Um Convite à Reflexão

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Um Convite à Reflexão Interpretações da Vida Ivenio Hermes

2013


Um Convite à Reflexão Interpretações da Vida Ivenio Hermes

2013

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Copyright © 2013 by Ivenio Hermes Todos os direitos desta edição reservados ao autor Capa Aramis Fraino Imagem de Capa Aramis Fraino Revisão Sáskia Sandrinelli Editoração Sáskia Sandrinelli Ivenio Hermes Poesias Alberto Busquets

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Hermes, Ivenio Um convite à reflexão : interpretações da vida / Ivenio Hermes. – 1 ed. -- Natal : Ed. do Autor, Hermes, 2013. CDD-363.10981 1. Contos brasileiros 2. Crônicas Brasileiras 3. Poesia brasileira I. Título.

13-04960

CDD - 869.93 - 869.91 Índices para catálogo sistemático: 1. Contos : Literatura brasileira 869.93 2. Crônicas : Literatura brasileira 869.91 3. Poesias : Literatura brasileira 869.91

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SUMÁRIO PREFÁCIO .............................................................................8 "Nada é fácil". ........................................................................8 RELATOS ............................................................................. 10 Espera, por Alberto Busquets ............................................... 10 Amigo, por Alberto Busquets ................................................ 10 1. Sete Horas .......................................................................... 11 2. Reflexões Sobre a Amizade Verdadeira ............................ 15 3. Bom Cabrito Não Berra .................................................... 18 4. Os Pássaros Precisam Voar ............................................... 22 5. Dia De Pais e De Filhos .................................................... 25 6. Aprender a Deixar Partir ................................................... 30 7. Não Vou Lutar Contra o Que Eu Sinto ............................. 32 8. Bons e Maus Bocados ....................................................... 38 9. De Volta Aos Mestres ........................................................ 43 10. Feliz aniversário, com significado de Natal! ................... 48 11. O Dia Em Que Acordei .................................................... 53

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12. Nosso Universo Interior .................................................. 58 13. Amigos Distantes Ou Amigos Mesmo Distantes ............ 63 14. Cruzamentos .................................................................... 67 PARÁBOLAS ........................................................................ 74 Parábola, por Alberto Busquets ............................................ 74 1. O Último Encontro ............................................................ 74 2. Outros Josés: Histórias Semelhantes ................................ 77 3. Fábula Do Passado… Realidade Do Presente .................. 82 INTERPRETAÇÕES ............................................................ 87 Interpretação, por Alberto Busquets ..................................... 87 1. Salmo 70: Algumas Reflexões Sobre o Salmo De Davi. .... 88 2. Quando Deus Nos Responde............................................ 90 3. O Deus Das Diversidades ................................................. 92 4. A Fé Genuína ..................................................................... 97 5. A Depressão e o Desânimo ............................................. 102 6. O Amor Que Queremos Ofertar ...................................... 106 7. Fé Em Tempos De Paz ................................................... 108


8. Respeito: Quando o Amor Vai Além ................................114 9. O Infinito Ciclo da Vida ...................................................117 10. A Lua da Páscoa............................................................. 120 TEXTOS ADICIONAIS .................................................... 123 Religare, por Alberto Busquets ........................................... 123 1. Sua Presença No Último Momento ................................. 123 2. Novos Heróis da Honestidade ........................................ 125 3. As Vias Do Amor ............................................................. 129 4. A Constante Mudança ..................................................... 132 5. A Reconquista.................................................................. 136 6. Dia Internacional Da Mulher 2013 .................................. 140 CONFISSÕES FINAIS ..................................................... 148 Confissão ............................................................................. 148 Hemorragia ......................................................................... 148 BIOGRAFIA ....................................................................... 149


Dedico esse livro ao meu Grande Deus, o Supremo ser criador e mantenedor do Universo. Foi Ele quem me deu inspiração para escrever cada boa palavra e as palavras não tão boas são de minha inteira responsabilidade. Ao meu pai Ivenio, cujo convívio me deu os maiores exemplos, do qual herdei o nome e muitas outras coisas. Se hoje ele ainda estivesse vivo, teria 83 anos de idade. (In memoriam) Aos seres humanos maravilhosos que dedicam o carinho de lembrarem uns dos outros em suas preces e outras formas de manifestação de fé, que se apoiam mutuamente nos bons e nos maus momentos, que se preocupam com o bem estar umas das outras. São pessoas assim, que verdadeiramente se preocupando umas com as outras, tornam nosso mundo um ambiente mais agradável de viver.


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PREFÁCIO "Nada é fácil". Talvez uma das frases da sétima arte que mais me marcaram, com seu poder impactante de simplicidade, objetividade e abrangência titânicos. Realmente, "nada é fácil": conclusão a que chega a personagem Katarina Bilova, interpretada por ninguém menos que Geraldine Chaplin, ao final do filme Fale com Ela (Hable con Ella, 2002, de Pedro Almodóvar) após todo o desenrolar das tramas ali mostradas. Na singeleza do comentário, um continente de informações, sentimentos e expectativas. A personagem, talvez, poderia ter dito mais; porém a atriz eloquentemente demonstrou em sua atuação todos os significantes que transbordavam essas meras três palavras. Ali encontrei a prova pessoal do que tantos já expuseram, sobre a efemeridade dos símbolos escritos em contraste com a eternidade dos sentidos. Trabalhar com um idioma é quase como uma alquimia: somos obrigados muitas vezes a extrapolar o "cientificismo" e nos aventurar em zonas cinzentas de pisada incerta - depósitos quase místicos de desejos e receios confusos para a razão, mas muito significativos para o coração do leitor (ou a alma, se preferirem). O escritor desbrava e não raramente se perde. Ossos do ofício: "nada é fácil". Ao compreender a luta, seu resultado fica mais saboroso. Pelos motivos já descritos e por muitos outros, sinto-me muito honrado em apresentar com algumas linhas a obra que o leitor tem nas mãos. Ivenio Hermes dispensa grandes apresentações, por ser autor de vários livros, ter um blog respeitadíssimo e ser, antes de

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tudo, um lutador multitarefa, lutando em diversos fronts de maneira concomitante. Ivenio Hermes é um alquimista, por conseguir desdobrar o tempo a seu favor, escrever com maestria e desenvoltura sobre diversos temas, manter o hábito do estudo (confesso que não acredito em pessoas "estudadas", mas sim "estudantes"), e ainda não olvidar de sua família e seus amigos. Por fim, é mais uma personificação do tema inicial deste texto, demonstrando mais uma vez que a dificuldade é patente, palpável e ultrapassável. Nada é fácil. O cansaço muitas vezes nos ronda. No entanto, como leitor, ao me deparar com criações e textos como os do Ivenio, arrisco uma "pós-conclusão": Nada é fácil. Ainda bem.

Alberto Busquets1

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Alberto Busquets é professor, advogado, orientador do Núcleo de Prática Jurídica Prof. Jalles Costa, além de outros dados de uma carreira profissional de sucesso. Para mim, além disso, o Prof. Busquets se tornou um símbolo para meus escritos além da paleta jurídica. Suas poesias encantam a mim e ao público, e nesse livro, tenho a honra de ter sua poesia e suas palavras dando um brilho especial aos meus textos.

Ivenio Hermes

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RELATOS Espera, por Alberto Busquets Olho pela janela: "Espera!" Digo à forte tormenta Que venta Em inesgotável agonia Esfria Do chuvisco a enchente Pressente Trânsito em caos anda lento E o tempo Acima do carro ilhado Molhado Devolve-me o apelo Em zelo Ou sarcasmo vocifera: "Espera!" Amigo, por Alberto Busquets Do amor Ao medo Em amado Abrigo Muda a dor Vai cedo Esperado Amigo...

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1. Sete Horas Ontem foi um dia inusitado na minha vida. Tive dor no estômago durante o dia e não via a hora de poder voltar para casa e descansar um pouco. Mas precisei trabalhar até um pouco mais e sai do trabalho às 17h30m. Em menos de 10 minutos depois eu estava na Av. Brasil, uma das mais movimentadas vias de trânsito rápido do Rio de Janeiro, preso no maior engarrafamento que já vivi em toda minha vida. Meu relógio marcava 17h40m quando ouvi pela rádio Band News que o Av. Brasil estava debaixo d’água, uma tempestade sem precedentes caía e os alagamentos impediam os carros que se moviam em direção ao centro da cidade… o trânsito deixou de fluir, a forte chuva e ventos acelerados impediam que se vissem os carros que transitam a poucos metros à frente… e de repente, o trânsito parou completamente. Os motoristas desligaram seus veículos para economizar combustível, pois como nada se movia não adiantava permanecer com os motores ligados. Nesse momento eu percebi que me encontrava bem diante da Penha, próximo de uma das favelas violentas conhecidas pela população carioca, um lugar que todos sabem que em situações assim se tornam propícios para assaltos e coisas do tipo… como policial, estando sozinho naquela situação de não poder ir e vir, a quilômetros de distância da minha casa, senti um temor me envolver. Quando temos tudo sob controle em nossas vidas é muito fácil mantermos a fé… geralmente pensamos que é nossa fé que nos mantém, mas é apenas a segurança que temos em nossas próprias capacidades… entretanto, ali no meio daquela situação… chuva [ 11 ]


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torrencial, ventos fortes, carros parados na frente, atrás e dos lados e inserido num cenário de perigo, a fé que temos em nossas capacidades se esvai… 19h30m e eu estava ali parado na segunda faixa de trânsito logo ao lado da faixa seletiva de ônibus, e percebi que a água começava a subir de nível, minha mente analítica imediatamente percebeu e fez cálculos automáticos… percebi que se a chuva continuasse naquele fluxo havia fortes chances das águas que começavam a inundar a pista atingir o motor do meu veículo… percebi os motoristas desesperados começarem a manobrar na pista, aproveitando o espaço mínimo que havia entre os veículos, para mudarem de faixa de trânsito, em busca das faixas de nível mais alto para fugir da inundação. Fiz uma oração a Deus, senti meu coração se encher de temor e orei pedindo livramento… liguei para meus familiares para pedir oração e apoio e começou um grande corrente de oração por mim. Confesso que minha voz estava diferenciada pelo temor, mas tentei disfarçar isso o máximo que pude para não deixá-los atemorizados. Alguns minutos se passaram e notei que um homem descera do carro, estava dois carros à minha frente, seus pés afundaram na água até o meio da canela… a água já chegava quase ao meio do pneu do carro dele. Abri a janela e perguntei se ele estava bem, ele estava nervoso e me respondeu que o carro dele estava balançando, falei para ele que eram as ondas provocadas pelos ventos e que estavam fazendo isso e ele voltou para dentro de seu carro. Motociclistas estavam parados ali também, pois a movimentação dos veículos em busca das partes altas da via tornaram impossível qualquer meio de escape para os coitados que ainda tinha que lidar com o frio da chuva e sujeira daquela água de vinha de todas as partes.

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O motorista do ônibus ao meu lado se moveu em marcha ré enquanto o da frente se moveu adiante abrindo um espaço para eu ir para a faixa mais alta ainda, a seletiva, vi pela janela do meu carro que o motorista do ônibus gesticulava para eu entrar naquele espaço e quando fiz isso, liberei espaço para outros veículos. Orei novamente, aliás, eu orei muito que nem sei dizer quando eu estava ou não orando, mas dessa vez orei mais incisivamente e assim que acabei percebi que a água já estava na minha porta, entretanto, isso não me desesperou, ao contrário, eu tive uma sensação de paz incrível, percebi de alguma forma que Deus estava comigo e que nenhum mal me aconteceria… orei pelos motociclistas, pelas pessoas que estavam caminhando por dentro daquela água imunda, vi um motorista sair do seu carro e abandonar o veículo indo não sei para onde… uma ventania forte começou a soprar e os veículos que estavam nas faixas de trânsito a minha direita começaram a se mover flutuando pelas águas, colidiram entre si, uma senhora gritou por socorro, e lembrei: “mil cairão ao teu lado e dez mil a tua direita mas tu não serás atingido”. Pedi a Deus que ninguém sofresse ali, não queria ver ninguém sofrendo. Recebi diversas ligações de pessoas preocupadas com a minha situação, mas toda conversa acabava em conforto, pois eu realmente não sentia mais nenhum receio. Desliguei a Band News e coloquei um CD de música evangélica e passei a cantar, comecei a louvar o Senhor e mais paz ainda me inundou o coração, não tive mais medo nenhum embora visse o nível da água subir cada vez mais… Liguei meu laptop e o MSN para conversar com quem estivesse conectado. Ligue a webcam para meu filho ver a situação e conversei com ele e alguns outros amigos por alguns minutos,

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aquilo me distraiu e vi quando a chuva enfraqueceu por uns minutos e as águas baixaram. O motorista que saltara antes do veículo agora estava de novo do lado de fora, nervoso… chamei-o pela janela do meu carro e o convidei para entrar, ele entrou e perguntou sobre aquela música, falei para ele do amor de Deus e ele disse que era evangélico, mas que estava apavorado, falei para ele que eu era Adventista do 7º Dia e que estava ali falando no MSN com amigos e cantando, pois confiava na libertação do Senhor… ele disse que estava apavorado, que era fuzileiro naval oriundo de Natal, Rio Grande do Norte e disse que estava temendo assalto, pois estava com sua arma e uniforme dentro do veículo e se fosse assaltado ele poderia ser morto pois era esse o tipo de história que ouvira falar de bandidos no Rio de Janeiro. Falei amenidades com ele, o convidei para orarmos e assim o fizemos. Ele pareceu ficar calmo e ficamos alguns minutos ali escutando música e louvando ao Senhor. 23h07m quando o nível da água baixou o suficiente para nos movermos. Mais de cinco horas parado… Começamos a nos mover, mas em menos de três quilômetros, novamente o trânsito parou. Fiz uma nova oração e quando abri os olhos vi dois homens armados com fuzis passando bem do meu lado. Passado o susto inicial percebi que eram policiais e que estavam tentando ajudar o trânsito a fluir. Eles tomaram uma atitude inteligente colocando os veículos maiores para a parte mais funda da pista inundada e os veículos menores para a parte rasa. Isso fez o trânsito fluir, lento devido a dezenas de carros enguiçados, mas fluiu. Logo começamos a nos mover, só a bênção de Deus poderia nos ajudar ali, os veículos maiores provocavam ondas que faziam os veículos menores quase flutuarem… mas a mão poderosa de Deus

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guiou a mim e aos motoristas que estavam diante de mim até conseguirmos passar por aquele mar sobre o asfalto… Consegui chegar à ponte Rio-Niterói em segurança, mas ao tentar chegar em casa percebi a inundação e sai desviando por diversas ruas até chegar em segurança na minha casa. Entrei no meu apartamento sete horas depois que iniciei meu retorno para casa, mas cheguei em segurança graças ao Senhor Deus. Senti o poder da corrente de oração que meus entes queridos fizeram por mim, senti a paz e a tranquilidade que só o Senhor Deus pode nos dar diante de situações que realmente nada podemos fazer. Hoje pela manhã eu novamente agradeci a Deus, pelo conforto e a segurança de estar na minha casa, pela segurança e proteção que Ele me deu. Texto escrito no dia seguinte ao temporal do dia 4 de abril de 2010, que trouxe caos ao Rio de Janeiro.

2. Reflexões Sobre a Amizade Verdadeira Quem é nosso amigo de verdade. Era uma sexta-feira comum quando meus filhos e minha então esposa perguntaram quantos amigos verdadeiros eu tinha… Não fiquei constrangido, pois eu já sabia e sempre mantive comigo essa noção de quem era meu amigo ou não. Para chegar a essa conclusão lembrei-me dos sábios conselhos de meu pai, um homem comedido e que evitava incomodar, quando ele estava na minha casa nem parecia estar presente, pois ele “não

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ocupava espaço”, aliás, essa afirmação está entre aspas para lembrar que quem definiu meu pai assim não fui eu e sim o único genro que era outro filho dele. Enfim, meu pai dizia que amigo não é aquele que vive na casa do outro ou que está sempre perto, amigo era aquele que está à disposição quando você precisa dele. Ciente do conselho paterno, lembrei-me do tempo em que eu morava em Brasília e ocupava um cargo de destaque. Naquele tempo eu recebia ligações diárias de “amigos” de todo o Brasil, em ocasiões festivas eu recebia mais ligações ainda, e-mails, cartões, enfim, um show de demonstração de amizade. Mas esses “amigos” e outros que apareceram no meu caminho depois, nos diferentes lugares por onde passei, eram como uma fumaça que se dissipa e outros, ainda piores, eram inimigos que estavam diante de mim e da minha família apenas para me usarem e me traírem. Um dia, eu estava passando por uma situação difícil, morando só lá em Brasília e nenhum amigo pôde me acudir. Recorri a certa amiga, minha querida irmã mais velha (Minha Filha), que sem pestanejar, usou todos seus recursos para me ajudar. Foi nessa ocasião que percebi que meus amigos eram meus parentes. Decidi sair de Brasília para ficar próximo de minha família e larguei cargo, larguei status e tudo mais em busca de um convívio verdadeiro. Diariamente estou redescobrindo que ainda tenho outros amigos fora do seio familiar. Durante esta semana duas pessoas me escreveram, nenhuma delas tem o menor interesse em mim, pois não ocupo posição de destaque, não tenho nada que seja interessante, nem materialmente falando, nem status, nem qualquer influência que possa despertar alguma aproximação duvidosa. Essas pessoas são especiais na minha vida, na de meus filhos e familiares. Preocupam-se gratuitamente com nosso bem-

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estar e estão sempre buscando nos motivar para o bem e para a vitória. Portanto, para você cuja experiência de vida é parecida com a minha, ou que se sentiu tocado de alguma forma por essas palavras, deixo aqui algumas mensagens do nosso Deus: Provérbios 17:17 “O amigo ama em todo o tempo; e para a angústia nasce o irmão.” João 15:15 “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos dei a conhecer.” 2 Timóteo 2:22 “Foge também das paixões da mocidade, e segue a justiça, a fé, o amor, a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor”. Filipenses 2:3-4 “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas com humildade cada um considere os outros superiores a si mesmo; não olhe cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros”. Provérbios 16:28 “O homem perverso espalha contendas; e o difamador separa amigos íntimos”. Provérbios 27:9-10 “O óleo e o perfume alegram o coração; assim é o doce conselho do homem para o seu amigo. Não abandones o teu amigo, nem o amigo de teu pai; nem entres na casa de teu irmão no dia de tua adversidade. Mais vale um vizinho que está perto do que um irmão que está longe”. Provérbios 27:6 “Fiéis são as feridas d’um amigo; mas os beijos d’um inimigo são enganosos”. Que o grande Deus, o maior e mais verdadeiro de todos os amigos, e que motiva outros a se unirem em amizade, possa estar

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aí no seu lar, nesse dia, trazendo discernimento para você identificar os amigos reais e te fazer um amigo sincero para outrem.

3. Bom Cabrito Não Berra A Arte de Suportar Resignado

E por falar em mestres Hoje é uma oportunidade ímpar de falar de mestres, e por “mestres” entende-se estar falando de pessoas tanto do sexo masculino quanto do feminino. Mestres passam nessa terra deixando sua marca indelével na vida daqueles a quem puderam compartilhar seu conhecimento e sua sabedoria.

Meu pequeno mestre Meu grande mentor nesta terra foi uma das pessoas mais sábias que já passaram por aqui, não somente segundo minha opinião, mas na de diversas pessoas que tiveram a oportunidade de conhecê-lo. Entretanto, não se engane, hoje não falarei do Grande Mestre, mas falarei de um pequeno, que caminhou nessa terra por 77 anos e em determinado dia avisou: vou partir. Assim, de súbito, passou a informação aos seguidores para que esses tivessem tempo de ligar, visitar ou pelo menos enviar um recado para ele antes que ele partisse.

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Era assim o procedimento desse pequeno mestre, não gostava de incomodar e nem para ir embora pensou duas vezes antes de fazer isso com alguém. Nas palavras de um de seus amigos – isso mesmo, amigos, pois ele não fez discípulos nem seguidores – “ele era uma pessoa que não ocupava espaço”, pois sua presença era suave e se não houvesse atenção, poderia nem ser notada. Aliás, ele jamais aceitaria ser chamado de mestre, e hoje eu até o desrespeito, mesmo diante de toda a deferência que ele mereça, ao chamá-lo assim. É por uma boa causa, entretanto, que faço isso, e sei que seus outros “amigos” não me censurarão por isso. Quem teve a chance e a aproveitou, – é verdade, como todo mestre, muitos não aproveitaram a chance de beber das águas de sabedoria que vertiam dele – aprendeu com ele sobre honra, honestidade, respeito às ideias alheias, fidelidade, e muitos outros ensinamentos que ele passava com seu exemplo.

Uma arte para nossos dias De seus ensinamentos, um dos que mais me custa a seguir é a arte de suportar resignado. É a arte de exteriormente parecer imóvel e impassível diante de certas situações da vida, internamente, no entanto, sem se deixar levar pelas emoções ou intempestividade, procurando soluções duradouras. Há muito tempo fiquei observando esse grande sábio e filósofo da arte de viver que muitas vezes precisamos suportar as vicissitudes da vida de forma tranquila e observadora, que algumas pessoas confundem com passividade, mas que de fato é uma estratégia de convivência para tomar atitudes mais coerentes no momento adequado.

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Estando num problema que parecia impossível de ser resolvido prontamente, ele respirava fundo, num exercício de autocontrole, buscando uma fé no Grande Mestre que somente ele tinha, parecia que nem tinha emoções… Quando ele emergia do sufoco, vinha com a nobreza de uma decisão firme, uma atitude corajosa ou uma opinião bem fundamentada. Mas ele nunca impunha nada. Dava a opinião dele e se concordassem ou não com ele, pouco importava para a continuidade da amizade. Era um aspecto incrível do caráter dele, não importava o argumento, quão acirrada era a controvérsia, ele sempre fazia questão de dizer que o melhor conselho estava dentro das pessoas, usando uma fala célebre dele: nossa cabeça é o nosso guia.

Partir foi preciso Um pouco antes da partida dele, eu me vi dizendo não queria que ele fosse ainda, mas ele se voltou pra mim e disse: “Filho, já cumpri minha missão aqui…” e terminou citando um versículo bíblico que segue comigo todos os dias da minha vida: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.” (2 Timóteo 4:7-8) Não tive como argumentar com ele. Na madrugada de um sábado dia 7 de abril, meu pequeno mestre partiu. Quinze dias antes avisou silenciosamente a todos os seus

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amigos e deitou na cama de um hospital, vítima de um câncer e falou calmamente para sua filha e amiga, que não aceitava sua partida iminente: “deixe-me ir, preciso descansar, e você precisa também…”. Todos os que sofrem com a ausência do senhor Ivenio Hermes, de quem herdei o nome além de outras características, sempre se lembram de sua forte presença. Sinto uma saudade imensa daquele pequeno mestre, amado pai, que foi embora levado pela morte causada pelo câncer.

A falta que faz Ainda não consegui aprender a arte do pequeno mestre, ainda estou tentando, e tento muito, mas em certas ocasiões parece impossível. Em momentos como esse que me falta ter aprendido a arte de suportar resignado, pois é quando mais preciso dela, pois não há nada que eu possa fazer para tê-lo aqui comigo agora. Há cinco anos, nessa data, é quando mais sinto falta desse aprendizado. Mas durante todos os dias do ano, quando me vejo diante de algo que não posso intervir e nem falar, lembro-me das palavras do meu pai quando fazia alusão à sua arte: “Bom cabrito não berra”.

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4. Os Pássaros Precisam Voar Convivência Familiar e o Ninho Vazio.

Tempos Modernos Nossos ritos sociais modernos dificilmente abrangem aquelas antigas cerimônias de passagem para a idade adulta, com exceção, evidentemente, daquelas sociedades e culturas mais conservadoras. A era da internet, dos jogos eletrônicos e dos brinquedos de alta tecnologia, cujo acesso está se tornando mais fácil a cada dia, foi responsável por quase extinguir algumas e totalmente extinguir outras brincadeiras que povoavam o imaginário infantil. A televisão individual, os consoles de jogos digitais e outras parafernálias de entretenimento, estão entre os principais vilões da falta de comunicação entre os pais e os filhos. Um Universo Paralelo Eu sinto que vivi num universo paralelo. O primeiro jogo eletrônico que conheci a fundo veio de uma plataforma hoje considerada obsoleta pelos jovens modernos. No meu tempo de garoto, embora eu hoje fosse considerado um nerd, pois era apegado demais aos livros, eu gostava de fura-fura (finca, canga-pé ou furão), bolinha de gude, brincadeiras de roda… Coisas que quase nem se ouve falar. Não consegui passar mais essas brincadeiras para meus filhos. O relacionamento em casa, a despeito dos jogos eletrônicos, foi um pouco diferente. Aprendi a jogar videogames para estar mais

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perto dos meus três meninos (não tive a sorte de ter uma filha) e costumamos ficar todos sentados à mesa para ficarmos perto um dos outros, embora um estivesse jogando videogame, o outro estivesse assistindo um vídeo e eu ficasse estudando ou escrevendo, mas permanecíamos perto um dos outros. Estudamos na sala, nossos quartos foram feitos para dormirmos e descansarmos, mas estudar e brincar são atividades para fazermos na sala para não nos distanciarmos. Assim conseguimos juntar o melhor dos dois universos… criamos a nossa própria realidade paralela. Tempo de Voar Aos treze anos de idade eu decidi que deveria sair de casa, eu queria estudar em outra cidade para aprender a ser independente. Eu não imaginava a dor da separação que aquilo causaria aos meus pais, afinal de contas, para mim essa dor era indiferente, pois seria tudo novidade. O meu sábio pai diante daquela decisão comentou que os pais devem criar seus filhos para serem independentes, e que eu estava certo em viajar. E aos quarenta e cinco anos vi a história se repetir em minha casa e percebo o quanto sou abençoado pelos filhos que tenho. Dessa vez foi o mais velho quem partiu para outra cidade. Foi em busca do conhecimento em uma Universidade Federal em que o curso que ele tanto gosta, goza de um prestígio fundamental para o futuro da carreira dele. Sei que no tempo certo o mais novo seguirá um caminho semelhante, e nesse rito moderno de passagem para a maturidade,

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considero que o tempo de partir é necessário para que meus filhos sigam em frente na jornada da vida. O Ninho Vazio Perceber o ninho vazio pode ser muito ruim, principalmente se a pessoa não está preparada para a situação. Existem casos de depressão associada a esse fato. Eu olho para meu lado na mesa, o lugar onde o mais velho costuma ficar com seu laptop, lembro-me das ocasiões em que ele chamava minha atenção para um vídeo, um jogo, uma pesquisa, algo que alguém tinha postado no facebook e sinto saudades. Mas não o suficiente para eu não entender que isso foi o melhor para ele, e fico cheio de felicidade e orgulho pelo importante passo que ele tomou. Como eu, espero que você esteja preparado para ver seus filhos saindo do seu ninho. Temos que nos imaginar como pássaros que criam seus filhos para voarem sozinhos para alcançar paragens para onde nós nunca alçamos voo anteriormente. Use a oportunidade que você tem hoje de conviver com seus filhos, respeitando as diferenças que o mundo moderno apresenta, tentando minorar o impacto entre o seu universo e o deles, extraindo dessa situação uma chance de uma boa convivência familiar. Que ao ver seus pássaros deixarem o ninho, você sinta a felicidade de ver que os criou bem e que eles estão voando em segurança por novos e desconhecidos ares.

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REFERÊNCIAS: BASILIO, Andressa. Apego exagerado ao filho pode desencadear síndrome do ninho vazio: A saudade pode virar depressão, mas dá para contornar a fase com medidas simples. Revista Minha Vida. Disponível em: < http://db.tt/X8mbDzby >. Acesso em: 27 abr. 2012. ZALEWSKI, Alexandre. Síndrome do Ninho Vazio: custei acreditar, o ninho estava vazio! . Ethnic – Revista Brasileira de Estudos Interculturais. Disponível em: < http://db.tt/8rLjNSaW >. Acesso em: 27 abr. 2012.

5. Dia De Pais e De Filhos A reciprocidade do amor demonstrado

Amor de pai O dia dos pais é muito comemorado no Brasil. O segundo domingo de agosto encontra diversos tipos de pessoas e cada grupo com sua maneira diferente de enxergar e sentir essa data. Muito menos comemorado do que o dia das mães, até o comércio registra uma média de 70% das vendas que costuma ter com data das nobres gestoras. Merecedoramente, afinal, o amor delas nasce do ato da concepção, o que poucos pais são capazes de ter. Ser pai começa no momento da concepção também, naquele momento especial da surpresa mais linda do mundo quando a esposa ou companheira chega com frase assim: “minha menstruação atrasou”, “acho que estou grávida”, “acho que você vai ser papai” ou qualquer outra que um dia um pai possa ter recebido.

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Eu tive a honra de saber pela boca do meu próprio pai como ele soube da notícia da minha existência. Quem acompanha meus textos sabe que não está aqui comigo no dia dos pais, o bom cabrito citado no texto “Bom Cabrito Não Berra” não pode mais me dar o prazer de honrá-lo no dia dos pais. Amor ao pai O dia dos pais é apenas um dia criado pelo comércio para aumentar as vendas. Não há como discordar de quem acredita genuinamente nisso, embora não tenha sido essa a ideia de Sonora Luise quando resolveu criar um dia dedicado aos pais, motivada pela enorme a admiração que sentia pelo pai. Contudo, pense no que seu pai sente, se ele encara o dia dos pais da mesma forma, e se não é mais adequado respeitar os sentimentos dele do que manter-se firme na postura dos seus. O dia dos pais não se aplica mais a mim, já perdi o meu. Outra forma de sentir essa data. Argumento fortíssimo, mas ainda pergunto: não sobrou ninguém? O sogro talvez. Quem sabe seu marido a quem você queira ensinar essa tradição para seus filhos. Sua participação na criação de uma tradição em sua família pode ser muito importante. Dia dos pais é dia de festa! O grupo entusiasta da data por uma série de motivos que nem precisamos mencionar, o que interessa é o homenageado. É claro que existe o grupo dos filhos abandonados pelos pais, daqueles cujos pais não são presença marcante em suas vidas, e outros mais, porém agora não falaremos nesse tema, pois ele exige uma abordagem psicológica muito grande.

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Amor como pai Filhos são presentes que recebemos, são frutos sazonais de uma estação única, características ímpares e que devem ser apreciados e respeitados de acordo como são. Durante a criação que damos aos nossos filhos, aprendemos a dosimetria de cada atitude nossa em relação a cada um deles. Os frutos sazonais que recebi são especiais demais. Eles apareceram em momentos cruciais da minha vida para me ajudarem a ser um ser humano melhor. O processo de “criá-los” tem sido uma recriação de mim mesmo, quando eu precisei me adequar ao mundo em evolução para estar no mesmo mundo que eles, sem, entretanto perder meus princípios e valores que precisavam ser mantidos. Falando dos meus frutos

Cupuaçu. O mais moreno, o mais velho, o primogênito. Eu cantei

pra ele quando ainda estava no ventre da mãe. Puxei conversa com ele, mas dessa época ele já era meio caladão. Depois que nasceu, Cupuaçu continuou gostando que eu cantasse para ele e era o mantra Madana Mohana Murari de Tomaz Lima Homem de Bem que o embalava até adormecer no meu colo. Atualmente ele está com 21 anos de idade.

Bacuri. O segundo. Ganhei de presente quando eu morava fora

do Brasil. Também era calado quando eu tentava estabelecer comunicação intrauterina com ele, mas ele pegou uma fase mais retrô das músicas que eu gostava, eu cantei coisas dos anos 70 e 80 para ele. Infelizmente, as circunstâncias o levaram de volta ao país em que ele foi gerado e ficamos muito tempo afastados. Hoje percebo que o que nos une é forte demais, são muitas

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características físicas, gostos musicais, a forma de demostrar carinho… Ele está com 16 anos de idade.

Cacau. O terceiro (caçula) foi um presente inusitado, cheio de

energia, apaixonante desde o momento zero. Para ele eu não precisava cantar, dormia e dorme fácil. Somos unidos de forma inexplicável e através dele, experimentei todas as fases que um pai pode experimentar. A grande admiração dele reside no Cupuaçu, a quem tenta imitar. Por ser o mais novo, vê as três referências masculinas dele, eu, Cupuaçu e Bacuri, e pega um pouco de cada. É dele que vem a maior demonstração de preocupação quando não estou bem, é capaz de dormir do meu lado para que se eu me sentir mal ele possa fazer algo. Ele está com 12 anos. Eu somente recebi frutos, e eu sempre tive vontade de ter uma filha, mas estou feliz com os filhos que tenho e as filhas postiças que fui recebendo durante a minha vida. Fale para seus frutos Então é dia dos pais. O fruto que me gerou deixou de existir, e, portanto, um dia nostálgico estaria diante de mim. Mas hoje eu tenho Cupuaçu, Bacuri e Cacau juntos comigo depois seis anos. Então vamos comemorar o dia dos pais, e isso, graças a Deus, é um pedido deles! Não sei como será o seu, mas se você quer ser amado pelos seus filhos ame-os e demonstre esse amor. Os homens precisam se despir dessa brutalidade “característica” e serem mais calorosos. Não tema beijar e abraçar seus filhos, eu beijo, abraço, cheiro e digo “eu te amo” todos os dias.

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Se o fruto que gerou você ainda está presente, valorize isso, não perca a chance que você tem. Demonstrar afeto, ser carinhoso com os filhos, não importa o sexo, não fragiliza a autoridade paterna, pelo contrário, estreita os laços existentes e cria outros inimagináveis e que são tão valiosos na experiência entre pais e filhos, que quem tenta não se arrepende. Não poderemos um dia cobrar que sejamos lembrados carinhosamente no dia dos pais se não valorizamos essa data. O que importa é que falemos aos nossos frutos através dos nossos exemplos, de como queremos que eles percebam o dia dos pais quando eles forem os pais. Um feliz dia dos pais e filhos para todos! REFERÊNCIAS: WIKIPÉDIA; LIVRE., A Enciclopédia. Cupuaçu. http://db.tt/6AwR3sU6 > Acesso em 11 Ago.2012.

Disponível

em

<

WIKIPÉDIA; LIVRE., A Enciclopédia. Bacuri. http://db.tt/a7HFp9qZ > Acesso em 11 Ago.2012.

Disponível

em

<

WIKIPÉDIA; LIVRE., A Enciclopédia. Cacau. http://db.tt/hbvMtmuf > Acesso em 11 Ago.2012.

Disponível

em

<

CANÇÃO Madana Mohana Murari de Tomaz Lima Homem de Bem. Disponível em < http://db.tt/Md7Y3aNH >. Acesso em 11 Ago.2012.

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6. Aprender a Deixar Partir Eu estava com 12 anos de idade quando conversei com meu pai sobre minha ideia de ir estudar num internato. Minha família entrou em pânico, menos meu pai. Apesar de descendentes de árabes pelo lado paterno, portanto com uma índole nômade, a parentada logo começou a enfiar conselhos nos ouvidos do seu Hermes, que a todos ouvia, porém pelo que fiquei sabendo, nem sempre se manifestava. Eu fiquei aguardando a decisão do papai. Sabendo que meu pai não tomava decisões precipitadas, esperei pacientemente. Dentro de um prazo bem confortável para os preparativos para a viagem meu pai me chamou para conversarmos. Aquilo não era bem uma conversa, era uma humilhação, um gigante de sabedoria falando de seu conhecimento de vida para um moleque recémentrado na adolescência, mas lá estava eu, me sentindo importante. Entrei no quarto do bom cabrito (apelido do velho), lá estava ele sentado naquela cadeira de palinha e foi logo me cumprimentando: “Fala moleque!” Ah, eu adorava esse jeitão que ele usava para me tratar. Ainda posso sentir o cheiro dele naquele dia. A conversa iniciou e foi normal até o fim, como todas as conversas com ele. Nela, ele me disse que eu estava certo em fazer minhas próprias escolhas desde que eu verificasse o impacto que elas causariam nas outras pessoas, que ele me incentivava em ir para o internato, pois ele acreditava que a experiência seria benéfica para o meu crescimento.

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Fiquei tão feliz com a aventura que havia diante de mim, que pulei no pescoço daquele velho cheiroso, e agradeci sem nem perceber que ele estava emocionado, somente quando eu ia saindo do quarto que vi que ele estava com os olhos cheios de lágrima. E eu ainda fiz a pergunta mais idiota do momento: “está triste, pai?” Era claro que ele estava. Contudo, a resposta dele me ensinou uma importante lição. Ele confirmou que estava triste porque íamos nos separar, porém ele me amava muito e sabia que o melhor para mim era que eu partisse, que eu fosse estudar fora, que eu viajasse para longe dele. Ele me contou que em diversas ocasiões, em função do trabalho dele, ele necessitou se afastar da mamãe e isso era muito duro. A mamãe era a mulher da vida dele e afastar-se dela era doloroso, mas infelizmente era preciso que isso acontecesse algumas vezes. Tanto ele quanto a mamãe aprenderam a deixar o outro partir em nome de um bem maior. Na minha mente aquelas palavras despertaram memórias e revivi as várias vezes que vi meu pai ir deixar minha mãe numa estação de embarque e vice-versa. Era despedidas serenas e cheias de carinho tanto dele quanto dela, ambos queriam ver o outro regressar ou ir ao encontro do outro. Eles visavam a saúde, o bem estar, perguntavam se estavam com todos os remédios, se o dinheiro estava seguro, se não havia esquecido nada, enfim, era uma despedida bonita. E foi assim que meus pais me levaram ao aeroporto para eu viajar para a distante Altamira, para estudar naquele instituto onde permaneci estudando durante dois anos. E eu aprendi muito durante o tempo em que estive lá.

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A lição que extraio da vida e compartilho neste momento não vem do internato. Eu aprendi com meu pai a deixar as pessoas partirem, a permitirem que elas possam ter a liberdade de ir e de voltar, de perceberem que o verdadeiro amor não aprisiona, não arde em ciúmes doentios, não se entrega a desconfianças descabidas. Aqueles que se consideram verdadeiros amigos, amados filhos e pais, parentes, que estão presentes nas vidas das pessoas através de algum tipo de amor, aprendam a deixar partir, pois somente quem ama sabe deixar partir.

7. Não Vou Lutar Contra o Que Eu Sinto Porque escrevo como escrevo Sendo Persistente ou Insistente Não sei quantas vezes ainda abordarei alguns temas relacionados com a segurança pública, não sei quantas vou falar de temas como direitos humanos, cidadania, liberdade de fé, e usarei argumentos novos para defender ou enfatizar assuntos que por aqui já passaram, mas que continuam incomodando não somente a mim, mas muitos outros seres humanos. Não uma questão de ser um tema repetitivo, porém, uma questão de persistir, de permanecer engajado e firme dentro de seus ideais, sabendo quando recuar e sabendo quando avançar, procurando descobrir quando melhor falar e quando melhor calar.

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Conheço muitos que persistiram e conquistaram, e conheço muitos que não, pois acreditaram que a vitória estava garantida antes do tempo e pararam, se acomodaram e perderam. Existe certa estratégia no ato de persistir, senão ele se transforma em um insistir chato, sem conteúdo, que não apresenta nada de novo, até que ninguém mais se interessa pelo que aquela pessoa fala. Embora na semântica dos dicionários haja uma aproximação entre os significados dessas palavras, (o Priberam, por exemplo, persistir é perseverar, ser firme ou constante, enquanto insistir é instar com porfia, teimar, persistir e perseverar) há certamente uma diferença entre elas que é a estratégia empregada, os meios e a escolha do momento correto. Tenho observado isso acontecer, sentido isso acontecer, e… Não vou lutar contra o que eu sinto. Sendo majestosamente humilde Nasci em berço esplêndido, culturalmente falando, mas nunca fui, não sou, como não é minha meta na vida, provavelmente nunca serei rico. A educação e valores que me ensinaram foram diferentes, e não somente eu como meus irmãos, éramos tidos como se fôssemos por causa disso. Acho que minha primeira namorada fez essa confusão, pois percebi que ela temia que eu fosse até a casa dos pais dela. Um dia decidi viajar até a cidade onde eles moravam para conhecê-los pessoalmente.

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Eu e ela tínhamos apenas 14 anos e estudávamos juntos num internato, mas eu era destemido e fui. Sem ela, pois o internato não permitiria que viajássemos juntos. Cheguei à casa dos pais dela era sexta-feira quase 13 horas. Noutra ocasião, se for o caso, conto mais detalhes que agora não são oportunos. O que importa é que conheci a família toda e principalmente o temido sogro, que de temível não tinha nada. Foi um dos melhores fins de semana da minha vida. Na sexta-feira ainda aquele homem, agricultor de mãos calejadas pelo trabalho duro, me convidou para sair e andei de carroça pela cidade, ele me mostrou como conduzia sempre sutilmente relevando minhas limitações de menino de cidade grande. Eu conduzi cheio de orgulho aquela carroça pela cidade. Dormi numa rede num quarto cheio de bananas, e noutro dia fizemos uma refeição deliciosa e fomos à igreja. Na tarde tranquila em sua casa ele me contou diversos episódios de sua vida e eu ficava pasmo de ver a forma concatenada de ele narrar fatos e destacar pontos de fundo moral relevante. Eu estava diante de um sábio! Senti que devia estar com ele cada minuto para aprender mais, era uma oportunidade que talvez eu não fosse ter mais de aprender a ser um pouco do que ele era: majestosamente humilde. Senti isso naquela época como se ainda sentisse hoje, portanto… Não vou lutar contra o que eu sinto.

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Uma oportunidade pode ser única Senso de oportunidade é algo que precisamos cultivar, pois algumas chances surgem nas nossas vidas e podem ser únicas. Dizem que a oportunidade é um lindo ser que passa por nós velozmente, se não o seguramos ao se aproximar o perdemos para sempre, pois não possui cabelos atrás da cabeça para podermos segurá-la. O sogro me ofereceu a chance de passar um dia extenuante colhendo laranjas, e ele fez questão de me explicar como era o serviço, ou ficar em casa e interagir com os cunhadinhos com quem eu já tinha estabelecido afinidade. Vi a carinha triste deles quando optei pelo laranjal, então, fiquei até tarde no sábado à noite brincando e passeando pela cidade com eles para compensá-los, mesmo sabendo do desafio que me aguardava no dia seguinte. No domingo saí com o sábio de carroça para colhermos as laranjas, e novamente ele cheio de paciência me mostrou como se fazia. E as longas horas de trabalho sob o sol tórrido pareceram curtas. Foram curtas as horas que passamos juntos naquele domingo até o momento de ter que viajar para voltar para o internato. Fomos de carroça para a rodoviária e ele me deixou conduzir. Na área de embarque ele fez uma oração comigo e na hora de nos despedirmos ele me puxou e me abraçou. O corpo do menino Ivenio de 14 anos sumiu no abraço daquele gigante. Foi quando ele me disse mais palavras inesquecíveis, nunca antes compartilhadas nem com a filha dele. Ele me falou que gostara de mim e outras coisas incríveis que não direi, pois esse texto ficará tendencioso, mas o melhor foi ele dizer que eu e a filha dele éramos jovens para um relacionamento,

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porém ele oraria pela menor possibilidade que existisse de dar certo, pois eu seria um ótimo marido para a filha dela por tudo que ele observara de mim. Eu nunca mais o vi. Alguns anos depois ele faleceu vítima de um acidente enquanto abria uma clareira para o cultivo. A morte não foi instantânea e se deu pela dificuldade de acesso ao socorro. Enquanto era conduzido para o local com socorro mais próximo, ele foi explicando ao filho, (meu primeiro cunhado, amigo e irmão até hoje, quem me narrou os fatos com detalhes), as ações que deveria ser tomadas caso acontecesse o pior. Uma oportunidade pode ser única, tive certeza disso. Era uma questão de opção e eu queria aprender mais da experiência de vida daquele homem, um verdadeiro sábio do conhecimento prático e da fé. Senti isso quando ele me deu as opções naquela noite como se sentisse hoje, por isso… Não vou lutar contra o que eu sinto. Celebrando uma oportunidade não desperdiçada Durante essa semana recebi algumas perguntas sobre os textos de uma série que escrevi, a mais recorrente era sobre o motivo deles terem sido divididos em três partes, uma mente mais astuta quis entender o que era aquela terceira parte antes da parte final. O interessante é que ninguém teve a curiosidade de saber o que significava a palavra que dava título à série. Por mais que eu explicasse o motivo da divisão de artigos grandes em séries de artigos menores, alguns se recusam a entender. Vejamos se você entende:

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A série Évira, bem como outras que já lancei anteriormente, são baseadas em pesquisas e estudos longos e que geram longos artigos. Para deixa-los mais curtos, ou eu atropelaria certas informações ou publicaria em forma de artigo científico, o que seria ótimo para mim. Infelizmente, esse não é meu objetivo, ou seja, comunicar e levar o conhecimento da segurança pública, direitos humanos, direito, etc para todos e de forma que todos entendam;

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Textos longos cansam (e os meus não são curtos), dividilos é uma forma de atrair mais pessoas;

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A Série Évira especificamente, havia um objetivo a alcançar que não poderia se conquistado de uma só vez, eu precisava saber quando era melhor falar e quando melhor calar, essas pausas eram essenciais para despertar reações;

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O motivo de Lançar a metáfora “O Resgate do Évira” antes do último artigo foi estratégico. Eu sabia o que escrever, porém, procurando ser majestosamente humilde, segui o conselho de um perito e segurei o texto final. Publiquei esse outro que era tão precioso, pois faz parte de outro projeto, em prol de um benefício maior.

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Durante a semana conversei com algumas pessoas sobre meus artigos. Comentaram da série Mapas Potiguares, do “Um Estudo em Vermelho” e da série Évira e da repercussão deles.

O melhor de tudo durante a semana atribulada veio num convite, para eu não ser somente colunista, mas membro do conselho editorial de uma importante revista digital. Foram mais de quatro

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horas de reunião e tudo ficou acertado. Somente aguardo o momento de ser comunicado oficialmente. Perguntei se eu poderia postar meus textos sobre reflexão e combate ao preconceito nas páginas da revista e a resposta que tive foi um empolgado “sim”. Senti naquela hora que Deus que colocou no caminho de pessoas honestas para que se faça um trabalho em conjunto maior, gigante, abençoado. Eu emprestei minha fé para cada coisa que falei aqui. Sim, eu sinto fé e sabe de uma coisa? Não vou lutar contra o que eu sinto

8. Bons e Maus Bocados A Angústia dos Outros

Antes do mergulho Escrever é algo especial para mim, e não tem como não ser, pois penso em cada detalhe e tornou-se o meio pelo qual me liberto dos meus próprios problemas, dos meus sofrimentos, anseios, saudades, tristezas e até das carências. Eu queria apenas agradecer pelo apoio que tenho recebido até aqui e que tem trazido considerável sucesso aos meus textos, afinal, estamos comemorando o aniversário de ano de Blog do Ivenio. Porém, você e eu, que passamos esse último ano saboreando não só vitórias, e não podemos soltar fogos e postar cartazes de

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felicidades desprezando nosso companheiro, que hoje vive momentos de angústia. Nos períodos de angústia mergulhamos num mar de aflição onde o ar refrigerador e recuperador parece estar numa superfície distante. Mergulhando na angustia De todas as dores sentimentais que já vi uma pessoa experimentar e que eu já experimentei não tem pior dor do que a angústia. Ela é até definida como ansiedade física acompanhada de opressão dolorosa: os estremecimentos da angústia, uma profunda inquietude que oprime o coração. Essa dor tão sofrida possui alguns primos sinonímicos: aflição, agonia, aperto, apertura, martírio, tormento, tortura e tribulação. Se você ainda não passou por isso, nem queira passar, se já passou, tenho certeza que não quer passar de novo. Seja qual for o caso, nunca faça alguém passar por essa forma de aflição. Ninguém melhor do que Jesus Cristo para nos demonstrar o que a angústia pode causar a um ser humano, e Ele, num momento de profunda tormenta se viu tão angustiado que chegou a suar sangue.

A experiência de Jesus Do livro de Lucas capítulos 22, versículos 39 a 44 extraímos o relato da angústia de Jesus.

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Ele possuía o hábito de subir para o Monte das Oliveiras para orar e dessa vez foi acompanhado por seus discípulos. Num determinado lugar, ele separou-se dos discípulos avisando-os que deviam orar para não entrar em tentação. Angustiado pelo que em breve poderia vir a acontecer, seu corpo entrou em uma profunda agonia, e o tormento era tão forte, que mesmo munido de toda sua fé ele pediu que se fosse possível àquela dor fosse afastada de sua vida. Contudo, não era possível. Embora Jesus precisasse passar por aquela dor, Deus nunca foi mau, e mesmo não sendo Ele (Deus), o causador daquela angústia, Ele providenciou o alento através de um anjo que fortalecia seu amargurado filho. Entretanto, era uma angústia quase insuportável, e o corpo sofrido de Jesus começou a suar grandes gotas de suor que escorriam contínuas até o chão. Alguns não acreditam que isso seja verdade, mas muitos conhecem de perto dores emocionais que se transformaram em dores no corpo, febres, náuseas, gastrites e conhecem casos que até evoluíram para outras doenças. Então, quando acontece muito próximo, fica mais fácil de acreditar.

A lição do filho Passar de largo ou virar o rosto virou costume diante dos problemas que atingem as outras pessoas, mas somente sentimos o desespero da angústia quando é conosco. Há alguns meses meu filho passava por uma angústia tremenda diante de uma situação que eu não sabia como ajudá-lo, e ele mesmo me disse que era a dor mais excruciante que ele já havia

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sentido. Impotente, eu estava para dizer que ia passar quando ele me lembrou da angústia de Jesus. Em meio aquela dor, meu filho estava resignado a dar um mergulho naquele tempo de angústia pensando na dor de Jesus. E fiquei pasmo, eu queria confortar e estava aprendendo com aquele rapaz de 20 anos de idade. Eu já sabia o que dizer e como os papéis se inverteram mesmo assim eu resolvi perguntar: “Filho, e como é que você fica? Como essa angústia passa?”. Choramos abraçados dentro do carro naquela noite sob o pacto de que eu nunca falaria nada, até que hoje ele me autorizou. Ele respondeu. “Pai, só existem duas formas de essa dor passar: uma, a pessoa que causou reconhecer e fazer algo para que tudo passe, que realmente nos lave desse mal. A outra forma, pai, é pela saturação. Nosso corpo, coração e mente se saturam, então que percebemos que é melhor nos afastarmos daquele ser humano que nos causa esse sofrimento.” A angústia na qual ele estava imerso não o impedia de alcançar a superfície e respirar algo que o revigorava. Ele chorava, mas mostrava a força de um guerreiro nato. Eu via no meu filho a fortaleza que meu pai possuiu e que me inspirou. Ele transparecia a angústia embora tentasse escondê-la de nós para nos poupar. Somente eu soube quando a angústia dele foi embora de vez. Emergindo Ele se tornou meu mestre em como lidar com esse tipo de sentimento. E foi nele que busquei informações sobre como ele se sentiu após ter emergido.

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Novamente ele citou Jesus: “Jesus morreu, pai.” Ele disse. Deus pediu uma forma de demonstração de amor para Caim e Abel. Abel obedeceu e agradou a Deus, Caim fez do jeito dele, Deus se quisesse que aceitasse, mas Deus não pode aceitar aquele amor e Caim foi rejeitado. Jesus quis ser amado de uma forma e ensinou esse amor, não aceitaram, queriam de outro jeito, e o mataram. Mas Ele ressuscitou porque deixou outras pessoas aqui que queriam o amor dEle. Meu filho disse que ressuscitou também, precisou optar entre continuar sofrendo e emergir e respirar um novo ar e não mergulhar mais naquela angústia imposta por outra pessoa. A angústia de Jesus foi tamanha que o levou a dizer: “Pai, por que me desamparaste?” e meu filho disse que fez a mesma coisa, mas nunca perdeu sua fé. A pior lição foi descobrir que alguém era capaz de causar aquela dor em outra pessoa. Então terminamos esse ciclo ou iniciamos outro? Foram bons e maus bocados juntos, eu nas minhas angústias e cada um de vocês com as suas, mas sempre nos apoiando mutuamente. Ao comemorarmos qualquer vitória, vamos procurar sentir a dor do nosso próximo, e principalmente, vamos evitar causar dor no nosso próximo. Não adianta celebrar, se minhas felicidades pesam sobre você, ou se estou tão cego diante de minhas conquistas, que deixo você em segundo plano, pois meu momento de comemorar ninguém pode atrapalhar.

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E na lição final que meu filho me deu, ficou um versículo que cantávamos aqui em casa numa canção e que registra uma opção de respeito: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” Salmos Capítulo 119.11

9. De Volta Aos Mestres É muito bom ser sempre um aprendiz “Viver sem ser amado é como cortar as asas de um pássaro e tirar sua capacidade de voar.” A cabana

A arte de pensar “Não é sua opinião e nem é a minha que está correta, são somente duas correntes de estudo em busca do bem comum, que juntas podem contribuir para grandes mudanças.” Henrique Baltazar O pensamento humano se manifesta de diversas formas. Os artistas precisam pensar expressar suas emoções através da arte, os sábios através da palavra apresentada em seus discursos, pensamentos e textos. Os cientistas, os matemáticos, os físicos, precisam apresentar seu raciocínio através de intrincadas equações para que tudo saia exatamente como eles planejaram, assim com os engenheiros na execução de uma obra e os arquitetos através da

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modificação do espaço que transforma os ambientes interiores e exteriores. Todos manifestam sua forma de pensar através de uma arte própria, inerente a atividade que desenvolvem. A lógica de pensar está em um determinado padrão de raciocínio, que já é comum a cada ser humano. Se fazer entender, é comunicar essa lógica/arte através de argumentos que todos possam alcançar. Dependendo do público que está para ouvir ou ler, o texto deve se adaptar. Para que todos sejam alcançados e membros de diferentes segmentos culturais possam transitar por um assunto com tranquilidade, aquele que desenvolve uma atividade precisa saber comunicar sua arte, e assim movimentar a engrenagem do pensamento comum. É o raciocínio humano dentro da lógica arte de pensar. Consultar os mestres “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas.” Jesus Cristo (Mateus 6:33) Aquele que se dedica à escrita, ao discurso, ao argumento, precisa do fundamento angular, aquele tijolo específico do construtor que inicia toda a obra, ele se chama conhecimento. Não é incomum um escritor se deparar, dentro de um assunto que ele domina, com questões que ele precisa de mais informações. É nesse momento que a humildade deve predominar sobre todo o conhecimento do autor, é quando ele deve largar tudo e buscar os mestres.

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Cada autor encontrou autores nos quais ele formou sua “tese” de vida ou sua “visão” de mundo. Nesse campo de pesquisa, sempre fui muito ousado, meus mestres possuem origens diferentes, crenças diversas, uns são ateus, contudo todos contribuíram para a formação daquilo que sou. Esses mestres foram citados em diversos textos que já escrevi. Lembro agora de William Shakespeare, Émile Durkheim, Friedrich Wilhelm Nietzsche, Thomas Hobbes, Mahatma Gandhi, Charles de Montesquieu, Michel Foucault… Enfim… Infelizmente a ferida da mortalidade atinge a todos, mas o legado deles permaneceu. Um dos meus mestres mortos não está mais morto. Eu acredito nisso. Ele venceu a morte, ressuscitou após as atrocidades que fizeram com Ele, não escreveu muitas coisas além de palavras no chão. Contudo, ele é o autor do pensamento que abre este tópico, o grande Mestre Jesus Cristo. Muitos não acreditam nEle, mas inegavelmente sua passagem por esse planeta dividiu a história humana em duas partes, antes e depois dele. Foi aprendendo a consulta-lo diariamente, que todas as vezes que não sei de algo, não hesito em consultar os mestres. Presença dos mestres “Mastigue a fruta devagar, deixe o sabor chegar lentamente em sua mente. Enquanto mastiga, medite no que vai falar, articule seu pensamento. É assim que você reaprenderá controle interior.” Aloísio Lovisi

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Existem pessoas na minha vida, cuja conduta e dignidade são tão inspiradoras, que as tornam verdadeiros mestres em minha vida. Não são poucas, mas se perceberem eu chamar alguém de mestre, preste atenção, a pessoa têm um significado especial. Durante essa semana tive a oportunidade de fazer uma visita pessoal a um desses meus mestres modernos, o juiz de Execuções Penais Henrique Baltazar, a quem pertence o pensamento que abre o tópico inicial desse texto. Quando citou o pensamento em meio a tantas coisas interessantes que ele falou, disparei registrando e antes de terminar a visita, não perdi tempo em conseguir uma foto com ele. O Dr. Baltazar já foi consultor de um dos meus artigos e dispensa qualquer comentário adicional. Um mestre a quem há muito tempo eu não vejo, cuja falta e saudade que sinto se assemelha aquela que um filho sente de um pai, se chama Aloísio Lovisi. Durante um período de grande tribulação na minha vida, o Dr. Lovisi me estendeu a mão e sua voz mansa e calma, típica de um sábio, me reconduziu ao equilíbrio interior. Cada momento que estive com ele valeu ouro. Ele tinha as respostas e sabia fazer as perguntas, sabia frear meu descontrole ao falar. Reeducou-me ao simples hábito de comer certo. Aprendi tomar conta da minha mente, e foi graças a ele que voltei definitivamente a escrever. Esse mestre representa minha reconstrução como um templário do conhecimento que guardo dentro de mim, e está sempre pronto para ser repassado da forma como recebi, gratuitamente. Lovisi é um erudito contemporâneo, filósofo e grande pensador. Possuidor de abordagens diferenciadas a problemas tão comuns do cotidiano da mesma forma como aborda os mais complexos e difíceis de resolver.

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A sabedoria que essas pessoas me passam eu não aprendo na universidade, é por isso, que gostaria sempre de estar na presença dos mestres. Dedicação final. Não são com as verdades que falo com que me preocupo, minha preocupação é se estou sendo oportuno e se as mentes estão preparadas para entender.” Esha Nehir Escrever não é fácil. Escrever apenas no que se acredita muito menos. Mas foi essa proposta que me auto impus, influenciado pelos mestres, evidentemente. Não quero glórias e nem fama, não é essa a minha busca. Pude estar com várias pessoas durante a semana, autoridades do Estado, pessoas influentes, pessoas cujo nome sempre evoca certos comentários pela posição que elas ocupam. Mas foi reencontrando Jarbas Targino, um lutador, que houve um momento em que enxerguei aquilo o que sou, apenas um homem comum. Jarbas e eu estávamos ambos de mochila nas costas, calças jeans, camisas comuns e tênis all star. Prontos para um dia de batalha. Homens comuns. Ele percebeu durante nossas conversas que o que ele passa hoje, os sofrimentos e as angústias dele, as longas caminhadas, eu também já passei. Por isso nos entendemos. A todos os mestres, a todos os alunos humildes, a todos os homens e mulheres de carne e osso, que sentem a dor da fome, a angústia do desemprego, a incerteza do futuro e a insegurança da vida, dedico tudo que já escrevi e tudo que ainda escreverei, pois

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meu compromisso continua sendo o mesmo, escrever naquilo que acredito até não poder escrever mais. E celebro essa dedicação com esse texto e lançando o quinto álbum de mensagens de Esha Nehir, que está disponível na minha fanpage: https://www.facebook.com/IvenioHermesJr E tenham certeza, nessa vida, é muito bom ser sempre um aprendiz.

10. Feliz aniversário, com significado de Natal! Meus pensamentos de Natal

Em busca do sentimento Mais uma vez chegou o Natal e me vi dentro dessa bolha emocional que envolve as pessoas num frenesi de presentear, de enfeitar suas casas, prédios, ruas, cidades, tudo em nome de uma festa, cujo verdadeiro significado, parece sem sentido. Como em todos os anos, não tive a minha casa enfeitada com motivos natalinos, salvo alguns poucos nos quais, estive com pessoas cujas ações atuais me mostram mais ainda a efemeridade desse sentimento, pois elas se transformaram em seres obscuros e sem sentimentos nos anos seguintes. Devido à nossa ascendência árabe e outras convicções, ao por do sol fizemos nossas orações e agradecemos a Jesus a oportunidade de comemorar o aniversário do nascimento terrestre dEle, pois é somente isso para nós, um nascimento terrestre, afinal, nós

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acreditamos que a quarta dimensão, o tempo, foi criado por Ele apenas para nós, que somos finitos. Em nossas preces mencionamos nossos queridos distantes e que embora não acreditando que fosse a data correta do nascimento dEle, queríamos que Ele aceitasse nosso carinho. Nossos guarda-roupas estavam lá com as roupas de sempre, não compramos roupas novas para essa data e nem tampouco para as celebrações de passagem de ano, que também não acreditamos ser nessa data (mas esse fica para outra ocasião) e nem compramos presentes para nos dar, afinal o aniversário não era nosso. Planejei ficar em casa com um dos meus filhos, irmã, mãe e um pai por afinidade. Porém recebi dois convites para “ceias” e combinei com eles a saída. Os dois últimos passaram o dia passeando e declinaram o convite. Meu filho e eu, lidando com nossa dificuldade de nos sociabilizar, mas apoiados pela minha irmã, saímos em busca do sentimento que motivara os convites. Razões do meu ceticismo Particularmente minha família, baseamos nossas crenças religiosas na Bíblia Sagrada e buscamos referências em outras literaturas, e basta nos atermos aos livros bíblicos, de Gênesis ao Apocalipse para verificarmos que não existe nenhum versículo que afirme que Jesus nasceu em 25 de Dezembro, portanto, ao certo, ninguém sabe. As falhas do calendário levam alguns a crer que Ele nasceu por volta do ano 6 d.C. Mas biblicamente seu nascimento foi pouco tempo antes da morte de Herodes, ou seja antes de 4 a.C. Além disso, existe o episódio do recenseamento obrigatório para a

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facilitação dos impostos, que os Romanos sujeitavam todos os povos que lhes eram sujeitos, realizado em 8 a.C. Os Judeus, sonegadores habituais, dificultavam qualquer tipo de contagem de seu povo, mas inevitavelmente, em Belém, essa contagem foi realizada no oitavo mês, agosto do ano 7 a.C. Há relatos de que um dia depois do nascimento de Jesus, José se submeteu ao recenseamento com sua família. No dia seguinte, Maria enviou uma mensagem a Isabel comentando o fato. Por fim, havia a tradição da apresentação dos bebês no templo e da purificação das mulheres, algo previsto para ser feito em até 21 depois do parto. Segundo o costume judeu e o que ordena os Dez Mandamentos, sábado é o dia de ir ao templo e não há autoridade humana que tenha atribuição maior do que Deus sobre Seus próprios ordenamentos. Assim, em setembro, no ano 7 a.C. que teve quatro sábados, 4, 11, 18 e 25, e como o censo de Belém se deu entre 10 e 24 de agosto, a apresentação seria no sábado dia 11. Portanto, o nascimento terrestre de Jesus deve ter sido após 21 de agosto deste ano. Essas são as razões do meu ceticismo.

Razões para celebrar As razões para celebrar estariam no fato de que a bolha emocional da qual falei poderia ser “giganteada” para o ano inteiro. A doação de amor fraterno deveria ser generalizada e continuar sendo difundida como o suposto aniversariante ensinou durante sua vida aqui nesta terra.

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Fátima Souza e Leninha Guedes me convidaram para compartilhar desse amor que elas possuem e que não se restringe às datas festivas. Desde que conheci Fátima Souza tive nela uma amizade cuidadora e reservada, sabedora de como se posicionar diante de eventos contundentes em minha vida. Essa não foi a primeira vez que “Fatinha”, como carinhosamente a chamo, me convidou para estar na casa dela, foram dezenas de outras ocasiões que me fizeram entender que os sentimentos dessa amiga são para o ano inteiro. Leninha Guedes já me adotou desde o primeiro momento, sabendo muito pouco a meu respeito, apenas por conversarmos e trocarmos poucas gentilezas. Em um comentário lindo que recebi dela via facebook cujo texto diz: “Ganhei um presente de Natal muito especial! Você chegou há pouco tempo em nossas vidas e já ofereceu a mão amiga na hora que eu estava precisando de apoio! Obrigada por tudo! Um beijo grande no seu coração!”, e de suas ações desde que me conheceu, percebi que o sentimento dessa querida amiga, a quem chamo de “Leninha Guedes” sem chiar o “s”, como é característico do meu sotaque, acredito que os sentimentos dessa amiga são para o ano inteiro. Também tenho razões para celebrar pelas inúmeras manifestações de carinho que recebi via celular, facebook, twitter, instagram, enfim, essas ações são as minhas razões para celebrar. Uma aniversariante do dia “Essa é uma terra de um deus mar, de um deus mar que vive para o sol, e esse sol está muito perto daqui, venha e veja tanto quanto pode se curtir. Linda terra para a mãe gentil, belo cai o sol sobre

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esse rio, e esse rio também está perto daqui, venha e veja tanto quanto é o nosso Potengi.” Música Linda Baby de Pedro Mendes. Há outra razão para celebrar, a cidade que escolhi para me curar de todas duras pancadas que recebi da vida, uma cidade que chamo, imitando outros, da Havaí Brasileira. Foi em 25 de dezembro de 1597 que o Capitão-mor de Pernambuco, Manoel de Mascarenhas Homem, aportou com sua esquadra na foz do Rio Potengi para ocupar em nome de Portugal essa região que denominada por franceses e índios. Sua estratégia militar inicial foi construir um forte, o Forte dos Reis Magos e repassar o comando das operações terrestres a Jerônimo de Albuquerque. A ocupação da região somente foi concluída após dois anos, depois de combates contra franceses e acordos com os índios. E por isso, coincidentemente, em 25 de dezembro de 1599, Jerônimo de Albuquerque, fundou a Cidade de Santiago, posteriormente rebatizada como Natal, mudança justificada pela celebração do suposto nascimento de Jesus, completando em 25 de dezembro de 2012, 413 anos de história. Feliz aniversário, Natal, uma verdadeira aniversariante do dia.

REFERÊNCIAS: REGIÃO, Ache Tudo e. História de Natal – RN. Disponível em: < http://db.tt/ZR3sBl3C >. Acesso em: 25 dez. 2012. SUPERINTERESSANTE, Revista; MINAMI, Thiago; VERSAGNASSI, Alexandre. Jesus não nasceu no natal. Disponível em: < http://db.tt/er3DNpit >. Ed. 233. Publicado em: dez. 2006.

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SUPERINTERESSANTE, Revista; CAVALCANTE, Rodrigo. Quem foi Jesus? Disponível em: < http://db.tt/mMC5oBli >. Ed. 234. Publicado em: dez. 2006. SUPERINTERESSANTE, Revista. Quem foram os três reis magos? Disponível em: < http://db.tt/2Q18JSQV >. Ed. 172. Publicado em: jan. 2002. GURGEL, Alex. A verdadeira história de “Linda Baby”. Letra de Pedro Mendes. Disponível em: < http://db.tt/XB0FAXBS >. Publicado em: 15 jan. 2008.

11. O Dia Em Que Acordei Reconhecendo nossa necessidade mútua

Perdido e amedrontado Numa certa ocasião eu saía de New York em direção a White Plains e uma chuva torrencial desabou sobre a grande cidade. Era uma chuva gelada que contrastava com o aquecimento do carro e aumentava a dificuldade de enxergar as vias e, portanto de ver o caminho correto. Assim, o óbvio aconteceu, eu me perdi. Era um caminho fácil, já havia feito antes e não me senti inseguro ao dirigir. Além disso, habituado a viajar sozinho, numa época em que não havia GPS, eu andava sempre munido de um mapa para qualquer eventualidade. Seguro das minhas plenas capacidades, autoconfiante em demasia, eu nada temia, até que percebi que estava perdido. Todas as ruas e saídas estranhamente pareciam iguais para mim, não conseguia mais encontrar a placa indicando a via de ligação que me levaria à ponte e esta em direção de casa. Vi uma

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construção conhecida e não hesitei em tomar um novo caminho que me levou para outro erro. Agora, eu não sabia mais nem como voltar para a via original, fiquei dando voltas em círculo por diversos quarteirões e somando a escuridão da noite com o sentimento de vulnerabilidade, eu tive medo. “Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro. O meu socorro vem do SENHOR que fez o céu e a terra.” Salmos 121:1-2. Eu estava por minha conta. Antes aquilo parecia me bastar, mas quando me dei conta de que estava sem direção, sem saber que escolha fazer, fiquei aflito. E para piorar a situação, descobri que eu estava num distrito cuja segregação étnica era alta e não havia muita tolerância para com pessoas com minhas características de descendente de árabe e de cor branca naquele lugar. Reconheci minha fragilidade e senti medo, pequeno e indefeso… Então encostei próximo de uma calçada, acendi a luz interna do carro para consultar novamente o mapa, mas antes disso, eu orei a Deus que eu não havia antes consultado e nem pedido que me protegesse na viagem, afinal, eu achava que não precisava dEle. A paz da confiança Após a oração eu me senti renovado, tranquilo e em paz. Algo havia mudado em mim e o mapa, e minha capacidade de orientação eram coadjuvantes de algo mais forte, inexplicável e poderoso que não vinha de mim. Fiquei ali parado, sob a chuva que não cessava, descansando da minha aflição mesmo estando ainda perdido.

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Fui retirado desse momento de paz por fortes batidas no vidro da janela do carro próximo de mim. Havia um carro estacionado na minha frente e outro atrás e eu nem percebi quando apareceram. Abri a janela e um ser humano enorme, com forte sotaque me convidou para sair do carro num tom quase imperativo. Minha estatura pequena se evidenciou mais ainda quando fiquei em pé diante daquele cidadão, que estava acompanhado de outros dois. Me tratando como “brother”, ele perguntou o que eu estava fazendo ali e se eu sabia que ali era um local perigoso. Expliquei minha situação para ele, para onde eu pretendia ir, falei do mapa que eu tinha e se ele poderia me ajudar. “Eis que Deus é o meu ajudador, o Senhor está com aqueles que sustêm a minha alma.” Salmos 54:4. Ele e seus amigos consentiram e se esforçaram em localizar-me no mapa, porém, eu estava mesmo desorientado e eles perceberam. Conversaram entre si e um deles veio com uma decisão. Pediram que eu os seguisse que eles me levariam até um determinado local que eu conhecia bem e de lá eu não teria como não achar o caminho para casa.

As escolhas de Deus E foi assim, que naquela noite de chuva, perdido numa cidade estranha e num distrito hostil, que Deus suscitou aquelas pessoas para me ajudarem. Eles dirigiam devagar para que eu não os perdesse. O caminho adotado era estranho, mas num certo momento se tornou muito familiar. Comecei a reconhecer as

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placas, locais e dentro de pouco tempo meus auxiliadores sinalizaram para eu parar no acostamento. Eles perguntaram se eu já sabia onde estava e se me sentia seguro em continuar, eu respondi que sim e eles se despediram de mim com apertos de mão e votos de boa viagem sob a proteção de Allah. “Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, e cuja esperança está posta no SENHOR seu Deus.” Salmos 146:5. Os “brothers” eram negros e usavam roupas de muçulmanos, eles provavelmente viram meu filho e minha então esposa adormecidos no banco de trás, perceberam que eu estava aflito e me ajudaram de boa fé e depois partiram. Fiquei alguns minutos ainda parado no acostamento, agradecendo ao meu Deus pelo auxílio tão oportuno, quando ouvi uma sirene tocando e as luzes da viatura da Highway Patrol na traseira do meu carro. Um policial desceu, solicitou minha carteira de habilitação e depois indagou sobre minha situação, ele apenas confirmou o que meus amigos muçulmanos disseram e segui viagem em paz até minha casa. Meus dois passageiros adormecidos somente acordaram no momento da abordagem do policial, eles mal tomaram ciência do que aconteceu. Meu filhinho com quatro anos de idade apenas perguntou: “Estamos perdidos, papai?” e quando eu disse que não e que estava tudo bem, ele voltou ao sono em paz e tranquilo.

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O dia em que acordei Já passei por diversas situações tenebrosas em minha vida, situações de perigo iminente de vida, a perda de meu pai, a hospitalização de um dos meus filhos com apendicite, perseguições no trabalho, divórcio, injustiças, humilhações e outras coisas que não desejo para ninguém. Entretanto, naquela noite de chuva, Deus me mostrou que Ele pode usar as pessoas se elas assim se deixarem. Aqueles jovens que me ajudaram não compartilhavam da mesma fé que eu, não possuíam as mesmas origens, os mesmos sensos de moral e respeito que meus pais me ensinaram, não tinham a menor afinidade comigo a não ser sua crença num Deus. No momento da angústia de outro ser humano qualquer, desconhecido e estranho, eles se fizeram pregadores da verdadeira causa que deveria unir os seres humanos: Liberdade, igualdade e fraternidade. “Esperei com paciência no SENHOR, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor.” Salmos 40:1. Eles não me viram como um diferente deles, eles me viram com igualdade. Usaram a sua liberdade de escolha para se deixarem usar como instrumentos de Deus, e como tal, o sentimento de fraternidade os motivou. As três palavras que são equivocadamente atribuídas ao lema maçônico nada tem a ver originalmente com a maçonaria, pois elas já eram usadas por ocasião da criação da primeira seita cristã no mundo. A essência do amor de Deus me tirou do sono da falta de fé. Estive perdido e Ele me achou e me reconduziu para o caminho

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certo e seguro, e hoje, sei que aquela noite foi quando eu acordei para a fé e para meu encontro interior com Deus. Agora, somente peço resignação para esperar com paciência que os planos que Ele tem para minha vida se concretizem.

12. Nosso Universo Interior Vitórias e derrotas diárias

A Escala da emoção “Às vezes precisamos de momentos sós conosco mesmos para poder reencontrar nossas motivações.” Esha Nehir. Atualmente vivemos uma era de evolução no tratamento de problemas que afetam o ser humano: a autoajuda. É uma denominação genérica dada a milhares de publicações que viram best sellers de uma hora para outra, alegando soluções milagrosas, métodos revolucionários para a conquista de objetivos, e até curas para males como a depressão, o sucesso no trabalho e outros. Os milhares de exemplares de livros vendidos curam a falta de dinheiro e promovem o sucesso de seus escritores, isso é certo! Dentro de campanhas promocionais e até turnês de palestras para divulgar seus trabalhos, há um elaborado trabalho de marketing cujo resultado substancial é somente para os envolvidos no processo, entretanto, os consumidores de seus produtos, vivem um curto período de motivação que logo cai no esquecimento. Certa vez fui convidado para participar de uma palestra de uma famosa escritora que ensinava a manter forma física através da

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escolha certa de alimentos e opção bem definida por bons hábitos alimentares. Além do fato de se tratar de um tema que me interessa, ainda contava como horas de atividade acadêmica, e nem me questionei em não comparecer. Fui um dos primeiros a chegar ao auditório e logo vi uma pilha de livros sobre como se alimentar bem, sobre como manter a forma através da alimentação e até um vídeo motivacional sobre o assunto, eram obras da palestrante. Percebi o tom marqueteiro oculto na atividade, mas permaneci para me deixar convencer pelo que ela teria para dizer. Muitos estão numa procura incessante por serem convencidos de alguma coisa através da ação de outro ser humano. A escala emocional anda tão próxima de um grau nulo que a suscetibilidade ao argumento sem consistência de qualquer um pode afetar o grau de discernimento. É a fragilidade humana se ampliando nas pessoas pela falta de um encontro com elas mesmas, pois vivem tão envolvidas com os problemas alheios, com os compartilhamentos de material sem objetivo nas redes sociais, que não sobra tempo para elas se conhecerem e nem descobrirem suas verdadeiras motivações. Nossas vitórias diárias “Meus adversários podem tirar tudo de mim, menos minhas convicções e minha fé.” Esha Nehir. O livro de autoajuda jaz esquecido na estante e a proposta que ele tinha para a vida de quem o adquiriu se tornou mais uma de nossas derrotas. Essas perdas podem resultar em duas atitudes, uma

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vontade de reagir e vencer ou o primeiro estágio do caminho para a depressão. Se deprimir é uma tendência do homem moderno que vive flutuando entre presunções de amizade geralmente difundidas pelas redes sociais. Não há substância em dizer que se tem 350 amigos numa rede social virtual se quem afirma isso não conhece verdadeiramente os supostos amigos e nem recebe provas concretas de que a existência deles pode ser um socorro real nas horas de necessidade. Algumas pessoas se aproximam de outras apenas para conseguirem se beneficiar indevidamente. Numa relação de amizade verdadeira, todos ficam bem, pois os verdadeiros amigos se preocupam e adotam ações de ajuda sempre que percebem um amigo em situação ruim. Não importa o grau de separação, a distância em que se encontram separados, há sempre meios de ajudar. E algo que os adversários nunca podem tirar, por mais deprimido que uma pessoa esteja, é sua convicção e sua fé. Enquanto eu esperava pela palestra que me convenceria a comprar os livros (o vídeo motivacional eu não compraria nunca) fiquei pensando sobre minhas motivações para estar ali, quando de repente 3 mulheres entraram e a que foi apresentada como a autora dos livros não possuía a forma física de quem seguia seus próprios conselhos. Fugindo de um possível preconceito, continuei assistindo àquela senhora falar de obesidade, de tabelas de peso, da relação peso/saúde, enquanto ofegava sem conseguir respirar direito devido ao sobrepeso, um peso que ela pregava que não se deveria chegar.

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Assim percebemos mensagens de motivação de quem não pratica aquilo que diz, transformando seu discurso em um pacote bonito, porém vazio. Ao enfrentarmos nossas derrotas diárias, numa sociedade que nos empurra para a depressão, para o desânimo e para o desenvolvimento de diversas fobias, se não buscarmos nossas próprias motivações (aquelas que realmente movem nossa vontade de reagir ou vencer), jamais conseguiremos sobrepujar nossas derrotas diárias. A Consistência da vitória “A fé nós faz ter coragem de realizar saltos impossíveis.” Esha Nehir. Para cada um há certo simbolismo na vitória, na conquista de algo que se almeja ou na obtenção de sucesso. Contudo, parece haver um acordo tácito entre os homens de que dentro desse simbolismo está a ideia de perenidade, de durabilidade, pois vitórias passageiras costumam ser esquecidas. A consistência da vitória está realmente atrelada à ideia de tempo? Sou forçado a concordar apenas parcialmente com esse conceito. Tenho uma fobia a lugares barulhentos, com muitas pessoas falando ao mesmo tempo e cada uma querendo elevar mais ainda sua voz para se fazer ouvir. Em uma praça de alimentação de Shopping Center encontro essa situação desgastante que se amplia com o ruído de pratos e talheres, gritos, músicas e toda uma poluição sonora que não torna um dos lugares mais aprazíveis para mim. Todavia, frequentemente sou convidado para algumas reuniões e os grupos parecem gostar justamente desses lugares. Analisando

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minhas motivações para estar naquela reunião, o que minha presença pode trazer de benefício e como posso contribuir para a causa daquelas pessoas, me esforço e compareço, permanecendo do início ao fim sem tentar apressar o ritmo dos diálogos para que o encontro logo termine. Outras vezes, já fui convidado por pessoas que queriam apenas um encontro casual, um passeio, e não consegui dizer que iria, e de fato nem fui. As motivações foram as engrenagens motrizes dos movimentos que romperam minha inércia, minha falta de vontade de sair de casa e de enfrentar um ambiente que não me é agradável, pois a fé que eu possuía naquele conclave me dava coragem para saltar em direção a essa pequena vitória minha, que logo se perde no tempo, pois logo é esquecida, mas que pode fazer parte de um conjunto de pequenas conquistas que se tornarão perenes. Nosso Universo Interior “Nós mesmos criamos as leis do nosso universo interior.” Esha Nehir. As leis que regem o universo físico são diferentes daquelas que conduzem o equilíbrio do universo etéreo, o universo que existe dentro de nós mesmos. Em nossa busca por métodos de autoajuda desprezamos que nós mesmos podemos criar as leis que regem nosso universo interior, desde que elas não ofendam aos universos interiores das pessoas com as quais convivemos. Dentro de nós mesmos e da fé que abraçamos está a resposta para a criação da regência de nosso interior. Se dedicarmos tempo para

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nós mesmos, para um encontro íntimo com nosso verdadeiro eu, para entendermos nossas verdadeiras motivações e confrontarmos nossos defeitos em ordem de procurar corrigi-los, nosso universo interior terá uma lei que nos beneficiará e trará benefício para toda a sociedade em que vivemos.

13. Amigos Distantes Ou Amigos Mesmo Distantes O carinho de quem ama vence distâncias “Longe é um lugar que não existe.” Richard Bach Amizades colecionáveis É uma conhecida era, representada pelo anseio de colecionar rostos em pequenas fotografias ou imagens que nada têm a ver com a pessoa dona daquele perfil, que parece estar plena da beleza do verdadeiro sentimento de amar. A era das amizades restringidas às redes sociais. A parte que incomoda nessa nova versão de possuir amizades sem fronteiras é a avidez por apenas colecionar. Comparar os perfis pessoais das pessoas e exultar em estupefação ao perceber que uma ou outra têm centenas, talvez milhares de amigos virtuais, e sair adicionando pessoas sem o menor critério afinidade, carinho e sem se importar sobre aquelas novas figuras colecionáveis em seu perfil. Contudo, as amizades colecionáveis não respondem quando mais se precisa delas. E as pessoas somente se dão conta disso quando vão em busca das amizades angariadas nas redes sociais, seja para apoiar uma causa justa, divulgar uma Fanpage, convidar para um

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grupo de debate, um pequeno evento, mesmo que seja apenas no campo virtual, e percebem a frieza, a falta de compromisso na amizade, a falta de carinho e de comprometimento com suas necessidades. As desculpas para o comportamento alienado com os problemas dos amigos são variadas, é a falta de tempo, “só uso a rede social de quando em vez”, “não leio isso ou aquilo”, “vivemos muito distantes um do outro”, enfim, todas mostrando a frieza ou a inexistência da amizade que está estampada no status da rede social. Mas seria possível extrapolar a amizade virtual para além dessa coisa fria do ato compulsivo de compartilhar imagens e vídeos? Richard Bach, afirma que longe é um lugar que não existe. De fato, sua famosa frase é o título de seu pequeno livro lançado por esse mestre do ensinamento, que de pequeno só possui o tamanho e número de páginas, mas que é grandioso na sua explicação sobre o verdadeiro ato abnegado de amar, onde ele explica o significado da frase-título ao narrar a incrível história de uma viagem que começa no coração do Beija-Flor para chegar até uma festa de aniversário. Amigos independente da distância “A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande.” Roger Bussy-Rabutin. A possibilidade de extrapolar a amizade virtual para além das redes sociais vai depender de cada um, da forma como valoriza suas relações sociais mesmo quando as pessoas que fazem parte delas estão distantes.

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Minha irmã mais velha mora a milhares de quilômetros de distância de onde eu vivo hoje, não nos falamos muito, ambos somos avessos a longas conversas via chat, via telefone, mas existe entre nós uma cumplicidade, uma amizade que não esmorece nunca. Mesmo estando em lados diferentes de opiniões opositoras, aprendemos a nos amar de tal forma, uma herança de nosso pai, que não conseguimos deixar de respeitar as decisões um do outro. Existir uma amizade assim não é fácil nas redes sociais, mas não é impossível. Quando Fanuel Benne e eu nos conhecemos, éramos apenas letras que apareciam na tela do MSN unidos por um único fio de propósito: o hábito de traduzir filmes e séries de televisão. Mas essa única afinidade fez com que nos tornássemos amigos a ponto de nos importarmos com a felicidade e sucesso mútuos. E chegou um dia que precisamos nos encontrar e compartilhar mais de nossas histórias de vida. Não morávamos perto um do outro (eu residia em Canoas/RS e ele em Teresina/PI), mas aproveitamos uma situação promocional e nos conhecemos pessoalmente. E foi assim que meu ex-amigosomente-virtual se tornou meu atual amigo real, que mesmo distante sempre nos mantemos apoiando os projetos de vida um do outro. Para chegar à festa de aniversário da pequena Rae, Bach fala que a menina “está crescendo e eu estou indo à sua festa de aniversário com um presente.” Essa sua fala para cada uma das aves (exceto a Gaivota), que representam uma forma de vencer a distância. Essa frase gera um diálogo com os pássaros numa conversa amistosa cheia de surpresas e ensinamentos.

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Até que ponto se é capaz de amar além da distância que se forma entre nós e as pessoas a quem amamos? O amor que podemos dar é logo apagado, pois de tão pequeno, o vento da distância o elimina? Ou somos portadores de um amor grandioso, firme e apoiador, que abraça causas e funde vidas e emoções, um amor que se torna mais forte ainda quando o vento da distância o aquece? O carinho de quem ama vence distâncias “É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado.” Guimarães Rosa. O ato de se importar com a felicidade daqueles a quem se professa amar é particular e depende da capacidade de envolvimento de cada um. Em nossa sociedade marcada pela presença do distanciamento emocional, da busca por amizades com fins de interesse, as formas de demostrar carinho nas relações sociais possuem uma forte tendência a se individualizarem, e a individualização da amizade não é uma forma prazerosa de relacionamento. No individualismo das relações não está presente à empatia pelo sofrimento do amigo, não é possível sentir a dor nem o sofrimento das pessoas amadas. Por isso não há apoio, compreensão, comparecimento a um evento virtual que seja sem a presença de um amor mais profundo no coração. São apenas possibilidade de extrapolar a amizade virtual para além das redes sociais vai depender de cada um, da forma como valoriza

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suas relações sociais mesmo quando as pessoas que fazem parte delas estão distantes. Nas 54 páginas do livro de Richard Bach, existe a forte ameaça de um confronto com nossas convicções sobre a capacidade de amar, pois ele nos coloca diante da nossa descoberta interior, mostrando sem sutilezas e ao mesmo tempo com suavidade que o verdadeiro amor transcende tempo e espaço. Em uma das passagens mais chocantes do livro, o Beija-Flor pergunta: “Podem os quilômetros nos separar realmente dos amigos? Se você quer estar com alguém a quem ama, já não está lá?”. Somente o fato de querermos estar com alguém a quem amamos, de querermos mesmo estar com aquela pessoa, se revela suficiente para nos capacitar a estar com ela, mesmo à distância, através de nosso apoio, nosso carinho e da nossa real atitude de amor. REFERÊNCIA: BACH, Richard. Longe É Um Lugar Que Não Existe. 24. ed. São Paulo – SP: Editora Record, 2009. 54 p.

14. Cruzamentos As intersecções da vida “Eu não sabia que doía tanto, uma mesa num canto, uma casa e um jardim. Se eu soubesse o quanto dói a vida, essa dor tão doída, não doía assim. Agora resta uma mesa na sala e hoje ninguém mais fala do seu bandolim. Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo [ 67 ]


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em mim. Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim.” Sérgio Bittencourt Estrada de chegada Na década de 1930, Esha (‫ اول‬no idioma original Farsi), meu primeiro mestre, despontou no ocidente do mundo e foi morar em Belém do Pará, na qual conheceu os rigores da incompreensão da vida antes do modernismo das instituições atuais. Extremamente inteligente, questionador, chegava às similitudes de uma rebeldia, que despertava o furor da mãe que não conseguia entender toda energia que ele possuía e que sem ter como canalizálas, ele as projetava em brincadeiras de rua, traquinagens e desobediências. Todas típicas atitudes de quem vivia preso e quando se via em liberdade, por mais curta que fosse, e talvez justamente pela perspectiva de ser curta, queria aproveitar ao máximo. Sem os recursos atuais sua mãe, Genih, não sabia como lidar com aquele espírito indômito, daí tentava dominá-lo com generosas surras, que careciam de todo um ritual para impedir que ele escapasse. Observador, ele já identificava os sinais da surra com facilidade e encarava os desafios de arranjar uma escapatória como um entretenimento. Primeiro criava uma desculpa, se não desse certo, ele se punha a correr pela enorme casa até conseguir uma janela ou porta que tivesse tempo de destrancar e fugir antes que a pobre Genih o alcançasse. Sem condições de manter sua autoridade sobre o garoto, Genih o enviou para morar com a avó dele.

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Com sua avó ele vivenciou privações, pois ela era muito pobre. A casa enorme de antes foi substituída por uma pequena, a mesa farta por uma regrada, mas isso foi bom por ele. A paciência anciã de sua avó, o ensinou a lidar com suas energias e canalizá-las em aprendizado. Passou a estudar num colégio semi-interno, onde entrava pela manhã e somente saía à noite. Realizou seus estudos nessa escola que posteriormente se tornou a Escola Técnica Federal do Pará. Estradas cruzadas I Ele fazia diversos trabalhos para ajudar nas despesas na casa da velha vovó. Certa ocasião observou alguns ambulantes vendendo brinquedos de madeira e juntando o dinheiro que possuía comprou um de cada modelo. Eram brinquedos tradicionalmente vendidos na Praça da Nazaré, onde uma multidão de devotos se concentra anualmente nas festividades do Círio de Nazaré. Foi um ano de preparo aperfeiçoando os brinquedos e economizando dinheiro para adquirir material. Assim, no círio seguinte, ele apareceu com parte de sua produção que rapidamente foi vendida na manhã do primeiro dia. O sucesso fora tanto que resolveu fazer mais brinquedos durante a tarde e a noite. No dia seguinte já havia encomendas e ele não dava mais conta de vender sozinho. Ao perceber um garoto, mais novo do que ele, que olhava admirado para os brinquedos, indagou: “Quer ganhar um?”. O garoto respondeu com a cabeça que sim e o pequeno artesão fez uma proposta. Se o garoto o ajudasse, receberia como

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pagamento um brinquedo à escolha e ainda mais algum dinheiro e que durante os dias ele teria lanche para aguentar o trabalho. Pedro, o garotinho, bem disposto aceitou o desafio e no final do período de festa ele recebeu sua recompensa e mais um bônus. Meu primeiro mestre perguntou quantos irmãos ainda criança ele tinha e deu um brinquedo para cada um, separou um especial para a irmãzinha que ele disse que tinha. Ao chegar a casa, o garotinho entregou os presentes e fez a felicidade de todos. A pequena irmã brincava feliz e foram dias de felicidade para aquelas crianças, que como meu mestre, eram pobres e pouco tinham com o que brincar além de suas imaginações infantis. Pedro não retornou nos anos seguintes e meu mestre artesão sentiu falta do pequeno auxiliar. Diversificando sua produção para poder ganhar dinheiro durante todo o ano, o mestre passou a confeccionar cartolas, chapéus, acessórios para fantasias de carnaval, que de tão bem feitos, eram encomendados por famosas lojas do ramo. E assim ele ajudava sua avó e terminou seus estudos formando-se em contabilidade, pois matemática e cálculo sempre foram seu forte. Estradas cruzadas II Após a morte de sua avó ele retornou para a casa de Genih, mas agora ambos eram outras pessoas. Ela estava mais experiente e se orgulhava do filho e ele já não era mais o garoto de antes. Esha era muito respeitado por sua inteligência e ao terminar seu curso já encontrou emprego tornando-se Gerente Geral de uma empresa de exportação.

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Alheio a qualquer comportamento discriminador, ele conversava com os operários, fazia algumas refeições com eles e foi assim que ele aprendeu a entender as pessoas e despertou um interesse particular por uma jovem operária. Nessa estrada da vida, ele conheceu muitas pessoas, mas ninguém se comparava à ela, Joana, por quem ele se apaixonou e a quem amou a vida inteira. Joana era uma garota difícil e estava prometida para outro rapaz, de quem a família a fizera ficar noiva contra a vontade dela. Esha, não obstante, era persistente e além de conseguir conquistar o coração da bela morena que sem ter como fugir de seus sentimentos pediu a ele que fosse até sua casa explicar a situação para ela poder terminar o noivado e poder assumir aquele amor. Concordando, Esha foi até a casa de Joana e enfrentou a furiosa futura sogra, que desde o princípio se mostrara insatisfeita, mas que não tinha como evitar, pois ele fora contundente em seus argumentos. Falou com firmeza que ele e Joana se amavam e que nada impediria que eles ficassem juntos. Um dos irmãos de Joana, chamado Manoel, simpatizou com Esha de primeira, mas nem todos gostaram de saber que sua irmã caçula estava saindo de um noivado promissor para casar com um desconhecido. Certo dia, um deles, chamou uns amigos para ir tomar satisfação com Esha. Ao se aproximarem do meu primeiro mestre, o irmão de Joana partiu furioso para conversar com ele, porém teve uma surpresa. Aquele homem que estava diante dele, era sem dúvida um rapaz que há muitos anos o convidara para vender brinquedos de madeira na Praça de Nazaré durante o círio, era o mesmo que lhe pagara refeições e presenteara a ele e seus irmãos com vários brinquedos, inclusive Joana.

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Ambos se reconheceram. Pedro e Esha agora eram homens e mais uma vez as estradas da vida se cruzaram e reacendeu uma chama de amizade. De insatisfeito, Pedro passou a ser a favor da relação entre sua irmã caçula e seu amigo, que somente encontrara por 15 dias no passado. Origens dos relatos A minha estrada da vida é uma ramificação da estrada de Esha, pois ele foi meu pai, o primeiro Ivenio, a quem alegoricamente chamo de Esha nesse relato, pois significa “premihr” ou primeiro, em Farsi, o idioma árabe da região de onde descendemos. Esse relato não foi contado por ele. Eu soube da história nas versões de minha avó Genih, meus tios Pedro e Manoel e confirmei com minha mãe Joana, que fala orgulhosa da forma garbosa como ele a conquistou e de seu melhor brinquedo de infância, o brinquedo de madeira enviado por ele. O primeiro Ivenio Hermes me ensinou muitas lições de vida através do exemplo dele. Ele nasceu em 30 de abril e faleceu em 7 abril, tornando esse mês, de uma forma estranha, especial e sofrido ao mesmo tempo. “Naquela mesa ele sentava sempre e me dizia sempre o que é viver melhor. Naquela mesa ele contava histórias que hoje na memória eu guardo e sei de cor. Naquela mesa ele juntava gente e contava contente o que fez de manhã. E nos seus olhos era tanto brilho, que mais que seu filho, eu fiquei seu fã”. Sérgio Bittencourt.

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A dor da saudade de ouvir a voz rouca dele, me aconselhando e me ajudando é muito forte. A estrada dele nessa vida terminou em 2007, e hoje, seis anos depois, ainda sofro com a perda com a qual muitos disseram que eu logo me habituaria. Meu pai adorava entoar as músicas interpretadas por Nelson Rodrigues, como a de Sérgio Bittencourt citada, sempre com aquele olhar distante e apaixonado. Ele me ensinou que devemos amar e fazer o bem a qualquer um que demonstre necessidade e apreço pelo nosso sentimento, e que o amor se firma em compromisso com a felicidade dos outros. Que esse relato traga para um pequeno ensinamento para você, como trouxe para mim. Afinal, o premihr Ivenio Hermes foi único. E todos que realmente conviveram com ele o suficiente para entendê-lo, gostariam de ser uma pequena porção do gigante que ele foi.

REFERÊNCIA A música cantada por Nelson Rodrigues foi composta por Sérgio Bittencourt em homenagem ao seu pai Jacob do Bandolin.

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PARÁBOLAS Parábola, por Alberto Busquets A palavra é oca: Simbólica medida Delimitando Ideia perdida. O frase é fria: Cadência unida Não contrastando Ideia ferida. Mas em meio ao escrito Incluindo sentido Desabrochando Em símbolos unidos. Do vazio constante À lição conferida Parabolicamente Palavra e vida, amigas! 1. O Último Encontro Pelo que se sabe Fullan e Beltran nunca haviam se visto antes daquele fatídico dia. E estavam eles ali, os dois, somente eles, dividindo uma enfermaria de dois leitos, disfarçadamente pequenos, mas com aquele aconchego que os planos de saúde fingiam fornecer para os menos afortunados, ou para aqueles que por opção, não pagaram por apartamentos privativos, o que nesse

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caso resultou numa interessante coincidência, que reuniu os dois moribundos. Foi naquele cubículo que eles passaram seus últimos momentos de vida na terra. Você que está lendo isso, não fique preocupado. Apesar da morte iminente, ambos estavam tranquilos e tagarelantes, ao comentar um com o outro os fatos da vida que os lavaram até ali. Animados até, ambos gabaram-se de seus feitos de juventude e as vezes que eles repetiram a clássica frase dos antigos “no meu tempo era assim” foram incontáveis. Riram, gesticularam mesmo presos aos soros e máquinas de oxigênio, motivados que estavam pela empolgação de relembrar os bons tempos passados. Parecia que a emoção que sentiam era a de rever um amigo de infância. Cheios de calor humano os novos “amigos de longa data” chegaram num momento de abalo na nova amizade: um se dizia feliz em ser ateu por convicção e ou outro também manifestava igual felicidade por acreditar em Deus. Debateram-se em argumentos, chegaram a se provocar, queriam por fim da força convencer um de que o outro estava errado. Não conseguiram. O ateu citou seu repertório, big-bang, a poça primordial, evolução, falta de provas da existência de Deus e sua própria filosofia que emprestava aos seus argumentos uma aparência de razão. O crente não ficava atrás, criacionismo, as forças inexplicáveis do universo atribuídas a um ser superior, fé, sendo esta última, seu argumento mais enfático, que ainda complementava citando a Bíblia, mas era muito combatido nisso, pois o ateu não colocava crédito algum a qualquer coisa que tivesse origem no texto sagrado.

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Acredite leitor, que eles não chegaram a brigar, eram apenas argumentos trocados com muito ardor, mas sempre com o respeito próprio das pessoas idosas. Não conseguiram se convencer. Essa história da coincidência do encontro de Fullan e Beltran, terminou com outra coincidência, os dois velhos morreram calados e ao mesmo tempo enquanto pensavam nas convicções do colega enfermaria. Uma pessoa que presenciou a cena dos dois mortos relatou o sorriso que cada um estampava no rosto. Pareciam felizes, cada um ao seu modo. Mas ninguém sabia o que estava oculto sob aqueles sorrisos. Fullan riu no momento em que se sentiu abraçado pelo que ele imaginava ser a senhora da foice que chegara para extinguir sua efêmera centelha de vida. E sabe por que ele sorriu? Ele sorriu em pensar na decepção de Beltran quando descobrisse que não havia nada além daquela vida. Imaginou a cara de espanto do colega que levara uma vida acreditando em tantas bobagens… Ocorre que, como dissemos antes, Beltran também sorrira no derradeiro momento. Seu riso era cheio de esperança, estava feliz porque acreditava que sua vida não acabaria ali, era um sentimento de conforto inexplicável que era originado em sua fé em Deus, de que estava apenas adormecendo para acordar depois em uma nova realidade feliz, eterna… As filosofias, as crenças ou qualquer nome que você use para rotular, não foram capazes que mudar a opinião um do outro naquele momento final, mas a verdade é que ambos morreram sorrindo. Um sorria da possível frustração do outro ao deparar-se

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com o “nada” e percebendo que desperdiçara sua vida acreditando em vida após a morte e o outro feliz com a certeza da felicidade na vida seguinte. Nossa fábula deixa no ar uma pergunta: como Fullan poderia ter certeza, a ponto de sorrir, de que Beltran descobriria que estava errado em sua fé? Mas ele não prestou atenção nisso na hora de sua morte, limitou-se a sorrir confortado com aquela ideia. Um dia eu e você “passaremos desta para outra”… ou para o “nada”… e tomara que façamos isso com um sorriso no rosto. Nesse caso, não quero morrer com o sorriso de Fullan, eu prefiro estar com o sorriso de Beltran, cheio de esperança, feliz em crer numa nova vida. E você?

2. Outros Josés: Histórias Semelhantes I.

Conquistas passageiras

Muitas belíssimas histórias são conhecidas por milhares de pessoas, independente de serem religiosas ou não, de terem fé ou não, de crerem ou não. Kateb é um desses personagens cuja história se assemelha com os milhares de contos que conhecemos. No caso dele, jovem imigrante que conseguiu conquistar um trabalho numa grande empresa, onde em pouco tempo, devido vontade e fé, ele conseguiu fazer seu nome ser bem respeitado. Os irmãos de Kateb, também imigrantes e trabalhadores da mesma empresa o invejavam e essa inveja foi ao extremo quando rapaz recebeu cargo de pesquisador, uma função que vinha

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acompanhada de uma indumentária, um belo traje representativo da posição. Ao vê-lo vestido com aquela bela túnica, eles se encheram de ira e resolveram que se livrariam dele na primeira oportunidade. II.

Rasgando a túnica

Trabalhando dedicadamente no seu novo cargo de pesquisador, Kateb pedia ao seu Deus, Allah, que o ajudasse, haja vista que, embora ele estive um pouco preparado para a tarefa a sua frente, sua confiança em Allah era tão grande que ele preferia crer nas capacidades de um Ser infalível do que nas dele mesmo. Durante uma ocasião em que precisou se ausentar do trabalho para visitar seus familiares, um novo preceptor setorial assumiu a empresa, pois situações duvidosas, anteriores à ascensão de Kateb ao cargo, haviam ocorrido. Os irmãos aproveitaram a ocasião e envenenaram a mente do novo preceptor contra o pesquisador, que foi surpreendido ao chegar de sua viagem com sua destituição do cargo. E pior, saber pela boca do preceptor setorial que foram seus próprios irmãos quem falsamente atestaram dúvida sobre seu caráter e sua capacidade. A traição daqueles a quem ele amava foi como ser jogado no fundo do poço, e a destituição de sua função, como o rasgar da túnica! III.

Partindo para o exílio

Traído e humilhado, Kateb entrou em profunda depressão, não aguentava mais trabalhar, sair de casa, temia a tudo e a todos. E mesmo confiando em Allah, ele sabia que precisa buscar ajuda nos

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médicos e assim o fez, sendo posteriormente recomendado que saísse da cidade e fosse para outro lugar. E assim o ex-pesquisador partiu para outra cidade bem distante, sentindo-se deprimido, humilhado e incapaz de conviver com aqueles que um dia chamara de irmãos, não porque não fosse capaz de perdoá-los pelo mal que eles lhe causaram, mas porque ele sabia que não poderia mais conviver com quem ele não possuía a capacidade de confiar. O exílio foi muito monótono nos primeiros meses e lutando contra a depressão, Kateb fazia os mais diversos trabalhos em casa, consertava as lonas das tendas, costurava tapetes, enfim, toda sorte de trabalhos que não necessitassem de um maior raciocínio. Embora em constante luta interior, a depressão o derrubou afinal, ele não abriu a boca para reclamar daquele Deus a quem ele tanto acreditava e procurava manter a fé de que aquilo era somente uma fase. IV.

Confiar novamente

Um dia, ao retornar do mercado, Kateb e sua esposa, Falak, resolveram conduzir seu camelo por um caminho diferente. Assim passaram pela frente de um belo liceu e novamente a veia de pesquisador jovem exilado voltou a se dilatar. Kateb e Falak se matricularam no liceu e uma nova vontade surgiu na vida do exilado. Cheio de ânimo em receber novos conhecimentos, ele passou a se dedicar bastante aos estudos, compartilhava tudo que sabia e possuía com seus outros colegas e logo encontrou um par de colegas que se tornaram suas amigas inseparáveis, Hooriya, a mais nova, e Anisah, da mesma idade de Kateb.

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E foi essa amizade, que ajudou Kateb a se reconstruir. Para Hooriya, ele, o paizão, a quem ela buscava e carinho paterno. O sonho de ser pai de uma menina, nunca realizado, parecia se materializar na amizade com Hooriya. Com Anisah a relação era outra totalmente diferente. Ela era a irmã, a amiga conselheira que não o deixava esmorecer quando as angústias dos traumas do passado insistiam em se manifestarem. Em ocasiões de grande atribulação sempre Hooriya e Anisah estavam prontas para ajudar. Cada uma do seu modo. V.

O lento recomeçar

Nada é fácil na vida daqueles que buscam sobreviver com honestidade e sem ambição. E para Kateb não foi diferente. Bastante conhecedor da área de pesquisa, ele logo começou a falar sobre isso nas urbas, uma espécie de praça onde as pessoas se reuniam para manifestar livremente seus pensamentos. As ideias de Kateb logo foram muito bem aceitas e ele era convidado para discursar em diferentes urbas. Sua fama foi além dele mesmo. Allah abençoa Kateb até que certo dia, dentre os que o ouviam estava Wajihah, a preceptora mor da empresa de Kateb. E Allah tocou no coração de Wajihah, que enxergou a capacidade desperdiçada de Kateb e o ajudou a recuperar seu cargo e prestigio na empresa. VI.

A mensagem de Anisah

Em muitos aspectos reconheço detalhes da história de José, o hebreu da Bíblia Sagrada na de Kateb. A túnica, a traição dos

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irmãos, o exílio, e outros. Temos muitos Josés na história da humanidade. Para aqueles que passam por situações semelhantes a de José, compartilho com vocês as palavras de ânimo de Anisah para Kateb, que serve para todos nós até os dias de hoje. A Ode de Anisah No caminhar de nossas vidas, aos poucos nos preparamos para o nosso encontro definitivo com Deus. Consumimo-nos em devaneios de necessidades efêmeras, que são formas criadas por nós mesmos para não pensarmos neste fato definitivo. É um processo natural do qual fugimos deste pensar. Precisamos de pouco, meu amigo, para sermos verdadeiramente felizes. Em primeiro lugar necessitamos de paz em nosso espírito, que, como a água, que nos acalma, tranquiliza, suaviza nossos tormentos. Só nós podemos buscar isso para nós. A seguir vem a saúde física e espiritual, sem ela não temos paz. Então vem o amor, que assim como o sol, sem ele não temos saúde. O amor é o lenitivo da nossa alma, é o alimento do nosso espírito é a força que nos humaniza. Amar é um verbo de ação que deve começar em nós.

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Só conseguimos amar quando nos amamos. Perceba que para isso não na há necessidade de dinheiro, de posição social, de produção intelectual ou de qualquer destaque profissional. Somente necessitamos querer ser felizes! REFERÊNCIAS: MARIANA L. PEREIRA (Brasil SP São Paulo). Central da Dança do Ventre.Nomes Árabes. Disponível em: < http://www.centraldancadoventre.com.br/nomes-arabes >. Acesso em: 27 jul. 2012.

3. Fábula Do Passado… Realidade Do Presente E as perspectivas do futuro “A vida me ensinou a dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração.” Charles Chaplin As pinturas Era uma vez um tio, e começo por ele apenas porque ele nasceu antes, mas a história deveria começar por ela, que é a grande pérola desse conto. Mas deixando esse modelo de contar histórias de lado e voltando ao tio coadjuvante, prossigamos nossa narrativa. Era uma época de buscas e as famílias árabes da região de Euthelia viviam em busca de novas paragens para apascentar seu gado. O sábio Esha sabia que era uma vida dura e decidiu enviar seus filhos

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para serem educados em um lugar mais distante ainda. E foi assim que Esmirna e Nasir, irmã e irmão, unidos por uma amizade inexplicável, embora separados por uma diferença de idade de 10 anos, foram agora separados pela distância, que devido à dificuldade de transporte, era implacável para eles. Euthelia pouco prosperava e a possibilidade daqueles dois irmãos voltarem se tornava cada vez mais remota. Esmirna teve dois meninos e uma menina, e cada um deles se tornava conhecido do tio distante pelas pinturas cuidadosas que ela enviava para irmão. Numa das difíceis viagens, uma verdadeira peregrinação, os dois irmãos se reencontraram. E foi nessa época que o jovem Nasir conheceu a sobrinha Ryaana em seus 6 anos de idade. O encantamento entre o tio e os sobrinhos era evidente e se extremou no caso da sobrinha, pois ela era a representação da filha que Nasir um dia gostaria de ter. As pinturas enviadas a Nasir eram a ligação com o desenvolvimento dos sobrinhos amados.

Em diversas ocasiões Um dia Nasir fora estudar em outro país. A distância aumentou e a dificuldade de reencontro também, mas com tudo isso, a amizade de Nasir com Esmirna também aumentou e dele para com os sobrinhos também era grande o apego, de tal forma que carinhosamente o chamavam de “tiozão”. De regresso para as terras do Sultão Amir Ehur, Nasir passou a trabalhar para a segurança do reino e em diversas ocasiões pode rever os sobrinhos. Numa dessas ocasiões, Ryaana que se

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lembrava de Euthelia como menina, decidiu ir com o tio conhecer a terra onde os avós viveram. Foi um curto verão onde a amizade entre tio e sobrinha se tornou de pai e filha, uma união de amizades, de carinho e de compreensão mútuos que parecia uma repetição da amizade entre Nasir e Esmirna, dessa vez, a versão que ocupava o lugar de Esmirna era Ryaana, de apenas 17 anos de idade.

O verão do aprendizado Foram apenas 23 dias juntos incluindo a viagem, mas que marcou a vida de tio e sobrinha. Eles falaram de religião, cada um de seus amores, de suas ideias para o futuro. Era amizade e respeito às ideias de cada um mesmo nas divergências. Com a jovem Ryaana o tio aprendeu como seria sua vida se tivesse uma filha. Passearam juntos, visitaram os mais velhos, conheceram os lugares e bravamente Ryaana provava de todas as iguarias da terra de seus antepassados. Ela não temia experimentar, era tudo novo e o tio andava por todas as partes apresentando orgulhosamente a sobrinha aos amigos com o peito estufado de orgulho. A troca de experiências foi enorme, mas a jovem Ryaana, também cheia de orgulho do tio, mal imaginava que o tio se sentia o aprendiz e reconhecia na sobrinha o espírito inquieto e indômito de seu avô, de sua irmã, enfim, da ala mais aventureira da família.

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Indomável e indômita como seus antepassados, Ryaana não aceitava os costumes comuns da mãe, foi rebelde, gritou de dentro de seu corpo frágil, que mal consegue segurar a guerreira lutadora que nele habita que a vida regrada não seria para ela uma imposição de fácil aceitação. A aventureira descobriu naquela viagem às terras de seus avós, que ela era feita de uma madeira mais resistente e que seu espírito nômade precisava viajar. E foi assim que certo dia, ela partiu deixando para trás toda a família, em busca de um sonho que era somente dela e que não partilhava com os outros, nos bons e velhos moldes de seu avô Esha, que segredava seus planos até que as possibilidades de darem errados fossem mínimas. O tio Nasir Nehir se perdera na nostalgia e na saudade de nunca mais ter visto a querida sobrinha, até seus filhos a viram depois dele, mas ele não. Esmirna Nehir e seu marido Yaluze, aos poucos foram aceitando que a filha não era tão diferente da mãe e do tio, que não se apegavam a nada diante da possibilidade de conquistar o sonho almejado.

O vento não levou Nasir reaprendeu com a sobrinha a arte de lutar por um objetivo, ela não sabia, mas cada atitude forte e perseverante dela rumo aos sonhos que ela possuía, injetavam no tio pequenas doses de força de vontade e desejo de vencer. E todo amor que une os Nehir continua existindo. Ryaana Nehir passou por muitas situações ruins, acidentes, humilhações, sonhos postergados, uma doença que a persegue até os dias de hoje, mas

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ainda é uma bela e lutadora moça. Os sonhos foram se realizando e outros ficaram desbotados diante do colorido de novos que despertaram. A última notícia que tenho deles é que ela está grávida. A 4ª geração dos Nehir fora de Euthelia, após 23 gerações apenas parcialmente distantes do núcleo do nascimento da família, se prepara para iniciar seu trajeto. Que tipo de ser humano virá dessa vez? Outro indomável? Um apegado a terra? Ou os nômades naturais? Somente sabemos que no dia que muitos relembram seus mortos, os Nehir anseiam pela nova vida. A essência material do patriarca Esha Nehir se foi jogada no lugar da escolha dele, a essência do novo ou nova Nehir virá para deixar sua marca também. Afinal, o amor inerente a essa família, o vento não levou.

E as perspectivas do futuro Obrigado Nayara, pela oportunidade de ser tio-avô, que não é como eu me sinto, pois meu coração grita, meus olhos se enchem de lágrimas e meu espírito indomável já sente a sensação de ser avô, da única sobrinha, da quase filha, daquela cuja a pronúncia da alcunha “tiozão” possui um significado que somente seu pai deve sentir de verdade. Vou ser avô, da mina neta… ou neto, filho da minha sobrinha ou filha, dádiva de Deus... Ou… Deus, desse não resta dúvida.

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INTERPRETAÇÕES Interpretação, por Alberto Busquets O que vês, eu não vejo. Inexisto no desejo Que impele gentilmente sua compreensão. O que sinto ou almejo Fazem parte do ensejo Universo do presente Em minha opinião. Em visão mal recortada A vida segue, limitada Ao sabor de cada qual: Em facetas lapidada Partes-todo bem veladas Vícios de entender mal. Somando-se visões não dadas Respeita-se a ideia alada De imaginário e ideal. Interpreto. Tento o certo -e o incertoSem limites. Mente alerta, Mente aberta:

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1. Salmo 70: Algumas Reflexões Sobre o Salmo De Davi. 1. Apressa-te, ó Deus, em me livrar; SENHOR, apressate em ajudar-me. Nunca podemos entender que Deus demora em nos auxiliar, não existe parcimônia de tempo por parte de um ser que é a própria representação do auxílio, da misericórdia e do amor. Igualmente, Deus conhece o tempo certo para nos conceder algo, e, portanto, o que devemos interiorizar é a capacidade de esperar o tempo dEle. 2. Fiquem envergonhados e confundidos os que procuram a minha alma; voltem para trás e confundam-se os que me desejam mal. Não podemos inferir desse versículo que o salmista esteja amaldiçoando ou que esteja desejando o mal para os aqueles que o perseguem, pois pecadores todos nós somos e o Senhor nos ama indistintamente (tanto a nós quanto aos nossos inimigos). O que ele almeja é que seus inimigos sejam confundidos no que eles percebem do mal e assim possam também se arrepender desse mal caminho em que se encontram e se volvam para Deus. 3. Virem as costas como recompensa da sua vergonha os que dizem: Ah! Ah! Aqueles que zombam precisam se envergonhar do que fazem. Mais uma vez aqui não há o desejo de que os inimigos sofram um mal maior do aquele que possa demovê-los de fazer o que é errado, e assim buscarem a verdadeira justiça que não admite o escárnio e a zombaria como seus motivadores.

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4. Folguem e alegrem-se em ti todos os que te buscam; e aqueles que amam a tua salvação digam continuamente: Engrandecido seja Deus. Eis nesse versículo, a recompensa para os que amam o Senhor Deus, aqueles que amam a salvação, essa recompensa é a alegria. Não desejemos riquezas ou poder ou reconhecimento pelas nossas atitudes. O que precisamos é apenas da dádiva de felicidade, que é poder atribuir todo nosso sucesso, nosso livramento ao grande e maravilhoso Deus. 5. Eu, porém, estou aflito e necessitado; apressa-te por mim, ó Deus. Tu és o meu auxílio e o meu libertador; SENHOR, não te detenhas. Estar aflito, necessitado, com um sentido de urgência exacerbado, é próprio da natureza humana, portanto sempre temos a tendência à pressa, à urgência que nossos pedidos sejam atendidos. Isso nos reporta para o primeiro versículo onde o salmista quer pressa em seu livramento. Mas também, como uma forma de contrapor sua pressa natural, ele afirma que Deus é o libertador e que Deus não demora a livrálo. Amigos, Deus está à nossa disposição, para livrar-nos dos nossos inimigos e nos iluminar, e dentro disso, Deus quer oferecer a libertação aos nossos inimigos. Que possamos entender que nosso Deus nos considera todos seus filhos, que Seu objetivo maior é nos tornar irmãos, limpar nossas iniquidades e nos levar todos para um dia morar com Ele, em seu reino de luz.

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Dedico essas pequenas reflexões pessoais àqueles que me consideram como inimigo, adversário ou tenham qualquer tipo de antipatia a meu respeito, pois quero um dia poder abraçar a todos, numa felicidade plena de irmãos, rumo à uma nova vida de realização plena em Deus.

2. Quando Deus Nos Responde Daniel na Cova dos Leões

Há algum tempo, durante uma forte provação na minha vida, estando eu com uma amiga na casa de outra amiga fiel, oramos juntos e num determinado momento, ela cheia de fé, olhou para mim e estendeu a mão num gesto súbito, bem típico dela, e disse que a minha bênção estava logo ali, e pegando sua Bíblia sem escolher o local ela abriu na história de Daniel na cova dos leões. Daniel era um homem que amava a Deus acima de todas as outras coisas em sua vida. Como seria de se esperar, por sua devoção a Deus e ao que é correto ele conquistou alguns inimigos. Os inimigos de Daniel queriam destruí-lo. Queriam atribuir a ele a culpa por algum crime ou desobediência às leis em vigor naquela época. O comportamento de Daniel não permitia a eles um meio de condená-lo, portanto, como sabiam que Daniel sempre orava e adorava a Deus ajoelhado em seus aposentos, induziram o Rei a assinar uma lei traiçoeira que estabelecia que, durante um mês, nenhum súdito poderia agradecer, pedir ou reverenciar a qualquer

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deus, pois isso poderia ser feito somente ao Rei. A pena para a desobediência ao decreto régio seria a morte na cova dos Leões. Daniel continuou a fazer seu trabalho diligentemente e como amava a Deus continuava buscando-O em oração como sempre o fizera, independente daquela lei. E o fazia três vezes ao dia. Somente um mês era necessário para Daniel esconder suas convicções, somente um mês era pedido para ele deixar de adorar e fazer a vontade de seu Deus, mas no lugar de pensar nessas fugas, ele se manteve firme em sua fé acreditando que o Grande Deus faria o que melhor fosse para sua vida. Os inimigos de Daniel, vendo-o manter seus princípios e orar a Deus, foram contar ao Rei sobre a desobediência ao decreto real. Dario, o Rei, entristecido, pois gostava de Daniel, precisou fazer cumprir a lei e Daniel foi lançado na cova de leões famintos. Foi uma noite insone para o Rei Dario e, ao romper o dia, ele foi até o local com uma íntima esperança de ver Daniel vivo. Ele acreditava que o Deus de Daniel poderia tê-lo salvo. E ali estava Daniel são e salvo! Ele contou alegremente que Deus enviara um anjo para fechar a boca dos leões e por isso eles não o atacaram. Cheio de felicidade o Rei publicou uma nova lei dizendo que todos deveriam adorar o Deus de Daniel. A história contada na Bíblia no livro de Daniel capítulo 6 é muito mais rica que o meu resumo acima e sugiro que você a leia. Eu não sei o que essa história pode significar para você, não sei quais são os seus medos, suas atribulações e provações, mas sei que nosso Deus é mais forte.

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Não importa o que acontece com nossos inimigos, devemos sempre querer que Deus tenha profunda piedade deles. Não importa o quão profunda seja a cova em que nossos inimigos nos lancem, o amor do nosso Deus é mais profundo. Não importa quantos leões habitem as covas, o exército de Deus é maior e mais poderoso. E não há sede de vingança ou desejo maligno dos inimigos dos filhos de Deus que não possa ser aplacada pela bondade e misericórdia de Deus. Naquele dia, na casa da minha amiga, a mensagem de Deus chegou até mim, e Ele continua colocando suas mensagens diante de nós quando mais precisamos delas. Acredite nisso, tenha fé, ore e busque a Deus com paciência, pois Ele te ouvirá.

3. O Deus Das Diversidades Reflexões Sobre a Teologia da Igualdade I.

Preconceito e Discriminação

No nosso mundo atual, sob os efeitos da globalização, tornou-se evidenciado o diálogo sobre direitos humanos e sobre a igualdade de condições para todos, entretanto, ainda vivemos numa sociedade desigual e preconceituosa. Sabemos muito bem que o preconceito é um conceito antecipado, uma forma que concebermos previamente um determinado julgamento sem, no entanto, possuirmos um pleno conhecimento dos fatos. Nessa prática preconceituosa, não podemos excetuar a discriminação, que incluem conceitos que ferem a dignidade humana através do racismo, xenofobia, discriminação de classes

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sociais, e entre muitos outros mais, trazendo à nossa sociedade já historicamente desigual mais conflitos e dissensões. II.

Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Humanos

O Princípio da dignidade da pessoa humana é um valor estabelecido e confirmado pela moral humana e sua acepção espiritual, faz parte da pessoa, portanto, todo ser humano possui esse preceito. Se não fosse a deturpação do caráter do ser humano, nunca haveria a necessidade de transformamos isso em lei para que fosse imposta aos desviantes da natureza respeitosa aos outros. Immanuel Kant, em seu livro a “Fundamentação da Metafísica dos Costumes” (Grundlegung zur Metaphysik der Sitten), defendia que as pessoas deveriam ser tratadas como um fim em si mesmas, como a finalidade de tudo, e não como um meio: “No reino dos fins, tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser substituída por algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço, e por isso não admite qualquer equivalência, compreende uma dignidade.” (Kant, 1785) Os direitos humanos se originam em conceitos filosóficos e direitos naturais que seriam atribuídos aos seres humanos pelo próprio Deus. Nesta seara, esses direitos são direitos fundamentais da pessoa humana, porque, sem eles, a pessoa não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida.

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Assim, o direito à vida, à alimentação, à saúde, à moradia, à educação, o direito ao afeto e à livre expressão da sexualidade estão entre os Direitos Humanos fundamentais. Se para a legislação não há um direito mais importante que o outro, imagine para Deus, o Criador da raça humana e dos direitos. Observamos, portanto, que a dignidade da pessoa humana não pode ficar no simples conceito moral e religioso, pois a natureza segregadora do homem exige uma lei para que ele se adéque, que o imponha um comportamento social aceitável. Para que esse princípio seja aceito e respeitado por todos, ele precisou ser positivado, transformado em norma, através dos direitos humanos na Declaração Universal desses direitos. III.

Raça Humana

O homem não se divide em raças. Ao falarmos em raça humana, não podemos esquecer que ela é constituída por caucasianos, africanos, asiáticos, indianos, árabes, judeus, etc. Aqui não vemos a presença de diferentes raças, são simplesmente diferentes etnias da raça humana. Os seres humanos, sem exceção, possuem características físicas iguais e se admite aqui uma pequena variação, pois no Brasil basta nascer e respirar para ser beneficiado pela lei, mas há ainda alguns países cuja legislação diferencia alguns no nascimento, como é o caso da Espanha. Contudo, do ponto de vista teológico bíblico, toda a raça humana foi criada à imagem e semelhança de Deus conforme nos assegura Gênesis 1:26-27.

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“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra. Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” Gênesis 1:26-27 Destacamos então, que o que nos torna seres humanos é nossa capacidade de pensar e raciocinar e não nossa compleição física, ou o fato de possuirmos todos os membros do corpo, ou ainda sermos de tal forma semelhantes à maioria dos seres humanos. Em Tiago capítulo 2 e versículo 9 vemos a afirmação incisiva da Bíblia nos dizendo que: “Mas, se fazeis acepção de pessoas cometeis pecado, e sois redarguido pela lei como transgressores”. Temos assim estabelecido que o preconceito é a não aceitação das outras pessoas da forma como são e consiste assim em pecado. IV.

O Conceito ampliado.

Todo o conceito de direitos humanos não se restringe apenas à aplicação no que se refere às características físicas que tornam os seres humanos semelhantes. Nessa esfera podemos assumir também que a fé, as crenças e a religião também fazem parte da concepção de respeito que já abordamos. Há inúmeras passagens da Bíblia Sagrada principalmente no Novo Testamento, onde Jesus ensinou através de suas práticas, que Ele é

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totalmente contra o preconceito, seja ele religioso ou racial ou ainda qualquer forma que venha a assumir. Jesus deu prova da sua abominação ao preconceito quando voltouse para Zaqueu, um cobrador de impostos, classe que era rejeitada pela sociedade da época, e disse que iria jantar com ele em sua casa, mostrando a todos que para Ele (Jesus) não haviam barreiras. Maria Madalena se tornou outro exemplo clássico, pois quando ela era meretriz e todos queriam apedrejá-la, mas Jesus interferiu dizendo que aquele que não tivesse pecado algum que atirasse a primeira pedra, e todos que estavam munidos de pedras, um a um se retiraram. V.

O Deus da Diversidade

Costumeiramente falamos que Deus é o Deus do impossível, o Deus das adversidades, mas Deus também é o Deus das diversidades. Através do exemplo de Jesus, Deus nos mostrou que se importa com cada ser humano, que Ele vê o pecador como um ser com fraquezas, que precisa ser advertido sobre o pecado e aconselhado a seguir um caminho correto. Respeitar os Direitos Humanos é promover a vida em sociedade, sem discriminação de classe social, de cultura, de religião, de raça, de etnia, de gênero ou qualquer outro tipo. Para que exista a igualdade de direitos, é preciso respeito às diversidades. Deus nos ensina até os dias de hoje, através das palavras da Bíblia Sagrada que devemos respeitar uns aos outros, independente da religião, da cor da pele, da etnia, da crença, da fé e dos grupos sociais aos quais pertençamos. Vejam abaixo:

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“Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.” Efésios 4:32 “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” Gálatas 3:28 O preconceito e a discriminação, em todas suas formas, se apresentam como um câncer que vêm corrompendo e corroendo a humanidade por milhares de anos. Todos nós somos irmãos e irmãs, oriundos de várias etnias, vários credos e várias religiões. Nunca esqueçamos que igualdade entre homens e mulheres faz parte do exercício da verdadeira fé, aquela que respeita o direito de cada um e torna real o sonho dos Direitos Humanos. Se nosso Deus é um Deus das diversidades, precisamos aceitar a todos dessa mesma forma. Não esqueçamos jamais que nosso Deus é imparcial e que dessa forma imparcial nos ama. Que precisamos ser imparciais ao amarmos uns aos outros. E lembremos sempre do que Jesus nos disse que tudo que fizéssemos com o menor de Seus irmãos, estaríamos fazendo a Ele. 4. A Fé Genuína Como Reconhecer Nossa Fé

A Polêmica Cristã

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Uma das questões mais formuladas pela fé cristã e muito estudada pela Teologia Cristã antiga e moderna é, com certeza, sobre o mérito da salvação. A abordagem desse tema tem levado cristãos no mundo inteiro a tomarem atitudes separatistas e de um antagonismo que rivaliza, aliás, a própria Reforma, não que ela não fosse necessária, já pressupunha essa rivalidade religiosa. Na atual prática do evangelho, denominações religiosas dedicam seu tempo a pregarem nos púlpitos dos templos e a escreverem livros que falam mal, criticam, mentem, e até ridicularizam a religião e a forma de crer desse ou daquele segmento. Muitos são os fatores discordantes, mas o principal tem residido na diferença crucial entre o Cristianismo ensinado pela Bíblia e as práticas realizadas na maioria das pregações que se dizem Cristãs. Para a obtenção da salvação é necessário somente a fé? Preciso de obras? Basta crer em Cristo? A Fé na Prática I.

O Conceito de Paulo

Sem nos determos em discussões vãs, busquemos entender que a fé possui duas formas de ser observada dentro da própria Bíblia.

Concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei. Romanos 3:28 Paulo aqui aborda que nossos pecados são justificados mediante a fé. Não há nada que esteja ao alcance da capacidade humana que lhe traga algum mérito para a obtenção da salvação. Ora, no que tange à Lei de Deus, e não confundamos aqui essa lei com as leis

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cerimoniais de Moisés, temos diante de nós um grande espelho que nos mostra aquilo que devemos buscar fazer na nossa vida cristã para sermos melhores seres humanos e refletirmos nas nossas atitudes. Essa Lei não está aí para que ao cumpri-la, como se fôssemos capaz de fazer isso na íntegra, obtivéssemos a salvação. Se esse mérito fosse conquistável por nós, não haveria necessidade de Jesus ter vindo a esta Terra e morrido por nós. De modo que a lei se tornou nosso aio, para nos conduzir a Cristo, a fim de que pela fé fôssemos justificados. Gálatas 3:24 Quando o apóstolo Paulo sabiamente nos apresenta que não precisamos das obras da Lei para sermos salvos, é isso que ele quer dizer: a aceitação da morte de Jesus como pagamento pelos nossos pecados é o que nos basta para a salvação. Portanto, a palavra “aio” ou “tutor” (Termo usado na Nova Versão Internacional) tem sua origem no idioma grego que literalmente significa “aquele que conduz uma criança”. Podemos abstrair disso que a Lei de Deus ou, para sermos mais claro, os Dez Mandamentos, são nossos princípios-guia estabelecidos por Deus para nos conduzir e nortear nosso comportamento. II.

A Aparente Contradição de Tiago

O argumento de Tiago, embora seja usado como justificante para que as obras sejam excluídas da equação da fé, traz o complemento necessário para o verdadeiro cristão. Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé. Tiago 2:24

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Esse versículo bíblico que parece contradizer as afirmações anteriores de Paulo, mas na verdade as complementa. Para Tiago, não há uma verdadeira prática de fé que não suscite a produção de boas obras, ou seja, alguém que professa ter fé não é verdadeira se ela não produz quaisquer boas. A ênfase desse argumento está na diferença entre uma fé “falsa” e uma fé verdadeira que produzirá a transformação da vida daquele que professa. Mas não se deixe enganar, Tiago não está nos induzindo a pensar que a justificação advém da fé somada com as obras. O que ele nos mostra em seu texto e sua pregação é alguém genuinamente portadora de uma fé real consequentemente produzirá boas obras em sua vida. Aquele que afirma ter fé e não produz boas obras em sua vida, provavelmente não tem uma fé genuína em seu coração. III.

O Verdadeiro Portador da Fé

A própria Bíblia nos ensina: Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. II Coríntios 5:17 O verdadeiro portador da fé genuína, produz os frutos do Espírito mencionados em Gálatas 5:22-23. É uma pessoa que passa por transformações diárias e vive essas transformações a cada dia, procurando refletir em seu comportamento o caráter do próprio Criador. Os dois apóstolos, Tiago e Paulo, jamais apresentaram argumentos discordantes, que vê discordância neles é porque teima em estudar

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a Bíblia de forma isolada sem comparar as informações nela contida, se prendendo a um versículo aqui e outro ali. Sob diferentes pontos de vista, eles tratam do mesmo assunto. Enquanto Paulo nos adverte que somente a fé pode nos levar à salvação, Tiago nos alerta que a fé sem boas obras é morta. A Nossa Atitude Enquanto Paulo nos adverte que somente Vivemos em um mundo cheio de discórdias e falta de amor. Algumas pessoas movidas por um senso exacerbado de zelo pelos dogmas da religião que professa, esquece-se de amar ao seu próximo, expressando com essa atitude que sua opção está mais em impor sua crença do que em amar seu irmão de uma fé diferente. A fé que produz boas obras produz o amor cristão. O amor cristão é tardio em censurar, pronto a perceber o arrependimento, pronto a perdoar, a animar, a pôr o transviado na vereda da santidade e a nela firmar-lhe os pés. (White, 1981, p. 462). Deus nos convida ao exercício da fé como forma de testemunhar de Seu amor ao mundo, estamos prontos a aceitar esse convite? Estamos prontos a levar o amor de Deus a qualquer um, independendo de sua forma de crer? Que a graça do grande Deus possa nos imbuir a responder afirmativamente as perguntas acima e assim praticarmos a verdadeira fé que produz boas obras.

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REFERÊNCIAS: ALMEIDA, João Ferreira de (Trad.). Bíblia Sagrada: Letra Grande. 2. ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1996. (Revista e Atualizada). COMISSÃO DA NTLH (Trad.). Bíblia de Estudo: NTLH. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005. (Nova Tradução na Linguagem de Hoje). COMISSÃO DE TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BÍBLICA INTERNACIONAL (Trad.). Bíblia do Ministro: Edição com Concordância. São Paulo: Vida, 2002. (Nova Versão Internacional). UNGLAUB, Eliel; UNGLAUB, Delton Lehr. 51 Atitudes para a pesquisa inteligente: Guia prático para o pesquisador de sucesso. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2010. WHITE, Ellen G.. O Desejado de Todas as Nações. Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1981.

5. A Depressão e o Desânimo Onde Está a Esperança? “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido” (Salmo 34:18). Muito se comenta no meio cristão sobre a depressão, que se apresenta na forma de um desânimo tão forte que deixa a pessoa incapaz de algumas atitudes na direção da recuperação. Na Bíblia Sagrada encontramos vários personagens que se fossem tratados hoje seriam diagnosticados com essa doença. Durante o quadro depressivo, o doente, sem qualquer motivo aparente, perde a esperança. Talvez seja por isso que a Palavra de

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Deus esteja repleta de mensagens restabelecimento da esperança.

encorajadoras

e

de

A depressão não é simplesmente uma doença emocional, pois muitas vezes surge de acidentes que debilitaram uma pessoa, traumatismos cranianos, além da depressão clínica severa, que surge de uma predisposição genética e um desequilíbrio químico no cérebro. Portanto até mesmo os cristãos podem precisar da ajuda de profissionais e de tratamento terapêutico clínico e químico para tratar essa doença que alguns já a chamam de o mal do Século XXI. Depressão clínica é algo muito sério e deve ser tratado por especialistas. Independente da fé que a pessoa professe, às vezes os sintomas de depressão são tão acentuados e dolorosos que alguns chegam a tentar o suicídio para dar fim a essa experiência horrível. Sabe-se ainda que 10 por cento dos pacientes clinicamente deprimidos chegam ao suicídio. Mesmo que seu relacionamento com Deus esteja bem, não se engane, depressão é coisa séria, e é imperativa a procura de ajuda profissional. É através desses profissionais, de nossos familiares e de bons amigos que podemos obter a intervenção do Senhor, pois Deus trabalha usando pessoas habilitadas para tratar com os depressivos. Exemplos Bíblicos Dentre os personagens bíblicos que sofreram de depressão temos o caso de Jó, Saul, e mais reconhecidamente Davi, cujas alterações de humor eram ações clássicas de seu temperamento e sua doença parecia ter origem emocional.

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Ezequias também foi depressivo. No caso dele que sofria uma doença prolongada ou terminal, são comuns os sintomas da depressão clínica, pois a gravidade da doença dele era um prenúncio de morte. Isaías 38 descreve detidamente a experiência depressiva de Ezequias. Muitas vezes os cristãos são levados ao erro de interpretar a depressão como uma doença unicamente emocional e tratável apenas do ponto de vista da fé. Destarte não buscam a ajuda adequada e se afundam num mar de desgosto e melancolia que os faz se sentirem culpados por alguma coisa que nem sempre conseguem definir. Buscam em seus erros e seus pecados a justificativa única para sua doença e deixam de acreditar no poder perdoador de Deus, ficando completamente sem esperança de cura e muitas vezes ainda duvidando de sua própria salvação. É importante não confundirmos a tristeza com a depressão. Jesus mesmo se sentiu triste em diversas ocasiões, mas daí a entrar no quadro depressivo é um grande passo. As Consequências do Desânimo “Eu soltava fracos gemidos de dor como uma andorinha e gemia como uma pomba. Os meus olhos se cansaram de olhar para o céu. Ó Senhor, estou sofrendo! Salva-me!” (Is 38:14, NTLH).” Da depressão podemos extrair diversas manifestações:   

Profundo senso de tristeza; Falta de motivação para fazer qualquer coisa, até mesmo atividades agradáveis; Mudança de apetite e/ou perda ou ganho de peso;

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   

Distúrbios do sono: sono insuficiente ou demasiado; Sentimentos de baixa autoestima; Raciocínio e memória distorcidos ou fracos e; Pensamentos de morte e suicídio.

Alguns apresentam um ou dois desses sintomas, enquanto outros manifestam vários ou até todos eles durante meses sem que o episódio tenha fim. Em todo caso, o fardo da depressão é enorme e deve ser aliviado por meio de intervenção médica e espiritual. Alívio da Depressão Como na maioria das doenças emocionais, é necessário que o paciente fale sobre suas dificuldades, nem sempre ele precisa de opinião, o mero desabafo já garante um alívio. A estratégia básica para lidar com a depressão consiste em falar com um amigo (ou um terapeuta) que saiba ouvir e quando possível, que saiba como ajudar a obter recursos mais intensivos se for o caso. Verbalização de pensamentos e sentimentos é algo sustentável no processo de cura. Infelizmente, essa doença, como já falamos, não é meramente emocional, existe os fatores já elencados e que demandam uma ajuda clínica e química, não podemos como cristãos simplesmente rejeitar essa forma de tratamento achando que tudo se resolverá tão somente pela fé. Até os psicólogos e psiquiatras têm recomendado aos pacientes que creem na oração, que orem. Que depositem sua fé poder maior que eles acreditam. Mesmo diante da depressão clínica, podemos experimentar o efeito saudável da oração ao Senhor para nos ajudar. Não importa quem somos nós nem qual a profundeza de nosso desânimo, um relacionamento com Deus pode ajudar muito em trazer esperança, encorajamento e cura.

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Assim, o ato de falar, de comunicar seus sentimento e a busca da cura através de pessoas habilitadas, juntamente com a busca intensiva do auxílio de Deus e do uso de Suas promessas são o verdadeiro caminho que pode nos levar à cura desse mal.

REFERÊNCIAS: LIÇÃO DA ESCOLA SABATINA 1º TRIMESTRE/2011: A Bíblia e as Emoções Humanas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, jan. 2011. Trimestral. COMENTÁRIOS DA LIÇÃO DA ESCOLA SABATINA 1º TRIMESTRE/2011: A Bíblia e as Emoções Humanas. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, jan. 2011. Trimestral.

6. O Amor Que Queremos Ofertar Um poema bíblico de amor Ainda vivemos aqui nesse lugar onde nem tudo é o que parece ser. As tarefas do cotidiano consomem nosso tempo e nos encontramos tão envolvidos em nossas atividades que nos esquecemos de onde vivemos. Durante todo tempo entramos contato com pessoas que precisam de nós, precisam de nosso apoio, de nossos ouvidos, de nossa palavra amiga que dá alento e que encoraja… Jesus andou nessa terra por 33 anos. Enquanto aqui esteve, demonstrou o mais altruísta dos tipos de amor. Ele nos mostrou um amor que não discriminava, não segregava, não fazia acepção de pessoas por qualquer que fosse o motivo, pois não se importava em estar com pessoas de classes ou segmentos sociais

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questionáveis da época e seguiu mostrando, em toda sua passagem pelo nosso estragado planeta, como deveríamos amar. Compreendendo nossa incapacidade de reconhecer que os mandamentos de Deus eram uma forma de demonstração de amor, Ele ainda os sintetizou em “amarás a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”. A despeito dessa orientação de Jesus, o ser humano continua vivendo sua vida demandando amor dos outros, mas não se importando na qualidade do amor que demonstra e que vive. Sabedor de nossa natureza que mais quer receber do que quer doar, Jesus nos deixou através dos escritos do apóstolo Paulo em sua primeira carta aos Coríntios no capítulo 13, um grandioso poema sobre o amor altruísta, que no original grego “ágape” aparece traduzido como o caridade em algumas versões: Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E mesmo que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e possuísse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses egoístas, não se irrita, não suspeita mal, não fica feliz diante da injustiça, mas com a verdade. Ele tudo tolera, tudo crê, tudo espera e tudo suporta.

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O Amor nunca falha. Havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, esmaecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte deduzimos; mas quando vier Aquele que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, argumentava como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos como que através de enigmas, mas então veremos face a face; agora conheço apenas em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor. Talvez não entendamos o amor descrito no poema acima, até mesmo porque o próprio texto nos dá a entender que só entenderemos tudo no futuro, entretanto sabemos o amor que queremos receber, conhecemos nossas necessidades, sabemos exatamente aquilo que precisamos, mas será que o que queremos é similar ao que damos? Que em nossa jornada passageira por esse planeta tão cheio de sofrimento possamos entender que o amor que queremos receber depende do amor que queremos ofertar. 7. Fé Em Tempos De Paz A Intolerância Religiosa Pode Mudar Tudo 1. O Fantasma Existe Nossa sociedade parece estar cada vez mais evoluída e o fantasma da intolerância religiosa está cada vez mais difícil de ser visto. Uma

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utopia de convívio social assim, que alguns acreditam que estamos vivendo, assemelha-se com aquela antevista pelos visionários da ficção científica. Apesar de a afirmação anterior ser forte, ainda está muito longe de ser verdadeira. Formas de intolerância e falta de respeito às liberdades de escolha individuais têm sido mostradas nas mídias e não escapam nem mesmo das redes sociais, famosas por agregar pessoas com diferentes pontos de vista sob o mesmo pendão. Portanto que não haja engano, liberdade religiosa é um assunto que precisa ser muito bem estudado. A realidade existente precisa ser estudada, pois somente conhecendo profundamente o sofisma da liberdade religiosa, a sociedade poderá dar outro passo para a evolução. 2. Legislação Básica No Brasil a Constituição Federal de 1988 apresenta, no artigo 5º, no inciso VI, diz que é inviolável a liberdade de crença e de consciência, e ainda assegura as pessoas terão o livre exercício dos cultuar, tendo inclusive seus locais de culto e suas liturgias protegidas pelo Estado. Além desse inciso, o artigo 5º apresenta mais outros dois sobre o tema da religião e ainda existem mais alguns artigos como o 19 e 210. Poderíamos ter mais leis que esmiuçassem o tema, como Portugal que possui outras leis relacionadas, das quais destacamos a Lei da Liberdade Religiosa de 2001.

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Entretanto, não queremos aqui esmiuçar os meandros da legislação, queremos apenas suscitar o despertar da consciência de cada um que se depara com esse assunto no cotidiano de sua vida no trabalho, no ambiente escolar e nas redes sociais das quais faz parte. 3. Livros Religiosos Para efeito de compreensão, buscamos como exemplo os ensinamentos de dois livros considerados sustentáculos de fé de muitas religiões. 3.1. Alcorão O Alcorão sustenta a liberdade religiosa. O livro sagrado do Islão apresenta com clareza um texto interessante sobre a liberdade religiosa: “Não há imposição quanto à religião, porque já se destacou a verdade do erro. Quem renegar o sedutor e crer em Deus, ter-se-á apegado a um firme e inquebrantável sustentáculo, porque Deus é Oniouvinte, Sapientíssimo.” Alcorão. “Al Bácara”, Surata 2, versículo 256. Isso mesmo, “Não há imposição quanto à religião”, por isso não se pode culpar o livro por uma interpretação equivocada do respeito às religiões alheias. O próprio Islão afirma que a questão de crer ou não crer é a crença e da incredulidade à vontade e à satisfação do ser humano. Embora “Al Cahf” Surata 18, versículo 29 em sua primeira parte nos diga: “Quem quiser crer, que creia e quem quiser negar-se a crer, que não creia” e sua segunda parte pareça incitar à guerra: “Preparamos para os iníquos o fogo, cuja labareda os envolverá”,

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nunca devemos esquecer que o livro deve ser lido em sua totalidade para uma correta compreensão. É tolice estudar livros com essa complexidade e fundamentar toda uma fé apenas em um versículo de uma Surata. 3.2. A Bíblia Sagrada Como o Alcorão e o Livro de Mórmon, nem a Bíblia Sagrada induz seus seguidores à intolerância religiosa. Em nenhum lugar da Bíblia existe a pregação da intolerância religiosa. Ao contrário, os ensinamentos bíblicos nem sequer falam de religião. O preceito bíblico de salvação está baseado no amor, e exorta a aceitação de Cristo como único e suficiente salvador, que um dia esteve aqui nessa Terra apenas para mostrar através de seu sacrifício, o caminho da salvação. Jesus Cristo, mesmo em face das maiores humilhações e agressões físicas e verbais, jamais pediu dor e sofrimento sobre seus algozes. Um ser dessa natureza, com uma essência amorosa, certamente não suscitaria guerras ou atitudes intolerantes de seus seguidores. Um clássico exemplo do amor que Cristo deixou está no seguinte texto: Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Bíblia Sagrada, Mateus 22:37-39 Ainda há a parábola do Bom Samaritano, que aparece unicamente no livro de Lucas 10: 25-37, onde Jesus mostra que havia mais

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amor em um homem cuja fé era diferente daquela professada pela religião vigente. Por outro lado, no encontro de Jesus com a mulher samaritana à beira do poço, Ele a fez entender que ela era um ser humano cheio de preconceitos e que precisava mudar. Intolerância religiosa, não é um ensinamento bíblico. 4. A Intolerância Afinal De onde vem a intolerância religiosa que se diz fundamentar nos livros religiosos? “Religare”, a palavra que vem do latim e dá origem ao termo “religião”, significa religação com o divino. Ou seja, o restabelecimento dos laços existentes entre o ser humano e a divindade. Para se consolidar, uma religião reúne culturas, crenças, a forma de enxergar o mundo, o estabelecimento de símbolos e dogmas que atrelam a espiritualidade de seus seguidores e seus próprios valores morais a uma forma de adoração. Os seguidores de qualquer religião que não dedicam tempo ao estudo do livro fundamentador de sua fé são vítimas potenciais a seguirem falsos ensinamentos e criarem dentro de si preconceitos que os levarão praticarem mais a intolerância à fé dos outros, ou até o respeito àqueles que em nada creem, do que a prática de sua própria fé. Nos púlpitos das igrejas intolerantes, falar mal da fé dos outros é um tema mais frequente do que falar sobre suas próprias crenças.

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Como nos outros ramos do conhecimento humano, os intérpretes dos textos religiosos são os principais responsáveis pelo uso desses textos em benefício próprio, criando novas religiões que divergem umas das outras por detalhes ínfimos e indignos de uma fé num Deus de amor. Mas cada um com a sua religião. Não perca seu tempo tentando entender religiões ou a mente dos outros. Siga a sua fé ou o que quer você acredite e seja feliz. 5. Evitando a Intolerância Religiosa No que se refere às praticas religiosas, devemos respeitá-las mesmo que não concordemos com elas. Tendo a oportunidade de uma conversa pautada pela razoabilidade, cada um pode expor suas ideias deixando que o outro concorde ou não, sem se aborrecer com o resultado. Falar de sua fé, sua forma de crer, de adorar para outra pessoa de opinião divergente não deve se tornar uma guerra ou uma cruzada cheia de tentativas de imposição de ideias. Deve ser algo feito com amor e respeito, deixando que o resultado fique exclusivamente nas mãos do Deus em que se acredita. Grandes pensadores, reformadores do cristianismo e líderes religiosos podem ter recebido uma porção da luz Divina, isso é perfeitamente admissível. Até para aqueles que não creem em Deus, as palavras de Jesus Cristo, Sócrates, Maomé e outros, podem trazer princípios de caráter que se transformam valores morais basilares de uma sociedade mais justa. Por isso que respeitar aquilo que outra pessoa crê é fundamental para um bom convívio social.

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A intolerância é uma prática contrária ao amor. A solução não está tão somente em que a Constituição assegure a liberdade religiosa, mas no respeito a essa liberdade de escolha que deve ser incutido nos alicerces morais do indivíduo e da sociedade. Esse ato simples, de ensinar a respeitar, pode ser feito nos lares, nas escolas, nas instituições e também nos púlpitos dos templos religiosos. Não se deixe levar pela intolerância, um dia você pode ser vítima de algo que você mesmo praticou. REFERÊNCIAS: BULLÓN, Alejandro. Do Preconceito à Salvação. Revista Eletrônica Jesus Voltará. Disponível em: < http://db.tt/M8aDbG5i >. Acesso em: 14 maio 2012. SADER, Emir. A liberdade religiosa no Islão. Al Furqán, nº. 165/166. Disponível em: < http://db.tt/CMiiUu0W >. Acesso em: 16 maio 2012. REPORT: Religious Intolerance Grows Worldwide HomebrewedTheology. Disponível em: < http://db.tt/AiEGiQvU >. Acesso em: 18 maio 2012. AHMAD, Manzoor (Org.). Anatomy of Intolerance. Naseeb Blog. Disponível em: < http://db.tt/i9GM0Zmc >. Acesso em: 15 maio 2012.

8. Respeito: Quando o Amor Vai Além Ter a liberdade de optar ou não por um credo religioso é um grande e atual pensamento nas nações que se denominam laicas, portanto, está garantido para todos o livre exercício de sua fé, sua liberdade de culto e ser respeitado por aquilo que acredita.

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Evidentemente que a liberdade religiosa deve ser usada como meio de respeito à fé de outras pessoas e não como meio de imposição de sua própria religião sobre a religião dos outros. Esses foram parágrafos que escrevi isso na dissertação sobre liberdade religiosa que fez parte de uma das questões da avaliação final de Direito Constitucional, ministrada pela professora Catarina França, que para mim é um exemplo de respeito e gentileza. Pensei muito nesse assunto durante os últimos dias e queria compartilhar com as pessoas esse sentimento de respeito que tanto vejo a Prof.ª Catarina falar e mostrar, até que presenciei dois absurdos no facebook: Uma foto foi postada mostrando pessoas de etnias diferentes se beijando e uma pessoa comentou com uma piada de mau gosto. Ainda bem que foram tantas mensagens contrárias aquele argumento maldoso que ela acabou por ser apagada; Em outro momento, certo pastor divulgou uma frase de um líder religioso de outra fé, uma bela mensagem que independente de ser de alguém de religião diferente, ela merecia ser divulgada. A parte ruim foi o quando alguém comentou que um pastor teria que estar falando sobre outros assuntos, claramente sentindo-se incomodado pela postagem do pastor. É incrível como ainda no século XXI ainda existe esse tipo de pensamento que separa, segrega, que não prega o amor e muito menos o respeito. Será que a humanidade caminha para um futuro de discórdia ou de aceitação? Será que é tão difícil aceitar aos outros como eles são? Sejam eles cristãos, africanos, mulçumanos, ateus, europeus, agnósticos, árabes, judeus…?

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Para nós que nascemos em países formados por uma mistura de culturas e etnias, o respeito ao próximo deveria ser até mais fácil, afinal somos filhos da miscigenação, não importa se somos descendente dessa ou daquela cultura. Mas infelizmente ainda vemos intolerância e discriminação por causa de etnia, religião, convicções… A bela música de Calle 13 – Latinoamérica, nesse vídeo dirigido por Jorge Carmona e Milovan Radovic, nos dá uma noção do que devemos sentir a respeito de qualquer tipo de discriminação. Respeito não se compra! Como não podemos comprar o amor, nem podemos comprar a chuva, o vento, o sol, o calor, as nuvens… Precisamos demonstrar e suscitar respeito para todos e assim, independente da fé que professamos e/ou de nossa etnia original. Como exemplo desse respeito como o qual sonhamos, finalizo deixando uma mensagem escrita pelo meu amigo João Sales e postada ontem à noite no facebook: Para todos adventistas e não adventistas, como também para os amigos católicos, batistas, e de todas as religiões, e aos argentinos, gregos, alemães, paraenses como eu e todos, independente de credo ou nação, uma boa noite e um grandioso e feliz sábado para sua família e desde já um feliz fim de semana sempre na companhia do Senhor e Grandioso Jesus Cristo que te ama e me ama muito. Amemos uns aos outros e que cada um se prepare para o maior encontro com ele, nosso Salvador. Emanuel Deus Conosco!

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9. O Infinito Ciclo da Vida Nossa finita participação

Alguns chegam “E rejeita as questões loucas, e sem instrução, sabendo que produzem contendas.” 2 Timóteo 2:23 O ciclo da vida não tem começo, contudo, aqueles que participam dele, são seres finitos e, portanto tem um início definido, o nascimento. Em muitos lares a data de hoje é festiva pela comemoração da chegada de um novo ser. O nascimento de um filho provoca uma sensação de continuidade que somente aqueles que têm o privilégio de gerar outro ser podem sentir. A vida é celebrada não somente no dia da chegada daquele novo ser, mas todos os anos na ocasião do aniversário. É uma data estranha, a do aniversário. Alguns se sentem eufóricos e predispostos a festejar, convidar amigos para sentir que sua vida está completa pelo acúmulo de amigos. Outros se tornam melancólicos e não vem sentido em festas. Querem apenas ser lembrados através de um cartão, de um brinde, de uma frase de parabéns. Para todos os tipos de “chegantes”, seja no primeiro momento de suas vidas, nos seus aniversários, na sua nova escola, seu novo trabalho, sua nova vizinhança, enfim, seu novo início, o apóstolo

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Paulo deixa um conselho que novamente, independente de sua fé ou ausência dela, serve para todas as ocasiões. Evitar contendas, questões sem benefício algum, é o melhor caminho para se viver bem. Nada de brigas no trânsito, de buzinadas provocadoras, de palavras torpes, nada que provoque a ira de seu semelhante. E se algum passo foi dado na direção da contenda… Retroceda, peça perdão e sinta um alívio no seu coração que somente aqueles que sabem se humilhar e pedir desculpas são capazes de sentir. Lutemos apenas pela justiça e pelo amor, evitando sempre a contenda. Alguns partem “Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele.” 1 Timóteo 6:6-7 O ciclo da vida não tem fim, contudo, aqueles que participam dele, são seres finitos e, portanto fadados ao desaparecimento. É sabido, por deístas e ateístas, que um dia chegaremos ao fim de nossa existência, e o conforto de poder viver uma vida além dessa que vivemos é cabido apenas aos que creem. A esses, a separação angustiante do fim da vida de um ente querido, refrigera-se de paz numa certeza confortante de um reencontro no futuro. O conselho de 1 Timóteo 6:6-7 é belo e se aplica aos que acreditam e aos que não acreditam num ser superior, capaz de criar do nada, apenas pelo poder de seu verbo, todas as maravilhas do universo. O conselho vem do apóstolo Paulo, que uma vez se chamou Saulo e perseguiu aos que acreditavam em Jesus Cristo.

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Nada trazemos a esse mundo. Chegamos nus, totalmente dependentes, frágeis e carecemos de alguém que nos dê cuidados, nos alimente, nos limpe, enfim, que garanta nossa sobrevivência até podermos nos cuidar. E assim como chegamos, assim partiremos. A diferença é que alguém poderá nos vestir roupas, nos ataviar de flores e ornamentos para o sepultamento da casca vazia que nos tornamos após expelirmos nosso derradeiro suspiro. Mas novamente, ficamos à mercê de alguém cuide de nosso corpo. Se vivermos nessa consciência de finitude, um fim que pode chegar a qualquer momento, sem nos apegarmos à jactância de nos acharmos melhores do que os outros, é certo que não importa a natureza de nossa fé ou a ausência dela, passaremos pelo ciclo da vida mais felizes e harmonizados uns com os outros. Alguns renascem “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” 2 Timóteo 4:7 Dentro do ciclo da vida que não tem começo e nem fim, alguns que participam dele, compreendem sua finitude e buscam se tornarem melhores. São seres finitos em busca de algo melhor durante seu curto período de vida na Terra. A experiência de se deixar moldar pelas agruras e intempéries da vida nos torna mais resilientes e capazes de enfrentar com mais firmeza cada obstáculo que a vida apresenta. Buscar mudanças em si mesmo através da meditação e do autoconhecimento, evita a repetição de antigas falhas e se elas ocorrem, eis que de novo cabe o retroceder, o pedido de perdão e um coração aliviado.

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O renascer pode ser simbólico para quem vê de fora, como o batismo praticado por algumas religiões, entretanto, para quem passa pela forja da dor, pela recriação interior através de qualquer processo que traga uma nova consciência de si mesmo e dos que o cercam, essa experiência é muito boa. Renascendo como propagadores da paz, da harmonia, da boa convivência, poderemos chegar ao final de nossa participação do ciclo da vida como alguém que combateu o combate leal e chegou ao fim de sua existência com essência daquilo que acreditou bem guardada. Esse é o nosso legado.

10. A Lua da Páscoa Um exemplo diferente “Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua, merecia a visita não de militares, mas de bailarinos, e de você e eu”. Verso da música “Tendo a Lua” – Os Paralamas do Sucesso Contam uma história que há muito tempo atrás um grande Deus resolvera criar outros seres e coloca-los para viverem num planeta paradisíaco. Esse Deus viajou pelas galáxias e chegou num lugar que ninguém dava valor, pois era um lugar disforme e sem nada de atraente. Ele era chamado de O Grande Arquiteto do Universo e seu talento para enxergar o potencial escondido nas coisas o fez criar naquele lugar, o paraíso que imaginara. E assim ele criou um planeta lindo habitado por belas criaturas. Inclusive uma especial,

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na qual depositou tanto amor que resolvera cria-la bem parecido com ele mesmo. Enquanto tudo que Deus havia criado fora feito da energia materializadora de suas palavras, no ser especial ele resolveu utilizar as próprias mãos. E assim Ele criou a criatura chamada homem. Embutido no DNA desse homem, ele colocou características especiais para a sobrevivência e identidade deles. Por isso, alguns possuíam o matiz do ébano, outros o fulgor do carmesim, outros reluzentes como marfim, outros brilhantes como o ouro, enfim, e depois deixou que eles se mesclassem e gerassem novas cores. Muitos anos se passaram e o homem se tornou mau. Os de umas cores escravizaram os de outras, uns de uma nação maltratavam os de outras e o Grande Deus de Amor precisou intervir. Ele decidiu vir a essa terra em forma de homem e mostrar como Ele queria que os homens se tratassem com respeito. Sua tentativa de fazer isso pareceu em vão quando alguns segmentos desses seres humanos decidiram assassiná-lo. Contudo, Ele veio preparado para morrer. Ele pretendia com sua própria morte mostrar ao homem o caminho do respeito ao próximo. Ele foi maltratado, espancado, surrado e humilhado e por fim condenado a uma morte que só era imputada aos piores malfeitores. Numa sexta-feira ele sofreu tudo isso e morreu. Seus amigos e aqueles que acreditavam nele o traíram, mas com sua morte, o arrependimento se fez forte e eles lamentaram a perda daquele a que chamavam de mestre.

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E o sábado inteiro se passou com aquele Deus morto e sepultado numa tumba emprestada. Mas como o Deus criador e doador da vida, ele ressuscitou a si mesmo e no domingo ele saiu do sepulcro sob um grande tremor de terra. Ele encontrou seus amigos e pediu a eles que fossem mostrar ao resto do mundo o exemplo que Ele havia demonstrado e espalhar o amor e a união entre todas as pessoas, quaisquer que fossem as diferenças que as tornassem únicas. Hoje ele espera que dividamos com os outros aquilo que possuímos, como levar uma luz para os amigos que estão no escuro, alento aos aflitos, remédios para os doentes, abrigo aos desamparados, alimento aos famintos… Ele ensinou a grande dádiva de compartilhar o amor e os dons. Nessa data que comemora o memorial da vinda desse Deus a esta terra para nos ensinar tudo isso, a lua cheia traz sobre nós um novo brilho, representando as bênçãos que recebemos sem nem perceber. Que o brilho dessa lua seja para nos lembrar de que nem todos possuem o conforto que temos, nem os remédios para suas doenças que podemos conseguir, nem o alento para suas vidas privadas de alimento, abrigo, recursos, afeição… E que assim tentemos sentir o que aqueles menos abastados sentem. Fazendo isso, honraremos o sacrifício daquele Deus de amor, e continuaremos a obra de mostrar o exemplo dele para os outros, a perpetuar o sacrifício como presente de amor, a eternizar a bondade por empatia e a despertar a vontade de doar naqueles que ainda não o fazem.

Feliz Páscoa!

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TEXTOS ADICIONAIS Religare, por Alberto Busquets De apóstolos a discípulos Totens, correntes, aventais Pelos sutras ou versículos Verbo, atos, luz e mais Carruagens incinerantes Exultam templos em vitrais Pela terra, impregnantes Elementos de deidades naturais Firmamento em desencantos Dissecado por ciências atuais Em batalha à crença em prantos De almas antigas e joviais... Religar também é aceitar de novo As forças diversas pregadas ao povo. Respeito à fé que cada um profere: Omnia mutantur, nihil interit. 1. Sua Presença No Último Momento O fim é inevitável, a morte é um fim inexorável! Somos apenas uma matéria perecível que um dia se acabará e somente aquilo que cada um acredita determinará a forma como se delineará a esperança do pós vida.

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Se você acredita ou não em vida após a morte, se você acredita na ressurreição, no céu, no paraíso, ou se você não acredita em nada, isso é totalmente irrelevante diante da dor da perda de um ente querido de outra pessoa, pois quando se trata de uma perda nossa, a dor é muito particular, mas para perceber a dos outros, é preciso ter algo mais. Então chega aquele momento em que seu próximo está sofrendo a morte de alguém amado e você observa confortavelmente como um mero expectador, afinal, você não sente nada. A morte de um colega de faculdade foi sentida por alguns essa semana. Um engenheiro aposentado de mais de oitenta anos de idade que voltou a ser estudante e voltou aos bancos de uma faculdade pelo simples prazer de ampliar seus horizontes de conhecimento. Durante uma reportagem para uma rede de TV que resolvera levar a público o caso daquele estudante octogenário que enveredara pelos caminhos do direito, a câmera mostrou um homem consciente, decidido, companheiro e exemplo de colega de sala de aula. Um aluno diferente cuja bagagem de conhecimento adquirido na estrada da vida o deixava acima dos mestres, mas que nessa mesma estrada percorrida aprendera tal humildade que ele sabia se posicionar no lugar correto de aprendiz. E foi assim, humilde, entretanto sábio, que esse eterno aprendiz partiu, vítima de um enfisema pulmonar. Em seu velório a presença certa dos parentes e dos amigos íntimos. Foi o derradeiro momento da presença física ou material dele e depois tudo virou história. Muitos não conseguem perceber o que os outros sentem, não conseguem ter empatia pelo sofrimento alheio ou não sabem se

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comportar diante do sofrimento dos outros. Portanto, deixam de prestar sua última homenagem. Não deixe passar uma oportunidade de homenagear, de se fazer presente, de poder aliviar a dor de alguém, você pode não perceber, mas pode ser que o que fique apenas faltando seja sua presença no último momento.

2. Novos Heróis da Honestidade Pessimismo ou realismo Os exemplos de honestidade parecem estar escasseando nesse nosso país tão carente dessa forma de incentivo para aqueles que buscam motivação para fazer o que é certo. De fato, o Brasil está carente de novos heróis, de novos “Ayrtons Sennas”, que destaquem que agir com dignidade e honradez deve ser o comum, o casual, e que justamente o comportamento desviante, o aberratio, seja a causa de espanto. É preciso aplaudir aqueles que fazem o certo é também criar o hábito de ver pessoas honestas ganharem notoriedade. Diante da imagem com as lâmpadas apagadas e apenas uma lâmpada acessa os pessimistas contemplam a iminência do fim. Sobre isso, diante da degradação da sociedade brasileira, o sábio Rui Barbosa deixou um texto intrigante: De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantaremse os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.

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Novos heróis Dia 09 de julho de 2012, um casal de moradores de rua saiu do anonimato de suas vidas simples para se tornarem novos heróis brasileiros no combate ao vilão da desonestidade. Rejaniel de Jesus Silva Santos (36 anos de idade) e sua mulher Sandra Regina Domingues (que desconhece a própria idade), “moradores das dependências” da parte inferior do viaduto Azevedo, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, ouviram o alarme de uma loja ali próximo e decidiram ver o que acontecia. No trajeto encontraram um saco com cédulas e moedas com cerca de R$ 20 mil em dinheiro. “A primeira coisa que veio à sua cabeça quando viu todo aquele dinheiro foi avisar a polícia”, disse Rejaniel, que ganha uns R$ 15,00 por dia como catador de material reciclável. Dentro do saco havia material comprobatório de que o dinheiro pertencia a um restaurante que havia sido furtado. O morador do viaduto Azevedo, Rejaniel, fez umas das declarações mais lindas que se pode ouvir, outro presente que ele trouxe para a sociedade brasileira além do seu exemplo de honestidade, ele disse “A minha mãe me ensinou que não devo roubar e se vir alguém roubando devo avisar a polícia. Se ela me assistir pela TV lá no Maranhão vai ver que o filho dela ainda é uma das pessoas honestas deste mundo”. Repercussões Rejaniel Santos saiu de Arari, pequena cidade maranhense conhecida pelo fenômeno da Pororoca, há cerca de dezesseis anos,

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para trabalhar com o irmão na construção civil. Em São Paulo casou-se e teve um filho, com o qual perdeu contato. A separação trouxe outras perdas como o emprego e a casa, mas nunca a sua honestidade, pela qual, “pedia” como recompensa apenas a chance de ter o reconhecimento de sua mãe. O exemplo deste homem é digno de recompensa: Reconhecimento por parte dos policias militares que deram andamento na ocorrência, dando ao caso a devida publicidade ao invés de procurarem glória para eles mesmos; Após ter seu exemplo veiculado nas mais diversas mídias, uma multidão de leitores gerou um movimento de reconhecimento à atitude de Rejaniel; No dia 10, Daniel Uemura, um dos proprietários do comércio cujo dinheiro foi encontrado, encontrou-se com o casal no escritório da empresa e que administra vários negócios, afirmou: “O setor de recursos humanos vai selecionar, entre as vagas disponíveis, quais se encaixam no perfil dos dois”. E o que ele pediu: sua mãe, Maria Ferreira dos Santos, que ainda mora em Arari, ficou sabendo de tudo e falou orgulhosa do filho. Reconhecidos pela conduta honesta, o casal teve mais do que a recompensa que pediu, e certamente, menos do que mereceu. Raízes As raízes do caráter de Rejaniel foram fortemente plantadas. Maria Ferreira dos Santos, sua mãe adotiva, ainda mora em Arari. Ela

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nunca teve um filho biológico sequer, mas adotou seis crianças, e Rejaniel foi uma delas. Ela o criou desde os cinco anos de idade, quando o recebeu da própria mãe biológica que viera a falecer, até aos 21 anos quando Rejaniel decidiu arriscar a vida em São Paulo. Ao ver o filho na televisão, Dona Maria dos Santos disse emocionada: “Fiquei muito feliz ao vê-lo. Sempre orei muito por ele e sabia que Deus estaria com ele. Estou muito orgulhosa e desejo a ele tudo de bom”. O que aquela mãe ensinou para o filho, sua forma de manifestar sua fé e sua capacidade de repassar tudo isso para ele, foram raízes bem plantadas e regadas durante dezesseis anos e que ficaram firmes para toda a vida. A Seguir Heróis não são eternos, a natureza humana é corruptível e nada pode ser mais valorizado do que exemplos como o de Rejaniel e de Sandra. Mesmo diante da necessidade em que ambos vivem, o exemplo deles é uma inspiração verdadeira para os dias de hoje e sua história deve ser contada. Diante da imagem com as lâmpadas apagadas e apenas uma lâmpada acessa os otimistas contemplam um novo começo. Sobre isso, diante da degradação da humanidade, o sábio rei Salomão deixou um importante conselho:

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O homem justo é guiado pela sua honestidade, mas a falsidade do perverso leva à destruição. Bíblia Sagrada, Provérbios 11:03 Que a sociedade brasileira esteja atenta aos seus modelos de comportamento e que ela possa usar valores corretos para poder fazer as corretas escolhas de seus novos heróis da honestidade.

REFERÊNCIAS: S.PAULO, Folha de. Moradores de rua encontram cerca de R$ 20 mil e entregam à PM em SP. Disponível em < http://db.tt/5JV7APxk > Publicado em 09. Jul. 2012. G1 MA. Mãe se diz orgulhosa de filho que devolveu R$ 20 mil à polícia. Disponível em < http://db.tt/Wp9mNiuX >. Publicado em 12. Jul. 2012.

3. As Vias Do Amor Comparações conhecidas Todos procuram o amor. O ser humano, salvo aqueles diferentes que não vou denominar aqui, precisa de amor, precisa amar e ser amado, se sentir amado. E não pense que estou falando apenas do amor conjugal, estou me referindo ao amor entre amigos também. Não sei de onde realmente vem essa necessidade. Seria algo divino dado por ser maior para que nos sentíssemos incompletos e reconhecêssemos o valor dos nossos pares? Ou seria algo inserido em nosso DNA para nos levar a entender que precisamos de outras pessoas? A resposta deixa de ser tão importante diante da

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grandeza da tarefa: encontrar um amor real e amigos verdadeiros não é fácil. Essa busca se compara as vias do trânsito. Em cada ponta desta estrada está uma pessoa que lançará seu carrinho de acordo com suas intenções de dirigir. A via da entrega Uma via perigosa de transitar. No trânsito, as vias de mão única são em tese mais seguras, mas não na busca pelo amor. Ao ingressar pela via da entrega, também conhecida como a via da doação, o desbravador do amor apenas se doa. Ele dá ao relacionamento seus esforços mais primordiais. É um caminho de constante entrega própria, se disponibilizando para o ser amado, estando presente nos momentos bons e nos momentos ruins. Ele está sempre querendo agradar, não por uma demanda do outro, mas porque sua sinceridade afeta sua capacidade de enxergar se está acontecendo o mesmo do outro lado. E um relacionamento parece se construir e ficar bem fundamentado. O lado doador é solicito. Se dá bem e procura se dar bem com a outra parte. Com os amigos dessa, passa a fazer parte integrante da família. Ajuda um, ajuda outro, está sempre disposto ao bem geral em detrimento do seu. Nessa via o perigo está em o doador não receber de volta na mesma quantidade ou em uma quantidade satisfatória aquilo que entregou. A relação desgasta, o tão sonhado amor parece não ser

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mais amor da outra parte, e essa lacuna de retorno, pode levar a uma ruptura ou ao amortecimento daquilo que ainda resta. A via da troca Outra via perigosa, como se alguma via do amor não o fosse. Essa aqui, no entanto, apresenta o detalhe de que o buscador quer uma troca, ele não se doa ou entrega pelo simples fato de sentir aquela vontade gostosa de participar da vida do seu amor, ele o faz porque quer algo em troca. Convenhamos, esse não é o sentimento genuíno de quem ama. Trocar significa dar algo em troca de receber outra coisa em retorno, o que é uma característica de quem pratica o comércio. As verdadeiras relações de amizade e de amor pressupõem sim uma troca, mas ela é natural, não está estabelecido que se alguém der algo em troca receberá aquilo. A troca, na verdade, consiste no ato de doar mútuo, ambos desejam doar e o resultado natural é a troca. Nessa estrada, o perigo está na intenção do doador, que age de má fé para conseguir receber algo depois. A via da cooperação e a da partilha Chegamos a via de mão dupla. No trânsito seria a mais perigosa, mas na busca pelo amor, a mais segura. Aqui há aquela troca dadivosa em que os indivíduos se doam em partilha mútua. Há uma preocupação com os interesses um do outro, bem como com os dissabores.

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Se um está feliz, o outro se alegra, se um se realiza, o outro se completa pela conquista do ser amado. Se um está com problemas, o outro ajuda, sai a procura de soluções, se envolve. É aquele sentido dado ao doar que não faz alguém ser controlador, pelo contrário, há o respeito às individualidades do ser amado, reconhecendo que as suas próprias não podem desrespeitá-lo. E saber ser amigo, é fazer as coisas em prol do outro de livre e espontânea vontade. É reconhecer mais os pontos positivos e não viver em constante cobrança. É sentir prazer e realização de ver aquele amigo ou cônjuge, feliz e você poder fazer parte dessa felicidade. Finalmente Nas suas relações afetivas observe que tipo de via você está utilizando para enviar seus pacotes de amor, pois você poderá estar utilizando uma via perigosa. Tenha cuidado, evite envolvimentos que trarão sofrimentos desnecessários. E se por acaso você já está num relacionamento assim e não sabe o que fazer, talvez conversar sobre a relação seja a solução, talvez seja melhor você adotar uma postura semelhante, ou até mesmo a indiferença para fazer o outro despertar. Somente não se esqueça, que sempre haverá uma saída, por mais dura que seja, afinal, todos merecem ser felizes. 4. A Constante Mudança A idade da renovação Tudo em constante mudança

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Estamos vivendo tempos de transformações, tudo está em constante mudança no mundo ao nosso redor. Não há mais constância nas paisagens urbanas com suas obras em constante mutação, seu pavimento sendo modificado pela ação das chuvas e do tráfego, o lixo não recolhido alterando, poluindo, as águas não tratadas apodrecendo, as praias açoitando a tentativa do homem de impor seu desenho ao contorno do litoral… Tudo em constante mudança. Durante intervalos tão curtos de tempo, as pessoas passam próximo dos locais onde estiveram na semana anterior e ficam contemplativas ao perceberem que não mais pertencem àquele lugar. Um local de trabalho do qual fora despedido, uma escola na qual não mais se estuda, a casa de um amigo que não mais visita, uma igreja à qual não mais pertence… Tudo em constante mudança. Em tão pouco tempo, historicamente falando, o país, o estado, o município mudam ao sofrerem as influências diretas de nossos votos. Há duas semanas políticos se acusavam nos debates, nessa semana eles decidem quem apoiarão no segundo turno das eleições. Há uma inconstância no caráter do homem que não dá mais para ter certeza em quem confiar no cenário político. São ambiguidades de apoio eleitoral, indefinições de políticas públicas sustentáveis, ausências de planejamento estratégicos que afrontam o bolso do contribuinte… Tudo em constante mudança Nos relacionamentos as mudanças surgem como se sempre estivessem lá e a parte surpreendida é que não teve inteligência emocional o suficiente para perceber que algo estava acontecendo. De repente, há alguém novo habitando no corpo do antigo. Novos hábitos, novas atitudes, novas ações, formas de se vestir e de falar, novas emoções… Tudo em constante mudança.

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Desafiando o limite do impossível! Na avalanche das mudanças que a vida despeja sobre cada um, resta um suporte, o da convicção verdadeira naquilo que se tem como fundamento de caráter, não algo advindo de uma religião, que orbita na transitoriedade de como cada um a percebe, mas algo profundo, que não é circunstancial e nem se adapta aos meios em que se vive… Desafiando o limite do impossível! Desde a mais tenra idade, o ser humano vai passando por experiências que determinam quem ele será no futuro, ele escolhe no que acreditar, no que se firmar, e tudo que no futuro da humanidade se determina assim, por aqueles que tiveram coragem de crer diferente, de lutar pelo que acreditaram, e mesmo estando no limite de sua superação, continuaram… Desafiando o limite do impossível! As constantes mudanças e os desafios do cotidiano são batalhas vorazes para o incansável ser humano que desfere golpes no vazio, rejeitando tudo aquilo que o incomoda e indo contra aquilo que nunca ninguém talvez nem tenha pensado em vencer, mas cujo sucesso em romper novos limites de um universo que precisa ser alterado pode levar a humanidade e a sociedade a conhecerem novas fronteiras e continuarem… Desafiando o limite do impossível! Ultrapassar a fronteira final No universo interior e no universo exterior precisamos atingir e romper a fronteira final, se é que ela existe. E se não existe, devemos viver em busca de nos vencer enquanto universos vivos e

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capazes de mudar as relações humanas, a sociedade, a paisagem urbana e o contexto de vida das pessoas. Aqui citamos o exemplo da façanha de Felix Baumgartner. Ele participa do projeto “Red Bull Stratos”, que se trata de uma missão aos limites do espaço visando vencer os limites humanos estabelecidos há mais de 50 anos. Felix Baumgartner, com o auxílio de uma equipe de cientistas (peritos, no texto original), alçou voo em um balão estratosférico para atingir uma altitude de 120 mil pés (cerca de uns 37km) e dessa posição realizar um salto, uma queda livre para o quebrar recorde (inexistente), pois ao vencer se tornará o primeiro homem a romper a barreira do som em um salto livre (numa estimativa de 690 milhas/1.110 km/hora). Enquanto seu corpo se deslocava no espaço, equipamentos modernos de uma geração que nem se comensura, transmitiam dados de valor inestimável para o avanço científico e para a medicina moderna, pois Felix Baumgartner não pode ficar sem tentar ultrapassar a fronteira final.

A idade da renovação Essa é a idade da renovação, todos podem fazer algo para ajudar alguém, para modificar o mundo que está orbitando ao redor de cada um. Seu desafio só é conhecido por você mesmo, mas de sua vitória ou derrota, muita coisa pode mudar, na vida de muitas pessoas. Que essa semana represente mais desafios superados. Que toda a constante mudança possa ser gerada por cada um de nós, que ao

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desafiar o limite do impossível, ultrapasse a fronteira interior e exterior final ou não, numa nova idade da renovação.

5. A Reconquista Sobre perdas, (re)conquistas e reinícios Sobre Perdas Nas relações humanas a palavra “perda” está intrinsecamente ligada a um sentimento de posse que extrapola a finitude da materialidade e se estende para as relações humanas. O egoísmo humano sempre faz o homem querer possuir tudo aquilo que deseja, tudo aquilo que o satisfaz, nem que seja por um momento efêmero de prazer. Para entender a perda é necessário entender a posse, a propriedade, o sentimento de ser dono, de ter algo. Essa relação de posse é material, quando se refere a um objeto, um veículo, um livro, um computador, mas pode ser imaterial, quando estiver relacionada com os direitos subjetivos, com a propriedade intelectual, com a imagem. Sob nenhuma hipótese o ato de “possuir” estabelece algum poder entre as pessoas. Durante séculos o homem usou a prática escravagista, como se possuísse outros seres humanos e sobre eles tivesse o poder de venda, de comércio, utilizando seus corpos, aviltando suas dignidades em prol da satisfação física e para o acúmulo de riquezas. Hoje, a prática da posse de um ser humano para com outro está muito ligada ao romantismo exacerbado e a uma entrega absoluta

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da vontade própria para favorecer as vontades e desejos da pessoa amada. Essa prática do “eu sou teu/eu sou tua” em falas que vão além das declarações passionais, subvertem o amor e aqueles menos capazes de lidar com a plenitude do sentimento passam realmente a sentirem-se donos da pessoa amada, levando-as ao ciúme, ao apego exagerado, à tentativa de controlar e vigiar a vida daquele a quem de fato quer possuir. De índole livre, o ser humano que se percebe dentro de uma situação assim, busca a fuga, pois quer amar e quer até mesmo se entregar a uma relação duradoura. Não quer que a sensação de pertencer vá além de sua própria vontade de doar-se respeitando seus limites e sem que para isso se estabeleça um elo de pertencimento obrigacional, onde esteja sob o controle e a vontade impulsiva de outro. É de conclusão fácil entender que a posse no amor se dá pela vontade de agradar, e nunca pelo medo de desagradar. Quem pratica a entrega nulificante de si mesmo um dia cansará disso, assim como aquele que pratica a posse controladora sobre outro também um dia se cansará de vigiar, e aí, é onde se percebe a beleza da complexidade do caráter humano, pois mesmo na inexistência da posse, a separação de duas pessoas que se separam, paradoxalmente, é a perda. Sobre Reconquistas A palavra “conquistar” é oriunda do latim e significa “ganhar, obter por um esforço, procurar por”, portanto, temos conhecimento que ao conquistar os sentimentos de alguém, ganhamos em troca o afeto, a companhia e na maioria das vezes, o suposto o fim de uma busca.

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É a fase de “La Dolce Vita” dos apaixonados! Contudo, por ironia do destino (e como o destino sabe ser irônico), muitas vezes o ser humano se percebe em situações de perda afetiva e tudo que mais gostaria de possuir num momento desses seria a fórmula do amor! Mas ela não existe e Deus foi caprichoso em não permitir sua existência, e sem essas fórmulas alquímicas que muitos gostariam de ter a comprovação, perdem-se as esperanças! Nas batalhas sentimentais, as tão conhecidas guerras do coração, o ser humano não desiste facilmente quando está envolvido em conflitos do coração. Mesmo sem as tais fórmulas, ele embrenhase no vale tudo do seja como Deus quiser! Malgrado todos os ventos contrários, o homem estipula teorias e até mesmo na prática, as técnicas necessárias e geralmente tão comuns na busca da reconquista. Tentativas de emagrecimento, embelezamento, e até as práticas subsidiárias e desesperadas de aproximação tipo: tornar-se “amigos de infância” do vizinho, do tio, do sobrinho, do chefe daquela pessoa a ser reconquistada, e até famosa intriga de provocar ciúmes achando que aquilo chamará a atenção como se o ser humano fosse um objeto a ter seu preço elevado no mercado. É uma guerra que os mais vorazes lutam sem freios, e de repente “Touché!”, não pela vitória, mas pela queda de um nocaute! A vitória foi da inapetência humana em esquecer que para reconquistar precisamos de uma reciclagem de algo que não deu certo e a retomada do crescimento da inteligência emocional.

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Ao tentar uma reconquista baseado nos antigos padrões, não tem chances de conquista e sim “ré” conquista! Como nos conselhos da vida, cada um segue seu caminho! Sobre Reinícios As perdas e tentativas de reconquistas, atinentes ao universo dos sentimentos e das relações humanas, estão sempre em contraste com a real necessidade do homem de se relacionar. Não há pior perda do que a da identidade interior, aquela abjeta sensação de não ser mais nada, de depender quase que exclusivamente de outro ser humano para que sua sobrevivência emocional esteja garantida. Essa emoção negativa leva o homem a diversas ações como mentir, enganar, tentar ser algo que não é, provocar reações naquele ser que antes amado, agora não passa de um objeto cuja perda da posse é insuportável. Na tentativa de reconquistar algo (porque a pessoa deixou de ser alguém e passou a ser algo), o homem se permite a prática até de ações ilícitas como o assédio e a captação de amigos relacionados para fins de obtenção de informações que o levem ao êxito da reconquista. Porém, numa busca real não deveria ser de reconquistar o outro, e sim de reconquistar-se a si mesmo. A reconquista de outra pessoa pela anulação de seus princípios é mesmo uma “ré” conquista, um andar para trás no progresso individual de obtenção de autoestima pela aquisição e acúmulo de uma propriedade imaterial: a inteligência emocional. Nessa direção, surge a abertura de um novo caminho a ser trilhado, novos direcionamentos a serem dados nos objetivos de vida e o início de uma nova etapa se consolida.

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É nesse novo caminho que se encontra a verdadeira busca interior para o reinício de uma vida feliz, e quem sabe dessa vez, o encontro de uma relação de amor como a chance da doação sem a presunção da posse. Colaborou nesse texto Gleice Rocha que é escritora e publicitária do Jornal Estado de Minas.

6. Dia Internacional Da Mulher 2013 Reconhecendo a mulher locomotiva Ato I Cena I O convívio com as notícias diárias sobre a crescente onda de cometimento de crimes está banalizando as programações de televisão, não existe mais nenhum critério sério de censura e comenta-se sobre crimes bárbaros nos horários mais inconvenientes da televisão. A degradação humana atinge tal intensidade que para conviver com essa realidade cruel as pessoas passam a se habituarem às cenas de violência e as cores da morte que tingem os jornais impressos e televisionados, mas ainda conseguindo atingir os mais preparados para essas situações. A violência antes estilizada para conter seu potencial agressivo, agora está fugindo das telas da TV, saltando dos monitores de

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computador, escapando das páginas dos jornais e livros e caindo nas calçadas da vida real. Cena II Uma estudante chegara bem cedo na faculdade e dentro da sala vazia ela encontrou sossego para tentar reordenar seus pensamentos embaralhados pela preocupação. Essa estudante não era uma aluna comum, ela já era mãe de 3 filhos, vovó de dois netinhos e que mora longe de seus queridos devido a essas muitas circunstâncias da vida. Sempre motivada para os estudos e incentivadora dos alunos mais jovens, naquela manhã ela estava quebrada por dentro diante do possível diagnóstico de uma doença em sua filha. A mãeestudante-vovó estava acorrentada às preocupações e para não sucumbir à depressão, levantara cedo e agora dentro da sala de aula, enquanto tentava estudar para um trabalho que apresentaria logo mais, desabou em lágrimas. Cena III A professora/administradora chegava sempre cedo em seu atual trabalho e estava sempre disponível para buscar soluções para os problemas de seus colegas. Possuidora de uma larga experiência, oriunda de habilidades desenvolvidas num dos ambientes mais inóspitos do convívio humano, um presídio, onde ela teve a chance de cuidar de pessoas que haviam perdido tudo e, portanto não tinham mais nada a perder, ela não parecia medir esforços para ajudar ninguém.

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No trabalho que ela realizou com as pessoas privadas de sua liberdade por que haviam cometido algum crime e precisavam ficar afastadas do convívio com a sociedade livre e obediente, ela não deixava de trata-los com a maior humanidade possível, proporcionando dignidade e respeito aos párias sociais que muitos sequer se importam como vivem. Numa certa manhã, um de seus alunos estava realizando um trabalho e ela se aproximou dele. Seu olhar feminino captou diversas falhas na área de convivência daquela instituição e ela começou a falar de suas ideias e planos para tornar o ambiente mais propício para o desenvolvimento das atividades que ela queria ver acontecendo. Ato II Cena I Os homens gabam-se de sua natureza mais rústica e consequentemente de sua capacidade de enfrentamento dessas cenas cotidianas. Eles fazem piadas, anedotizam a vida, ocultando as feridas que a insegurança geral causa em suas mentes aparentemente inabaladas. Com o tempo, alguns desses mesmos homens fortes, acabam se entregando às fugas costumeiras do álcool, do vício em jogos e, às vezes, da recrudescência dessas dores ocultas em forma de violência doméstica cuja principal vítima é a mulher. Enquanto isso, as mulheres, por sua conhecida natureza mais sensível, reagem com lágrimas, arroubos de ação emocional, mas que por reconhecerem aquilo às fragiliza, desenvolvem uma tenacidade de raciocínio que somente a inteligência emocional de seres ímpares pode despertar.

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Cena II Era muito cedo e um professor chegara inusitadamente antes do tempo e caminhava pelos corredores quando notou a aluna e entrou na sala para cumprimenta-la. Ao deparar-se com as lágrimas da aluna e sendo colocado a par da situação dela, ele que já a conhecia de algum tempo na atividade acadêmica, ofereceu a ela seu apoio, e num gesto pleno de amizade, chorou com ela. Aquele foi o gesto de amizade que aquela guerreira mais precisava naquele dia. Mas em 8 de março de 2013 mais um Dia Internacional da Mulher é comemorado, e todos se enchem de emoções para prestar suas homenagens, mas nem todos conseguem manter até o ano seguinte, a apologia suscitada nesta data. Cena III Ao se inteirar da atividade que seu aluno estava desenvolvendo ela prontamente o incentivou e até compartilhou sentimentos sobre melhorias que ela deseja implantar. Num determinado momento, o aluno mencionou como era difícil ver um certo colega sorrindo, e ela, pensativa, disse: “Ele é muito contido.” A sensibilidade daquela mulher quase a levara às lágrimas em outra ocasião posterior. Foi um momento de transparência total de um ser humano que estava imbuído de querer realizar o que melhor fosse possível para aqueles de sua área de influência.

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Ato III Cena I Dia 06 de março houve uma sessão solene do Congresso Nacional, onde algumas mulheres foram nominadas para serem agraciadas com o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz no Dia Internacional da Mulher em comemoração a esta data. Em sua 12ª edição, o prêmio destacou cinco mulheres com atuação em áreas como assistência social, direitos femininos, saúde e educação. Dentre elas a educadora Adélia Moreira Pessoa e a missionária Luzia Santiago receberão o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz. O prêmio foi instituído pela Resolução do Senado Federal nº 2/2001 para homenagear mulheres cujas contribuições para a defesa dos direitos da mulher tenham sido relevantes. A cerimônia de premiação ocorre sempre em março, como parte das comemorações do Dia Internacional da Mulher, mas as indicações costumam ser feitas no final do ano anterior, e julgadas por uma comissão instituída para tal fim.

Cena II Bertha Lutz, que empresta seu nome ao diploma, nascida em 1894 e defensora do voto feminino em seus dias, foi uma das pioneiras na defesa dos direitos da mulher no Brasil. Ela foi deputada federal, quando lutou pelos direitos trabalhistas da mulher e do menor. Bióloga de profissão, formada pela Sorbonne, trabalhou como pesquisadora do Museu Nacional por mais de 40 anos. Ela faleceu em 1976, sempre honrando sua palavra e suas lutas.

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Mas existem milhares de mulheres que em seu universo de influência lutam pelos direitos de todos, vivem em constante combate para garantir igualdade de tratamento, mais humanidade, mais fundamentação das garantias individuais. Cena III As guerreiras anônimas, não recebem prêmios, não são ovacionadas em suas aparições públicas, não são reconhecidas pela dor e sofrimento que passam, para garantir a felicidade de outros. Como premiar pessoas cuja vida já é um prêmio para quem com elas convivem? O Brasil é o 12º país com maior taxa de homicídios femininos, isso sem falar no enorme índice de violência contra a mulher. Portanto, impedir o contínuo aumento desses índices, deveria ser a maior homenagem que o cidadão brasileiro poderia prestar às mulheres, mas ocorre uma verdadeira enxurrada de textos emotivos para tornar as mulheres mais sensíveis ainda, através da apologia sentimental. No restante do ano, a violência sofrida diariamente pelas mulheres, a discriminação ainda sofrida quanto às condições de trabalho e apelo sexual utilizando a mulher contínua se fazendo presente.

Cena IV A teledramaturgia disfarçadamente ensina as próprias mulheres a serem machistas ao incentivarem seus filhos e maridos às práticas que as subvertem a categoria de objeto, pois o modelo do profissional bem sucedido geralmente é o de um homem, que também é o cientista inteligente, o corajoso herói. Enquanto o

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modelo feminino estereotipado de beleza e sucesso é de uma mulher com nádegas exageradas, meio burra, de fala cantada, que recebem nomes de frutas para alimentarem mais ainda as fantasias sexuais. Programas como Big Brother Brasil mostram o apelo erótico geralmente tendencioso para o lado masculino, expondo o corpo e as curvas das frutas. A mulher locomotiva, aquela que arrasta pessoas pela sua capacidade de incentivar e motivar todos ao seu redor, não possui mais valor. A coisificação da mulher como sendo objeto do homem a reduz a uma condição de submissão que não possui poder de decidir sobre suas próprias roupas, pois vive em função das tendências modistas que agradam aos homens. Ato final Desculpem se o texto alusivo ao dia das mulheres de 2013 não esteja tão carregado de emoção como os outros que estão alimentando a internet. Mas é preciso dizer o que precisa ser dito. A aluna do Ato I Cena II tinha aquele professor como o ministrador da disciplina mais desgastante para ela, mas ele e ela souberam desenvolver a empatia necessária para se tornarem grandes amigos. A professora/administradora do Ato II Cena III sabia reconhecer a dor contida no sorriso de seu aluno. Bertha Lutz do Ato III Cena II foi um exemplo de ser humano que merece ser lembrado todos os dias.

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Respeitar uma mulher é isso. O justo reconhecimento das atitudes diárias, algumas vezes notórias, outras nem tanto, mas todas dignas de valor. Quando os homens do Ato II Cena I deixarem de homenagear as mulheres somente no dia 8 de março, eles poderão com a ajuda de pequenas cenas reais do cotidiano, reconhecer a mulher locomotiva, despertando para um entendimento melhor da natureza feminina e buscar inspiração nela, para serem melhores seres humanos.

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CONFISSÕES FINAIS Confissão O projeto desse livro não foi fácil, como já bem ilustrou o Prof. Busquets no prefácio. Nem tampouco foi fácil sua realização, pois desde que ele foi sonhado, passei a publicar em meu blog vários textos e com eles percebi como as pessoas se comportavam diante de minhas opiniões, que muitas vezes é contra à da maioria. Algumas vezes eu ficava estupefato com a receptividade desses textos e Profa. Ad, minha querida mentora, me dizia para continuar, não ter medo de expor meus pensamentos e ideias. Entretanto, confesso que nunca tive medo. Expus meus sentimentos e com isso alcancei o sentimento dos outros, compartilhei minha experiência de vida e assim outros compartilharam as suas, trocamos saberes, emoções, lágrimas, numa transfusão de amor, de alegrias, de paz, de sangue... Cuja melhor descrição fica a cargo Prof. Alberto Busquets, cujas palavras iniciaram essa obra e cujo haikai a encerra.

Hemorragia Sangro rimando Gotejo escarlate Dentro das linhas.

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BIOGRAFIA Ivenio Hermes escreve por vocação e concilia a área de ficção com sua dedicação à realidade de uma sociedade que precisa de seus talentos. É estudioso e pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial, além de ser um profundo observador do comportamento humano. Sua primeira graduação foi a Arquitetura e Urbanismo, hoje é graduando de Direito. É Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública, mas traz em sua bagagem acadêmica mais de vinte outros cursos na área de Segurança Pública. É membro do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Escritor ganhador de prêmio literário, e já publicou os seguintes livros: A Chita (1991 e 2013) Vítimas da Luz (1999 e 2013) Crise na Segurança Pública Potiguar (2013) Um Convite à Reflexão (2013) É Filho, irmão, pai e amigo.

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