Todos os Gêneros 2018

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lidado pejorativamente de Kit Gay, foi alvo de críticas de setores conservadores e acabou suspenso pela Presidência da República. Ele não foi o único. Às vésperas do Carnaval de 2012, o Ministério da Saúde suspendeu a veiculação de quatro vídeos educativos dedicados à juventude gay. No ano seguinte, mais duas campanhas, uma voltada para adolescentes e outra para profissionais do sexo, foram suspensas. “Esse conservadorismo crescente no país impacta profundamente o desenvolvimento de ações de prevenção ao HIV/Aids. Se, por um lado, já desde os anos 1960 vivemos um processo social de maior liberdade sobre valores e práticas sexuais, por outro, vivemos em um contexto político em que é negado às novas gerações o direito à educação sobre sexualidade”, analisa a psicóloga Gabriela Calazans. A teoria da pesquisadora encontra ressonância nos dados do Unaids. O relatório de 2017 aponta que um terço das novas infecções no Brasil afeta jovens de 15 a 24 anos. “Efetivamente, o que temos feito, como sociedade, é deixar adolescentes e jovens à própria sorte, sem proteção”, finaliza. O médico sanitarista e pediatra Carué Contreiras [autor do artigo na página 24 desta publicação], coordenador do Núcleo de Educação Comunitária da Unidade de Pesquisa do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids do Estado de São Paulo, concorda com Calazans. Para ele, esse crescimento da Aids entre adolescentes e jovens adultos é reflexo de uma negligência do Estado com a juventude LGBT. “A educação sexual voltada para a juventude gay já era ruim antes da onda conservadora que estamos vivendo. E, mesmo agora, ainda não se fala nem em gênero”, declara. Ele critica ainda a negligência no tratamento dado aos adolescentes LGBT no Sistema Único de Saúde (SUS). Os dados mais detalhados do relatório do Unaids apontam que a Aids triplicou nos meninos com idade entre 15 e 18 anos na última década.

Perspectivas de tratamento e cura

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Apesar desse cenário, as perspectivas de tratamento estão melhores. Embora ainda não se possa falar em cura, a carga viral indetectável já é uma realidade para 38% das pessoas com HIV no mundo. Em 2014, o Unaids estabeleceu uma meta ambiciosa: até 2020, ter 90% das pessoas com HIV diagnosticadas, 90% delas estarem fazendo tratamento com antirretrovirais e 90% das pessoas em


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