Catálogo da exposição Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico

Page 90

os fármacos inteligentes e a estimulação cerebral hoje disponíveis são usados principalmente por pequenos grupos de pioneiros, ao passo que, nos países desenvolvidos, a maioria das pessoas começa o dia com uma estimulante xícara de café ou chá, e tornamos a escolaridade obrigatória para garantir que todos tenham acesso às ferramentas que ampliam a cognição. Cada vez mais, inserimos tecnologia em nossos corpos – algumas vezes por motivos práticos ou terapêuticos, outras como ato muito primal de automodificação e criação de identidade. A modificação direta de nós mesmos é complementada pela construção do self ampliado, em que nosso aspecto biológico está em interface com sistemas externos de suporte – que não só aumentam nossas capacidades, como também podem nos disciplinar em nome de desejos de ordem mais elevada (pensemos nos monitores de fitness) ou nos colocam em circuitos complexos de feedback com outras pessoas. Esses sistemas tornam imprecisos os contornos da identidade.O debate sobre o que significam essas capacidades e como lidar com elas eticamente não trata apenas de uma possibilidade hipotética – embora muitas das intervenções biomédicas mais diretas ainda estejam engatinhando –, mas, cada vez mais, de uma questão política. Mesmo que não sejam questões iminentes no próximo período eleitoral, cabe-nos ponderar sobre aonde a humanidade pode ir nos próximos milênios.

89

cure diseases but also to obtain possible effects of prevention and betterment. It is feasible to change appearances due to social or existential motives. Cognitive enhancement is quite widespread – smart drugs and brain stimulation available today are used mainly by a small group of pioneers, whereas in developed countries, the majority of people start the day with a stimulating cup of coffee or tea, and we have made schooling mandatory to guarantee everyone has access to tool that broaden cognition. More and more, we insert technology in our bodies – sometimes for practical or therapeutical reasons, other times as a

primal act of self-modifying and creation of identity. The direct manipulation of ourselves is complemented by the construction of an amplified self, in which our biological aspect interfaces with external support systems – not only enhancing our capacities but also disciplining us the name of desires of an higher order (think fitness monitors), or putting us in complex feedback circuits with other people. These systems blur the outlines of identity. The debate on what these capacities mean and how to deal with them ethically is not only a hypothetical possibility – although many of the biomedical interventions are still in their early days –, but increasingly political in nature. Even


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.