VOZES ANÔNIMAS “Eu pego carona, conheço pessoas e vivo em busca do novo.” Ricardo dos Anjos, p.10
“Quando chamamos a atenção eles dizem: - Mas se não fosse o meu lixo o que seria de você?” Isabel Tobias, p.10
“Aprendi que a gente também tem que tentar gostar de fazer alguma coisa” Áuster de Oliveira p.4
VOZES ANÔNIMAS Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Reitor Dr. Julio Cezar Durigan Vice-reitora Dra. Marilza Vieira Cunha Rudge
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação – FAAC Diretor Dr. Nilson Ghirardello Vice-diretor Dr. Marcelo Carbone Carneiro
Departamento de Comunicação Social Chefe Dr. Juarez Tadeu de Paula Xavier Vice-chefe Dr. Angelo Sottovia Aranha
Editoral Você já falou “bom dia” para o catador de lixo? Sabe o nome do porteiro do seu prédio? Estamos sempre correndo e presos na rotina do dia a dia e nem percebemos as pessoas que nos cercam. Lemos notícias de celebridades caminhando na praia, mas não sabemos o nome do moço que recolhe o lixo que jogamos na rua. Já parou pra pensar que as embalagens de chiclete que você joga na calçada não desaparecem como mágica? Existem rostos, pessoas nos bastidores da nossa cidade, que realizam as atividades que desdenhamos. Atividades que são importantes e que ignoramos no nosso cotidiano. Mas se não existissem essas atividades como viveríamos? O Vozes Anônimas foi escrito com o objetivo de dar voz para quem não tem, voz para quem não é notado, voz para quem passa despercebido, e mostrar as diferentes realidades e identidades brasileiras. É importante ressaltar a dificuldade encontrada pelo grupo para entrevistar diversas categorias de trabalhadores, pois eles só poderiam conceder entrevistas com a permissão de seus superiores, ou através da assessoria de imprensa da empresa em que eles trabalham. Percebemos que agora, mais do que nunca, a comunicação foi institucionalizada, de modo que os trabalhadores perderam ainda mais suas vozes. Com isso, dificilmente, eles conseguem ser ouvidos e se tornam anônimos. Se a rotina do dia a dia nos impede de saber mais sobre a vida desses trabalhadores, encontramos aqui um espaço para mostrar aos leitores quem são essas pessoas que trabalham muitas vezes nos bastidores das cidades. Podemos resumir essa experiência de entrevistar gente como a gente em uma única palavra: aprendizado. Em gestos e palavras, o carteiro, o gari, o lixeiro, o vendedor, conseguiram mostrar como os seus trabalhos e suas histórias de vida são importantes para a nossa sociedade.
Curso de Jornalismo Coordenador Dr. Francisco Rolfsen Belda Vice-coordenadora Dra. Suely Maciel
A Redação
Nesta Edição
Jornalismo Impresso II Professor Dr. Angelo Sottovia Aranha Planejamento Gráfico-Editorial em Jornalismo II Professor Dr. Francisco Rolfsen Belda
Coleta de lixo: em busca do zelo pela cidade Redação O hoje é o amanhã que você procura Amanda Costa Isabel Silva Isadora de Oliveira Pelas ruas de Bauru Naiara Teixeira Thais Viana Salvadores de uma noite de domingo Av Eng Luiz Edmundo Carrijo Coube, nº 14-01 Bairro: Vargem Limpa Trabalho de risco CEP: 17.033-360 – Bauru, SP Fone: (14) 3103-6063 Uma profissão de 352 anos no Brasil Muito mais do que vitrines Amanda Costa Uma história na multidão Um jeito próprio de ser feliz Isadora de Oliveira Leve às ruas cidadania Profissões em números Naiara Teixeira
Thaís Viana 02 | Maio 2015 |
VOZES ANÔNIMAS
Isabel Silva
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Coisas que você nem imagina já encontramos no lixo. Teve uma vez que eu achei um crânio e foi assustador.
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Bruno Gabialti, 28 anos Coletor de Lixo
Coleta de lixo: Em busca do zelo pela cidade Um trabalho importante para o município porém pouco valorizado e notado pela população aconteçam, “todo dia tem alguém lá na EMDURB com um corte, fiPor Thais Viana cam 10 dias em casa ou mais”, outro acrescenta “isso quando não cai coleta de lixo na cida- do caminhão. Eu caí no meu terceide é com certeza umas ro dia de serviço”. Por isso se sendas atividades mais tem mais valorizados pelos muníimportantes que visam cuidar cipes do que pelo empregador, mas da higiene e da saúde da popu- pedem para que a população tamlação. No entanto estamos tão bém descarte o lixo corretamente. acostumados com essa prática que nem sempre reparamos em “todo dia tem quem presta este serviço para nós. alguém lá na É comum percebemos que ele, EMDURB o coletor de lixo não passou, quancom um corte, do notamos que o incomodo lixo ficam 10 dias ainda está lá na porta ou quando em casa ou mais” ele está passando e esquecemos de tirar o lixo! Fora isso, são raras Segundo um artigo publicado ás vezes que dedicamos algum por Silvia Marangoni, João Tascin pensamento para esses colegas. e Luiz Porto no XIII Simpósio de Em uma conversa com eles, Engenharia de Produção da Unesp durante uma pausa no trabalho, de Bauru em 2006, os principais risem que comiam uma pizza doada cos à saúde dos coletores, são propor uma pizzaria, ouvi histórias blemas biológicos e de ergonomia. bem curiosas e também as dificul- Esse artigo foi elaborado com as dades de trabalho. Um dos maiores informações cedidas pela Emprepercalços presente no serviço deles sa Municipal de Desenvolvimento é a falta de material de segurança Urbano e Rural, EMDURB de Baupara a coleta. São oferecidas luvas ru. O estudo definiu que 47% dos domésticas para a retirada do lixo, acidentes são devido a coleta de obo que faz com que cortes profundos jetos cortantes, seguido de 13% de
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entorse e os outros 30% são referentes a mordida de cão, atropelamentos, quedas, lombalgia e outros. Um dos coletores, Bruno Gabialti, 28 anos, conta uma história curiosa: “coisas que você nem imagina já encontramos no lixo. Teve uma vez que eu achei um crânio e foi assustador”. Passado o susto, a polícia foi acionada para fazer o boletim de ocorrência. Segundo Bruno, o crânio foi descartado por um estudante da área de biológicas. Essa história que aconteceu em fevereiro de 2014, foi parar no Jornal da Cidade e no Bom dia. Para Bruno, ser coletor o ajudou a se comunicar melhor com a sociedade, “poucos querem fazer nosso trabalho, mas eles reconhecem que é complicado” e completa “muita gente passa no concurso mas são poucos os que permanecem”. O edital publicado no site da EMDURB, afirma que para participar do concurso é necessário ter 18 anos e ensino fundamental completo (8º serie). O salário oferecido é de R$ 912,82 com uma jornada de 36 horas semanais, de segunda a sábado. As coletas acontecem em
três períodos, manhã, tarde e noite. Bruno comenta que a jornada de trabalho é uma das melhores coisas, ele entra às 18h e sai ás 23h40, mas quando terminam o trabalho antes eles podem ir embora mais cedo. Nesses seis dias de trabalho, ele trabalha alternadamente em dois setores que abrangem vários bairros da cidade. Ele não se sente totalmente invisível, “os munícipes têm um carinho pela gente, alguns até me chamam a gente pelo nome. Isso eu acho muito legal”. Ele que é de uma família de quatro filhos, sendo o mais velho, conta que a família se interessa pelo seu trabalho e que a maioria das pessoas não acreditam quando ele conta que é coletor de lixo. Antes de trabalhar nesta área, já tinha trabalho como frentista, auxiliar de produção, auxiliar de limpeza, estoquista e eletricista, “esse ano eu ia fazer faculdade, mas a turma não fechou. Quero fazer engenharia elétrica, uma continuação do que estudei no Senai”.
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O objetivo da minha vida é ter um emprego com estabilidade, construir minha casa, ter minha mulher e meus filhos e está bom, não preciso mais do que isso.
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Áuster Domingos de Oliveira, 29 anos Agente de Vigilância e Inspeção
O hoje é o amanhã que você procura... Todos têm suas formas de buscar a felicidade, o vigia Áuster de Oliveira constrói a felicidade dele todos os dias
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VOZES ANÔNIMAS
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rigidez, Auster se distancia muito desses termos, mostrando ser uma pessoa flexível aos acontecimentos da vida, aberto às mudanças que o amanhã pode lhe trazer, mas preparado para viver o hoje . “Eu acredito que a gente tem que fazer o que gosta, mas aprendi que a gente também tem que tentar gostar de fazer alguma coisa. Se eu vou ser vigilante, eu vou tentar gostar de ser vigilante. É mais fácil eu fazer isso, do que eu tentar lutar contra isso. Não sei o que vai ser amanhã. Pode ser que aconteça algo e eu tenha que dar aula, vou ter que aprender a gostar de dar aula”. Casado e ainda sem filhos, o vigilante acredita que devemos buscar objetivos na vida. No momento, ele encontrou a estabilidade profissional que procurava, e ainda quer melhorar, mas não deseja conquistar mais do que precisa para ser feliz. Apesar de nunca ter exercido sua área de formação, a faculdade lhe abriu um novo mundo, se não tivesse feito, não teria alcançado suas conquistas atuais.
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lância entre o campus da UNESP e o Colégio Técnico Industrial Prof. Isaac Portal Roldán (CTI). Mesmo tendo custos com as orador de Paulistânia, há viagens entre as cidades diaria50 km de Bauru, Áuster Domingos de Oliveira, mente, o vigilante diz que não de 29 anos, sempre trabalhou no pretende trocar o aconchego da campo, na cultura de cana de açú- sua pequena cidade de 1.200 hacar, até a usina em que trabalhava bitantes, onde sempre viveu, para morar em Bauru. vir à falência. “No serviço que eu tinha não havia estabilidade, fazia de tudo Não deseja um pouco, trabalhava com pragas e doenças de cana, levantamento conquistar mais de perdas no campo, até [a usina] do que precisa vir à falência, só saí de lá porque faliu”, conta Áuster. para ser feliz Em busca de estabilidade, o Sua maior objeção deve-se jovem biólogo, que sonhava em se tornar agrônomo, resolveu perse- à falta de segurança da “Cidade guir novos objetivos em sua vida. Sem Limites”. “[Em Paulistânia] Além de entrar para um curso tenho segurança, não tem enchende vigilância, Áuster chegou a prestar te, posso sair e deixar minha pordoze concursos públicos seguidos, ta aberta. Qual o lugar seguro que até passar no concurso para assumir você moraria aqui em Bauru? Lá é o cargo de Agente de Vigilância e como um condomínio, mas estou do lado dos meus parentes, e não Inspeção da UNESP/ Bauru. Há um ano e meio, Áuster per- vivo trancado”, afirma. Apesar de seu nome lembrar corre o trecho Paulistânia – Bauru todos os dias, e podemos encontrá- a palavra “austero”, cujo significalo cumprindo seus turnos de vigi- do nos remete à inflexibilidade e
Por Isabel Silva
“Para fazer faculdade eu tive que trabalhar. Trabalhava o dia todo e a noite estudava”
Teve que trabalhar para manter seus estudos, aprendeu a batalhar pelo que acreditava. “A maioria das pessoas buscam ganhar bem e com estabilidade, não importa o que ela vá fazer, é a primeira coisa que ela quer, e depois disso ela vai procurar fazer o que ela gosta. Porque hoje, a maioria da população, para estudar alguma coisa tem que estar trabalhando. Para fazer faculdade eu tive que trabalhar. Trabalhava o dia todo e a noite estudava. E atuar na área ou não depende de qual é o seu objetivo. O objetivo da minha vida é ter um emprego com estabilidade, construir minha casa, ter minha mulher e meus filhos e está bom, não preciso mais do que isso. Às vezes você está sempre procurando mais para ser feliz, quer isso e quer aquilo, mas você não viveu a vida”.
Pelas ruas de Bauru A história de um entregador de jornal
Por Isadora de Oliveira
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entregador de jornal é um profissional que dificilmente vemos pelas ruas. Veloz, ele trabalha durante a madrugada e muitas vezes passa despercebido. Quando era jovem, Altair sonhava em ser jogador de futebol, mas os problemas no joelho lhe impediram de lutar pelo seu sonho. A vida lhe reservava outros rumos. Hoje, Altair Maximiano, tem 45 anos, sendo que há 18 anos ele trabalha como entregador de jornal. Todos os dias, de segunda a segunda, ele chega ao Jornal da Cidade, às 01h30min e espera cerca de meia hora para começar as entregas. Percorre diariamente 45km, 30km no Vista Alegre e 15km no centro de Bauru, onde entrega todos os dias 955 jornais. Durante os feriados e datas festivas, quando muitos estão acostumados a comemorar ao lado da família, Altair está trabalhando para garantir que os jornais cheguem aos seus leitores. E ele dificilmente tem férias, pois quando tira uma folga, precisa pagar para
alguém substituí-lo. Além disso, o substituto leva cerca de 20 a 30 dias para aprender sua rota de trabalho. Apesar dos perigos das noites bauruenses, felizmente ele nunca sofreu nenhum tipo de violência, nada colocou em risco sua segurança durante todos esses anos de trabalho.
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Há 18 anos ele trabalha como entregador de jornal
Ele, assim como os outros 31 colegas de trabalho, não possuem vínculos com o jornal, são autônomos. Recebem 0,18 centavos por cada jornal entregue, e com esse salário também devem arcar com as despesas de suas próprias motos que são utilizadas para a entrega do jornal. O jornaleiro está satisfeito com a profissão que possui. O trabalho noturno não é um problema
Altair Maximiano, 45 anos Entregador de Jornal
para ele, ao contrário, gosta do fato de trabalhar apenas três ou quatro horas diariamente, pois, assim, ele tem o restante do dia disponível. Ele aproveita as horas vagas para jogar futebol com os amigos. Em relação ao futuro, Altair afirma que pretende se aposentar como entregador de jornal. Ele reconhece que ganha um bom salá-
rio, o suficiente para ter uma boa vida, que incluí o pagamento da faculdade da filha, estudante de engenharia ambiental. O orgulho do pai. Mas afirma que se a filha quisesse seguir a profissão do pai, ele não a proibiria, mas aconselharia ela a fazer uma faculdade.
Elaborado por Thaís Viana
Percurso feito por Maximiano
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Salvadores de uma noite de domingo “Vai de Marguerita ou Mussarela?” Por Amanda Costa
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fim de uma noite de domingo combina muito bem com uma pizza, não é mesmo? Nada mais confortável do que pedir pizza e ela chegar rapidamente em nossa casa! Mas você já pensou como ela chega assim tão rápido e ainda quentinha? São eles, os entregadores de pizza, os salvadores da nossa noite. Em uma dessas noites de domingo, ao invés de pedir uma pizza em casa, resolvi ir até uma pizzaria.
{ { Elaborado por: Isadora de Oliveira
“Eu amo o que eu faço, foi assim que sustentei minha família e criei meus filhos.”
Foi assim que conheci sr. Carlos Alberto Azevedo, ou melhor, “Seu Beto”, como conhecido pelos amigos de trabalho. Há longo de 37 anos, Seu Beto trabalha como entregador de pizza e literalmente salva nossas noites famintas de domingo. Aos 57 anos de idade, o simpático senhor não aparenta nem um pouco o cansaço típico da idade ou de sua profissão, ao contrário, Seu Beto é muito animado e ativo. Quando questionado dos perigos da profissão, ele não reclama muito. Cita os dias de chuva e motoristas desatentos como os maiores problemas. Fora isso, só vê vantagens em ser entregador e diz que ama a profissão que tem. Trabalhando há quase quatro décadas pelas ruas de Bauru, Seu Beto conheceu muitos lugares e pessoas. “Já andei tanto por Bauru
Carlos Alberto Azevedo, 57 anos Entregador de pizza
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Afamíliatemdesuportar.Jáperdi váriosmomentosbonspelotrabalho.Éruim, masfoitrabalhandoqueconseguicriar meusfilhos.. que é difícil encontrar uma rua que ainda não tenha ido. Conheci muitas pessoas e fiz muitas amizades nessas andanças”, contou Carlos Alberto. Além do entregador de pizza, conheci também o Carlos Alberto esposo e pai. Seu Beto é casado há 35 anos e tem três filhos. Duas meninas formadas em direito e um menino cursando engenharia mecânica. Posso confessar que foi animador ouvir isso dele. Afinal, um entregador de pizza pode sim levar seus filhos até a universidade! Por que não? Conheci também o Seu Beto 06 | Maio 2015 |
VOZES ANÔNIMAS
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batalhador, que trabalha literalmente noite e dia para sobreviver e sustentar sua família. Além de trabalhar todas as noites, de terça a domingo, Carlos Alberto também entrega “marmitex” no horário do almoço para complementar a renda familiar. - O senhor pensa em parar? questionei Seu Beto. - Eu gosto disso. Só vou parar quando não conseguir mais dirigir uma moto. - ele respondeu aos risos. Bom saber que teremos ainda muitos domingos salvos pelas pizzas de Seu Beto.
Trabalho de risco
A rotina de quem permite que a energia elétrica chegue em sua casa Por Isadora de Oliveira
D Marcelo Dias Guagliareli, 36 anos Técnico de Substações de Energia Elétrica
Como a energia elétrica chega até sua casa A energia elétrica pode ser produzida através de diversas fontes: carvão mineral, derivados de petróleo, bagaço de cana, entre outros.
18 mil V
Nas usinas hidrelétricas, a queda d’água movimenta um gerador, criando um campo magnético, que produzirá a corrente elétrica. Em seguida a energia passa pelas estações de transmissão que aumentam sua voltagem.
765 mil V
A energia vai para as cidades através das torres de transmissão de alta tensão, sendo transportada em altíssima voltagem, para reduzir as perdas energéticas durante a transmissão. Elaborado por Isabel Silva Fonte: CPFL Energia Revista Nova Escola
iariamente Marcelo Dias Guagliareli, de 36 anos, coloca sua vida em risco. Ele trabalha há 17 anos, para a empresa CPFL, na manutenção de equipamentos de alta tensão de quatro subestações de energia na região de Bauru. O trabalho apesar de incomum é de extrema importância para a civilização moderna. Sem a energia elétrica retrocederíamos milhares de anos. Voltaríamos ao trabalho manual e caçaríamos prezas para nos alimentar. A sociedade moderna é totalmente dependente da energia elétrica. Para trabalhar em segurança, Marcelo utiliza equipamentos de segurança como roupas anti-chamas, botas, luvas, capacete e óculos de proteção. Apesar de nunca ter sofrido nenhum acidente de trabalho, ele toma todos os cuidados necessários para que isso nunca aconteça, pois sabe que se isso acontecer, provavelmente será fatal. Marcelo e seus colegas de trabalho, transformam a energia recebida da empresa transmissora de 138 mil Volts para 13.800 Volts. E é essa energia que chega na casas bauruenses todos os dias, 24 horas por dia. Para que isso aconteça, há uma central, em Campinas que monitora todas as subestações da região, incluindo Bauru. E quando ocorre alguma emergência que comprometa a distribuição de energia, não importa o dia, ou
Marcelo Gaguiareli atua nessa etapa do processo.
13,8 mil V
a hora, os técnicos são chamados para resolver o problema. Aos sábados, domingos e feriados, eles também ficam de sobreaviso.
{ { Marcelo transforma a energia recebida da empresa transmissora de 138 mil V para 13,8 mil V
Apesar do fato de estar constantemente exposto a riscos ser um incomômodo para ele, Marcelo se diz satisfeito com o seu trabalho. Quando perguntei, se ele mudaria de profissão, caso tivesse outra oportunidade de emprego, ele não hesitou em dizer que não. Para ele, com o curso técnico de eletricista que possuí, não encontraria um emprego que lhe proporcionasse melhores condições de trabalho e um salário maior. Em relação a sua remuneração, ele se diz satisfeito, pois ganha um salário que está dentro da média do mercado. Mas como todo mundo, ele também gostaria de ganhar mais. Claro! Marcelo sabe a importância que o seu trabalho tem para a comunidade, e não se incomoda com o fato do seu trabalho não ser reconhecido e muitas vezes até mesmo desconhecido.
127V e 220V
A voltagem da energia é reduzida novamente nos transformadores de distribuição dos postes. Só então, ela é distribuída pela fiação e segue para as residências.
Quando a energia chega à cidade, ela passa pelos transformadores de tensão nas subestações, onde sua voltagem é reduzida.
VOZES ANÔNIMAS | Maio 2015 | 07
352 anos de história Profissão sofreu mudanças com a internet
Por Thais Viana
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uem nunca trocou cartas com alguém distante não sabe o que é esperar ansiosamente pela visita do carteiro. Eu na minha adolescência e até hoje cultivo esse hábito de enviar cartas, além disso sou colecionadora de cartões postais há mais de cinco anos. Segundo o carteiro Carlos Passine, de 58 anos, o costume de enviar cartas caiu muito nesses oitos anos que trabalha na profissão. “Hoje nem os boletos são em grande quantidade, porque a maioria das pessoas recebem via e-mail. O volume maior de cartas vem dos presidiários”. Carlos é natural de Araçuaí, uma cidade no interior do Norte de Minas Gerais que tem cerca de 37 mil habitantes. Terceiro filho de uma família com oito irmãos, saiu de lá com 18 anos para trabalhar em usinas de corte de cana no interior do Paraná, depois trabalhou como eletricista, mecânico até se tornar carteiro. Seu primeiro emprego nesta área foi em Ibaté, interior de São Paulo, “eu via colegas
trabalhando e sempre tive a curiosidade, eles entraram na época que era por indicação, mas eu prestei concurso”. Em Ibaté trabalhou por três anos caminhando. “Quem mais fica feliz em me ver é a criançada, os cachorros sempre ficam rosnando”. Depois veio para Bauru e aqui começou a fazer entrega de Sedex com o carro da companhia, além disso ele é responsável por colocar os malotes de cartas para os colegas que caminham. Está atividade consiste em deixar as cartas em pontos pré combinados e próximos das zonas que os colegas trabalham, assim quando o malote deles acabam, eles pegam outro. Esses pontos são geralmente prédios e estabelecimentos comerciais. As mulheres pegam incialmente 8kg de correspondência e os homens 15kg. O dia de Carlos começa ás 6h da manhã quando sai de Macatuba, cidade próxima de Bauru, ele prefere trabalhar aqui, porque lá teria que caminhar e o trabalho é sobrecarregado, essa também é uma das reclamações sobre a jornada de tra-
Carlos Passine, 58 anos Carteiro
balho: — tem poucos carteiros em Bauru. Começa seu trabalho ás 8h e até ás 17h05 entrega cerca de 315 Sedex por dia. Só entrega correspondências menor no sábado, que a jornada de trabalho é reduzida, só até o meio dia. Para se candidatar a vaga de carteiro é necessário ter o segun-
do grau completo, ser maior de 18 anos e passar no concurso que tem cerca de 50 questões. Segundo o site dos Correios o salário oferecido é de R$706,48. A profissão foi oficializada em 25 de janeiro de 1663 quando foi nomeado o primeiro carteiro. Elaborado por Thais Viana
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VOZES ANÔNIMAS
Muito mais que vitrines Enquanto centenas de pessoas se divertem no shopping, outras centenas trabalham Por Thais Viana
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ão é preciso ser um gênio da matemática para chegar à conclusão que em um shopping diariamente circulam centenas, senão milhares de pessoas em um dia. É neste ambiente, que as pessoas da cidade costumam gastar o seu tempo e dinheiro. Mas, talvez em nenhum desses passeios tenham se perguntado o que há por trás dos bastidores. É neste contexto que conhecemos o Gilberto Costa, que trabalha há 23 anos em um shopping de Bauru. Seu trabalho consiste em monitorar todos os setores da empresa, garantindo que nada irá faltar, em ser responsável pela segurança e manutenção. Segundo uma colega de emprego, Gilberto é o tipo de funcionário que se faltar ao trabalho, o shopping não funcionará naquele dia. Ele brinca, acha exagero por parte dela, mas talvez não tenha idéia mesmo de sua importância. Para ocupar o seu cargo é preciso ter noções de eletricidade, ele fez al-
guns cursos nesta área e explica que atualmente para concorrer a vaga dele é preciso ser formado em engenharia elétrica e ter experiência com administração.
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“O shopping para mim é uma faculdade, você aprende de tudo e tem a chance de ser bem recompensado”.
Essa brincadeira de 23 anos começou ainda na adolescência. Segundo filho de uma família de sete irmãos, veio da Bahia com 17 anos. Seu primeiro emprego foi no shopping, começou como segurança e foi sendo promovido até chegar ao atual cargo de Coordenador de segurança e operações. Segundo Gilberto, trabalham para o centro comercial cerca de 120 funcionários, excluindo as 1600 lojas e seus funcionários. Ele explica que não se sente invi-
Gilberto Costa, 40 anos Coordenador de segurança e operações
sível. “O cliente que frequenta o shopping há mais tempo me conhece”. E ainda completa: “o shopping para mim é uma faculdade, você aprende de tudo e tem a chance de ser bem recompensado.” Seu dia começa ás 7h30 e termina as 18h30. Quando está de folga, não quer “nem passar perto do shopping”. A primeira vez que ele foi a um shopping foi aos 17 anos e nunca mais saiu de lá, por isso nos fins de semanas que tem folga ele prefere correr:
“o meu limite até agora foi 52 km, quero chegar aos 100 km”. Os finais de semana que trabalha, quando o fluxo de clientes aumenta, e a maioria são adolescentes. Quando perguntado se seriam os rolezinhos, ele comenta: “sempre existiu isso, os jovens vêm para cá se divertir, é um lugar seguro para eles e a bagunça deles é da idade. Nunca tivemos problemas sérios com eles. Alguns até saem dessa fase e passam a trabalhar aqui no shopping.”
Uma história na multidão Por Isabel Silva
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iariamente, milhares de pessoas da cidade e provenientes de cidade vizinhas, sejam elas consumidores ou mesmo trabalhadores, circulam pelo centro comercial de Bauru. Há 22 anos foi construído o Calçadão de Bauru, desde então, o comércio da cidade se desenvolveu, agregando diversas lojas no entorno da região do Calçadão. Na tarde de uma segunda-feira ensolarada em Bauru, encontramos Kerolen, na esquina com a Rua Rio Branco com a Rua Primeiro de Agosto, no centro da cidade, a uma quadra da Pça Rui Barbosa, em meio a algumas promotoras de operadoras de celular. No centro da cidade podemos encontrar, pelo menos, duas promotoras de vendas de operadoras de celular a cada esquina. Elas trabalham na rua em horário comercial, abordando potenciais clientes, promovendo produtos e serviços, distribuindo panfletos
ou amostras grátis e vendendo chips para celulares. No Estado de São Paulo, a média salarial de um promotor de vendas é de R$1025,00. Kerolen Mayara Figueiredo Simões, cujo nome foi dado pela mãe inspirado em uma personagem de filme estrangeiro, compõe a equipe da operadora de celular há 5 anos. A jovem de 22 anos que mora no Bairro São Geraldo, começa sua jornada de trabalho às 9hrs e termina às 18hrs e aos sábados trabalha até às 13hrs. A promotora saiu da casa dos pais aos 16 anos para se casar, mas o casamento não perseverou por muito tempo. Mesmo após o divórcio, Kerolen não quis voltar para a casa de seus pais e quando ela tinha 17 anos, uma amiga que já trabalhava na empresa de operadora de celular a indicou para o trabalho, desde então Karolen se sustenta com a renda gerada na área de promoção de vendas.
Kerolen, 22 anos Promotora de operadora de celular
Pergunto à Kerolen se ela gosta de trabalhar como promotora, ela afirma que gosta do trabalho, os clientes gostam de conversar e contar sobre suas vidas, e as conversas são gostosas. Mas a moça só entrou na área porque
precisava se sustentar. Ex- estudante de Pedagogia, ela começou o curso, mas não concluiu. Agora, com a renda gerada pelo trabalho, a jovem diz que pretende voltar aos estudos e dar continuidade ao curso.
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Um jeito próprio de ser feliz A escolha de uma vida despretenciosa
Por Amanda Costa
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ra quase meio-dia. Sob o sol quente, resolvi sentar em um dos bancos na praça Rui Barbosa, centro de Bauru. Sentei próximo a um rapaz que trançava fios para fazer uma pulseira. Fiquei ali por um bom tempo admirando aquele trabalho e a paciência do rapaz em trançar peça por peça. Como estava perto, não pude
deixar de ouvir a conversa entre ele e um amigo. E notar a empolgação dos dois ao se reencontrarem. O trançador de pulseiras acabara de voltar de uma temporada na Bahia. Ele se chama Ricardo, tem 30 anos e há 13 trabalha nas ruas trançando, moldando fios e arames para fazer belas bijuterias. Ao perceber que eu prestava
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Ricardo do Anjos, 30 an Artesão
atenção na conversa, Ricardo logo perguntou se eu queria dar uma olhada em seu trabalho. Respondi que sim e logo iniciamos uma conversa. Perguntei se ele trabalhava como artesão fazia muito tempo e como tinha aprendido a fazer bijuterias tão bonitas. Ricardo me contou que aprendeu a fazer suas bijuterias ainda na adolescência. Quando mais jovem, o artesão costumava frequentar a praça Rui Barbosa e, assim conheceu hippies que viviam na região. Eles lhe ensinaram a produzir bijuterias com pedras, arames, barbantes e penas. Ricardo é natural de Bauru e tem família na cidade, mas nos últimos 13 anos não parou por aqui. 14 estados e incontáveis cidades brasileiras estão na lista dos lugares conhecidos pelo artesão. Para ter esse estilo de vida despreocupado e sem endereço fixo, Ricardo contou que a cada “dinheirinho” juntado com a venda de seu trabalho, ele segue para outra cidade.
“Eu pego carona, e vivo em busca do novo .”
Depois de muito conversarmos, contou-me que, por incrível que pareça, a vida sem destino nem sempre pertenceu a ele. O artesão é formado em Pedagogia e vivia em Santo André, Grande São Paulo. “Hoje eu tenho na vida o que preciso. Arrumo um dinheiro, conheço pessoas e lugares com esse trabalho aqui há quase 14 anos e sou feliz.” declarou, Ricardo. Uma vida mais simples e despretensiosa parece estranha para uma sociedade conturbada e cheia de exigências, não é mesmo? Conversar com Ricardo por alguns minutos me fez pensar que ele é a prova que cada pessoa tem um seu próprio jeito de ser feliz e isso deve ser respeitado sempre.
Leve às ruas cidadania
A gari que redefiniu o significado de gentileza
Por Naiara Teixeira
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sabel Tobias é a tipica brasileira. Uma mulher forte que trabalha pela família e se alegra por suas conquistas. Negra, 46 anos, gari. É fácil notar na pele a agressão de anos sob o sol quente. Já são dois anos limpando as ruas de Bauru, das sete as quatro da tarde, na mesma rotina. O sorriso no rosto que nunca lhe deixa é a prova de que floresce esperança na adversidade. Dona Isabel não reclama do trabalho que possui, antes de virar gari, já foi inspetora na Ernesto Monte, escola pública da cidade. A rotina em uma escola pode ser extremamente estressante, quatro em cada dez professores já sofreram algum tipo de violência em escolas do Estado de São Paulo, segundo o Instituto Data Popular. São muitas as déficits na área da educação pública, mas a cultura de desvalorização que atinge cada um desses personagens incita o desrespeito e aos poucos levaram Isabel a desistir dessa realidade. Hoje em dia, acordar as seis, vestir 10| Maio 2015 |
VOZES ANÔNIMAS
o uniforme laranja e sair para trabalhar é para ela dignidade. “Eu acho que lidar com ser humano é muito difícil. Aqui a gente também corre riscos, mas em comparação ao pessoal lá é muito melhor. Na escola eles xingam a gente, não valorizam o trabalho. São adolescentes e pessoas que não te respeitam, por isso que na rua tenho muito mais respeito. Por exemplo, outro dia ganhei um refrigerante. Sempre alguém oferece uma água, uma sombra. Esse serviço para mim é ótimo. É paz.” Conclui Isabel. Quando questionada sobre a abordagem das pessoas na ruas, Isabel conta que o clima é tranquilo, apesar de cansativo, o trabalho nunca lhe rendeu nenhuma agressão ou preconceito direto. O que incomoda a gari é a falta de educação alheia. “Vocês acabou de limpar, eles jogam lixo. Se quer jogar tenha respeito ao menos e não jogue no chão. Quando chamamos a atenção eles dizem ‘Mas se não fosse o meu lixo o que seria de vocês’.”
Isabel Tobias, 46 anos Gari
Guerreira, Dona Isabel é mãe de dois filhos que com orgulho cursam a universidade. Quando questionada sobre a vida familiar, ela ressalta que é divorciada e o motivo apenas demonstra a força da mulher moderna. “Sou divorciada porque acho que a vida a dois é muito triste, muito difícil. Sabe, a gente está em um trabalho muito pesado, quando você chega em casa só quer descansar. O marido chega e já pergunta se a camisa está passada. Trabalhei o dia todo, o que custa ele mesmo passar a camisa? Tenho um namorado há alguns anos, mas é assim: cada um
no seu quadrado, eu na minha casa e ele na dele. Sem roupa para lavar e nada disso.” O trabalho de um gari é parte dos serviços essenciais em uma sociedade, a cada rua limpa são menos enchentes e poluição urbana. Dona Isabel é apenas um rosto entre esses garis que lutam para sobreviver com uma renda entre R$800 e R$1200, que fingem ignorar o sol enquanto limpam o suor com a manga da blusa, pegam a sua lata jogada na calçada enquanto você passa ignorando o sorriso de bom dia.
Elaborado por Amanda Costa
VOZES ANテ年IMAS | Maio 2015 | 11