Panorama_Cariri

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ANO 1 - EDIÇÃO 1 – Outubro de 2023

CARIRI - CEARÁ

JORNALISMO - UFCA

PANORAMA CARIRI

VENDA ILEGAL DE TCC Sites oferecem trabalhos acadêmicos em até sete dias. Prática configura falsidade ideológica e plágio. PÁGINA 10

CARIRI EM CHAMAS Foto: Kalil Araújo

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POLÍTICA Conheça os bastidores para as eleições de 2024 em Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha Página 04

CULTURA

ECONOMIA

Drags enfrentam preconceito e discriminação no interior do estado Página 15

Jovens de 18 a 29 anos que não estudam nem trabalham no Ceará chegam a 30% Página 08


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PANORAMA CARIRI

EDITORIAL

De quem é a culpa? Reclamar é quase um passatempo. E motivos não faltam para se queixar: as queimadas que deixam o ar insuportável, os danos materiais e à saúde provados por enchentes, a falta de emprego e renda que atinge os mais jovens, o descaso das autoridades que se omitem diante de tantos problemas. Mas afinal, a culpa é de quem? As três matérias que compõem a editoria de Cidade desta edição trazem problemas que afetam, direta ou indiretamente, toda a população. O alarmante aumento do índice de queimadas na Região Metropolitana do Cariri aponta tanto para as autoridades quanto para nós mesmos. Grande parte dos incêndios são causados por práticas negligentes e criminosas de quem não se preocupa com os outros. Conforme uma fonte da Autarquia Municipal de Meio Ambiente de Juazeiro do Norte (AMAJU) consultada pela reportagem, a falta de educação ambiental por parte da população se soma à impotência dos órgãos públicos em promover uma fiscalização efetiva. A população culpa as autoridades, e estas, culpam a população, num ciclo ineficiente e incapaz de apontar soluções concretas. Em outra matéria, o foco são as rotatórias que proliferam em ruas e avenidas de Juazeiro do Norte desde 2021, quando uma nova gestão assumiu o executivo municipal. Trata-se de uma alternativa aos semáforos em cruzamentos, com a promessa de maior fluidez no trânsito. Contudo, a reportagem mostra uma divisão de opiniões. Enquanto uma fonte entende que algumas rotatórias são construídas em locais inadequados, o que aponta para uma falha do poder público, outro entrevistado, um motorista de aplicativo, destaca a falta de educação e excessiva agressividade por parte dos próprios condutores. A história se repete: A culpa B que culpa A, em uma cadeia de reclamação sem fim. Novamente, o problema é de todos nós. O risco de acidentes é iminente, seja por falha nos projetos ou por ações inconsequentes dos condutores.

Conforme a reportagem, a colisão entre uma moto e um ônibus em uma das rotatórias provocou a morte de um idoso. Na terceira matéria da editoria, aparece um personagem antigo e muito conhecido na região: o canal do Rio Granjeiro, em Crato. Há décadas a população sofre com a promessa dos políticos por uma solução definitiva. Agora, a “velha” novidade é uma obra estimada em R$ 110 milhões para aumentar a vazão do canal e a construção de duas galerias pluviais para escoamento da água. Aqui, parece que a culpa recai exclusivamente nos ombros das autoridades públicas. Mas será que nós também não somos responsáveis por uma parcela importante de culpa? O voto descompromissado e o afastamento dos eleitores em relação aos seus representantes também são indícios de que falhamos. Não há cidadania plena sem a o vínculo permanente e com forte sentimento de compromisso social entre os cidadãos e os políticos. Neste sentido, a editoria de política apresenta uma reportagem sobre os bastidores dos partidos nos preparativos nos municípios de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha para as eleições do próximo ano. Começar a se inteirar sobre possíveis articulações e candidaturas pode ser um ponto de partida para nos redimirmos. Por fim, cabe destacar uma reportagem que causa grande indignação para quem vive o dia a dia da vida universitária: a venda ilegal de trabalhos acadêmicos. Sites ofertam livremente e a diversos valores Trabalhos de Conclusão de Curso de graduação, dissertações de mestrado e teses de doutorado. De quem é a culpa? “A culpa é de quem vende!”, dirão alguns, enquanto outros vão argumentar que a “A culpa é de quem compra!”. Todos cometem crimes tipificados no Código Penal, como falsidade ideológica e plágio. Mas nós também somos culpados, se não denunciarmos uma prática tão baixa e prejudicial à sociedade. É hora de olhar para o espelho, assumir a culpa e construir um futuro melhor.

EXPEDIENTE PANORAMA CARIRI Juazeiro do Norte Outubro de 2023 Jornal produzido na disciplina Jornalismo Impresso I do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri Orientação Prof. Ivan Satuf Rezende Projeto Gráfico e Diagramação Paulo Anaximandro Tavares


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Homenagem

COLUNA

Jornalista, este jornal é para você! Ivan Satuf O jornalista e professor José Anderson Freire Sandes nos deixou em setembro deste ano. Construir este jornal foi uma forma de homenageá-lo, mas também de lembrar que seu legado permanecerá presente no curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri. Anderson foi um docente com espírito de repórter, amante da apuração rigorosa e da edição cuidadosa. Pouco afeito à solidão do gabinete, seu ambiente natural sempre foi o laboratório de práticas jornalísticas, cercado por estudantes. Ali, passava horas discutindo pautas, revisando textos, planejando as páginas de cada edição das revistas do curso. Foram muitos os produtos impressos que passaram pelas mãos do mestre: Caracteres, Memórias Kariri, Entrelinhas, Sertão Transviado, Bárbaras e Pequiá. Outro espaço que ocupava com muita naturalidade era o pátio do campus, cenário dos lançamentos de diversas edições das revistas com a presença de convidados que também ilustravam as páginas como personagens. Cada lançamento era uma roda de conversa, e conversar era o que Anderson mais gostava de fazer. Leitor contumaz, sempre perguntava ao interlocutor: “Está lendo o quê?”. A pergunta

era sincera, mas também uma deixa para que ele mesmo expusesse suas leituras mais recentes. Adorava o memorialista mineiro Pedro Nava, mas não dispensava menos atenção aos livros, antigos e novos, que abordavam o jornalismo. Anderson era um bibliófilo que acumulou um acervo de cerca de mil obras. Felizmente, estes livros virão em breve para a biblioteca da UFCA, fruto de uma tocante doação da família. Somente agora, com a sua partida, dei-me conta de que Anderson era um professor raro. Quando assumiu o cargo de docente na UFCA, em 2010, trouxe consigo uma experiência de três décadas no jornalismo impresso, um ofício duro e uma arte complexa que somente apaixonados pela profissão conseguem se manter por tanto tempo. Eu digo “raro”, porque Anderson sempre foi um jornalista-professor, nesta ordem, sem nunca permitir que as formalidades do academicismo se sobrepusessem ao compromisso maior de formar jornalistas éticos e comprometidos.

Jornalista, espero que você fique satisfeito com estas páginas, todas costuradas por seus eternos estudantes. Somos inspirados por sua trajetória de pouco mais de uma década em terras caririenses. Este jornal é para você, jornalista!

Confira as publicações do curso de Jornalismo da UFCA em: www.conexaojornalismo.ufca.edu.br


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PANORAMA CARIRI

POLÍTICA Bastidores

Eleições municipais de 2024 já movimentam partidos no Cariri

As pré-candidaturas no Crajubar mobilizam as articulações que buscam superar os conflitos internos e a insatisfação generalizada da população

Foto: Jeso Carneiro

precisa discutir muito, chegar a um acordo para marchar unido nas eleições”, afirma o político, que pediu para não ser identificado.

Abiana Campos Cleberson Silva Leonardo Henrique Rodolfo Sales

Juazeiro do Norte e o tabu da reeleição

Falta pouco mais de um ano para as eleições municipais de 2024, mas, em Juazeiro do Norte, as articulações de bastidores ganham ares de campanha. Enquanto o atual prefeito, Glêdson Bezerra (Podemos), reforça a vontade de concorrer e romper a maldição de que nenhum gestor na cidade se reelege, por outro lado, as forças oposicionistas buscam formar uma frente ampla com a base do governo estadual, para garantir sucesso nas urnas. O relacionamento do prefeito com a base do ministro da Educação e senador licenciado, Camilo Santana (PT), e do governador Elmano de Freitas (PT), se tornou indiferente, mesmo com as interferências do deputado Fernando Santana (PT), considerado o re-

presentante de Camilo no Cariri. Aliás, foi a Fernando que Glêdson dirigiu o apoio para deputado estadual, nas últimas eleições gerais. Nesse sentido, o prefeito sustenta a tese de que teria votado no deputado, para que ele também lhe apoiasse na campanha à reeleição. Porém, o parlamentar e vice-presidente da Assembleia Legislativa do Ceará nega qualquer acordo dessa natureza, dizendo que Glêdson o apoiou pela destinação de verbas para a cidade. Sobre a postura na próxima campanha, Fernando Santana é enfático: “A cada dia, a vontade de apoiá-lo está indo embora, pela forma como ele anda fazendo política, sem dialogar com os vereadores, nem com o governo”. Aproveitando este conflito, o grupo opositor a Glêdson trabalha com a possibilidade de lançar uma candidatura de enfrentamento ao atual gestor. E um dos nomes pensados para encabeçar a chapa é, justamente, o de Fernando Santana. Detalhe: com o apoio de Camilo e Elmano. Reservadamente, um dos membros fala sobre a necessidade de o grupo, também composto por ex-prefeitos da cidade, buscar alinhamento. “Hoje, um dos nomes que representa esse processo de união é o deputado Fernando. Até lá, a gente ainda

Indefinição gera disputa no Crato

Após oito anos de gestão, o prefeito José Ailton Brasil (PT) deixará o cargo de prefeito de Crato e deve apostar em um nome para sucedê-lo. Não há, contudo, a definição de quem será o candidato da base aliada. Mas especulações não faltam. Os nomes mais cotados para disputar o Palácio Alexandre Arraes são o do vice-prefeito, André Barreto (PDT), do chefe de gabinete, Rondinele Brasil, da secretária de Educação do Ceará, Eliana Estrela, e do vereador Pedro Lobo (PT). Enquanto a definição não sai, membros do entorno da gestão avaliam as pretensões dos grupos políticos na cidade. O secretário de Cultura, Amadeu de Freitas, acredita que ainda é cedo para cravar o cenário, mas aponta o fim da aliança PT/PDT caso André Barreto não seja o candidato oficial. “Essa divisão poderia proporcionar um terceiro bloco político na disputa”, afirma Amadeu. Por outro lado, o bloco político mais alinhado ao bolsonarismo, liderado pelo médico Aloísio Brasil (União), deve lançar sua candidatura em 2024. Segundo colocado na última disputa pela prefeitura cratense, Aloísio busca atrair o campo da direita, incluindo o também médico e ex-prefeito Zé Adega (PSD). Porém, desde a eleição passada, houve um racha entre os grupos, fragmentando as candidaturas, que perderam para José Ailton. O presidente da Câmara Municipal do Crato, vereador Florisval Coriolano (PRTB), afirma que o atual quadro político apresenta 10 pré-candidaturas, somando situação e oposição, e mais de 200 pré-candidatos ao poder legislativo. “Somente em março, mês em que


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POLÍTICA Serviços públicos

Deslizes marcam política de Barbalha

Barbalha, cidade em crescimento acelerado, enfrenta desafios significativos à medida que sua população aumenta. Com a proximidade das eleições de 2024, a população expressa suas expectativas e preocupações em relação à administração atual e ao futuro da cidade. Em relação à possível reeleição do prefeito Guilherme Saraiva (sem partido), há um sentimento misto. Alguns expressam raiva e descrença, enquanto outros acreditam que ele pode se beneficiar de um “curral eleitoral”. A expectativa é que o próximo líder municipal traga melhorias tangíveis para a cidade. Em meio a todas essas preocupações, o vereador Professor Ilânio (PDT) destaca o crescimento da população de Barbalha como um sinal positivo do desenvolvimento da cidade. De acordo com os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Barbalha (CE) atingiu a marca de 75.033 habitantes no Censo de 2022, registrando um expressivo aumento de 35% em relação ao censo de 2010. Ele enfatiza a importância de estruturar o município para oferecer condições de cidadania a essa nova realidade. Os cidadãos barbalhenses esperam que seus líderes enfrentem os desafios comuns e promovam melhorias significativas nas áreas cruciais, como saúde, educação e emprego. Enquanto o prefeito busca resolver problemas da gestão para tentar se reeleger, a oposição ainda se vê num quadro de indefinição. O grupo, liderado pelos ex-prefeitos Argemiro Sampaio (União) e Rommel Feijó (PSDB), ainda escolherá a candidatura, já que as duas maiores figuras de destaque estão inelegíveis. Ainda assim, Argemiro Sampaio afirma que a escolha da candidatura passará pela chancela do grupo. O ex-prefeito disse que, em breve, o nome será definido, e certamente terá aceitação dos eleitores barbalhenses. Para Argemiro, a população está insatisfeita com a atual gestão, e um prefeito do grupo oposicionista teria apoios de parlamentares aliados e dos governos em níveis estadual e federal, com a busca de emendas para o implemento das ações no município.

Crato

Prefeito atende cidadãos uma vez por semana Foto: Prefeitura do Crato

os vereadores podem mudar de partido e não perder o mandato, quando ‘abrir a janela’, teremos um cenário mais definido. Mesmo assim, em julho, quando haverá as convenções dos partidos, tudo pode mudar novamente devido aos acordos que sempre acontecem”, diz.

Zé Ailton (PT) ouve as demandas da população e encaminha para as pastas responsáveis

Abiana Campos Todas as quartas-feiras, a partir das 7h da manhã, moradores do Crato começam a chegar ao Largo Júlio Saraiva para falar com o Prefeito José Ailton Brasil (PT). São indivíduos ou grupos organizados que levam suas demandas esperando encaminhamentos ou soluções aos seus problemas. Também sugerem e opinam sobre assuntos diversos, como local de pontes, remédios, dentre outros. Zé Ailton, como é chamado por todos, começa o atendimento às 7h30, por ordem de chegada. Às vezes, chega a atender 50 pessoas por dia, segundo a Secretária Executiva de Comunicação, Elizângela Santos. “Não há número fixo de pessoas, ele a atende todas elas”, diz Liz Bitu, assessora da secretária. O prefeito usa o telefone, na presença do interlocutor ou do grupo, e encaminha as demandas à secretaria capaz de dar andamento ao problema em questão, ou resolvê-lo. Se-

gundo o vice-prefeito André Barreto, a maior solicitação é de pedido de emprego, seguido por infraestrutura e saúde. Ele, que também atende ao povo cratense às terças e quintas pela manhã, em caso de ausência do titular da pasta, entende perfeitamente que a preferência popular é falar diretamente com Zé Ailton. “As pessoas já entenderam que quem tem maior poder de resolução é o prefeito. É natural”, afirma. A professora universitária Lúcia Helena de Brito precisou de atendimento, porém, nesse dia, o prefeito não estava na cidade. Indignada por não ter substituto nas quartas-feiras, único dia da semana que ela estava disponível na época, conseguiu falar com a Chefia de Gabinete, mas nada foi resolvido.Por sua vez, o presidente da Associação do Sítio Carrapato, Samuel Pereira do Nascimento, foi atendido e teve o pedido resolvido em poucas semanas. O “atendimento ao público” foi posto em prática em 2017, com o objetivo de aproximar os habitantes do Crato da gestão. Foi ideia do próprio prefeito, que ao ser reeleito, continuou com a medida.


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PANORAMA CARIRI

ECONOMIA Turismo religioso

Mais de 200 mil romeiros aquecem o comércio de Juazeiro do Norte

Foto: Tharla Santos

Quase 800 pequenos comerciantes atuaram na romaria de Nossa Senhora das Dores

Clara Tavares Tharla Santos O turismo religioso é um dos maiores vetores econômicos de Juazeiro do Norte, durante o período de romaria a cidade recebe milhares de visitantes. Na mais recente, em homenagem a Nossa Senhora das Dores, que ocorreu entre os dias 10 e 15 de setembro, a cidade recebeu entre 200 mil e 250 mil visitantes, segundo Renato Williamis, secretário de Turismo e Romaria do município. O festejo de Nossa Senhora das Dores é o segundo maior evento religioso, que dá início aos ciclos de romaria, movimentando o comércio da cidade e auxiliando um fluxo maior de comerciantes e pequenos empreendedores durante as festividades. Os setores mais procurados são de serviços essenciais, como estadia, comida e transporte, além de presentes como roupas, calçados e imagens de santos. Em busca de baixos preços, os romeiros procuram fazer compras nas redondezas dos pontos turísticos religiosos onde se localizam vários camelôs com uma variedade de produtos. Segundo a romeira alagoana Maria José Soares, moradora de Maceió, as compras nos camelôs não podem faltar, “a gente só vai comprar lá, porque é mais em conta”.

Uma pesquisa realizada pela Secretaria de Turismo e Romaria (SETUR) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), realizada antes da pandemia, revelou que o valor médio gasto por cada romeiro em Juazeiro do Norte é de R$ 377. Levando em consideração a média de romeiros que passaram pela região na última romaria, pode-se dizer que o valor gasto na cidade circula na casa de milhões. Vale ressaltar que esse montante é gasto em toda região do Cariri, não apenas em Juazeiro do Norte. Os pequenos comerciantes localizados na rua São José e em volta do largo da Basílica de Nossa Senhora das Dores atuam ativamente durante o período de grande fluxo de romeiros. Eles precisam de autorização da prefeitura para o funcionamento legal de suas barracas. Conforme o decreto 808/2023, a cobrança pelo uso precário do espaço público é cobrado por metro quadrado (o valor de 1,5 UFIRM), no qual o ambulante se cadastra e emite seu Documento de Arrecadação Municipal (DAM), conforme a metragem utilizada. A Secretaria de Meio Ambiente e Serviços Públicos (SEMASP) foi responsável pela fiscalização e levantamento de dados dos camelôs e, segundo o comerciante Francisco William, de Canindé, a fiscalização mostrou apoio e organização, porém, ainda assim, para estar em seu posto precisa chegar cedo

no local, caso contrário, perde o lugar de venda. Relatórios referentes às romarias já ocorridas no ano de 2023 mostram que 778 ambulantes foram cadastrados na romaria de Nossa Senhora das Dores, que equivale a 42,6% de cadastros a mais do que na romaria de Nossa Senhora das Candeias e na romaria de morte de Padre Cícero. A demanda de cadastramentos exige um ordenamento do espaço público, para que seja possível a realização das atividades sem desordem. “Trabalhamos com a educação e conscientização dos comerciantes para um melhor ordenamento do espaço público. A multa ocorre apenas em última instância, com a apreensão da mercadoria, caso o ambulante desacate a autorização precária recebida nesse período festivo”, relata Renato Williamis. Mesmo com muitos visitantes na cidade, os comerciantes sentiram diferença no fluxo de vendas durante o evento. Para alguns, os lucros têm sido satisfatórios, enquanto para outros o movimento foi fraco. “Foram dois anos de pandemia. Quando os romeiros começaram a voltar, não foi como 2018 e 2019, eles diminuíram muito”, relata Maria Irani, comerciante antiga das romarias da cidade. Além do fluxo baixo de romeiros, o aumento de comerciantes e pequenos empreendedores auxilia nas baixas estimativas de lucros, pois a concorrência fica maior.


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ECONOMIA

Pedra Cariri impulsiona trabalho e renda local

Foto: Evelyn Alencar

Emprego

Foto: Evelyn Alencar

Produção e comercialização do minério nas cidades de Nova Olinda e Santana do Cariri geram renda e emprego

Produção gera cerca de 500 postos de trabalho distribuídos em 18 pedreiras da região

Clara Tavares Evelyn Alencar A Pedra Cariri, ou Pedra de Santana como era conhecida, é um minério que consiste em lavras de calcário. Extraído na bacia do Araripe, é encontrado em finas camadas e foi depositado há mais de 112 milhões de anos, no período cretáceo. Nas áreas de mineração são encontradas a maior parte do acervo de fósseis que ficam localizados no Museu de Paleontologia Dr. Plácido Cidade Nuvens, da Universidade Regional do Cariri (URCA), localizado no município de Santana do Cariri. A extração e comercialização da pedra é uma das principais bases econômicas das cidades de Nova Olinda e Santana do Cariri, sendo os dois municípios responsáveis por 15% da produção de rochas ornamentais e de revestimento do Estado do Ceará. O minério possui uma variedade de usos: revestimentos, pisos, móveis planejados e até objetos decorativos. O metro quadrado da Pedra Cariri é comercializado com valores que variam de R$ 16 a R$ 40, dependendo do tipo.

A Cooperativa de Mineração dos Produtores da Pedra Cariri (Coopedras) localizada no município de Nova Olinda, tem como intuito fortalecer a produção e exportação da pedra e, atualmente, possui 18 associados. Segundo Rayssa Diniz, presidenta da Cooperativa, as minerações devem ser organizadas por área e funcionam somente com uma licença ambiental. Já para a venda, é necessária uma nota fiscal eletrônica que comprove a comercialização lícita do produto. Para a extração e comercialização do minério, é necessário uma série de autorizações ambientais para o funcionamento das mineradoras. Os fósseis encontrados são recolhidos pelo batalhão ambiental três vezes por semana. Anteriormente, o município de Santana do Cariri possuía a maior quantidade de mineradoras, mas a Cooperativa do município passou a funcionar juntamente com a Coopedras, permanecendo apenas as mineradoras de Nova Olinda, sendo ilegais as pedreiras ativas em Santana do Cariri. De acordo com Rayssa, embora a Pedra Cariri seja um produto encontrado apenas na região, sofre desvalorização pela pouca procura nos próprios municípios. Outro problema é o

custo muito alto para a sua extração e beneficiamento: “Almejamos para a Coopedras a valorização do minério no mercado exportador, como também a pluralidade de produtos que podem ser desenvolvidos através da Pedra Cariri”. A atividade de mineração da Pedra Cariri na região é uma das principais fontes de emprego do Estado, gerando cerca de 500 vagas. A influência da mineração no desenvolvimento de postos de trabalho impacta diretamente toda região do Cariri. O gerente Cícero Fernandes da Silva trabalha no setor há mais de 13 anos: “A pedreira pra mim foi tudo, foi onde eu consegui tudo que tenho”. Hoje, Cícero atua como gerente da pedreira e diz que é importante a valorização dos seus funcionários. “Eu comecei lá embaixo, eu tenho que valorizar as pessoas porque eu já estive naquele lugar”, explica. No que se refere à valorização do minério, Cícero relata que o produto é pouco procurado na região devido às altas despesas para a comercialização da Pedra, o lucro é baixo quando comparado ao valor da extração e, apesar do produto ser bem aceito, a demanda é baixa. A Pedras Cariri Dois Irmãos, pedreira gerenciada por Eluzio Neto Sampaio Moreira está há 23 anos no mercado, tendo clientes em 16 estados do país, no México e nos EUA. Em média são comercializados 6 mil metros quadrados de Pedra Cariri por mês, em torno de 5% vai para a exportação. Os municípios próximos consomem em média 10% da produção, a maior parte é comercializada nas capitais do Norte e Nordeste. Segundo Eluzio, desde janeiro de 2023 os valores da Pedra Cariri vêm diminuindo devido à desaceleração do setor da Construção Civil.


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PANORAMA CARIRI

ECONOMIA Educação

Geração nem-nem “é uma bomba relógio”, diz economista

Dados apontam que 30% dos jovens Cearenses não estudam e não trabalham Tharla Santos Ana Jáfya Apolinário

O termo “geração nem-nem” é uma variação da sigla Neet (Not in Education, Employment, or Training, em português, “Não está na educação, no emprego ou no treinamento”) e surgiu na Inglaterra em meados dos anos 90 nas primeiras discussões sobre jovens que não trabalhavam e não estudavam. Hoje em dia, a expressão ainda tem sido utilizada para se referir ao grupo específico composto por jovens entre 15 e 29 anos. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) – Educação de 2022, atualizados em julho deste ano, cerca de 20% da população dos jovens brasileiros entre 15 e 29 anos não realizam nenhuma atividade estudantil ou de ocupação, sejam por razões econômicas ou sociais. O crescimento da geração nem-nem preocupa os especialistas no que diz respeito à previdência social e se torna uma espécie de “bomba-relógio” na economia brasileira. “Se ele não está trabalhando no mercado de trabalho formal, quem vai pagar a previdência daquelas pessoas

“O governo devia pensar mais nos jovens.” Franciely Alves, 19 anos

Fonte: IBGE

que estão aposentadas? Quem está aposentado já trabalhou em décadas passadas, agora eles recebem o aposento. E quem é que contribui para o aposento das pessoas que estão aposentadas?”, aponta a economista Silvana Nunes. Ainda segundo a PNAD, no Ceará cerca de 600 mil jovens fazem parte da geração nem-nem, sendo a grande maioria mulheres, com maior percentual entre jovens pardos e negros. Os dados também mostram que nos últimos cinco anos houve uma redução dos jovens nem-nem no Ceará. De acordo com o levantamento de dados do IBGE, em 2017, cerca de 34,4% dos jovens até 29 anos no estado não trabalhavam nem estudavam. Mas, ainda assim, o Ceará segue como o 5° estado com maior percentual de jovens nem-nem no Brasil, com uma taxa de 27,5%, acima da taxa nacional de 20%. Um dos fatores que contribuem para o cenário atual é o desemprego em consequência de crises econômicas no país, que de certo modo pressiona o aumento de jovens desocupados. A taxa de jovens desem-

pregados é o dobro da média nacional, enquanto a da população geral é de 10%, a dos jovens entre 15 a 29 anos é de 20%. Uma das implicações desses resultados é a falta de oportunidade do primeiro emprego. “Oportunidade de emprego a gente tem, o que não temos é experiência. Não tem como ter experiência em algo se não nos dão oportunidades para tê-la”, relata Lucas Bento, de 20 anos, que ao sair do ensino médio passa a enxergar um mundo diferente do que imaginava. Uma das opções viáveis para jovens que se encontram na mesma situação de Lucas é buscar por algum curso profissionalizante, mas por se tratar de jovens de baixa renda é inviável manter os estudos sem ter um emprego para pagar as despesas. “O governo devia pensar mais nos jovens que estão no Ensino Médio, perdidos, principalmente para aqueles que não querem fazer faculdade e sim apenas arranjar um emprego”, diz Franciely Alves, de 19 anos. Segundo a jovem, escolas também devem abordar assuntos voltados para o primeiro emprego. Existem programas que inserem os jovens no mercado de trabalho, como o programa jovem aprendiz. Ao qualificar e inserir o jovem nas empresas, o programa traz benefícios econômicos: “Porque ele vai ter renda, se ele tem renda ele têm consumo, se ele tem consumo ele tem uma economia, um fluxo circular da economia e da renda”, diz a economista Silvana Nunes.


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UNIVERSIDADE Novas perspectivas

Ações de extensão passam a integrar currículos na graduação Foto: Reprodução/UFCA

Processo consiste na obrigatoriedade da participação em projetos em todos os cursos, com percentual mínimo de 10% da carga horária total, conforme determinação do MEC

Larissa Mendes De acordo com a Resolução Consuni nº49/2021 da Universidade Federal do Cariri (UFCA), os cursos de graduação deverão prever em seu Projeto Político Pedagógico 10% do total de sua carga horária para as ações de extensão. A integralização da extensão nos currículos é uma determinação do Ministério da Educação. Segundo a Coordenadora de Políticas Extensionistas, Francilda Alcantara, “cada curso de graduação da UFCA previu em seu PPC (Projeto Pedagógico do Curso) a inserção da carga horária de extensão para fins de integralização da forma que julgou estar melhor adequada ao perfil de formação profissional e acadêmica de seus estudantes.” Os docentes de cada curso devem cadastrar as ações de extensão, como eventos, projetos e cursos na Pró-Reitoria de Extensão. A participa-

ção nessas atividades dará aos estudantes certificados que comprovam a participação nos eventos que serão utilizados para a contabilização da carga horária. Prevê-se que cada curso ou unidade acadêmica tenha um coordenador de integralização para acompanhar as ações ofertadas e para estimular a participação dos estudantes. Petrick Lacerda, aluno do 8º semestre de jornalismo e extensionista pela Revista Memórias Kariri, explica a importância da extensão: “É uma forma da universidade chegar até a comunidade externa. A gente produz muito conhecimento aqui dentro, mas para que ele seja conhecimento, precisa chegar às pessoas, a extensão é o setor responsável por isso.” Uma das ações extensionistas é a UFCA Itinerante. Nesse projeto, reúnem-se estudantes de vários cursos para percorrer cidades do Cariri e apresentar seus trabalhos. “A gente vai às escolas de ensino médio, apresentar o que

está fazendo dentro da universidade e também apresentar a UFCA”, afirma Petrick. A estudante Angélica Andrade, do 5º semestre de jornalismo, também relata sua experiência como extensionista: “Durante a UFCA Itinerante, tinha muito essa interação de troca de cultura, de conhecer pessoas novas, lugares novos. Eu gostei bastante da experiência como extensionista. Quando algo se torna obrigatório, acho que se torna chato, mas é um momento para a gente acolher, pelo menos a minha experiência com a extensão foi muito massa, eu toparia de novo”. Antes do processo de integralização, os alunos possuíam o poder de escolha sobre participar ou não dos projetos de extensão. Petrick defende a nova decisão acadêmica: “Agora a gente tem a segurança de que esse estudante vai ter o privilégio de levar o que ele está produzindo para a comunidade”.


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PANORAMA CARIRI

UNIVERSIDADE Falsidade ideológica

Venda ilegal de trabalhos acadêmicos Aysha Quezado Larissa Mendes Otávio Pereira Samia Costa

Imagem: Reprodução/Internet

A venda de trabalhos acadêmicos prontos tornou-se comum nas universidades. Na internet, basta pesquisar por “TCC” que surgem diversos sites especializados em venda de trabalhos de conclusão de curso. Os vendedores ilegais não demonstram nenhum receio ao exporem seus serviços, pelo contrário, se promovem como empresas, prometendo qualidade, rapidez na entrega e até certificado antiplágio. A prática é ilegal, conforme estabelecido no Artigo 299 do Código Penal, sobre falsidade ideológica, e também no Artigo 184, sobre plágio, que determina uma punibilidade que pode chegar a quatro anos de detenção, como afirma o professor do curso de Administração da Universidade Federal do Cariri (UFCA) João Adolfo, graduado em direito. Alguns sites, como o “TCC Nota 10”, funcionam através de um cadastro onde são inseridas as informações necessárias para a elaboração de um orçamento personalizado. Em outros sites, os elaboradores fazem contato com o comprador direto por WhatsApp. Diferente dos demais, o “StudyBay” funciona como um leilão. O comprador informa o título

Estudantes são atraídos por promessa de entrega rápida

do trabalho, o curso e o número de páginas, submete o projeto onde pessoas irão analisar e colocar seus preços para o serviço, o comprador escolhe qual elaborador quer contratar. Importante também ressaltar quais os motivos que levam alunos a venderem ou comprarem trabalhos acadêmicos: quem vende relata a falta de dinheiro para se manter na universidade e, do lado de quem compra, a falta de tempo e a pressão dos estudos. “Desde o início da faculdade eu fazia trabalho para outras pessoas, então, no 5º semestre, eu pensei: por que não cobrar? Vi que iria me ajudar financeiramente e eu estava precisando de dinheiro”, afirma a ex-estudante universitária Luana* sobre a época em que estudou em uma universidade privada. Outra estudante, Raiane*, comenta que já pensou em comprar um TCC, porém, na época, não encontrou ninguém que fizesse o serviço. “Eu já estava há um ano tentando escrever e não tinha tempo de terminar, pois tinha começado a trabalhar”. Nem todos os estudantes concordam com a prática ilegal. “Não acho certo, acredito que não desenvolve o conhecimento, quero dizer, você não está produzindo, apenas decorando”, comenta João Marcos, estudante de filosofia na Universidade Federal do Cariri (UFCA). Estudantes com dupla jornada muitas vezes acabam priorizando o trabalho ao invés dos estudos, isso está relacionado com os altos índices de evasão nas universidades e a precarização da vida acadêmica. É importante que a universidade enquanto um agente que visa uma mudança social tome me-

Imagem: Reprodução/Internet

De apresentações no PowerPoint a teses de doutorado, sites prometem a entrega de textos sobre qualquer tema em até sete dias. Valores podem chegar a quase R$2 mil

didas para que os alunos permaneçam nela de forma digna, sem precisar recorrer à ilegalidade para sustentar os estudos. Alguns sites trabalham com planos, do básico ao mais completo, em que os valores vão de R$ 300 a R$ 1.700. Nos planos mais caros eles asseguram a participação de doutores e mestres que atuam como elaboradores. É possível encontrar a venda desses serviços até mesmo no site de compras on-line Mercado Livre.

“Não acho certo, acredito que não desenvolve o conhecimento.” João Marcos, estudante Os websites “milagrosos” muitas vezes prometem a entrega de um trabalho de qualidade em até 15 dias, os mais rápidos em até 7 dias, porém, muitos usuários reclamam da qualidade do produto, como relatado no site Reclame Aqui: “Contratei um TCC com o site TCC Nota 10 e me entregaram mal feito, pedi a


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UNIVERSIDADE Ensino

Imagem: Reprodução/Internet

* Os nomes verdadeiros foram substituídos por nomes fictícios para preservar a identidade das entrevistadas.

Ensino a Distância

Estudantes da UFCA buscam adaptação aos cursos EaD Foto: Reprodução/UFCA

correção inclusive do modelo, não foi feito da forma que pedi e foi me enviado praticamente o mesmo arquivo e ainda me responderam mal, no e-mail. A professora já me informou que o trabalho tem várias falhas, que está mal feito, inclusive com plágio. Paguei em apenas uma vez e eu quero meu reembolso”. E ao tentarem entrar em contato com o serviço para corrigirem os erros, muitos foram ignorados ou até mesmo bloqueados: “Contratei um TCC de Ginecologia na empresa TCC nota 10, paguei. Me entregaram e solicitei uma correção, solicitaram 7 dias. O tempo já transcorreu, quando entrei em contato pelo e-mail que me foi dado, aparece como e-mail não encontrado”. O professor João Adolfo Ribeiro comenta que a qualidade do ensino não pode ser mensurada apenas no final do curso, essa avaliação precisa ser contínua, durante todo o trajeto do estudante na universidade: “é sobre o processo e não o resultado”. “A compra de um produto ilícito acaba afetando o dinamismo do próprio estudante e, consequentemente, do futuro profissional, que terá sua competência afetada”, afirma o docente. A reportagem entrou em contato com quatro destes sites, via WhatsApp, Instagram, e-mail e cadastro na plataforma: TCC Nota 10, Camila Oliveira Consultoria, StudyBay e TCC Rápido. A reportagem não obteve respostas até o momento da publicação deste texto.

Polo de educação a distância no município de Icó, distante 150 quilômetros de Juazeiro do Norte

Aysha Quezado No dia 24 de fevereiro de 2022, a Universidade Federal do Cariri (UFCA) impulsionou a formação de profissionais na região com a criação do Centro de Educação a Distância (CEAD). O Centro tem como objetivo desenvolver a modalidade de educação a distância (EaD) nos cursos superiores do país. No cenário atual, a UFCA oferece seis programas de graduação em EaD. O principal desafio para os acadêmicos é a fase de adaptação ao novo método de ensino. De acordo com o portal virtual da UFCA, em junho de 2023 foram ofertadas 910 vagas de graduação na modalidade EaD. Participam desta categoria os cursos de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Tecnologia em Produção Multimídia e licenciaturas em Geografia, Filosofia e Matemática, além do Tecnólogo em Gestão Financeira. Lara Vieira é a representante da turma do segundo semestre do curso de Tecnologia em Produção Multimídia. Ao ingressar no curso, seu principal objetivo era melhorar suas habilidades em design gráfico e conteúdos digitais. A estudante apontou como sua principal dificuldade no ensino remoto a escassa interação acadêmica na trajetória da formação. “A minha adaptação na modalidade EaD foi bem desafiadora no início, você acaba sentindo falta da interação presencial com os colegas do curso e com os professores”. Outra dificuldade citada foi a adaptação às ferramentas de ensino, como o Ambiente Virtual de Aprendizado (AVA) e a platafor-

ma Moodle. Os sistemas são utilizados para a realização das aulas virtuais e para a entrega das atividades. “Agora no 2º semestre, a plataforma está muito mais organizada, já dá para aproveitar melhor as ferramentas e os fóruns [de discussão] que temos à disposição”, explica Lara. Apesar dos obstáculos na integração EaD, os professores se fazem presentes durante a formação acadêmica. Dalila da Silva, estudante do curso de Tecnologia em Produção Multimídia, teceu elogios aos docentes, que a auxiliaram durante seu primeiro semestre. Num dia de prova, Dalila conta que ficou sem internet: “Mandei a explicação, e ele [o professor] foi flexível, aceitou e marcou uma segunda chamada”. Lucas Germano, representante da turma do 2º semestre do curso Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, também destacou a grande participação dos professores em sua formação, além de afirmar que a graduação está atendendo suas expectativas. “Em geral, todos estão aprendendo e desenvolvendo as aptidões necessárias para a sua formação. Existem inúmeras ferramentas que os professores disponibilizam para a gente”, comenta o estudante. Outros pontos citados entre os estudantes para a melhoria das formações foram a criação de programas de mentoria e cursos complementares, a redução de gastos com transporte para os encontros presenciais e o desequilíbrio entre a demanda de atividades e os prazos estabelecidos. Dalila reforça que a UFCA precisa se basear em outras faculdades federais, estabelecidas há mais tempo, para que os cursos EaD se tornem mais completos.


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PANORAMA CARIRI

CIDADE Meio ambiente

Corpo de Bombeiros alerta que mau hábito da população é um dos maiores causadores do problema

Amanda Arrais Entre janeiro e setembro de 2022 foram contabilizados 612 incêndios nos municípios que integram a Região Metropolitana do Cariri. Em 2023 houve um aumento de 31% no período equivalente, contabilizando 805 incêndios. Os meses de setembro, outubro e novembro são os que mais preocupam as autoridades do meio ambiente, isso porque é na época da estiagem que as queimadas costumam ocorrer. O clima seco, a ausência de chuvas e a baixa umidade do ar contribuem para o alastramento dos incêndios. Além dos fatores climáticos, diversos elementos contribuem para a propagação das queimadas. “Condições econômicas, a falta de educação ambiental, a falta de compromisso, a não observação da legislação, a impotência dos órgãos públicos em ter uma fiscalização efetiva em todos os seus níveis. Gera um clima de caos para que esses incêndios venham a acontecer.”, explica José Eraldo Oliveira, superintendente da Autarquia Municipal de Meio Ambiente de Juazeiro do Norte (AMAJU).

Segundo os dados, foram registrados 952 incêndios em 2022. Este ano a marca pode ser superada diante do número verificado até o momento. O Major Artur Graça, do corpo de bombeiros militar, acredita que a maior parcela dos incêndios é provocada por pessoas com a chamada prática cultural. “É a cultura de limpar terreno com fogo, se livrar de lixo com fogo, a preocupação com a praga. A maioria dos incêndios com vegetação ocorre em áreas urbanas, justamente porque as pessoas querem limpar os terrenos”, afirma. Para a estudante Adrieli Targino, as queimadas não afetam apenas a sensação de calor, como também a saúde. A jovem possui doenças respiratórias como rinite e sinusite. “Há algum tempo atrás estavam ocorrendo as queimadas e a fumaça estava grande. Depois que tive covid, fiquei sem conseguir respirar por causa da fumaça, tive que ir para o hospital”, relata. De acordo com o major Artur Graça, é necessário trabalhar aspectos culturais, educacionais e a própria fiscalização. As frentes culturais e educacionais estariam nas escolas, comunidades e centros comunitários, para que sejam explicados os danos causados pelas queimadas.

Foto: Amanda Arrais

Índice de queimadas cresce 31% em comparação ao ano anterior

A fiscalização ocorreria pelas prefeituras, que deveriam exigir a limpeza mecânica, realizada por máquinas, e o cercamento dos terrenos. Penalidades Atualmente, existe a chamada “queima controlada”, que é autorizada pelos órgãos ambientais e é possível ser realizada apenas em zona rural. De acordo com a Lei de N° 9.605, a prática de queimadas é crime ambiental sujeito a penalidades. Após a identificação do responsável, ele é levado à delegacia onde é realizado o auto de infração e aplicação de multa no valor mínimo de R$654, além de possíveis danos civis. Campanha Neste momento, Juazeiro do Norte realiza uma campanha contra queimadas na cidade. A campanha é uma realização da AMAJU e da prefeitura, tem parceria com as igrejas católica e evangélica e com representantes umbandistas para que atinja mais públicos, além das parcerias institucionais já rotineiras como o Corpo de Bombeiros Militares e a Guarda Ambiental Metropolitana. A campanha tem o objetivo de promover uma frente educacional para estimular a redução das queimadas.


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OUTUBRO - 2023

CIDADE Trânsito

Novas rotatórias dividem opiniões entre motoristas em Juazeiro do Norte As rotatórias nas ruas e avenidas de Juazeiro do Norte geram discussões acaloradas na cidade e em seus arredores. São estruturas viárias construídas com o intuito de proporcionar maior fluidez no tráfego em um determinado trecho com trânsito intenso. Elas também são pensadas com o objetivo de diminuir o número de acidentes e, em muitos casos, são implantadas como forma de substituir os semáforos. Uma parte da população realmente acha necessário, mas outra parcela reclama da quantidade delas espalhadas pela cidade e, principalmente, da falta de educação de trânsito dos condutores de veículos em relação ao uso das rotatórias. Francisco Bezerra Pereira, formado em Tecnologia da Construção Civil e pós-graduado em Mobilidade Urbana, é o gerente de projetos no setor de engenharia do Departamento Municipal de Trânsito (Demutran) de Juazeiro do Norte. Na visão dele, as rotatórias são uma ótima solução para evitar congestionamentos em alguns pontos da cidade. “Costumo dizer que a rotatória é democrática em relação aos fluxos, porque nela há um tempo de espera mínino”, afirma. Comparando as rotatórias aos semáforos, Francisco Bezerra acrescenta: “O semáforo represa o fluxo. Mesmo que nos outros sentidos [das vias] não venha ninguém, o veículo que está parado no sinal vermelho, não pode passar, pois cometerá uma infração”. Fora da dimensão Apesar de ser o profissional responsável pelo planejamento das rotatórias, Bezerra admite que algumas não possuem estrutura adequada e se apresentam como “minirrotatórias”. Isso acontece por falta de recursos do município para a construção. O que seria um benefício, acarreta prejuízos, pois motoristas de veículos de grande porte, como caminhões, invadem e danificam a estrutura da obra pública. É o caso da rotatória localizada no bairro Santa Tereza, entre a Avenida Castelo Branco e a rua José Marrocos, que possui 28 metros de diâmetro. Tendo em vista que o mínimo adequado são 50 metros, está fora do padrão, afirma Bezerra. A menor rotatória encontrada

Foto: Abilio Fortunato

Abilio Fortunato Bárbara Ívina

Rotatória da avenida Castelo Branco com a rua José Marrocos, no bairro Santa Tereza

em Juazeiro do Norte está localizada na Avenida Castelo Branco com a Rua Antônio Pereira, nas imediações do bairro Limoeiro e tem somente 8 metros de diâmetro. O engenheiro de trânsito lembra que antes de ser reformada, a estrutura viária possuía apenas 3 metros. Heloísa Lopez, estudante de urbanismo e motorista recém-habilitada, entende a importância das rotatórias, mas ressalta que deveria haver melhorias na estrutura. “Elas são uma tentativa falha de fazer com que os motoristas não ‘percam tempo’ em semáforos, mas acabam gerando perigo para todos. Elas não só estão sendo colocadas em áreas que não justificam, como também não possuem dimensões adequadas para aquilo que se propõem”, afirma a estudante. Para ela, com um conhecimento mais aguçado em relação às dinâmicas da cidade, seria essencial um planejamento urbanístico mais adequado às necessidades dos locais onde estão sendo implementadas as rotatórias. Heloísa vai até a faculdade todos os dias em horários de pico e comenta sentir insegurança ao se deslocar por determinados trechos da cidade. Para além das rotatórias em si, deve ser levada em consideração a educação dos condutores que circulam pela cidade, como comenta Patrick Nascimento, defensor das rotatórias

e motorista de aplicativo há mais de 5 anos: “Falta só isso, educação, mas as rotatórias não têm culpa alguma, o povo da cidade que não sabe dirigir”. A agressividade e falta de atenção deixam vítimas fatais no trânsito. Bezerra aponta um caso ocorrido em Juazeiro: um motociclista que transportava um idoso colidiu com um ônibus e o garupa não suportou a gravidade do acidente. O Demutran busca soluções para lidar com motoristas e motociclistas delinquentes, uma das ações é a existência de lombadas nas proximidades das rotatórias. Com isso, pretende que o condutor diminua a velocidade ao se aproximar da rotatória. Novas rotatórias O gerente de projetos do Demutran revela que duas novas rotatórias já estão sendo planejadas no município. A previsão é que uma delas esteja localizada no bairro Triângulo, no cruzamento entre a Avenida Eduardo McClain e a rua Professor Francismar Roque. A outra deve ser construída no bairro Aeroporto, na interseção das avenidas Humberto Bezerra e Virgílio Távora. Todos são pontos de congestionamentos, conforme afirma o engenheiro de trânsito. A implantação dessas rotatórias está prevista para janeiro de 2024.


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PANORAMA CARIRI

CIDADE Urbanização

Crato investe R$ 110 milhões em busca de solução definitiva para enchentes

A requalificação está em processo de licitação, ainda sem previsão de início das obras Carlos Gabriel

“Começa o inverno eu já fico apavorada e não consigo nem dormir.” Alcy Ximenes do Araripe no período chuvoso, que leva ao deságue no Rio Grangeiro. A maneira com que a chuva cai na região também afeta a situação. Se chover durante um grande período de tempo, porém de forma calma, o canal chega a transbordar, mas não causa riscos. Já

Foto: Carlos Gabriel

O município de Crato segue com muitas expectativas em relação ao fim dos casos de alagamentos causados pelos frequentes transbordamentos do canal do Rio Grangeiro. As próximas reformas no local estão orçadas em R$ 110 milhões e garantem o fim das catástrofes, mas futuras chuvas ainda preocupam os moradores que vivem nas proximidades do canal. Desde 1994, a cidade sofre com altos índices de chuva e as consequências das mudanças climáticas. Em 2019, o município chegou a registrar o desabamento de uma encosta e, no ano seguinte, também por conta das chuvas, houve um transbordamento no canal do Rio Grangeiro que percorre grande parte da cidade, levando ao alagamento de casas e centros de comércio localizados nos bairros no entorno do rio. O volume de chuva varia bastante para que ocorram esses eventos. Em 2019 foram registrados 130 mm, já o transbordamento em 2020, registrou 103 mm. De acordo com dados disponibiliza-

dos pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), o município está em primeiro lugar com maior precipitação entre as cidades do Ceará, marcando 290 mm no ano de 2004, sendo recorde até hoje. As causas para esses tipos de fenômenos vão além de limpeza pública e saneamento do local. Grande parte do problema se dá por conta do alto acúmulo de água na Chapada

Canal do Rio Grangeiro atravessa o centro do município de 130 mil habitantes

se a chuva for forte, mesmo com pouca duração, os riscos de catástrofes são maiores. Para moradores que vivem no entorno do canal, as chuvas deixam de ser uma benção e passam a virar um gatilho que desperta lembranças ruins. Alcy Ximenes, moradora da rua Dom Pedro II há mais de 60 anos, conta que passou por momentos muito ruins nas chuvas que ocorreram anteriormente e que hoje, por conta disso, não é mais a mesma. Nas chuvas de 2011 o portão de sua garagem chegou a romper devido a força da água que vinha do canal e invadiu parte de sua casa. Disse também que a lama que ficou na sua residência chegava a cobrir seu joelho. Para ela, esse foi o momento mais traumático de sua vida. “Se antes eu já tinha medo, daí para frente não consegui dormir durante uma semana. Passava o dia na rua procurando casa para alugar. De lá para cá eu não tenho mais alegria com chuva, não gosto mais de ouvir trovão e nem relâmpago”, relatou. Nova promessa A Prefeitura Municipal, juntamente com o Governo do Estado do Ceará, está em processo de licitação para requalificação do Canal do Rio Grangeiro. O projeto foi feito com a colaboração de especialistas da área hidráulica e geotécnica com intuito de aumentar a vazão do canal de 60 m³ para 140 m³ por minuto, além da criação de duas galerias pluviais que serão feitas na avenida próxima ao rio com 5 metros de largura por 2 metros de profundidade. Segundo o secretário de infraestrutura, Italo Samuel, essas modificações serão uma solução efetiva para os problemas recorrentes no período de chuvas. De acordo com dados disponibilizados pela Prefeitura Municipal, serão investidos R$ 110 milhões e três empresas já apresentaram propostas. O secretário também destaca que a Defesa Civil realiza o mapeamento das áreas mais sensíveis ao período de chuva para fazer o acompanhamento e limpeza desses locais, evitando riscos. “Todos os anos é realizada a limpeza no interior do canal com máquinas pesadas e noutros locais, como na ponte da Vila Lobo e em outros pontos que já há o mapeamento da necessidade de serviços”, afirma Italo Samuel.


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OUTUBRO - 2023

CULTURA

LGBTQIAPN+

Entre luz, luta, cores e corres O preconceito contra a cena drag no Cariri deixa artistas invisíveis aos olhos da população. Ainda existem poucos espaços para a expressão Ryan Evangelista O termo “Drag Queen” ganhou popularidade no Brasil nos últimos anos com famosas como Pabllo Vittar e Gloria Groove, que deram visibilidade à arte performática. No dicionário, drag queen é “homem que se veste com roupas femininas, maquiagem extravagante e gestos expressivos”, mas esse conceito se tornou ultrapassado e a existência e performance drag são mais abrangentes e progressistas atualmente, tornando-se um sinônimo de luta e resistência, principalmente em um país preconceituoso como o Brasil. Todas as pessoas podem fazer o transformismo, independente de gênero ou sexualidade. A arte drag no Brasil foi introduzida nos teatros e shows cariocas e paulistas, performados em sua maioria por mulheres trans e travestis. O primeiro registro da existência drag no país foi em 1958 com Miss Biá, ou Eduardo Albarella, nas noites de São Paulo. Biá enfrentou diversos preconceitos para expressar sua arte, mas conseguiu se consolidar na cena nacional. Quando se pensa em regiões interioranas, como o Cariri, essa expressividade artística é apagada, invisibilizada e marginalizada. Byanca Knowlles, uma drag carismática Fabrício Pereira dedica 9 dos seus 35 anos de vida à arte drag no Cariri. Natural de Juazeiro do Norte, ele trabalha em um ateliê no centro da cidade para sobreviver e custear as “montações” da sua drag Byanca Knowles. A “persona”, como ele reconhece, surgiu como uma forma de externalizar as vontades femininas que já existiam nele. “Como uma válvula de escape”, conta Fabrício. Byanca quis enfrentar o mundo e no início das suas experiências drags passou a frequentar bares héteros. “Eu fui no mais difícil, sempre tinham vaias, chacotas, psius que a gente sabe que não eram de desejo, mas no final da noite esses mesmos homens que vaiaram queriam ficar com a gente”.

Byanca é uma drag performática e sorridente. Fabrício destaca a primeira apresentação que fez no teatro como drag com o ator Silvério Pereira, no Crato. Porém, para ele não há valorização regional com as drags do Cariri. “Eles [os produtores] preferem chamar alguém com nome, não as que já estão aqui”, explica. Ser drag no interior é resistência e luta, de sobreviver no ambiente e de obter os materiais necessários para se montar, que são caros. Apesar das adversidades Fabrício confirma: “Eu pretendo seguir me montando, por amor mesmo”. Há anos a arte drag se difunde na região caririense, em bares e festas, mas não tem reconhecimento regional. As ações de incentivo cultural na região são poucas e autônomas, em sua maioria do segmento privado. Por isso

“Nada nos incentiva a ser drag no Cariri, estamos sempre lutando e isso cansa.” -Byanca Knowlles

é necessário a rebeldia e a vontade de ser das drags para existirem, principalmente as performáticas, que dependem de apresentações e performances. Assim surgiu Nanny Seven. Nanny Seven, a drag do palco Gabriel Diniz, de 24 anos, é estudante de design. Quando criança tinha um alter ego que se chamava “Nani”, usado como uma forma de escapar da realidade. Desde essa época fazia suas apresentações de músicas, que ganhava uma versão à la Nani. Sua primeira montação consciente foi em 2013, como Capitu, na escola católica, em uma peça de teatro sobre Dom Casmurro. “Estava me descobrindo”, relembra Gabriel. O “seven” do nome surgiu da pomba gira de sete saias, entidade da umbanda, além da sua ligação pessoal com o número sete. Assim surgia Nanny Seven, hipnotizante e enigmática. A participação de Nanny na região é assídua, com suas famosas performances da Lady Gaga, mas ela afirma ter começado na rua: “Eu sou o evento”. Atriz e cantora, ela cria suas próprias performances. “Cansa você fazer uma performance, eu escuto a música milhares de vezes, para pegar a batida, um movimento, ajuda a ter uma outra visão”. Gabriel destaca a insuficiência do cachê, porém, para Nanny, o show não pode parar. Como uma caixinha de surpresas, Seven faz agora aulas de canto para não dublar mais. “Isso estendeu o meu tempo de palco, eu estou criando covers”, conta. Ela ressalta a importância de se manter firme e de valorizar a cultura regional, as drags caririenses. “Como somos poucas, somos únicas”. Alguns eventos e festas em ambientes com maior público LGBTQIAPN+ tentam manter viva a cultura drag, como a boate Pride, em Juazeiro, que precisou fechar devido aos boicotes regionais. Com a desvalorização, essas celebrações são suprimidas. Byanca relembra: “Quando tinham festas assim, elas não vingavam”. Nanny Seven (esquerda) e Byanca Knowlles (direita) Foto: Arquivo pessoal. Arte: Emerson Ramon


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PANORAMA CARIRI

CULTURA Audiovisual

Cineclubes ocupam espaços alternativos na região do Cariri Emerson Ramon Toda a região do Cariri conta com apenas um cinema de polo comercial, o Orient Cinemas, localizado no Cariri Shopping, na cidade de Juazeiro do Norte. São seis salas de exibição, duas com telas 3D. A maior sala tem capacidade para 448 pessoas. A maioria dos filmes em cartaz são do circuito estadunidense. Com um catálogo limitado a filmes com um maior apelo popular, o principal lançamento do mês ocupa a maior parte das sessões, tornando às vezes inacessível assistir a outros filmes, que ficam restritos a poucos horários. Com essa precarização surgem alguns cineclubes que buscam expandir o cinema na região, de forma gratuita e em espaços alternativos, com o intuito de trazer não só filmes atuais, como também obras antigas. Estes espaços permitem ao público conhecer filmes novos e de diversos países. Os cineclubes contam com uma programação que segue uma regularidade, em geral semanal e mensal. O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Cariri (CCBNB) promove projetos voltados para esse movimento, abrangendo dois cineclubes. O Cine Café, que funciona no próprio espaço do

Arte: Emerson Ramon

CCBNB, aos sábados, às 17h, além da exibição de filmes, promove o debate sobre cinema ao final de cada encontro. O outro projeto é tocado em Nova Olinda, o Cinema na Fundação Casa Grande, que utiliza o espaço cultural da fundação para a exibição dos filmes. As exibições ocorrem de forma semanal, às sextas e aos sábados durante o período da noite, e ambos têm a divulgação mensal da programação no site e nas redes sociais do CCBNB. Outro espaço alternativo que funciona na cidade de Juazeiro do Norte é o Cine Eldorado, na Cantina Zé Ferreira, que se autodenomina “bar e museu”. O ambiente do cinema se localiza no primeiro andar e conta com as poltronas do antigo Cine Eldorado. As exibições ocorrem às sextas e aos sábados no período da noite. As universidades da região também promovem o acesso ao cinema. A Universidade Federal do Cariri (UFCA) conta com a Corte Seco, revista voltada para o audiovisual que desenvolve o projeto Cine Clube em Rede. A exibição ocorre na última quarta de cada mês, no prédio da ADUFC, localizado próximo à UFCA, mas também são realizadas sessões em outros locais, como a própria Cantina Zé Ferreira. O Terreiro das Pretas, Espaço da Cultura Afro-Nordestina localizado no município do Crato, traz visibilidade para o cinema africano. O Cinemáfrica ao Luar acontece mensalmente, nas noites de lua cheia, o projeto surgiu em conjunto do Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) e do Núcleo de Estudos de Descolonização do Saber (NEDESA).

Kalil Araújo O projeto “Beijos para Johnathann Kiss: comunicação, memória e cultura LGBT no Cariri do final do século XX”, financiado e apoiado pela Universidade Federal do Cariri (UFCA), traz à tona a vida da importante figura cultural e da comunicação de Juazeiro do Norte, Johnathann Kiss. A pesquisa é desenvolvida pelo “NaMídia”, laboratório de estudo e produção de narrativas midiáticas coordenado pelo professor e coordenador do curso de jornalismo Tiago Coutinho Parente. Junto a voluntários e bolsistas, ele vem há dois anos pesquisando e montando uma produção em formato de podcast através das memórias e relatos de pessoas próximas ao biografado. A imagem do Jonathan é muito forte no Cariri. Colunista, comunicador e organizador

de eventos, ele se destacava em tudo que se propunha a fazer. “A melhor palavra que define ela [Johnathann Kiss] é icônico”, afirma Tiago Coutinho. Johnathann Kiss fez história nas revistas e colunas que escrevia, como a “Kariri Moda Fashion Show” ou o “Jornal do Cariri”. “Beijos para Johnathann” é baseado em relatos, entrevistas e em memórias de pessoas que tinham contato direto com ele, “São as lembranças que as pessoas têm dele, a gente trabalha com isso”, afirma Cibele Moraes de Freitas, estudante do curso de jornalismo e bolsista do projeto. O podcast está previsto para ser lançado em dezembro de 2023, com a previsão de 4 a 5 episódios de 30 a 40 minutos de duração cada, o conteúdo do produto não tem enfoque na morte de Johnathann Kiss, mas sim na sua vida, impacto e importância. É uma homenagem ao seu legado e sua representação como figura LGBT no Cariri.

Arte: Emerson Ramon

Projeto da UFCA traz à tona vida e memórias do influencer e colunista Johnathann Kiss


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OUTUBRO - 2023

CULTURA Hip Hop Arte: Emerson Ramon

Eles contam que conseguir patrocínio é complicado, já que muitos não consideram que o evento seja um bom retorno ou que querem os transformar num produto. As batalhas na verdade são feitas por pessoas que gostam de estar ali, que se identificam com a cena, as premiações para os ganhadores são muitas vezes um story no instagram que gera reconhecimento ao MC ganhador, e também uma ilustração como um certificado para levar para casa. As batalhas são feitas por grupos de jovens marginalizados que encontram no local um sentimento de pertencimento, muitos não tinham perspectiva sem ser a vida do crime e encontram ali o sonho de ser um MC famoso. “Quem frequenta quer ouvir ou ser ouvido”, diz Rafael.

A cena das batalhas de rima na região do Cariri Lorhane Santos Emilly Alencar Na década de 1970, nas ruas do bairro Bronx, em Nova Iorque, jovens de origem negra deram um novo impulso e voz a esse novo estilo de expressão cultural: o movimento hip hop, no qual estão inseridas as batalhas de rima. No Brasil, o movimento se popularizou por volta dos anos 2000. Emicida se consolidou dentro desse cenário, vencendo onze vezes consecutivas a batalha de Santa Cruz e por doze vezes a Rinhas dos MC. Outro nome de grande destaque é Orochi, que começou a frequentar as batalhas aos 14 anos. O artista ficou conhecido na Batalha do Tanque, no Rio de Janeiro, e foi conquistando espaço no cenário nacional. No Cariri, as batalhas de rima reúnem MCs locais talentosos para tocar batidas animadas sobre uma variedade de tópicos. Entre os destaques está MCharles, o primeiro cearense a levar o título de vencedor de batalha de rima nacional, em 2019. Além dos exercícios líricos, as batalhas desafiam a cultura hip hop

a mostrar novos talentos e criar um espaço significativo de expressão para os jovens. A música sempre esteve presente na vida de Lukas Gomes Tavares, jovem de 19 anos conhecido por “LS MC”. As rimas e poesias o ajudaram a melhorar a auto estima e o auxiliaram no processo de cura da depressão. Ele acredita que as batalhas servem para jovens se expressarem e aprenderem, fazerem amigos, se ajudarem e dividirem experiências. Segundo o MC, poucos nomes no cenário regional de fato conseguem viver das rimas, a maioria faz apenas por gostar. A batalha da Cascavel acontece todos os sábados, às 19 horas, na Praça do Giradouro, em Juazeiro do Norte. O evento é promovido por Rafael Ferreira, que fica com a produção audiovisual, e por Isac Diniz, que cuida da organização e logística. Eles começaram a conhecer mais sobre o universo das batalhas através de vídeos no YouTube. Quando uma das batalhas de rima que eles frequentavam acabou, sentiram falta do evento de toda semana, e foi então que decidiram se juntar e formar a batalha da “Cascavel”, nome inspirado em uma marca de roupa que ambos tinham, chamada “Snakes”.

Falta de apoio Apesar disso, essa manifestação cultural não encontra apoio da Secretaria de Cultura e enfrenta repressão policial e da comunidade. Os organizadores já ouviram algumas promessas não cumpridas pela secretaria, mesmo que em outros locais da cidade esteja cheio de pessoas bebendo e tumultuando, eles não podem sequer ficar pela praça quando a batalha termina. “A gente sente que está invadindo um espaço que é nosso”, afirma Isac. De acordo com eles, muitos jovens têm medo de ir para as batalhas, pois podem levar um “baculejo” da polícia. Para eles, essa repressão se deve muito ao fato de as batalhas serem uma manifestação de grupos periféricos. O secretário de cultura de Juazeiro do Norte, Vanderlucio Lopes, entende as batalhas de rima como um segmento cultural que nasceu nas periferias e que em algum momento foram tidas como uma manifestação sem muito acesso, porém, que é tão importante quanto as manifestações tradicionais como a música de viola. De acordo com ele, o uso de espaços públicos não pode ter um alvará de funcionamento permanente, o que pode acontecer é uma autorização de uso. Segundo ele, a Secretaria de Cultura não pode fornecer esse alvará, mas pode solicitar à Autarquia Municipal de Meio Ambiente de Juazeiro do Norte (AMAJU) um alvará sonoro de três a seis meses. O Cariri tem se mostrado um terreno fértil para o crescimento das batalhas de rimas, os artistas locais são considerados não apenas regionais, mas também nacionais, indicando que a região possui uma cena forte e representatividade no rap brasileiro. A cultura e os debates que surgem das batalhas de rima são uma forma que a juventude tem de reivindicar o seu espaço e a sua identidade. Essa arte é uma luta profunda, um convite à reflexão sobre a vida, a desigualdade e as mudanças necessárias. Os esforços das batalhas de rima no Cariri vão muito além da música.


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PANORAMA CARIRI

ESPORTE Amistoso

Ídolos do Flamengo se unem em jogo beneficente na Arena Romeirão Foto: João Marcelo Silva

na grande área. O zagueiro camisa 4 finalizou de primeira e a bola morreu no fundo do gol, 3 a 0 para os ídolos do Flamengo. Aos 40 minutos, o torcedor foi ao delírio quando Zico se preparou para bater falta na entrada da área. O camisa 10 tomou distância e chutou, a bola passou pela barreira e parou nas mãos do goleiro Capoeira. A ausência de gols, no entanto, não impediu Zico de sair de campo ovacionado ao ser substituído no fim da primeira etapa. Todo o estádio aplaudiu de pé e gritou em coro o nome do maior jogador da história do time carioca.

Veteranos da equipe carioca venceram o combinado de Icasa e Guarani por 3 a 0

Narliel Oliveira João Marcelo Silva Na noite de 4 de outubro, diversos ídolos do Flamengo entraram em campo na Arena Romeirão, em Juazeiro do Norte, para encarar um combinado entre ex-jogadores de Icasa e Guarani de Juazeiro. A partida contou com as presenças de Zico, Petkovic, Léo Moura, Zé Roberto e vários outros ex-atletas do clube carioca, todos a convite do também ex-jogador Ronaldo Angelim, o anfitrião do evento. O objetivo principal do jogo foi arrecadar fundos que serão destinados à construção de um centro de treinamento para o R4, equipe de futebol feminino que tem Angelim como idealizador. Em uma noite de casa cheia, a Arena Romeirão recebeu mais de 10 mil torcedores de diversas cidades do Ceará, com camisas de vários times unidos pela paixão do futebol, que ultrapassa qualquer sentimento de clubismo. O torcedor vascaíno Willian Freire foi acompanhar o sogro, mas também saudar Zico: “O maior ídolo do Vasco é o Roberto Dinamite, que foi o melhor amigo do Zico, então, vim aqui para prestigiar”. Willian ainda ressaltou que o evento é um momento que não existe nenhum sentimento de rivalidade, e que futebol não é para separar, mas sim, para unir as pessoas.

Na festa em que os olhos estavam voltados para os ex-jogadores do rubro-negro carioca, os torcedores de Icasa e Guarani também puderam matar a saudade de rostos conhecidos. Destaque para a participação do camisa 7 do Verdão, Nicácio Facundo, ex-Icasa e Botafogo da Paraíba, e o único jogador em campo a vencer o Flamengo de Zico no Campeonato Brasileiro de 1980, em pleno Maracanã. Como foi o jogo O pontapé inicial foi dado pela maior atração da noite, Zico. O eterno Galinho de Quintino provocou gritos da torcida toda vez que tocou na bola. Logo aos quatro minutos de jogo, Zé Roberto roubou a bola no meio campo e partiu em contra-ataque. O camisa 11 achou Obina na direita, que cruzou nos pés de Petkovic, o sérvio dominou e finalizou rasteiro para abrir os trabalhos e enlouquecer os mais de 10 mil torcedores presentes na Arena Romeirão. Os ídolos do Flamengo seguiram pressionando, e aos 14 minutos, o lateral esquerdo Juan tabelou com Zé Roberto e ficou livre para chutar e ampliar o placar para 2 a 0. Um minuto depois, o combinado Icasa e Guarani teve oportunidade de diminuir a desvantagem após o árbitro marcar pênalti. Nicácio foi para a cobrança, mas desperdiçou a oportunidade e isolou por cima do gol. O primeiro tempo seguiu com oportunidades de ambos os lados, até que na marca dos 36 minutos, Juan cruzou rasteiro e encontrou Angelim

No segundo tempo, após várias substituições, as equipes até tiveram oportunidades de mudar o marcador, mas o 3 a 0 se manteve até o fim dos 90 minutos e confirmou a vitória para os ídolos do Flamengo. Para o torcedor flamenguista que foi à Arena Romeirão na noite do dia 4 de outubro de 2023, foi a oportunidade de prestigiar ícones que marcaram época no passado com a camisa rubro-negra, como o caso de José Maximiliano Tavares, morador do Crato, que nunca havia ido a uma partida do clube: “Para mim foi uma experiência única, ver Zico, Pet, Léo Moura, todos esses que fizeram história, com certeza é uma lembrança que vai ficar marcada pro resto da vida”. Em busca de receitas A Arena Romeirão é a mais moderna do interior do Nordeste. Com um investimento de mais de R$ 80 milhões, o estádio tem sido palco das principais competições do estado do Ceará, sendo principalmente utilizada pelos clubes de Juazeiro do Norte: Icasa e Guarani. Inaugurada em março de 2022, a Arena tem chamado atenção por sua estrutura moderna e por ser palco de jogos do Campeonato Cearense e da Taça Fares Lopes. Entretanto, desde sua reinauguração, o Romeirão recebeu menos de 30 jogos das equipes profissionais da região do Cariri, que estão sem calendário desde julho deste ano, após o fim da Taça Fares Lopes. A Federação Cearense de Futebol (FCF) tem trabalhado para manter a Arena em relevância e impedir que o Romeirão caia em desuso. Este ano, a FCF, em parceria inédita com o Governo do Estado do Ceará, realiza jogos das equipes de base dos clubes da região. Além dessa iniciativa, pela primeira vez desde sua reinauguração, o Romeirão recebeu o Clássico-rei entre Ceará e Fortaleza no sub-20, que decidiu o título do Campeonato Cearense, além de jogos do Campeonato Feminino sub-17.


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OUTUBRO - 2023

ESPORTE Cariri

Foto: Reprodução Instagram / Felipe Orita

Juasal ajuda a consolidar futebol feminino no Ceará

a equipe adulta. A treinadora salienta que o maior desafio é desenvolver um trabalho com os jovens talentos devido à falta de estrutura necessária, mas, mesmo diante do desafio, consegue identificar garotas com grandes potenciais. Segundo ela, o time não busca somente as conquistas desportivas, mas também, proporcionar a essas jovens aprendizaAlice Maia do de princípios que o esporte oferece como Larissa Káren ferramenta social e educacional para a vida. A atleta da categoria adulto, Luciana Nunes, que está no Juasal há oito anos, mora A equipe feminina de futebol e futsal Juasal em Crato, mas vai até Juazeiro do Norte para treinar e competir. Ela ressalta a falta de inEsporte Clube se destaca em campeonatos na região do Cariri. O time foi idealizado em 2014 centivo público ao futebol feminino e fala da importância de valorizar as mulheres nos pela ex-atleta profissional de futsal Elizabete esportes. A escolha de jogar no Juasal ocorFerreira Matias com o intuito de fomentar a re devido à oportunidade de ter competição modalidade na região. Formada em Educação para disputar, elenco, estrutura e carregar o Física, ela saiu de Juazeiro do Norte para se nome do Cariri para o restante do estado. formar na capital do Ceará e, ao retornar, conMesmo com todos os desafios enconseguiu formalizar a equipe em julho de 2022. Elizabete, que também treina a equipe, des- trados para manter o time de futebol e futsal feminino, as meninas conseguem participar de taca a falta de visibilidade e apoio. O futebol e campeonatos e representar a região. Durante o futsal são modalidades que ficaram marcadas a sua trajetória, a equipe conseguiu diversas no Brasil pelo gênero masculino, diferentemenoportunidades de disputar campeonatos da te do que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, onde é comum a prática desportiva por região. Entre as conquistas estão o bicampeonato da Taça das Favelas (etapa Cariri) em 2022 mulheres. A desconstrução da imagem sobre e 2023, que garantiu vaga na etapa estadual; as modalidades acontece com a evolução que o time tem proporcionado, as conquistas e os o bicampeonato da Copa 21 de Junho (Crato/ títulos são armas para o fim do preconceito. CE) em 2022 e 2023; e 2º lugar no CampeO Juasal E.C possui categorias de base e onato Cearense de Futsal Sub 20 – 2017.

Equipe 10K representa o Cariri no mundo João Marcelo Silva

Quem frequenta o universo das provas de atletismo pelo Cariri nos últimos anos tem testemunhado cada vez mais a presença de corredores de um mesmo grupo nos pódios e premiações. O tradicional uniforme vermelho já virou a identidade desses atletas, e é praticamente impossível haver uma prova na região em que não se tenha a participação de ao menos alguns desses corredores. A ‘Equipe 10K’, projeto que ganhou vida a partir do professor Marcos Ribeiro, hoje coleciona conquistas e histórias de superação que ultrapassam até mesmo as fronteiras do país. Tudo começou em 2016, quando Marcos, que é formado em Educação Física, iniciou os treinamentos voltados para a corrida de rua com mais sete amigos, a proposta se de-

senvolveu e o que era apenas um grupo de amigos próximos, hoje já são 55 atletas cadastrados e ativos na equipe, sendo 42 homens e 13 mulheres. Entre os que mais se destacam, está o corredor Cicero Evandro Ferreira. Evandro começou a correr há nove anos por influência de um colega e acabou se descobrindo como atleta. O sucesso na modalidade foi tanto que, no ano passado, ele teve a primeira experiência em uma prova fora do Brasil ao completar a Meia Maratona Internacional de Buenos Aires com o tempo de 1h05’40”, o que lhe rendeu o 34º lugar geral e a 5ª colocação entre os brasileiros: “Foi uma experiência muito boa, consegui um tempo bom, ficar entre os cinco melhores brasileiros. Para mim, foi um sonho realizado, porque eu não esperava um dia competir fora do Brasil.” Após a Argentina, Evandro teve a oportunidade de correr na Europa, com destaque para a Maratona de Sevilha,

onde conseguiu estabelecer sua melhor marca pessoal na distância de 42 km, com 2h23’40”. Em solo brasileiro, Evandro foi o primeiro colocado geral na Maratona de Salvador, em setembro deste ano. Para Marcos, o segredo do sucesso de seus atletas está na interação e motivação entre o grupo: “A equipe 10K vem crescendo bastante, temos uma visão de saúde e qualidade de vida. O desempenho vai melhorando mediante aos treinos programados, o pessoal interage muito mesmo, somos uma equipe que tem atletas de várias cidades do Cariri e nos reunimos em grupos específicos no início e no fim do dia, alguns atletas treinam sozinhos, mas a maioria treina em grupo, sempre na parceria.” O treinador ainda ressaltou que a equipe segue focada nos próximos objetivos, e confirmou que haverá atletas largando no pelotão de elite na tradicional Corrida de São Silvestre, que acontece no dia 31 de dezembro.


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PANORAMA CARIRI

ESPORTE Série B

Icasa e Guarani traçam meta de retorno à primeira divisão do futebol cearense Victor Kauã João Marcelo Silva

Em 2023, por exemplo, o orçamento mensal do Icasa foi de R$ 90 mil para disputar o acesso à Série A do Campeonato Cearense, a Série D do Campeonato Brasileiro e a Taça Fares Lopes. Considerando que o Verdão terá um calendário mais curto e menos competitivo na próxima temporada, o valor orçamentário que o clube receberá é incerto, mas desde já preocupante. A mentalidade do futebol no Verdão do Cariri aos poucos vem sendo reestruturada. O futebol de base ganhou novas categorias para o processo de transição ao incorporar os atletas juvenis no elenco principal, as condições do CT melhoraram, a comissão técnica foi reformulada e houve também um acréscimo de profissionais que reforçam o esforço do clube para competir no ano que vem.

mas judiciais no elenco ao ter dois jogadores afastados pelo Tribunal de Justiça Desportiva do Ceará, por suspeita de envolvimento em esquemas de apostas. Como primeiro passo para a temporada 2024, o Leão realizou uma assembleia no dia 18 de setembro que resultou na reformulação de toda a diretoria da equipe. O novo presidente, José Ivan, comentou em entrevista ao canal “Replay com Toni Souza”, sobre a necessidade de organizar as contas do clube antes do início da próxima competição: “Primeiro objetivo nosso é reestruturar o time, buscar organizar um montão de coisas que estão desorganizadas, principalmente a estrutura financeira, para quando chegar a disputa da Série B, estarmos com uma saúde financeira que nos permita disputar um campeonato sem proble-

mas, a captação de recursos é o objetivo principal.” Também em entrevista ao jornalista Toni Souza, o presidente do Conselho Deliberativo, Breno Tavares, deu detalhes de como o Guarani pretende buscar essa saúde financeira. Ele afirma que até novembro, o objetivo é conversar com patrocinadores, apoiadores e torcedores, e realizar eventos para arrecadação de recursos. Quando o clube tiver conhecimento do valor disponível em caixa, o trabalho será iniciado primeiramente com a base, e depois com a equipe profissional. Após um ano conturbado, tudo indica que o caminho até as próximas conquistas e bons resultados do Leão não deve ser fácil, mas o clima de novidade gerado pela recente troca de gestão fez renascer o sentimento de esperança no coração do torcedor rubro-negro.

Foto: Reprodução/Instagram

Após um 2023 aquém das expectativas iniciais, os dois clubes de maior tradição em Juazeiro do Norte começam a se movimentar para a temporada 2024. Icasa e Guarani já realizam as primeiras ações tendo em vista o próximo ano, quando o principal objetivo será o retorno à elite do futebol cearense. O Verdão do Cariri disputará a Série B do estadual pelo segundo ano consecutivo após não conseguir o acesso à primeira divisão. Já o Leão do Mercado retorna à segunda divisão após ser rebaixado nesta temporada. O diretor executivo de futebol do Ica-

sa, Fabiano Rodrigues, aposta no processo de reconstrução para 2024. Apesar da situação econômica complicada e a dificuldade para conseguir patrocínios, Fabiano entende que o futuro é incerto, mas pensa no resultado deste processo ao longo do tempo e apela à torcida: “É preciso apoio incondicional para o ano que vem”. Com a queda do técnico Flávio Araújo, o clube segue sem um treinador. O Verdão do Cariri disputará no próximo ano a Taça Fares Lopes e novamente a Série B do Campeonato Cearense. O clube se encontra sem uma divisão para disputar o Campeonato Brasileiro. A torcida do Icasa pressionou e protestou quando o acesso à elite do futebol cearense não veio. “Quem acha que o acesso é obrigação, deveria dar as mãos à gente aqui”, afirma o diretor.

Guarani busca apagar mau desempenho e goleada histórica Já para os rubro-negros, reestruturação é certamente a palavra que mais define o cenário atual do Guarani. Após ser campeão do Campeonato Cearense Série C em 2021 e da Série B em 2022, o Leão do Mercado teve uma temporada complicada em 2023, não conseguiu se manter na elite do estadual e foi eliminado na primeira fase da Taça Fares Lopes, após três derrotas em três jogos. Na partida contra o Pacajus, por exemplo, o time juazeirense foi a campo com apenas nove atletas escalados e acabou sendo goleado por 12 a 0. Além disso, o clube também vivenciou proble-


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