Perspectiva Contábil: Informação, Ciência e Diálogo

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2 ESTRATÉGIA DE ENSINO

Seminário: troca de monológo do professor pelo monológo do aluno?

2 CRÔNICA DE SALA DE AULA

Água deu, água levou...

3 PESQUISA EM DESTAQUE

A carga tributária e o cenário macroeconômico brasileiro no setor da construção civil

Perspectiva Contábil Informação, Ciência e Diálogo

4ª Edição | Outubro 2017 DESTAQUE

CPC 47: a nova metodologia de reconhecimento por Ms. Thiago A. R. Prado - Doutorando PPGCC/FEAUSP de receitas Como resultado de seis anos de discussões em nível internacional, no ano de 2018 ocorrerão grandes mudanças nas normas contábeis sobre reconhecimento de receitas.

Em 1º de janeiro entrará em vigor o pronunciamento técnico CPC 47, que trata de Reconhecimento de Receita de Contrato com Cliente. O pronunciamento técnico converge com a norma IFRS 15, cuja aplicação também terá início na mesma data1. O CPC 47 tem como princípio básico o fato de que “a entidade deve reconhecer receitas para descrever a transferência de bens ou serviços prometidos a clientes no valor que reflita a contraprestação à qual a entidade espera ter direito em troca desses bens ou serviços”1. Após a implementação do referido pronunciamento, serão revogadas todas as normas de reconhecimento de receitas, tais como o CPC 30 (R1) – Receitas e CPC 17 (R1) – Contratos de Construção. Estas estarão em vigor até 31 de dezembro de 2017, e estabelecem que a receita é reconhecida na transferência dos riscos e dos benefícios. O reconhecimento de receitas, de acordo com o CPC 47, deve ocorrer “quando (ou à medida que) a entidade satisfizer uma obrigação de desempenho ao transferir o bem ou o serviço (ou seja, um ativo) prometido ao cliente. O ativo é transferido quando (ou à medida que) o cliente obtiver o controle desse ativo”1. Obrigação de desempenho é definida como “cada promessa de transferir ao cliente: (a) bem ou serviço (ou grupo de bens ou serviços) que seja distinto; ou (b) série de bens ou serviços distintos que sejam substancialmente os mesmos e que tenham o mesmo padrão de transferência para o cliente”. Ou seja, o reconhecimento vai depender da efetiva transferência de controle do bem ou serviço estipulado nos contratos e não mais da transferência dos riscos e benefícios.

Assim sendo, o reconhecimento é feito em cinco etapas: a) identificação do contrato; b) identificação das obrigações de desempenho descritas no contrato; c) determinação do preço da transação; d) alocação do preço da transação; e) reconhecimento da receita. As empresas necessitarão modificar seus processos e controles internos, pois deverão segregar suas obrigações de desempenho, reconhecendo receitas para cada obrigação satisfeita com o cliente2. Nesse sentido, entidades que vendem produtos e serviços em um pacote único, como empresas dos setores de construção civil e telecomunicações, podem sofrer impactos significativos em suas receitas, pois terão que segregá-las, obedecendo às cinco etapas3. Na prática, uma empresa que vende um aparelho de ar condicionado, por exemplo, e oferece o serviço de instalação, deve segregar o contrato para a venda do equipamento e para o serviço de instalação. Quando transferir o bem e existir o controle por parte do cliente, a receita deste é reconhecida. A receita do serviço de instalação será reconhecida apenas quando ocorrer o serviço de instalação, com a satisfação da obrigação de desempenho. Para fins fiscais, no mês de setembro de 2017, a Receita Federal abriu consulta pública para neutralizar eventuais efeitos do pronunciamento técnico nas bases de cálculo de tributos. Em suma, o objetivo do CPC 47 é estabelecer os princípios que a entidade deve aplicar para apresentar informações úteis aos usuários de demonstrações contábeis sobre a natureza, o valor, a época e a incerteza de receitas e fluxos de caixa provenientes de contrato com cliente.  REFERÊNCIAS

[1] IASB. Standards and interpretations. Disponível em: <http://www.ifrs.org/IFRS/IFRS.htm>. Acesso em: 20 set. 2017. [2] EY. IFRS 15 a nova norma para reconhecimento de receitas. Disponível em: <http://www.ey.com/Publication/ vwLUAssets/IFRS_15/$FILE/Folder_IFRS_15.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017. [3] KPMG. First impressions: revenue from contracts with customers. Disponível em: <https://home.kpmg.com/content/ dam/kpmg/pdf/2015/01/4-First-Impression-Revenue-2014. pdf>. Acesso em: 20 set. 2017.

3 OPINIÃO

Precisamos falar Contabilidade Pública

sobre

a

4 MINHA BIBLIOTECA

Livro: “Revolucionando a sala de aula”

4 EXPERIÊNCIA ACADÊMICA

Ah! O TCC...

INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Valder Steffen Júnior Reitor da UFU

Nilton Cesar Lima Diretor da FACIC

Edvalda Araújo Leal

Coordenadora do PPGCC Av. João Naves de Ávila, 2121 - Bloco 1F - Sala 248 Campus Santa Mônica - Uberlândia/MG - CEP 38.400-902 Telefone: +55 (34) 3291-5904 E-mail: ppgcc@facic.ufu.br

Site: www.ppgcc.facic.ufu.br

EQUIPE EDITORIAL ORGANIZAÇÃO E EDIÇÃO PROFESSORA - Dra. Marli Auxiliadora da Silva PÓS- GRADUANDOS - Izael Santos e Taís Duarte COLABORAÇÃO REVISÃO TÉCNICA - Dr. Gilberto José Miranda - Dra. Edvalda Araújo Leal

Caro leitor, Esta é a 4ª edição do “Perspectiva Contábil: informação, ciência e diálogo”. Nesta edição celebramos o nosso primeiro ano de existência. É uma edição especial, pois é a primeira vez que o boletim terá, além da edição online, a versão impressa para ser distribuída no 2º Congresso UFU de Contabilidade. Nesta edição comemorativa apresentamos temas como: a nova metodologia de reconhecimento de receitas; o seminário acadêmico como estratégia de ensino; a carga tributária no setor da construção civil; contabilidade pública no Brasil e muito mais! Esperamos que aproveitem os textos e que o boletim continue sendo um mecanismo de compartilhamento e promoção de reflexões sobre temas relacionados à Ciência Contábil. Boa leitura! Equipe Editorial


CRÔNICA DE SALA DE AULA

Água deu, água levou...

por Prof. Dr. Gilberto Miranda PPGCC/UFU

Nos idos de 1988, quando eu ainda cursava a antiga sétima série (atual oitavo ano do ensino fundamental), a história que um professor contou em sala de aula me marcou e fez com que eu não me esquecesse dele nem da sua história. O professor José Antônio, ex-seminarista com sólida formação ética, se preocupava muito com nossos valores. Mesmo lecionando a disciplina de Língua Portuguesa – Comunicação e Expressão, naquela época – sempre que possível, ele destacava a importância da ética em nossas vidas. Em uma de suas aulas, nos contou ele que perto de uma pequena vila morava um pequeno fazendeiro. Todos os dias, ele pegava o leite que ordenhava de suas vaquinhas, atravessava um pequeno riacho que margeava a cidadela e vendia o leite aos moradores da região. Certo dia, percebendo que o leite não seria suficiente para atender aos fregueses, ele resolveu parar no córrego e colocar alguns litros d’água na lata para completar o que precisava. Fez isso durante um mês e notou que seu lucro aumentara substancialmente. Animado com sua “criatividade”, não parou mais. Assim, começou a ganhar mais dinheiro, comprar mais vacas, produzir mais leite, colocar mais água... Com o lucro obtido, começou a comprar algumas casinhas ao lado do riacho. Eram bastante comuns naquele lugar. À medida que o tempo foi passando, ele foi comprando mais casas. Um belo dia, quando ele já possuía várias casas, houve uma chuva fortíssima na região, o riacho transbordou e levou todas as casas que estavam à margem... Nosso fazendeiro observou seus frustrados investimentos e disse: - É... água deu, água levou... Ao terminar a história, o prof. José Antônio dizia que, se quisesse ficar rico de forma desonesta era fácil, poderia montar um comércio e roubar nos pesos das mercadorias, por exemplo: venderia um quilo de feijão e entregaria 950 gramas, mas isso não valeria a pena, pois ele não iria levar nada disso consigo... Ocorre que, em alguns poucos anos, o prof. José Antônio veio a falecer. Embora eu ainda fosse muito jovem, fiz questão de ir ao seu velório, porque gostava muito dele. Ao observá-lo ali, inerte, me lembrei de suas palavras e pensei: de fato, ele tinha razão. 

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ESTRATÉGIA DE ENSINO

Seminário: troca do monólogo do professor pelo monólogo do aluno? por Fabiana P. Cruz e Ms. Flávia F. Marques

Pós-graduandas PPGCC/UFU

O seminário caracteriza-se como uma metodologia dialética, cujo propósito é estudar temas ou tópicos de determinado assunto sob a orientação de um professor. Essa técnica de ensino utiliza-se da socialização e do trabalho em grupo, originado na dinâmica de grupo, a qual é inspirada na Psicologia da Gestalt e na teoria de Kurt Lewin. É uma metodologia que tem como ponto central a ação intelectual do aluno1.

questionamentos e a participação do grupo. O debatedor é aquele que vai fomentar a discussão, com questionamentos pertinentes ao assunto. Talvez, o grande desafio de um seminário seja promover o envolvimento dos participantes, dos quais se espera uma participação ativa, realizando colocações baseadas em suas experiências. Eles não podem ser meros ouvintes, mas devem questionar, formular questões críticas e expor seu ponto de vista. Assim, é fundamental que os participantes façam leitura prévia do tema a ser abordado para tornar o debate mais efetivo.

O seminário é considerado a terceira técnica de ensino mais eficaz, tanto por alunos como por professores2. Sua eficácia, no entanto, está ligada à capacidade do professor em Ao professor cabe sugerir temas adequaexplicitar seus objetivos e auxiliar o aluno dos, recomendar a bibliografia e ajudar com no desenvolvimento das atividades. De as fontes de pesquisa. Ele modo geral, os principais deve ainda propiciar uma objetivos da técnica são: estrutura apropriada, pois o Como o aluno pode atuar de investigar um ou mais seminário requer um arranjo forma ativa em seu processo temas sob perspectivas físico da sala que favoreça de ensino-aprendizagem? A diferentes, de modo o debate. O processo de técnica do seminário pode a levar o aluno a ter avaliação, ao final, também ajudar ? Como? senso crítico; analisar os é tarefa do professor, que fenômenos observados; deve reforçar os aspectos propor alternativas para a solução das positivos da apresentação, elencar os pontos questões levantadas e propiciar o trabalho de principais abordados, informar se o aluno atinforma colaborativa ou em grupo. giu o objetivo e apontar melhorias. O professor precisa ser imparcial e justo nas medidas de A organização do seminário é fundamental avaliação, deve estabelecer os critérios de para que se atinjam os objetivos propostos, pontuação, como: organização dos slides, cios quais devem ficar bem claros para os estutação das fontes utilizadas, o nível de profundantes, caso contrário, eles podem ter a sendidade/domínio do conteúdo e a criticidade. sação de que o professor está “terceirizando” sua responsabilidade. Portanto, cabe ao proPara avaliar os demais participantes, o professor explicar aos alunos por que utilizará fessor pode solicitar a entrega de um produto essa técnica, quais suas vantagens, quais ao final do seminário, como uma memória, um objetivos pretendidos ao final. resumo ou mesmo uma resenha a respeito do tema. O êxito da metodologia está ligado à compreensão e ao cumprimento de etapas que se O seminário é uma oportunidade de trabalhar desenvolvem no período pré-apresentação, habilidades como comunicação, senso crítico durante a apresentação e no processo de e capacidade de expor ideias e pensamentos, avaliação final. A fase de pré-apresentação além de propiciar a cooperação e o trabalho corresponde à fase de planejamento, em que em equipe. Entre as desvantagens estão o risdeve ocorrer a correta delimitação do tema co de ocorrer apenas uma substituição do moe dos objetivos almejados. Nesse momento, nólogo do professor pelo monólogo do aluno, deve acontecer a definição das funções, em uma possível descontinuidade ou segmentaque o professor e o aluno possuem papéis ção advinda da divisão do trabalho pelo grupo distintos. e o tratamento superficial do assunto1. Em um seminário há, no mínimo, as figuras Na área de negócios, principalmente, do apresentador, do debatedor e dos demais o seminário se mostra relevante para a participantes. O apresentador deve conhecer construção das habilidades e competências o perfil do público ao qual se dirige, no necessárias ao profissional que se quer que se refere à quantidade e ao nível de formar. Portanto, seu uso, desde que conhecimento que ele tem do assunto. Cabe intercalado com as demais técnicas, pode a ele ler a bibliografia sugerida, providenciar contribuir com o desenvolvimento das várias materiais e recursos que julgue necessários. facetas do aprendizado.  Como parte da aprendizagem acontece nessa fase, espera-se que os alunos não façam REFERÊNCIAS simplesmente divisões de tarefas, em que [1] VEIGA, I. P. de A. O seminário como técnica de ensino cada um fica responsável por uma parte, socializado. In: VEIGA, I. P. de A. (Org.). Técnicas de Ensino: tornando a apresentação segmentada, mas por que não? Campinas: Papirus, 2003. que possam se reunir para trocar opiniões [2] MAZZIONI, S. As estratégias utilizadas no processo de e promover discussões entre o grupo. ensino-aprendizagem: concepções de alunos e professores A exposição do tema deve ser realizada de ciências contábeis. Revista Eletrônica de Administração e Turismo, v. 2, n. 1, p. 93-109, jan./jul. 2013. de forma objetiva e clara, provocando os


PESQUISA EM DESTAQUE

A carga tributária e o cenário macroeconômico no setor da construção civil

por Ms. Rafael Borges Ribeiro e Jamille Lopes da Rocha

Análises do sistema tributário brasileiro por meio das estratégias de planejamento tributário são essenciais para a gestão empresarial, visto que cada vez mais o tema “tributo” vem ampliando sua participação na formação de preços dos produtos e serviços. Os tributos também impactam as empresas e a sociedade principalmente em momentos de retração da atividade econômica, em que há queda no nível da produção e na renda familiar e aumento do desemprego e de falências de empresas, ou seja, em momentos em que o risco do negócio é potencializado pelas influências macroeconômicas. Nesse sentido, o setor da construção civil pode ser considerado um termômetro importante da economia brasileira, pois tem a capacidade de contribuir na elevação das taxas de emprego, de produção e de renda e abrange setores industriais diversos, tais como mineração, siderurgia, setor madeireiro e serviços de engenharia e arquitetura. Desse modo, a carga tributária do setor de construção civil pode ser influenciada diretamente pela política macroeconômica do país.

Para verificar a relação entre a carga tributária e o cenário macroeconômico brasileiro no período de 2006 a 2015 no setor de construção civil (classificação da BM&FBovespa), desenvolveuse um estudo descritivo e quantitativo com 26 empresas que compõem o setor, utilizando-se como proxy da carga tributária empresarial os tributos diretos IR e CSLL, com o objetivo de identificar possíveis relações com a variação dos indicadores macroeconômicos, tais como PIB, inflação, taxa de câmbio e taxa de juros de longo prazo (TJLP). Como resultado, constatou-se que, no período de 2006 a 2015, a carga tributária média das empresas acompanhou a variação do PIB, tanto em períodos de elevação (2007-2008) quanto nos de declínio do PIB (2008-2009). A análise de correlação apontou uma associação positiva entre as variáveis. A relação entre a inflação e a carga tributária também foi positiva, e este fato pode indicar que o aumento ou a redução dos preços dos bens de consumo impactaram de forma diretamente proporcional na carga tributária das empresas, inclusive no setor da construção civil. Isso contradiz o exposto no relatório do Ministério da Fazenda, que indica que o “incremento de carga tributária deve ser explicado como resposta a um cenário econômico favorável, repercutindo ciclicamente na arrecadação”1. Em relação à taxa de câmbio, esta variável

influenciou tanto no comportamento dos preços de insumos, quanto se relacionou direta e positivamente com a carga tributária, principalmente no período de 2006 a 2010. Por fim, observou-se que a taxa de juros teve uma associação positiva até o ano de 2009, mas não se pode afirmar que houve relação com o período posterior (2010-2015). Esperava-se que, em um cenário econômico desfavorável, houvesse queda na carga tributária, o que aconteceu apenas no ano de 2014. Portanto, o estudo permitiu observar que existe associação direta e positiva entre a carga tributária das empresas (tributos diretos) do setor de construção civil e o cenário macroeconômico do país, especificamente em relação ao PIB, inflação, variação cambial e TJLP. Em momentos de contração econômica, as empresas tendem a reduzir as suas receitas, e a carga tributária tende a acompanhar as tendências macroeconômicas. Ressalta-se que, em casos de déficit fiscal governamental, a carga tributária pode aumentar em função da elevação das alíquotas tributárias para suprir as necessidades de caixa do governo. REFERÊNCIA [1] BRASIL. Carga Tributária no Brasil 2007. Análise por tributos e cases de incidência, Brasília, 2008. Disponível em:<ht t ps: // w w w.rec eit a.f a zenda.g ov.br/ Public o/ estudotributarios/estatisticas/CTB2007.pdf>. Acesso em: 21 out. 2016.

OPINIÃO

Precisamos falar sobre a Contabilidade Pública

por Ms. Rodrigo Leroy - Doutorando PPGCC/UFU

Em um país com 5.570 municípios, 26 estados e um Distrito Federal, três poderes independentes e harmônicos: Executivo, Legislativo e Judiciário, é notória a necessidade do profissional de contabilidade em todas as esferas, seja atuando na própria função de contador público, seja em cargos como controlador interno, consultor ou auditor de tributos. No entanto, o profissional dotado de habilidades para atuação nesse ramo tem sido pouco lembrado em diversas searas, seja nos próprios entes públicos, que, por vezes, não exigem conhecimento aprofundado da Contabilidade Aplicada ao Setor Público (CASP), tanto na admissão como no desempenho do cargo; seja nas próprias universidades, em que não é rara a existência de docentes pouco preparados em relação a esse conteúdo, além da pouca dedicação da academia a pesquisas nessa temática. Esses problemas podem ser devidos à defasagem no conhecimento, considerandose as dificuldades inerentes à aplicação da CASP, quais sejam: as diferenças significativas de formas de contabilização, a existência

de subsistemas além do patrimonial e as disposições e restrições legais no trato da coisa pública. Assim, identifica-se um despreparo por parte dos profissionais que implica problemas graves na arrecadação e aplicação de recursos, além da (má) utilização do patrimônio público. Exemplos disso ocorrem em todas as esferas, como o caso de um município que passou oito meses sem medicamentos, com recurso disponível, por falta de conhecimento de lançamentos contábeis; ou outro que tinha como procedimento de controle a devolução de toda uma carga de material escolar, caso a nota fiscal do fornecedor estivesse incompleta. O que precisa ser discutido aqui é a essência sobre a forma: os procedimentos não podem se sobrepor às necessidades sociais. Quantas pessoas faleceram durante o período de tempo em que o município permaneceu sem medicamentos? Quantos alunos foram prejudicados pela falta de material escolar? Mesmo que reconhecida a importância dos mecanismos de controle, para se precaver de desvios de recursos ou de condutas, esses procedimentos não devem se

sobrepor à solução efetiva e ágil dos problemas sociais. A contabilidade e os mecanismos de controle precisam ser objetos de reflexão, para a solução desses e de outros problemas, sem afetar a confiabilidade dos procedimentos. No entanto, para isso é necessária melhor preparação dos contadores e controladores públicos, capacitando-os a esse exercício. Além disso, parece serem os passos iniciais a regulamentação dessas carreiras, com a exigência de formação de bacharel em Contabilidade (no caso dos controladores, surpreendentemente não há), e a obrigatoriedade de concurso para ambos os cargos, para não se incorrer em problemas de independência decorrentes de nomeações. Por fim, é preciso gerar inquietações nos profissionais, educadores e estudantes, de modo a promover a reflexão e instigar ações efetivas para a mudança desse status, considerando-se a aplicação social da CASP e sua importante função para os entes públicos, diretamente, e para a sociedade em geral, indireta 3 e primordialmente. 


MINHA BIBLIOTECA

Livro: “Revolucionando a sala de aula” Talvez um dos principais desafios dos professores universitários na atualidade seja não só o de serem capazes de ensinar o conteúdo aos alunos, mas o de conseguir envolvê-los nas aulas, tendo em vista as salas cheias, o perfil heterogêneo dos estudantes e a concorrência com as novas tecnologias. Com base nesse cenário, o livro “Revolucionando a sala de aula”, organizado pelos autores Edvalda Araújo Leal, Gilberto José Miranda e Silvia Pereira de Castro Casa Nova, se mostra como um aliado no processo de ensino-aprendizagem, pois nele são discutidas quinze diferentes metodologias ativas de aprendizagem, nas quais tanto o professor quanto os alunos atuam como protagonistas. São abordadas desde as estratégias de ensino mais tradicionais, como a aula expositiva no formato dialógico, até as

EXPERIÊNCIA ACADÊMICA

Ah! O TCC...

por Ms.Marise Rezende

Faculdade! Um dos períodos mais contraditórios na vida de um estudante. Caso de amor e, talvez, até ódio, é verdade. Não a suportamos e não vemos a hora de sair, mas, quando saímos, nos percebemos verdadeiros saudosistas de toda aquela época. Para alguns as maiores lembranças serão das festas e mais festas do início ou do encerramento do período, das amizades que, por algum motivo, acabaram se distanciando com o tempo e dos professores que, de algum modo, o(a) marcaram para toda a vida. Mas há também lembranças das noites maldormidas – não pelas festas, mas pelos trabalhos intermináveis, pela quantidade de matéria a estudar – e do TCC. Ah! O TCC... Penso que nada possa ser mais perturbador para um graduando do que o famoso o TCC. Afinal, só o significado da sigla (trabalho de conclusão curso) já evidencia algo trabalhoso que você terá que fazer para concluir um curso que, a certa altura da sua vida, devido às pressões sofridas, você já estava com dúvidas se deveria ter feito ou não. Mas o fato é que, lamúrias à parte, quando você se compromete com algo, é possível que você faça o seu melhor, inclusive com o TCC. Fiz o possível para que fosse o meu caso. Assim, quando eu estava no final do sétimo período da faculdade, sabendo que no próximo período já começaria a trabalhar com o TCC, fui em busca de um orientador. Resolvi falar com um professor que me havia ajudado em um artigo e de cuja orientação eu havia gostado muito. Eu sempre achei que trabalhar com alguém em quem você

mais contemporâneas, como o Problem Based Learning (PBL) e o Role-Play. O livro dá ênfase aos objetivos de cada uma dessas metodologias, bem como às suas contribuições no processo de ensino-aprendizagem, apontando ainda suas limitações e o modo como podem ser aplicadas. Nesse sentido, “Revolucionando a sala de aula” tem como intuito mostrar, de uma maneira acessível e simplificada, como as aulas podem se tornar dinâmicas e envolventes a partir das estratégias apresentadas. “Revolucionando a sala de aula” é uma ótima oportunidade para dar adeus às aulas monótonas pois oferece ao professor ferramentas, hoje, indispensáveis ao processo de ensino-aprendizagem. por Layne Ferreira - Mestranda PPGCC/UFU

sente confiança e que lhe fornece uma estrutura é muito importante e facilita muito o processo. E assim eu fiz: perguntei se ele aceitava me orientar, ele disse que sim – para o meu alívio – e, nos dias seguintes, começamos a discutir o tema. De alguns apresentados, escolhi o tema em maior evidência na mídia naquela época, afinal, é sempre importante pensarmos em vários aspectos, quando pretendemos uma publicação, e a relevância e o ineditismo do tema estudado são os principais. Passado um tempo, depois de já ter esquematizado todo o trabalho e delineado um caminho a seguir, recebi a notícia que o meu orientador tiraria licença para cursar o doutorado e não poderia mais me orientar, mas se colocava à disposição para possíveis orientações eventuais, caso eu precisasse. Pensem no tamanho do meu desespero! Porque nenhum outro professor na faculdade era da área do tema do meu TCC. Então, depois de ter passado por toda uma “crise existencial acadêmica” – se é que isso existe –, tive que retomar a calma e pensar em algum professor que aceitasse orientar um trabalho já em andamento e fora da sua especialidade. Pensei em um único nome e decidi ir atrás. Para minha surpresa, sorte, alívio ou por buscar demonstrar compromisso com todas as minhas tarefas acadêmicas, ele aceitou minha orientação. Trocados os orientadores, não precisei trocar de tema e continuei a desenvolvê-lo. Os desafios e as dificuldades encontradas são superados mais facilmente quando temos uma orientação, e isso vale também para o meio acadêmico, e seria muito importante que professores tivessem a consciência do quão importante uma orientação benfeita pode vir a ser na vida acadêmica de um graduando.

PARTICIPE! Lançamento e noite de autógrafos no 2º Congresso UFU de Contabilidade, dia 19/out., no Anfiteatro 3Q, entre as 19:40h às 20:30h.

Posso dizer que o TCC foi construído em etapas. No início, como a disciplina do oitavo período exigia, foram decididos o tema e o objetivo e, após estruturada toda essa parte inicial do trabalho (introdução, pergunta de pesquisa, objetivo, justificativa e referencial teórico), pude partir para a metodologia. Logo, teria que informar qual o método a ser utilizado para a análise dos dados, e era aí que estava a questão: qual seria o método mesmo? Então, tive que recorrer ao meu antigo orientador, para que ele pudesse me ajudar nesse aspecto. Definido o método, fui à coleta dos dados. Para a análise desses dados, foi preciso muito estudo para saber a maneira mais adequada de se fazer a interpretação e concluir a análise dos resultados. Terminadas essas etapas, e sempre contando com a efetiva orientação do meu orientador, foi possível que eu concluísse o meu TCC dentro do prazo previsto e sem maiores problemas. Conseguimos, juntos, superar os desafios que foram surgindo ao longo do caminho, e julgo que realizamos um ótimo trabalho, pois conseguimos publicá-lo em um congresso e em uma revista internacional. Assim, quando paro para pensar em como foi todo esse meu trajeto, vejo o quão importante foi a atuação do meu orientador, que aceitou o desafio e se propôs a realmente me orientar. E vocês se lembram da confiança e da estrutura que eu havia dito no início do texto? Ele, como um verdadeiro educador, me forneceu, e, desde então, venho colhendo alguns frutos, como o meu ingresso na pós-graduação – logicamente tendo-o como meu orientador mais uma vez – e mais uma publicação internacional.


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