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Você vem de uma família de imigrantes latinos. Isso influenciou seu trabalho?

Eu tenho muito orgulho da minha origem. Eu sou latino. Meu pai era um imigrante do Peru que veio para os Estados Unidos, trabalhou duro, me ensinou valores. Minha mãe era porto-riquenha e veio para Nova York com minha avó para trabalhar nas fábricas. Naquela época, o Bronx tinha muitos empregos nas fábricas. Meu pai gostava de futebol e era um homem muito inteligente. Era contador, mas gostava de trabalho físico, e por isso foi trabalhar com ferro, como soldador, em construção de prédios, pontes. Ele nunca estava em casa, sempre trabalhando. Eles se separaram quando eu tinha 3 anos, e eu morei com minha mãe até os 9 anos, quando fugi para ir morar com meu pai. Com ele, conheci a cultura peruana e fiquei fascinado pela cultura inca e moche dos Andes. Isso me influenciou, com certeza. Quando morei com minha mãe – inclusive em Porto Rico por um tempo –, as cores e a cultura porto-riquenha, a cultura taina, as casas coloridas me cativaram.

Tudo isso me incentivou a usar muitas cores, junto com as linhas finas da arte inca e moche. Eu só percebi essa influência depois, quando fui fazer pesquisas sobre essas tradições e percebi que aquilo era o que eu fazia, como me expressava. Afinal, o grafite é uma forma hieroglífica: é um sistema complexo de letras e símbolos que nem todo mundo consegue entender. É muito importante que as pessoas conheçam sua cultura, a cultura de onde elas vêm. Assim elas podem descobrir quem são. Eu sei quem eu sou. Sou latino, sou mestiço, eu me orgulho disso e expresso na minha obra.

Você já veio ao Brasil?

Infelizmente nunca fui. Mas já tive o prazer de trabalhar com muitos artistas brasileiros. Pintei uma parede no Bronx com OSGEMEOS e o Cope2. Pintei com o Bonga MAC em Paris. E pintei com o Binho na China, na França, na Alemanha e em Nova York. Só de pintar com eles, eu já pude sentir a energia do Brasil. O Brasil é incrível, assim como a arte que é produzida aí. Acho incrível, em São Paulo, os prédios enormes e os artistas fazendo seus grafites nas empenas [em arquitetura, empena designa qualquer parede lateral de uma edificação, normalmente na divisa do terreno]. Estou ansioso para conhecer o Brasil e me sinto grato por ter sido convidado a ir. Espero poder fazer algo que impressione vocês, porque vocês são impressionantes para mim. Espero que o que façamos juntos possa ser lembrado por muito tempo.

O que o motiva a continuar criando?

Eu tenho 61 anos e ainda estou ativo. Vou bastante para a Europa. Pinto muito. Até pinto trens por lá. Para mim, é importante poder dar de volta aquilo que me foi dado.

Quero ver o grafite como arte, feito como sempre fizemos, resgatando as raízes. Por isso, eu vou pintar trens até não conseguir mais andar. Me motiva muito poder ver meu trabalho chegando a museus importantes, como o Louvre, o Smithsonian, e ver as pessoas reconhecendo o grafite como uma arte de verdade. A maior parte dos grafiteiros não é treinada nas técnicas clássicas da arte, não foi a escolas de arte, não fez da arte seu negócio. Eles só se expressam, assim como eu faço. Se fizer dinheiro com isso, tudo bem. Mas o que é realmente importante, e me faz continuar, é que os artistas de hoje, de rua, vejam que essa expressão veio dos trens do metrô, de uma geração que não teve nada.

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