Entrevista pingue-pongue com Luiza Miguez

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Entrevista Luiza Miguez

“Eu sou stalker de vocação”

Checadora de apuração e repórter, Luiza Miguez conversa sobre a rotina do trabalho Isabella Gomes inguém estuda em uma universidade federal para contar lixeiras públicas no Largo da Carioca, embora as circunstâncias tenha levado Luiza Miguez a fazer exatamente isso. Ela se deparou com uma reportagem que citava especificamente o número de caçambas laranja no local. Como o dado não existia, teve que ir até o centro da cidade e contar uma por uma para que o texto pudesse ser publicado sem erros. Formada em Jornalismo há dois anos, Luiza Miguez conquistou um espaço disputado por muitos no mercado de trabalho: a revista piauí. Ainda na faculdade, conseguiu um estágio na publicação como checadora de apuração, sob grande responsabilidade de substituir jornalistas experientes. A capixaba, filha de jornalistas, conseguiu sobreviver ao que se conhece na empresa como “darwinismo de redação” – quem sabe graças às lixeiras –, se mantendo no cargo após concluir os estudos. Sua rotina na

amigos estão doentes. De cansaço. Porque não para. Uma amiga sofreu uma paralisia facial por causa de stress. Todo mundo tem alguma “ziquezira” assim na redação.

N

A jovem Luiza Miguez, repórter e checadora da revista piauí

piauí se divide entre seus dois cargos: checadora e repórter. Única na função de checagem, a jornalista afirma que tem uma semana para apurar a veridicidade de todas as informações de uma edição da revista, publicada mensalmente. Aponta que o mais difícil nesse processo é administrar seu tempo, o que requere tanta organização quanto agilidade. Como repórter, reconhece que o prazer da profissão está nas diferentes experiências proporcionadas pela pesquisa, que por sua vez, garantem certa vitalidade ao texto. Graças a carreira que se inicia, Luiza perceber melhor a importância

da verificação das informações veiculadas na mídia, enaltecendo o trabalho de agências de fact checking brasileiras, e defende sua atuação no jornalismo diário. Além disso, a jovem revela o tema em que trabalha neste momento e como pretende abordá-lo. Revista: Qual é a maior dificuldade da profissão? Luiza Miguez: O jornalismo tem esse problema, ele se confunde muito com sua vida pessoal. Você não vai dormir sem deixar de ser repórter, sabe? Não é igual a um médico, que desliga. É cansativo. Se você se deixar, vai ficar muito doente. Eu sei porque muitos

R: Por causa da sua profissão, você desconfia dos dados de notícias que lê nos outros veículos e vai verificar a informação daquilo? LM: Sim, principalmente quando usam expressões como “o maior”, “o único”. Se a manchete é “o único bar que toca Beatles às 3h da manhã”, não é, cara. Pode ter certeza absoluta. Tem muito bar nesse mundo para tocar Beatles às 3h da manhã. Não existe “o maior”, “o melhor”, “o principal”, “o favorito”. Você entrevistou todas as pessoas para saber para saber se aquele é o favorito? Então, não é. R: A checagem do digital da piauí também é sua? LM: Sou eu quem faço também. E é mais difícil porque o blog é hard News. Hard News não é checado no Brasil. Aí, as repórteres às vezes vêm com um “fulano me dis-


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