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Ponto Final As vozes que ninguém escuta...
“Tenho medo de morrer na rua...”
IURD NO ROSSIO
ANJOS DA NOITE
A SOLIDÃO DE QUEM VIVE NAS RUAS Numa das noites mais frias deste inverno, em diversos locais do país, a IURD alcançou mais de seiscentas pessoas que fazem da rua a sua morada Nilza Barros nb.r@folhadeportugal.pt
Q
uando a estação fria chega, automaticamente, a vida de milhares de pessoas torna-se ainda mais difícil... Falamos dos sem-abrigo, milhares de pessoas que vivem nas ruas. Independentemente
do motivo que as tenha colocado nessa situação, a verdade é que a sua realidade não pode ser ignorada, sendo precisamente isso que o grupo solidário Anjos da Noite procura fazer: atender às necessidades mais imediatas dos sem-abrigo. E foi isso que aconteceu na terça-feira, dia 30 de janeiro, uma das inúmeras noites frias que tem assolado a capital portuguesa. MOVIMENTO SOLIDÁRIO. Cerca de 600 pessoas receberam uma sopa quente, agasalhos, sandes, uma palavra amiga acompanhada de uma oração
para quem assim o desejasse e um exemplar do jornal Folha de Portugal... o objetivo era ajudar a mitigar o sofrimento de quem mais precisa e, cientes disso, estas mesmas pessoas foram-se aproximando e recebendo a ajuda solidária dos Anjos. Desde a margem sul, onde Setúbal e a Baixa da Banheira foram contempladas, até à Gare do Oriente tendo, inclusivamente, passado por Santa Apolónia, Rossio e Cais do Sodré... várias cidades tiveram os seus habitantes de rua ajudados, tendo os mesmos passado uma noite menos sofrida.
“Vivo do rendimento mínimo e sou doente. Alimento-me apenas quando tenho possibilidade e passo muito frio, pois não tenho outra solução... com estes agasalhos e a manta, esta noite vou passá-la mais quentinha, pois preciso de algo para me tapar. Tenho medo de, com a doença que tenho, qualquer dia ficar aí no meio da rua. Este trabalho da IURD é muito importante, considero que é o próprio Deus a ajudar-nos, por isso precisamos de ter fé.” Ana Maria Há 4 meses sem-abrigo e portadora de HIV
“Já tentei o suicídio duas vezes”
“Estive junta cerca de 21 anos e fui vítima de violência doméstica, por isso tive que sair de casa. Tenho cinco filhos que ainda continuam com o pai, pois ele é um homem muito agressivo. A Se-
IURD EM ARROIOS
IURD EM STA APOLÓNIA
IURD NO SALDANHA
IURD mais próxima:
Caso de Sucesso Após dois anos a viver nas ruas e com vários problemas, foi através do trabalho dos Anjos da Noite que Abílio deixou de ser sem-abrigo, tendo tido a oportunidade que tanto desejava para mudar de vida. “Estive quase dois anos na rua e foi desde que os
voluntários dos Anjos da Noite da IURD da Alameda começaram a vir aqui fazer o trabalho solidário e a falar comigo, é que comecei a frequentar as reuniões. Como resultado, fui curado da epilepsia, consegui arranjar um quarto e a minha vida está a endireitar-se!” Abílio Ex-morador de rua
gurança Social nunca fez nada a respeito. Por causa desta situação já tentei o suicídio duas vezes. Os sem-abrigo estão completamente desamparados, porque ninguém ajuda em nada. Se formos pedir comida a um restaurante somos escorraçados, pois parece que estamos a cometer um crime. Se roubar é um crime, então, pedir também é... se eu tivesse uma oportunidade, saía desta vida.” Cristina Paiva Há 2 meses sem-abrigo, vítima de violência doméstica
“Estou cansada desta vida...”
Reincidente como sem-abrigo, Soraia é consumidora de drogas, mas já uma vez conseguiu sair das ruas. Depois disso, teve mais um filho e, à cerca de dois anos, por causa do vício, tornou a ir parar às ruas. Para sustentar o seu vício, ela faz de tudo... “Para sustentar o vício prostituo-me ou vou roubar nas lojas roupa que depois vendo na rua... tudo isso por causa da droga. Tenho 30 anos e quatro filhos, todos entregues a familiares... estou super cansada desta vida, até porque já passei por isto e sei que este caminho não leva a lado nenhum.” Soraia Há 2 anos sem-abrigo, toxicodependente