Una Shubu Hiwea - Livro Escola Viva do Povo Huni Kuin do rio Jordão

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Este é realmente um trabalho colaborativo. Somos muitos e de diversas espécies, guiados pelo propósito de aproximar um pouco mais a floresta do povo que mora nas cidades, para que todos reconheçam a enorme, milenar e sábia cosmovisão dos povos originários. Não podemos esquecer que o primeiro brasileiro, ou brasileira, é filho, ou filha, de “índia”. Deste subsolo da Avenida Paulista é possível imaginar a floresta. No piso que chamamos Rios está a reprodução da pintura dos rios Jordão e Tarauacá por José Mateus Itsairu, da aldeia Mae Bena. Cerâmicas, cestaria, tecelagens e outras artes Huni Kuý feitas especialmente para esta exposição estão reunidas no centro da sala. Percorre o espaço uma paisagem sonora criada por Yan Saldanha. Uma foto aérea da aldeia Nova Fortaleza revela uma samaúma, árvore sábia e sagrada. A seus pés estão algumas fotografias, feitas por Camilla Coutinho Silva, das plantas dos parques de medicinas dos pajés. nos aproxima do som que se escuta na floresta em diferentes momentos e situações ao longo de um dia. Divididos por aldeias estão os desenhos e os cadernos originais representando o intenso trabalho de pesquisa Huni Kuý. São relatórios de tratamentos, inventários de plantas nos parques, diários e mensagens. Por meio de pequenos vídeos, pode-se acessar a fala de quatro pajés: José Melo, da aldeia Mae Bena; Txana Kistý, da aldeia Três Fazendas; Dua Busë, da aldeia Coração da Floresta; e o visionário pajé Agostinho Ïka Muru (1944-2011), a quem se deve a abertura deste trabalho, iniciado em 2011, com o encontro de pajés em sua aldeia e a organização do livro Una Isý Kayawa, publicado em 2014. Em memória, nosso profundo agradecimento.

Ao fundo está pintado um grande mural contando a história da transformação de pajés em plantas medicinais. Mais de 80 espécies são parentes Huni Kuý que se tornaram plantas para curar. Uma síntese da história Huni Kuý, dividida em cinco tempos, está desenhada no quadro-negro. Na mesa, talhada com relevos de kenes, geometria sagrada Huni Kuý, estão os três livros publicados no tempo Xinã Bena: Una Hiwea, Livro Vivo (UFMG, 2013), Una Isý Kayawa - Livro da Cura (Dantes e Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2014) e Una Shubu Hiwea (Dantes e Itaú Cultural, 2017). No piso Jiboia, o 2º subsolo deste edifício, ao som dos grilos que vivem sob a terra estão 13 mitos Huni Kuý. Histórias dos tempos em que os Ikã Nai Baï, os pajés de antigamente, falavam com os animais, as plantas, os espíritos e todos os elementos da floresta. A jiboia está reproduzida no chão. Ela foi pintada por Menegildo Isaka, da aldeia Boa Vista. Sobre a jiboia estão 35 bancos, um para cada aldeia dos rios Jordão e Tarauacá. Ao centro da sala, um Tasakanã, banco usado nos batismos, feito com a madeira da raiz da samaúma e rezado pelo pajé. Há duas salas de vídeo. Uma com o filme Una Shubu Hiwea, de Camilla Coutinho Silva, e outra com seis filmes produzidos por cineastas Huni Kuý como parte dos projetos Vídeo nas Aldeias e Rede Povos da Floresta. Esta exposição é um espaço sagrado.


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