Autores clássicos em Administração Brasileira
Sua tese de doutorado (em 1984 na USP) teve como título “O ensino de administração pública no Brasil, os ideais do desenvolvimento e as dimensões da racionalidade”. Este trabalho já aponta indícios das preocupações que vão aparecer, de forma recorrente, em seus trabalhos posteriores: pensar o desenvolvimento brasileiro a partir do desenvolvimento local; a atuação em estudos e pesquisas relacionadas com a área pública e a defesa da interdisciplinaridade.
A proposta de uma agenda de pesquisas sobre o ensino de administração deve considerar, primeiro, um posicionamento favorável ao diálogo entre a administração e a historia da educação, com as possibilidades teórico-metodológicas que a mesma oferece como um campo da história contemporânea: porque outras realizações de valor de mestres e instituições merecem ser resgatados para se compreender melhor a trajetória do ensino de Administração no Brasil. Propõe-se, portanto, como agenda de pesquisa sobre o ensino de administração um conjunto de questões que investiguem (1) a vida dos mestres referenciais, suas trajetórias e impactos; (2) os legados de ensino existentes nas instituições (programas currículos, experiências vividas, materiais de ensino) (3) a história das instituições de ensino, de seus cursos e confi gurações organizacionais e (4) a história da disciplina Administração em suas variantes e confi gurações epistêmicas (FISCHER, 2010, p. 217).
Suas pesquisas podem ser identifi cadas por meio de sua atuação na coordenação do Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social – Ciags na UFBA e de suas publicações. Por exemplo, cabe chamar a atenção para a Série Editorial Ciags que é composta da Coleção Gestão Social e dos Cadernos Gestão Social. Os documentos que compõem esta série têm por objetivo fi nal a disseminação do conhecimento no campo do Desenvolvimento e Gestão Social por meio de ensaios, estudos e pesquisas, casos, ferramentas de gestão e de tecnologias sociais vinculadas à realidade brasileira.
Atividade 1
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Após a leitura dos textos complementares propostos, responda à seguinte questão: Quais seriam três aproximações que você identifi caria entre as propostas de pesquisa na área de Administração Brasileira dos dois pesquisadores em questão?
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AULA
Resposta Comentada
Você deve ser capaz de perceber as três aproximações mais relevantes entre as propostas de pesquisa dos dois autores em questão, quais sejam: • a busca de um olhar brasileiro sobre a temática da Administração Brasileira em contraposição à estrangeirismos; • a importância atribuída ao contexto brasileiro nas análises; • a preocupação com a gestão social e local.
Fernando Guilherme Tenório
Um terceiro autor que deve ser estudado é Fernando Guilherme Tenório. Fernando Tenório atualmente é professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, onde coordena o Programa de Estudos em Gestão Social (Pegs). Seus interesses de pesquisa em Administração Brasileira enfatizam os seguintes temas: gestão social, teorias organizacionais, fl exibilização do trabalho e responsabilidade social. Com importantes publicações na área de gestão social, o autor contrapõe a gestão social à gestão estratégica, mostrando que a primeira requer a participação em todos os processos, pressupondo a cidadania deliberativa, enquanto a segunda é excludente, orientando-se por uma lógica utilitarista, calculada. Neste sentido, o autor critica o predomínio da gestão estratégica, mostrando que esta se orienta pelo mercado, e defende a gestão social, que valoriza a sociedade.
Administração Brasileira | Autores clássicos em Administração Brasileira
Na área de Teorias Organizacionais, o autor discute, principalmente, o tema da racionalidade. Seus principais trabalhos referentes ao tema foram compilados em um livro intitulado Tem razão a administração?. Nesta obra, o autor contrapõe-se ao enfoque funcionalista predominante nas teorias organizacionais, mostrando a importância da racionalidade substantiva e da razão comunicativa na sociedade moderna, contrapondo-se à racionalidade instrumental que predomina. Nas palavras do autor:
A racionalidade instrumental ou funcional é o processo organizacional que visa alcançar objetivos prefi xados, ou seja, é uma razão com relação a fi ns na qual vai predominar a instrumentalização da ação social dentro das organizações, predomínio este centralizado na formalização mecanicista das relações sociais em que a divisão do trabalho é um imperativo categórico, através do qual se procura justifi car a prática administrativa dentro dos sistemas sociais organizados. Por sua vez, a racionalidade substantiva é a percepção individual-racional da interação de fatos em determinado momento. O que signifi ca dizer que o ator social dentro das organizações (administradores e administrados) deveria desenvolver suas relações de forma a produzir segundo a sua maneira particular de perceber a ação racional com relação a fi ns. No entanto, isso não ocorre devido a “razões” que só a razão funcional procura explicar (TENÓRIO, 2004).
No que diz respeito a suas pesquisas sobre fl exibilização do trabalho, o livro Flexibilização organizacional: mito ou realidade? contém seus principais trabalhos sobre o tema. Neste livro, o autor analisa a incorporação de tecnologias da informação pelas empresas, a partir da perspectiva de uma ação gerencial dialógica. Com foco no envolvimento dos empregados no processo, o autor critica a fl exibilização organizacional.
Ana Paula Paes de Paula
Uma quarta autora que deve ser estudada é Ana Paula Paes de Paula. Ana Paula Paes de Paula atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Minas Gerais e seus interesses de pesquisa em administração brasileira enfatizam os seguintes temas: gestão pública, cooperativismo e autogestão, teoria crítica e estudos organizacionais, pedagogia crítica, ensino e pesquisa em administração, subjetividade e psicanálise.
Na área de gestão pública, merece destaque sua obra Por uma nova gestão pública, em que a autora contrapõe o modelo gerencial de administração pública ao modelo societário. Ao discutir a reforma gerencial brasileira, ressalta suas vulnerabilidades, como a orientação para efi ciência, a manutenção de características burocráticas e autoritárias do modelo anterior, bem como a fragmentação do aparelho do Estado trazida pela reforma que não foi fi nalizada. A autora discute, ainda, a importância da pedagogia crítica. A este respeito, Ana Paula Paes de Paula desenvolveu trabalhos mostrando a necessidade de mudanças dos métodos pedagógicos, bem como as difi culdades de implementação da pedagogia crítica nas práticas de ensino atuais.
Atividade Final
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Após a leitura dos textos complementares propostos, responda à seguinte questão: Quais seriam características comuns às linhas de pesquisa desenvolvidas pelo autor Fernando Guilherme Tenório?
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AULA
Resposta Comentada
Você deve ser capaz de perceber que as linhas de pesquisa do autor apresentam em comum uma perspectiva crítica em relação à sociedade moderna, baseando-se, principalmente, no conceito de racionalidade para fundamentar sua crítica.
Administração Brasileira | Autores clássicos em Administração Brasileira
RESUMO
A aula apresenta as questões mais atuais a respeito do contexto brasileiro. Nesta realidade atual, vemos uma evolução social e conceitual do modelo brasileiro de administração. Após a incorporação de modelos estrangeiros, o Brasil passa a incorporar traços culturais no seu modelo de gestão.
INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA
A próxima aula falará sobre empreendedorismo e pequenas e médias
empresas.